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Impacto subacromial Christy Schuckman CASO 1 Um homem destro com 18 anos de idade, segundo prescrição de um ortope- dista, procura uma clínica de fisioterapia para avaliação e tratamento de im- pacto subacromial no ombro direito. Diz ter começado a sentir dores no ombro, há umas quatro semanas, e atribui essa condição ao fato de ter jogado tênis três vezes na semana anterior depois de um inverno inteiro sem praticar esse esporte. A dor no ombro aumenta quando ele estende o braço para a frente, tenta levar a mão às costas, levanta qualquer tipo de peso com o braço direito ou joga tênis. Além disso, o paciente relata que não consegue enfiar o cinto na presilha na parte de trás, nem enfiar a camisa dentro da calça nas costas, embora fizesse esses movimentos antes sem nenhuma dificuldade. A única po- sição que alivia a dor nas costas é deixar o braço na lateral do corpo. O médico receitou-lhe medicamentos anti-inflamatórios não esteroides, e isso ajudou a reduzir a intensidade da dor. O raio X (tirado pelo médico no consultório) das articulações glenoumeral e acromioclavicular deu negativo para anormalidades ósseas e déficits estruturais. Além disso, não há nada notável na história médi- ca do paciente. De acordo com o diagnóstico do paciente, que fatores podem ter contribuído para essa condição? Que sinais podem estar associados a esse diagnóstico no exame? Quais são as intervenções de fisioterapia mais apropriadas? Que possíveis complicações podem limitar a eficácia da fisioterapia? 6 CASOS CLÍNICOS EM FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA DEFINIÇÕES-CHAVE DISCINESIA ESCAPULAR: alterações visíveis na posição escapular e nos padrões de mo- vimento. SÍNDROME DO IMPACTO SUBACROMIAL: compressão, aprisionamento ou irritação mecânica dos tendões do manguito rotador sob o arco coracoacromial. Objetivos 1. Descrever a síndrome do impacto subacromial. 2. Identificar possíveis causas da síndrome do impacto subacromial. 3. Discutir sinais e sintomas da síndrome do impacto subacromial de acordo com os achados do exame. 4. Prescrever exercícios apropriados para a amplitude do movimento articular e para a flexibilidade muscular do indivíduo com síndrome do impacto subacromial. 5. Prescrever exercícios de resistência apropriados para uma pessoa com síndrome do impacto subacromial. Considerações sobre a fisioterapia (FT) Considerações sobre a FT no tratamento de indivíduos com diagnóstico de síndrome do impacto subacromial: Cuidados/objetivos do plano geral de fisioterapia: reduzir a dor; aumentar a amplitude de movimento da articulação glenoumeral; aumentar a flexibilidade muscular; aumentar a força do manguito rotador e dos músculos escapulares; melhorar o funcionamento em atividades de vida diárias (AVDs). Intervenções de fisioterapia: explicar ao paciente a anatomia do ombro e a patologia mecânica do diagnóstico; prescrever modalidades terapêuticas necessárias à redução da dor, terapia manual para reduzir a dor e melhorar o movimento articular e a flexibili- dade muscular, exercícios para a amplitude de movimento e flexibilidade, exercícios de resistência para aumentar a força e a resistência muscular e exercícios proprioceptivos para promover o controle articular e muscular. Precauções durante a fisioterapia: monitorar os sinais vitais; abordar precauções ou contraindicações relativas aos exercícios de acordo com condições preexistentes. Complicações que interferem na fisioterapia: falta de comprometimento do paciente com o programa de exercícios. Visão geral da patologia A dor no ombro afeta 16 a 21% da população adulta dos Estados Unidos, cedendo lugar apenas para a dor nas costas, em termos de prevalência total de condições musculoes- queléticas.1-4 A síndrome do impacto subacromial (SISA) é responsável por 44 a 60% de todas as condições causadoras de dor no ombro.3,5,6 A síndrome do impacto envolve degeneração e/ou compressão mecânica das estruturas do tecido mole.3 No caso da SISA, SEÇÃO II: TRINTA E QUATRO CASOS CLÍNICOS 7 o manguito rotador, a cabeça longa do bíceps e a bolsa subacromial ficam