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1 FUNDAMENTOS DA PENA: TEORIAS E LIMITES CONSTITUCIONAIS DA PENA Débora de Macedo Azanha1 RESUMO O presente artigo tem por finalidade estudar os fundamentos da pena a partir de suas teorias, sobretudo embasadas em limites constitucionais impostos pela Constituição da República Brasileira de 1988. A finalidade da pena criminal levanta discussões sem, contudo se chegar a um consenso. Existem duas teorias principais da pena, as teorias absolutas associadas às doutrinas da retribuição ou da expiação e as teorias relativas, advindas das doutrinas da prevenção geral e da prevenção especial ou individual, as quais serão abordadas detalhadamente. A pena é a sanção aplicada a quem comete ato ilícito e culpável, sendo essa conduta tipificada no Ordenamento Jurídico, ora como ação proibida, ora como ação ordenada. Qualquer que seja a pena, deverá obrigatoriamente observar os ditames constitucionais sob pena de ferir os preceitos do Estado Democrático de Direito. PALAVRAS-CHAVE: teorias da pena; sanção penal; conduta tipificada; limites constitucionais; INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo estudar as teorias da pena e os fundamentos da sua aplicação, calcados nos limites constitucionais impostos pela Lei Maior, a Constituição da República Brasileira de 1988. Surgiram acirradas discussões acerca das finalidades da pena, todavia, sem se obter uma resposta única ou um consenso comum. Algumas teorias foram colocadas como principais, como as teorias absolutas advindas das doutrinas da retribuição ou da expiação e as teorias relativas advindas das doutrinas da prevenção geral e da prevenção especial ou individual. 1 Acadêmica do Curso de Graduação em Direito, Escola de Direito e Relações Internacionais, Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil. 2 A pena é a sanção penal imposta ao indivíduo que comete um ato ilícito e culpável, tendo sua conduta ferido ou exposto a perigo um bem jurídico de relevante valor para a sociedade. Sendo assim, a aplicação da pena sempre envolve a perda ou a restrição de um direito, por essa razão, deverá obrigatoriamente observar os ditames constitucionais, dentre os quais se destaca o Princípio Constitucional Penal da Legalidade determinado no artigo 5º inciso XXXIX da Constituição de 1988, onde estabelece que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, ou seja, o Estado, mediante seu poder punitivo, está condicionado à existência de lei anterior tipificando o tipo delitivo e cominado-lhe uma sanção respectiva, para então aplicar sanções penais e interferir na esfera de liberdade individual. 1 TEORIAS DA PENA A questão em torno da finalidade da pena criminal é antiga, tanto quanto a história do próprio Direito Penal. Discussões têm sido levantadas, todavia sem se chegar a um entendimento único, explicações surgiram de diversos lados, vindas da filosofia, da ciência do Direito Penal, da teoria do Estado, no entanto, as possíveis respostas acabaram levando a duas teorias, as chamadas teorias absolutas, ligadas às doutrinas da retribuição ou da expiação, e as chamadas teorias relativas, divididas em dois grupos de doutrinas, isto é, as doutrinas da prevenção geral e as doutrinas da prevenção especial ou individual.2 As teorias absolutas abordam a pena como sendo instrumento de retribuição, ou seja, a pena criminal funda-se na retribuição, expiação, reparação ou compensação do mal do crime. É certo que a pena pode gerar efeitos relevantes diversos, como por exemplo, o de intimidar os indivíduos, o de neutralizar os criminosos ou até mesmo o de ressocializar os infratores, contudo a sua natureza não se modifica, isto é, para Jorge de Figueiredo DIAS é a “justa paga do mal que com o crime se realizou, é o justo equivalente do dano do fato e da culpa do agente”.3 Por essa razão a aplicação da pena na medida correta para que ocorra a punição do indivíduo por um determinado fato não pode ocorrer em função de outros 2 DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Penal: parte geral. São Paulo: RT, 2007. t. 1. p. 43-44. 3 Ibid., p. 45. 3 motivos sociais, mesmo que relevantes, que não sejam o da correspondência entre a pena e o fato cometido.4 Sob influência do princípio do talião ‘olho por olho, dente por dente’, assim como interferências de representações mitológicas durante a Idade Antiga e de racionalizações religiosas durante a Idade Média, tais teorias fundam-se na idéia de que justiça é um mandamento de Deus e que há legitimação da aplicação da pena retributiva pelo juiz, uma vez que este é o representante dessa justiça divina. Na Idade Moderna e Contemporânea essas teorias se firmam na filosofia do idealismo alemão de Kant, o qual considerava a pena e a lei penal como uma imposição a ser seguida.5 No entanto as discussões continuaram desta vez sobre a mensuração da pena e a forma de compensação entre o ‘mal do crime’ e o ‘mal da pena’. Após a lei do talião, concluiu-se que a igualação seria alcançada de modo normativo e não fático. Dúvidas surgiram sobre a retribuição no sentido de compreender se esta assumia o caráter de reparação ao dano cometido ou se ocorria em razão do desvalor do fato ou até mesmo antes da culpa do agente. Todavia, hoje já se tem uma posição de que a retribuição, como compensação, só pode ser em função da ilicitude do fato e de acordo com a culpa do indivíduo.6 A liberdade e a dignidade da pessoa humana estão em primeiro plano e em razão disso se chega ao princípio da culpa como máxima de todo Direito Penal, democrático e civilizado, isto é, o princípio dita que não pode haver pena sem culpa e a medida da pena não pode em caso algum ultrapassar a medida da culpa. Para DIAS, neste princípio reside o mérito das teorias absolutas, pois qualquer que seja o seu valor ou desvalor como teorização dos fins das penas, a concepção retributiva teve o mérito inegável de ter fundado o princípio da culpa em princípio absoluto de toda a aplicação da pena e, sendo assim, ter levantado um veto incondicional à aplicação de uma pena criminal que violasse a dignidade da pessoa.7 O mesmo autor assevera que não há correspondência obrigatória entre pena e culpa, pois, segundo seu entendimento “se toda pena supõe a culpa, nem toda culpa supõe a pena, mas só aquela culpa que simultaneamente acarrete a 4 Id. 5 Ibid., p. 45-46. 6 Ibid., p. 46. 7 Ibid., p. 47. 