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Gestão de projetos, gestão de competências, gestão do conhecimento e o processo de inovação organizacional (P&D) Washington Rodrigues Lima – Coronel BMDF Jodir Cezar Menezes – TC BMDF As organizações, para colherem os benefícios esperados em seus planos estratégicos, devem ter a conscientização em adotar o gerenciamento de projetos não somente como uma profissão, mas como uma metodologia na qual os seus gerentes devam ser devidamente treinados, de forma a agregar valor às experiências individuais de cada um deles. Assim, o gerenciamento de projetos deve ser feito de forma profissional e conduzido por pessoal qualificado. Desta forma, a cultura de projetos nas organizações deve ser criada, a sua implantação deve ser realizada de forma sistemática e os seus princípios colocados em prática da maneira mais adequada às necessidades das organizações. Importante! Segundo Senge (1999), as organizações só aprendem por meio de indivíduos que aprendem. O aprendizado individual não garante o aprendizado organizacional, mas sem ele não há como ocorrer o aprendizado organizacional. A competência fundamental para assegurar a continuidade e prosperidade das empresas em longo prazo é a capacidade de aprender. Logo, a educação dos profissionais reflete no sucesso da organização. Há um consenso atual de que a qualidade em serviços ou produtos depende não mais das técnicas e equipamentos adotados, mas, especialmente, da forma como se coordena os trabalhos realizados pela equipe envolvida. O que de fato interessa não é mais o gerenciamento das pessoas em si, mas o gerenciamento do conhecimento inerente a essas pessoas e a forma como a troca e a interação desses conhecimentos podem trazer sucesso para a empresa (SALGADO, 2000 apud FRANCO, 2001). O desafio atual das organizações é desenvolver e utilizar instrumentos de gestão que lhes garantam níveis adequados de competitividade e, no caso do serviço público, também de legitimidade atuais e futuros, a fim de fazer frente às ameaças e às oportunidades do mercado. Diversas correntes do gerenciamento apontam na direção da ênfase nas pessoas e no conhecimento que elas detêm como recursos determinantes ao sucesso organizacional, tais como: a gestão estratégica de recursos humanos (Taylor et al., 1996); gestão de competências (Prahalad & Hamel, 1990; Heene & Sanchez, 1997); acumulação do saber (Arrègle, 1995; Wright et al., 1995); e gestão do capital intelectual (Stewart, 1998). É cada vez mais comum às organizações recorrerem a modelos de gestão de competências, como o sugerido por Ienaga (1998), que começa com a identificação do gap (lacuna) de competências da organização: são estabelecidos seus objetivos e suas metas estratégicas e, então, identificadas as lacunas entre as competências necessárias à consecução daqueles e as competências internas disponíveis. A partir daí, são realizados o planejamento, a seleção, o desenvolvimento e a avaliação de competências, a fim de que a organização e seus profissionais "eliminem as lacunas entre o que podem fazer o que os clientes esperam que eles façam". (STEWART, 1998, p. 84) Assim sendo, a gestão de competências faz parte de um sistema maior de gestão organizacional, que toma como referência sua própria estratégia e direciona suas ações de recrutamento e de seleção, treinamento, gestão de carreira e formalização de alianças estratégicas, entre outras, para a captação e o desenvolvimento das competências necessárias para atingir seus objetivos. Isso torna a estratégia organizacional consistente, pois causa um impacto positivo cumulativo das ações sobre o desenvolvimento organizacional. A administração pública brasileira vem se preocupando com essa questão nos últimos anos. No 1° Fórum de Gestão de Competências na Administração Pública Federal (fazer link para https://portalsipec.planejamento.gov.br/eventos/forum-de-gestao-por- competencias), ocorrido em 17 e 18 de fevereiro de 2009 em Brasília/DF, a gestora governamental Aleksandra Santos ministrou a palestra "Gestão por Competências: conceitos e desafios para a Administração Pública Federal (APF)" em que apontou como barreiras à implementação adequada da GC no âmbito da APF a ausência de sensibilização dos dirigentes, de Sistema de Gestão apoiado por tecnologias da informação e a necessidade de reestruturação nas áreas de desenvolvimento de recursos humanos, dentre outros. Certamente, o mesmo ocorre nas esferas estaduais e municipais. Simultaneamente ao gerenciamento adequado das competências organizacionais há o gerenciamento do conhecimento organizacional. Mais do que informação, o