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Criticas a Democracia Ateniense

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1
AS NUVENS: A CRÍTICA DE ARISTÓFANES À DEMOCRACIA ATENIENSE 
 
ANA MARIA ALMEIDA FRAGA MSc 
UNEC 
A SOCIEDADE ATENIENSE INTERNA E EXTERNA 
 
Internamente toda a evolução política ateniense refletiu as lutas entre os vários grupos 
políticos, sendo os principais: os eupátridas (aristocracia agrária, dona das melhores terras, rebanhos 
e organizados gentilicamente); geomores (pequenos proprietários rurais); demiurgos (artesãos 
urbanos) e tetas (trabalhadores urbanos assalariados que tinham perdido suas terras). 
Os governantes atenienses desde Sólon procuraram equilibrar as tensões entre estes grupos, 
mas os dois pilares da sociedade grega permaneceram intocáveis: a propriedade privada da terra e a 
escravidão. 
Sólon tornou publicas as antigas leis do direito consuetudinário, mas não alterou a situação dos 
endividados que perdiam suas terras e eram reduzidos à escravidão ou obrigados a mudar-se para a 
cidade e tornarem-se trabalhadores assalariados, integrando mais tarde a força marítima de Atenas. 
Todos os grandes políticos atenienses, na verdade, apoiaram-se no povo, fizeram mudanças 
na constituição para ampliar o acesso dos atenienses à cidadania. O importante era ser cidadão e 
para isto era necessário ser livre e proprietário. O cidadão oriundos dos vários grupos sociais (exceto 
escravos e estrangeiros) tinham um objetivo comum: limitar os poderes da aristocracia. É necessário 
não perder de vista que a reação aristocrática sempre se fez presente quando a oportunidade 
apareceu. 
 Os atenienses aproveitavam todas as possibilidades oferecidas pela região que ocuparam: a 
Ática. No nordeste (Diácria) predominavam os planaltos, montanhas e a criação de gado. O litoral 
(Parália) era a região para se construírem bons portos, sendo o principal deles, o Pireu. Isto 
favoreceu em muito o comércio marítimo, no seu auge Atenas orgulhava-se de seu poder sobre o mar 
Egeu. A área de planícies (Pédion), onde se encontrava Atenas era a região própria para a 
agricultura. Os montes Láurion tinham minas de prata e as várias montanhas forneciam mármores de 
várias qualidades e excelente argila, base da produção artesanal ateniense. 
Até o séc. VIII a.C. os eupátridas (aristocracia) dominavam a política ateniense sempre a seu 
favor. As lutas sociais tomam força nesta época quando já era insustentável a pressão sobre os 
pequenos proprietários que se endividavam e eram reduzidos à escravidão ou à condição de 
assalariados (tetas). 
Os legisladores como Drácon e Sólon apenas ofereciam um paliativo para os problemas 
sociais. As verdadeiras mudanças (no sentido de ampliar a participação democrática destes grupos) 
vieram com os tiranos. Mas, agora, um grupo de comerciantes e artesões enriquecidos com o 
comércio externo e a colonização podiam dar sustentação aos tiranos que promoveriam as reformas 
básicas da democracia grega. 
Os tiranos prepararam o advento da democracia grega, promoveram a reforma agrária 
ampliando a base dos cidadãos, incentivaram a colonização para resolver os problemas dos que 
 2
ainda não tinham terras, exilaram os eupátridas, incentivaram o estabelecimento de artesãos 
estrangeiros em Atenas e a busca de escravos estrangeiros. 
Externamente o expansionismo ateniense e das cidades gregas chocou-se com o 
expansionismo persa, dando início às guerras médicas. 
