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L.E.P - CRIMES HEDIONDOS

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO V
 LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei dos Crimes Hediondos – Lei n. 8.072/90
__________________________________________________________________
Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei dos Crimes Hediondos – Lei n. 8.072/90
Prof. Luiz Fernando Vaggione
1. CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO
O critério de classificação é o legal. Somente a lei pode indicar, em rol taxativo, quais são os crimes considerados hediondos. Assim, não foi adotado o critério judicial, no qual o juiz avalia discricionariamente a hediondez do delito no caso concreto, nem o critério misto, no qual há um rol exemplificativo, podendo o juiz considerar hediondo crime não previsto neste rol. No Brasil, repita-se, o rol de crimes hediondos é taxativo, pois foi adotado o critério legal. 
Os crimes hediondos são os definidos pela Lei n. 8.072, de 25.7.1990, publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte, data em que entrou em vigor (artigo 12). A referida lei sofreu alterações de destaque. Assim, a Lei n. 8.930, de 6.9.1994, introduziu no rol fechado, definido no artigo 1º da Lei n. 8.072/90, o crime de homicídio simples, desde que praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Incluiu, também, todas as hipóteses de homicídio qualificado (§ 2º do artigo 121 do Código Penal). A Lei n. 8.930/94 também excluiu do rol o crime de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal com resultado morte como hediondo (artigo 270 combinado com o artigo 285, ambos do Código Penal). A Lei n. 9.695, de 20.8.1998, por sua vez, incluiu no rol dos delitos hediondos o artigo 273, caput e § 1º, alíneas “a” e “b”, do Código Penal (crime de falsificação (...) de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, entre outros definidos no supracitado artigo).
Os crimes hediondos têm sua gênese no artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal. Segundo a Constituição Federal, “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes definidos como hediondos”. Vê-se, assim, que a Constituição Federal indicou alguns crimes chamados pela doutrina de crimes assemelhados aos hediondos, a eles se estendendo a aplicação da Lei n. 8.072/90. Assim, são crimes assemelhados aos hediondos a tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e o terrorismo.
2. O ROL DOS CRIMES HEDIONDOS
Estão previstos no artigo 1º da Lei n. 8.072/90, quais sejam:
I – homicídio simples (artigo 121, caput, do Código Penal), desde que cometido em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que praticado por um só executor e todas as formas de homicídio qualificado: § 2º, I (torpe), II (fútil), III (meio cruel), IV (recurso que impossibilita ou dificulta a defesa da vítima) e V (para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime);
II – latrocínio (artigo 157, § 3º, in fine, do Código Penal);
III – extorsão qualificada pela morte (artigo 158, § 2º, do Código Penal);
IV – extorsão mediante seqüestro (artigo 159, caput e §§ 1º, 2º e 3º, do Código Penal);
V – estupro (artigo 213 e sua combinação com o artigo 223, caput e parágrafo único);
VI – atentado violento ao pudor (artigo 214 e sua combinação com o artigo 223, caput e parágrafo único);
Observação: Vinha predominando nos Tribunais Superiores a orientação de que o estupro e o atentado violento ao pudor, para serem considerados crimes hediondos, deveriam ser cometidos com violência real, dessa resultando lesão grave ou morte da vítima. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no entanto, ao julgar o Habeas Corpus n. 81.288-SC, em 17.12.2001, por maioria de votos (7 a 4), mudou a sua orientação, decidindo que o crime de estupro é hediondo, ainda que dele não resulte lesão corporal grave ou morte. Após essa relevante decisão, o Superior Tribunal de Justiça, adotando expressamente o entendimento do Pleno do Supremo Tribunal Federal, entendeu que o atentado violento ao pudor, mesmo no caso de violência presumida, é crime hediondo (HC 19.221-PR, Rel. Félix Fischer, j. em 7.2.2002). A orientação do Supremo Tribunal Federal, ao contrário do que ocorreu com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, não afirma, explicitamente, ser hediondo o estupro cometido com violência presumida. Frisa-se, no entanto, que o caso levado a julgamento no Supremo Tribunal Federal versava sobre estupro praticado contra descendentes, contando a filha mais velha com apenas 11 anos de idade. Além da violência presumida (artigo 224, alínea “a”, do Código Penal) foi empregada violência real, porquanto a pequena vítima chegou a ser amordaçada por seu pai. A Ministra Ellen Gracie, baseada em estudos sobre o estupro, ressaltou que a hediondez do referido crime emana das seqüelas de ordem psíquica e emocional que marcam a mulher para o resto da vida. Ora, é forçoso reconhecer que tais conseqüências também emanam do estupro praticado com violência presumida e freqüentemente com maior intensidade. Por tal razão, ponderamos que a forma simples do estupro, ainda que cometido com violência presumida, é crime hediondo. A confirmação ou não do nosso entendimento virá com as próximas decisões do Supremo Tribunal Federal. Ressalto ter o Supremo Tribunal Federal reconhecido, ao julgar o Habeas Corpus n. 81.411-5, em 18.12.2001, portanto, após o julgamento do Habeas Corpus n. 81.288, que o atentado violento ao pudor cometido com violência presumida é hediondo. 