conhecimento organizacional é um dos seus principais ativos. Senge (2004) coloca que há uma sinergia quando ocorre a coerência entre o teórico e o prático que leva o todo de uma organização a ser mais eficaz que a soma de suas partes. Segundo ele, a única fonte sustentável de vantagem competitiva "é a capacidade da organização de aprender mais rápido e melhor que seus concorrentes". Ratificando Senge, Nonaka & Takeuchi (1997) consideram o conhecimento como a única fonte segura para sustentar a vantagem competitiva, e afirmam que organizações que se destacam no mercado são as que criam os novos conhecimentos, conseguem disseminá-los em toda organização e os incorporam rapidamente em novas tecnologias e produtos. Nonaka & Takeuchi (1997) ainda classificaram o conhecimento humano em: conhecimento explícito - pode ser articulado na linguagem formal podendo ser facilmente transmitido, sistematizado e comunicado. conhecimento tácito - mais difícil de ser articulado na linguagem formal e considerado o conhecimento mais importante. É o conhecimento pessoal incorporado à experiência individual, a qual envolve fatores intangíveis, como por exemplo, as crenças pessoais, as emoções, as habilidades entre outros, destacados como importantes para a competitividade entre as organizações, que só poderão ser avaliados por meio da ação. Para Terra (2001), gestão do conhecimento é organizar as principais políticas, tecnologias, processos e ferramentais gerenciais à luz de uma melhor compreensão dos processos de geração, identificação, validação, disseminação, compartilhamento e uso dos conhecimentos estratégicos para gerar resultados para a organização e benefícios para os colaboradores. A gestão do conhecimento é delineada por Terra (2001) em um modelo baseado em sete dimensões: em nível estratégico, a visão e estratégia na alta direção; em nível operacional, as políticas de recursos humanos, a cultura organizacional e as estruturas organizacionais; e em nível infra-estrutural, os sistemas de informação, a mensuração dos resultados e aprendizagem com o ambiente externo, conforme demonstrado no quadro abaixo: Figura 3 - Dimensões da Gestão de Conhecimentos, segundo Terra (2001) Com adequados gerenciamentos de suas competências e de seus conhecimentos, uma organização pode gerenciar melhor também seus processos inovadores. Inovação não se refere somente às invenções, mas também à execução de algum processo organizacional de forma diferente e que seja mais eficaz, ou seja, é a exploração com sucesso de novas idéias. O Manual de Oslo1 classifica quatro tipos de inovação: a de produto e a de processos (chamados de inovações tecnológicas, por seus métodos e recursos estarem baseados no uso de tecnologias); e a de marketing e a organizacional (que se baseiam na experiência de mercado da organização). Inovação de Produto É a introdução e a devida aceitação pelo mercado de um novo produto ou serviço no mercado. A mudança substancial de um produto ou serviço já existente também é considerado Inovação de Produto. É o volume de compras pelo mercado que define se um produto é inovador ou não. O simples lançamentode um produto novo, mesmo que tenha patente concedida, não significa que a empresa inovou. Inovação de Processos É a introdução de um novo método de produção ou de distribuição, ou significativamente melhorados. A inovação de processos pode viabilizar a fabricação e distribuição de produtos novos, a redução de custos de produção e logística e melhoria na qualidade de produtos já existentes. Inovação de Marketing É a implementação de um novo método de marketing na empresa. Este novo plano mercadológico deve alterar significativamente a concepção do produto, identidade visual (embalagem etc.) e forma de comercialização (promoção, precificação etc.). Essas mudanças têm o objetivo de abrir novos mercados, melhorar o atendimento dos consumidores e aumentar as vendas de produtos novos ou já existentes. O novo método mercadológico pode ter sido elaborado na empresa ou adquirido ou copiado de outros empreendimentos. Inovação Organizacional É a implementação de métodos organizacionais não utilizados anteriormente pela empresa a fim de reduzir custos administrativos e de suprimentos. A Inovação Organizacional é de caráter administrativo, de gestão de pessoas e de gestão da organização. Na prática, significa a implantação de: novas rotinas e procedimentos; sistemas de produção enxutos; gestão da qualidade; centralização/descentralização de atividades; integração de diferentes negócios etc. A Inovação Organizacional também pode ocorrer nas relações externas da empresa, por exemplo, o estabelecimento de parcerias com entidades do mesmo setor, fornecedores e clientes, universidades e institutos de pesquisas. 