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Aula 4: Aspectos anatômicos de plantas forrageiras e valor nutritivo da forragem Universidade Federal de Lavras Departamento de Zootecnia GZO 149 - Forragicultura Prof. Carla Ávila Roteiro de aula 2 Valor nutritivo Conceitos de valor nutritivo e qualidade da forragem Anatomia vegetal: parede celular A célula vegetal: enfoque nutricional Tecidos vegetais Fatores que influenciam o VN da forragem Ambiente vs. Valor Nutritivo Considerações finais Valor nutritivo de plantas forrageiras 3 Sistema de produção animal: atender as necessidades fisiológicas desses animais As plantas forrageiras são essenciais na dieta de animais ruminantes; Principal fonte de fibra “ O valor nutritivo é definido como a interação entre a composição química da forragem, sua digestibilidade e natureza dos produtos da digestão” “Qualidade da forragem ou valor alimentício pode ser definido como o consumo de energia digestível e é mais adequadamente avaliado pelo desempenho animal Valor nutritivo: quimica e digestibilidade Qualidade refere-se a associação entre comp. bromatológica, digestibilidade e consumo voluntário, dentre outros fatores” Valor nutritivo de plantas forrageiras Conhecer os fatores que afetam o valor nutritivo das plantas forrageiras: a organização dos tecidos e órgãos (folha e caule) e a composição química; Como e onde os nutrientes da planta podem ser utilizados pelos animais; Inferir sobre a quantidade e tipos de nutrientes que podem ser fornecidos na dieta Valor nutritivo de plantas forrageiras Importância: 6 Boca Retículo Esôfago Omaso Abomaso Rúmen Intestino Microrganismos Bactérias, protozoários e fungos Celulose Hemicelulose Pectinas Frutosanas Amido Outros polissaca. Açúcares Mono ou dissacarídeos Acético, propiônico, butírico Principais gases: metano, CO2 interações Proteínas: aminoácidos e peptídeos amônia e ác. graxo Absorvidos pela parede do rúmen Fermentação Microbiana no rúmen: Lipídeos: hidrolisados a ácidos graxos de cadeia longa e hidrogenados Valor nutritivo de plantas forrageiras A célula vegetal Anatomia vegetal Valor nutritivo de plantas forrageiras 9 A célula vegetal Foco em forragicultura A célula vegetal 10 A parede celular 11 Estrutura em camadas da parede celular com a orientação das microfibrilas de celulose A parede celular 12 Lamela média Parede celular primária Membrana plasmática Membrana e parede celular Microfibrilas de celulose Hemicelulose e glicanas Pectina Estrutura da Parede Celular Vegetal A célula vegetal: Enfoque nutricional 13 A celulose é o polissacarídeo mais abundante na natureza (> proporção na parede celular). É um composto orgânico formado de cadeias lineares de glicose, em que as enzimas dos microorganismos ruminais conseguem hidrolisá-la, disponibilizando a glicose A hemicelulose é composta de carboidratos complexos (lineares e ramificados) formados por diferentes açúcares: manose, xilose, arabinose e galactose (proporção intermediária na parede celular) A lignina é um polímero de álcoois cumarílico, coniferílico e sinapílico ou de ácidos fenólicos (< proporção na parede celular) Diferentes taxas de degradação no rúmen Componentes da parede celular 14 Classificação e importância dos CHO’s Figura 1: CHO’s das plantas (adaptado de HALL, 2001). Parede celular Hemicelulose Celulose Pectina B-glucano Galacto glucanos FDA FDN Carboidratos nas Plantas Conteúdo Celular Frutosanas Amidos Açúcares Ácidos Orgânicos Fibra Solúvel em Detergente Neutro Carboidratos Solúveis em Detergente Neutro Valor nutritivo de plantas forrageiras 15 Anatomia vegetal Foco em forragicultura Valor nutritivo de plantas forrageiras 16 As espécies forrageiras constituem-se de diversos tipos de tecidos, cuja composições química e física estão diretamente relacionadas às suas funções na planta Tecidos de sustentação apresentam células densamente agrupadas, com paredes espessas e lignificadas (xilema, esclerênquima) Tecidos de assimilação são ricos em cloroplastos e apresentam células com parede delgada e não-lignificada (mesófilo) 17 Tecidos vegetais Valor Nutritivo de Plantas Forrageiras 18 Tecido vascular Bainha parenquimática dos feixes Epiderme Esclerênquima Mesofilo Seção transversal de lâmina foliar de Brachiaria decumbens FV: feixe vascular; EP: epiderme; XIL: xilema; CBF: célula da bainha do feixe; F: floema; ESC: esclerênquima; MES: mesofilo. Coloração avermelhada: sítios de lignificação As células e os tecidos vegetais 20 EPIDERME: Esse tecido fornece proteção mecânica e transpiração. A sua posição