VII – epidemia com resultado morte (artigo 267, § 1.º, do Código Penal);
VII B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (artigo 273, caput e seu § 1.º, do Código Penal).
Parágrafo único: Genocídio, considerado crime contra a humanidade. A Lei n. 2.889/56 define os comportamentos típicos e respectivas sanções.
Atenção: não são hediondos, entre outros:
os crimes militares, porquanto não se encontram arrolados no artigo 1.º da Lei n. 8.072/90;
o homicídio privilegiado-qualificado (homicídio no qual há concurso entre privilégio e qualificadoras objetivas previstas nos incisos III e IV do § 2.º do artigo 121 do Código Penal), porque prevalece o privilégio que tem natureza subjetiva, conforme artigo 67 do Código Penal;
o roubo simples e as hipóteses de roubo qualificado, salvo com o evento morte;
a extorsão simples (artigo 158, caput, do Código Penal) e as formas qualificadas no § 1º do supracitado artigo. Também não é hediondo o crime de extorsão com resultado lesão grave;
o envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal com resultado morte (artigo 270 combinado com o artigo 285 do Código Penal), desde 1994.
3. OS CRIMES ASSEMELHADOS AOS HEDIONDOS
Os crimes assemelhados estão previstos no artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal. São eles:
Terrorismo: Há controvérsia acerca da existência de tipo penal que descreva o crime de terrorismo. Uma das orientações sustenta que o terrorismo está tipificado no artigo 20 da Lei n. 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional). Trata-se de crime de conteúdo múltiplo, porquanto várias são as ações nele inseridas. Victor Rios Gonçalves observa que essas várias condutas se equivalem, posto que têm a mesma finalidade – inconformismo político e obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas - e pressupõem o emprego de violência. Assim, todos os comportamentos descritos no artigo 20 da Lei n. 7.170/83 constituem terrorismo. Outra orientação, adotada entre outros por Alberto Silva Franco, sustenta não existir tipo penal definindo o crime de terrorismo. O comportamento é atípico, pois o artigo 20 supracitado faz somente uma menção ao terrorismo, não descrevendoa respectiva conduta, resultando, por isso, numa afronta ao princípio da reserva legal.
