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Winnicott (Aulas) (1)

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DONALD WOODS WINNICOTT
 BIOGRAFIA:
 - Nasceu em 1896 em Plymouth, Inglaterra. 
- Durante a guerra Primeira Guerra Mundial, no período de 1914-18, foi auxiliar de enfermagem em Cambridge, quando estava no primeiro ano de Medicina e depois se alistou na marinha.
- Depois da guerra, prosseguiu seus estudos de Medicina em Londres, no St. Bartholomew’s Hospital.
- 1920 - obteve seu diploma em Medicina.
- 1923- ao ler um trabalho de Freud, decidiu fazer análise com James Strachey e iniciou sua formação psicanalítica.
- Nesse mesmo ano, Winnicott obteve dois cargos como consultor em Pediatria nos hospitais: Queen’s Hospital for Children e no Paddington Green Children’s Hospital, onde clinicou por cerca de quarenta anos.
- 1924 - abriu seu consultório na Harley Street, em Londres.
- Em meados dos anos trinta, tornou-se analista habilitado pela Sociedade Britânica de Psicanálise.
- 1935-40 - fez supervisão com Melanie Klein. Nesse mesmo período, recebeu em análise o filho de Melanie Klein, Erich.
- 1940 - iniciou uma segunda análise com Joan Rivière.
- Durante a Segunda Guerra (1939-45), tornou-se psiquiatra das Forças Armadas.
- De 1956 a 1959 e de 1965 a 1968, foi eleito presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise.
- 1971 - morreu em Londres, em 25 de janeiro.
ALGUMAS DE SUAS OBRAS MAIS CONHECIDAS:
WINNICOTT, D.W. “O ambiente e os processos de maturação”. Porto Alegre: Artmed, 1983.
Cap. 16 – “Enfoque pessoal da contribuição kleiniana”. (pág. 156-162)
- Como pediatra, na década de 20, utilizava sua experiência para conseguir que as mães das crianças lhe contassem sobre os filhos e sobre a história precoce dos seus distúrbios.
- Inúmeras histórias clínicas demonstravam que crianças que se tornavam doentes, sejam neuróticos, psicóticos, psicossomáticos ou antissociais, revelavam dificuldades no seu desenvolvimento emocional na infância, mesmo como bebês. 
- Investigou especialmente casos de crianças com pesadelos.
- Foi quando seu analista Stranchey o recomendou travar conhecimento com Melanie Klein.
- Foi ver e ouvir Melanie Klein, que falava muito a respeito das ansiedades da criança durante o primeiro ano de vida. Fez supervisão de seus primeiros casos com Klein.
- Winnicott considera que aprendeu Psicanálise com ela.
- Para Klein, a análise da criança era exatamente como a análise de adultos.
- Klein tinha um modo de tornar a realidade psíquica interna muito real. Para ela um brinquedo era uma projeção da realidade psíquica da criança.
- Winnicott considerou que havia uma conexão íntima entre os mecanismos mentais de introjeção e a função de comer. Também a projeção tinha uma relação com as funções corporais que eram excretoras (saliva, suor, fezes, urina, gritar, dar pontapés, etc).
- Desta forma, Winnicott considerou que o material de uma análise ou tinha a ver com as relações objetais da criança, ou com os mecanismos de introjeção e projeção. 
- Relações objetais – significando relações com objetos internos e externos.
- Como consequência da ansiedade persecutória, a criança sofria dor ou se sentia ameaçada de dentro, ou ficava doente. Pelo mecanismo da projeção, sentia-se ameaçada de fora, desenvolvendo fobias ou apresentando fantasias ameaçadoras, tanto dormindo como acordada, ou se tornava desconfiada.
- Dessa forma, se abriu um mundo analítico muito rico para Winnicott, confirmado pelo material dos seus casos clínicos e suas teorias.
- A abordagem de Melanie Klein permitiu que Winnicott trabalhasse com os conflitos, as ansiedades infantis e as defesas primitivas, presentes tanto em pacientes adultos como em crianças.