comprimidos entre o acrômio, o ligamento coracoacromial e a cabeça do úmero.3,7,8 A etiologia da SISA é multifatorial – causada por mecanismos extrínsecos e/ou intrínsecos. Os mecanismos extrínsecos de compressão incluem fatores anatômicos, fa- tores biomecânicos ou uma combinação dos dois.9 As variações anatômicas que podem estreitar o espaço subacromial incluem variações da forma do acrômio9-13 e da orientação da curvatura, ou do ângulo do acrômio,9,14-17 e mudanças ósseas na articulação acro- mioclavicular (AC) ou no ligamento coracoacromial.9,13,18,19 Osteófitos nas articulações subacromial e AC são outro fator anatômico que pode contribuir para o impacto do manguito rotador.9 Os fatores mecânicos que levam à síndrome do impacto subacromial incluem anormalidades na cinemática escapular e umeral, anormalidades de postura, fra- queza do manguito rotador e dos músculos escapulares e redução da flexibilidade dos te- cidos do peitoral menor ou da parte posterior do ombro.9 Os mecanismos intrínsecos da tendinopatia do manguito rotador capazes de levar à SISA são resultados de degeneração do tendão em função do processo normal de envelhecimento,9,20-23 problemas de vascu- larização,9,24-28 biologia alterada9,20,29-31 e propriedades mecânicas inferiores resultantes de danos de cargas elásticas ou de cisalhamento.9,32-35 Foi observado que pacientes com tendinopatia do manguito rotador apresentam redução do conteúdo total de colágeno, aumento da proporção das fibras de colágeno do tipo III e maior morte celular nos ten- dões em comparação com tendões normais.9,31,36,37 Esses fatores podem contribuir para o afilamento e enfraquecimento dos tendões do manguito rotador, levando ao impac- to.9,38,39 As opções de tratamento não cirúrgico da SISA incluem fisioterapia, medicação oral e injeções. Embora sejam necessárias outras pesquisas, há estudos que demonstram redução da dor e melhora da função a partir de programas de reabilitação não cirúrgica com SISA.40 Quando as intervenções não cirúrgicas são ineficazes na eliminação dos sin- tomas, indica-se a descompressão cirúrgica do espaço subacromial.3 Manejo da fisioterapia do paciente Há uma série de intervenções fisioterapêuticas para casos de SISA de acordo com a apre- sentação do paciente. Essas intervenções podem incluir modalidades terapeuticas, terapia manual, exercício terapêutico (que abrange treinamento de alongamento e resistência), educação postural e fornecimento de instruções ao paciente sobre o modo de prevenção de problemas recorrentes no futuro.3,9,40 Em alguns casos, o paciente não se beneficia das intervenções de fisioterapia e precisa ser encaminhado a um médico ortopedista para uma consulta cirúrgica. O procedimento padrão consiste em prescrever fisioterapia de três a seis semanas (6 a 12 visitas) antes de considerar a consulta cirúrgica.3 Exame, avaliação e diagnóstico Ao examinar um indivíduo com SISA, é importante iniciar com uma avaliação abran- gente do paciente. A história do paciente, com frequência, contém descrições de trabalho ou atividade esportiva de levantamento de peso repetitivo, envolvendo movimentos que agravam a dor no ombro.3 Pode ser que o paciente se queixe de dor no aspecto anterior do ombro quando faz movimentos que reduzem o tamanho do espaço subacromial, causan- 8 CASOS CLÍNICOS EM FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA do impacto da bolsa subacromial, da cabeça longa do bíceps ou dos tendões do manguito rotador. As limitações funcionais do paciente devem ser discutidas, uma vez que, em ge- ral, essas são as razões primárias que levam à busca de tratamento. Além de mudanças nas mensurações objetivas, melhorias em tarefas funcionais (p. ex., conseguir passar o cinto pela fivelade trás ou enfiar a camisa na parte de trás das calças) podem ser usadas para documentar avanços na fisioterapia. Deve-se perguntar também sobre a história médica prévia, as medicações atuais e as imagens diagnósticas já realizadas. Uma avaliação objetiva e abrangente começa pelo exame da coluna cervical para eliminar, da etiologia da dor no ombro, sintomas reflexos oriundos do pescoço. A