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AULA 6 DIFICULDADES E TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Prof. Alisson Rogério Caetano de Siqueira 2 CONVERSA INICIAL Nossas aulas estão diretamente relacionadas à aprendizagem. Nosso foco principal é apresentar os processos que podem ser agentes de interferência na aprendizagem. Podemos dizer que isso já foi realizado com sucesso. Todavia, precisamos nos lembrar de que estamos falando do ser humano; isso significa que há particularidades, individualidades, e também questões muito pessoais a serem levadas em consideração quando pensamos em aprendizagem. Por isso, o fato de conhecermos as dificuldades desse processo não facilita qualquer implementação de proposta, e isso ocorre pelo simples fato de estarmos lidando com pessoas. Dessa forma nos propomos, nesta aula, a observarmos a relação com a pessoa que está tendo dificuldade de aprendizagem. Pontuar esses aspectos, menos técnicos e mais humanos, nos aproxima da lida com o outro. Nosso objetivo é apresentar orientações à escola e à família e, portanto, abordaremos os seguintes assuntos: Tema 1 – Esclarecendo; Tema 2 – De quem é a culpa; Tema 3 – A família participativa; Tema 4 – A escola integrativa; Tema 5 – A ciência em prol da pessoa. O conteúdo a ser abordado nos levará em direção aos esclarecimentos necessários propostos pela disciplina. CONTEXTUALIZANDO A vida nos ensina muito com o passar dos anos, e a esse ensinamento chamamos experiência; nos tornamos experientes à medida que vivemos, pois não existe experiência sem vivência. Os ditados populares também nos ensinam muito. Um deles diz: “de grão em grão, a galinha enche o papo”. Significa, entre outras coisas, que nossa vida estará, um dia, cheia, farta, satisfeita de experiências. É um ditado sábio, e que não é tão simples. O fato de adquirirmos muito não declara que devemos acreditar estar satisfeitos; esse é o pensamento da ciência: a ciência acredita que sempre está faltando algo, e que sempre é preciso melhorar. 3 Pode parecer contraditório, mas o elemento que faz isso ser mutante chama-se ser humano. Por mais que acreditemos saber tudo sobre ele, sempre acabamos por descobrir que ainda há muito para saber. Se traçarmos um paralelo entre essa noção e as dificuldades de aprendizagem, veremos que, apesar de a ciência procurar, de todas as maneiras, reduzir as dificuldades do processo de aprendizagem, sempre falta algo, o que não deixa de ser interessante. E é interessante porque, justamente, muitas vezes, nos esquecemos de levar em conta o fator humano. Onde há um ser humano, sempre haverá uma novidade! E, por mais conhecimento que tenhamos, sempre haverá algo novo a aprender. Então, antes de você desistir, lembre-se: são os desafios da novidade que nos deixam ativos. Então, voltando à nossa disciplina: convido você a dar mais atenção ao sujeito do que às dificuldades de aprendizagem. Quando nos aproximamos do sujeito, temos mais chances de aprender a lidar com ele, e é isso o que faz crescer as possibilidades de ajudá-lo. TEMA 1 – ESCLARECENDO Começamos este tema apontando a importância de termos bem definidos alguns conceitos que caminham junto ao processo de compreensão das dificuldades de aprendizagem. Isso significa que, quanto mais esclarecidos estivermos, maior a probabilidade de trabalharmos seguindo na direção certa. Quando definimos aprendizagem, gostamos de relacioná-la a resultados. Logo, aprender é poder reproduzir algo. Veja, esse conceito é dinâmico, e a aprendizagem não pode ser entendida como mera reprodução, mas como um processo de fazer voltar à tona o conteúdo que, em algum momento, foi arquivado. Esse processo dura a vida a toda, mas possui picos de intensidade que marcam o desenvolvimento do sujeito. Existem várias maneiras de aprender, assim como há várias escolas que estudam os diferentes processos que envolvem a aprendizagem. Não há escola certa, o que há são abordagens que nos apresentam condições mais ou menos favoráveis de aprendizagem. O profissional deve ser capaz de compreender um pouco de cada teoria, verificando suas próprias contribuições e adotando um posicionamento construtivo. Dessa forma, as escolas e suas teorias servirão de suportes operacionais do processo de aprendizagem. 