- Klein deixou claro para Winnicott a importância da Posição Depressiva, ou seja, que a capacidade para se preocupar e de sentir culpa, fazem parte do desenvolvimento emocional, bem como as ideias de restituição e reparação (do objeto de amor).
- Winnicott começa, então, a ressaltar a influência do ambiente, considerando que M. Klein examinou essa questão apenas superficialmente.
WINNICOTT, D.W. “O ambiente e os processos de maturação”. Porto Alegre: Artmed, 1983.
Cap. 5 – “Provisão para a criança na saúde e na crise”. (1962) (pág. 62 -69)
- Nesse texto, Winnicott se refere ao desenvolvimento emocional da criança e ao estabelecimento das bases de uma vida de saúde mental.
- Segundo ele, prover para a criança é uma questão de prover o ambiente que facilite a saúde mental e o desenvolvimento emocional.
- Portanto, o desenvolvimento emocional ocorre na criança se se proveem condições suficientemente boas, vindo o impulso para o desenvolvimento de dentro da própria criança.
- Quando as forças no sentido da vida, da integração da personalidade e da independência são fortes e as condições são suficientemente boas, a criança progride.
- Quando as condições não são suficientemente boas, essas forças ficam contidas dentro da criança e de uma forma ou de outra, tendem a destruí-la.
- Segundo o autor, devemos ter uma visão dinâmica do desenvolvimento infantil, também considerando os impulsos familiar e social.
- De acordo com esse ponto de vista winnicottiano, se saúde é maturidade, então imaturidade de qualquer espécie é saúde deficiente, sendo uma ameaça ao indivíduo e uma perda para a sociedade.
- As necessidades da criança vão mudando à medida que esta muda da dependência para a independência. 
- É possível considerar vários graus de dependência, que vão desde a dependência extrema (que pode ocasionar uma dependência patológica predisposição a distúrbios afetivos) até a independência (capacidade da criança de cuidar de si mesma). 
- Segundo Winnicott existe também um sentido social nas identificações da criança (o indivíduo pode se identificar com adultos, com o grupo social ao com a sociedade).
- O autor considera necessária a exposição da teoria do desenvolvimento emocional, referindo-se aos seus estágios essenciais:
1) Desenvolvimento em termos da vida instintiva (id), em termos das relações objetais.
2) Desenvolvimento em termos de estrutura da personalidade (ego), base dos impulsos instintivos.
- Winnicott considera que as mães se tornam cada vez mais identificadas com o bebê e por causa dessa identificação, elas mais ou menos sabem do que ele necessita (ser segurado no colo, mudado de lado, deitado e levantado, ser acariciado, alimentado).
- Tudo isso facilita os estágios iniciais das tendências integrativas do lactente e o começo da estruturação do ego. 
- Portanto, pode-se dizer que a mãe torna o fraco ego do bebê em um ego forte, porque está lá, reforçando tudo ao seu redor.
- A separação da criança de um a dois anos da mãe, acima da capacidade de manter viva a lembrança da mãe, pode produzir um estado que mais tarde se assemelha a uma tendência anti-social. 
 WINNICOTT, D.W. “Da Pediatria à Psicanálise”. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves E ditora, 1993.
Cap.18 – “Objetos Transicionais e Fenômenos Transicionais”. (1951) (pág. 316 -331)
- O autor inicia o capítulo comentando que todos os bebês, logo após o nascimento, tendem a usar punhos, dedos e polegares para estimular a zona erógena oral a fim de satisfazer seus instintos.
- Após alguns meses, os bebês de ambos os sexos passam a gostar de brincar com bonecos e as mães geralmente permitem que seus bebês adotem algum objeto especial.
- Podemos encontrar uma ampla variação na sequência de eventos que se iniciam com o punho-na-boca do recém- nascido e o levam em certo momento a apegar-se a um ursinho, a uma boneca, a um brinquedo por vezes macio, por vezes duro.
- Winnicott introduz a expressão “objeto transicional” e “fenômeno transicional” para designar a área intermediária da experiência, entre:
o polegar e o ursinho,
o erotismo oral e a verdadeira relação objetal, 
a atividade da criatividade primária e a projeção do que já foi introjetado. 