ine- xistência de restrições na amplitude de movimento cervical ativa e a ausência de proble- mas no exame neurológico do quadrante superior (testes dos dermátomos, miótomos e reflexos do tendão profundo de C5-C8) ajudam a eliminar um suposto envolvimento da coluna cervical.3,41 Na Tabela 1.1, há um resumo do exame objetivo de um paciente com suspeita de SISA. O fisioterapeuta deve observar com atenção a postura do paciente de pé nas visões posterior e lateral. A partir da visão posterior, observe atrofias nos músculos do manguito rotador nas fossas infraespinal e supraespinal. Compare a altura dos ombros e identifique a presença de escápula alada quando o paciente deixa os braços nas laterais. Em função do aumento da atividade do trapézio superior e de redução da força do serrátil anterior, pode haver elevação do ombro envolvido e escápula alada.42 A partir da visão lateral, avalie a presença de cifose torácica excessiva e protração do ombro.43 Os pacientes com SISA, com frequência, apresentam aumento da cifose torácica e redução da mobilidade torácica, e isso pode alterar os padrões de movimento.42,44 O ombro afetado pela SISA costuma ficar em uma posição protraída devido ao aumento da cifose torácica e à rigidez do músculo peitoral menor.45 Essas duas anormalidades posturais contribuem para redu- ção do espaço subacromial e para o impacto dos tecidos subjacentes.9,45 Durante a movimentação do ombro, na amplitude ativa, os pacientes com SISA podem apresentar discinesia escapular. Essa condição refere-se a alterações visíveis na posição escapular e nos padrões do movimento.46 A discinesia do ombro pode ser cau- sada por encurtamento adaptativo do músculo peitoral menor,42,43,47,48 rigidez posterior do ombro,9,49 redução da força da escápula e do manguito rotador9,45 e aumento da cifose torácica.9,42,44,50 Geralmente, o ombro afetado apresenta redução da inclinação posterior escapular, diminuição da rotação superior e aumento da rotação interna da escápula.9,42 Com isso, o aspecto anterior do acrômio não consegue se afastar da cabeça do úmero durante a flexão do ombro, contribuindo para a redução do espaço acromial e para im- pacto do manguito rotador.9,42 Um método para identificar a discinesia escapular é o teste específico (Teste de Discinesia Escapular, Fig. 1.1).46 O paciente faz cinco repetições de flexão ativa bilateral do ombro com pesos, seguidas de abdução ativa bilateral do ombro com pesos, enquanto o fisioterapeuta observa todos os movimentos a partir das visões posterior e superior.46 O resultado será positivo para disci- nesia escapular no ombro se o paciente apresentar escápula alada, disritmia ou ambos.3,46,51 A avaliação da força muscular, durante a parte objetiva do exame, ajuda a identifi- car posteriormente os fatores que contribuíram para a SISA. A fraqueza do serrátil ante- rior e dos trapézios inferior e médio pode levar a uma alteração da cinemática escapular em pacientes com SISA.3,9,42,52 Os músculos serrátil e trapézio estabilizam a escápula e produzem rotações superior e externa e/ou a inclinação posterior da escápula, para pos- SEÇÃO II: TRINTA E QUATRO CASOS CLÍNICOS 9 sibilitar que a cabeça do úmero libere o acrômio durante a elevação do ombro.9,53 Os pacientes com SISA reclamam com frequência de aumento da dor e redução da força no momento da flexão do ombro. Isso se deve à fraqueza escapular e à alteração cinemática no ombro afetado, o que leva ao impacto do manguito rotador no espaço subacromial. Em um estudo realizado por Tate et al.,54 o reposicionamento manual da escápula (usan- do o Teste de Reposição da Escápula) resultou menos dor durante o teste de impacto e au- mento da força em atletas com resultado positivo neste último teste. O Teste de Reposição da Escápula envolve a inclinação posterior, a rotação externa e a retração da escápula manualmente, a fim de possibilitar a mecânica escapular normal, ocorrida na elevação do ombro, para prevenir o impacto do manguito rotador (Fig. 1.2). Tabela 1.1 RESUMO DO EXAME OBJETIVO DO PACIENTE COM SUSPEITA DE SISA Teste Posição e movimentação do paciente Descobertas positivas Observação