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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE BACHAREL EM SERVIÇO SOCIAL TATIANE DA COSTA GOMES A ATUAÇÃO DO/A ASSISTENTE SOCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS/AS – ILPIs FORTALEZA 2013 TATIANE DA COSTA GOMES A ATUAÇÃO DO/A ASSISTENTE SOCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS/AS – ILPIs Monografia submetida à aprovação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará Faculdade Cearense - FaC, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientadora: Prof.ª Ms. Luciana Gomes Marinho. FORTALEZA 2013 TATIANE DA COSTA GOMES A ATUAÇÃO DO/A ASSISTENTE SOCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS/AS – ILPIs Monografia apresentada como pré- requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: ____/ ____/____ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________ Professora Ms. Luciana Gomes Marinho ____________________________________________________________ Professora Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes ____________________________________________________________ Professora Ms. Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo Dedico à minha mãe Carmem, Ao meu pai José Júlio, Ao meu irmão Felipe, e Ao meu namorado Douglas, Por me motivarem A prosseguir... O SENTIDO DA VIDA Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura...enquanto durar... (Cora Coralina) AGRADECIMENTOS Primeiramente eu gostaria de agradecer a Deus, por intervir constantemente em minha vida. Agradeço especialmente minha família que é o meu pilar de sustentação nessa longa jornada, em especial meu pai Júlio e minha mãe Carmem, que sempre me incentivaram a prosseguir nesta caminhada. Eu amo muito vocês. Ao meu querido irmão Felipe, pela paciência e por seu apoio. Ao meu namorado Douglas, pelo seu carinho, compreensão, muito obrigada pela paciência. Te amo! À Nayara Antunes, minha cunhada pelo apoio durante a construção deste trabalho. As minhas orientadoras de Estágio Supervisionado no Hospital Nossa Senhora da Conceição, Ana Coeli Oliveira e Izabel Vasconcelos, que tanto contribuíram para minha formação profissional. À Irene, assistente social do HNSC, por sua dedicação e comprometimento profissional. Uma pessoa verdadeiramente apaixonada pela profissão. As minhas queridas amigas de estágio Juliane Menezes e Fernanda Gon dim, que tanto me deram apoio nesta etapa da minha formação. As minhas amigas Lorena Freire, Renara Vasconcelos, Andréa Soares, Lucilene Pinheiro, Patricia Helena, Rosemeire Lucindo, que sempre estiveram presentes nesta caminhada. Foi muito especial conhecer cada uma de vocês. Todas vocês são muito especiais. À Lorena e a Juliane em especial, por me escutarem inúmeras vezes ao dia, pela paciência, pelo carinho, pela preocupação e por toda atenção durante a construção desta monografia. À Marileide por me apresentar ao meu campo de pesquisa, minha sincera gratidão. À minha orientadora Luciana Marinho, por seus ensinamentos e por fazer parte da minha vida neste momento tão importante. Agradeço pelo carinho e dedicação, com que me orientou. Muito obrigada. À minha querida Márcia, por todo seu apoio incondicional e por dividir comigo momentos inestimáveis e “agradabilíssimos”. À Irmã Josenira, diretora da instituição que permitiu e facilitou a realização deste trabalho em suas dependências. À Banca Examinadora que tão prontamente aceitou o convite para está presente neste momento importante da minha vida, as caríssimas Profª. Virzângela Sandy e a Profª. Mariana Aderaldo. A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho. Muito obrigada! RESUMO O envelhecimento da população brasileira destaca-se como um fenômeno a nível mundial, onde a cada ano esse segmento populacional tende a aumentar, visto que a taxa de natalidade e mortalidade estão diminuindo. Neste contexto social, o profissional de Serviço Social, é chamado para atuar na área do envelhecimento, portanto destacaremos sua atuação em uma instituição voltada para idosos/as. A presente monografia intitulada como “A atuação do/a assistente social em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos/as” é fruto de uma pesquisa realizada na Associação de Assistência Social Catarina Labourè, mais conhecida como Casa de Nazaré, localizada no município de Fortaleza. Esta ocorreu no período de setembro a novembro de 2013, teve como objetivo compreender a atuação do assistente social inserido neste espaço. Para tanto, no percurso metodológico utilizou-se a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Utilizamos o estudo de caso para a construção desta monografia, pelo aprofundamento da pesquisa em uma única instituição. No decorrer da pesquisa foram utilizados dados quanti-qualitativos, tendo a entrevista semiestruturada como instrumento para coletar os dados qualitativos. Concluímos que o assistente social trata-se de um profissional, que necessita responder as demandas, diante das limitações e dos desafios enfrentados no cotidiano de uma instituição. Palavras-chave: Idoso, Instituições de Longa Permanência para Idosos, Atuação Profissional do/a Assistente Social. ABSTRACT The aging of the population stands out as a phenomenon worldwide, where every year this population segment tends to increase, considering that the birth rate and mortality are decreasing. In this social context, the professional Social Service, is called upon to act in the area of aging, therefore we will highlight his role in an institution facing elderly. This monograph titled “The performance of the social worker in a long-stay institution for Seniors” is the result of a survey conducted in Associação de Assistência Social Catarina Labouré, better known as House of Nazareth, located in Fortaleza, research occurred in the period September-November 2013, aimed at understanding the role of social worker inserted in this space. For this, in the methodological process was used:bibliographical research, desk research and field research. We use the case study for the construction of this monograph, by further research at a single institution. In the course of researching were used quantitative and qualitative data, using a semi-structured interview as a tool to collect qualitative data. We conclude that the social worker is in a professional, who need answer the demands before the limitations and challenges faced in everyday life of an institution. Keywords: Elderly, Long-stay Institution for Seniors, Professional Practice Social Worker. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Casa de Nazaré.................................................................................51 FIGURA 2 – Terapia Assistida por Cães................................................................64 FIGURA 3 – Aula com os educadores físicos........................................................65 GRÁFICO 1 - Ceará: nº de ILPIs identificadas e que responderam à pesquisa no Estado 2007/2008...................................................................................................40 GRÁFICO 2 - Fortaleza: nº de ILPIs identificadas e que responderam à pesquisa na capital - 2007/2008............................................................................................40 GRÁFICO 3 - Distribuição das idosas quanto à idade...........................................55 GRÁFICO 4 - Distribuição das idosas quanto à escolaridade................................56 GRÁFICO 5 - Distribuição das idosas quanto à situação previdenciária...............57 GRÁFICO 6 - Distribuição das idosas quanto à naturalidade................................58 GRÁFICO 7- Distribuição das idosas quanto ao estado civil.................................58 GRÁFICO 8 - Distribuição das idosas quanto ao tempo de instituição..................59 GRÁFICO 9 – Distribuição