4 necessidade ou carência da pena”. Assim, “a culpa é pressuposto e limite, mas não fundamento da pena”.8 Não se aceita a doutrina da retribuição como teoria dos fins das penas, pois não é realmente a teoria dos fins da pena, quando objetiva o contrário, que é a consideração da pena como sendo uma entidade independente de fins.9 Diferente questão que desfavorece a doutrina da retribuição se deve a sua inadequação à legitimação, à fundamentação e ao sentido da intervenção penal, pois estas podem apenas originar-se da necessidade, que incumbe ao Estado satisfazer, de proporcionar as mínimas condições de existência, assegurando aos indivíduos que exerçam suas personalidades, o que pode fazer com que o Estado descumpra sua obrigação de conceder direitos, liberdades e garantias a todos os cidadãos. Ao Estado Democrático de Direito pertence o poder de proteger bens jurídicos, e para isso, não pode dispor de uma pena dissociada de fins, como pronuncia a teoria absoluta. Além de o Estado não ser uma entidade com a finalidade de realizar a justiça divina.10 DIAS considera a doutrina retributiva como sendo social-negativa, pois tratada aplicação de uma pena retributiva ao mal que faz sofrer o delinqüente, havendo uma compensação ou expiação ao mal do crime cometido. E para tanto, essa doutrina dificulta uma tentativa de ressocialização do infrator e de uma possível restauração da paz jurídica de determinada sociedade afetada pelo crime, isto é, mostra-se inimiga de qualquer atuação preventiva e também de uma possibilidade de controle e domínio da criminalidade.11 Por sua vez as teorias relativas consideram a pena como instrumento de prevenção e, contrariamente às teorias absolutas, são teorias de fins. Têm noção de que a pena se traduz num mal para quem a recebe, no entanto, sendo um instrumento político-criminal destinado a atuar no mundo, não pode a pena resumir- se a isso, sendo privada de sentido social-positivo. Deve-se usar desse mal para atingir a finalidade de toda política criminal, qual seja, a prevenção ou profilaxia criminal. DIAS explana em sua obra as críticas às teorias relativas advindas dos adeptos das teorias absolutas, isto é, as penas quando aplicadas aos homens 8 Id. 9 Id. 10 Ibid., p. 48. 11 Ibid., p. 49. 5 objetivando fins úteis que pretendam alcançar resultados sociais, estariam transformando esses indivíduos em objetos e conseqüentemente violariam a sua dignidade. Para o autor as críticas não apresentam fundamento, uma vez que haveria ilegitimidade completa dos meios utilizados com a finalidade de atuação social.12 Nas doutrinas da prevenção geral a pena é vista como instrumento político- criminal com atuação sobre toda a sociedade, afastando-a da prática criminosa por meio da sanção penal estabelecida em lei, da sua real aplicação e da sua efetiva execução. A pena pode ser compreendida de duas maneiras, como uma prevenção geral negativa ou intimidação, isto é, intimidando as pessoas e causando sofrimento ao infrator, diante disso, este teria receio de cometer crimes pois seria punido, e como uma prevenção geral positiva ou de integração, ou seja, uma forma de o Estado manter a confiança da sociedade na validade e na força de vigência das suas normas de tutela aos bens jurídicos, sendo vista no ordenamento jurídico-penal como um instrumento com a finalidade de mostrar a todos a inviolabilidade da ordem jurídica.13 DIAS comenta que a doutrina da prevenção geral deixa um pouco a desejar, e lembra Feuerbach, um dos fundadores do Direito Penal moderno e da doutrina da coação psicológica, a qual determina que a pena causaria nos potenciais criminosos um contra-motivo forte o bastante para impedir a prática do crime. De um lado estariam os motivos para praticar os crimes e de outro o mal que a pena causaria ao delinqüente, importando numa razão com força suficiente para a prevenção, pois os indivíduos controlariam suas tendências criminosas ao ter ciência de que sofreriam danos maiores, concluindo que a pena tem força por legitimar uma ordem jurídica vigente, ante isso haveria a manutenção da paz.14 As doutrinas da prevenção geral se ligam diretamente à função do Direito Penal de tutelar subsidiariamente bens jurídicos. Desse modo se espera que a pena cause nas pessoas um receio desde a ameaça que faz, passando pela sua verdadeira aplicação, chegando a sua efetiva execução. Por essa teoria se deduz que a pena é violadora da dignidade da pessoa humana, sobretudo quando exerce a 12 Ibid., p. 49-50. 13 Ibid., p. 50-51. 14 Id. 6 intimidação, demonstrando uma fragilidade nas teorias em questão, pois não é possível determinar a quantidade de pena necessária para causar o verdadeiro receio nos indivíduos e também porque não havendo o fim do crime, fica constatado que penas mais severas e desumanas serão aplicadas, levando o Direito Penal a uma imagem de terror que se mostra desproporcional e violador sim da dignidade da pessoa humana.15 Entretanto, isso não se aplica à vertente positiva da teoria da prevenção geral ou da integração, a qual procura proteger os bens jurídicos e a restauração da paz jurídica, quando se esforça em buscar uma pena justa e adequada à culpa do infrator, seguindo limites ditados pela própria culpa, calcados na inviolável dignidade da pessoa humana.16 As doutrinas da prevenção especial ou individual denotam a idéia de que a pena é um instrumento de atuação preventiva sobre o infrator com o intuito de evitar que este cometa novos crimes. Assim haveria uma prevenção à reincidência, porém discordâncias surgem acerca de como a pena cumpriria tal finalidade. O autor menciona que a ‘correção’ dos delinqüentes seria algo irrealizável, imaginário, pois a prevenção especial só seria dirigida a uma intimidação individual e a pena teria o condão de atemorizar o criminoso até um ponto em que ele não mais intencionasse cometer crimes. Por sua vez, a prevenção especial teria por objetivo causar um efeito de pura defesa social por meio da separação ou segregação do delinqüente neutralizando a sua perigosidade à sociedade, sendo em ambos os casos uma prevenção especial negativa ou de neutralização.17 Existe uma outra forma de prevenção individual, baseada nas doutrinas da prevenção especial positiva ou de socialização, que busca uma mudança interior (moral) do delinqüente, fazendo com que este reconheça os valores colocados pela ordem jurídica. Ou apostando num tratamento clínico das tendências criminosas, como se fosse um tratamento de uma pessoa que se encontra doente. Independente de como isso se realiza, deve-se ter em mente que a prevenção especial precisa cuidar do modo de ser do delinqüente, bem como, lhe fornecer condições de vida necessárias para viver sem cometer novos crimes, prevenindo a reincidência e possibilitando ao sujeito a inserção social e a socialização, uma vez que é um 15 Ibid., p. 52-53 16 Ibid., p. 53. 17 Ibid., p. 54. 7 indivíduo fora dos padrões sociais.18 Segundo DIAS essa doutrina também está em sintonia com a função do Direito Penal, isto é, a de tutelar subsidiariamente os bens jurídicos, pois é o que se planeja quando da aplicação da pena sobre o delinqüente, de modo a evitar a reincidência.19 Pelo pensamento da socialização o Estado é legítimo para cominar uma pena que, de algum modo, constitui um mal ao delinqüente, sendo atribuído a esse mal imputado um caráter social-positivo. Porém há casos em que a socialização é inalcançável ou desnecessária, contudo os interesses pela segurança geral prevalecem sobre o mal sofrido pelo delinqüente. Neste contexto é que o Estado tem o dever de oferecer aos mais necessitados os meios indispensáveis à (re) inserção social. Todavia o pensamento da prevenção individual positiva mostra dificuldades nos casos em que não há necessidade de socializar o indivíduo, além do que esse pensamento não soluciona integralmente a questão dos fins da pena. Sendo assim, se aplica a prevenção especial negativa, isto é, almeja-se a defesa social pura.20 Por sua