da postura Amplitude de movimento ativa Amplitude de movimento passiva Teste muscular manual: 1. Redondo menor e infraespinal 2. Subescapular 3. Supraespinal 4. Serrátil anterior 5. Trapézio médio 6. Trapézio inferior Visão posterior de pé Visão lateral de pé 1. Flexão do ombro de pé 2. Abdução do ombro de pé 3. Rotação externa (RE) de pé com o cotovelo a 90° 4. Rotação interna (RI) de pé: peça ao paciente para colocar o polegar atrás das costas, medir o polegar em relação ao processo espinal 1. Flexão do ombro em supino 2. Abdução do ombro em supino 3. Abdução do ombro 90o em supino com RE 4. Abudção do ombro 90 o em supino com RI O fisioterapeuta aplica força na direção oposta à ação do músculo 1. De pé, com RE, braço na lateral e cotovelo em 90o 2. De pé, com RI, braço na lateral e cotovelo em 90o 3. De pé, com abdução horizontal do ombro em 40o anterior ao plano frontal 4. Sentado, ombro em 120o de flexão 5. Em prono, ombro em 90o de abdução horizontal com RE 6. Em prono, com braço paralelo ao corpo e ombro em 145o de abdução horizontal Visão posterior: atrofia do infraes- pinal e do supraespinal; escápula alada Visão lateral: cifose torácica, ombro protraído Arco doloroso no movimento de flexão (60 a 120o) do ombro Dor no final da amplitude da flexão e/ou abdução do ombro Redução da RI do lado afetado, como demonstrado pela incapaci- dade de tocar o processo espinal como se faz com o ombro não afetado Redução da RI no lado afetado Qualquer um dos músculos testados pode ser classificado como fraco, mas é mais comum que haja fraqueza no supraespinal (principalmente devido à dor) e nos escapulares (serrátil anterior, trapézio médio e trapézio inferior) 10 CASOS CLÍNICOS EM FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA Além do teste de força dos estabilizadores escapulares, também devem ser realiza- dos os testes manuais dos músculos supraespinal, redondo menor, infraespinal e subes- capular. Com frequência, esses músculos apresentam fraqueza, e o teste de força pode provocar aumento da dor em pacientes com SISA.3 Os testes especiais do ombro (Tab. 1.2) devem ser feitos no final do exame muscu- loesquelético. Os testes de impacto que podem ajudar a confirmar o diagnóstico de SISA são o Teste de Neer, o Teste de Hawkins e o Teste da Lata Vazia. Tate et al.3 registraram que os pacientes com SISA apresentam as seguintes características: (1) resultado positivo Figura 1.1 Teste de Discinesia Esca pular. O paciente faz 5 repetições de flexão do ombro com pesos nas mãos, enquanto o fisioterapeuta acompanha o movimento escapular do pacien- te. Observe a presença clara de escápula alada à direita. Figura 1.2 Fisioterapeuta realizando o Teste de Reposição da Escápula. SEÇÃO II: TRINTA E QUATRO CASOS CLÍNICOS 11 Tabela 1.2 TESTES ESPECIAIS ASSOCIADOS COM A SÍNDROME DE IMPINGIDELA57 Teste especial Posição do paciente Descobertas Teste de impacto de Neer Teste de impacto de Hawkins Teste da lata vazia Teste de discinesia escapular Teste de reposição escapular Paciente sentado ou de pé: o fisioterapeuta flexiona passivamente o ombrodo pa- ciente para a frente, enquanto estabiliza a escápula com a outra mão Paciente sentado ou de pé: o fisioterapeuta flexiona passivamente o ombro do paciente a 90o e faz a rotação interna do ombro com o cotovelo flexionado a 90o Paciente sentado ou de pé: o paciente flexiona o ombro a 90o no plano escapular, com rotação interna completa (polegar para baixo) e resiste à pressão para baixo exerci- da pelo fisioterapeuta sobre o seu punho Paciente de pé: o paciente faz 5 repetições de flexão de ombro, segurando um peso (2,3 kg para pessoas com peso > 68 kg; 1,4 para < 68 kg)3 Paciente de pé: o fisioterapeuta aplica uma força moderada à escápula do paciente para encorajar a inclinação posterior e a rotação externa da escápula Teste positivo: dor na flexão total forçada é sinal positivo de impacto do supraespinal Teste positivo: dor é um sinal positivo de tendinite/impacto do supraespinal Teste positivo: dor e/ou fraqueza muscular é um sinal positivo de tendinite/impacto Os pacientes são classificados em três categorias: movimento