Tortura: A Lei n. 9.455/97 disciplinou a tortura, previu punições e revogou expressamente o artigo 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Trata-se de crime comum, haja vista não ser exigida qualificação especial do sujeito ativo. Caso a tortura seja cometida por agente público, aumenta-se a pena de um sexto até um terço (artigo 1º, § 4º, inciso I). O mesmo aumento é aplicado quando o sujeito passivo for criança, adolescente, gestante ou deficiente (inciso II do § 4º) ou se o crime de tortura é cometido mediante seqüestro (inciso III do § 4º). O artigo 1º da supracitada Lei definiu no inciso I as denominadas tortura-prova (alínea “a”), tortura para a prática de crime (alínea “b”) e tortura-discriminação. No inciso II encontramos a tortura-castigo. Os comportamentos definidos nos incisos I e II do artigo 1º da Lei n. 9.455/97 são punidos com reclusão, de dois a oito anos. Na mesma pena incorre quem tortura pessoa presa ou sujeita a medida de segurança (§ 1º do artigo 1º). Pune-se, ainda, as formas de omissão perante a tortura. O § 2º do artigo 1º tipifica a omissão para evitá-la ou apurá-la. Ressalta-se que aquele que, tendo o dever jurídico de evitar a tortura, omite-se, deveria responder como incurso no inciso I, alínea “a”, nos termos do artigo 13, § 2º, do Código Penal. Este dispositivo afirma que responde pelo resultado, na condição de partícipe, aquele que tem o dever de evitar o resultado e não o faz. Nos termos da Lei de Tortura, todavia, ambas as condutas são punidas com detenção de um a quatro anos. As formas de tortura previstas no § 2º não constituem crimes assemelhados aos hediondos, quer em função da existência de pena mais branda, quer porque seu cumprimento não se inicia no regime fechado (§ 7º do artigo 1º), o que demonstra a intenção do legislador de reservar, para essas condutas omissivas, uma punição mais branda, sem os rigores impostos pela Lei dos Crimes Hediondos.
Tráfico ilícito de entorpecentes: Artigos 12, 13 e 14 da Lei n. 6.368/76 (Lei Antitóxicos). Observação: a Lei Antitóxicos não definiu, por meio de específico nomen juris, o que é tráfico de drogas, restando, por exclusão, alcançadas todas as condutas, à exceção das definidas nos artigos 15 (prescrever ou ministrar culposamente), 16 (adquirir, guardar ou trazer consigo) e 17 (violação do sigilo definido no artigo 26), todos da Lei n. 6.368/76, as quais não podem ser enquadradas como tráfico de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO
 VI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
1. CONSEQÜÊNCIAS DA HEDIONDEZ
1.1. Art. 2.º, I, da Lei n. 8.072/1990
A primeira conseqüência da hediondez está prevista no inc. I do art. 2.º da lei em estudo. Por ele, os crimes hediondos e assemelhados são insuscetíveis de anistia, graça ou indulto. Ocorre que a CF, em seu art. 5.º, XLIII, só vedou aos referidos crimes a concessão de graça e anistia. Poderia a Lei dos Crimes Hediondos ter vedado, também, o indulto? Há controvérsia, advindo duas posições:
1.ª posição: a vedação ao indulto não fere a CF, pois o texto, ao mencionar a graça, o fez em termos genéricos, no sentido de clemência, indulgência. Nesse sentido: Damásio de Jesus, Fernando Capez e Luiz Vicente Cernicchiaro.
2.ª posição: a proibição à concessão do indulto é inconstitucional. Primeiro, porque o legislador ordinário não poderia tê-lo incluído, pois não foi mencionado na CF. Segundo, a CF dispõe que a concessão do indulto é atribuição exclusiva do Presidente da República (art. 84, XII, da CF). Assim sendo, não poderia o legislador ordinário limitá-lo no exercício dessa atribuição. Veja, nesse sentido: Alberto Silva Franco. 
1.2. Art. 2.º, II – Proibição da Concessão de Fiança e Liberdade Provisória
No tocante à fiança, a proibição é, praticamente, inócua. Ora, ela não pode ser concedida, segundo o CPP, nos crimes punidos com reclusão cometidos com violência contra a pessoa ou grave ameaça (art. 323, V). Com essa vedação prevista no CPP, dos crimes hediondos, à exceção da epidemia com resultado morte (art. 267, § 1.º, do CP) e da falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput, e § 1.º, “a” e “b”, do CP), todos os demais são cometidos com violência ou grave ameaça. Assim, sem examinar a pena mínima, nunca foram afiançáveis. Pois bem, mesmo os dois crimes que restaram (arts. 267, § 1.º, e 273, ambos do CP) não são afiançáveis em razão da pena mínima cominada em abstrato ser superior a 2 anos (20 e 10 anos, respectivamente). Nem sequer na hipótese tentada a fiança seria possível, porquanto a pena mínima, aplicado o redutor máximo, seria, respectivamente, de 6 anos e 8 meses e 3 anos e 4 meses. Quanto aos crimes assemelhados aos hediondos, afastamos, desde logo, a tortura e o terrorismo, ambos praticados com violência ou grave ameaça à pessoa. No que concerne ao tráfico de entorpecentes (arts. 12, 13 e 14), suas penas mínimas, fixadas abstratamente em 3 anos, tornam inviável a fiança. A hipótese de tentativa é possível tecnicamente, todavia de difícil reconhecimento na prática. Nos dois primeiros (arts. 12 e 13), porque são crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. No crime de associação (art. 14), trata-se de crime formal ou de consumação antecipada, circunstância que também dificulta a figura tentada.