4 Quando compreendemos que a aprendizagem é um processo, descobrimos que ele é passível de falhas. Não estamos, nesse caso, falando de falhas relativas ao resultado, mas ao processo – quando algo passa a ser um impeditivo para que a aprendizagem ocorra. Quando o processo de aprendizagem não segue um determinado fluxo, há algo de errado que precisa ser entendido; dessa forma é possível intervir e fazer com que o fluxo do processo volte a ser contínuo. Talvez, hoje, a grande questão seja o fato de sabermos identificar o que possa estar ocorrendo, mas, ao descobrirmos o problema, não conseguirmos nomeá-lo de forma correta. Os termos usados parecem sinônimos, mas podem ser compreendidos em sentidos diferentes, e isso pode causar uma grande confusão. Por isso, precisamos gastar tempo para conhecer os termos designativos que usamos para que saibamos do que estamos falando. Costumamos delimitar conceitualmente os termos dificuldade, problemas, distúrbios e transtornos ligando-os à aprendizagem. A literatura está cheia de confusões envolvendo o uso desses termos. Quando o usamos o termo dificuldade, estamos sendo generalistas. Ao usarmos problemas, estamos descrevendo uma dificuldade específica e com um grau não simples de resolver. Quando usamos os termos distúrbios e transtornos, utilizamos termos médicos ou de pesquisas. Como isso, temos um designativo muito específico de algo fora do normal. Acreditamos estar agora diante de um quadro mais claro. Ao definir dificuldade de aprendizagem, podemos delimitar qualquer coisa que possa ser um impeditivo para que o sujeito venha a aprender. Essa dificuldade pode se manifestar de qualquer forma, em qualquer lugar. É por isso que um estudo minucioso, detalhista, com um olhar mais criterioso, ajuda a fazer o levantamento de quais realmente são os impeditivos no processo de aprender. Mas não podemos perder a compreensão da grandeza e da magnitude que é o ser humano. Somos entendidos no universo como seres superiores pelo fato de termos um cérebro cognitivo. Isso significa que somos capazes de pensar e resolver problemas. O cérebro, em seus processos, é plástico. Suas células são capazes de se comunicar e se expandir; isso é o que chamamos de plasticidade cerebral, e significa que o cérebro está sempre em movimento – no sentido de estar sempre 5 em busca de novos caminhos que aprimorem ou resolvam suas dificuldades e problemas. Já sabemos que a plasticidade cerebral participa da aprendizagem. Ou melhor, que ela é agente primordial para que a aprendizagem ocorra. Essa plasticidade faz com que ele ganhe novas ações de começam ou montam novos esquemas de tráfego. Sabemos também que lesões cerebrais podem atrapalhar o desenvolvimento da aprendizagem. Mas pode haver dificuldades não oriundas de lesões e que produzem danos ao sujeito, que podemos chamar de transtornos da aprendizagem, ou transtornos do neurodesenvolvimento. Os transtornos de neurodesenvolvimento são os principais agentes de prejuízos ao sujeito no processo do aprender. Ao relacionarmos aprendizagem e plasticidade, abrimos possibilidades de contornar esses prejuízos. Os distúrbios específicos da aprendizagem são pontuais e afetam principalmente o desenvolvimento acadêmico, mas podem repercutir em todas as áreas da vida do sujeito. Após esse grandeapanhado do assunto de que tratamos nesta disciplina, acreditamos que esteja claro para você do que estamos falando e o que devemos saber. TEMA 2 – DE QUEM É A CULPA Há momentos muito difíceis na vida, muito marcantes na história de um sujeito. Um desses momentos é aquele em que ele descobre que há algo nele mesmo fora do lugar, anormal, algo que diz que as coisas não são como deveriam ser. Essa descoberta sobre ele mesmo pode ser muito difícil para o indivíduo, mas é ainda pior quando se trata de um filho. Sentimos desse modo pelo fato de que, na compreensão humana, quando temos um problema, achamos que é mais fácil resolvê-lo do que quando o problema é com o outro, pois somos tomados por um sentimento de compaixão e empatia. Quando falamos de aprendizado, temos que levar em conta tudo aquilo por que passamos; estamos inclinados a concordar com a lei da física sobre causa e efeito, pois tendemos a crer que tudo precisa ter uma causa, uma origem. Em termos mais leigos, diríamos que precisamos sempre achar um culpado. 