- O objeto transicional representa a primeira posse “não-eu” da criança, tem um caráter de intermediação entre seu mundo internoe externo.
- De acordo com esta definição, o balbucio do bebê e o modo como uma criança experimenta uma canção de ninar, ocorrem numa área intermediária, na condição de fenômenos transicionais, juntamente com o uso de objetos que não fazem parte do corpo do bebê, mas que não são inteiramente reconhecidos como pertencentes à realidade exterior. 
- Portanto o objeto transicional é algo que definitivamente não está nem dentro, nem fora da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com essas situações e para demarcar seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno.
- Dessa forma, o objeto transicional está situado em uma zona intermediária, na qual a criança se exercita na experimentação com objetos e mesmo que estejam fora, sente como parte de si mesma.
-Segundo Winnicott, é frequente a referência ao “teste da realidade” e a uma clara distinção entre percepção e apercepção.
- Para explicar a constituição do objeto transicional, Winnicott remonta ao primeiro vínculo do bebê com o mundo externo, a relação com o seio materno.
- No princípio, o bebê tem uma ilusão de onipotência, vivenciando o seio como sendo parte do seu próprio corpo. Uma vez alcançada essa onipotência ilusória, a mãe de idealmente, ir iludindo o bebê pouco a pouco, fazendo com que o bebê adquira a noção de que o seio é uma “possessão”, no sentido de um objeto, mas que não é ele (“pertence-me, mas não sou eu”).
- Portanto, o objeto transicional ocupa um lugar que Winnicott chama de ilusão. Ao contrário do seio materno, que não está disponível constantemente, o objeto transicional é conservado pela criança. 
- Segundo o autor, os objetos transicionais ou fenômenos transicionais podem ser:
uma parte do lençol ou cobertor, que o bebê ou a criança leva à boca juntamente com os dedos;
um pedaço de pano, guardanapos ou lenços, dependendo do que esteja disponível; 
um pedaço de lã arrancado;
uma palavra ou uma melodia. 
- Todos eles se tornam vitalmente importantes para a criança, que os usa quando vai dormir, e que funcionam como uma defesa contra a ansiedade, especialmente a ansiedade depressiva.
- Em geral, esse objeto conserva a sua importância. Os pais ficam sabendo do seu valor e, muitas vezes, o levam nas viagens da família. 
- A mãe permite que ele fique sujo e mesmo malcheiroso, sabendo que se ela o lavar haverá uma ruptura na experiência do bebê, uma quebra que poderá destruir o valor e o significado do objeto.
- De acordo com Winnicott o padrão dos fenômenos transicionais começa a tornar-se perceptível por volta dos 4-6-8-12 meses de idade e variam de forma ampla.
- Os padrões estabelecidos no início perduram ao longo de toda a infância, de modo que o objeto original continua a ser absolutamente necessário na hora de dormir ou em momentos de solidão, ou quando surge a ameaça de um humor depressivo.
- Ao longo da infância, ursinhos, bonecas e brinquedos duros vão sendo adquiridos. É importante notar que não há qualquer diferença observável entre meninos e meninas quanto à posse do objeto transicional. 
- Quando o bebê passa a usar sons organizados, pode aparecer uma “palavra” para designar o objeto transicional. O nome dado pelo bebê para esses objetos é frequentemente significativo, e normalmente traz incorporada a parte de uma palavra usada pelos adultos. 
- Winnicott acrescenta que por vezes não há objeto transicional algum, exceto a mãe. Ou então o bebê pode estar perturbado emocionalmente e essa transição não pode ser usufruída.
Características especias no relacionamento com o objeto:
1) O bebê assume direitos sobre o objeto.
2) O objeto é afetuosamente acariciado tanto quanto amado com excitação.
3) Ele não deve mudar nunca, a não ser que a mudança seja provocada pelo bebê.
4) Ele deve sobreviver ao amor e também ao ódio instintivos e à agressividade.
5) Deve dar a impressão de proporcionar calor, ou de se mover, ou de ter textura, ou de ter vitalidade.