escapular normal, anormalidades sutis ou anormalidades óbvias. As anormalidades são definidas como alada ou disritmia3 O reposicionamento manual da escápula reduz a dor e aumenta a força de elevação do ombro em pacientes com impacto no teste de Neer, de Hawkins ou da Lata Vazia; (2) dor no arco de movimento do ombro; (3) dor ou fraqueza na rotação externa do ombro com resistência e braço na lateral. Kelly et al. descobriram que o teste de Hawkins é o mais preciso no diagnóstico de qualquer grau da SISA. Um estudo feito por Calis et al.56 revelou que o Teste de Hawkins é o mais sensível para diagnosticar o impacto do ombro, seguido pelo de Neer. Testes especiais adicionais devem ser feitos para eliminar suspeitas de rupturas do lábio glenoidal, do manguito rotador e de instabilidade do ombro. Plano de atendimento e intervenções Nas intervenções de fisioterapia para pacientes com SISA, devem ser considerados déficits e limitações identificados no exame objetivo. Os exercícios terapêuticos tem se mostrado positivo no tratamento de desequilíbrios musculares e na restauração de padrões de movimento normais.3,40,58 As técnicas de fisioterapia ajudam na redução da dor, no aumento da amplitude de movimento e na melhora da função nesses pa- cientes.3 Vários estudos têm avaliado a eficácia dos programas de exercícios terapêuticos em casos de SISA. Tate et al.3 avaliaram uma intervenção de três fases, com duração de seis a oito semanas, para pacientes com SISA. O plano incluía fortalecimento progressivo, 12 CASOS CLÍNICOS EM FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA alongamento manual, manipulações com e sem thrust para o ombro e a coluna, forne- cimento de instruções ao paciente, modificação de atividades e programa de exercício diário, realizado em casa, para alongamento e fortalecimento, conforme a Tabela 1.3. Oito dos dez sujeitos relataram resultados bem-sucedidos com base na melhora sintomática e funcional após a conclusão do programa de tratamento. As medições feitas para definir o êxito incluíram: as três perguntas da subescala de dor da Penn Shoulder Scale; o questio- nário DASH (Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand) sobre problemas no braço, no ombro e na mão; e a pergunta do GRC (Global Rating of Change – Classificação Geral de Alterações), o que oportunizou aos sujeitos avaliar as mudanças percebidas na condição do ombro desde o início do programa de fortalecimento.3 Bernhardsson et al.58 demonstraram que um programa de fortalecimento, com treinamento excêntrico e duração de 12 semanas, reduziu a dor e melhorou a função de pacientes com SISA. O regime de exercícios teve como alvo os músculos supraespinal e infraespinal, enfatizando a fase excêntrica do fortalecimento desses dois músculos, jun- tamente com exercícios de estabilização escapular para promover padrões de movimento corretos.58 Os estudos de Tate et al.3 e Bernhardsson et al.58 focaram programas e tipos de exercícios específicos para o tratamento da SISA. Uma revisão sistemática recente, de 2010, avaliou oito estudos em que foram usados vários tipos de exercícios de forta- lecimento e de alongamento, de terapias manuais e de modalidades no tratamento da SISA.40 Concluiu-se que há poucos indícios de sustentação do uso do exercício no trata- mento da SISA para aliviar a dor e melhorar a função.40 Assim como em qualquer outro diagnóstico, a estratégia de exercícios e tratamento deve focar a melhoria dos déficits Tabela 1.3 EXEMPLO DE PROGRAMAS DE TRATAMENTO DA SISA Técnica de tratamento Especificidade do tratamento Controle motor/fortale- cimento Terapia manual Autoalongamentos Programa de exercícios em casa Fase 1: fortalecimento do manguito rotador com o úmero na posição neutra Fase 2: acréscimo de exercícios de flexão do ombro; foco no fortaleci- mento mais agressivo do serrátil anterior (Fig. 1.3) e do trapézio Fase 3: estágio mais elevado de fortalecimento e treinamento da resis- tência com variados níveis de flexão do ombro; incorporação do fortale- cimento do tronco Técnicas manuais de alongamento com foco na melhora da flexibilidade posterior do ombro e da cápsula