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Anemia e Policitemia Hematopoiese refere-se ao processo de produção dos elementos figurados do sangue. O processo é regulado por várias etapas, que começa com a célula-tronco hematopoiética pluripotente. As células-tronco têm a capacidade de produzir eritrócitos, granulócitos de todas as classes, monócitos, plaquetas e células do sistema imune. O mecanismo responsável pela produção dos eritrócitos é denominado “eritron”. O eritron é um órgão dinâmico, constituído por um reservatório de células precursoras eritróides medulares de rápida proliferação e uma grande massa de eritrócitos circulantes maduros. O tamanho da massa eritrocitária reflete o equilíbrio entre a produção e a destruição dos eritrócitos. O regulador fisiológico da produção de eritrócitos, o hormônio glicoprotéico Eritropoietina, é sintetizado e liberado por células de revestimento dos capilares peritubulares no rim. Os hepatócitos também sintetizam uma pequena quantidade de EPO. O estímulo fundamental para a produção de EPO é a disponibilidade de O2 para as necessidades metabólicas dos tecidos. Uma oferta deficiente de O2 ao rim pode resultar de diminuição da massa eritrocitária (anemia), da ligação do O2 à molécula de hemoglobina (hipoxemia) ou, raramente, do fluxo sanguíneo para o rim (estenose de artéria renal). A EPO pode ser medida no plasma por imunoensaio sensível, e seu valor normal é 10-25U/L. Na circulação, a EPO tem meia-vida de depuração de 6-9h e atua mediante sua ligação a receptores específicos na superfície dos precursores eritróides medulares, que induzem a proliferação e sua maturação. Sob o estímulo da EPO, a produção de eritrócitos pode aumentar 4-5 vezes em um período de 1-2semanas, porém apenas na presença de nutrientes adequados, particularmente o ferro. Anemia: Manifestações clínicas da anemia – sinais e sintomas: A anemia aguda é quase sempre causada por perda de sangue ou hemólise. Se a perda de sangue for leve, ocorre aumento da liberação de O2 graças a alterações na curva de dissociação da O2-hemoglobina mediadas por uma redução do pH ou aumento do CO2 (efeito Bohr). Em caso de perda aguda de sangue, a hipovolemia domina o quadro, e o Ht e a Hb não refletem o volume de sangue perdido. Surgem sinais de instabilidade vascular com perdas agudas de 15% do volume total, sendo a hipotensão e a redução da perfusão dos órgãos os principais problemas. Quando ocorre perda súbita de >30% do volume sanguíneo, o paciente apresenta hipotensão postural e taquicardia ao assumir a posição ortostática. Se for >40% aparecem sinais de choque hipovolêmico, incluindo confusão, dispnéia, sudorese, hipotensão, taquicardia. Na doença hemolítica aguda, os sinais e sintomas dependem do mecanismo que leva à destruição dos eritrócitos. A hemólise intravascular com liberação de hemoglobina livre pode estar associada a dor lombar aguda, hemoglobina livre no plasma e na urina e insuficiência renal. Os sintomas associados a anemia mais crônica dependem da idade do paciente e do suprimento adequado para órgãos críticos. Os sintomas associados a anemia moderada incluem fadiga, perda de energia, dispnéia e taquicardia(particularmente com esforços físicos). Todavia, em virtude dos mecanismos compensatórios que governam a curva de dissociação da O2-hemoglobina, o início gradual da anemia- particularmente em jovens- pode ser desacompanhado de sinais ou sintomas até que a anemia se torne grave [Hb<70-80g/l (7- 8g/dl)]. Por fim, uma proteção adicional do transporte de O2 para os órgãos vitais é alcançada pelo desvio de sangue de órgãos relativamente ricos em suprimento sanguíneo particularmente os rins, o intestino e a pele. Certos distúrbios estão comumente associados à anemia. Os estados inflamatórios crônicos (ex infecção, artrite reumatóide) estão associados a anemia leve a