6) Ele vem de fora, do ponto de vista do adulto, mas não do ponto de vista do bebê. Ele também não vem de dentro: não é uma alucinação.
7) Seu destino é o de poder ser gradualmente descatexizado. Ele perde o sentido.
- Winnicott considera que esse tema se amplia, abarcando p brincar, a criação e a apreciação da arte, o sentimento religioso, o sonho, e também o fetiche, a mentira e o roubo, a origem e a perda dos sentimentos de afeição, a adição a drogas, o talismã do ritual obsessivo, e assim por diante.
A relação entre o objeto transicional e o simbolismo:
- De acordo com o autor, é verdade que um pedaço de cobertor (ou o que quer que seja) simboliza alguem objeto parcial, como por exemplo o seio materno. 
- No entanto, seu valor reside menos em seu simbolismo que em sua realidade: não ser o seio (ou a mãe) é tão importante quanto representar o seio (ou a mãe).
- Quando o simbolismo é empregado, o bebê já pode distinguir claramente entre fato e fantasia, entre objetos internos e externos.
- Winnicott acredita que o objeto transicional é o aspecto visível dessa travessia em direção à experimentação, desde a subjetividade até a objetividade.
Ilusão – desilusão:
- Para o autor, não existe possibilidade do bebê progredir do Princípio do Prazer para o Princípio da Realidade, sem a existência de uma mãe suficientemente boa.
- A mãe (não necessariamente a própria mãe do bebê) suficientemente boa é a que faz uma adaptação ativa às necessidades do bebê, de acordo com a crescente capacidade do bebê de suportar as falhas na adaptação e de tolerar os resultados da frustração.
- O sucesso ao cuidar de um bebê depende mais da devoção do que da inteligência ou do conhecimento.
- A mãe suficientemente boa parte de uma adaptação quase total às necessidades de seu bebê, e com o passar do tempo adapta-se cada vez menos inteiramente, de acordo com a capacidade crescente do bebê de lidar com suas falhas. 
- Os fenômenos transicionais pertencem ao reino da ilusão, o qual está localizado na base dos primórdios da experiência. 
- Após uma fase de “ilusão” a criança enfrenta a “desilusão”.
- Na primeira infância, essa região intermediária é indispensável para que se inicie um relacionamento entre o bebê e o mundo, e sua existência se deve à maternagem suficientemente boa.
- A continuidade (no tempo) do ambiente emocional externo e de elementos específicos do ambiente físico, tal como o objeto transicional, é essencial para o desenvolvimento emocional.
- A ligação e o afastamento do objeto transicional deixa em cada sujeito uma marca: fica na mente do indivíduo um espaço que, assim como o objeto transicional, é intermediário entre o mundo interno e o externo.
- Esse espaço transicional persiste ao longo de toda a vida.
- Será ocupado por atividades lúdicas e criativas como as artes, a música, entre outros, que “representam” o mundo externo para o exterior e, em certo sentido, representa a realidade para si mesmo.
- Seu aparecimento é sinal de que a mãe da primeira fase foi suficientemente boa.
- Pode ocorrer um desenvolvimento patológico, decorrente da dificuldade da criança de manter a lembrança da mãe viva em sua mente, entre elas: tendência anti-social, hipocondria, paranóia, psicose maníaco-depressiva e algumas formas de depressão.
O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL, O AMBIENTE FACILITADOR E A MÃE SUFICIENTEMENTE BOA 
- Para Winnicott o desenvolvimento emocional está estreitamente ligado ao princípio de que o bebê não constitui uma unidade em si mesmo.
- Nesse sentido, a mãe (ou o cuidador) inicialmente é quem se torna a representação do meio ambiente.
- Este ambiente seria facilitador na medida em que provê as necessidades básicas e os cuidados ao bebê, que serão a base da sua saúde mental. 
- As necessidades da criança nos primórdios de sua vida são absolutas e assim, o bebê depende da disponibilidade de um adulto verdadeiramente preocupado com seus cuidados.