Inicialmente a política expansionista persa beneficiava aos gregos da Ásia Menor, 
principalmente Mileto, mas quando Dario I passou a dar preferências aos fenícios em detrimento dos 
gregos, eclodiu a primeira revolta das cidades da Jônia. Foram derrotados e a repressão que se 
seguiu foi violenta. Apenas Atenas e Erétria auxiliaram Mileto, o que não foi suficiente. 
Dois anos mais tarde (492 a.C.) a primeira vitória animou os persas a empreenderem a 
conquista da Grécia Balcânica. Prepararam uma grande expedição naval que foi destruída por 
violentas tempestades. Em 490 a.C., aproveitando-se dos inúmeros conflitos entre as cidades gregas, 
os persas conquistaram a Erétria. Foram derrotados em Maratona pelos atenienses que acudiram sua 
aliada e somente Platéia aliou-se a Atenas neste momento. 
Dez anos mais tarde, em 480 a.C. Com o seu poder consolidado, Xerxes organizou um 
poderoso exército e armou uma poderosa esquadra para empreender a conquista da Grécia 
Balcânica. Naquela época as demais cidades gregas sentiram-se ameaçadas e formaram uma liga 
para enfrentar os persas. A liderança desta liga coube à Esparta, que possuía o exército mais 
poderoso da época, apesar disto, o comandante espartano, Leônidas foi derrotado no Desfiladeiro 
das Termópilas, mas o que salvou o mundo grego foi a ação marítima sob o comando do ateniense 
Temístocles, em Salamina. A derrota final veio em Platéia e na batalha naval de Micala. Neste ponto 
da guerra, Esparta retirou-se deixando Atenas sozinha para libertar as cidades da Jônia e cuidar da 
defesa do mar Egeu. 
Isto trouxe um enorme prestígio político a Atenas. Para afastar permanentemente a ameaça 
persa organizou-se a Confederação de Delos formada por Atenas e praticamente todas as cidades da 
Jônia e do litoral do mar Egeu. Esparta e suas aliadas formaram outra liga: Liga do Peloponeso. 
A liderança na Liga de Delos deu à Atenas uma posição política invejável no mundo grego: 
Como sede da Liga, foi escolhida a ilha de Delos, onde se localiza o oráculo 
tantas vezes consultado pelos atenienses antes das batalhas. Para o 
tesouro da Liga, cada cidade-membro contribuía com homens, navios e 
principalmente dinheiro. As contribuições eram administradas por Aristides, 
um dos principais idealizadores da Liga. Na realidade Atenas mantinha uma 
posição hegemônica sobre as cidades-membros, e aos poucos, sobretudo a 
partir do governo de Temístocles, a Liga de Delos foi-se transformando de 
uma aliança de Estados iguais e autônomos em uma confederação de 
cidades subordinadas ao poderoso Estado ateniense. Este impedia de 
forma violenta que as cidades aliadas abandonassem a Liga. O Tesouro, 
sediado em Delos, foi transferido para a Acrópole de Atenas em 454 a.C. e 
seus recursos usados na reconstrução e embelezamento da cidade. Atenas 
serviu-se da Liga de Delos para transformá-la em um grande império 
marítimo e comercial. Correspondeu à formação da Liga o início do 
predomínio econômico e político de Atenas no Mundo Grego. As diretrizes 
política e militares da Liga eram ditadas por Atenas, que manobrava o 
conselho que se reunia anualmente, e as causas jurídicas mais importantes 
eram julgadas nos tribunais e por magistrados atenienses. Atenas impunha 
às suas antigas aliadas – agora vassalas – o regime democrático em 
detrimento dos grupos aristocráticos dominantes, e o comércio dessas 
 3
cidades era feito somente com Atenas, usando-se como meio de troca a 
moeda ateniense – o dracma.B (AQUINO, et al. 1980, p.203). 
 
