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DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 06 DOS CONTRATOS EM GERAL (arts. 421 a 480, CC) Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula: 11. Contratos: formação; elementos constitutivos, teoria da imprevisão; evicção; vícios redibitórios; extinção. Subitens: Contratos. DDiissppoossiiççõõeess GGeerraaiiss.. TTeeoorriiaa GGeerraall ddooss CCoonnttrraattooss.. EElleemmeennttooss.. PPrriinnccííppiiooss FFuunnddaammeennttaaiiss.. FFoorrmmaaççããoo.. MMooddaalliiddaaddeess ddee ccoonnttrraattoo.. EEffeeiittooss.. TTeoria da Imprevisão. Evicção. Vícios Redibitórios. EExxttiinnççããoo ddaa RReellaaççããoo CCoonnttrraattuuaall.. CONCEITO DE CONTRATO Contrato é o acordo de duas ou mais vontades que visa à aquisição, resguardo, transformação, modificação ou extinção de relações jurídicas de natureza patrimonial. Discute-se na doutrina a existência do chamado autocontrato, que é o nome dado ao contrato em que a mesma pessoa age, simultaneamente, revestida nas duas qualidades jurídicas diferentes: ora por si, ora representando um terceiro. Ex: mandato em causa própria (veremos mais adiante). A confere mandato para B para vender seu apartamento, com autorização para que B venda o imóvel para ele mesmo (B). Neste caso, quando for feita a escritura, B intervirá, ora representando A (como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). ELEMENTOS O contrato é um negócio jurídico bilateral, decorrente de uma ação humana voluntária e lícita, praticada com a intenção de obter um resultado jurídico. • Existência de duas ou mais pessoas (físicas e/ou jurídicas). • Capacidade plena das partes para contratar. Se as partes não forem capazes o contrato poderá ser nulo (ex: absolutamente incapaz que não foi representado) ou anulável (ex: relativamente incapaz que não foi assistido). • Consentimento vontades livres e isentas de vícios (erro, dolo, coação, etc.). • Objeto do contrato é a prestação. Não confundir objeto com a coisa sobre a qual incide a obrigação. O objeto é a atuação das partes no contrato. Ex: no contrato de compra e venda de um relógio, o objeto não é o relógio. Este é a coisa em que a prestação se especializa. O objeto de quem compra é pagar o preço e de quem vende deve entregar a coisa. Portanto é a ação humana. O objeto deve ser: a) lícito (não pode ser DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 contrário à lei, à moral, aos princípios da ordem pública e aos bons costumes); b) possível (física e juridicamente); c) certo, determinado ou, pelo menos, determinável (ou seja, deve conter os elementos necessários para que possa ser determinado – gênero, espécie, quantidade e características individuais) e d) economicamente apreciável, isto é, deverá versar sobre o interesse capaz de se converter, direta ou indiretamente, em dinheiro. • Forma prescrita ou não defesa em lei. A regra é que a forma é livre. No entanto em algumas circunstâncias exige-se maior formalidade e solenidade (ex: escritura de compra e venda de imóvel). Quando a lei exigir que um contrato tenha uma determinada forma especial é desta forma que ele deve ser feito (não pode ser feito de outra maneira). Qualquer vício referente à forma torna o contrato nulo. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS • Autonomia da Vontade (ou autonomia privada) os contratantes têm liberdade para estipular o que lhes convier. Inicialmente eles têm a liberdade de contratar ou não e de escolher quem será o outro contratante. Também a espécie contratual e o conteúdo das estipulações. Em tese, pode-se contratar sobre o que quiser, mesmo que não previsto em lei (contrato inominado). Evidente que há limites para essa autonomia, conforme veremos adiante. • Observância (ou supremacia) das Normas de Ordem Pública a liberdade de contratar encontra seus limites inicialmente na própria lei, ou seja, na ordem pública (que são as normas impositivas, que visam o interesse coletivo) e também na moral e nos bons costumes. Ex: proibição de contrato envolvendo herança de pessoa viva (pacta corvina – art. 426, CC). • Obrigatoriedade das Convenções (pacta sunt servanda) Como regra ninguém pode alterar unilateralmente o conteúdo de um contrato. E não sendo o mesmo observado, haverá a pena de execução patrimonial contra a pessoa que não o cumpriu (chamado de inadimplente), salvo algumas hipóteses excepcionais. Em regra o simples acordo de duas ou mais vontades já é suficiente para gerar um contrato válido. E atualmente, cada vez mais, vem se atenuando a força desse princípio. • Relatividade dos Efeitos do Contrato um contrato, como regra, vincula somente as partes que nele intervierem. Também não é um princípio absoluto. A exceção é a “estipulação em favor de terceiros” (que veremos mais adiante), onde pode haver o favorecimento de terceiros. • Boa-fé Objetiva trata-se de um novo princípio estabelecido pelo atual Código Civil. Segundo ele, as partes devem agir com lealdade, probidade e confiança recíprocas (art. 422, CC), com o dever de cuidado, cooperação, informando o conteúdo do negócio e agindo com equidade e razoabilidade (usam-se os termos transparência, veracidade, diligência e assistência). Impede-se o exercício abusivo de direito por parte de algum dos contratantes. A observância deste princípio deve estar presente não só no DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 momento da elaboração, como também na conclusão e execução do contrato, que além da função econômica de circulação de riquezas, serve, também, de mecanismo para se atingir a justiça social, solidariedade, dignidade da pessoa humana, que são objetivos primordiais de nossa sociedade, estabelecidos na Constituição Federal. • Função Social do Contrato (art. 421, CC) outra novidade inserida pelo atual Código Civil. Explicando: a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Na verdade trata-se de um dispositivo genérico e que deve ser preenchido pelo Juiz dependendo de uma hipótese concreta que lhe é apresentada. Leva-se em consideração a presença de outros subprincípios tais como: a) Dignidade da Pessoa Humana – decorrente da aplicação de dispositivos constitucionais no Direito Civil, garantindo-se o direito de se viver sem intervenção ilegítima do Estado ou de outros particulares; b) Na interpretação do contrato, deve-se atender mais à intenção do que ao sentido literal das disposições escritas; c) Justiça Contratual (arts. 317 e 478, CC) – protegida por institutos como o da onerosidade excessiva, para dar maior equilíbrio às partes e ao contrato, estado de perigo, lesão, etc. Tal princípio tem como funções básicas: a) abrandar a força obrigatória do contrato; b) coibir cláusulas abusivas, gerando nulidade absoluta das mesmas; c) possibilitar, sempre que possível, a conservação do contrato e o seu equilíbrio; d) possibilitar a revisão do contrato quando o mesmo contiver alguma onerosidade excessiva. Observem que não foi eliminada a autonomia contratual ou a sua obrigatoriedade, mas apenas se atenuou ou reduziu o seu alcance quando presentes interesses individuais. Portanto, a autonomia da vontade (ou autonomia privada) e a obrigatoriedade contratual, princípios anteriormente quase que absolutos, perderam muito a importância que tinham. Apesar do Direito Civil fazer parte do Direito Privado, disciplinando a atividade dos particulares entre si, onde prevalecem os interessesde ordem particulares, não podemos negar que também neste ramo do Direito “sentimos a presença do Estado”. Em outras palavras: identificamos muitas normas de Direito Público no Direito Civil. Podemos dizer que atualmente há uma constante intervenção do Estado nas relações de Direito Privado e até mesmo nos contratos. Justifica-se esta interferência, pois ao contrário do que sustentava a ideologia do liberalismo, a desigualdade entre os homens é um fato inegável e o Estado moderno deve agir para tentar buscar um reequilíbrio de forças entre as pessoas, dando proteção jurídica à parte mais frágil de uma relação, como os consumidores, inquilinos, empregados, devedores, etc. Isto é chamado pela doutrina de Dirigismo Contratual. FORMAÇÃO DO CONTRATO Como vimos, o contrato é fonte de obrigações. Ele nasce da conjunção entre duas ou mais vontades coincidentes. Sem este mútuo consenso, não haverá contrato. No entanto, antes de se estabelecer o acordo final, é possível que ocorram algumas negociações preliminares (que são as sondagens, as conversas prévias e debates, tendo em vista um contrato futuro), sem que DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 haja uma vinculação jurídica entre os participantes, não se criando ainda obrigações. É a chamada fase das tratativas (ou puntuação). Apenas no momento em que as partes manifestam a sua concordância é que se formará o contrato, criando obrigações. Os contratos possuem duas fases: a) Proposta ou Oferta; b) Aceitação. Vejamos: 1) PROPOSTA Também é chamada de oferta, policitação ou oblação. É a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, solicitando a concordância da outra. Trata-se de declaração unilateral por parte do proponente. A proposta é receptícia. Assim falamos