moderada, enquanto distúrbios linfoproliferativos, como a leucemia linfocítica crônica e certas outras neoplasias de células B, podem causar hemólise auto-imune. Abordagem ao paciente: No paciente anêmico, o exame físico pode revelar um batimento cardíaco vigoroso, pulsos periféricos fortes e sopro sistólico “de fluxo”. A pele e as mucosas podem estar pálidas se o nível de Hb for <80-100g/l (8- 10g/dl). Esta parte do exame deve-se concentrar nas áreas onde os vasos estão perto da superfície, como as mucosas, os leitos ungueais e as pregas palmares. Se a coloração das pregas palmares for mais clara que a pele circundante com a mão em hiperextensão, o nível de Hb é habitualmente <80g//(8g/dl). Avaliação laboratorial: O hemograma completo inclui o nível de Hb, Ht e os índices eritrocitários: o volume corpuscular médio (VCM), expresso em fentolitros; a hemoglobina corpuscular média (HCM), em picogramas por célula; e a concentração de hemoglobina corpuscular média por volume de eritrócitos (CHCM), em gramas por litro. Diversos fatores fisiológicos afetam os valores normais do hemograma completo, incluindo a idade, sexo, a gravidez, o tabagismo e a altitude. Outras informações importantes são obtidas com a contagem de leucócitos e as determinações do suprimento de ferro (TIBC;uma medida indireta do nível de transferrina) e a ferritina sérica. Alterações acentuadas nos índices eritrocitários geralmente refletem distúrbios da maturação ou deficiência de ferro. Os laboratórios clínicos também fornecem uma descrição da morfologia dos eritrócitos e leucócitos, contagem diferencial e contagem plaquetária. Em pacientes com anemia grave e anormalidades na morfologia dos eritrócitos, o aspirado ou a biopsia de medula óssea podem ser importantes para ajudar a estabelecer o diagnóstico. Os componentes do hemograma também ajudam na classificação da anemia. A microcitose reflete-se por um VCM <80, enquanto valores >100 indicam macrocitose. A HCM e a CHCM refletem defeitos na síntese de Hb (hipocromia). Os contadores celulares automáticos descrevem o índice de anisocitose (RDW). O VCM(que representa o pico da curva dedistribuição) não é sensível ao aparecimento de pequenas populações de macrócitos ou micrócitos. Esfregaço de sangue periférico: fornece informações importantes sobre defeitos na produção dos eritrócitos. Também revela a presença de variações no tamanho (anisocitose) e na forma (pecilocitose) das células. A pecilocitose sugere um defeito na maturação dos precursores eritróides na medula óssea ou a ocorrência de fragmentação dos eritrócitos circulantes. O esfregaço sanguíneo também pode revelar a existência de policromasia- eritrócitos ligeiramente maiores do que o normal. Essas células consistem em reticulócitos que foram liberados prematuramente da medula óssea. Essas células aparecem na circulação em resposta à estimulação de EPO ou a alguma lesão estrutural da medula óssea, resultando em sua liberação desordenada pela medula. Contagem de reticulócitos: os reticulócitos são eritrócitos recém liberados da medula óssea. Em condições normais, a contagem de reticulócitos varia de 1-2%. A contagem de reticulócitos fornece uma medida confiável da produção de eritrócitos. Testes de suprimento e armazenamento do ferro: As medidas laboratoriais que refletem a disponibilidade de ferro para a síntese de hemoglobina incluem o ferro sérico, a TIBC e a porcentagem de saturação da transferrina. A porcentagem da saturação de transferrina é obtida ao dividir-se o nível sérico de ferro (x100) pela TIBC. Os níveis séricos normais de ferro variam de 9-27micromol/l(50-150microg/dl), enquanto a TIBC normal é de 54-64micromol/l (300-360microg/dl). A saturação da transferrina varia de 25-50%. Utiliza-se o nível sérico de ferritina para avaliar as reservas corporais de ferro. Como regra, um nível sérico de ferritina >200microg/l