6 Às vezes é fácil procurar um culpado, assim como achá-lo. Isso é simples de fazer. Basta que procuremos por pistas que nos levem aonde queremos chegar. Afinal de contas, a busca é pelo causador de determinada angústia. Pois bem. Para começar a desvendar um pouco essa visão, podemos dizer que há uma diferença entre saber a causa e procurar um culpado. Saber a causa é um ato investigativo de esclarecimento. O termo que usamos para esse esclarecimento dentro da área médica é diagnóstico. Isso significa que há uma busca por compreender quais são os fatores que envolvem determinado sofrer, para que se possa tomar uma medida possível para remediar sintomas ou curar o mal. Por exemplo: uma criança entra no quarto para estudar, mas sai várias vezes dali e segue em direção à sala. A pergunta que somos levados a fazer imediatamente é: por que ela está indo para a sala? Quando descobrimos a razão – nesse caso, um jogo de futebol sendo transmitido pela televisão –, ficamos mais interessados em acabar com o jogo de futebol do que ajudar a criança a estudar. Esse é um exemplo muito simples para que você compreenda que sentir culpa ou achar culpados não nos ajuda a resolver o problema, que, de fato, é o ponto principal. Quando atentamos para a causa, podemos usá-la em nosso favor, como usar de estratégias comportamentais para aumentar a frequência de estudo. Conhecer a causa de algo deve ser considerado um instrumento favorável na tarefa de superar as dificuldades de aprendizagem. Outro exemplo que podemos dar está relacionado à punição. Quando descobrimos a causa, acabamos punindo alguém. Volte ao exemplo anterior: imagine que a televisão seja desligada. Mesmo assim, a criança poderá encontrar outra forma de saber o que está acontecendo no jogo, e isso continuará sendo uma dificuldade durante seu processo de aprender. Desligar tudo é usar de punição, o que não resolverá a questão. Temos observado em pesquisas sobre doenças do neurodesenvolvimento com causas genéticas que, quando há um diagnóstico genético, há uma possibilidade muito grande de divórcio. O divórcio simboliza punição, e não ajuda em nada no processo de cuidado. Buscamos, aqui, olhar para o sujeito e ao fato de sermos humanos. Podemos ser empáticos e procurar sempre um objeto comum que justifique a existência da dificuldade de aprendizado. Isso não é ser negligente e, sim, ser 7 cuidadoso com a pessoas, buscando todas as informações necessárias que possam ser usadas como norteadoras de um trabalho em prol do sujeito. TEMA 3 – A FAMÍLIA PARTICIPATIVA Quando falamos em dificuldades de aprendizagem, necessitamos estabelecer alguns vínculos de identificação. O mais importante deles é a família. De uma forma clara, entendemos a família como o menor grupo que envolve uma pessoa de forma mais íntima e particular. Para esta aula, esse conceito será delimitado, para não tenhamos que abordar os elementos sociopolíticos da família. Segundo Maia et al. (2016), a família representa a primeira instituição por meio da qual a criança tem acesso ao meio social, constituindo um importante elemento para socialização. Esse conceito fundamenta a importância de nos sentirmos aceitos e acolhidos em um grupo pequeno. É uma questão básica de sobrevivência afetiva e emocional. Sun e Fernandes (2014) descrevem que, em geral, o primeiro vínculo afetivo no desenvolvimento da criança é estabelecido pelos pais. Dessa forma, muitas áreas desse desenvolvimento serão consequência desse contato. O desenvolvimento da criança não é intencional, mas o contato familiar produz uma intencionalidade no desenvolvimento da aprendizagem. Soares (2008) esclarece que a criança depende dos familiares, que são membros sociais mais competentes e os provedores de cuidados básicos necessários à satisfação de suas necessidades. Isso estabelece uma condição de enorme influência no desenvolvimento e no crescimento da criança. Toda família sofre com o choque da informação de que um dos seus tem um transtorno; muitas apresentam dificuldades em lidar com esse tipo de situação. O fato é que elas são confrontadas com situações que são entendidas como anormais. Esse grupo familiar precisa encontrar equilíbrio em sua dinâmica para poder lidar com suas próprias posturas e atitudes, que necessitam ser adequadas, para que possam contribuir para o desenvolvimento da criança. Quando falamos de transtornos do neurodesenvolvimento, estamos nos referindo a transtornos cujos prejuízos serão descobertos após o nascimento. Isso nos leva a mostrar que, desde a gravidez, a família apresenta uma ansiedade benéfica em torno da recepção do novo membro. Isso significa que há muitas expectativas que envolvem a criança e sonhos para o seu futuro. 