vez, a pena pode ser um instrumento de reparação de danos quando tenta compor a relação entre agente e vítima, no intuito de restabelecer uma relação pautada em confiança e paz jurídicas ora abaladas pelo crime cometido. Estes danos podem ser de ordem patrimonial bem como moral.21 O autor assevera que a maioria da doutrina tenta há décadas e ainda hoje resolver a questão dos fins da pena por meio da combinação das diversas teorias acima mencionadas, chegando-se às teorias mistas ou unificadoras. Combinando-se a tese da retribuição com as do pensamento preventivo geral e especial, tem-se uma pena retributiva que procura realizar a prevenção do ponto de vista geral ou especial, traduzindo-se numa pena preventiva por meio da justa retribuição. Istoé, a pena seria imputada como retribuição da culpa e subsidiariamente como um instrumento de intimidação da generalidade, de forma a ressocializar o agente na medida do possível. Ou seja, a pena funcionaria como uma ameaça à sociedade, no momento de sua aplicação seria retributiva sendo um instrumento de prevenção geral e quando da sua execução, exerceria a prevenção especial. DIAS admite ser inaceitável tal concepção unificadora, enquanto teorias dos fins da pena, pois a 18 Ibid., p. 55. 19 Ibid., p. 56. 20 Ibid., p. 56-57. 21 Ibid., p. 58-60. 8 composição ora sugerida constitui a retribuição ou compensação da culpa como uma finalidade da pena.22 Em sua obra o autor aborda também as teorias da prevenção integral, as quais partem de que “a combinação ou unificação das finalidades da pena só pode ocorrer ao nível da prevenção, geral e especial, com exclusão de qualquer ressonância retributiva, expiatória ou compensatória”.23 Porém esta concepção deve ser igualmente recusada. Por sua vez, Cezar Roberto BITENCOURT destaca e analisa alguns aspectos das concepções retributiva da pena a uma idéia preventiva da mesma, examinando diversas teorias que explicam o sentido, a finalidade e a função das penas, sobretudo três das mais importantes, as teorias absolutas, as teorias relativas de prevenção geral e prevenção especial e as teorias unificadoras ou ecléticas. O autor parte antes de qualquer coisa do conceito de pena, segundo o qual é um mal que se impõe em decorrência da prática de um delito, isto é, a pena é um castigo e seu fim essencial é o da retribuição.24 Analisando as teorias absolutas ou retributivas da pena a partir do tipo do Estado que lhe acompanha, temos que no Estado absolutista o rei era o Estado, detinha o poder legal e a justiça, a pena era um castigo com o qual se expiava o mal cometido. O rei era considerado Deus e quem se opunha a ele recebia o castigo da pena. No Estado absolutista há um período de transição entre a sociedade da baixa Idade Média e a sociedade liberal, ocorrendo uma ascensão da burguesia e um acúmulo de capital e a pena também vinha com o intuito de realizar o objetivo capitalista. Surge então o Estado burguês liberal tendo como fundo o contrato social, no qual o compromisso dos indivíduos era o de conservar a organização social e a partir do seu descumprimento a pena lhe era retribuída como um castigo. O Estado é a expressão soberana do povo e a partir disso há a divisão de poderes e a pena passa a ser a retribuição à perturbação da ordem jurídica social consagrada nas leis, isto é, a pena vem para tentar restaurar essa ordem abalada. “À expiação sucede a 22 Ibid., p. 60-61. 23 Ibid., p. 62. 24 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1. p. 81. 9 retribuição, a razão Divina é substituída pela razão de Estado, a lei divina pela lei dos homens”.25 Por essa teoria retributiva a pena tem a função de realizar a justiça, é a partir de sua aplicação que se compensa a culpa do autor. BITENCOURT que: “O fundamento ideológico das teorias absolutas da pena baseia-se no reconhecimento do Estado como guardião da justiça terrena e como conjunto de idéias morais, na fé, na capacidade do homem para se autodeterminar e na idéia de que a missão do Estado perante os cidadãos deve limitar-se à proteção da liberdade individual”.26 O autor menciona Kant e Hegel como defensores de tais teses absolutistas ou retribucionistas da pena. Nas lições kantinianas quem não obedece à lei não é digno de cidadania, sendo assim, é dever do soberano castigar sem piedade quem descumpre a lei. A lei era um imperativo necessário, o dever ser.27 E “Direito é o conjunto de condições através das quais o arbítrio de um pode concordar com o arbítrio de outro, seguindo uma lei universal ou geral”.28 BITENCOURT destaca o pensador quando este sustenta que “A pena jurídica, poena forensis, não pode nunca ser aplicada como um simples meio de procurar outro bem, nem em benefício do culpado ou da sociedade; mas deve sempre ser contra o culpado pela simples razão de haver delinqüido(...)”.29 Assim, a pena deve ser aplicada somente porque houve o descumprimento da lei, com isso realizar-se-á justiça, independente da utilidade da pena para quem cometeu a infração ou para a sociedade como um todo, negando assim qualquer função preventiva da pena, seja geral ou especial, isto é, haverá aplicação da pena se houver a prática do delito.30 Por sua vez, BITENCOURT enfatiza que nas lições de Hegel a pena é a negação da negação do Direito, com fundamentação mais jurídica, a pena encontra- se justificada na necessidade de restabelecer a vontade geral baseada na ordem jurídica que foi, por alguma razão, negada pela vontade do infrator. Ocorre que “a pena vem, assim, retribuir ao delinqüente pelo fato praticado, e de acordo com o quantum ou intensidade da negação do direito será também o quantum ou 25 Ibid., p. 82-83. 26 Ibid., p. 83. 27 Ibid., p. 84. 28 Ibid., p. 85. 29 Id. 30 Ibid., p. 85-86. 10 intensidade da nova negação que é a pena”.31 Assim, o Direito é a vontade geral racional, a liberdade e a racionalidade são as bases do Direito e o delito é a negação desse Direito, manifestado a partir de uma vontade irracional e individual. Na idéia hegeliana de Direito Penal é evidente a aplicação de seu método dialético, tanto que podemos dizer, neste caso, que a ‘tese’ está representada pela vontade geral, ou, se se preferir, pela ordem jurídica; a ‘antítese’ resume-se no delito como a negação do mencionado ordenamento jurídico, e, por último, a ‘síntese’ vem a ser a negação da negação, ou seja, a pena como castigo do delito.32 Ante isso, a pena vem restabelecer a ordem jurídica violada, mas não deve ser apenas um ‘mal’ aplicado porque houve um mal anterior, isso seria irracional sob o ponto de vista de se querer um prejuízo em detrimento de outro. A pena é a lesão, isto é, o modo de compensar o delito e recuperar o equilíbrio perdido.33 BITENCOURT assegura que Kant e Hegel foram os pensadores mais expressivos, contudo não foram os únicos defensores de tais teorias de pena. Por sua vez, as teorias preventivas expõem que a pena não visa retribuir o fato delitivo cometido, mas prevenir a sua prática. Ou seja, a pena vem para que o ato infracional não se repita. Tanto para as teorias absolutistas quanto para as teorias preventivas a pena é um mal necessário, entretanto para as teorias preventivas a pena não se funda na idéia de realizar justiça, mas no plano de inibir uma nova prática delituosa. A partir de Feuerbach, as teorias preventivas dividem-se em prevenção geral e prevenção especial.34 A teoria da prevenção geral tem como defensores entre outros, Beccaria, Filangieri, Feuerbach, e sustenta a noção de que é por meio do Direito Penal que se pode solucionar a questão da criminalidade, através da cominação penal, ou seja, pela aplicação da pena se tem uma forma de ameaçar e avisar a sociedade quais as ações injustas serão punidas. Isto é, a pena é como uma ameaça da lei aos indivíduos para que estes se abstenham de cometer delitos, é um meio de coação psicológica. 