	Crimes
	Pena mínima abstrata
	Pena mínima – tentativa
	Art. 267, § 1.º
	20 anos
	6 anos e 8 meses
	Art. 273, caput, e § 1.º
	10 anos
	3 anos e 4 meses
	Arts. 12, 13 e 14 da Lei Antitóxicos
	3 anos
	1 ano
Quanto à liberdade provisória, repete-se a discussão que ocorreu no inciso anterior, porque aqui também a CF não a vedou. O inc. LXVI do art. 5.º da CF, entretanto, ampara a vedação ora estudada, porque deixa à lei a escolha dos casos em que será possível ou não a liberdade provisória, com ou sem fiança. A vedação à liberdade provisória sem fiança, portanto, é constitucional (STF, HC n. 73.978-RJ). 
Há, no entanto, outra posição. Essa sustenta a inconstitucionalidade, baseada na relação fechada de hipóteses prevista no art. 5.º, XLIII, da CF (STJ, HC n. 5.247-RJ). O STJ é avesso a qualquer tipo de prisão obrigatória que decorra de lei, devendo o Juiz analisar a questão das prisões cautelares à luz da necessidade delas.
1.3. Art. 2.º, § 1.º – Regime de Cumprimento de Pena 
O § 1.º do art. 2.º é norma constitucional, reconhecida como tal pelo Plenário do STF (HC n. 69.657 e n. 70.939). Há, no STJ, vários precedentes no mesmo sentido. Segundo os acórdãos dos tribunais mencionados, o trabalho de individualização da sanção não se esgota com a fixação do regime de cumprimento da pena. Não se vislumbra, portanto, ofensa ao princípio da individualização da pena.
1.4. Outras Implicações Decorrentes do Regime Integralmente Fechado
1.4.1. Livramento condicional
Perfeitamente aplicável aos crimes hediondos ou assemelhados. Segundo o inc. V do art. 83 do CP, o condenado deve ter cumprido 2/3 da pena, em se tratando de crime hediondo ou assemelhado, e não poderá ser reincidente específico (condenações por crimes hediondos ou assemelhados).
1.4.2. Suspensão condicional da pena – sursis
A jurisprudência inclina-se a não admiti-lo quando se tratar de crime hediondo ou assemelhado. Precedentes do STJ ressaltam que o instituto é incompatível com a natureza dos crimes ora estudados. Na doutrina, Damásio E. de Jesus e Luiz Flávio Gomes sustentam posição diversa, já que não vislumbram incompatibilidade legal ou lógica no presente caso. 
1.4.3. Penas alternativasHá divergência na doutrina e na jurisprudência sobre a possibilidade de substituição da pena privativa por alternativa, no caso do tráfico de entorpecentes. É predominante nos tribunais o entendimento no sentido de que a pena alternativa é insuficiente para satisfazer a necessidade de repressão estatal. Ademais, a redação do § 1.º do art. 2.º da Lei n. 8.072/1990 estaria indicando que a pena deveria ser efetivamente cumprida. A sanção alternativa deve incidir nos crimes de pequeno e médio potencial ofensivo, classificações nas quais o tráfico de entorpecente definitivamente não se enquadra. Há na doutrina entendimento diverso, não reconhecendo qualquer incompatibilidade entre penas alternativas e o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. 