porque ela só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte. Regra: Feita a proposta, esta vincula o proponente ou policitante (art. 427, CC); caso a proposta não seja mantida, obriga a perdas e danos. Exceções. Uma proposta deixa de obrigar, se (art. 428, CC): • o contrário não resultar dos termos da proposta. Ex: cláusula expressa que lhe retire a força vinculativa; o próprio contrato possui uma cláusula de não obrigatoriedade, etc. • feita sem prazo determinado a uma pessoa presente, não sendo ela imediatamente aceita. Feita uma proposta entre presentes, a mesma deve ser imediatamente aceita. Se não o for, a proposta já não vincula mais. Atenção: a noção de presença e ausência, neste contexto, nada tem a ver com distância. Presentes são aqueles que podem se comunicar diretamente. Ex: telefone, fax, etc. Obs. há dúvida quanto aos contratos celebrados por “internet” (posição majoritária – contrato entre ausentes). • feita sem prazo a pessoa ausente (não foi possível a comunicação imediata ou direta), deve-se aguardar um lapso de tempo suficiente para que a oferta chegue ao destinatário e a resposta retorne ao conhecimento do proponente, calculando-se o tempo conforme o meio de comunicação (ex: cartas). • feita a pessoa ausente, com prazo determinado, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo estipulado. • antes da proposta ou juntamente com ela, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. 2) ACEITAÇÃO É a manifestação da vontade do destinatário (também chamado de oblato ou aceitante), anuindo com a proposta e tornando o contrato concluído. Regras: • se o negócio for entre presentes, a proposta ou oferta pode estipular ou não prazo para a aceitação. Se não contiver prazo a aceitação deverá ser manifestada imediatamente. Se houver prazo deverá ser pronunciada até o termo concedido. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 • se o contrato for entre ausentes, a aceitação deve chegar a tempo, isto é, dentro do prazo marcado. Se a aceitação chegar após o prazo marcado, sem culpa do aceitante, deverá o proponente avisar o aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. Se o ofertante (ou policitante) não estipulou qualquer prazo, a aceitação deverá ser manifestada dentro de tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente. • aceitação fora do prazo, ou com adições, restrições, modificações, corresponde a uma nova proposta (ou contraproposta - art. 431, CC). • a aceitação admite arrependimento se, antes da aceitação ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante. MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO. Um contrato se reputa concluído: • Entre presentes – no momento da aceitação da proposta. • Entre ausentes (ex: correspondência epistolar - carta) tornam-se perfeitos, como regra, no momento em que a aceitação é expedida. Existem inúmeras teorias a respeito. O Brasil adotou a Teoria da Expedição da Aceitação, ou seja, o momento em que a aceitação é colocada no correio, real ou virtual (e-mail). LOCAL DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO O negócio jurídico reputa-se celebrado no lugar em que foi proposto (art. 435, CC). Esta é uma regra dispositiva, isto é, as partes podem dispor de modo diverso. A regra é que o contrato é celebrado no lugar onde foi proposto. No entanto admite-se previsão em contrário, desde que expressa no contrato. CONTRATO PRELIMINAR (arts. 462/466, CC) Às vezes não é conveniente às partes celebrar, desde logo, o contrato definitivo; assim podem firmar um contrato-promessa (pactum in contrahendo), sendo que as partes se comprometem a celebrar o contrato definitivo posteriormente (o exemplo clássico é o compromisso irretratável de compra e venda). Apesar disso ele deve ser registrado, presumindo-se irretratável. Se uma das partes desistir do negócio, sem justa causa, a outra poderá exigir-lhe, coercitivamente, o seu cumprimento, sob pena de multa diária, fixada no contrato ou pelo Juiz. As partes se denominam promitentes (na compra e venda: promitente-comprador e promitente-vendedor). Quanto à forma, não há obrigatoriedade de ser observada a mesma que figurará no contrato definitivo. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 1) CONTRATOS UNILATERAIS OU BILATERAIS Já vimos que o negócio jurídico pode ser classificado em unilateral (ex: testamento) ou bilateral (ex: contratos). Portanto podemos afirmar que o contrato é sempre um negócio jurídico bilateral, uma vez que necessita DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 da participação de duas vontades para que fique perfeito. No entanto, o contrato também pode ser classificado em unilateral ou bilateral. O contrato será unilateral quando apenas um dos contratantes assume obrigações em face do outro. É o que ocorre na doação pura e simples. Inicialmente, por ser um contrato temos duas vontades: a do doador (que irá entregar o bem) e a do donatário (que irá receber o bem). Mas neste concurso de vontades nascem obrigações apenas para o doador. O donatário, por sua vez irá apenas auferir as vantagens. Outros exemplos: mútuo, comodato, etc. Os contratos unilaterais, apesar de exigirem duas vontades, colocam só uma delas na posição de devedora. O contrato será bilateral quando os contratantes são simultânea e reciprocamente credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e obrigações para ambos. O contrato bilateral também é conhecido como sinalagmático. A compra e venda é o exemplo clássico: o vendedor deve entregar a coisa, mas por outro lado tem o direito ao preço; já o comprador deve pagar o preço, mas, por outro lado tem o direito de receber o objeto que comprou. Outros exemplos: troca, locação, etc. ATENÇÃO! CUIDADO! Repetindo.Não devemos confundir “Negócio Jurídico” (que por sua vez é uma espécie de Ato Jurídico) com “Contrato”. Este é um erro muito comum. No ato jurídico unilateral há apenas uma manifestação de vontade. Ex: a renúncia. Se eu renuncio a um crédito, a outra parte não será consultada para que aceite ou não a minha renúncia. Nada mais é necessário para que o ato seja válido e produza efeitos. O mesmo ocorre com o testamento. Já a doação é exemplo de negócio jurídico bilateral. E por que isso? Porque há duas manifestações de vontade. Primeiro a do doador. É necessário que uma pessoa queira doar o bem. Mas depois se consulta também o donatário, que é a pessoa que irá receber o bem doado. Se essa pessoa não aceitar, não houve a doação. O contrato não se aperfeiçoou. Havendo a aceitação da outra parte o negócio está perfeito. Portanto a doação é um negócio (ou ato) jurídico bilateral. Necessita de duas manifestações de vontade. No entanto os atos jurídicos bilaterais se dividem em: Unilaterais e Bilaterais. E a doação é um contrato unilateral, pois apenas um dos contratantes (doador) assume obrigações em face do outro (donatário). 2) CONTRATOS ONEROSOS OU GRATUITOS ● Contratos onerosos – trazem vantagens para ambos os contratantes, pois estes sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito desejado (ex: locação – locatário paga aluguel, mas tem o direito de usar o bem; já o locador recebe o dinheiro do aluguel, mas deve entregar a coisa para que seja usada por outrem). Em outras palavras: ambas as partes assumem ônus e obrigações recíprocas. ● Contratos gratuitos (ou benéficos) – oneram somente uma das partes, proporcionando à outra uma vantagem, sem qualquer contraprestação (ex: doação pura e simples, depósito, comodato, etc.). Observação: A classificação oneroso/gratuito é muito parecida com a anterior bilateral/unilateral. Em regra, os contratos onerosos são bilaterais e os DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 gratuitos são unilaterais. Mas pode haver exceção como no caso do mútuo sujeito a juros. O mútuo é um empréstimo de coisa fungível (ex: um saco de arroz, um maço de cigarros, dinheiro, etc.). Se for empréstimo de dinheiro, além da obrigação de restituir a quantia emprestada (contrato unilateral), geralmente deve-se pagar juros (contrato oneroso). Portanto este caso é um exemplo de um contrato que é ao mesmo tempo unilateral e oneroso. 