35 Tenta-se colocar na mente dos cidadãos a idéia de que não vale a pena praticar delito em decorrência do castigo que receberá. A prevenção geral se 31 Ibid., p. 86. 32 Ibid., p. 87. 33 Id. 34 Ibid., p. 89. 35 Ibid., p. 89-90. 11 sustenta sob duas fundamentações, a idéia de intimidar pelo medo e a noção de ponderação da racionalidade do serhumano.36 Para a teoria da prevenção geral a pena ameaça e produz no indivíduo certa motivação para não mais cometer delitos. Contudo esta teoria desconsidera que o delinqüente tem a certeza de que não será descoberto, concluindo-se a partir disto que a imposição de pena não é uma ameaça suficiente para impedir a realização do delito. Infelizmente a teoria da prevenção geral não atinge os objetivos almejados, visto que, o homem médio em situações normais pode sentir-se ameaçado pela pena, mas em certos casos isto está longe de acontecer, por exemplo, quando se está diante de criminosos profissionais, habituais ou impulsivos ocasionais, ou seja, ‘cada delito já é, pelo só fato de existir, uma prova contra a eficácia da prevenção geral’.37 Ademais as teorias preventivas, assim como as retributivas, não conseguem demonstrar sobre quais condutas o Estado tem legitimidade para intimidar e punir.38 A teoria ora exibida recebe muitas objeções no que tange a sua deficiente solução apresentada a certos problemas normativos e empíricos, como por exemplo: os destinatários do Direito Penal devem tomar conhecimento dos fatores desencadeantes de um efeito preventivo geral, como aduzir ao infrator a cominação penal e a execução da pena, visto que se os cidadãos se comportam conforme dita o Direito, sem conhecer tais fatores, é porque eles em nada influenciaram. BITENCOURT lembra do princípio de que nenhuma pessoa se beneficia com o desconhecimento das leis, não obstante ninguém conhece as leis até que se prove o contrário e mais, nem todo indivíduo deve entender o conteúdo das leis, vez que se traduzem numa linguagem toda especial.39 Outra questão é a de que os destinatários da norma penal e, por meio dela, devem ser motivados em seus comportamentos. A ciência da norma deve recair sobre a conduta do indivíduo, com a finalidade de ser uma solução da questão jurídico-penal. O autor relata a existência de pessoas que conhecem a norma jurídico-penal, bem como sua execução, sendo inclusive pessoas motiváveis. Fica a incerteza se os comportamentos e condutas conforme os mandamentos legais são resultados da cominação penal e da possibilidade de execução da pena. Todavia 36 Id. 37 Ibid., p. 90-91. 38 Ibid., p. 91. 39 Id. 12 não resta dúvida sobre a intimidação que a pena impõe, porém há de se preocupar com a proporcionalidade de tais cominações penais e seus efeitos, isto é, não se pode castigar sem medidas, transformando o Direito Penal em direito do terror, porém infelizmente hoje as penas são utilizadas demasiadamente e desproporcionalmente em nome de uma prevenção geral.40 Por sua vez, a teoria da prevenção especial também se empenha em evitar a prática do delito, entretanto diferentemente da prevenção geral, direciona-se exclusivamente ao delinqüente com o intuito deste não voltar a delinqüir. BITENCOURT alude o pensamento de Von Liszt o qual trata a pena como uma necessidade, isto é, a sua aplicação obedece a uma noção de ressocialização e reeducação do delinqüente, intimidando os que não precisam disto, bem como neutralizando os incorrigíveis. Parte-se de uma tese sintetizada na intimidação, correção e inocuização. A partir desta idéia o interesse jurídico-penal não se volta mais ao restabelecimento da ordem jurídica ou à intimidação geral de uma sociedade, mas a pena vem para defender uma nova ordem social. O delito fere a ordem social e, sobretudo, causa um dano social no qual o delinqüente é visto como um perigo social, um anormal que coloca em risco toda uma sociedade, marcando a passagem de um Estado guardião para um Estado intervencionista.41 BITENCOURT assevera que: A prevenção especial não busca a intimidação do grupo social nem a retribuição do fato praticado, visando apenas aquele indivíduo que já delinqüiu para fazer com que não volte a transgredir as normas jurídico-penais. Os partidários da prevenção especial preferem falar de medidas e não de penas. A pena, segundo dizem, implica a liberdade ou a capacidade racional do indivíduo, partindo de um conceito geral de igualdade. Já medida supõe que o delinqüente é um sujeito perigoso ou diferente do sujeito normal, por isso, deve ser tratado de acordo com a sua periculosidade. Como castigo e intimidação não têm sentido, o que se pretende, portanto, é corrigir, ressocializar ou inocuizar.42 Aborda igualmente em sua obra as teorias mistas ou unificadoras as quais tentam reunir em um conceito único os fins da pena, mesclando os aspectos mais importantes das teorias absolutas e relativas. As teorias unificadoras criticam as soluções monistas, isto é, soluções sustentadas pelas teorias absolutas ou relativas da pena. Sustentam que essa unidimensionalidade é um tanto quanto formalista e 40 Ibid., p. 92. 41 Ibid., p. 92-93. 42 Ibid., p. 94. 13 incapaz de abarcar a complexidade dos eventos sociais que interessam ao Direito Penal, atingindo a segurança e os direitos fundamentais do ser humano. Em razão disto se argumenta a necessidade de adotar uma teoria plural. Marcando assim a diferença entre fundamento e fim da pena.43 Pelo fundamento da pena a sanção punitiva baseia-se tão somente no fato praticado, o delito, afastando a tese sustentada pela prevenção geral, qual seja, a intimidação pela pena, inibindo os demais a praticarem delitos. E com o mesmo argumento se afasta a fundamentação preventivo-especial da pena, a qual se baseia naquilo em que o delinqüente pode fazer caso não receba o tratamento a tempo, e não o que já foi realizado por ele, sendo uma ofensa à dignidade da pessoa humana ao subjugá-lo à classe de doente biológico ou social. Em suma, as teorias unificadoras ou mistas admitem a retribuição e o princípio da culpabilidade como critérios que limitam a intervenção da pena como sanção jurídico-penal. Ante isso, a pena não pode ultrapassar a responsabilidade decorrente do fato praticado. Essas teorias concentram o fim do Direito Penal na idéia da prevenção.44 A doutrina buscou alternativas para explicar os fins da pena, visto que a reunião de proposições retributivas e preventivas da teoria unificadora não se mostraram suficiente, acabando por não se consolidar. Surge então a teoria da prevenção geral positiva com duas subdivisões: prevenção geral positiva fundamentadora e prevenção geral positiva limitadora.45 A teoria da prevenção geral positiva fundamentadora tem, dentre outros, os seguidores Welzel e Jakobs. BITENCOURT destaca que para Welzel o Direito Penal realiza uma função ético-social, na qual mais importante que a proteção aos bens jurídicos, é a garantia de vigência real dos valores de ação da atitude jurídica. Isto é, a proteção aos bens jurídicos constitui uma função de prevenção negativa. Contudo a missão mais relevante do Direito Penal é de natureza ético-social. “Ao proscrever e castigar a violação de valores fundamentais, o Direito Penal expressa, da forma mais eloqüente de que dispõe o Estado, a vigência de ditos valores, conforme o juízo 43 Ibid., p. 95. 