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AULA 2 DIFICULDADES DE TRANSTORNOS E APRENDIZAGEM Prof. Alisson Rogério Caetano de Siqueira 2 CONVERSA INICIAL As aulas desta disciplina estão diretamente relacionadas à aprendizagem. Nosso desafio é discorrer um pouco sobre o aprender. Sabemos que aprender é uma ação, um ato de esforço. Todavia, nem sempre é possível aprender. Nem sempre podemos dizer que é por falta de esforço. Há nesse intermeio elementos que podem ser impeditivos para o processo de aprendizagem. Dessa forma, é importante que reconheçamos ou saibamos identificar os elementos, os agentes ou as causas que são impeditivos para o processo do aprender. Esta aula tem como objetivo apresentar definições de dificuldades, distúrbios, problemas e transtornos de aprendizagem. Sendo assim, abordaremos o assunto com a seguinte distribuição: 1. Termos designativos; 2. Dificuldade de aprendizagem; 3. Problema de aprendizagem; 4. Distúrbios de aprendizagem; 5. Transtornos de aprendizagem. O conteúdo a ser abordado nos direcionará para os esclarecimentos necessários, propostos pela disciplina. CONTEXTUALIZANDO Falar de aprendizagem é sempre fazer associação ao processo de estudar. Pois bem, façamos uma comparação como o nosso ambiente de estudar. Imaginemos que nesse momento você está em uma sala reservada, sentado em cadeira com o seu o seu computador ligado. Passados dez minutos do início da aula, você começa a sentir sono e tédio. Para evitar que você desista de continuar estudando, você vai à cozinha tomar um café. De repente, você ouve um barulho na sala, e vai até lá verificar o que está acontecendo. Você nota que alguém na sala está assistindo a um filme, e que naquele exato momento a cena fica muito interessante. Passada a cena, você volta para cozinha para pegar mais café. Ao colocar mais café na xícara, você sente dores no pescoço e uma leve dor de cabeça. Você volta para a sala de estudo e percebe que ela é mais escura que a cozinha. Ao olhar para a sua mesa, você nota o quanto precisa inclinar o pescoço 3 para olhar para o computador. Já se passaram 60 minutos e só então você volta a estudar. Não sei o quanto isso é realístico para você, mas há impeditivos que não permitem que você avance no seu processo de estudar, como consequência, aprender. Não é simplesmente dizer que você não tem vontade. Talvez você precise se perguntar sobre o que aconteceu para que você ficasse 60 minutos longe do processo de estudar. O que houve? Você tem problemas de aprendizagem? Ou você tem dificuldade de aprendizagem? Ou transtorno ou distúrbios de aprendizagem? Não se apavore. Nesta aula, vamos desvendar esses termos que, decifrados, podem nos ajudar no processo de aprender. TEMA 1 – CONHECENDO OS TERMOS DESIGNATIVOS Primeiramente, precisamos apresentar um contexto não muito bem explicado na literatura, que diz respeito ao uso indiscriminado e aleatório dos termos distúrbios, transtornos, dificuldades e problemas de aprendizagem. Essa utilização, talvez, sem um critério pelo menos etimológico, tem produzido muitas dúvidas e confusão nos leitores leigos e discussões entre os especialistas. Vamos começar olhando o que diz o dicionário Michaelis da língua portuguesa (2018): Dificuldade – “(sf 4) Tudo o que impede, embaraça; obstáculo, estorvo, embaraço, impedimento”. Problema – “(sm 3) Dificuldade ou obstáculo que requer grande esforço para ser solucionado ou vencido”. Distúrbios – “(sm 2) Aquilo que apresenta ou provoca funcionamento ou situação anormal; defeito, desarranjo, desajuste. (sm 4) Med – Disfunção orgânica; doença.” Transtorno – “(sm 4) Desordem mental, comportamental ou emocional”. Estamos falando de aprendizagem. O uso de qualquer um desses termos pode designar o que desejamos falar. Todavia, quem ouve talvez não o interprete de forma que compreenda em sua amplitude o que está sendo falado. Usarmos jargões para designar algo pode ocasionar um efeito ruim, bem como produzir efeito discriminatório. O pior é que, quando usado dentro de um 4 quadro avaliativo, pode mascarar ou menosprezar o que realmente esteja a acontecer. Quando nos deparamos das abordagens teóricas, verificamos que elas se atribuem de determinados termos de acordo com suas inclinações teóricas. Os comportamentalistas preferem utilizar o termo distúrbio. Os construtivistas já adotam o termo dificuldade. Quem atua na área mais médica já se apropria do termo distúrbio. Atualmente, o Manual de Transtornos Mentais – DSM 5 utiliza o termo transtorno. A grande questão é se os profissionais estão falando da mesma coisa. Ou, se estão utilizando nomenclaturas para designar elementos diferentes. Não podemos acreditar que seja apenas uma questão de termos. Sendo assim, nos propomos a