das idosas quanto à formação profissional.................61 LISTA DE TABELAS TABELA 1. Brasil: nº de ILPIs identificadas e que responderam à pesquisa por região 2007-2009.................................................................................39 TABELA 2. Equipe de Referência para Atendimento Direto......................48 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPC - Benefício de Prestação Continuada CF – Constituição Federal CN – Casa de Nazaré CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa CRAS – Centro de Referência de Assistência Social CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome OMS – Organização Mundial de Saúde PAIF – Proteção e Atendimento Integral à Família PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio PNAS – Política Nacional de Assistência Social PNI – Política Nacional do Idoso PSE – Proteção Social Especial RDC – Resolução da Diretoria Colegiada SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SEDH – Secretaria Especial dos Direitos Humanos SUAS – Sistema Único de Assistência Social SUS – Sistema Único de Saúde TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................13 CAPÍTULO I – DEFININDO CONCEITOS.................................................18 1.1. Concepções de velhice.......................................................................18 1.2. O fenômeno do envelhecimento no Brasil..........................................23 1.3. Cidadania e Políticas Sociais voltadas para o idoso...........................26 CAPÍTULO II – INSTITUCIONALIZAÇÃO DA “VELHICE”......................36 2.1. Contextualização histórica das Instituições de Longa Permanência para Idosos - ILPIs.....................................................................................36 2.2. Regulamentação das ILPIs.................................................................41 2.3. O (a) Assistente Social e sua prática profissional em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos..........................................................46 CAPÍTULO III - LÓCUS E OS RESULTADOS DA PESQUISA................51 3.1. Lócus da pesquisa..............................................................................51 3.2. Perfil das idosas da Casa de Nazaré..................................................54 3.3. Análise dos resultados da pesquisa....................................................62 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................70 REFERÊNCIAS..........................................................................................74 APÊNDICES...............................................................................................78 ANEXOS.....................................................................................................81 13 INTRODUÇÃO A população idosa vem crescendo de forma considerável nos últimos anos, tratando-se de um fenômeno a nível mundial. A tendência do envelhecimento se cristaliza a cada ano, pois os idosos segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) de 2011, já representam 23,5 milhões da população brasileira, um percentual bastante significativo e por isso, trata-se de um segmento populacional que requer atenção. No que diz respeito aos direitos específicos voltados para este segmento, se destacam a Política Nacional do Idoso – PNI de 1994, onde a pessoa idosa é toda aquela que possui idade igual ou superior a sessenta (60) anos ou mais, de acordo com a Lei nº 8.842, de 1994, que dispõe sobre a PNI. E outra grande conquista foi o Estatuto do Idoso, conforme a Lei nº 10.741 de 2003, que versa em seu primeiro artigo a regularização dos direitos assegurados às pessoas que possuem idade igual ou superior a sessenta (60) anos ou mais. O novo perfil da população brasileira traz a institucionalização de idosos/as como pauta para discussões sociais e políticas. O Estatuto do Idoso (2003) responsabiliza a família, o Estado e a sociedade pela efetivação dos direitos dos idosos, punindo quem infringir ou se omitir de suas responsabilidades. As instituições de longa permanência para idosos, segundo a Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA, mais conhecida como RDC nº 283 de 2005, são instituições governamentais ou não, com caráter residencial, destinadas a ser um domicílio coletivo para pessoas com 60 anos ou mais, que possuam, ou não, um suporte por parte da família, e que possam proporcionar a liberdade, dignidade e cidadania da/o residente. A motivação para o desenvolvimento deste trabalho justifica-se pela importância do tema escolhido que se trata da atuação do/a assistente social em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos/as, por ser uma área de atuação profissional relevante, levando em consideração que a expectativa de 14 vida dos idosos está cada vez maior, e por ser um espaço para atuação do Serviço Social. Quanto à escolha poreste tema, está relacionado com a experiência e com práticas vivenciadas pela pesquisadora, enquanto técnica de enfermagem, em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos, antes mesmo de iniciar o Curso de Serviço Social. Tendo em vista que posteriormente, influenciou a decisão pelo referido tema, suscitando a pesquisar e conhecer como o/a assistente social atua nesta área. No decorrer do curso e dada a importância da disciplina de Gerontologia, que por sua vez aborda a temática, só reafirmou a escolha supracitada. Esta monografia teve como objetivo compreender quais são as limitações e os desafios que o/a assistente social enfrenta na prática em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos, bem como visa identificar quais os programas e projetos sociais desenvolvidos pelo/a profissional de Serviço Social para os/as idosos/as em uma determinada instituição. No desenvolvimento do referido trabalho, foram utilizados os métodos bibliográfico e de campo para conhecer a realidade do objeto da pesquisa a ser estudado. Como primeira etapa da pesquisa, foram utilizados livros, artigos, monografias e aparatos legais que contemplam aspectos que caracterizam a pesquisa bibliográfica, como ponto de partida para uma pesquisa científica voltada para o objeto de estudo, buscando fazer uma ligação entre o tema escolhido para investigação. Segundo Marconi & Lakatos (2003, p.182), Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicados, quer gravados. Em um segundo momento foi realizada a pesquisa de campo, onde o pesquisador entra em contato direto com o objeto de estudo e coleta os dados no local da pesquisa. Conforme afirma Marconi & Lakatos (1996), ocorre após a pesquisa bibliográfica, possibilitando ao pesquisador obter um bom conhecimento sobre determinado assunto. A pesquisa de campo foi realizada na Associação de Assistência Social Catarina Labourè, mais conhecida como Casa de Nazaré, localizada no 15 município de Fortaleza, no bairro Montese e foi escolhida por ser uma Instituição de Longa Permanência para Idosos/as, especializada em assistência e tratamento voltados para a pessoa idosa. A referida pesquisa teve duração de três meses, entre setembro e novembro de 2013, durante todas as quartas- feiras. O agendamento do dia da semana foi de acordo com a disponibilidade da profissional de Serviço Social, visto que, o público alvo da pesquisa foi a assistente social que atua na referida instituição. Ressaltamos que nesta monografia, também foi utilizada a pesquisa exploratória que, conforme Martins (2009) enfatiza que a referida pesquisa proporciona uma aproximação com o problema investigado, possibilitando o aprimoramento sobre determinado fato. [...] investigações da pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipótese, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos (LAKATOS, 2003, p. 187, grifo nosso). Para alcançar os objetivos desta monografia foram utilizados dados quanti-qualitativo. Segundo Minayo (1993, p.79), metodologia qualitativa, “tem como foco [...] a exploração do conjunto de opiniões e representações sociais sobre o tema que se pretende investigar”. Para Fonseca (2002), no que concerne a pesquisa quantitativa, os resultados obtidos podem ser quantificados, está centrada na objetividade, onde os dados alcançados constituem a realidade através de atributos mensuráveis pelo homem. Na “pesquisa quantitativa tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números, opiniões e informações para classificá-las e analisá-las", de acordo com Gil (1991, p. 64). Também foi utilizada a observação participante, que se trata de uma interação entre o pesquisador e os membros envolvidos na pesquisa, a fim de obter uma ampla compreensão da realidade, sobre a rotina do/a profissional de Serviço Social, na referida instituição. Para Marconi; Lakatos (2003, p.194), “consiste na participação do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades”. 