Apesar de vitoriosa e dominando um vasto império marítimo e comercial, Atenas não conseguiu 
reunir todas as cidades gregas, ou seja, não conseguiu realizar o pan-helenismo. A esta altura 
Esparta, à frente da Liga do Peloponeso, começou a interferir na política externa ateniense e somente 
em 445 a.C. as duas cidades celebraram a Trégua de Trinta Anos, pela qual se comprometiam a não 
interferir nos assuntos internos das respectivas ligas e mantinham as suas possessões antes da 
guerra. 
Feita a trégua dos Trinta Anos, Péricles assumiu o poder e levou a experiência democrática 
ateniense ao máximo. Governou durante trinta anos e este foi um período de grande prosperidade 
econômica e progresso cultural. Seu governo foi tão importante que o século V é conhecido como 
Século de Ouro ou Século de Péricles. 
Politicamente ele representava os interesses de grandes camadas do povo ateniense como 
comerciantes,artesãos, pequenos proprietários e grandes cultivadores de vinha e oliveira, cujos 
produtos destinavam-se ao mercado externo, daí a importância da manutenção da política 
imperialista. Quanto às camadas mais pobres, Péricles empreendeu reformas, que hoje podem ser 
chamadas de populistas, mas, que na época reforçaram a democracia escravista e impediram o 
colapso do regime político de Atenas. Suas principais reformas foram: 
ƒ criação da mistoforia – remuneração pelo desempenho de cargos públicos; 
ƒ soldados e marinheiros passaram a receber salários; 
ƒ todos os funcionários, com exceção dos estrátegas, eram escolhidos por sorteio; 
ƒ o Areópago perdeu grande parte de suas funções; 
ƒ a Eclésia (assembléia popular) adquiriu amplos poderes, cabia-lhe as funções executiva e 
legislativa e a fiscalização dos magistrados; 
ƒ empreendeu uma política de grandes construções públicas para reduzir as pressões 
sociais; 
ƒ os cidadãos recebiam o teóricon, para poderem assistir aos espetáculos teatrais; 
ƒ deu ampla liberdade de expressão para que as ciências e artes pudessem desenvolver-se. 
Toda esta prosperidade baseava-se em dois pilares: o trabalho escravo internamente e a 
manutenção da política imperialista. 
Apesar da Trégua dos Trinta Anos, vários conflitos e tensões acumularam-se entre Esparta e 
Atenas. 
(...) A primeira fase da guerra iniciou-se em 431 aC. Quando Corinto 
solicitou o auxilio de Esparta contra Atenas. Esta apoiaria Córcira na disputa 
que mantinha com Corinto pela posse da colônia de Epidamos. Mégara e 
outras cidades revoltaram-se contra Atenas a quem Esparta declarou 
guerra. As rivalidades entre Atenas e Corinto diziam respeito ao domínio 
das rotas comerciais do Mediterrâneo Ocidental, particularmente a Sicília, 
região fornecedora de trigo. É importante assinalar que as camadas 
mercantis e artesanais de Atenas, interessadas em abalar a posição 
comercial de Corinto e Mégara nas regiões ocidentais, impeliram o Estado à 
guerra contra as cidades aliadas de Esparta. (MOSSÉ, 1985, p.75). 
 