44 Ibid., p. 95-96. 45 Ibid., p. 96. 14 ético-social do cidadão, e fortalece sua atitude permanente de fidelidade ao Direito”.46 Por sua vez, o autor enfatiza que para Jakobs o Direito Penal tem a missão de garantir a função orientadora das normas jurídicas, isto é, “as normas jurídicas buscam estabilizar e institucionalizar as experiências sociais, servindo, assim, como uma orientação da conduta que os cidadãos devem observar nas suas relações sociais”.47 Por exemplo quando uma norma é infringida, ela continua a existir, mantendo a sua vigência e a confiança que nela é depositada. A pena demonstra ao infrator que asua conduta não impede a manutenção da norma. Sendo o delito negativo, quando infringe a norma e frauda expectativas, a pena, por outro lado, é positiva na medida em que afirma a vigência da norma ao negar sua infração.48 BITENCOURT pronuncia que essa noção defendida por Jakobs recebeu muitas críticas, vez que permite de certo modo a utilização da pena mesmo quando a proteção aos bens jurídicos não se mostra necessária, com base numa idéia de prevenção geral ou prevenção especial. Em síntese: A teoria da prevenção geral positiva fundamentadora não constitui uma alternativa real que satisfaça as atuais necessidades da teoria da pena. É criticável também sua pretensão de impor ao indivíduo, de forma coativa, determinados padrões éticos, algo inconcebível em um Estado social e democrático de Direito. É igualmente questionável a eliminação dos limites do ius puniendi, tanto formal como materialmente, fato que conduz à legitimação e desenvolvimento de uma política criminal carente de legitimidade democrática.49 Quanto à prevenção geral positiva limitadora esta se fundamenta na prevenção geral expressa sob um sentido limitador do poder punitivo do Estado. Essa noção considera o Direito Penal como um meio de controle social. A pena é uma forma de castigar ou sancionar formalmente, vez que o Direito Penal caracteriza-se por sua formalização, contudo deve submeter-se a determinadas limitações. A pena deve ser proporcional e somente ser imposta depois de asseguradas todas as garantias jurídico-constitucionais. A formalização do Direito Penal tem lugar através da vinculação com as normas e objetiva limitar a intervenção jurídico-penal do Estado em atenção aos direitos individuais do 46 Ibid., p. 97. 47 Ibid., p. 98. 48 Id. 49 Ibid., p. 99. 15 cidadão. O Estado não pode – a não ser que se trate de um Estado totalitário – invadir a esfera dos direitos individuais do cidadão, ainda quando haja praticado algum delito. Ao contrário, os limites em que o Estado deve atuar punitivamente deve ser uma realidade concreta. Esses limites referidos materializam-se através de princípios da intervenção mínima, da proporcionalidade, da ressocialização, da culpabilidade, etc. Assim, o conceito de prevenção geral positiva será legítimo desde que compreenda que deve integrar todos estes limites harmonizando suas eventuais contradições recíprocas: se se compreender que uma razoável afirmação do Direito Penal em um Estado social e democrático de Direito exige respeito às referidas limitações.50 A pena tem a função de prevenção geral positiva, isto é, a partir da reação estatal perante fatos puníveis, protege a consciência social da norma. Protege-se o delinqüente ajudando-o dentro do possível, utilizando-se de critérios de proporcionalidade e consideração à vítima. “A ressocialização e a retribuição pelo fato são apenas instrumentos de realização do fim geral da pena: a prevenção geral positiva”.51 A principal finalidade da pena é a prevenção geral a partir da intimidação, sem contudo ignorar as necessidades de prevenção especial, no que tange a ressocialização do infrator. “A onipotência jurídico-penal do Estado deve contar, necessariamente, com freios ou limites que resguardem os invioláveis direitos fundamentais do cidadão”.52 Juarez Cirino dos SANTOS assevera em sua obra que a pena como retribuição do crime com sentido de expiação ou com sentido de compensação da culpabilidade, significa a imposição de um mal que se justifica por ter sido cometido um mal representado pelo crime, isto é, por esta concepção se entende que a pena serve para realizar justiça ou restabelecer o direito ora abalado. Historicamente a pena retributiva como expiação de culpabilidade lembra súplicas e fogueiras medievais, armadas no intuito de purificar a alma do culpado, e a pena como compensação de culpabilidade retoma o impulso que o ser humano tem de vingar- se. Lembrando a lei do talião, olho por olho, dente por dente.53 Os adeptos da prevenção especial e geral tecem críticas à teoria retributiva, dizendo que não é democrático e nem científico retribuir um mal com outro mal. Num Estado Democrático de Direito o poder é exercido em nome do povo e não em nome de Deus, ademais o Direito Penal tem a finalidade de proteger bens jurídicos e não 50 Ibid., p. 100. 51 Id. 52 Ibid., p. 101. 53 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: parte geral. 21. ed. Curitiba: Lumen Juris, 2006. p. 453-454. 16 realizar vinganças. Por sua vez não é científico, pois a retribuição do crime pressupõe algo difícil de ser demonstrado, qual seja a liberdade de vontade do homem, implicada no juízo de culpabilidade. A impossibilidade de evidenciar a liberdade pressuposta na culpabilidade motivou uma mudança na função atribuída à culpabilidade no moderno Direito Penal, isto é, a culpabilidade perde a velha função de fundamento da pena, que legitima o poder punitivo do Estado em face do indivíduo, para adotar a função atual de limitação da pena, que garante o indivíduo contra o poder punitivo do Estado.54 Por sua vez, o autor relata que a pena com função de prevenção especial, dominante durante os séculos XIX e XX, é pertinência legal dos sujeitos da aplicação e execução penal. Ou seja, o juiz no momento da aplicação da pena individual, por meio da sentença criminal, define a prevenção especial. Em seguida ocorre a execução da referida pena. A prevenção especial ocorria de duas maneiras distintas, porém simultâneas, nas quais o Estado tentava evitar crimes futuros. Por um lado, a prevenção especial negativa de segurança social fundada na neutralização do criminoso, isto é, durante a execução da pena o criminoso ficaria preso e conseqüentemente afastado e incapacitado de praticar novos crimes. Isto é, privando-se o condenado de sua liberdade mantem-se a segurança social. Há uma evidente seleção de indivíduos considerados perigosos que a partir da imposição da pena são neutralizados e afastados do convívio social, onde só poderiam cometer novos crimes nos limites da prisão. E a prevenção especial positiva de ressocialização do criminoso, realizada em conjunto por uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, etc, durante a execução da pena. A crítica é a de que a pena criminal preserva os direitos não atingidos pela privação de liberdade, isto é, a partir da ressocialização preserva-se a autonomia do preso, contudo isso deveria valer para casos individuais nos quais o próprio preso se dispõe a um tratamento, pois o Estado não tem direito de tornar pessoas melhores de acordo com critérios morais próprios, prendendo indivíduos com o escopo de melhoria terapêutica.55 A pena como prevenção geral tem por finalidade impedir crimes futuros por meio de uma antiga forma negativa e uma pós-moderna forma positiva. O autor 54 Ibid., p. 456. 