16 Através da observação participante, enquanto pesquisadora foi possível vivenciar um momento ímpar durante a pesquisa, na qual podemos visualizar expressões e gestos, passando a fazer parte da realidade dos sujeitos envolvidos. Partindo do envolvimento com o grupo, serão utilizadas as falas das idosas, tendo em vista a riqueza de informações a serem acrescentadas a esta monografia. Para manter o sigilo dos nomes das idosas serão utilizados nomes de flores, para representá-las. A pesquisa documental foi fornecida pela instituição pesquisada, que segundo Gil (2008) é bem parecido com a pesquisa bibliográfica. A diferença está na natureza das fontes, pois nesta utilizam-se materiais que ainda não receberam um tratamento específico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com o objeto da pesquisa. A instituição de longa permanência para idosos pesquisada dispõe apenas de uma profissional de Serviço Social. Portanto nesta monografia utilizaremos o estudo de caso, que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, Gil (2008). Tem caráter de profundidade e detalhamento, ou seja: [...] o estudo de caso é muito frequente na pesquisa social, devido à sua relativa simplicidade e economia, já que pode ser realizado por único investigador, ou por um grupo pequeno e não requer a aplicação de técnicas de massa para coleta de dados, como ocorre nos levantamentos. A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases de uma investigação sobre temas complexos, para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. Também se aplica com pertinência nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal (GIL, 2002, p. 140). Como instrumento para coleta de dados, optou-se pela aplicação da entrevista semiestruturada, ou seja, as perguntas foram previamente formuladas; foi utilizado este instrumental, por ser considerado passível de contextualizar a realidade social, na qual há uma flexibilidade para o entrevistador durante a entrevista. Segundo Lakatos (2008, p.111), a entrevista “é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária”. As perguntas foram 17 elaboradas pela pesquisadora, objetivando compreender os aspectos mais importantes da pesquisa. Na abordagem a assistente social foi informada sobre o objetivo da pesquisa, bem como também foi exposta a necessidade de compreender, quais os limites e os desafios que os profissionais de Serviço Social vivenciam em seu cotidiano, dentro de uma determinada ILPI, a fim de apreender informações que possibilitem a análise sobre a atuação desta profissional. Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assinado pela entrevistada e entrevistadora, garantindo o anonimato da participante, ou seja, resguardando o sigilo profissional. A presente monografia foi estruturada em três capítulos. O primeiro se intitula, “DEFININDO CONCEITOS”, aqui se descreve sobre as concepções acerca davelhice, destacando-se o fenômeno do envelhecimento no Brasil e abordando a cidadania e as políticas sociais voltadas para os idosos. O segundo capítulo intitulado “INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VELHICE”, elenca três itens: a contextualização histórica das Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPIs, fazendo uma discussão sobre o surgimento das ILPIs até os dias atuais, bem como contempla a regulamentação para o funcionamento das ILPIs e atuação do/a Assistente Social em uma ILPI. O terceiro capítulo foi intitulado como “LÓCUS E OS RESULTADOS DA PESQUISA”, tratou-se da apresentação do local escolhido para realizar a pesquisa, bem como foi traçado o perfil das idosas que residem na instituição e para finalizar este capítulo serão apresentados os dados obtidos através da aplicação da entrevista colhida na instituição e suas significações. Para concluir o trabalho serão apresentadas as considerações finais, proporcionando uma reflexão sobre a atuação do/a assistente social em uma ILPI, na expectativa que mediante a leitura deste trabalho venha despertar o interesse de outros pesquisadores para realizar estudos mais abrangentes e que possam desenvolver fontes de pesquisa sobre a referida área de atuação profissional. 18 CAPÍTULO I - DEFININDO CONCEITOS 1.1 . Concepções sobre a velhice Para compreender as representações sociais da velhice em uma sociedade contemporânea Beauvoir apresenta dois sentidos distintos para a velhice: É uma certa categoria social, mais ou menos valorizada segundo as circunstâncias. É, para cada indivíduo, um destino singular – o seu próprio. O primeiro ponto de vista é a dos legisladores, dos moralistas; o segundo, o dos poetas; quase sempre, eles se opõem radicalmente um ao outro. [...] Os ideólogos [referindo-se aos primeiros] forjam concepções da velhice de acordo com os interesses de sua classe. (BEAUVOIR, 1990, p. 109). Para Bosi (2001) a velhice também pode ser considerada como uma categoria social que evidencia as relações de produção em uma sociedade industrial, como um fator influenciador sobre a questão da velhice: A sociedade industrial é maléfica para a velhice. [...]. A sociedade rejeita o velho, não oferece nenhuma sobrevivência à sua obra. Perdendo a força do trabalho ele já não é produtor nem reprodutor. Se a posse e a propriedade constituem, segundo Sartre, uma defesa contra o outro, o velho de uma classe favorecida defende-se pela acumulação de bens. Suas propriedades o defendem da desvalorização de sua pessoa. (p. 77). Ao longo de sua trajetória a velhice esteve socialmente representada pelos costumes encontrados em cada cultura. “A velhice como todas as situações humanas, em uma dimensão existencial: modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com a própria história” (BEAUVOIR, 1990, p.259). O conceito de velhice vem atravessando por diversas épocas como algo ainda em construção, onde o seu sentido, bem como seus significados resultam da construção histórica e social de cada época. Na Antiguidade Clássica, os gregos associavam a velhice ao respeito e à honra. Contudo, com o desenvolvimento dessa sociedade houve a valorização do belo, da virilidade, da juventude e consequentemente a depreciação dos velhos. “Os gregos antigos glorificavam com ardor a juventude 19 e viam a velhice como um flagelo e um castigo que aniquilava a força do guerreiro.” (MASCARO, 2004, p.13). Na sociedade romana, os chamados anciãos, destacaram-se por ter uma posição privilegiada na figura do poder familiar. Participavam de cargos importantes e teve em Cícero 1 seu maior defensor contra a imagem negativa da velhice através de sua obra intitulada “A Senectude”. Já os hebreus consideravam os anciãos como chefes de seu povo e tinham destaque por sua importância. Na Idade Média os velhos se reduziam à mendicância, segundo Beauvoir (1990, p.162) “a situação dos velhos, em todos os setores