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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CURITIBA – ESTADO DO PARANÁ Ação Penal nº xxx JORGE, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe, que lhe move o Ministério Público do Estado do Paraná, por intermédio de seu advogado que ao final assina, vem à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS em forma de memoriais (ou escrita) com fulcro no artigo 403, § 3º do Código de Processo Penal, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor. 1) DOS FATOS Trata-se de Ação Penal, na qual o Ministério Público do Estado do Paraná denunciou Jorge como incurso nas sanções previstas no artigo 217-A, do Código Penal. Durante a instrução criminal, confirmou-se que o réu não sabia da idade da suposta vítima, tão pouco agiu com dolo de ofender a dignidade sexual de vulnerável. No dia dos fatos, o acusado estava no bar com seus amigos e lá conheceu a suposta ofendida. Apesar de ter praticado sexo oral e vaginal, o réu não tinha como saber que a suposta vítima possuía menos de 14 anos. Tanto é assim que a alegada ofendida disse na audiência de instrução e julgamento que tinha o hábito de fugir de casa e frequentar bares de adultos. As testemunhas de acusação não acrescentaram nada à demanda, ao passo que as testemunhas de defesa puderam confirmar que as vestimentas da suposta vítima eram incompatíveis com aquelas utilizadas por uma adolescente de 13 anos de idade. Ao ser ouvido em Juízo, o réu disse que praticaram sexo de forma consensual e não perguntou a idade da suposta vítima porque o local é frequentado somente por adultos. Corroborando com as provas testemunhais, o Laudo Pericial confirmou que a suposta ofendida não era mais virgem, o que vai de encontro com a alegação de ser aquele seu primeiro ato sexual. Portanto, fica claro que a palavra daquela que se diz vítima não merece ser considerada, mas sim as arguições apresentadas pela defesa, capazes de inocentar o réu. 2) DO DIREITO 2.1) DO PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO Extrai-se dos autos que o réu agiu por erro de tipo, previsto no art. 20, caput, do Código Penal, uma vez que não teve a consciência de que a suposta vítima possuía menos de 14 anos de idade. Neste caso, sendo a idade da vítima elementar do crime de estupro de vulnerável, é de rigor o reconhecimento do erro, capaz de atestar pela atipicidade de sua conduta. 2.2) DO AFASTAMENTO DO CONCURSO MATERIAL Caso Vossa Excelência não entenda pela absolvição, a condenação não pode ser feita tal como requer a acusação. Em que pese o Ministério Público ter denunciado o réu pela prática de dois crimes, dos autos não extrai-se tal possibilidade. Explico. O tipo penal incriminador previsto no 217-A do Código Penal é de ação múltipla (ou misto alternativo), já que contêm mais de um verbo em seu núcleo, como a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Neste caso, sendo incontroverso que o réu praticou a conduta dentro o mesmo contexto fático, não há que se falar com concurso material, mas sim, de crime único. 2.3) DA FIXAÇÃO DA PENA-BASE Na fixação da pena-base, requer a Vossa Excelência que considere a ausência de vetores negativos ao analisar as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal. Diante da neutralidade inerente a culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, é de rigor a fixação da pena no mínimo legal. 2.4) DO AFASTAMENTO DA AGRAVANTE DA EMBRIAGUEZ PREORDENADA Emerge dos autos que o réu não estava embriado quando conheceu a suposta vítima, e por isso, não deve pesar com ele a agravante prevista no artigo 61, II, “l”, do Código Penal. Tal dispositivo deve ser considerado para agravar a pena somente quando o agente se vale desta circunstância para prática delitiva. No caso em tela, o réu não se valeu do estado de embriaguez porque não estado sob efeito de álcool na prática de sua conduta. 2.5) DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA Na remota hipótese de condenação, é preciso mencionar que o réu deverá cumprir a pena no regime semiaberto, uma vez que prevê o art. 33, § 2º, “b”, do Código Penal, que aquele cuja pena privativa de liberdade não exceda a 8 anos deve dar início ao cumprimento da sanção neste regime. Apesar da Lei de Crimes Hediondos prever a impossibilidade de início do cumprimento da pena em regime menos gravoso (fechado), é importante mencionar que seu artigo 2º, §1º, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, e por isso, sua aplicação deve ser afastada. 3) DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer a Vossa Excelência: a) a absolvição do réu, com base no artigo 386, III, do Código de Processo Penal, por ausência da tipicidade da conduta. b) na remota hipótese de condenação, requer de forma subsidiária: b.1) o afastamento do concurso de crime, sendo reconhecido o crime único; b.2) a fixação da pena-base no mínimo legal; b.3) o afastamento da agravante da embriaguez preordenada Nestes termos, pede deferimento. Curitiba, 29 de abril de 2014. Advogado OAB nº (...)
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