- A origem da vida psíquica ocorre num contexto em que a criança vai gradualmente criando um meio ambiente pessoal, capacidade que vai se desenvolvendoe propiciando uma movimentação da dependência absoluta para a independência (e dessa passagem depende a saúde mental).
- Winnicott aponta para a necessidade de uma mãe suficientemente boa, uma mãe-ambiente que funcionará de forma muito importante no início da vida do bebê.
- A mãe suficientemente boa sabe apresentar-se ao seu bebê como um suporte para os seus esporádicos contatos com a realidade.
- Como um ego auxiliar, a mãe satisfaz as necessidades iniciais do bebê e promove uma experiência fugaz de onipotência.
- O ego auxiliar da mãe propicia um ambiente facilitador da relação da criança com objetos subjetivos. 
PREOCUPAÇÃO MATERNA PRIMÁRIA
- Se a mãe e o bebê estão num estado temporário de fusão, que se requer no início da vida, é porque instaurou-se o que Winnicott (1956) denominou de “preocupação materna primária”. 
- Portanto, esta se caracteriza como um estado de verdadeira fusão emocional da mãe com seu bebê, no qual ela é o bebê, e o bebê ela. 
- Ao chegar ao fim da gravidez e nas primeiras semanas após o nascimento do bebê, a mãe está preocupada (devotada) com o cuidado do seu bebê, que de início parece ser parte dela mesma.
- Além disso, a mãe está muito identificada com o bebê e sabe muito bem como ele está se sentindo. 
- Em termos do amadurecimento emocional da criança, espera-se que esta caminhe da dependência absoluta para a independência.
- É possível classificar o processo maturacional do bebê em três fases:
1) Dependência absoluta: neste estado, o bebê (lactente) é completamente dependente da mãe, não tem meios de perceber o cuidado materno e não pode assumir controle sobre o que é bem ou mal feito.
2) Dependência relativa: aqui a criança começa a se dar conta da necessidade de detalhes do cuidado materno. Começa a ser capaz de esperar, de aguardar pela satisfação de suas necessidades e desejos. De certo modo, o bebê começa a se tornar consciente dessa dependência (seis meses aos dois anos).
3) Rumo à independência: a criança desenvolve meios para viver sem o cuidado real. Isso é obtido por meio do acúmulo de recordações do cuidado, da internalização de cuidados e da confiança nestes, aumentando a sua capacidade de suportar possíveis falhas ou ausências. Nessa etapa, a criança se torna gradativamente capaz de se defrontar com o mundo e todas as suas complexidades (período de latência – criança pré-escolar e puberdade).
- As falhas, portanto, as imperfeições, são inerentes ao processo de constituição do si mesmo (self), e das possibilidades de trocas humanas.
- Winnicott se refere à falha ambiental quando as condições não forem favoráveis no sentido descrito acima, e como consequência, defesas são criadas de acordo com os momentos em que as necessidades não foram minimamente supridas.
- Deve-se esperar que os adultos continuem o processo de crescer e amadurecer, uma vez que raramente atingem a maturidade completa e a identidade pessoal.
HOLDING: O SUPORTE MATERNO
- Para Winnicott, a criança nasce indefesa. É um ser desintegrado, que percebe de maneira desorganizada os estímulos provenientes do exterior.
- Mas o bebê nasce também com uma tendência para o desenvolvimento. A tarefa da mãe é de fornecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento satisfatório.
- O termo “holding”, provém do verbo inglês To hold que significa segurar, manter, ter capacidade para conter, aguentar, resistir, entre outros sinônimos.
- De acordo com Winnicott, o holding é uma das funções da “mãe suficientemente boa”, que tem como função dar suporte e sustentação ao bebê.
- Portanto, a função do holding em termos psicológicos é fornecer apoio egóico em particular na fase de dependência absoluta, antes do aparecimento da integração do ego.
- O holding inclui principalmente o segurar fisicamente o bebê, sustentando-a nos braços, o que constitui uma forma de amar.
- O holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da criança (tato, temperatura, sensibilidade auditiva e visual, sensibilidade às quedas) e inclui toda a rotina de cuidados com o bebê, ao longo do dia e da noite.