da sociedade, aparece, portanto, como extremamente desfavorecida”. Na Idade Moderna, com a Revolução Industrial, houve um grande processo de migração para os centros urbanos, porém o mercado não teve condições para absorver tanta mão de obra, e “quando perdiam o emprego por causa da idade ficavam reduzidos à miséria” (BEAUVOIR, 1990, p. 237). Na contemporaneidade temos o surgimento da gerontologia e da geriatria, para contribuir nos estudos sobre a velhice e para a valorização do indivíduo que envelhece. A expectativa de vida hoje atrai olhares da sociedade para a velhice, onde a autonomia deve ser preservada e que os direitos voltados para as pessoas que envelhecem sejam garantidos. No contexto pós-moderno, a imagem da velhice vem quebrando com os estereótipos que a sociedade vinha presenciando, pois segundo Perufo (2012, p. 12), [...] mais do que nunca, no contexto pós-moderno, há uma necessidade de desmistificar a imagem da velhice como algo descartável, inútil e ultrapassado [...] ao invés de retratar um idoso considerado velho, isto é, cansado, incapaz, frágil, com doenças e limitações; determinados discursos que circulam na mídia vêm agindo de modo a desconstruir essa representação e propor novas identidades para os idosos, mostrando-o ativo, preocupado com a aparência física, com o desempenho sexual, que gosta de praticar 1 Marco Túlio Cícero nasceu em Arpino e 106 e morreu em Caieta em 43 a.C. Político (Senador), orador e homem de letras, escreveu sobre a defesa da velhice, “para provar que a autoridade do Senado da época, deveria ser reforçado” (BEAUVOIR, 1990, p.146). 20 esportes, de passear, enfim, de ter momentos prazerosos (p. 12) Como podemos perceber desde a Antiguidade Clássica, passando pela Idade Média, até nossos dias atuais, a velhice assume várias significações, revelando-se no meio social de forma contraditória, pois ora o idoso ocupava um lugar de valorização, em outro momento ocupava um lugar de desvalorização e de decadência. A velhice deve ser compreendida como um fenômeno biológico, cultural e bio-sociocultural, ou seja, é um ser de linguagem e está inserido na cultura, sendo o envelhecimento um processo que está em constante mudança e que influencia no processo histórico, segundo Beauvoir (1990). Atualmente a velhice vem se constituindo como uma das etapas naturais da vida que passa por mudanças de natureza biológica, psicológica, econômica e social, sendo que tais mudanças muitas vezes são encaradas de forma negativa em nossa sociedade, pois pode ser associada às perdas, a baixa autoestima, podendo gerar ansiedade e medo e acabar levando ao isolamento social. Portanto é fundamental que a própria pessoa que envelhece aprenda a lidar com as transformações que ocorrem durante o processo de envelhecimento. Velhice é um termo impreciso, e sua realidade difícil de perceber... Nada flutua mais do que os limites da velhice em termos de complexidade fisiológica, psicológica e social (VERAS, 1994, p.25). As questões que envolvem a velhice não devem ser baseadas apenas em seu sistema biológico, pois se trata de uma fase da vida que deve ser compreendida dentro do contexto social no qual o indivíduo está inserido. Os autores Schneider & Irigaray (2008), falam sobre essa etapa da vida caracterizada como velhice. A etapa da vida caracterizada como velhice, com suas peculiaridades, só pode ser compreendida a partir da relação que se estabelece entre os diferentes aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. (p.585). Os aspectos supracitados categorizam as etapas da velhice. Em geral quando o indivíduochega aos 60 anos é definido como uma pessoa idosa, independente de seu estado biológico, psicológico e social. No entanto, o 21 conceito que se fundamenta apenas através da idade e não numa perspectiva multidimensional, não é considerada como uma boa medida para uma apreensão do desenvolvimento humano, pois o processo de envelhecimento possuem outras dimensões e significados que perpassam as dimensões da idade cronológica, segundo Schneider & Irigaray (2008). Segundo Beauvoir (1990, p.15), a velhice: [...] é um fenômeno biológico: o organismo do homem idoso apresenta certas singularidades. A velhice acarreta, ainda, consequências psicológicas: certos comportamentos são considerados, com razão, como característicos da idade avançada. Como todas as situações humanas, ela tem uma dimensão existencial: modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história. No que se trata sobre a velhice, Schneider & Irigaray (2008) dividem o conceito em quatro idades: a idade cronológica, que está ligada ao tempo decorrido desde o nascimento; a idade biológica, que “é definida pelas modificações corporais e mentais que ocorrem ao longo do processo de desenvolvimento e caracterizam o processo de envelhecimento humano [...]” (SCHNEIDER & IRIGARAY, 2008, p. 590). A idade social “é definida por hábitos e status social pelo indivíduo para o preenchimento de muitos papéis sociais ou expectativas em relação às pessoas de sua idade, em sua cultura e em seu grupo social”. (SCHNEIDER & IRIGARAY, 2008, p. 590). É marcada por normas impostas pela sociedade, conforme o que se espera para as pessoas idosas e quais são os papéis sociais que embasam suas vidas. E a idade psicológica é definida como “a maneira como cada indivíduo avalia em si mesmo a ausência ou a presença de marcadores biológicos, sociais e psicológicos da idade, com base em mecanismos de comparação social mediados por normas etárias.” (NERI, 2001a, apud SCHNEIDER & IRIGARAY, 2008, p. 592). Com o aumento da expectativa de vida, as pessoas com mais idade assumem novos papéis sociais, e a existência de múltiplas palavras para nomear a velhice, nos revela o quanto o processo de envelhecimento é complexo. 22 Neste processo ainda podemos encontrar os conceitos sobre o idoso e a terceira idade. O idoso é a denominação oficial das pessoas que tenham sessenta anos ou mais de acordo com a Lei nº 8.842, de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Para Schneider (2008), ser idoso está para além da idade cronológica, como podemos ver em sua definição sobre o idoso. Idoso é uma pessoa mais velha, que na maioria das vezes chega aos 60 anos, independentemente de seu estado biológico, psicológico, social. Entretanto o conceito de idade é multidimensional e não é uma boa medida do desenvolvimento humano (p.588). O próprio uso do nome idoso ou idosa, e não o termo velho ou velha, já é uma forma de imprimir certa qualidade ao indivíduo que é classificado dessa maneira em nossa sociedade. O idoso seria uma forma mais polida, enquanto o termo velho seria depreciativo. A expressão terceira idade, de uso mais recente, comportaria uma dimensão positiva e exalta um tipo atual de experiência da velhice, a "velhice ativa", segundo Motta (1997). No que se refere ao termo terceira idade, Debert (2012), afirma que é uma expressão recente. „Terceira Idade‟ é uma expressão que, recentemente, popularizou-se com muita rapidez no vocabulário brasileiro. Mais do que referência cronológica, é uma forma de tratamento das pessoas de mais idade, que ainda não adquiriu conotação depreciativa. (p.138). O termo terceira idade, atualmente é bastante utilizado, pois representa uma nova perspectiva de vida, onde o indivíduo passa a ocupar uma posição ativa dentro do processo do envelhecimento, visando à melhoria na qualidade de vida, conforme Goyaz (2003). Apesar de alguns autores rotularem a velhice como algo improdutivo para a sociedade, ela não deve ser associada apenas às perdas ou como algo depreciativo, mais sim como um momento voltado para novas conquistas e de transformações dentro de uma sociedade na qual a expectativa de vida está aumentando. Neste sentido a categoria velhice foi escolhida enquanto pesquisadora da área, para embasar o referido trabalho. 