8 Com o passar do tempo, essa criança não interage tão bem como os pais desejavam – trata-se dos primeiros sinais de que há algo errado, e que poderá levai ao diagnóstico de que aquela criança apresenta algum transtorno. Segundo Penna (2006), o nascimento de um filho com algum tipo de transtorno altera os sonhos e as expectativas dos pais e da família. A família, de forma direta, é o primeiro conjunto de fato a ser afetado pela condição de transtorno na criança. Isso gera várias situações que precisam ser superadas. A primeira delas está voltada para a expectativa criada em torno da criança; a segunda está nos questionamentos levantados em torno das limitações e das imperfeições que a criança tenha ou possa vir a ter. Pois bem, a primeira coisa que precisa ser bem trabalhada com a família é o luto da expectativa. Isso significa que é necessário poder sentir-se frustrado por um período, por não ter aquilo que era desejado, por não se sentir realizado segundo o interesse preestabelecido. Não se trata de um luto em relação à criança, mas em relação às expectativas quanto a ela. A segunda é procurar um diagnóstico competente e esclarecedor. Isso fará com que a família se reorganize em condições possíveis com o objetivo de trabalhar em prol do desenvolvimento da criança. Isso significa, de fato, que uma reorganização de vida deve ocorrer. Esse é o passo fundamental no processo de aceitação do membro portador de um transtorno do neurodesenvolvimento. É um momento de muitos conflitos e oscilação entre aceitação, rejeição, esperança e angústia. Segundo Sanchez e Baptista (2009), o diagnóstico é conflitante e angustiante para a família, além de ser o divisor entre ideal e real. A família, para encontrar estabilidade, precisa de segurança e o que provê essa segurança é o diagnóstico. Soares (2008)descreve o sofrimento da família com o diagnóstico. Todavia, é importante ressaltar que é o diagnostico que fará a família estabelecer uma meta de acordo com a nova realidade. Trata-se de um processo de adequação importante, pois solidifica o papel que a família tem na vida da criança. A partir daí, é preciso que a família esteja envolvida com a situação, pois é um agente importantíssimo no desenvolvimento da criança. A família não é apenas o suporte; é um agente de desenvolvimento aplicado à criança. Podemos perceber isso quando vemos uma criança com síndrome de Down, por exemplo. A família se adapta e se adéqua ao desenvolvimento da criança. Pode parecer um prejuízo para a família, mas não é. À medida que a 9 família se achega à criança, as evoluções e conquistas desta são também daquela. Uma família participativa é uma família integrada com a criança. Não podemos confundir essas ações da família com o fazer tudo pela criança, não lhe dando a independência de que precisa. A criança tem limitações, mas pode ser independente naquilo que não a limita. TEMA 4 – A ESCOLA INTEGRATIVA A escola está dentro do que podemos chamar de contexto social. Fonseca e Moura (2008) desenham o apoio social com base em uma relação interpessoal, na qual os indivíduos demonstram disponibilidade, preocupação e interesse pelo outro, valorizando-o e assistindo-o com os recursos próprios disponíveis. Temos uma ideia de escola apenas como gerenciadora de conteúdos cognitivos, mas ela, além disso, faz parte de uma rede integrada de apoio. Segundo Guadalupe (2001), a rede social tem sua estrutura formada pelo sujeito e por todo grupo que interage com ele. Na relação escolar, temos na figura do professor aquele que pode prestar apoio efetivo e possibilitar a aquisição de competências que permitam à criança lidar com os seus problemas cotidianos. Há autores que tentam enfatizar que uma escola precisa estar preparada para receber o seu aluno. Como estamos falando de dificuldades de aprendizagem e focando transtornos do neurodesenvolvimento, precisamos esclarecer que esse tema precisa ser conhecido de forma abrangente pelos professores e profissionais da educação. Quando dizemos que há uma criança com transtorno do neurodesenvolvimento em uma escola, queremos acreditar que há um profissional que já esteja acostumado a trabalhar com crianças com esse quadro. Nossa descrição é importante, pois a criança passará pelo menos um quarto do seu dia na escola. Os