1.4.4. Lei de Tortura (Lei n. 9.455/1997)
A lei em epígrafe não revogou o § 1.º do art. 2.º da Lei dos Crimes Hediondos. Assim, admite-se a progressão nos regimes de cumprimento de pena somente na hipótese de condenação por crime de tortura (art. 1.º, § 7.º, da Lei n. 9.455/1997). Essa é a posição do STF (Plenário, HC n. 76.371-SP). Há precedentes nesse sentido no STJ, como no HC n. 10.726-SP. Há posição minoritária, na doutrina e na jurisprudência, sustentando o oposto. 
a) Art. 2.º, § 2.º – apelação em liberdade 
Em primeiro lugar, registre-se que o STJ consagrou, na Súmula n. 9, que a exigência de prisão provisória para apelar não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência. A decisão deve ser fundamentada e tomada com base no poder geral de cautela do Juiz. O art. 2.º, § 2.º, da Lei n. 8.072/1990 revogou o art. 35 da Lei Antitóxicos (veda a apelação em liberdade nas condenações pelos crimes definidos nos arts. 12 ou 13). É a posição que predomina no STF e no STJ. Assim, o Juiz poderá permitir a apelação em liberdade em qualquer hipótese, desde que o faça fundamentadamente, baseando-se na desnecessidade da custódia cautelar. Não poderá conceder tal direito, todavia, se o réu já se encontrava preso durante a instrução. Há outras posições minoritárias:
o art. 35 não foi revogado, de modo que continua sendo vedada a apelação em liberdade;
o art. 35 não foi revogado inteiramente. A proibição de apelar em liberdade é a regra, enquanto a hipótese contrária (apelação em liberdade) é a exceção.
b) Art. 2.º, § 3.º – aumento do prazo de prisão temporária
A prisão temporária é regulada pela Lei n. 7.960/1989, que discrimina os crimes e as hipóteses que a ensejam. O prazo é de 5 dias, podendo ser renovado por igual período. Nos casos de crimes hediondos e assemelhados, o referido prazo é de, no máximo, 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período. Esse prazo não pode ser computado no prazo de instrução para efeito de eventual constatação de constrangimento ilegal.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO VII
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
1. CRIMES HEDIONDOS
1.1. Art. 7.º – Delação eficaz 
Trata-se de causa de diminuição de pena, específica para o crime de extorsão mediante seqüestro, praticado em concurso de pessoas. O art. 7.º da Lei n. 8.072/1990 introduziu um novo parágrafo (§ 4.º) no art. 159 do CP. 
 
1.1.1. Pressupostos de delação eficaz
Tratar-se de crime de extorsão mediante seqüestro (art. 159 do CP).
Prática do crime em concurso de pessoas (co-autoria ou participação).
1.1.2. Requisitos da delação
A delação deve ser feita à autoridade, ou seja, ao Delegado de Polícia, Juiz de Direito ou Promotor de Justiça.
A delação deve ser eficaz, isto é, deve proporcionar a libertação do seqüestrado.
1.1.3. Efeito da delação
O Juiz deve reduzir a pena do réu delator à razão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Quanto maior tiver sido sua contribuição para a libertação do seqüestrado, tanto maior será a redução de sua sanção privativa de liberdade. Trata-se, evidentemente, de circunstância de caráter pessoal que não se comunica aos demais agentes.
1.2. Art. 8.º, par. ún. – Traição Benéfica
Trata-se de outra causa de diminuição. O dispositivo prevê diminuição de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) da pena do “participante” que delatar à autoridade o bando ou a quadrilha. A causa, como se percebe, é diversa daquela vista no art. 7.º. A traição benéfica será reconhecida quando as informações prestadas pelo réu colaborador propiciarem o desmantelamento da quadrilha ou bando.
1.2.1. Pressupostos da traição benéfica
Tratar-se de crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP).
Que essa quadrilha ou bando tenha por finalidade a prática de crimes hediondos ou assemelhados (crimes visados).
1.2.2. Requisitos da traição benéfica
 Delação à autoridade (Delegado, Promotor ou Juiz) sobre a existência da quadrilha ou do bando.
A delação precisa ser eficaz, ou seja, deve proporcionar o desmantelamento da quadrilha ou bando.