3) CONTRATOS COMUTATIVOS OU ALEATÓRIOS O contrato é comutativo (ou pré-estimado) quando as prestações de ambas as partes são conhecidas e guardam relação de equivalência. Ex: compra e venda (como regra). A coisa entregue por uma das partes e o preço pago pela outra geralmente são conhecidos no momento da realização do contrato e guardam uma relação de equivalência. Eu sei o quanto eu vou pagar pela coisa e sei qual o bem que me será entregue. E entre as prestações há uma equivalência. Já o contrato aleatório é aquele em que a prestação de uma das partes (ou de ambas) não é conhecida com exatidão no momento da celebração do contrato. Depende de uma álea (incerteza, risco). O contrato depende de um risco futuro e incerto, capaz de provocar uma variação e consequentemente um desequilíbrio entre as prestações, não se podendo antecipar exatamente o seu montante. Alguns contratos são aleatórios devido à sua natureza (ex: rifa, bilhete de loteria, o jogo e a aposta de uma forma geral, o seguro de vida, de um carro ou uma casa, etc.), enquanto outros são acidentais, por terem por objeto coisa incerta ou de valor incerto (ex: contrato de garimpo, venda de colheita futura, ou dos peixes que vierem na rede do pescador, etc.). O exemplo clássico é o contrato de seguro de um carro. Eu sei o quanto eu vou pagar pelo seguro! Mas... será que eu vou usá-lo algum dia? Quando? Qual o valor da indenização? Eu ainda não tenho estas respostas. Portanto, uma das prestações não é conhecida de antemão. Depende de um fato futuro e incerto. E pode haver uma não-equivalência entre o valor que eu paguei e aquilo que eu receberei. Os contratos aleatórios podem ser divididos em: A) Coisas Futuras 1) Emptio Spei – um dos contratantes toma para si o risco relativo à existência da coisa, ajustando um preço, que será devido integralmente, mesmo que nada se produza, sem que haja culpa do alienante (ex: compro de um pescador, ajustando um preço determinado, tudo o que ele pescar hoje; mesmo que nada pesque terá direito ao preço integral). O vendedor tem direito ao preço, ainda que o objeto futuro não venha a existir. 2) Emptio Rei Speratae – se o risco versar sobre a quantidade maior ou menor da coisa esperada (ex: compro, por um preço determinado, a próxima colheita de laranjas; se nada colher estará desfeito o contrato). B) Coisas Existentes DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 O contrato versa sobre coisa existente, sujeitas ao risco de se perderem, danificarem ou, ainda, sofrerem depreciação. Ex: determinada mercadoria é vendida, mas a mesma será transportada de navio até o seu destino final. O comprador então assume o risco de ela chegar ou não ao seu destino; se o navio afundar a venda será válida e o vendedor terá direito ao preço. 4) CONTRATOS NOMINADOS OU INOMINADOS ● Nominados (ou típicos) são os contratos que têm previsão e denominação prevista na lei (Código Civil ou Leis especiais). Ex: compra e venda, locação, comodato, etc. ● Inominados (ou atípicos) são os contratos criados pelas partes, dentro do princípio da liberdade contratual e que não correspondem a nenhum tipo contratual previsto na lei; não têm tipificação; não têm um nome com previsão legal. Ex: cessão de clientela, factoring, etc. O art. 425, CC permite às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas no Código Civil. 5) CONTRATOS PARITÁRIOS OU DE ADESÃO ● Paritários são aqueles em que ambos os interessados são colocados em pé de igualdade e podem discutir as cláusulas contratuais, uma a uma, eliminando os pontos divergentes mediante transigência mútua. ● de Adesão (ou por adesão) são aqueles em que a manifestação de vontade de uma das partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra. Uma das partes elabora o contrato e a outra parte apenas adere às cláusulas já estabelecidas, não sendo possível a discussão ou modificação dessas cláusulas. Ex: contratos bancários. Quando você abre uma conta em um Banco, o contrato já está pronto. Ou você assina da maneira como ele foi elaborado ou o contrato não sai. Outros exemplos: contrato de transporte, convênio médico, seguro de vida ou de veículos, sistema financeiro de habitação, etc. O contrato de adesão deve ser sempre escrito com letras grandes e legíveis. Ele não pode ser impresso com redação confusa, utilizando terminologia vaga e ambígua, nem com cláusulas desvantajosas para um dos contratantes. A cláusula que implicar limitação ao direito do consumidor deverá ser redigida com destaque (letras maiores), permitindo sua imediata e fácil compreensão. Na dúvida vigora a interpretação mais favorável ao aderente. Segundo o art. 424, CC são nulas as cláusulas que estipulam a renúncia antecipada do aderente a algum direito resultante da natureza do negócio (ex: “caso o objeto adquirido esteja com algum problema, o aderente abre mão de pedir a substituição do produto”). 6) CONTRATOS CONSENSUAIS OU FORMAIS ● Consensuais ou não solenes são os contratos que independem de uma forma especial; em geral se perfazem pelo simples acordo ou consenso das partes. Podem ser celebrados inclusive de forma verbal. ● Solenes ou formais são os contratos em que a lei exige uma forma especial. A falta desta formalidade levará à nulidade do negócio. Ex: a compra e venda de bens imóveis exige escritura pública e registro. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 7) CONTRATOS REAIS são os que se aperfeiçoam com a entrega da coisa. O depósito somente será concretizado quando a coisa for realmente entregue, depositada. Outros exemplos: comodato, mútuo, penhor, etc. Antes da entrega da coisa, tem-se apenas uma promessa de contratar e não um contrato perfeito e acabado. 8) CONTRATOS PRINCIPAIS OU ACESSÓRIOS ● Principais são os contratos que existem por si, exercendo sua função e finalidade independente de outro. Ex: contrato de compra e venda, de locação, etc. ● Acessórios são aqueles contratos cuja existência supõe a do principal, pois visam assegurar sua execução. Ex: fiança. 9) CONTRATOS PESSOAIS OU IMPESSOAIS ● Pessoais (personalíssimos ou intuitu personae) são aqueles em que a pessoa do contratante é considerada pelo outro como elemento determinante de sua conclusão. Ex: Desejo que o advogado “Y” me defenda no Tribunal do Júri. Quero que o cirurgião “X” me opere. Quero comprar um quadro do famoso pintor “Z”. ● Impessoais são os que a pessoa do contratante é juridicamente indiferente para a conclusão do negócio. Contrato uma empresa para pintar minha casa. Tanto faz que o serviço seja realizado pelo pintor “A” ou “B”. EFEITOS DO CONTRATO O contrato válido estabelece um vínculo jurídico entre as partes, sendo que, em princípio, é irretratável unilateralmente. Ou seja, depois de celebrado, como regra, uma das partes não pode simplesmente desistir do cumprimento do contrato. Trata-se da aplicação do pacta sunt servanda. Formado um contrato, assumidas as obrigações, passamos agora ao cumprimento do seu conteúdo. Porém, um contrato pode produzir diversos efeitos. Vejamos: A) EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO (arts. 476/477, CC) Também é chamado de exceptio non adimpleti contractus. Nos contratos bilaterais (ou sinalagmáticos) a regra é que nenhum dos contratantes poderá, antes de cumprir a sua obrigação, exigir a do outro (art. 476, CC). Isso porque há uma dependência recíproca das prestações que, por serem simultâneas, são exigíveis ao mesmo tempo. Num contrato as partes devem cumprir exatamente aquilo que combinaram. Por isso eu não posso alterar algo que combinamos, de forma unilateral. Cada um deve cumprir a sua parte no contrato. Eu não posso exigir o cumprimento da outra parte, se eu ainda não cumpri com a minha, pois foi assim que nós combinamos. Exemplo: Contratei um pintor para pintar toda minha casa. Acertemos um determinado valor. E combinamos que o pagamento seria feito em duas etapas. Metade do valor seria entregue no início dos trabalhos. E o restante somente seria entregue após o término do serviço. Eu cumpri a minha parte. Paguei ao pintor o valor referente à metade do serviço e ele começou a pintar DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 a casa. Após alguns dias o pintor exige o pagamento da parcela restante. Ele está descumprindo o combinado. Somente faria jus à parcela restante no final do serviço, mas está exigindo tudo agora. O que eu diria ao pintor? – Só vou lhe pagar o restante após a conclusão do serviço; cumpra a sua parte que depois eu cumpro com a minha, pois foi assim que nós combinamos. A mesma regra é aplicada no caso de cumprimento incompleto, defeituoso e inexato da prestação por um dos contraentes. Trata-se de uma variação da regra anterior. Ex: o pintor realmente executou a obra, mas não da forma que nós combinamos (deixou de pintar alguns cômodos ou pintou com a cor errada ou deixou buracos na parede, etc.). A doutrina chama isso de exceptio non rite adimpleti contractus. Neste caso eu também posso me recusar a cumprir com a minha obrigação (pagar o restante do dinheiro) até que a prestação (a pintura da casa) seja realizada exatamente da forma como nós combinamos. Excepcionalmente será permitido, a quem incumbe cumprir a prestação em primeiro lugar, recusar-se ao seu cumprimento, até que a outra parte satisfaça a prestação que lhe compete ou dê alguma garantia de que ela será cumprida. No entanto, isso somente é admissível quando, depois de concluído o contrato, sobrevier diminuição em seu patrimônio que comprometa ou torne duvidosa a prestação a que se obrigou. Cláusula solve et repete a “exceptio” não poderá ser arguida se houver renúncia, impossibilidade da prestação ou se o contrato contiver a cláusula solve et repete, que torne a exigibilidade da prestação imune a qualquer pretensão contrária do devedor. Isto é, o contrato pode conter uma cláusula (na realidade fazer isso é muito perigoso, pois a parte fica sem garantia) de que o contratante renuncia, abre mão da exceptio. Isso quer dizer que a qualquer momento a outra parte (que seria o pintor no exemplo que estamos dando) pode exigir o pagamento integral, mesmo que ele ainda não tenha cumprido com a sua parte no contrato. Não se deve pactuar esta cláusula na prática (mas é possível, sem