23 1.2 . O fenômeno do envelhecimento no Brasil No Brasil o processo do envelhecimento populacional vem crescendo em um ritmo bastante acelerado. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS a população idosa é entendida como aquela que se constitui por pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, para os países que ainda estão em desenvolvimento e de 65 anos para os países desenvolvidos. O envelhecimento populacional é um processo que faz parte do desenvolvimento humano e constitui-se como um fenômeno a nível mundial. O crescimento da população idosa é bastante expressivo, e esse fenômeno do envelhecimento para Camarano (2002), é causado por múltiplos fatores, como a transição demográfica, diminuição na taxa de natalidade e um grande aumento na expectativa de vida, levando assim ao crescimento no número de idosos. De acordo com Debert, (1999, p.12), “o processo do envelhecimento deve- se, sem dúvida, ao fato de os idosos corresponderem a uma parcela da população cada vez mais representativa do ponto de vista numérico”. Neste sentido, o Brasil já não pode mais ser considerado um país jovem, pois segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, o conceito de população envelhecida é aquela em que a proporção de pessoas com 60 anos ou mais, atinge 7%, com tendência a crescer. Assim o envelhecimento da população brasileira representa um novo desafio para o país e evidencia uma nova perspectiva de vida, pois segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009) fica claro o crescente aumento na população de idosos, chegando a cerca de 10% da população brasileira. A estimativa, é que, em 2025, a população de idosos chegue a 32 milhões. “As pessoas com mais de 60 anos são hoje 12,6% da população, ou 24,85 milhões de indivíduos – em 2011, tratava-se de uma fatia de 12,1% e, em 2002, 9,3%” (PNAD, 2012). O IBGE (2012) sinaliza que em 2030, “o país terá uma proporção de 13,3% de idosos em relação ao total”. 24 Vale ressaltar que a tendência do envelhecimento da população brasileira se confirma através dos dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, onde a projeção da população idosa poderá representar 26,7% da população em 2060. As pesquisas realizadas afirmam que o Brasil é um país que está em constante variação estatística, e que o aumento da população idosa vem se tornando bastante expressivo. Para Goldman (2003, p.71), o envelhecimento caracteriza-se: [...] como um processo complexo que ocorre em cada pessoa, individualmente, mas condicionado a fatores sociais, culturais e históricos, que vão rebater na sociedade como um todo, envolvendo os idosos e as várias gerações. Por seu caráter multifacetado, o envelhecimento abarca múltiplas abordagens: físicas, emocionais, psicológicas, sociais, econômicas, políticas, ideológicas, culturais, históricas, dentre outras. A conjuntura marca as diversas formas de viver e de conhecer o envelhecimento, assim como as determinações culturais tomam formas diferenciadas no tempo e no espaço. Outro diferencial se refere à posição de classe social que os indivíduos ocupam. O fenômeno do envelhecimento populacional no Brasil ganha maior expressão no início do século XX e de forma mais acentuada na década de 1960. Esteenvelhecimento populacional deve-se a uma queda expressiva na taxa de fecundidade entre as mulheres, ocasionando o aumento da população idosa no contexto social brasileiro (IBGE, 2009). Segundo Debert (1999, p.14), Nesse movimento que marca as sociedades modernas, a partir da segunda metade do século XIX, a velhice é tratada como uma etapa da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis sociais. Para o autor o avanço da idade como um processo contínuo de perdas e dependência – que daria uma identidade de condições aos idosos – é responsável por um conjunto de imagens negativas associadas à velhice, mas foi também elemento fundamental para a legitimação de direitos sociais, como a universalização da aposentadoria. Neste contexto, a aposentadoria demarca a velhice em nossa sociedade, segundo Mascaro (1997), pois é o momento que o indivíduo deixa de fazer parte como integrante da estrutura social produtiva. Já de acordo com Salgado (1997, p.5) a aposentadoria, “cria um princípio de identidade para a velhice, definindo esse tempo da vida pela inatividade”. Segundo Beauvoir (1990), a aposentadoria, 25 Introduz uma radical descontinuidade; há ruptura com o passado; o homem deve adaptar-se a uma nova condição, que lhe traz certas vantagens (descanso), mas também graves desvantagens: empobrecimento, desqualificação (p.325). Um dado que chama bastante atenção é o processo de feminização da velhice por ser um segmento populacional que vem se tornando visível na sociedade. Hoje, as mulheres representam 55,5% da população brasileira idosa e 61% do contingente de idosos acima de 80 anos, segundo IBGE (2011). Desta forma, ao considerar os aspectos da velhice, não se pode deixar de contemplar o recorte de gênero, que é determinante, inclusive, do lugar que os idosos e as idosas ocupam na vida social, pois “a velhice é uma experiência que se processa diferente para homens e para mulheres, tanto nos aspectos sociais como nos econômicos, nas condições de vida, nas doenças e até mesmo na subjetividade”. (BERZINS, 2003, p.28). As mulheres vivem mais tempo: são os grandes velhos solitários que constituem a camada mais desfavorecida da população. Mas no conjunto, a mulher idosa adapta-se melhor que seu marido à sua condição. Dona-de-casa, mulher doméstica, sua situação é a mesma que a dos camponeses e dos artesãos de outrora: para ela, trabalho e existência se confundem. Nenhum decreto exterior interrompe brutalmente suas atividades. Estas últimas diminuem no momento em que os filhos tornados adultos deixam a casa. Essa crise, que se produz, geralmente muito cedo, muitas vezes a perturba. De qualquer modo, entretanto, não fica inteiramente ociosa, e seu papel de avó lhe traz novas possibilidades [...] E têm, na casa e na família, papéis que lhes permitem encontrar ocupação e manter a própria identidade. São elas que têm as responsabilidades domésticas, e que mantêm relações ativas com a família, sobretudo com os filhos e netos. A mulher toma, então, a dianteira do marido, e muitas vezes tiram dessa superioridade à impressão de uma desforra. Algumas se empenham então, agressivamente, em humilhar o homem em sua virilidade. Os idosos têm consciência dessa troca de papéis (BEAUVOIR, 1990, p. 324). Com o aumento do envelhecimento da população brasileira devem ser levados em conta os desafios advindos da mudança que vem ocorrendo na estrutura social, dentre eles encontram-se os desafios voltados à promoção da saúde, os desafios para as famílias, para a previdência social com o aumento de pessoas aposentadas, o desafio da pobreza e principalmente o desafio para estabelecer políticas públicas que possam garantir uma vida digna às pessoas idosas. “No Brasil, como em outros países em desenvolvimento, a questão do 26 envelhecimento populacional soma-se a uma ampla lista de questões sociais não resolvidas, como a pobreza e a exclusão” (CAMARANO, 2004, p.254). Por fim, a discussão sobre a questão do envelhecimento nesta pesquisa, visa à valorização e o reconhecimento do idoso, sinalizando a importância da garantia de espaços para que estes sejam assistidos, promovendo a inclusão e a participação social, bem como a melhoria na qualidade de vida, pois o Brasil está passando por uma transição demográfica com o aumento da população idosa. Neste sentido, será apresentado o processo de envelhecimento e as garantias de direitos que perpassam tal processo. 