Os conflitos acumularam-se durante dez anos.Quando a guerra começou todos esperavam 
que fosse rápida. A estratégia inicial de Péricles era reunir toda a população na cidade e deixar que 
 4
os exércitos espartanos devastassem a Ática, mas dificilmente conseguiriam dominar a cidade. Esta 
estratégia revelou-se equivocada. Neste período uma peste assolou Atenas, vitimando inclusive 
Péricles, seu líder mais carismático faltou no pior momento. Nunca saberemos se a guerra teria outro 
desfecho se ele não tivesse morrido. 
 Em 421 a.C., oito anos após a sua morte, foi celebrada a Paz de Nícias, de curta duração. 
Neste momento, em que a cidade está sitiada e há um vácuo no poder, Aristófanes escreveu e 
encenou “As Nuvens”. 
 
O AUTOR 
 
Para iniciar a análise da obra de Aristófanes precisamos saber quem foi o autor. Aristófanes 
não era propriamente um membro da aristocracia ateniense, mas seus pais foram colonos em Egina, 
onde tinham uma pequena propriedade. 
Muito precoce o autor inscreveu-se várias vezes nos concursos de comédias e perdeu algumas 
vezes para outros poetas a quem nunca perdoou e sempre satirizou em suas comédias. Em 427 a.C. 
com “Os Babilônicos” atacou a política de Cléon, que o levou aos tribunais, acusando-o de ter 
usurpado os direitos de cidadão. O poeta conseguiu livrar-se, mas, este pode ser o motivo de sua 
insistência em criticar a mania dos atenienses de resolver tudo nos tribunais. Voltou aos seus ataques 
contra os partidários da guerra em “Os Arcanânios” em 425 a.C.. Com esta peça obteve o primeiro 
lugar, diante de Cratino e Épolis seus maiores adversários nas disputas teatrais. Em 424 aC, 
escreveu “Os Cavaleiros”, um violento ataque à política de Cléon e obteve o primeiro prêmio. Em 423 
aC. obteve o terceiro lugar com “As Nuvens”, crítica violenta ao desvirtuamento dos mecanismos 
democráticos. A partir daí vieram “As Vespas” e “A Paz (421aC.), “As Aves” (421 aC.), “Lisístrada” e 
“As Tesmoforias” (entre 421 – 414 aC.), traziam novamente o tema da paz e uma revanche pessoal 
contra seu mais novo inimigo: Eurípides. Este continuou sendo satirizado em “Pluto” (408 aC.) e “As 
Rãs”. Após a guerra do Peloponeso ele abandona a sátira política e passa à sátira social, é desta 
fase a “Assembléia de Mulheres”. Ignora-se a data de sua morte. 
 
A OBRA: AS NUVENS 
 
Não foi por acaso que Aristófanes conseguiu reconhecimento por esta peça. Em 423 aC. em 
plena vigência da paz de Níceas, com a lembrança da morte recente de Pérícles e com o vácuo que 
se instalava no poder, crise econômica e vários outros problemas, como a fuga de escravos do monte 
Láurion e mesmo alguns domésticos, era natural que a sociedade repensasse os valores sobre os 
quais estava calcada. 
O autor coloca em cena as quatros classes ou grupos sociais que conviviam em Atenas no 
século V representados pelos personagens principais. Estrepsíades representa o médio proprietário 
rural que enriqueceu com o comércio marítimo do período imperial ateniense, mas manteve-se à 
margem das questões políticas, da vida na pólis, e das próprias engrenagens do comércio marítimo. 
Seu ideal de vida é cultivar, celebrar os cultos e as festas costumeiras. 
 5
No entanto, Estrepsíades casou-se com uma “rica moça da cidade”, que tem hábitos 
completamente diferentes, luxuosos, que deram início à dilapidação da sua fortuna. Neste 
comportamento da personagem vemos uma crítica ao hábito dos novos grupos enriquecidos com o 
comércio em contraírem matrimônio com os grupos falidos da aristocracia e conseguiram projeção 
social. 
Seu filho Fidípedides, representa a classe dos cavaleiros. Alguns enriquecidos com o comércio 
e artesanato, outros através do casamento, que se dedicam aos jogos, à diversão, às festas, ao 
esbanjamento, bajulavam os sofistas, enfim faziam tudo, menos prestar atenção à situação do povo e 
da cidade que estava em guerra. 
Sócrates e seus discípulos representam a si mesmos. Os sofistas, aqueles que, por dinheiro 
ensinavam a arte da oratória para que o povo pudesse sair-se bem nas disputas da Assembléia, nos 
tribunais ou nas disputas políticas. Acusava-se os sofistas de desvirtuar a antiga educação ateniense, 
de querer subverter a religião e o culto aos deuses. 
Os cobradores de juros que tanto podiam ser membros da aristocracia, como cavaleiros 
enriquecidos com o comércio. 
Os escravos são longo da peça expectadores, como se o dilema de seu dono não dissesse 
respeito a eles. 
Temos portanto os personagens. A trama é simples. Estrepsíades está falido. Seus credores 
vão citá-lo judicialmente na lua nova (quando se pagavam as dívidas em Atenas), ele não tem 
dinheiro. Os luxos da esposa e os gastos do filho com os cavalos o arruinaram. Além disto, há a 
guerra. A cidade está sitiada, os campos devastados, os escravos ociosos, ou seja, sua principal 
fonte de renda, a produção agrícola, está impossibilitada para ele, como para todos os agricultores 
durante a guerra. 
Para safar-se do pagamento dos juros, ele recorre aos ensinamentos dos sofistas e esta é uma 
das passagens mais hilárias da peça, onde Aristófanes mostra toda a sua arte e domínio técnico da 
comédia. O suposto encontro de Sócrates com o velho camponês Estrepsíades é sem duvida uma 
das maiores cenas do teatro grego. 
O velho quer aprender a “falar bem”, ter domínio da palavra diante dos credores e dos tribunais 
para defender-se e não pagar as dívidas. A palavra, em Atenas, era extremamente importante. De 
seu uso correto nas assembléias dependia a sorte da cidade, a vida de uma pessoa. Daí a 
necessidade de saber falar bem. Os oradores do século V serão famosos. Não era incomum que os 
políticos recorressem a escritores pagos especialmente paraescreverem os seus discursos. Dizem 
até que Demóstenes começou desta forma a sua carreira política. A eloqüência era extremamente 
importante, seduzir pela palavra e não pela força, os seus aliados e adversários. Este era um 
elemento básico da democracia ateniense. Era preciso seduzir a assembléia, por que: 
Era a assembléia que decidia paz e a guerra, era ela que concluía as 
alianças, ela recebia os embaixadores estrangeiros, ratificava os tratados, 
designava aqueles que jurariam a paz junto ao inimigo, ou pelo contrário, 
lhe notificavam a guerra. Tucídides fez reviver na sua História da Guerra do 
Peloponeso alguns dos seus grandes debates históricos que se 
desenrolaram face ao povo e no decurso dos quais se devia decidir e jogar 
a sorte da pátria. (MOSSÉ, 1985, p.77). 
 