que isso seja considerado como abusivo). Rescisão a parte lesada pelo inadimplemento (não cumprimento) da obrigação pela outra parte pode pedir rescisão do contrato, acrescido de perdas e danos. B) DIREITO DE RETENÇÃO É a permissão concedida pela norma ao credor de conservar em seu poder coisa alheia, já que detém legitimamente, além do momento em que deveria restituir, até o pagamento do que lhe é devido. Digamos que uma pessoa foi possuidora de boa-fé de uma casa, durante quatro anos. Nesse tempo realizou benfeitorias necessárias. No entanto o verdadeiro proprietário moveu uma ação de reintegração de posse e acabou ganhando a ação. O possuidor, embora estivesse de boa-fé, perdeu a ação; deve sair do imóvel. No entanto, tem o direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias que realizou no imóvel. E se a pessoa que ganhou a ação não quiser indenizar? Ora, enquanto o possuidor não for indenizado pela benfeitoria necessária que DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 realizou, ele tem o direito de reter o imóvel até que seja ressarcido ou até o tempo calculado sobre o valor da benfeitoria. Devem estar presentes os seguintes requisitos: a) detenção da coisa alheia; b) conservação dessa detenção; c) crédito líquido, certo e exigível do retentor, em relação de conexidade com a coisa retida. Esse direito está assegurado a todo possuidor de boa-fé que tem direito à indenização por benfeitorias necessárias ou úteis (art. 1.219, CC). C) REVISÃO DOS CONTRATOS – RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA (art. 478/480, CC) Como já falamos, em princípio os contratos devem ser cumpridos exatamente como foram estipulados (pacta sunt servanda). No entanto, a obrigatoriedade das convenções não é absoluta. Admite-se, excepcionalmente, a revisão judicial dos contratos de cumprimento a prazo ou em prestações sucessivas, quando uma das partes vem a ser prejudicada sensivelmente por uma alteração imprevista da conjuntura econômica. A finalidade é restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro entre os contratantes, lastreada na chamada Teoria da Imprevisão. Segundo ela, somente permanece o vínculo obrigatório gerado pelo contrato enquanto ficar inalterado o estado de fato vigente à época da estipulação. Se for alterado o estado de fato, permite-se também a alteração do contrato, ficando a parte liberada dos encargos originários, sendo queo contrato pode ser revisto ou rescindido. Esta cláusula implícita é conhecida pela expressão rebus sic stantibus (tentando fazer uma tradução literal teríamos: “o mesmo estado das coisas”; “as coisas ficam como estão”; “pelas coisas como se acham”). Atualmente o instituto se encontra previsto nos arts. 478/480, do CC. Art. 478, CC: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução (extinção) do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Art. 479, CC: A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato. Para se tornar viável a extinção (ou revisão) do contrato por onerosidade excessiva, o Juiz, em cada caso, sempre deve verificar a ocorrência dos seguintes elementos: • vigência de um contrato comutativo (as prestações são conhecidas e equivalentes entre si). • ocorrência de alteração das condições econômicas após a celebração do contrato. • a alteração da situação foi imprevisível e extraordinária. • onerosidade excessiva para uma das partes na execução do contrato nas condições originalmente estabelecidas. Como regra, a resolução por onerosidade excessiva cabe nos contratos bilaterais (ou sinalagmáticos), como na compra e venda. Porém o art. 480, CC dispõe que se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. D) REGRAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS GRATUITOS a) O Código Civil estabelece que os contratos gratuitos devem ser interpretados restritivamente. b) Os contratos gratuitos, se reduzirem o alienante à condição de insolvência (passivo maior de ativo), são anuláveis pelos credores quirografários. E) ARRAS OU SINAL (arts. 417/420, CC) Arras ou Sinal é uma quantia em dinheiro ou outra coisa móvel, fungível (que pode ser substituída por outra igual), entregue por um dos contratantes ao outro, como prova de conclusão do contrato (bilateral) e para assegurar o cumprimento da obrigação. Configura-se como princípio de pagamento e garantia para o cumprimento do contrato. As arras são dadas para significar que as partes chegaram a um acordo final. Dadas as arras ou sinal, a questão que se põe é quanto à possibilidade de arrependimento. Como dissemos, mais uma vez, um contrato foi feito para ser cumprido (pacta sunt servanda). Mas às vezes um contrato pode conter uma cláusula de arrependimento. A questão assim se resume quanto ao arrependimento: a) Se o arrependimento não estiver previsto no contrato (você assina um contrato e este nada prevê sobre a possibilidade de arrependimento): • as arras são chamadas de confirmatórias; é a regra em nosso direito → não havendo estipulação em contrário as arras são confirmatórias. Isto porque a regra é de que o contrato deve ser cumprido da forma em que foi elaborado. • não é possível o arrependimento unilateral; o contrato torna-se obrigatório, fazendo lei entre as partes. • as arras são uma forma de antecipar parte do pagamento do preço; o seu quantum será descontado do preço; a quantia entregue é tida como adiantamento do preço. • as arras determinam, previamente, as perdas e danos pelo não- cumprimento das obrigações a que tem direito o contraente que não deu causa ao inadimplemento. De acordo com o art. 418, CC, se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as. Se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária, juros e honorários de advogado. A parte inocente pode exigir uma indenização suplementar (as arras seriam o mínimo do valor). Mas como não há possibilidade de arrependimento, pode a parte inocente optar por exigir a execução do contrato, mais perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 b) Se o arrependimento estiver previsto no contrato (art. 420, CC) (você assina um contrato e este prevê a possibilidade de arrependimento): • as arras, neste caso, são chamadas de penitenciais, que é a sua função secundária (a primária seria a garantia do cumprimento da obrigação), funcionando apenas como indenização (não se confunde com a multa). O contrato é resolúvel (pode ser extinto), atenuando-lhe a força obrigatória. Trata-se de mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade dos contratos. • se quem deu as arras se arrepende do contrato, perde-as em benefício da outra parte. • se quem se arrependeu foi a pessoa quem as recebeu, ficará obrigado a devolvê-las acrescido do equivalente (em outras palavras: quem recebeu as arras deve devolvê-las em dobro). • em nenhuma das hipóteses haverá indenização suplementar. Ou seja, se forem estipuladas as arras penitenciais, não se pode cumular isso com nenhuma outra vantagem, mesmo que o prejuízo tenha sido superior que o valor das arras. O contrato simplesmente se desfaz e perde-se o sinal ou o mesmo é devolvido em dobro. Nada mais. Nada de perdas e danos, juros compensatórios, correção monetária, etc. Vejam o que ficou estabelecido na Súmula 412 do Supremo Tribunal Federal sobre isso: “No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo”. Arras X Cláusula Penal A cláusula penal (ou multa contratual) é pactuada no contrato, mas somente será exigível em caso de inadimplemento ou mora no cumprimento do contrato. Já as arras ou sinal são pagas por antecipação; é um adiantamento do preço, para garantia do cumprimento do contrato. F) ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO (arts. 433/438, CC) Um dos princípios do contrato é que ele não pode prejudicar nem beneficiar a terceiros, atingindo apenas as partes que nele intervieram (princípio da relatividade). No entanto esse princípio não é absoluto, podendo favorecer terceiros (nunca criando obrigações ou prejudicando). Ex: A (estipulante) compra uma casa de B (promitente) para que este a entregue para C (beneficiário). C não é parte do contrato, no entanto é o favorecido pelo mesmo. Neste caso, tanto o que estipula a cláusula (estipulante) como o terceiro (beneficiário) tem o direito de exigir do promitente o cumprimento da obrigação. G) VÍCIO REDIBITÓRIO (arts. 441/446, CC) Nos contratos bilaterais em que há a transferência da posse, uma parte deve garantir a outra que esta possa usufruir o bem conforme sua natureza e DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 destinação (contratos de compra e venda, locação, comodato, doação com encargos, etc.) Assim, vícios redibitórios são falhas ou defeitos ocultos existentes na coisa alienada, objeto de contrato comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente direito para redibir (devolver a coisa defeituosa) ou para obter abatimento no preço. Redibir = restituircoisa defeituosa. Regras: O alienante (o vendedor) é sempre o responsável, mesmo alegando que não conhecia o defeito (trata-se da responsabilidade objetiva = independente de culpa), exceto se o contrário estiver previsto no contrato. Situações (art. 443, CC): a) Alienante sabia do defeito e tentou mascará-lo, agindo de má-fé →→→ restituirá o valor que recebeu, acrescido de perdas e danos (danos emergentes e eventuais lucros cessantes). b) Alienante não sabia do defeito →→→ restituirá apenas o valor recebido, mais eventuais despesas do contrato (sem perdas e danos). Há responsabilidade do alienante mesmo que a coisa pereça na posse do adquirente, mas o vício oculto já existia antes da tradição (art. 444, CC). Por outro lado não há responsabilidade do alienante se o adquirente sabia que a coisa era defeituosa e mesmo assim quis recebê-la. Também não há responsabilidade se o vício se deu por causa posterior à entrega. O adquirente tem a sua disposição as seguintes ações (que os doutrinadores chamam de ações edilícias): 1) Ação Redibitória: o adquirente rejeita a coisa defeituosa, rescindindo o contrato e reavendo o preço pago mais o reembolso de despesas, e até as perdas e danos (no caso do alienante conhecer o vício, sendo necessária a prova da má-fé do alienante). 