1 Editado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Manual de Oslo - Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica, tem o objetivo de orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de estatísticas e indicadores de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de países industrializados. Um projeto serve bem para introduzir inovações; na verdade, é inerente ao projeto fazê-lo, principalmente os considerados estratégicos, pois é orientado à visão de futuro organizacional, que por sua vez foi elaborada com a finalidade de transformar positivamente a organização em um dado cenário planejado no futuro, tanto no âmbito externo (posicionamento perante o mercado), quanto no interno (situação organizacional e de seus membros). Como a estratégia é definida com o intuito tanto de sobrevivência como de evolução organizacional, as inovações são essenciais à sua sustentabilidade, pois agregam valor aos seus produtos e serviços, geram vantagens competitivas em médio e em longo prazo, permitem à organização acessar novos mercados, a aumentar seus orçamentos, a realizar novas parcerias estratégicas, a adquirir novos conhecimentos e a aumentar o valor de sua marca, de sua legitimidade. No entanto, a gestão da inovação não deve ser encarada como um fim em si mesmo, mas sim como um meio. Dessa forma, ainda que um projeto estratégico possa introduzi-la no âmbito organizacional, ela não é, necessariamente, um projeto nem um departamento, é uma atitude e um pensamento sistemático que permeia todas as atividades da empresa.2 Assim sendo, Gestão Estratégica da Inovação é um processo estruturado e contínuo que possibilita que uma organização vislumbre novas formas de criar valor e de antever demandas e tendências sociais e tecnológicas. O Processo de Inovação articula a identificação de oportunidades tecnológicas ("o que se torna possível fazer") com a identificação de oportunidades sociais e de mercado ("o que se torna necessário, desejado ou oportuno"). Dessa articulação entre a potencial mudança social e a potencial mudança técnica nasce a potencial oportunidade empreendedora. Segundo Longanezi et al. (2008), a decisão de implementação de um sistema de gestão da inovação requer a consideração de três diferentes aspectos: a adoção de um modelo referencial capaz de representar o processo na maior abrangência possível, a utilização de técnicas de gestão de processos que integrem as diferentes áreas e estágios envolvidos no processo e o desenvolvimento de ferramentas específicas para dar suporte às decisões dos administradores. As organizações que mantém um Processo de Inovação competem também pelo mercado futuro em vez de limitar-se aos mercados atuais. Nessa linha, Alan Curtis Kay, cientista norte-americano, afirmou: "A melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo!" Você já deve ter concluído que, para que haja oportunidades reais de inovação, visando a agregação de valor à organização e aos seus produtos e serviços, é necessário o investimento em capital humano, ou seja, preparar colaboradores com 2 Manual de Inovação do Movimento Brasil Competitivo - 2008 http://www.mbc.org.br níveis mais altos de qualificação e desenvolvimento de amplo treinamento no trabalho. Logo, inovação organizacional é um processo cíclico, que se inicia desde a definição das estratégias organizacionais que visem aprimoramento e transformações positivas dos produtos e serviços prestados ao cliente, passando pela identificação do gap de competências, planejamento, seleção, desenvolvimento e avaliação de desempenho de recursos humanos, gerenciamento de carreiras, formalização de alianças estratégicas, gerenciamento de conhecimento organizacional e gestão estratégica de inovações. Normalmente, as empresas são o centro da inovação. No entanto, há, no meio público, diversos centros inovadores, que contam com laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e com diversos pesquisadores. Na Segurança Pública brasileira, dentre os Corpos de Bombeiros Militares, a primeira organização a ser cadastrada como centro de pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) foi o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal3. 3 Você pode conhecer mais sobre o assunto pelos endereços eletrônicos: www.cbm.df.gov.br/site/cipi/ e www.cbm.df.gov.br/site/emg/7secao/index.php/7secao/downloads/doc_details/55-a- pesquisa-como-ferramenta-para-a -prevencao-combate-e-investigacao-de-incendio.html
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