glenoumeral inferior Técnicas de manipulação, com e sem thrust, direcionadas à coluna torácica para melhorar a extensão torácica Alongamentos realizados de forma independente pelo paciente para aumentar a mobilidade da cápsula glenoumeral e a flexibilidade dos músculos peitorais e torácicos Combinação seletiva de exercícios de fortalecimento e de autoalonga- mentos realizados uma vez ao dia, em casa, com as mesmas repetições e resistência usadas na clínica SEÇÃO II: TRINTA E QUATRO CASOS CLÍNICOS 13 objetivos e funcionais do paciente. Para o paciente com SISA deste estudo de caso, após duas semanas de tratamento, o fisioterapeuta deve reavaliar a intensidade da dor quando o sujeito eleva o braço em várias direções e ergue objetos; considera-se como progresso a recuperação da capacidade de enfiar o cinto nas presilhas e de ajeitar a camisa para dentro das calças nas costas. Caso os sintomas permaneçam inalterados, pode haver necessidade de mudar a estratégia de tratamento e o foco dos exercícios. Recomendações clínicas baseadas em evidências SORT: Força da Taxonomia da Recomendação (do inglês, Strength of Recommendation Taxonomy) A: Dados consistentes e de boa qualidade orientados para o paciente; B: Dados inconsistentes ou e qualidade limitada orientados para o paciente; C: Dados consensuados, prática mais utilizada, opinião de especialistas ou série de casos orientados a doença. 1. Fatores intrínsecos e extrínsecos que contribuem para o desenvolvimento da síndrome do impacto subacromial (SISA). Grau A 2. Pacientes com SISA podem apresentar discinesia escapular. Grau B 3. Exercícios de fisioterapia ajudam a tratar desequilíbrios musculares, restaurar os padrões de movimento normais e reduzir a dor em pacientes com SISA. Grau B PERGUNTAS PARA REVISÃO 1.1 Um fisioterapeuta avalia um paciente não hospitalizado que sofre de síndrome do impacto subacromial (SISA) no ombro direito. Ao observar a amplitude de mo- Figura 1.3 Exercício de fortalecimento do serrátil anterior em quatro apoios: apoio com mobilização da escápula. O paciente passa da posição de apoio com os braços flexionados à posição de braços estendidos (ilustrada nesta foto). 14 CASOS CLÍNICOS EM FISIOTERAPIA ORTOPÉDICA vimento ativa do paciente, o fisioterapeuta nota alterações no movimento escapular direito. Em qual destes músculos é mais provável aparecer a fraqueza responsável por essa discinesia escapular? A. Supraespinal, infraespinal e redondo menor B. Supraespinal, serrátil anterior e trapézio inferior C. Serrátil anterior,trapézio inferior e trapézio médio D. Trapézio médio, peitoral menor e bíceps braquial 1.2 A SISA envolve degeneração e/ou compressão mecânica de qual das seguintes estru- turas de tecido mole? A. Manguito rotador B. Cabeça longa do bíceps C. Bolsa subacromial D. Todas as anteriores RESPOSTAS 1.1 C. Fraqueza nos músculos serrátil anterior, trapézio inferior e trapézio médio pode levar a alterações na cinemática escapular em pacientes com SISA.25,26,27,42,46 Os mús- culos serrátil anterior e trapézio estabilizam a escápula e fazem com que as rotações superior e externa e/ou a inclinação posterior da escápula possibilitem que a cabeça do úmero libere o acrômio durante a elevação do ombro.31,42 1.2 D. A síndrome do impacto envolve degeneração e/ou compressão mecânica das estruturas do tecido mole.46 Em caso de SISA, o manguito rotador, a cabeça longa do bíceps e a bolsa subacromial ficam comprimidas entre o acrômio, o ligamento coracoacromial e a cabeça do úmero.28,33,46 REFERÊNCIAS 1. Picavet HS, Schouten JS. Musculoskeletal pain in the Netherlands: prevalences, consequences and risk groups, the DMC(3)-study. Pain. 2003;102:167-178. 2. Pope DP, Croft PR, Pritchard CM, Silman AJ. Prevalence of shoulder pain in the community: the influence of case definition. Ann Rheum Dis. 1997;56:308-312. 3. Tate AR, McClure PW, Kareha S, Irwin D. Effect of the scapula reposition test on shoulder impingement symptoms and elevation strength in overhead athletes. J Orthop Sports Phys Ther. 2008;38:4-11. 4. Urwin M, Symmons D, Allison T, et al. 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