desvendar e tentar produzir uma compreensão mais compatível com a do termo. TEMA 2 – DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Vamos nos apropriar da compressão do dicionário sobre dificuldade: “Tudo o que impede, embaraça; obstáculo, estorvo, embaraço, impedimento” (Michaelis, 2018). Quando falamos de aprendizagem, nos norteamos pela ideia de que aprender é um esforço. Ou seja, o sujeito precisa fazer um movimento em direção ao conhecer. Quando o conhecimento é retido, temos a aprendizagem. Pois bem, nem sempre essa ação é fácil quando desprovida de um esforço que requeira uma energia maior para que venha a produzir um resultado. Ou seja, o sujeito possui uma condição de transpô-lo. O evento é difícil, mas não intransponível. O conceito de dificuldade vem do fato de algo ser difícil, não de que ele não possa ser feito. Um esforço a mais pode permitir que o obstáculo seja retirado. Na literatura em voga, é comum observar o termo “dificuldade” referindo-se a condições relacionadas a problemas de ordem psicopedagógica e/ou socioculturais. Dessa forma, o foco não está só no sujeito, chamado aluno, mas também naquilo que precisa ser transposto. Desvendando esse mistério, diríamos que o obstáculo não está sendo retirado por ausência de um esforço maior. Nesse caso, é a procura de algo que não está sendo usado para auxiliar na chegada do objetivo. 5 Vamos usar um modelo simples. Você está em sua sala de estudo e tem dificuldade de ler o texto à sua frente, pelo fato de a sala estar com pouca luminosidade. Você se levanta e acende a lâmpada. Sua dificuldade acabou. Tentemos simplificar o termo dificuldade. Dificuldade pode ser entendido como o ato diante qualquer coisa que seja impeditivo, e que, com o uso de um esforço maior, é possível retirá-lo da direção de progressão. De forma pedagógica, podemos dizer que todos podem ter dificuldade de aprendizagem. O grau dessa dificuldade depende de cada sujeito na sua relação com o que deve ser aprendido, considerado muito mais do que a relação entre o sujeito e o objeto a ser aprendido, incluindo o ambiente e as condições a ele disposta. TEMA 3 – PROBLEMA DE APRENDIZAGEM Novamente, vamos usar o termo do dicionário: “Dificuldade ou obstáculo que requer grande esforço para ser solucionado ou vencido” (Michaelis, 2018). Como o nosso foco é a aprendizagem, vou fazer uso de um termo do behaviorismo que é ausência ou falta de repertório. Isso significa que o sujeito não possui determinada condição necessária para executar determinada atividade. Aqui, surge o questionamento: qual a razão de ele não ter esse repertório? Semelhante às dificuldades de aprendizagem, os problemas podem estar no sujeito ou fora dele. Um problema de aprendizagem externo dá conta de que falta algo para suprir a condição necessária do sujeito de solucionar a questão emvoga. Exemplificamos isso quando um aluno vai fazer uma prova sobre um assunto que a ele não foi ensinado. Por mais que ele se esforce, não produzirá resultado. A culpa de não possuir o repertório não está nele, mas em quem deveria ter transmitido. Entretanto, quando falamos de problemas de aprendizagem interno, nos inclinamos a saber o que leva um aluno a não ter um repertório que a ele foi fornecido. Por exemplo, na condição de o aluno sair de casa em direção à escola após uma grande briga entre os pais, este senta em sala de aula e não consegue se concentrar. Falta-lhe atenção para obter o conteúdo ensinado, mesmo se é um excelente aluno. No dia da prova, sua nota é baixa por causa do assunto que ele não abstraiu. Antes de “patologizar” todos os problemas de aprendizagem, precisamos primeiramente entender as razões que cercam o aluno, sujeito, e lhe permitam 6 avançar. Isso é algo importante de se salientar, pois muitos problemas de aprendizagem são pontuais, caracterizados por eventos circunstanciados. Infelizmente, já foi observado que a falta de alimentação é um empecilho para a obtenção da atenção do aluno em sala de aula. Todavia, entender os problemas de aprendizagem é verificar quais itens que participam da aprendizagem e que não estão em execução no sujeito, tais como atenção, memória, linguagem, motricidade, entre outros. Com base na observação dos integrantes da aprendizagem, poderemos verificar qual o prejuízo que a criança está tendo. Quando falamos de problemas de aprendizagem, tendemos a observar que eles podem ser detectados a partir dos cinco anos de idade. Isso, por uma questão muito simples: esse é o período em que a criança começa a frequentar a escola. É nela que são notados, no prejuízo no rendimento escolar e nas relações sociais. Não podemos compreender problemas de aprendizagem relacionados apenas às disfunções orgânicas. Como já foi dito, há