55 Ibid., p. 456-458. 17 destaca Feuerbach o qual dizia com a sua teoria da coação psicológica que a forma tradicional de intimidação penal concebe a dimensão negativa da prevenção geral, isto é, o Estado acredita que não há estímulos nos indivíduos para praticarem crimes por estarem ameaçados pela pena. Críticas surgem e constatam que não é a gravidade da pena ou a severidade da execução penal que ameaça, mas sim a certeza da punição que desestimula a prática de novos crimes. Ademais, nesta teoria falta um critério limitador da pena, vez que fere o princípio da dignidade da pessoa humana, pois acusados reais são punidos para servir de exemplo e impedir que potenciais criminosos sigam o mesmo caminho.56 Por volta do final do século XX, a função de prevençãogeral adquiriu uma forma positiva pós-moderna, comumente definida como integração ou prevenção, esta noção apresenta duas posições relevantes, por exemplo, na idéia de Roxin enfatizada por Juarez Cirino dos SANTOS, a função de prevenção geral positiva está dentro de outras funções atribuídas à pena, a qual tem o intuito de proteger bens jurídicos, contudo essa proteção se mostra subsidiária quando existem outros meios mais efetivos de proteção, bem como se mostra fragmentária pois realiza uma proteção parcial desses bens jurídicos. Assim sendo, o pensador aponta a integração ou prevenção como manifestação da inviolabilidade do Direito, necessária para manter a confiança na ordem jurídica, vez que há imposição do Direito e, reforçar a fidelidade jurídica das pessoas causada pela justiça penal, além de gerar uma pacificação social por meio da punição ora recebida como conseqüência da violação do Direito.57 Por sua vez, o mesmo autor lembra Jakobs o qual afirma que a pena criminal definida como prevenção geral positiva assegura a validade da norma penal infringida, vez que a norma penal reafirmada pela pena criminal, define-se como bem jurídico-penal. Assim traduz prevenção geral positiva como expressão da validade da norma, revelada a partir de uma reação contrária a violação da norma alcançada à custa do responsável, necessária para reafirmar as expectativas normativas frustradas pela conduta criminosa. Função positiva de prevenção geral pois seria dirigida a toda uma sociedade, como exercício de confiança na norma para saber o que se esperar de uma interação social, bem como fidelidade jurídica 56 Ibid., p. 459-460. 57 Ibid., p. 460. 18 pelo reconhecimento da pena como efeito da contradição da norma, além da aceitação das conseqüências respectivas, pela vinculação do comportamento criminoso com o dever de suportar a pena. Isto é, aceitar as normas sociais por fazer parte de uma sociedade e suportar a punição por infringir tais normas.58 O autor afirma ainda em sua obra que as teorias unificadas da pena criminal são uma combinação das teorias já citadas, com o intuito de superar falhas que cada uma apresenta, misturando as funções de retribuição, prevenção geral e prevenção especial.59 Assim, a pena representaria (a) retribuição do injusto realizado, mediante compensação ou expiação da culpabilidade, (b) prevenção especial positiva mediante correção do autor pela ação pedagógica da execução penal, além de prevenção especial negativa como segurança social pela neutralização do autor e, finalmente, (c) prevenção geral negativa através da intimidação de criminosos potenciais pela ameaça penal e prevenção geral positiva como manutenção/reforço da confiança na ordem jurídica, etc.60 Hoje em dia as teorias unificadas são predominantes na legislação, na jurisprudência e na doutrina penal ocidental. No Brasil, o Código Penal aproveita as teorias unificadas ao motivar a aplicação da pena conforme seja imprescindível e suficiente para condenação e prevenção do crime (artigo 59 do Código Penal Brasileiro), a reprovação revela a idéia de retribuição da culpabilidade; a prevenção do crime compreende as modalidades de prevenção especial (neutralização e correção do autor) e de prevenção geral (intimidação e manutenção ou reforço da confiança na ordem jurídica) conferidas à pena criminal.61 O mesmo autor relata que as três funções da pena, de reprovar, de retribuir e de prevenir correspondem aos três níveis de realização do Direito Penal, quais sejam, o de prevenção geral negativa obedece à cominação da ameaça penal no tipo legal, o de retribuição e o de prevenção geral positiva correspondem à aplicação judicial da pena e o de prevenção especial positiva e negativa satisfaz à execução penal.62 O autor assevera que o discurso crítico da teoria criminológica da pena determina o Direito Penal como um sistema díspar em todas as suas funções. 58 Ibid., p. 461. 59 Ibid., p. 462. 60 Id. 61 Ibid., p. 463. 62 Ibid., p. 463-464. 19 Quando define crimes estabelece uma proteção seletiva de bens jurídicos escolhidos por uma sociedade capitalista hegemônica detentora do poder político. Quando aplica penas condena seletivamente indivíduos excluídos das relações sociais e, por fim, quando executa penas institui uma repressão seletiva de marginalizados sociais que se encontram fora do mercado de trabalho, seja por desocupação, subocupação ou trabalho não qualificado, isto é, não possuem utilidade nessas relações sociais, embora sejam úteis quando se fala em desigualdades e opressão impostas pelo capitalismo. Esse enfoque traduz um Direito Penal desigual e seletivo cujas sanções têm dupla colocação, ou seja, ora faz política para garantir e reproduzir a escala social vertical, na função real da ideologia penal e ora encobre ou imuniza condutas danosas cometidas pela elite do poder econômico e político social, na função ilusória da ideologia penal.63 Em síntese, a pena é a retribuição ao crime nas sociedades capitalistas, exprimindo um Direito Penal desigual, programado a partir de uma criminalização seletiva de excluídos das relações sociais esperadas, ativando estereótipos e sobretudo preconceitos.64 2 LIMITES CONSTITUCIONAIS DA PENA Cesare BECCARIA em sua obra faz referência à moderação das penas e expõe que o intuito das penalidades não é torturar e angustiar um ser sensível, tão pouco desfazer um crime já praticado. Já dizia o autor que as punições têm por escopo inibir o culpado de se tornar no futuro prejudicial à sociedade e afastar os seus cidadãos do caminho do crime. “Entre as penalidades e no modo de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é necessário, portanto, escolher os meios que devem provocar no espírito público a impressão mais eficaz e mais durável e, igualmente, menos cruel no corpo do culpado”.65 BECCARIA verifica ainda que “quanto mais terríveis forem os castigos, tanto mais cheio de audácia será o culpado em evitá-los. Praticará novos crimes, para 63 Ibid., p. 485-486. 