1.3 . Cidadania e Políticas Sociais voltadas para a população idosa Para definir o conceito de cidadania é necessário compreender o que ela expressa para a sociedade, ou seja, [...] um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. (DALLARI, 1998, p. 14). A cidadania, portanto deve ser compreendida como uma condição social que confere ao indivíduo o usufruto de direitos que viabilizam sua participação política e social na sociedade em que vive. Segundo Marshal (1998, apud FALEIROS, 2007, p.154), a cidadania se distingue em três momentos e dimensões, que são: “a civil, como expressão do direito à liberdade; a política, como expressão do voto; e a social, como garantia da educação e de mínimos sociais”. Segundo Faleiros (2007), as primeiras conquistas dos direitos do cidadão na velhice foram inscritos na Constituição de 1934 sob a forma de direitos trabalhistas e de uma Previdência Social. No Brasil, em 1961, é fundada a primeira sociedade de geriatria e a partir de 1978, também para os gerontólogos é fundada a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). E em 1982 é criada no Brasil a Associação Nacional de Gerontologia. Segundo Debert (2012), a velhice passa a ser transformada em tema de pesquisa e de estudos com o intuito de 27 transformá-la e promovê-la em envelhecimento com qualidade de vida. Segundo Giddens (2005, p.148), “a gerontologia não se preocupa somente com o processo de envelhecimento, mas também com os fatores sociais e culturais que influenciam esse processo”. Neste item sinalizaremos a transição jurídica de afirmação dos direitos voltados para a população idosa, que o Brasil vivencia, através de promulgação de leis específicas que demarcam os espaços em que o idoso vem conquistando, seja no âmbito econômico, cultural, político ou social. O marco jurídico, portanto, é a Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, que estabeleceu os direitos universais, políticos e civis do cidadão brasileiro, assegurando a cidadania. A Política Nacional do Idoso – PNI, que foi promulgada em 1994 e o Estatuto do Idoso, em 2003, são leis específicas voltadas para regulamentar os direitos, os serviços e as políticas para a população idosa. Segundo Faleiros (2007, p.58), “[...] o Brasil está numa transição jurídica para o reconhecimento, no contexto democrático, dos direitos da pessoa idosa enquanto sujeitos de direitos à cobertura das necessidades, à dignidade, à velhice, à proteção e o protagonismo”. Na década de 80 o Brasil passou pelo processo de redemocratização, surgindo uma ampliação do exercício da cidadania tendo como destaque a Constituição Federal de 1988, que introduziu o conceito de Seguridade Social, de acordo com o artigo 194 da Constituição Federal de 1988 – CF/88, no qual afirma que “a Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistênciasocial”, alterando seu enfoque assistencialista, ampliando a cidadania, bem como responsabilizando a família, o Estado e a sociedade pelo amparo ao idoso. Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (BRASIL, 1988). 28 A Constituição Federal de 1988 retoma o Estado democrático com o intuito de reduzir as desigualdades sociais e viabilizar o acesso aos direitos civis, políticos e sociais pelos quais os trabalhadores e os movimentos sociais almejavam alcançar. Foi promulgada a Lei nº 8.742 de 07 de dezembro de 1993, a LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social para atuar juntamente com a Constituição de 1988, reforçando as políticas de apoio e de proteção ao idoso. O seu artigo 20 dispõe sobre um dos benefícios mais importantes que a Lei proporciona para o idoso. Art. 20º O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família (p.15). A LOAS (1993), por conseguinte, atua frente à questão da velhice com o intuito de contribuir para que o idoso tenha uma vida digna, promovendo sua autonomia e sua participação na sociedade. Tendo como uma de suas diretrizes a “responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo”. Segundo o art.1º, A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, são Políticas de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (LOAS, 1993, p.1). A Lei 8.842, de 04 de janeiro de 1994 trata-se de uma das grandes conquistas do idoso no Brasil, também conhecida como Política Nacional do Idoso – PNI, pois é a primeira lei específica para o idoso, que estabelece direitos sociais, visa à garantia da autonomia, integração e participação dos idosos na sociedade, como instrumento de direito próprio de cidadania. A PNI (1994) em seu art.1º objetiva assegurar os direitos sociais para os idosos, garantindo sua autonomia, bem como a participação efetiva como um instrumento de cidadania. A Política Nacional do Idoso está regida pelos seguintes princípios fundamentais, 29 I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei (Lei 8.842, Art. 3º, p.6). Com isso, é a partir da Política Nacional do Idoso que vai se constituir o Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos - CNDI, para zelar pela aplicação da política de atendimento ao idoso, acompanhando e avaliando sua execução. Os conselhos são espaços de participação e protagonismo político e social, onde a população idosa pode participar das decisões políticas que influenciam suas vidas. Neste processo de lutas e conseguintes, no dia 1º de Outubro de 2003, foi sancionada, a Lei 10.741, pelo Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecida como o Estatuto Nacional do Idoso, tornando-se um marco para os idosos, pois nesta firma-se disposições específicas do Estado e da sociedade voltadas para os idosos. O Estatuto visa à garantia dos direitos dos idosos na sociedade brasileira, lhes proporcionando uma vida digna, sendo uma grande conquista da sociedade brasileira. Segundo Bruno (1997), o Estatuto: [...] além de ratificar os direitos demarcados pela Política Nacional do Idoso, acrescenta novos dispositivos e cria mecanismos, para coibir a discriminação contra os sujeitos idosos. Prevê pena para crimes de maus tratos de idosos e concessão de vários benefícios. Consolida os direitos já assegurados na Constituição Federal, tentando, sobretudo proteger o idoso em situação de risco social (p.79). Vale ressaltar que o Estatuto do Idoso em seu primeiro artigo define como idosos todos aqueles com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. O segundo artigo se refere à “proteção integral”, bem como assegura seus direitos fundamentais, constituindo-se como um grande avanço para a população idosa, bem como para toda a sociedade. 30 Art. 2º - O idoso goza de todos os direitos inerentes à pessoa humana, sem prejuízo de proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (Lei 10.741, 2003, p.15). Responsabiliza a família, a sociedade e o Estado contemplando os diversos aspectos do cotidiano do idoso. Art. 3º - É obrigação, da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária (Lei 10.741, 2003, p. 15). Conforme o artigo 15º, capítulo IV disposto no Estatuto do Idoso com relação à saúde, fica assegurado que o idoso deve ter atenção integral através do Sistema Único de Saúde – SUS2. O artigo mencionado garante o direito à saúde, que por sua vez deve ser universal e igualitário. O Estatuto do Idoso veio, portanto, para garantir a dignidade das pessoas idosas, através dos direitos fundamentais, das medidas de proteção, da política de atendimento voltada para o idoso, da regulação das entidades que atendem ao idoso, bem como da fiscalização das mesmas, da apuração das infrações administrativas, da apuração das irregularidades verificadas em entidades de atendimento, do acesso à justiça, da proteção judicial e também para punir os crimes cometidos contra a pessoa idosa. A Política Nacional de Assistência Social - PNAS tem origem de deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em Brasília, em dezembro de 2003, com a finalidade de materializar as diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social. A Assistência Social como política de 2 Foi criado pela Constituição Federal de 1988 e Regulamentado pelas leis Nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e Nº 8.142/90, com a finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto. Disponível em: (http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto. cfm? idtxt=24627), acesso em 25 de outubro de 2013. 