- O holding feito pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de não-integração (que caracteriza o recém-nascido) para a integração posterior.
- Portanto, o vínculo entre a mãe e o bebê assentará as bases para o desenvolvimento saudável das capacidades inatas do indivíduo.
- Winnicott denomina de handling o momento em que uma mãe segura seu bebê e o alimenta, percebe que ele está desconfortável e o muda de posição, troca sua fralda, lhe dá banho e exerce outras inúmeras tarefas.
- Já o holding é a disposição empática e afetiva para perceber e atender às necessidades do bebê, que se concretizam por meio do handling.
- Especificando esses termos, temos o holding como a “sustentação” praticada pela mãe ao bebê, um conjunto de comportamentos que visam apoiar a criança, como a amamentação, firmeza, o carinho e outras ações.
- O handling faz referência à manipulação do bebê pelas mãos cuidadosas da mãe e o seu contato físico com ele, que construirá as noções corporais ainda frágeis do bebê.
- Outro conceito importante da teoria winnicottiana, diz respeito ao “espaço potencial”, uma vez que a mãe suficientemente boa deve promover um ambiente de proteção e criar um espaço para que a criança possa experiment;ar a sua continuidade existencia.
 
 SELF VERDADEIRO E FALSO SELF
- O Self Verdadeiro diz respeito à experiência de viver considerada normal. Ele surge logo que começa a existir uma organização mental no indivíduo, se relacionando com o mundo externo.
- Portanto, o Self Verdadeiro corresponde ao sentir-se real, diz respeito a uma constituição psíquica normal.
 
- Isso acontece a partir de um “ambiente suficientemente bom”, que possibilite o desenvolvimento das potencialidades de um self primitivo, já que ele existe desde o nascimento, embora de forma extremamente frágil.
- Nos casos em que há falha da função materna em integrar as sensações corporais do bebê, a criança sente sua continuidade existencial ameaçada e procura substituir a proteção que lhe falta por outra “fabricada” por ela.
- A falha do papel materno é percebida pela criança como uma ameaça, e em resposta a este meio ameaçador, a criança se desenvolve emocionalmente com uma espécie de “casca”, que seria o Falso Self.
O MÉTODO PSICANALITICO:
 OBSERVAÇÃO DIRETA DA CRIANÇA
-Como pediatra, Winnicott tinha vasta experiência no trato com bebês e crianças de tenra idade, o que lhe propiciou desenvolver uma acurada análise dos comportamentos de bebê (também com fins psicanalíticos).
- Como seu objeto de estudo, interessava-se pelas reações e a direção dos interesses do bebê perante algum objeto. Os gestos por ele originados seriam, portanto, reveladores da qualidade da interação e da adaptação da criança ao ambiente circundante.
- Dessa forma, os gestos do bebê, seus comportamentos em relação ao ambiente e seus objetos reais podem revelar a atitude do bebê diante do mundo, atitude subjetiva que comporta a sua realidade psíquica, suas pulsões agressivas e suas pulsões criativas - o que revelaria a avidez da criança diante do mundo.
- Para tanto, Winnicott utilizou o método da observação como um meio de se chegar a uma interpretação dos conteúdos do psiquismo humano (como o bebê interage com o objeto).
- Portanto, isso permitiria ter acesso aos elementos do mundo subjetivo do bebê, de sua organização e de sua dinâmica interno-externo – o que oferece importantes indicações sobre o seu desenvolvimento emocional.
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA
- A transferência e a contratransferência na clínica winnicottiana, estão diretamente vinculadas aos princípios e conceitos relacionados à criação do objeto subjetivo.
- A base do trabalho clínico encontra-se na elaboração sobre as relações mãe-criança, como a criança “cria” sua representação de mãe, que está estreitamente vinculada ao surgimento dofenômeno da ilusão. 
- Para tanto, o analista precisará realizar um trabalho que leve em conta a organização única do self do paciente.
- Dessa forma, instaura-se a possibilidade de brincar do analista, aceitando ser “criado” pelo paciente, assim como também ser “destruído” por este, ou seja, se colocando no lugar de objeto subjetivo.