 6
O uso da palavra era muito importante por causa da ameaça da grafhé paranómon. A 
acusação de mau uso da palavra, de ter colocado em risco o Estado ou ainda de mentir diante dos 
tribunais. As penas variavam, mas, se a acusação fosse política, a pena era de ostracismo por dez 
anos. 
Daí a necessidade da boa educação. Do conhecimento da retórica, da responsabilidade para 
com a segurança do Estado. Perguntamo-nos: quais eram os limites da isegoria? Será que todos 
tinham capacidade e coragem de propor alguma coisa diante da assembléia? Os camponeses, como 
Estrepsíades teriam coragem de apresentarem-se na Ágora e falar para o público? Ou, como hoje, 
deixavam as questões políticas para os profissionais? 
É verdade que, uma vez instituída a democracia, o povo acorreu todas as vezes em que ela 
esteve em perigo, mas, fora isto Claude Mossé, afirma que houve “uma demissão política dos 
demos”. A partir daí, continua a autora, o povo só voltou às assembléias por causa da criação do 
misthòs ecclesiastikos. 
O demos desinteressou-se da política no século IV, quando os oligarcas renunciaram a agir de 
outra forma que não fosse através dos escritos reservados a uma minoria de “intelectuais” (Mossé). 
Para a autora o desinteresse é explicado pela crise econômica que assolou a Grécia após a 
guerra do Peloponeso, principalmente Atenas. 
Eis aí a situação do nosso camponês. Não tem grande interesse e nem entende a política da 
cidade, embora sofresse as suas conseqüências. Não consegue saldar as suas dívidas porque o seu 
mundo (o da produção) foi desorganizado pela guerra. Não consegue enfrentar os credores porque 
não tem o Dom ao exercício da democracia e dos tramites legais. 
Fidípedes, representando a classe enriquecida dos cavaleiros está como quer. Esta classe foi 
acusada de incentivar a guerra por que o imperialismo ateniense os beneficiava, por isto a defesa do 
império, frente à Esparta, era muito necessário. Mas enquanto o povo sofria as conseqüências da 
guerra os cavaleiros lucravam com ela. Cabe a ele aprender no lugar do pai as artimanhas da oratória 
(o argumento injusto), para poder vencer os credores. Analisando este fato em relação à democracia 
devemos lembrar-nos que se somente os intelectuais tinham pleno conhecimento das artimanhas do 
poder. Assessoravam os políticos, escreviam seus discursos.. 
Mas que democracia indiretamente Aristófanes nos passa? Acaso os atenienses não criaram a 
democracia? O mundo da razão? Separaram o logos do mito? Criaram e garantiam direitos iguais 
para todos os cidadãos? Segundo Luiz Alberto Grijó: 
As bases da sustentação política da aristocracia estavam mergulhadas tanto 
nas condições econômicas de seus membros, quando em uma paideía 
(educação em seu sentido de formação do homem, tendo em vista um ideal 
de homem) que os qualificava per si para direção dos negócios públicos. 
Possuíam terras suficientes que lhes permitiam bons rendimentos. Em geral 
viviam do trabalho dos escravos e administradores de negócio, obtendo 
tempo livre para dedicarem-se ao aprendizado e ao exercício políticos. A 
paideía que referimos tem vinculação econômica que desfrutavam os 
aristocratas. No Período Arcaico sua liderança política era exclusiva e 
calcada no uso da força. As stáseis – lutas sociais, comoção social – deste 
período, determinaram a evolução legal e institucional, passando pelo 
legislador Sólon, pelo tirano Pisístrato e pelas reformas de Clístenes. 
Em todos estes acontecimentos identificamos a presença importante de 
grupos políticos comandados por membros da aristocracia. Antes de 
 7
Pisístrato que se torna se tirano, dois grupos chefiados por aristocratas, 
Paralianos – gente do litoral – e Pedionomós – gente da planície – lutavam 
entre si. Pisístrato, um grupos dos Diacrinos – gente das montanhas. O 
dado novo que se inseriu nas lutas aristocráticas pelo poder, nesta ocasião, 
foi o fato de que “Pisístrato os aliciou (o demos, o povo em geral) para a sua 
causa e ocupou com eles a acrópole.”, ou seja, Pisístrato logra apoio no 
demos, de forma que este é cooptado a participar das lutas pelo poder 
como, pela primeira vez, uma massa atuante. Pisístrato torna-se tirano. 
Em fins do século V aC. A Tirania é derrubada por dois grupos comandados 
por aristocratas, um deles pelo Alcmeônida Clístenes, que “voltou-se para a 
companhia do povo (...) Trazendo o povo para si, Clístenes levava uma 
grande vantagem sobre as facções rivais”. O grupo de Clístenes 
representava uma opção política ao demos e possibilitava a aristocracia sua 
manutenção no poder. A partir de então a democracia inicia seu processo 
de formação e desenvolvimento. (GRIJÓ, 1988, p. 78-80). 
 