31 proteção social configura-se como uma nova situação para o Brasil, segundo PNAS. É garantido a todos que dela necessitar, sendo beneficiados sem contribuição prévia. A PNAS (2004) tem como um dos seus objetivos “prover serviços,programas, projetos e benefícios de proteção social básica ou, especial para indivíduos e grupos que deles necessitarem”. Segundo a PNAS (2004, p.33), a Proteção Social Básica, “destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação [...] e, ou, fragilização de vínculos afetivos [...]”. Para a PNAS (2004), a Proteção Social Especial, [...] é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (p. 37). O Centro de Referência de Assistência social – CRAS, segundo a PNAS é uma unidade pública estatal de base territorial descentralizada e hierarquizada de assistência social, encontra-se localizado em áreas vulneráveis e de risco social dos municípios e do Distrito Federal (DF), ofertando serviços de Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS3, articulando os programas, projetos e serviços socioassistenciais voltados às famílias, devendo ser assegurado o acesso às pessoas idosas, efetivando a referência e a contrarreferência do usuário no acesso à rede socioassistencial do SUAS (PNAS, 2004). Os serviços ofertados pelo CRAS são os de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF e os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV. Os Centros de Convivência para Idosos são previstos na Política Nacional de Assistência Social – PNAS e fazem parte da Proteção Social Básica, favorecendo a valorização da autoestima, proporcionando melhoria na 3 É um sistema público, que organiza, de forma descentralizada e participativa, os serviços socioassistenciais no Brasil (PNAS, 2004). 32 qualidade de vida, atuando na prevenção do isolamento social, e no fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos - SCFVI é um serviço desenvolvido pela Proteção Social Básica, contribuindo para melhoria da qualidade de vida, focando o envelhecimento ativo e saudável, também o desenvolvimento da autonomia e sociabilidades, o fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário, bem como na prevenção de possíveis riscos sociais. A Proteção Social Especial – PSE, de acordo com a PNAS (2004), atende às famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, cujos direitos tenham sidos violados ou ameaçados e se divide em média complexidade e alta complexidade de acordo com a demanda dos indivíduos. A Proteção Social Especial de média complexidade oferta serviços às famílias e indivíduos que se encontram em situação de ameaça ou vivenciam a violação de seus direitos demandando atendimento especializado, onde os vínculos familiares e comunitários não foram totalmente rompidos. Já a Proteção Social Especial de alta complexidade visa à garantia da proteção integral para as famílias e/ou indivíduos que não possuem referência, e que são destituídos de vínculos familiares e comunitários (PNAS, 2004). A PSE de Média Complexidade é ofertada pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS, que é uma unidade pública estatal que “visa à orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário [...] um atendimento dirigido às situações de violação de direitos” (PNAS, 2004, p. 38). A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, aprovada por meio da Resolução CNAS nº 109/2009, faz uma organização desses serviços por nível de complexidade do Sistema Único de Assistência Social: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, caracterizando e padronizando os serviços. Define objetivos específicos da Proteção Social de Média Complexidade sobre os serviços voltados para os idosos visando: contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo; assegurar espaço de encontro para os idosos e encontros 33 intergeracionais de modo a promover a sua convivência familiar e comunitária; detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e capacidades para novos projetos de vida; propiciar vivências que valorizam as experiências e que estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir. O que irá contribuir para o desenvolvimento da autonomia e protagonismo social dos usuários (Resolução CNAS nº 109/2009, p. 12). De acordo com a Resolução CNAS nº 109/2009, que dispõe sobre a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, iremos destacar os serviços que compõe a PSE de Alta Complexidade: Serviço de Acolhimento Institucional (que se subdivide em modalidades de abrigo institucional, casa-lar, casa de passagem ou residência inclusiva), Serviço de Acolhimento em República, Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora e o Serviço de Proteção em situações de Calamidade Pública e de Emergência. Destacaremos o Serviço de Acolhimento Institucional, com ênfase no Abrigo Institucional que compreende as Instituições de Longa Permanência para Idosos (as) – ILPI, pois será uma das categorias que fará parte do embasamento teórico do referido trabalho. O Serviço de Acolhimento Institucional para idosos se desenvolve em duas modalidades: 1. Atendimento em unidade residencial onde grupos de até 10 idosos (as) são acolhidos (as). Deve contar com pessoal habilitado, treinado e supervisionado por equipe técnica capacitada para auxiliar nas atividades da vida diária. 2. Atendimento em unidade institucional com característica domiciliar que acolhe idoso (as) com diferentes necessidades e graus de dependência. Deve assegurar a convivência com familiares, amigos e pessoas de referência de forma contínua, bem como o acesso às atividades culturais, educativa, lúdica e de lazer na comunidade. A capacidade de atendimento das unidades deve seguir as normas da Vigilância Sanitária, devendo ser assegurado o atendimento de qualidade, personalizado, com até 4 (quatro) idosos (as) por quarto (Resolução CNAS nº 109/09, p.32). Este serviço tem como objetivo geral: realizar o acolhimento garantindo a proteção integral; visa contribuir para a prevenção do agravamento de situações de negligência, violência e ruptura de vínculos; restabelecimento dos vínculos familiares e/ou sociais; deve possibilitar a convivência comunitária; 34 promovendo o acesso à rede socioassistencial; fazer com que o indivíduo desenvolva escolhas com autonomia; bem como promover o acesso a programações de lazer internas e externas, que estejam voltadas para os interesses, vivências, desejos e possibilidades dos idosos (Resolução CNAS nº 109/09). De acordo com a Resolução CNAS nº 109/09, este serviço apresenta os seguintes objetivos específicos: incentivo para desenvolver o protagonismo e a capacidade para a realização das atividades diárias; viabilizar seu acesso à renda; desenvolver condições para a independência e o autocuidado; bem como proporcionar a convivência mista entre os residentes de diversos graus de dependência. Segundo a Resolução CNAS nº 109/2009, Acolhimento para idoso (as) com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, independentes e/ou com diversos graus de dependência. A natureza do acolhimento deverá ser [...], excepcionalmente, de longa permanência quando esgotadas todas as possibilidades de auto- sustento e convívio com os familiares (p.31). Na resolução supracitada é sinalizado que o acolhimento à pessoa idosa deve seguir alguns parâmetros,dentre estes: apresentar condições dignas para receber os idosos; preservar a identidade, integridade e história de vida do beneficiário; a infraestrutura do equipamento deve estar de acordo com