64 Ibid., p. 487. 65 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução: Torrieri Guimarães. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2000. p. 49. 20 subtrair-se à pena que mereceu pelo primeiro”.66 Bem como, o autor constata que “os países e os séculos em que se puseram em prática os tormentos mais atrozes, são igualmente aqueles em que se praticaram os crimes mais horrendos“.67 O pensador lembra que deve haver proporção entre os crimes e as penas, que o interesse de uma sociedade como um todo não é somente que se cometam poucos crimes, todavia que os crimes mais prejudiciais à sociedade sejam os menos prováveis. A lei utiliza meios para evitar os crimes, por conseguinte esses meios devem ser mais fortes à proporção que o crime é mais desfavorável ao bem público, logo pode tornar-se mais comum.68 “Bastará, pois, que o legislador sábio estabeleça divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos crimes e que, principalmente, não aplique os menores castigos aos maiores delitos”.69 Jair Leonardo LOPES assevera em sua obra que a pena é a sanção a ser aplicada àqueles que, consciente e voluntariamente, realizam ou colaboram para a consumação ilícita e culpável das condutas tipificadas, praticando a ação proibida ou omitindo a ação ordenada. Havendo proibição ou comando, previstos em lei penal, sua observância é exigida, vez que fere ou expõe a perigo um bem ou valor individual ou coletivo, cuja preservação é indispensável para assegurar-se a coexistência humana. É por meio da imposição da pena que se tenta evitar a prática de condutas ilícitas. A partirde uma exigência constitucional, há uma prévia cominação legal da pena, como por exemplo, determina o artigo 5º, XXXIX (não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal), isto é, se atende uma previsão da pena a ser aplicada àquele que realiza ilícita e culpavelmente a conduta típica.70 O mesmo autor recorda que qualquer que seja a pena, sempre haverá uma perda ou restrição de direitos individuais, em decorrência disto as suas espécies, formas de aplicação e de execução estão obrigatoriamente previstas na Constituição, que é a Lei maior num Estado Democrático de Direito, caso contrário 66 Ibid., p. 50. 67 Id. 68 Ibid., p. 68-70. 69 Ibid., p. 70. 70 LOPES, Jair Leonardo. Curso de Direito Penal: parte geral. 3. ed. São Paulo: RT, 1999. p. 177. 21 poderiam ser consideradas ofensas àqueles direitos, como por exemplo, o direito à liberdade.71 A Constituição proíbe a pena de morte, todavia permite as penas de privação ou restrição de liberdade, a perda de bens, a multa, a prestação social alternativa e a suspensão ou interdição de direito, entretanto ao permitir a imposição de tais penas a Constituição exige a maneira como serão impostas, ou seja, o juiz ao aplicar a pena está limitado e obrigado a individualizá-la, como dita o artigo 5º, XLVI. Para uma efetiva individualização da pena o juiz deve atender à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade, ao motivo que levou o agente a praticar tal conduta, demais circunstâncias e conseqüências do crime, assim como o comportamento da vítima (artigo 59 do Código Penal Brasileiro).72 Dito isto, a aplicação da pena não é um mero arbítrio do juiz, pois deve se ajustar à individualidade do condenado. Diante dessa constatação, a Constituição além de prever as espécies de pena e o modo como devem ser aplicadas, dispõe em seu artigo 5º, XLVIII o cumprimento da pena em estabelecimentos distintos conforme a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.73 O Direito Penal e a Constituição da República compartilham uma relação axiológico-normativa vez que possuem três níveis de interação, sejam eles: a intervenção penal proibida pela Constituição, a intervenção penal possibilitada por ela e a intervenção penal constitucionalmente obrigatória. A partir de uma análise de Luciano FELDENS os direitos fundamentais exercem uma dupla função, a de defesa e a de imperativos de tutela. Segundo o autor o Direito Penal deve adaptar-se materialmente à Constituição, visto que esta é a ordem normativa superior e causa um impacto na validade do Direito Penal, ora então há que se considerar que a atuação do legislador penal é limitada, vez que o Direito Penal sofre o controle constitucional.74 Em linhas gerais o autor sustenta que a Constituição da República funciona como referência obrigatória da atividade punitiva, vez que possui as decisões 71 Ibid., p. 178. 72 Ibid., p. 178-179. 73 Ibid., p. 179. 74 FELDENS, Luciano. Direitos Fundamentais e Direito Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 29-30. 22 valorativas fundamentais no que tange a elaboração de um conceito de bem jurídico que se antecede à legislação penal e a ela se obriga. Assim o legislador penal encontra uma ordem de valores pré-constituída e ditada pela Constituição. Parte-se do entendimento de que deve haver coerência e interação do Direito Penal com a Constituição.75 Quando se fala que a Constituição estabelece necessidade, impossibilidade e possibilidade para o legislador, se está querendo dizer que aquilo que a Constituição ordena é constitucionalmente necessário; o que ela proíbe é constitucionalmente impossível; e o que ela confia à discricionariedade do legislador é tão-somente possível, pois à Constituição não é necessário nem impossível. A partir deste entendimento traçado por FELDENS em sua obra, se conclui que a Constituição é limite material para o Direito Penal, quando impõe barreiras ao processo criminalizador, é também fonte valorativa, pois consiste num paradigma para a escolha dos bens jurídicos a serem protegidos penalmente e é fundamento normativo do Direito Penal, pois assinala onde obrigatoriamente deve haver a intervenção do legislador penal.76 A Constituição exerce uma função limitadora na atividade de construção dos tipos penais, impedindo que o Direito Penal tutele um interesse constitucionalmente proibido ou socialmente irrelevante, bem como se o fato for relevante que haja penalização das condutas realmente ofensivas a bens jurídicos. Essa questão pode ser vista à luz do princípio da ofensividade, de acordo com o qual a conduta deve causar um dano ou perigo a um bem, interesse ou direito alheio. O autor entende que o princípio da ofensividade nada mais é do que o princípio da proporcionalidade.77 O princípio da ofensividade vincula tanto o legislador (em abstrato) quanto o juiz (em concreto). Cuida-se, assim, de um critério de legitimação negativa da intervenção punitiva, para excluir, por injustificados, determinados tipos penais que não apresentam potencialidade ofensiva, ou mesmo para restringir, no plano aplicativo, sua amplitude normativa a condutas que efetivamente coloquem em risco o bem jurídico tutelado. E isso se verifica da seguinte forma: (i) no plano legislativo, o princípio da ofensividade impede o legislador de criminalizar condutas que não oferecem dano ou perigo a um bem jurídico alheio; (ii) em nível jurisdicional, a aplicação do princípio deve comportar, para o juiz, o dever de excluir a subsistência do crime quando o fato concerto sob análise, embora se 75 Ibid., p. 30-31. 