2) Ação Estimatória (também chamada de quanti minoris): o adquirente deseja conservar a coisa, reclamando o abatimento proporcional do preço em que o defeito a depreciou (art. 442, CC). A opção de escolha é de quem adquiriu a coisa. Bem adquirido em hasta pública: não se pode redibir o contrato, nem pedir abatimento do preço. No entanto, se a aquisição do bem for em um leilão de arte ou em uma exposição de animais, a responsabilidade subsiste. Os contratos objeto do vício redibitório são os comutativos (ex: compra e venda) e os de doação com encargo (doações em que o beneficiário, para receber o bem doado, assume algum ônus). Não caberá nenhuma reclamação se as partes pactuarem que o alienante não responde por eventuais vícios ocultos. Neste caso o alienante já avisa que DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15 a coisa pode conter alguns defeitos. Ex: vendas de saldão em que se anunciam pequenos defeitos. Decadência Nos negócios regulados pelo Código Civil, o prazo de reclamação e propositura das ações acima citadas, contado da entrega efetiva (tradição), é de (art. 445, CC): • 30 (trinta) dias →→→ bens móveis. • 01 (um) ano →→→ bens imóveis. • Se o comprador já estava na posse da coisa quando foi realizada a venda o prazo é reduzido pela metade (15 dias para móveis e 6 meses para imóveis). Observação: Quando o vício só puder ser conhecido mais tarde, o prazo conta-se a partir do instante em que dele tiver ciência, até o máximo de 180 dias, se tratar de móveis ou de 01 ano, se tratar de imóveis (aqui não se aplicam as hipóteses de reduções de prazo). Código de Defesa do Consumidor Atualmente esta matéria é regulada também pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor – CDC). São normas de ordem pública e de interesse social, atendendo disposições constitucionais que atribuem ao Estado a defesa do consumidor. Lembrando que a responsabilidade prevista no CDC é objetiva (independente de culpa) e solidária (entre o fabricante e o comerciante). Vejam a diferença: Se uma pessoa adquire um bem de um particular, a reclamação rege-se pelo Código Civil. Mas se ela adquiriu de um comerciante, rege-se pelo Código de Defesa do Consumidor. Em outras palavras se eu compro um carro usado de Antônio, aplica-se o Código Civil; se eu compro o carro de uma concessionária ou de uma revendedora, a aplica-se o CDC. Lembrem-se que este estatuto (o CDC) tem uma abrangência maior: considera como vícios tanto os defeitos ocultos na coisa como também os aparentes ou de fácil constatação. Além disso, o defeito pode estar na coisa ou no serviço prestado. Há também uma diferença na nomenclatura: no CC chamamos de vícios redibitórios (arts. 441/446); no CDC (arts. 18 a 26) chamamos de vícios do produto. No entanto, a doutrina costuma afirmar que existe um “diálogo das fontes” entre o CC e o CDC, pois há uma conexão entre ambos, sendo que um sistema complementa o outro, especialmente no que diz respeito aos princípios contratuais, possibilitando maiores benefícios e mecanismos de defesa para o consumidor. Os prazos são decadenciais, contados a partir da data da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. Observem que também são diferentes dos prazos estabelecidos no Código Civil. Há uma crítica da doutrina quanto aos prazos, pois eles são menores do que no CC: • Produtos não-duráveis →→→ 30 dias. • Produtos duráveis →→→ 90 dias. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 Esta classificação durável/não durável não está prevista na classificação de bens do Código Civil (arts. 79/103). Por isso a doutrina tenta melhor conceituá-los: não-durável →→→ desaparece facilmente com o consumo (ex: gêneros alimentícios); durável →→→ não desaparece facilmente com o consumo, possuindo um ciclo de vida ou de utilização mais longo (ex: eletrodomésticos, automóveis, etc.). Apesar de menores é possível a obstação dos prazos (também chamada de causa de suspensão especial), pois há um ato do credor, em duas hipóteses: reclamação comprovada do consumidor ao fornecedor, até a resposta; instauração do inquérito civil pelo Ministério Público. Os fornecedores, quando efetuada a reclamação direta, têm prazo máximo de trinta dias para sanar o vício. Não o fazendo pode o consumidor exigir alternativamente: a) Substituição do produto. b) Resolução do contrato – restituição da quantia paga (e, dependendo do caso, acrescido de perdas e danos); não há necessidade de se provar a má-fé do alienante, pois presume-se a boa-fé do consumidor. c) Abatimento proporcional do preço. Observação O prazo decadencial que nos referimos acima pode ser reduzido, de comum acordo, para no mínimo 07 dias e acrescido de no máximo 180 dias. Transcrevemos a seguir os artigos do CDC (Lei n° 8.078/90) de interesse para nossa matéria: Gráfico comparativo sobre os vícios redibitórios no Código Civil e os vícios do produto no Código de Defesa do Consumidor. Código Civil Código de Defesa do Consumidor Defeito oculto na coisa que a torna imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminui sensivelmente o valor. Defeito oculto, aparente ou de fácil constatação; qualidade do produto não correspondente à propaganda, rótulo, etc. Objeto → bens, objetos de contratos comutativos (móveis ou imóveis). Objeto → produtos (móveis ou imóveis; corpóreos ou incorpóreos). Efeitos – redibir o contrato ou reclamar abatimento no preço (art. 442, CC). Efeitos – substituição do produto; devolução do dinheiro e restituição da coisa; abatimento proporcional do preço (art 18, §1°, CDC). Prazos Decadenciais – Regra: a) Móveis → 30 dias da tradição. b) Imóveis → 01 ano da tradição. Prazos Decadenciais – Regra: a) Produtos não-duráveis → 30 dias da constatação ou da entrega. b) Produtos duráveis → 90 dias da constatação ou entrega. H) EVICÇÃO (arts. 447/457, CC) DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 Como vimos, o alienante tem o dever de garantir ao adquirente a posse justa da coisa transmitida, defendendo-a de eventuais pretensões de terceiros. Por isso a lei a protege de eventual evicção. Evicção é a perda da propriedadede uma coisa para terceiro, em razão de ato jurídico anterior e em virtude de uma sentença judicial (evincere = ser vencido). A evicção supõe a perda total ou parcial da coisa, em mão do adquirente, por ordem do Juiz, que a defere a outrem. Exemplo clássico: A vende para B uma fazenda. Quando B toma posse do imóvel percebe que uma terceira pessoa (C) já detém a posse daquele imóvel há muitos anos. B Tenta tirar C do imóvel. Mas este além de não sair ainda ingressa com uma ação de usucapião. Caso C obtenha a sentença judicial de usucapião, B perderá o imóvel. Vejam: B pagou pelo imóvel e o perdeu em uma ação judicial. Isto é a evicção. Na hipótese concreta, A fica obrigado a indenizar B. Observem neste exemplo que: A →→→ é o alienante, aquele que transferiu a coisa viciada, de forma onerosa. Em regra ele não tem conhecimento de que coisa era litigiosa. B →→→ é o evicto (adquirente ou evencido), aquele que perdeu a coisa adquirida, em virtude da sentença judicial. C →→→ é o evictor (ou evencente), aquele que adquiriu a coisa porque ganhou a ação judicial. Toda pessoa, ao transferir o domínio, a posse, ou o uso a terceiro, nos contratos onerosos, deve resguardar o adquirente contra os riscos de evicção. Trata-se de uma obrigação de fazer, a cargo do alienante, que nasce com o próprio contrato. Se ocorrer a evicção estamos diante de uma inexecução contratual, pois eu paguei pela coisa e não a recebi; ou a recebi, mas perdi logo a seguir por determinação judicial. Regras: O alienante, nos contratos onerosos (ex: compra e venda, troca e até nas doações com encargo), responde pelos riscos da evicção, ainda que se tenha adquirido o bem em hasta pública (art. 447, 2a parte, CC). A responsabilidade pela evicção não precisa estar expressa no contrato, pois ela decorre da lei. Ou seja, se você compra uma casa e o contrato nada fala sobre a evicção, o vendedor (alienante) é o responsável pela evicção. No entanto, o contrato pode ter uma previsão expressa sobre a evicção, reforçando a responsabilidade, atenuando ou agravando seus efeitos. Se o alienante