Vejamos, portanto qual é a mensagem subliminar de Aristófanes. Embora aparentemente o 
regime democrático seja favorável ao demos, este não tem condições dele participar efetivamente, 
por que não possui a ferramenta básica para tal: a educação. Por isto Estrepsíades procura a 
educação dos sofistas, mais moderna, mais rápida e eficiente para livrá-lo das dívidas, mesmo 
recorrendo a métodos escusos. 
Os credores, que tanto podiam pertencer à classe dos cavaleiros ou à aristocracia, perdem seu 
dinheiro diante dos argumentos sofistas. Eis aqui, onde o gênio de Aristófanes se revela por inteiro, a 
palavra tanto pode ser usada para o bem como para o mal. Desta forma ele desnuda a democracia. 
Mostra que os políticos e oradores, a serviço de seus próprios interesses podiam corromper a 
assembléia com falsos argumentos e levar a cidade e o povo à bancarrota. 
Por que Sócrates é colocado na peça? Para representar os sofistas. Aqueles que esqueciam 
as origens das cidades pregavam que o homem é a medida de todas as coisas (Protágoras), que 
cada um pode conhecer a verdade e partir das próprias idéias (maiêutica – método de Sócrates). 
Desta forma esquecia-se que o advento da pólis havia dado publicamente ao que antes era oculto, 
secreto, mágico, conhecido apenas dos iniciados. 
Mas Aristófanes faz mais do que isto, ele põe em julgamento todo o método da fase inicial de 
Sócrates, quando ele ainda simpatizava com os sofistas e deixa claro que na falta de necessidade da 
conexão entre a análise da realidade com o princípio do bem, o método fica questionado em sua 
base. Ou seja, torna-se nulo por não ter conexão com a ética, a moral e o bem comum. 
Além disto, Sócrates é apresentado em cima de uma canastra, imagem depreciativa, como se 
o ato de filosofar nada tivesse com a realidade prática, como se fosse um ato que não leve a nada. 
Sócrates não consegue fazer entender por Estrepsíades por causa do equívoco das palavras. 
Onde mais uma vez fica evidente que a cultura e educação eram requisitos necessários para o 
preparo do exercício da democracia. Não é a toa que Fidípedes que, representante dos cavaleiros, 
que aprenderá o uso da palavra para exercê-lo na democracia. Ou seja, o uso público das palavras. 
A Ágora era o espaço desta publicidade. Não havia mais rei, mas magistradoseleitos. Não 
existiam mais talismãs e ritos sagrados celebrados por alguns sacerdotes e iniciados, mas culto 
público. Nenhum processo secreto, mas audiências públicas nos tribunais. Mas, segundo Vernant: 
Lucidez dos chefes políticos e a sabedoria dos cidadãos, as decisões da 
assembléia têm por objetivo um futuro que permanece fundamentalmente 
 8
opaco e que não pode ser alcançado completamente pela inteligência. É 
então essencial assegurar-se o seu controle, na medida do possível, por 
outras diligências que empregam não mais meios humanos, mais a eficácia 
do rito. O “racionalismo” político que preside às instituições da cidade se 
opões certamente aos antigos processos religiões do governo, mas sem 
excluí-los de forma radical. (VERNANT, 2000, p 39). 
 