- Partindo da relação mãe-bebê, a clínica psicanalítica de Winnicott utiliza as possibilidades de constituição do psiquismo, da ideia de “holding”: a atenção do analista e o seu trabalho interpretativo criam o ambiente que propiciará a evolução do tratamento, isto é, reproduz-se o ambiente de holding dos cuidados maternos no setting terapêutico.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
WINNICOTT, D.W. “O ambiente e os processos de maturação”. Porto Alegre: Artmed, 1983.
WINNICOTT, D.W. “Da Pediatria à Psicanálise”. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1993.
WINNICOTT, D.W. “Privação e delinquência”. São Paulo: WMF Martins Fontes, 5ª ed., 2012.
AGRESSÃO:
- De acordo com Winnicott, amor e ódio constituem dois principais elementos a partir dos quais se constroem as relações humanas. 
- O amor e o ódio envolvem agressividade, a agressão pode ser um sintoma de medo.
- Segundo o autor, no bebê existe amor e ódio com plena intensidade humana.
- O amor e o ódio são experimentados violentamente tanto por bebê como pelo adulto.
- Pode-se considerar que a agressividade é instintiva, ou seja, o bebê tem uma grande capacidade para a destruição, assim como tem também uma grande capacidade para proteger o que ama de sua própria destrutividade.
- Winnicott considera a existência de uma agressividade primária do bebê em relação à mãe. O próprio ato de morder o seio materno pode ser a expressão disso, pois o bebê morde principalmente quando está excitado e não sabe, simplesmente, o que fazer com essa excitação.
- Portanto, é possível considerar que há um jogo de forças destrutivas no interior da personalidade da criança, como também há forças boas, que se encontram em pleno vigor.
- Desta forma, por meio de jogos e brincadeiras é possível que um menino, por exemplo, quando lute boxe ou chute uma bola, tenha uma ação que possa ser desfrutada como prazer, uma vez que estaria eliminando um sentimento de frustração, inconscientemente expulsando a maldade através dos punhos e dos pés.
- É tarefa do adulto, impedir que essa agressão fuja ao controle, proporcionando uma autoridade confiante e apresentando à criança os limites e regras impostas pelo meio ambiente.
- A retirada gradual dessa autoridade é uma parte importante do lidar com adolescentes, segundo suas capacidades de tolerar a retirada da autoridade imposta.
- É tarefa de pais e professores cuidar para que as crianças nunca se vejam diante de uma autoridade tão fraca a ponto de ficarem livres de qualquer controle ou limites.
- Também deve haver o controle da agressividade madura, aquela que se observa nitidamente em meninos adolescentes e que motiva a competição dos adolescentes em jogos ou no trabalho.
- Um dos objetivos na construção da personalidade é tornar o indivíduo capaz de drenar cada vez mais o instintual. Isso envolve uma capacidade crescente para reconhecer a própria crueldade e avidez.
RAÍZES DA AGRESSÃO:
- A agressão pode ser expressa pelas crianças quando estas gritam, mordem, dão pontapés, puxam os cabelos e têm impulsos agressivos ou destrutivos.
- A respeito das raízes da agressividade, Winnicott considera que a agressão tem dois significados:
1) Constitui direta ou indiretamente uma reação à frustração.
2) É uma das muitas fontes de energia de um indivíduo.
- Segundo o autor, todos os indivíduos são semelhantes em sua essência em termos de natureza humana, o mesmo ocorrendo com o potencial agressivo.
- Pode ser que uma criança tenda para a agressividade e outra dificilmente revele qualquer sintoma de agressividade, embora ambas vivam a mesma situação.
- O que acontece de fato é que essas duas crianças podem lidar de maneiras distintas com suas cargas e impulsos agressivos.
- O início da agressividade num individuo pode ser encontrada no fato do próprio movimento do bebê. Este ocorre desde antes do nascer (movimentos bruscos das pernas, pontapés na barriga da mãe).