colocar no contrato um item em que simplesmente ele não responde pela evicção, mesmo assim ele responderá pela evicção, sendo que esta cláusula não terá validade. Isto porque apesar de constar no contrato que o alienante não responde pela evicção, o adquirente (futuro evicto) não sabia do risco da evicção ou informado sobre ele, não o assumiu. No entanto, neste caso, a responsabilidade do vendedor consistirá apenas na devolução do preço. A responsabilidade pode até ser totalmente excluída, desde que tenha sido pactuada expressamente a cláusula de exclusão e o adquirente foi informado sobre o risco da evicção (sabia do risco e o aceitou). Situações: DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 a) Cláusula expressa de exclusão da garantia + ciência específica do risco pelo adquirente + assunção integral do risco pelo adquirente = isenção do alienante de toda responsabilidade. b) Cláusula expressa de exclusão da garantia – ciência do risco pelo adquirente ou de ter assumido o risco = responsabilidade do alienante apenas pelo preço pago pela coisa evicta. c) Omissão da cláusula = responsabilidade total do alienante + perdas e danos. Direitos do Evicto • Restituição integral do preço pago. • Despesas com o contrato. • Todos os prejuízos decorrentes da evicção (o evicto deve provar quais foram as perdas e danos). • Indenização dos frutos que for obrigado a restituir. • Obter o valor das benfeitorias necessárias e úteis que não lhe forem pagas pelo evictor. • Custas judiciais, honorários advocatícios e demais despesas processuais. A evicção pode ser total ou parcial. A parcial ocorre quando a perda é inferior a 100% do valor da coisa. Já o art. 455, CC fala em evicção parcial considerável e não-considerável. Mas não estabelece porcentagem para cada caso. Portanto, tudo vai depender do bom senso do Juiz em um caso concreto. A doutrina tem entendido como valor considerável aquele situado entre 50% a 99%. Neste caso o adquirente (evicto) pode rescindir o contrato, com todas as perdas e danos ou exigir a restituição do preço da parte evicta (valor do desfalque). Evicção não-considerável situa-se entre 1% e 49% do valor da coisa, sendo que neste caso o evicto pode pleitear somente o valor do desfalque. O adquirente deve, assim que for instaurado contra si o processo judicial, chamar o alienante para integrar o processo (art. 456, CC). Trata-se de um instituto de Direito Processual Civil. É a chamada denunciação à lide. Ela é obrigatória para que o evicto (adquirente) possa ao menos ser reembolsado daquilo que pagou pela propriedade, sem receber a coisa. Se assim não proceder (não denunciar a lide) perderá os direitos decorrentes da evicção, não mais dispondo de ação direta para exercitá-los. A denunciação se justifica posto que o alienante precisa saber da pretensão do terceiro- reivindicante, uma vez que irá suportar as consequências da decisão judicial. EXTINÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL Há uma grande divergência doutrinária sobre as terminologias referentes aos modos extintivos dos contratos, pois não há sistematização legal. Adotamos o sistema da Professora Maria Helena Diniz, pois é o que vem caindo nos concursos. O adimplemento (também chamado de execução, cumprimento ou satisfação obrigacional) do contrato é o modo normal de extinção de um contrato. O devedor executa a prestação e o credor atesta o cumprimento DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 através da quitação (prova de que houve o pagamento). Se a quitação não lhe for entregue ou se lhe for oferecida de forma irregular, o devedor poderá reter o pagamento (sem que se configure a mora) ou efetuar a consignação em pagamento. No entanto, um contrato pode ser extinto antes de seu cumprimento, ou no decurso deste. São as chamadas causas anteriores ou contemporâneas ao nascimento do contrato ou supervenientes à sua formação. Costuma-se dizer então que Rescisão é o gênero. As demais nomenclaturas seriam as espécies. Vejamos: A) CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS • Nulidades – trata-se da não-observância de normas jurídicas atinentes a seus requisitos subjetivos, objetivos e formais (capacidade, objeto, consentimento, forma, etc.). Ex: se uma pessoa menor de 16 anos realiza um contrato, ou este tem por objeto algo ilícito, temos a nulidade do contrato (arts. 166 e 167, CC). • Arrependimento – previsto no próprio contrato, quando os contraentes estipulam que o contrato será rescindido, mediante declaração unilateral de vontade, se qualquer deles se arrepender. B) CAUSAS SUPERVENIENTES • Resolução por inexecução voluntária a prestação não é cumprida por culpa do devedor. Sujeita o inadimplente ao ressarcimento por todas as perdas e danos materiais e morais. • Resolução por inexecução involuntária a prestação não é cumprida, sem que haja culpa do devedor, nos casos de força maior ou caso fortuito. Não há indenização por perdas e danos; tudo volta como era antes; se houve qualquer tipo de pagamento, a quantia deve ser devolvida. • Resolução por onerosidade excessiva evento extraordinário e imprevisível, que impossibilita ou dificulta extremamente o adimplemento do contrato. Trata-se da aplicação da Teoria da Imprevisão (cláusula rebus sic stantibus). Provadas as condições pode haver a rescisão contratual ou a revisão das prestações. Têm-se entendido que, em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, deve-se conduzir, sempre que possível, à revisão dos contratos e não à resolução.O art. 478, CC trata da resolução do contrato. O art. 479, CC trata da revisão por acordo entre as partes. Já o art. 480, CC trata da revisão por decisão judicial. • Resilição bilateral ou distrato trata-se de um novo contrato em que ambas as partes, de forma consensual, acordam pôr fim ao contrato anterior que firmaram. O distrato submete-se às mesmas normas e formas relativas ao contrato, conforme o art. 472, CC. • Resilição unilateral há contratos que admitem dissolução pela simples declaração de vontade de uma das partes (também chamada de denuncia vazia). Só ocorre excepcionalmente. Os exemplos clássicos ocorrem no mandato, no comodato e no depósito. Assume a feição de resgate, DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 renúncia ou revogação. Quem revoga é o mandante, comodante ou depositante. Quem renuncia é o mandatário, comodatário ou depositário. • Morte de um dos contraentes como regra, morrendo um dos contratantes, a obrigação se transmite aos seus herdeiros, até o limite das forças da herança. No entanto, nas obrigações personalíssimas (intuitu personae) a morte é causa extintiva do vínculo. Digamos que eu tenha contratado uma pessoa famosa para pintar um mural. Morrendo esta pessoa, a obrigação não se transmite a seus herdeiros. Neste caso, o contrato se extingue de pleno direito. RESUMO DA MATÉRIA I. Conceito → acordo de vontades que visa aquisição, resguardo, transformação, modificação ou extinção de relações jurídicas de natureza patrimonial. II. Elementos Essenciais • Duas ou mais pessoas. • Capacidade plena das partes (representação ou assistência dos incapazes). • Consentimento sem vícios. • Objeto lícito, possível determinado ou determinável e economicamente apreciável. • Forma prescrita ou não defesa em lei. III. Princípios • Autonomia Privada – liberdade dos contratantes para estipular o que lhes convier. Não se trata mais de um princípio absoluto. • Observância das normas de ordem pública – supremacia da lei (normas impositivas que visam o interesse coletivo) sobre o interesse individual. • Obrigatoriedade das convenções – pacta sunt servanda; em regra o simples acordo de duas ou mais vontades é suficiente para gerar o contrato (princípio do consensualismo). • Relatividade dos efeitos – o contrato, como regra, só vincula as partes que nele intervierem. • Boa-fé objetiva – as partes devem agir com lealdade probidade e confiança recíprocas; está ligado a justiça social, solidariedade e dignidade da pessoa. • Função Social do Contrato – a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato: atém-se mais à intenção do que o sentido literal das disposições; visa o equilíbrio das partes, coíbe cláusulas abusivas, prevê a revisão por onerosidade excessiva – Justiça Contratual. IV. Formação → conjugação de duas vontades (bilateral): a) proposta (oferta ou policitação); b) aceitação. Regra – feita a proposta, vincula o proponente (art. 427, CC). V. Momento da Celebração • entre presentes → momento da aceitação da proposta. • entre ausentes → teoria da expedição da aceitação (art. 434, CC)– momento em que a aceitação é expedida (contratos epistolares). VI. Local da Celebração DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 Regra dispositiva (admite-se convenção em contrário): art. 435, CC – no lugar em que foi proposto. VII. Classificação • Unilaterais (apenas um dos contratantes assume obrigações em face do outro) ou Bilaterais (direitos e obrigações para ambas as partes – sinalagmáticos). • Onerosos (ambas as partes assumem obrigações) ou Gratuitos (oneram somente uma das partes). Em regra os contratos bilaterais são também onerosos. E os unilaterais são