profissionais que ali trabalham precisam estar habilitados e treinados para trabalhar com crianças com essa demanda. Não é surpresa nos depararmos com escolas que, além de não estarem preparadas, desconhecem o tema. Isso produz um prejuízo enorme à criança, maior do que aquele com que ela naturalmente tem que lidar. Uma criança com transtorno do neurodesenvolvimento não pode ser tratada como alguém que apresenta condições típicas de comportamento. Nesse momento, nos deparamos com o conceito de escola inclusiva. Muito cuidado com esse título. Escolas inclusivas não devem ser entendidas como 10 escolas que aceitam pessoas com dificuldades de aprendizagem e outros transtornos, mas como instituições que estão preparadas para recebê-las. O papel da escola é integrar a criança. Ela deve participar do processo de desenvolvimento não apenas em termos de cognição, mas também na vida social, afetiva e emocional, ajudando-a a se tornar independente. Sempre que falamos de escola e criança, é a ideia de amplitude que precisa vir à nossa mente. Temos que olhar a dinâmica desenvolvida pela escola como um fator que levará ao desenvolvimento dela, considerando suas limitações e dificuldades, e observando sempre seu potencial e apontando na direção daquilo que ela á capaz. TEMA 5 – A CIÊNCIA EM PROL DA PESSOA A ciência tem um valor muito importante na discussão do rumo em que estamos e para onde queremos ir, como sociedade, pessoas e mundo. Ela não pode ser entendida como distante de nossas realidades. É comum ligarmos o termo ciência a algo impossível. Pois bem, ciência é algo possível. O esforço que fazemos de forma sistemática é ciência, assim como a sua aplicação nos diversos ambientes e sua observação de forma bem pontual. As pesquisas são realizadas para que tenhamos em nosso mundo cotidiano algo que possa ser de fato usado, e de forma comprovadamente eficaz em termos de resultado em prol do sujeito. Seria muito bom se tivéssemos a cura para os transtornos do neurodesenvolvimento, mas ainda não temos. Parece maldade, mas, por enquanto, a não cura é uma certeza. Mas é uma certeza que a ciência vem procurando desfazer. É verdade que não há cura, mas há tratamentos. Temos o que fazer para minimizar os prejuízos que acometem as crianças com transtornos do neurodesenvolvimento. Uma das áreas da ciência que evolui muito é o da neurociência. Outros campos que se desenvolvem são os de tratamentos multifuncionais, que partem da integração de várias áreas do conhecimento e constroem procedimentos que estão sendo implementados para verificação de sua eficácia e aplicabilidade. Quanto à neurociência, Seltzer, Conrad e Cassens (1997) deram importância à neurociência cognitiva no diagnóstico e no acompanhamento dos casos de transtornos do desenvolvimento neurológico. 11 A neurociência cognitiva é importante no tratamento de transtornos do neurodesenvolvimento, principalmente no âmbito escolar. Stela (1996) evidenciou as boas relações entre neuropsicologia e educação. Há uma grande demanda de estratégias de reeducação de pessoas com transtornos durante a fase desenvolvimento. Segundo Barros, Piovesan e Sales (2018), a contribuição da neurociência cognitiva ao âmbito educacional proporciona um melhor acompanhamento das crianças com transtornos, o que possibilita o estabelecimento de medidas de inserção social do sujeito e o desenvolvimento de suas potencialidades, uma vez que os resultados do diagnóstico são mais bem compreendidos e, portanto, facilitam uma intervenção aplicada apropriadamente, precisamente de acordo com as demandas do sujeito. Segundo Geake e Cooper (2003, p. 8), as ideias da neurociência cognitiva “podem ser úteis em qualquer suporte considerado por muito tempo melhor prática educativa, ou em decidir entre modelos cognitivos concorrentes e sua veracidade em contextos educativos”. Outras práticas visam facilitar e desenvolver o trabalho do professor em sala de aula a fim de se fazer a análise dos comportamentos e que procuram implementar em sala de aula, em ambiente doméstico estratégias que possam colaborar na adequação e desenvolvimento da criança. FINALIZANDO Nesta aula, abordamos conhecimentos que pudessem esclarecer determinados procedimentos aos pais. Quando falamos de transtorno do neurodesenvolvimento, transtornos de aprendizagem ou dificuldades de aprendizagem, não podemos nos esquecer, em momento algum, de que há pessoas envolvidas. Pontuar esse fato nos leva a tirar dúvidas e buscar orientações mais adequadas, pois nosso objetivo maior é proporcionar um melhor desenvolvimento para o sujeito portador de transtorno. As pessoas que convivem com indivíduos com transtorno precisam de apoio adequado. Já aprenderam muitas coisas com a experiencia que têm, todavia precisam de amparo e atenção, e fontes de informações mais técnicas. 