Está correto Vernant neste raciocínio. Basta lembrara importância do oráculo de Apolo na vida 
dos gregos, além dos sábios advinhos e mistérios. Portanto a palavra e seu uso continuavam 
sagrados e banalizá-lo como pretendem os sofistas e políticos desonestos estava errado. 
Por isto Estrepsíades é castigado no desfecho final da trama. A arma da palavra injusta com a 
qual ele tinha se livrado dos credores volta-se contra ele quando seu filho não mais o obedece e não 
o respeita. 
Quando ouviu o debate entre o argumento justo e injusto. Estrepsíades ouviu um debate entre 
moral e a imoralidade, que o autor julgava que imperava no regime democrático, e para o autor uma 
luta entre a legalidade e a ilegalidade. O nosso velho camponês contraiu dívidas dentro da legalidade, 
agora procura argumentos ilegais para não pagá-las e até fazer a todos crerem que elas não existem. 
Apesar de tratar-se de uma comédia envolvendo um caso particular, é necessário ver as 
implicações da questão do uso da palavra, do argumento justo e do injusto com a crise da 
democracia grega no período em que Aristófanes escreveu a peça. Se for verdade que a democracia 
baseava-se na eterna vigilância, como intuiu Clístenes ao reorganizar os demos reunindo em todos, 
os elementos da montanha, planície e cidade, é necessário vigiar a palavra que cada um profere, pois 
dela dependem as ações dos cidadãos e o destino da coletividade. Esta lição vale para a democracia 
em qualquer tempo e lugar. 
A maior ilustração desta conclusão é o final da peça quando o velho Estrepsíades coloca fogo 
no Pensatório, começando pelo telhado, ou seja, pelo alto, pelo ato de pensar, na filosofia 
desvinculada da realidade material, como era o caso do sofista. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
1- AQUINO, Rubim S. L. et al. História das Sociedades: das sociedades primitivas às sociedades 
medievais. São Paulo, AO LIVRO TÉCNICO, 1992. 
 
2- ARISTÓFANES. As Nuvens. São Paulo, Editora Abril Cultural, 1973. 
 
3- GRIJÓ, Luis Alberto Aristocracia e Democracia no Século de Péricles. In: Revista do Departamento 
de História, nº. 7, setembro, 1988. 
 
4- MOSSÉ, Claude, As Instituições Gregas. Lisboa, Ed. 70. 
 
5- VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do pensamento grego. São Paulo, Ed. Difel, 2ª edição.

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