gratuitos. Exceção: mútuo sujeito a juros – obriga a devolução da quantia emprestada (contrato unilateral) devendo-se pagar os juros (contrato oneroso). • Comutativos (prestações de ambas as partes são conhecidas e guardam relação de equivalência) ou Aleatórios (uma das prestações não é conhecida no momento da celebração do contrato – ex: seguro do carro; convênio médico). • Nominados (denominação prevista em lei) ou Inominados (contratos criados pelas partes, não havendo tipificação legal). • Paritários (os interessados – ao menos em tese – podem discutir as cláusulas contratuais em pé de igualdade) ou de (por) Adesão (uma das partes adere às cláusulas já estabelecidas pela outra). • Consensuais (perfazem-se pelo simples acordo de vontades), Solenes (lei exige forma especial para sua celebração) ou Reais (perfazem-se com a entrega da coisa). • Principais (existem por si, independente de outro – compra e venda, locação) ou Acessórios (sua existência supõe a do principal – ex: fiança). • Pessoais (intuitu personae – a pessoa do contratante é fundamental para a sua realização) ou Impessoais (a pessoa do contratante é indiferente para a conclusão do negócio). VIII. Efeitos dos Contratos A) Exceção de contrato não cumprido → regra nos contratos bilaterais – nenhum dos contratantes poderá, antes de cumprir a sua obrigação, exigir a do outro – arts. 476/477, CC. Cláusula solve et repete → torna a exigibilidade da prestação imune a qualquer pretensão contrária do devedor; trata-se da renúncia da exceptio non adimpleti contractus. B) Direito de retenção → permite ao credor conservar coisa alheia em seu poder além do momento em que deveria restituir, até o pagamento do que lhe é devido (ex: direito de reter a posse – de boa-fé – até a indenização de uma benfeitoria necessária realizada no bem). C) Revisão dos contratos → Imprevisão – Onerosidade excessiva - Rebus sic Stantibus – arts. 478/480, CC. Excepcionalmente, admite-se a revisão judicial dos contratos quando uma das partes vem a ser prejudicada sensivelmente por uma alteração imprevista da conjuntura econômica. O evento extraordinário é imprevisto, que dificulta o adimplemento da obrigação, é motivo de resolução contratual por onerosidade excessiva. A parte lesada ingressa em juízo pedindo a rescisão do contrato ou o reajuste da prestação. D) Regra dos contratos gratuitos → devem ser interpretados de forma restritiva. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 E) Arras ou Sinal → prova de conclusão do contrato; assegura o cumprimento da obrigação e é princípio de pagamento (arts. 417/420, CC). Arrependimento previsto →→→ arras penitenciais; arrependimento não previsto →→→ arras confirmatórias. F) Estipulação em Favor de Terceiros → pactua-se uma vantagem para terceira pessoa que não é parte no contrato (arts. 433/438, CC). G) Evicção → perda da propriedade para terceiro em virtude de sentença judicial e ato jurídico anterior (arts. 447/457, CC). Nos contratos onerosos o alienante responde pela evicção. Exemplo →→→ Usucapião. Exceção: exclusão total da responsabilidade: estipulo cláusula expressa de exclusão da garantia, informo o adquirente sobre o risco de evicção e ele assume este risco. H) Vício Redibitório → vício ou defeito oculto na coisa que a tornam imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminui o valor (arts. 441/446, CC). Também previsto no Código de Defesa do Consumidor (vícios do produto), que tem maior abrangência. Redibir = restituir coisa defeituosa. O consumidor pode exigir alternativamente: a) substituição do produto, b) restituição da quantia paga, ou c) abatimento proporcional do preço. IX. Extinção da Relação Contratual 1) Normal → Execução, cumprimento,adimplemento do contrato (quem cumpre tem direito à quitação). Pode ser instantânea, diferida ou continuada. 2) Rescisão ou Dissolução (Anormal) a) Causas anteriores ou contemporâneas ao contrato →→→ nulidade (absoluta ou relativa), condição resolutiva, direito de arrependimento. b) Causas supervenientes à formação dos contratos → resolução (inadimplemento ou descumprimento contratual – voluntário ou involuntário), resilição (acordo – bilateral ou unilateral) ou morte de um dos contratantes nas obrigações personalíssimas. TESTES As questões adiante seguem o padrão que a CESPE/UnB costuma usar, julgando as assertivas e colocando CERTO ou ERRADO. QUESTÃO 01 (CESPE – BACEN) Julgue os itens a seguir: a) A regra contida da expressão pacta sunt servanda não comporta exceções, e, portanto, deve sempre ser obedecida. b) O atual Código Civil define exatamente o que seja um contrato. c) O contrato preliminar gera uma obrigação de fazer; no entanto não comporta a execução específica, resolvendo-se o seu descumprimento em perdas de danos. COMENTÁRIOS: a) Errado. A regra contida na expressão pacta sunt servanda se refere à obrigatoriedade das convenções. Tanto este princípio como o da autonomia da vontade, pelo atual Código Civil não são absolutos, comportando diversas exceções. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 b) Errado. O atual Código trata dos contratos na sua Parte Especial (arts. 421 e seguintes). No entanto o mesmo não define o que seja um contrato. c) Errado. O contrato preliminar (arts. 462/466, CC) gera uma obrigação de fazer (ou seja, de realizar o contrato definitivo). Se uma das partes não cumprir sua obrigação, a outra tem o direito de exigir a celebração do contrato definitivo, estipulando um prazo para tanto; ou seja, há o direito de execução específica. E se mesmo assim a parte não cumprir a obrigação, o Juiz pode suprir a vontade da parte inadimplente (que não cumpriu a obrigação), conferindo um caráter definitivo ao contrato preliminar. No entanto, a parte lesada pode preferir a extinção do contrato, pedindo perdas e danos. QUESTÃO 02 (UnB/CESPE - Juiz de Direito Substituto/AC – 2008) A respeito dos contratos regidos pelo Código Civil, julgue os itens que se seguem. a) O contrato é um negócio jurídico bilateral. No entanto é admissível um contrato em que intervém apenas uma pessoa. b) O princípio da função social nas relações contratuais é vinculante e tem prioridade axiológica sobre qualquer outra regra da disciplina contratual. A função social é considerada um fim para cuja realização ou preservação se justifica a imposição de preceitos inderrogáveis e inafastáveis pela vontade das partes. c) Nos contratos onerosos, para que o alienante não responda pela evicção e seja exonerado inclusive da restituição da quantia paga pelo evicto, é necessário que, além da cláusula expressa de exclusão da garantia, o adquirente tenha ciência do risco e o tenha assumido, como é o caso de quem adquire coisa que sabe litigiosa. d) Por meio da estipulação em favor de terceiro, poderá o promitente validamente fazer disposições de última vontade, outorgando benefício pecuniário a um terceiro para após a morte do estipulante e, ainda, renunciar ao direito de revogar a estipulação ou substituir o terceiro, bem como exigir do beneficiário uma contraprestação. COMENTÁRIOS: a) Certo. A doutrina admite o chamado autocontrato, em que uma mesma pessoa age revestida nas duas qualidades jurídicas diferentes: credor e devedor. O exemplo clássico é o mandato em causa própria, em que “A” outorga procuração para “B” para que este venda o seu apartamento para ele mesmo. Ou seja, “B” manifesta sua vontade sob dois ângulos diferentes: como vendedor, representando “A” e como comprador, em seu próprio nome. b) Certo. O princípio da função social do contrato, constitui uma novidade no Código Civil (art. 421, CC). Porém possui respaldo na própria Constituição Federal, uma vez que nela constatamos a ideia de “socializar” o Direito, posto que os contratos atualmente devem ter uma visão mais ligada ao interesse coletivo. Trata-se de uma norma de ordem pública, tendo prioridade sobre as demais regras referentes ao direito contratual. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 c) Certo. Como vimos na aula: cláusula expressa de exclusão da garantia + ciência específica do risco pelo adquirente + assunção integral do risco pelo adquirente = isenção do alienante de toda responsabilidade (art. 457, CC). d) Errado. Um dos princípios do contrato é que ele não pode prejudicar nem beneficiar a terceiros; o contrato deve atingir apenas as partes que nele intervieram (princípio da relatividade). No entanto esse princípio não é absoluto, podendo favorecer terceiros. Trata-se da estipulação em favor de terceiro, prevista nos arts. 436/438, CC. No entanto não se pode criar obrigações para esta terceira pessoa não interveniente na relação contratual. Ela somente pode ser beneficiária. O que está errado na questão é a possibilidade de se exigir do beneficiário uma contraprestação. QUESTÃO 03 (UnB/CESPE – Juiz de Direito Substituto/SE – 2007) A respeito dos contratos, julgue os itens que se seguem. a) O contrato bilateral cria obrigações para ambas as partes, e as obrigações são recíprocas e interdependentes. Em decorrência dessa interdependência, cada contratante não pode, antes de cumprir sua obrigação, exigir do outro o cumprimento da que lhe cabe. b) Nos contratos celebrados entre pessoas presentes, a proposta tem força obrigatória mesmo que seja feita sem prazo ou que não seja imediatamente aceita. Por força dessa vinculação, a proposta cria uma relação jurídica e sujeita o inadimplente à composição dos prejuízos por meio de indenização por perdas e danos. c) A promessa de fato de terceiro consiste na obrigação assumida pelo promitente em face do promissário de obter o consentimento do terceiro em se obrigar a prestar algo em seu favor. Assim, quem se obriga é o promitente, e não o terceiro, que somente passa a se vincular perante o promissário quando expressa o seu consentimento. d) Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal. COMENTÁRIOS: a) Certo. Trata-se do princípio da “exceção de contrato não cumprido”, previsto no art. 476, CC: nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. b) Errado. De fato, a proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso (art. 427, CC). No entanto, nos termos do art. 428, I, CC, deixa de ser obrigatória a proposta se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Lembrando que se considera também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante. c) Certo. Trata-se da promessa de fato de terceiro, disposta nos arts. 439 e 440, CC. DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 d) Certo. Trata-se da aplicação do art. 417, CC. QUESTÃO 04 (CESPE/UnB - Procurador do Estado da Paraíba – 2008) Acerca do direito das obrigações, julgue os itens a seguir. a) Nos contratos aleatórios, as prestações de uma ou ambas as partes são incertas, por dependerem de risco capaz de provocarvariação; por isso, poderá ocorrer desequilíbrio entre as prestações dos contratantes, dependendo do risco contratado. b) Nos contratos onerosos ou gratuitos, o alienante responde pela evicção. Essa responsabilidade depende de cláusula expressa, na qual as partes podem convencionar, ainda, o seu reforço ou diminuição, sendo que, no caso de evicção parcial, não sendo esta considerável, o alienante pode escolher entre a rescisão contratual e a retenção da coisa com a restituição proporcional do preço. c) Se no contrato forem estipuladas arras penitenciais, a inexecução do contrato faculta à parte inocente pedir indenização suplementar, se provar que o seu prejuízo foi maior que o valor das arras. Poderá, também, exigir a execução do contrato, acrescido das perdas e danos. COMENTÁRIOS: a) Certo. Trata-se do conceito de contrato aleatório, previsto nos arts. 458/461, CC. b) Errado. A afirmação toca em diversos assuntos sobre a evicção. A primeira parte é conceitual e já está errada, pois ela se aplica somente aos contratos onerosos, nos termos do art. 447, CC. A evicção de uma forma geral não precisa ser expressa em cláusula especial. Ela decorre da lei. No entanto, se as partes quiserem reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade, deve ser feito por cláusula expressa. Finalmente, se a evicção for parcial, mas seu valor não é considerável, caberá direito somente relativo à indenização (art. 455, segunda parte, CC). c) Errado. Se forem estipuladas arras penitenciais, não se pode cumular com nenhuma outra vantagem, mesmo que o prejuízo tenha sido maior. O contrato simplesmente se desfaz e perde-se o sinal ou o mesmo é devolvido em dobro. É isso que estipula a Súmula 412 do STF. QUESTÃO 05 (CESPE/UnB – Juiz Federal Substituto/2007 – 5a Região) Acerca dos contratos e dos atos unilaterais, segundo as disposições do Código Civil, julgue os itens subsequentes. a) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção, responsabilidade que subsiste no caso de deterioração da coisa em poder do adquirente, respondendo o alienante por evicção total, exceto se o adquirente, agindo com dolo, provocar a deterioração do bem. b) Nos contratos aleatórios, a prestação de uma das partes não é precisamente conhecida e sujeita a estimativa prévia, inexistindo equivalência com a da outra parte. Cria-se, com isso, uma incerteza, para as partes, quanto ao fato de a vantagem almejada ser, ou não, proporcional à DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 contrapartida esperada. Assim, as obrigações das partes podem tornar-se desproporcionais, dependendo da álea, isto é, do risco contratado. c) A promessa de recompensa constitui negócio jurídico unilateral que impõe obrigação àquele que a emite, independentemente de qualquer aceitação, desde o momento em que ela se torna pública. d) Ocorre contrato sinalagmático quando os contratantes são simultânea e reciprocamente credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e obrigações para ambos. COMENTÁRIOS: a) Certo. Trata-se da aplicação do art. 447, combinado com o art. 451, ambos do CC. b) Certo. Trata-se de um bom conceito sobre contrato aleatório e seus efeitos. c) Certo. O Código Civil estabelece que aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar a quem preencha certa condição ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de fazer o prometido (arts. 854/860, CC). d) Certo. Contrato sinalagmático é sinônimo de contrato bilateral. QUESTÃO 06 (CESPE/UnB Procurador Federal/2006) A respeito dos contratos, julgue os itens a seguir. a) O adquirente de bem em hasta pública não tem a garantia da evicção, pois a natureza processual da arrematação afasta a natureza negocial da compra e venda. b) Como exceção ao princípio da intangibilidade ou inalterabilidade do contrato, admite-se a intervenção judicial nos contratos bilaterais e comutativos, de execução continuada ou diferida, quando ocorrer causa superveniente ao contrato, capaz de gerar mudanças nas condições econômicas sob as quais foi celebrado o contrato, ocasionando onerosidade excessiva, decorrente de evento extraordinário e imprevisível. Assim, ante a impossibilidade de cumprimento obrigacional, pela onerosidade excessiva, pode a parte prejudicada requerer judicialmente a resolução ou o reajuste do contrato. c) É nulo o contrato celebrado de maneira que tenha preterido alguma solenidade que a lei considera essencial para a sua validade. No entanto, o vício ínsito no contrato não ofende o interesse público, mas a segurança das partes envolvidas. Assim, a nulidade pode ser requerida apenas pelas partes contratantes e produz efeitos ex nunc, ou seja, o contrato vigorou, produziu efeitos e criou obrigações que não se revogam. d) O postulado da função social do contrato (CC, art. 421), consectário lógico dos princípios constitucionais da solidariedade (CF/88, art. 3°, I) e da justiça social (CF/88, art. 170), constitui uma cláusula geral, a impor a revisão do princípio da obrigatoriedade dos contratos. COMENTÁRIOS: DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça PROFESSOR – LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 27 a) Errado. Pelo art. 447, segunda parte, CC, subsiste a garantia da evicção, ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. b) Certo. Trata-se da resolução contratual por onerosidade excessiva, prevista nos arts. 478 a 480, CC. c) Errado. De fato, se um contrato foi elaborado, preterindo-se alguma solenidade essencial o efeito é a nulidade absoluta deste contrato (art. 166, inciso V, CC). Mas o efeito da declaração da nulidade é ex tunc, ou seja, retroage à data da realização do contrato. d) Certo. Questão de cunho doutrinário. QUESTÃO 07 (CESPE/UnB – Advogado da União – AGU/2006) Acerca dos contratos regidos pelo Código Civil, julgue o seguinte item. a) O contrato bilateral caracteriza-se pela reciprocidade das prestações. Nesse contrato, ambos os contratantes têm o dever de cumprir, recíproca e concomitantemente, as prestações e obrigações por eles assumidas. Assim, nenhum dos contratantes, sem ter cumprido o que lhe cabe, pode exigir que o outro o faça. O desatendimento dessa regra enseja defesa por meio da exceção do contrato não cumprido, e a procedência desta constitui-se como causa de suspensão da exigibilidade da prestação do excipiente. COMENTÁRIOS: a) Certo. Trata-se da exceção de contrato não cumprido, previsto no art. 476, CC (Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro). QUESTÃO 08 (CESPE/UnB - Magistratura do Trabalho da Bahia – 2007) Assinale a opção CORRETA de acordo com os contratos regidos pelo Código Civil. a) O atual sistema jurídico de direito privado prevê, como cláusula geral dos contratos, os princípios da boa-fé e da probidade, impondo que os contratos sejam interpretados observando-se a sua função social. Essa cláusula adota como fundamento o dirigismo contratual em substituição ao princípio da liberdade contratual, ou seja, a intervenção estatal, retirando toda a força obrigatória e a função puramente econômica dos contratos, visando à realização da justiça social e à paridade jurídica entre os contratantes. b) O distrato é negócio jurídico consistente no acordo entre as partes contratantes, objetivando extinguirem o vínculo obrigacional estabelecido no contrato. Todos os contratos podem ser resilidos por distrato, que pressupõe não ter ocorrido a extinção do contrato pelo exaurimento dos seus efeitos. Apresenta-se como um novo contrato, só que extintivo, e seus efeitos operam-se
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