o fator ambiental. É possível que crianças com problemas de aprendizagem tenham um nível normal de inteligência, de acuidade visual e auditiva. Outro fator importante é o desinteresse. Nem sempre problemas de aprendizagem tem a ver com desinteresse. Há possibilidades de a criança se esforçar, se concentrar e manter o seu comportamento de forma positiva em casa e na escola e mesmo assim ter problemas de aprendizagem. A grande questão a ser levantada é quais são as razões que levam à criança a não conseguir captar, processar e dominar as tarefas e informações que a elas são dispostas e, logo depois, poder desenvolvê-las. A criança passa a ter uma limitação mesmo tendo o mesmo nível de inteligência. Dentro dessa mesma abordagem, observamos em que condições a criança tem problemas específicos de aprendizagem. Significa que eles interferem diretamente no processo do aprender. A grande dificuldade é detectar quando uma criança está tendo problemas para processar as informações e a formação que recebe. Medina (2016) apresenta alguns comportamentos que devem observados para caracterização de um problema de aprendizagem: Apresenta dificuldade para entender e seguir tarefas e instruções. Apresenta dificuldade para relembrar o que alguém acaba de dizer. 7 Não domina as destrezas básicas de leitura, soletração, escrita e/ou matemática, pelo que fracassa no trabalho escolar. Apresenta dificuldade para distinguir entre a direita e a esquerda, para identificar palavras etc. Sua tendência é escrever as letras, palavras ou números ao contrário. Falta-lhe coordenação ao caminhar, fazer esportes ou completar atividades simples, tais como apontar um lápis ou amarrar o cordão do sapato. Apresenta facilidade para perder ou extraviar seu material escolar, como os livros e outros artigos. Tem dificuldade para entender o conceito de tempo, confundindo o “ontem”, com o “hoje” e/ou “amanhã”. Manifesta irritação ou excitação com facilidade. (Medina, 2016) A The Learning Disabilities Association of America – LDA, que é maior associação que dá atenção aos problemas de aprendizagem no mundo, elenca cinco características que devem ser observadas para verificação de problemas de aprendizagem: 1. Problemas de leitura (visão); 2. Problemas de escrita; 3. Problemas auditivo e verbal; 4. Problemas relacionados às matemáticas; 5. Problemas relacionados ao social/emocional. Saiba mais Para melhor interação sobre o tema, acesse o site da LDA. Disponível em: <https://ldaamerica.org/>. Acesso em: 28 jun. 2018. TEMA 4 – DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Novamente, vamos ao dicionário: “(sm 2) Aquilo que apresenta ou provoca funcionamento ou situação anormal; defeito, desarranjo, desajuste. (sm 4) Med – Disfunção orgânica; doença” (Michaelis, 2018) Começamos a observar o contraste dessa definição de uma maneira mais etimológica. A palavra distúrbio vem do radical turbare que significa “alteração violenta na ordem natural”. Esse radical dá origem às palavras: turvo, turbilhão, perturbar e conturbar. Fixa ao radical, temos o prefixo dis. Na língua portuguesa, esse prefixo é identificado como uma alteração com sentido anormal, patológico. Seu valor denotativo refere-se a algo de forma negativa. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia médica. A melhor tradução para distúrbios na linguagem médica é “anormalidade patológica por alteração 8 violenta na ordem natural”. Esse é um termo muito utilizado no DSM-3, razão pela qual na linguagem médica o termo ficou comum. Sendo assim, já podemos considerar que o termo é de uso médico patológico. Portanto, sempre vai estar relacionado a um comprometimento fisiológico ou anatômico. Dessa forma, ao conceituarmos distúrbios de aprendizagem, estamos nos referindo a comprometimentos neurológicos. Definindo melhor um distúrbio de aprendizagem, caracterizamos um problema, uma doença ou uma síndrome que acometem o sujeito em grau fisiológico. Isso significa que deve haver um comprometimento orgânico da criança. Ninguém tem um distúrbio sem um comprometimento orgânico. De maneira mais sintética, podemos nos debruçar sobre a ideia que uma alteração orgânica não pode ser resolvida apenas com mudança ambiental, bem como não pode ser tratada sem o apoio de psicofármacos. E ainda, ser compreendida como algo que pode não ter cura. Isso nos leva a entender a gravidade do tema. O cuidado e a atenção que devem ser disponibilizados a uma criança com um distúrbio de aprendizagem devem considerar que sua vivência é maior que a limitação que possui, por isso, pode ter um menor prejuízo no decurso de sua vida, qualificando o seu viver e dando continuidade à busca de alcançar os seus objetivos. TEMA 5 – TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Finalmente, voltemos