12 LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica PATIAS, N. D.; SIQUEIRA, A. C.; DIAS, A. C. G. Práticas educativas e intervenção com pais: a educação como proteção ao desenvolvimento dos filhos. Mudanças – Psicologia da Saúde, v. 21, n. 1,p. 29-40, jan./jun. 2013. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas- ims/index.php/MUD/article/viewFile/3685/3642>. Acesso em: 24 jul. 2018. Esse texto apresenta uma descrição da estratégia parental na educação. A leitura esclarecerá dúvidas sobre a aula e o aproximará dos conceitos de orientação parental. Texto de abordagem prática SANTOS, D. R. Contribuições da neurociência à aprendizagem escolar na perspectiva da educação inclusiva. EDU.TEC, v. 2, n. 1, 2011. Disponível em: <http://files.cdirscomunidadespraticas.webnode.com/200000100- 6b2f46d264/artigo_deniserusso.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2018. O texto apresenta um estudo da revisão de literatura sobre as contribuições da neurociência à aprendizagem escolar na perspectiva da educação inclusiva. Saiba mais TRANSTORNOS de aprendizagem. Augusto Buchweitz, 12 fev. 2015. Disponível em: <https://youtu.be/HsQqUCxZO2I>. Acesso em: 24 jul. 2018. Nesse vídeo há uma discussão sobre transtorno de aprendizagem no programa de TV Bem estar. 13 REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: diagnostic and statistical manual of mental disorders. 5. ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013. BARROS, S. N. N.; PIOVESAN, A. F.; SALES, T. R. R. Relações entre transtornos do neurodesenvolvimento, neurociência cognitiva e educação. In: SEMANA DE PESQUISA (SEMPESq), 19, Aracaju, 2016. Anais... Aracaju: Sempesq, 2016. Disponível em <https://eventos.set.edu.br/index.php/sempesq/article/view/4000>. Acesso em: 24 jul. 2018. FONSECA, I. S.; MOURA, S. B. Apoio social, saúde e trabalho: uma breve revisão. Psicologia para América Latina, México, n. 15, dez. 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870- 350X2008000400012>. Acesso em: 24 jul. 2018. GEAKE, J.; COOPER, P. Cognitive neuroscience: implications for education? Westminster Studies in Education, v. 26, n. 1, 2003. p. 7-20. MAIA, A. L. M. F. et al. A importância da família no cuidado da criança autista. Revista Saúde em Foco, Teresina, v. 3, n. 1, p. 66-83, jan./jun. 2016. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582123355/>. Acesso em: 27 jul. 2018. OMS – Organização Mundial da Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: diretrizes diagnósticas e de tratamento para transtornos mentais em cuidados primários. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 105 p. SANCHEZ, F. I. A.; BAPTISTA, M. N. Avaliação familiar, sintomatologia depressiva e eventos estressantes em mães de crianças autistas e assintomáticas. Contextos Clínicos, São Leopoldo, v. 2, n. 1, jun. 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S19 83-34822009000100005>. Acesso em: 24 jul. 2018. 14 SELTZER, J.; CONRAD, C.; CASSENS, G. Neuropsychological profiles in schizophrenia: paranoid versus undifferentiated distinctions. Schizophrenia Research, v. 23, n. 2, p. 131-138, 1997. SOARES, M. O. C. O papel da família no tratamento da criança com autismo. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade Integral Diferencial, Teresina, 2008. STELA, F. Neuropsicologia e educação. Educação: teoria e prática, v. 4, n. 6, p. 35-41, jul./dez. 1996. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/107326/ISSN1981-8106- 1995-3-5-36-41.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 24 jul. 2018. SUN, I. Y. I.; FERNANDES, F. D. M. Dificuldades de comunicação percebidas pelos pais de crianças com distúrbio do desenvolvimento. Comunicação e Distúrbio de Desenvolvimentos (CoDAS), v. 26, n. 4, p. 270-5, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/codas/v26n4/pt_2317-1782-codas-26-04- 00270.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2018.
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