superficial oferece características peculiares. A mais importante é a presença da cutina na parte celular externa, sendo que esta característica é mais comum no colmo do que na folha e na parte abaxial em relação e adaxial. As células epidérmicas de algumas espécies também contêm altos níveis de sílica e de taninos. Em leguminosas e na maioria dos cultivares de gramíneas de clima temperado, a epiderme é perdida da folha rapidamente com a mastigação e digestão, ao passo que nas gramíneas de clima tropical, a epiderme não é facilmente perdida As células e os tecidos vegetais 21 BAINHA PARENQUIMÁTICA DO FEIXE (BPF): Trata-se de um grupo de células contendo cloroplastos e apresentam altas proporções de amido e proteína. Este tecido circunda o tecido vascular das folhas de gramíneas tropicais e é circundado pelas células do mesofilo. Apesar desse tecido apresentar elevadas concentrações de nutrientes, em geral, ele é de difícil digestão pois a parede celular é passível de lignificação. Altas proporções em C4 e pouco em C3 As células e os tecidos vegetais 22 ESCLERÊNQUIMA (ESC): Composto de fibras longas e estreitas, que desenvolvem espessa parede celular secundária e que se tornam lignificadas com a maturidade. Estão presentes principalmente em gramíneas. Nas folhas de gramíneas aparecem ligando a epiderme à BPF produzindo uma estrutura coesa, dificultando a fragmentação. No colmo, forma o anel esclerenquimático lignificado As células e os tecidos vegetais 23 PARÊNQUIMA: Constitui insignificante proporção da secção de lâminas foliares, mas é o tecido predominante na bainha e no colmo de gramíneas e no pecíolo e caule de leguminosas. Nas leguminosas, não se tornam lignificados, sendo prontamente digestíveis. No entanto, na bainha e colmo de gramíneas apresentam barreiras para a digestão, tanto pelo grande volume que ocupam, como pelo desenvolvimento de PCS espessa, que pode sofrer lignificação em maior ou menor grau, dependendo da espécie e da maturidade As células e os tecidos vegetais 24 MESOFILO: Este conjunto de células possui elevadas concentrações de cloroplastos e são responsáveis pela fixação de CO2. As células apresentam somente a parede celular primária, não são lignificadas e, desse modo, são altamente digestíveis. Em folhas de leguminosas e gramíneas de clima temperado, as células do mesofilo são mais livremente arranjadas do que nas gramíneas de clima tropical.Em leguminosas e C3 entre os espaços formados pela célula do mesófilo concentra-se pectina, o que explica a diferença de [ ] deste carboidratos entre as espécies As células e os tecidos vegetais 25 COLÊNQUIMA: está presente em leguminosas. Possui paredes espessas, mas sem lignificação, sendo rapidamente digerido TECIDOS VASCULARES: O floema e células cambiais são de parede delgada e não lignificada. Outros tecidos vasculares, no entanto, têm paredes espessadas e fortemente lignificadas, seja em lâminas foliares, bainhas ou caules A célula vegetal: Enfoque nutricional 26 Dos componentes químicos associados à parede celular, a lignina é o composto que, reconhecidamente, limita a digestão dos polissacarídeos da parede celular e dos demais nutrientes do conteúdo A lignificação da PC pode limitar a digestão por meio de dois possíveis mecanismos: 1) Efeito tóxico de componentes da lignina aos microorganismos do rúmen 2) Impedimento físico e hidrofóbico causado pela ligação lignina- polissacarídeo, que limita o acesso das enzimas fibrolíticas Lignificação A célula vegetal com enfoque nutricional 27 Citoplasma Ácidos nucléicos, aminoácidos, proteínas, outros compostos nitrogenados, mono e oligossacarídeos, lipídeos e outros compostos Parede celular A célula vegetal com enfoque nutricional 28 Tecidos constituídos por este tipo de célula são mais difíceis de serem digeridos (+ parede celular) Tecido jovem, tecido da folha e tecido de C3 Tecido maduro, tecido do colmo e tecido de C4 Valor nutritivo de plantas forrageiras 29 As relações ecológicas entre as plantas e os meios nos quais elas vivem faz com que a composição química tenha uma grande variabilidade As duas principais estratégias empregadas pelas plantas para sobreviver têm influência na sua composição química: armazenamento de nutrientes e defesas contra fatores externos Pool Metabólico Luz, água e CO2 Nutrientes do solo Reservas Estruturas de resistência Estresse, doenças, predação Relações ecológicas e influência no valor nutritivo 30 Fatores que influenciam no VN Fibra: fator que mais afeta a qualidade de forragens Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras Proporção da parede celular Grau de lignificação Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 32 1. Gênero Forrageiro: Gramíneas de clima tropical (C4) apresentam alto conteúdo de tecidos vasculares para transportar seus fotossintetizados e menor conteúdo de células do mesofilo (o inverso é verdadeiro para as gramíneas de clima temperado (C3) – Ex: aveia, azevém, triticale Comparando as famílias Poacea e Fabacea, as leguminosas possuem maior concentração de proteína e menor parede celular que as gramíneas Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 33 O efeito de variedades no VN é considerado secundário para alguns estudiosos, contudo, existem diversos exemplos de como as espécies podem influenciar na composição química, digestibilidade e consumo de forrageiras (Ex: Cynodon dactylon; Alfafa; Milho, Cana-de-açúcar) 2. Espécies ou cultivares Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 34 Temperatura Luz Água Nutrientes 3. Fatores Ambientais Essenciais a vida da planta Temperaturas : lignificação Temperatura: taxa metabólica ( pool metabólitos componentes estruturais) Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 3. Fatores Ambientais- TEMPERATURA Digestibilidade Uniforme para maioria das espécies, mas com intensidade diferente (gramíneas) A luz garante o processo fotossintético e, consequentemente, a síntese de açúcares e aminoácidos, com redução paralela nos teores de parede celular. Entretanto, os efeitos das altas temperaturas são, em geral, mais decisivos sobre o valor nutritivo em plantas forrageiras Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 3. Fatores Ambientais- LUZ Luz total recebida, intensidade de luz, comprimento do dia Deficiências hídricas reduzem a velocidade de crescimento das plantas Digestibilidade Produção Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 3. Fatores Ambientais Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 3. Fatores Ambientais- NUTRIENTES N: maior efeito na composição da planta PB digestibilidade Outros nutrientes: pouco estudo, afetam menos na qualidade, mas importantes na produtividade Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 39 4. Maturidade das Plantas Proteína Bruta Folhas Minerais Fibras Caules Fatores que influenciam o VN das plantas forrageiras 40 Os fatores sob os quais o homem tem influência também são importantes nas variações do VN Ex: Manejo de pastagens; Época de colheita para silagem ou feno; Uso de corretivos e fertilizantes 5. Manejo Efeitos ambientais no VN da forragem 41 Total CNE Frutosana Sacarose Glucose Frutose Amido Planta de clima Temperado mg kg-1 10°/5° C 312 115 58 29 24 86 25°/15° C 107 12 23 18 14 41 Planta de clima Tropical mg kg-1 10°/5° C 166 3 66 22 14 64 25°/15° C 92 4 20 13 8 47 Adaptado de Chatterton et al., 1989 Total de CNE nas folhas de 128 plantas C3 e 57 gramíneas C4 crescendo sob regime térmico de 10°/5°C (claro/escuro) ou a 25°/15°C. Efeitos ambientais no VN da forragem 42 Espécies Estrutura Lignina FDN Digestibilidade g kg-1 MS g kg-1 MS g kg-1 FDN 22°C 32°C 22°C 32°C 22°C 32°C Grama Bermuda Folha 13 22 373 514 752 620 Colmo 34 67 574 641 598 408 Alfafa Folha 8 14 101 106 420 222 Haste 86 99 420 419 360 299 Adaptado de Wilson et al., 1991 Efeito da temperatura durante o crescimento, na composição e digestibilidade da parede celular de caules e folhas de plantas forrageiras Efeitos ambientais no VN da forragem Fonte Barreto et al. Efeitos ambientais no VN da forragem Defesas químicas das plantas 45 A planta sintetiza compostos como lignina, cutina, taninos, terpenóides e alcalóides para conferir-lhe resistência ao vento, doenças e herbivoria O termo tanino refere-se a um amplo grupo de compostos fenólicos que precipitam proteínas, tornando-as indisponíveis (O grupo fenólico dos taninos é um excelente doador de hidrogênio, propiciando fortes pontes de H+ com o grupo carboxila da proteína) As principais preocupações em relação aos taninos são: sua adstringência e consequente redução na aceitabilidade do alimento e seu efeito anti-nutricional, ao se ligar a proteínas e carboidratos, tornando-os indisponíveis Considerações Finais Conhecendo os fatores que afetam o valor nutritivo, a organização dos tecidos e órgãos (folha e caule) e a composição química, os nutricionistas poderão inferir sobre a quantidade e tipos de nutrientes que podem ser fornecidos na dieta Essa é grande importância de estudos envolvendo o valor nutritivo de plantas forrageiras
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