ao dicionário: Transtorno – “(sm 4) Desordem mental, comportamental ou emocional.” (Michaelis, 2018). Outra palavra que tem um sentido mais diretivo e de uso na literatura especializada é a palavra “transtorno”. Trata-se de uma terminologia muito médica e clínica. A terminologia procura unificar a linguagem técnica sobre o assunto. No Brasil, há duas literaturas que norteiam o processo diagnóstico. A primeira é a CID 10 – Classificação internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) (Organização Mundial da Saúde, 2018). O CID tem um valor jurídico no Brasil. Toda prescrição médica deve ter base ou citação da CID. A CID 10 abarca todos os quadros patológicos que precisam de uma prescrição. Quando o tema diz respeito à condição mental, há uma área específica da CID 10 denominada “Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento”. A segunda literatura muita utilizada no Brasil é o ManualDiagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), da Associação Americana de 9 Psiquiatria (American Psychiatric Association, 2013). É uma literatura de alto valor científico e em pesquisa. Hoje, está mais atualizado que o CID-10. Embora possua muitas opiniões discordantes, o DSM 5 é uma literatura orientadora para um diagnóstico mental. O termo “transtorno” é muito comum no CID-10 e no DSM-5. Ambos os manuais procuram dirimir dúvidas ou questionamentos quando se utilizava outros termos, como enfermidade, doenças, patologias, síndromes etc. Na verdade, o objetivo é sintonizar a mesma fala. Isso não quer dizer que há unanimidade da utilização do termo. Por isso, quando designamos o termo transtorno, procura-se usá-lo com o intuito de indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecíveis associados, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais (Organização Mundial da Saúde, 1992). Os manuais não utilizam as mesmas terminologias, por isso apresentaremos as designações feitas por cada um deles. Lembramos de que o nosso foco são os transtornos referentes à aprendizagem. 5.1 CID 10 Na classificação da CID 10, temos um item denominado Transtornos Mentais e de Comportamento. Essa categoria apresenta os transtornos referentes à condição do sujeito na relação escolar. Como todo manual, existem subcategorias. F81 – Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares: F81.0: Transtorno específico da leitura; F81.1: Transtorno específico do soletrar; F81.2: Transtorno específico de habilidades aritméticas; F81.3: Transtorno misto das habilidades escolares; F81.8: Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares; F81.9: Transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares, não especificado. A CID-10, como todo manual, procura apresentar diretrizes diagnósticas. Esse manual nem sempre consegue apresentar as causas possíveis dos 10 transtornos, sendo assim, quando nos referimos às possíveis causas dos transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares, não podemos especificá-las. Todavia, há indicativos relacionados a fatores biológicos que, de uma forma não bem esclarecida, interagem com fatores não biológicos. Esse evento ocorre de forma não controlada, o que não permite designarmos exatamente uma causa. 5.2 DSM 5 O DSM 5 foi recentemente reformulado. Quem teve contato com o DSM 4 verificará que muitos quadros foram remanejados ou retirados do DSM 5, bem como alguns foram reformulados e melhores apresentados. Em relação à aprendizagem, o DSM 5 apresenta dois grupos específicos referentes à aprendizagem dentro do grupo dos Transtornos do Neurodesenvolvimento. São as deficiências intelectuais e o Transtorno Específico da Aprendizagem (American Psychiatric Association, 2013). Transtornos do Neurodesenvolvimento: Deficiências Intelectuais; Deficiência Intelectual (Transtorno do Desenvolvimento Intelectual): 315.8 (F88) Atraso Global do Desenvolvimento; 319 (F79) Deficiência Intelectual (Transtorno do Desenvolvimento Intelectual) Não Especificada. Transtorno Específico da Aprendizagem – Especificar se: 315.00 (F81.0) Com prejuízo na leitura (especificar-se na precisão na leitura de palavras, na velocidade ou fluência da leitura, na compreensão da leitura); 315.2 (F81.81) Com prejuízo na expressão escrita (especificar-se na precisão na ortografia, na precisão na gramática e na pontuação, na clareza ou organização da expressão escrita); 315.1 (F81.2) Com prejuízo na matemática (especificar-se no senso numérico, na memorização de fatos aritméticos, na precisão ou fluência de cálculo, na precisão no raciocínio matemático) (American Psychiatric Association, 2013). Segundo o DSM 5, os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Sua principal 11 característica são os déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. É possível que haja com certa frequência a ocorrência de mais de um transtorno do neurodesenvolvimento, de forma comórbida. O transtorno de aprendizagem tende a ser uma comorbidade do TEA e do TDAH (American Psychiatric Association, 2013). Já a deficiência intelectual tem características em déficit nas capacidades mentais genéricas, ou seja, um desenvolvimento intelectual simples. Essas capacidades incluem o raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência. Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que o indivíduo não consegue atingir padrões de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade (American Psychiatric Association, 2013). O transtorno específico da aprendizagem, tem sua designação quando há déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar informações com eficiência e precisão. É um transtorno observável principalmente na fase escolar. A principal sintomática são as dificuldades persistentes e prejudiciais observadas no desenvolvimento básico da leitura, escrita e/ou matemática (American Psychiatric Association, 2013). É fácil de observar esse transtorno pela condição de verificação das habilidades acadêmicas com base no desempenho individual. É normalmente a criança que está baixa da média esperada para a idade. Seus resultados não favoráveis e quando o objetivo a atingir é a média, é necessário que a criança desempenhe um esforço fora do comum para ela (American Psychiatric Association, 2013). FINALIZANDO Retomando nossa questão inicial, talvez você esteja a se perguntar se realmente a aprendizagem pode sofrer ação que a interfira. Na verdade, a grande questão é se a aprendizagem está se desenvolvendo de forma natural ou se está sofrendo alguma interferência. 12 Com base nessa descrição, podemos fazer uma definição melhor dos termos que são utilizados para descrever as ações que agem contrariamente ao processo de aprender. Analisando dessa forma, talvez você chegue à conclusão de que o ocorrido na cena inicial desta aula foram dificuldades externas para a sua aprendizagem. Podemos, então, dizer que agora você está melhor orientado nos termos designativos que nos permitem deixar claro o que queremos dizer quando falamos de algo que tenha a ver com a aprendizagem. Nomenclatura e termos são importantes como orientadores. Todavia, mais importante é poder saber quando e como usá-las, pois isso nos orienta a cometer menos equívocos e a sermos mais assertivos, permitindo-nos ajudar de forma efetiva àqueles que venham a ter um prejuízo na aprendizagem. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar pedagógico. In: _____. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: InterSaberes, 2012. p. 47-66. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582123355/>. Acesso em: 28 jun. 2018. Esse texto apresenta uma descrição sobre o olhar da psicopedagogia sobre os conceitos referentes às dificuldades de aprendizagem. A leitura desse texto esclarecerá dúvidas da exposição das teorias da aprendizagem. Texto de abordagem prática ALVES, R. J. R.; NAKANO, T. de C. Criatividadeem indivíduos com transtornos e dificuldades de aprendizagem: revisão de pesquisas. Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo. v. 19, n. 1, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v19n1/2175-3539-pee-19-01-00087.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2018. O texto apresenta o desenvolvimento da criatividade em pessoas que tinham transtornos ou dificuldade de aprendizagem. Isso nos abre a possibilidade de sairmos de um conceito fechado e discriminativo em relação aos transtornos de aprendizagem. 13 Saiba mais APRENDENDO. Interpretando o problema – dificuldades de aprendizagem. YouTube, 21 out. 2013. Disponível em: <https://youtu.be/2IKlsW15vLY>. Acesso em: 28 jun. 2018. Esse vídeo pontua questões bem práticas do ambiente de sala de aula, em que podemos identificar algumas dificuldades de aprendizagem. 14 REFERÊNCIAS DSM V – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Washington: Associação Americana de Psiquiatria, 2013. MEDINA, V. Problemas de aprendizagem das crianças. 9 fev. 2016. Disponível em: <https://br.guiainfantil.com/aprendizagem/101-problemas-de-aprendizagem- das-criancas.html>. Acesso em: 28 jun. 2018. MICHAELIS. Dicionário de Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 28 jun. 2018. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: InterSaberes, 2012. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: diretrizes diagnósticas e de tratamento para transtornos mentais em cuidados primários. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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