- Portanto, existe em toda criança uma tendência para movimentar-se e obter alguma espécie de prazer muscular no movimento.
- Podemos compreender que essas primeiras pancadas infantis levam a uma descoberta do mundo que não é o eu da criança e ao começo de uma relação com objetos externos. 
- O que logo será um comportamento agressivo não passa de um simples impulso que leva a um movimento e aos primeiros passos de uma exploração.
- Desta forma, a agressão está sempre ligada ao estabelecimento de uma distinção entre o que é e o que não é o eu.
- No desenvolvimento do recém-nascido existem, portanto, os primeiros movimentos naturais e os gritos, que podem ser agradáveis, mas que não têm um significado claramente agressivo, pois a criança ainda não está devidamente organizada como pessoa.
- Na mágica infantil, o mundo pode ser aniquilado num abrir e fechar de olhos e recriado através de um novo olhar.
- Pode-se concluir que o mundo infantil deve ser experimentado, por meio da construção e da destruição (agressão), o que será a base para o processo de maturação emocional.
NATUREZA E ORIGENS DA TENDÊNCIA ANTISSOCIAL:
- Os estágios iniciais do desenvolvimento emocional estão repletos de conflito e desintegração potenciais. A relação com a realidade externa ainda não está firmemente enraizada; a personalidade ainda não está bem integrada e a criança pequena ainda não aprendeu a tolerar e enfrentar os instintos.
- A criança cujo lar não lhe ofereceu um sentimento de segurança busca fora de casa essa estabilidade. Pode ainda recorrer aos avós, tios e tias, amigos da família ou escola.
- No decorrer dos primeiros meses e anos de vida, terá avançado da dependência e da necessidade de ser cuidada, para a independência.
- É frequente a criança obter em suas relações e na escola o que lhe faltou no próprio lar.
- A criança antissocial simplesmente recorre à sociedade em vez de recorrer à família ou à escola para lhe fornecer a estabilidade de que necessita, a fim de transpor os primeiros e essenciais estágios de seu crescimento emocional.
- A relação com a figura materna e, posteriormente, a autoridade paterna deve colocar um limite ao efeito concreto de seu comportamento impulsivo.
- Somente quando a figura paterna é rigorosa e forte a criança pode recuperar seus impulsos primitivos de amor, seu sentimento de culpa e seu desejo de corrigir-se. 
- Portanto o delinquente poderá se tornar cada vez mais inibido no amor e, por conseguinte, cada vez mais deprimido e despersonalizado, tornando-se totalmente incapaz de sentir a realidade externa, exceto a realidade da violência. 
- O comportamento antissocial nada mais é do que um SOS, pedindo o controle de pessoas fortes, amorosas e confiantes.
- A criança transgride contra a sociedade (sem saber o que está fazendo) a fim de restabelecer o controle proveniente do exterior. 
- A criança antissocial não teve a oportunidade de criar um bom “ambiente interno” e necessita absolutamente de um controle externo para se capaz de ser feliz, brincar ou trabalhar.
- A criança privada de uma vida familiar, muitas vezes, acaba sendo negligenciada em relação aos seus cuidados e às suas necessidades básicas. 
- A tendência antissocial pode ser encontrada num indivíduo normal ou num indivíduo neurótico ou psicótico, podendo também ser encontrada em todas as idades.
- Uma criança sofre privação quando passam a lhe faltar certas características essenciais na vida familiar e, portanto, será considerada desajustada.
- Existem duas direções na tendência antissocial: uma representada tipicamente pelo roubo e a outra pela destrutividade.
- A manifestação da tendência antissocial inclui o furto, o roubo, a mentira e uma conduta desordenada. 
- Na base da tendência antissocial está uma boaexperiência inicial que se perdeu.
- O momento de privação original ocorre durante o período em que o ego do bebê ou da criança pequena está em processo de realização da fusão das raízes libidinais e agressivas do id.
- Como possibilidade de tratamento, é o ambiente quem deve dar uma nova oportunidade à ligação egóica, uma vez que a criança vivenciou uma falha ambiental no apoio ao ego, que originou a tendência antissocial. 
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