1.2.3. Efeito da traição benéfica
A pena do crime de quadrilha deve, obrigatoriamente, ser reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). A escolha entre o mínimo e o máximo dependerá da maior ou menor contribuição do réu para o desmantelamento da quadrilha ou bando. Caso o traidor tenha praticado ou concorrido para o cometimento dos crimes realizados pela quadrilha, a redução decorrente do benefício em estudo recairá exclusivamente sobre a pena referente à infração definida no art. 288 do CP. A doutrina admite a aplicação desse benefício ao art. 14 da Lei Antitóxicos, aplicando-se analogia.
1.3. Art. 8.º da Lei n. 8.072/90 e o art. 14 da Lei de Antitóxicos
O art. 8.º da Lei n. 8.072/90 dispõe que será de 3 (três) a 6 (seis) anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do CP quando se tratar de crimes hediondos ou assemelhados. Sabemos que entre os assemelhados encontra-se o tráfico de entorpecentes. 
Ocorre que a Lei Antitóxicos prevê, no art. 14, o crime de associação. Esse delito exige a presença de, no mínimo, duas pessoas ligadas pelo vínculo associativo e pela predisposição de praticarem um número indeterminado de infrações penais. As infrações visadas, no caso do citado art. 14, devem ser as definidas nos arts. 12 ou 13 da Lei n. 6.368/76. A pena é de 3 (três) a 10 (dez) anos de reclusão e 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
Ora, a comparação do art. 14 da Lei Antitóxicos, com o art. 8.º da Lei dos Crimes Hediondos, pode levar o intérprete à conclusão de que o tipo penal previsto na Lei n. 6.368/76 teria sido revogado. Tal conclusão não estaria amparada na jurisprudência dominante. Para o STF, o preceito primário do art. 14 permanece em vigor. Sua sanção (preceito secundário), no entanto, passou a ser aquela indicada pelo art. 8.º da Lei n. 8.072/90. Assim, o art. 14 da Lei Antitóxicos pune com reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos. O art. 8.º não previu pena pecuniária.
1.4. Art. 9.º da Lei n. 8.072/90 – Aumento de Pena
Esse artigo dispõe que a pena será aumentada de metade nos crimes nele relacionados quando a vítima se encontrar numa das condições do art. 224 do CP (vítima não maior de 14 anos, alienada ou débil mental, ou que não podia, por qualquer outra causa, oferecer resistência). Frisamos que o art. 9.º não incide sobre todos os crimes hediondos ou assemelhados, mas unicamente naqueles por ele indicados.
O Juiz, ao aplicar o aumento, não poderá exceder o limite de 30 (trinta) anos.
Quanto à questão da incidência do art. 9.º no estupro e no atentado violento do pudor, ambos praticados com violência presumida, é preciso frisar que se descartava tal possibilidade porque o STF e o STJ vinham entendendo que tais crimes só seriam considerados como hediondos quando praticados com violência real, dessa advindo lesão grave ou morte da vítima. Como já adiantamos, o STF mudousua orientação ao julgar o HC 81.288-SC. Pelo seu Pleno afirmou que o estupro simples também é hediondo. O STJ, baseado no julgamento acima aludido, foi mais longe ao afirmar que o atentado violento ao pudor, mesmo no caso de violência presumida, é crime hediondo (HC 19.221-PR). Caso se confirme, nos julgamentos que se sucederão, a orientação de que a hediondez dos citados crimes não é afastada pela violência presumida, será necessário enfrentar outra questão: incide o art. 9º sobre o estupro e o atentado violento ao pudor cometidos com violência presumida? Admite-se a dupla utilização do art. 224 do Código Penal, ora para tipificar a infração penal, ora para aumentar a pena de metade? Há vários precedentes no STF sustentando ser possível. Tal orientação, todavia, foi sempre criticada pela doutrina e não foi adotada pelo STJ. No âmbito do Ministério Público de São Paulo admite-se a aplicação do art. 9.º nas hipóteses comentadas (Tese n. 74 – Setor de Recursos Extraordinários e Especiais). Há, portanto, duas orientações: a primeira sustenta a ocorrência de bis in idem e, assim, descarta a aplicação do art. 9.º; a segunda admite a incidência do art. 9º, mesmo que se trate de violência presumida.
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