76 Ibid., p. 33-34. 77 Ibid., p. 34. 23 apresente na conformidade formal do tipo, tenha se revelado inofensivo ao bem jurídico específico tutelado pela norma.78 Verificado a partir do princípio da proporcionalidade sendo a conduta do agente meramente comportamental e irrelevante socialmente por não ameaçar bem jurídico alheio, o Direito Penal não será o meio mais apropriado para interferir, todavia se a conduta for socialmente relevante e pedir uma intervenção pública o Direito Penal poderá ser o meio para isso, porém se houver pequeno potencial ofensivo e havendo a possibilidade de se utilizar outros meios para coibir tal conduta, o Direito Penal se abstém.79 A Constituição como fonte valorativa do Direito Penal indica ao legislador quais os tipos penais pode dispor para proteger determinado bem jurídico. Funciona como um parâmetro de referência dos fatos sujeitos a penalização. Importante parcela da doutrina sustenta a concepção de que a Constituição é fonte exclusiva de validade das normas penais incriminadoras, entretanto hipóteses de tutela a bens jurídicos relevantes existem mesmo sem uma correlação constitucional.80 E a Constituição como fundamento normativo do Direito Penal transmite ao legislador penal a exigência de agir em conformidade com mandados constitucionais de tutela penal, isto é, diante da normatividade disposta constitucionalmente o legislador não poderá recusar-se a operar, pois estará vinculado.81 O autor conclui que a noção de reserva constitucional de Direito Penal conduz a uma relação de complementaridade entre as funções limitadora e fundante do Direito Penal. Sob esta imprescindível dialética, entre limitação e fundamento dos institutos ou poderes jurídico-penais, que gira a temática da Constituição Penal. De um lado, um limite garantista intransponível de intervenção mínima; de outro, um conteúdo mínimo irrenunciável de coerção e intervenção necessária. “Esse balanço há de ser o fio condutor da atividade estatal (legislativae jurisdicional) em matéria penal”.82 E. Magalhães NORONHA lembra que o Direito Penal tem uma relação estreita com a Constituição e a ela se subordina. A Constituição é fonte formal das 78 Ibid., p. 35. 79 Ibid., p. 35-36. 80 Ibid., p. 40-41. 81 Ibid., p. 42. 82 Ibid., p. 53. 24 normas penais, tutela os direitos fundamentais do ser humano e cuida do funcionamento dos órgãos da soberania estatal, bem como traça limites para as leis penais, além dos quais não se pode avançar sob pena de inconstitucionalidade.83 Luiz LUISI recorda que os princípios penais fazem parte das Constituições brasileiras desde a de 1824, sendo tratado em maior grau de preocupação na atual Constituição de 1988. O autor menciona que nas Constituições há uma série de princípios de natureza penal, uns especificamente relacionados ao Direito Penal, colocados de maneira explícita e outros apenas deduzidos dos textos, ou seja, princípios implícitos. Existem ainda os que embora não sejam especificamente penais, têm pertinência com o Direito Penal. Dos princípios correlatos à pena trazidos de modo expresso no texto constitucional vigente, o princípio da legalidade penal é sem dúvida o mais relevante.84 BECCARIA conclui sua obra afirmando que “para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser, de modo essencial, pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei”.85 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do estudo aqui desenvolvido verificou-se que o conceito de pena tem por fundamento o Princípio Constitucional Penal da Legalidade. Alguns autores partem da idéia de que a finalidade da pena guarda relação com a filosofia, vez que sugere uma problemática na qual se busca compreender as razões que levam o Direito Penal a aplicar a pena como uma sanção tão diferente dos demais ramos do direito. As teorias absolutas traduzem a pena como um fim em si mesmo, sendo um sofrimento a ser aplicado para se atingir a justiça, independente de qualquer finalidade ou se apresentando como a negação da realidade, mostrando que o delito cometido com o escopo de aniquilar o Direito é, na verdade, ineficaz para isso. Logo, 83 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: introdução e parte geral. 36. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. v. 1. p. 12-13. 84 LUISI, Luiz. Os Princípios Constitucionais Penais. 2. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2003. p. 178. 85 BECCARIA, Cesare. Op. cit., p. 107. 25 a pena vem assegurar o Ordenamento Jurídico ora infringido pela conduta delitiva. Por sua vez, para as teorias relativas a finalidade da pena vai além do mal cometido, prevenindo novos delitos. Sendo subdividida em prevenção especial na qual a pena tem por intuito o tratamento individual do criminoso, de maneira a evitar a reincidência, e, em prevenção geral na qual a pena evita delitos novos. E por fim as teorias mistas, onde os fins da pena encontram um meio-termo, vez que combinam a retribuição da culpabilidade com a função restituidora da pena estando de acordo com o Princípio da Legalidade. Não há que se negar que o Direito Penal é um instrumento de poder autoritário, e de modo algum é um pacificador social, vez que não se percebe uma tranqüilidade na sociedade na qual os crimes cometidos geram cada vez mais insegurança para os indivíduos, mesmo com tantas leis penais e com penas cada vez mais severas. Conclui-se que a pena é um mal, pois sempre há a perda de bens jurídicos, isto é, para castigar quem comete um delito o Direito retira do indivíduo o que lhe é mais valioso, como a liberdade, por exemplo. Em contrapartida, vale mencionar que o Estado tem limites no seu poder punitivo e só pode interferir na esfera de liberdade do indivíduo a partir da lei. 26 REFERÊNCIAS BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução: Torrieri Guimarães. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2000. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1. DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Penal: parte geral. São Paulo: RT, 2007. t. 1. FELDENS, Luciano. Direitos Fundamentais e Direito Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. LOPES, Jair Leonardo. Curso de Direito Penal: parte geral. 3. ed. São Paulo: RT, 1999. LUISI, Luiz. Os Princípios Constitucionais Penais. 2. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2003. NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: introdução e parte geral. 36. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. v. 1. SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: parte geral. 21. ed. Curitiba: Lumen Juris, 2006.
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