os padrões de qualidade, ser higienizado, ter acessibilidade, habitabilidade, salubridade, ser um ambiente seguro e confortável; propiciar acesso à alimentação e ser um ambiente acolhedor, com espaços reservados, para manter a privacidade. Para Faleiros (2007), a cidadania deve ser considerada “como reconhecimento do sujeito de direitos num Estado de direito, como participante”, e a inclusão do direito do idoso amplia a cidadania do mesmo, tornando-se fundamental para a construção de uma sociedade mais justa. O autor ainda acrescenta que, A promoção da cidadania é um movimento de reconhecimento do ser sujeito na construção de sua história, por meio da participação política e por meio da garantia do exercício da autonomia e das 35 condições para que ela se efetive, num Estado e numa sociedade de direitos democraticamente construídos (p. 166). Diante do que foi exposto destacamos que o idoso vem conquistando seu espaço na sociedade, e que seus direitos são assegurados por leis que visam à ampliação da cidadania e melhoria na qualidade de vida, proporcionando uma velhice com mais dignidade. Ao mesmo tempo, temos a consciência de que as leis e normatizações ainda estão em processo de conhecimento por parte dos atores envolvidos no envelhecimento populacional, sobretudo os próprios velhos e neste sentido precisamos assumir o compromisso de divulgar e de fazer com que os mesmos se apropriem de tudo que está posto em legislação, na perspectiva dos direitos individuais e coletivos deste segmento. 36 CAPÍTULO II - INSTITUCIONALIZAÇÃO DA “VELHICE” 2.1. Contextualização histórica das Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPIs. As instituições que abrigam idosos geralmente são conhecidas como asilos, onde na maioria das vezes está associada à discriminação, à pobreza, segundo Alcântara (2004). Os asilos constituem a modalidade mais antiga de atendimento à pessoa idosa fora do seu convívio familiar. Geralmente, as instituições são vistas de forma negativa, onde o ideal seria que o idoso pudesse conviver com sua família, pois, Sem o respaldo familiar, do sistema formal (representado pelo Estado) e com a falta de engajamento da sociedade para o idoso, aumenta a possibilidade de sua inserção em uma instituição asilar (MAZZA & LEFÉVERE, 2004, p.70). As instituições que abrigam idosos existem há bastante tempo. “O cristianismo foi pioneiro no amparo aos velhos [...] Há registro de que o primeiro asilo foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590), que transformou a sua casa em um hospital para velhos” (DEBERT, 1999, apud ALCÂNTARA, 2004, p.31). A primeira instituição asilar criada no Brasil foi em 1782, no Rio de Janeiro, pela Ordem 3ª da Imaculada Conceição, com capacidade para atender 30 idosos (FILIZZOLA, 1972, apud LIMA, 2011, p.62). Segundo Alcântara (2004, p.33), na época do Brasil Colônia, o Conde de Resende defendeu “a ideia de que os soldados velhos mereciam uma velhice digna e descansada”. Só em 1794, a Casa dos Inválidos, começou a funcionar no Rio de Janeiro, proporcionando àqueles que serviram à pátria uma velhice tranquila como uma forma de reconhecimento e não como uma ação de caridade. No Brasil, um dos primeiros asilos, voltados exclusivamente para a população idosa, foi criado em 1890, no Rio de Janeiro: a Fundação do Asilo São Luiz para a Velhice Desamparada, abrigando idosos pobres, sob a ótica filantrópica- assistencialista (NOVAES, 2003, apud CHRISTOFHE, 2009, p. 32). 37 Os asilos tiveram sua origem associada à filantropia, assim “a história da institucionalização da velhice começa como uma prática assistencialista, predominando na sua implantação a caridade cristã” (ALCÂNTARA, 2004, p. 34). A Santa Casa de Misericórdia em São Paulo, no final século XIX, dava assistência a mendigos, conforme o aumento de internações para idosos passou a ser uma instituição gerontológica em 1964 (BORN, 2002, apud LIMA, 2011, p.64). Somente no início do século XX as instituições tiveram seus espaços ordenados, de acordo com cada categoria social: “as crianças em orfanatos, os loucos em hospícios, e os velhos em asilos” (ALCÂNTARA, 2004, p.34). Lima (2011), afirma que o modelo asilar brasileiro, ainda se assemelha às instituições totais, como uma forma ultrapassada de administrar os serviços de saúde e/ou habitação para idosos, deixando muito a desejar. Para Goffman (1974, p.11), uma instituição total é: Um local de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada. Segundo Born (2000, apud ALCÂNTARA, 2004, p.34), foi na década de 1960, quando se iniciou “a organização da Sociedade Brasileira de Geriatria, começam a surgir às primeiras clínicas geriátricas e casas de repouso não filantrópicas”. É a partir desse momento que a institucionalização da velhice deixa de ser apenas filantrópica, passando a ser considerada uma fonte de renda visto que a população idosa tem a necessidade de cuidados especiais, conforme Alcântara (2004). Para Camarano; Kanso (2010, p. 234), instituição de longa permanência para idosos é, Uma residência coletiva, que atende tanto idosos independentes em situação de carência de renda e/ou de família quanto aqueles com dificuldades para o desempenho das atividades diárias, que necessitem de cuidados prolongados. 38 Sobre as associações religiosas e filantrópicas, Born e Boechat (2006) destacam a Sociedade de São Vicente de Paulo – SSVP, criada em Paris, em 1833, como uma instituição religiosa católica, de cunho filantrópico que se destinava a servir aos mais necessitados. Segundo Camarano e Kanso (2010), as instituições religiosas vicentinas chegam a cerca de 700, atualmente no Brasil. A maioria das instituições existentes no Brasil é de cunho filantrópico e de congregações religiosas, representando 65,2% das instituições do país (CAMARANO; KANSO, 2010). Em um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgado no dia 24 de maio de 2011, ficou evidente que o número de instituições públicas que abrigam os idosos não está acompanhando o crescimento da população idosa, que já chega a mais de 20 milhões de pessoas, segundo Censo de 2010. “No Brasil, funcionam 3.548 asilos (públicos e privados)”. O que impressiona é o número de instituições públicas, que se limita a 218 asilos em todo o país, compreendidos entre as esferas municipal, estadual e municipal (CARLYLE Jr., 2011). Neste contexto, o autor supracitado, aponta que o estudo revelou ainda que mais da metade das instituições brasileiras, 65,2%, são filantrópicas e o setor público só contribui com cerca de 22% do custo das referidas instituições. É constatado pelo IPEA (2011), que cerca de 83 mil idosos vivem em asilos no Brasil, e que as mulheres são a maioria nessas instituições. Segundo Camarano (2010), as mulheres representam 57,3% dos idosos que residem em uma instituição de longa permanência. O gráfico a seguir cristaliza os dados quantitativos das instituições, em uma pesquisa realizada conjuntamente pelo IPEA/SEDH/CNPq de 2007- 2009. 39 Tabela 1 - Brasil: nº de ILPIs identificadas e que responderam à pesquisa por região - 2007-2009 Região ILPIs em funcionamentoRespondentes Índice de resposta em % Norte 49 49 100 Nordeste 302 301 99,7 Sudeste 2255 2035 90,2 Sul 693 663 95,7 Centro-Oeste 249 246 98,8 Brasil 3548 3249 92,8 Fonte: Pesquisa IPEA/SEDH/CNPq Carlyle JR. (2011), destaca que o Governo Federal, tem apenas uma instituição para os idosos, o Abrigo Cristo Redentor, que se encontra no Rio de Janeiro, atendendo 298 pessoas. O que não é muito diferente da nossa realidade, trazendo a discussão para o Estado do Ceará e para Fortaleza, a falta de ILPIs públicas é uma realidade social vivenciada por nosso país. No Nordeste, das 301 ILPIs pesquisadas e que responderam à pesquisa da região, a maioria, “é privada filantrópica: 81,4% delas”, dentre as que são religiosas e não religiosas e apenas 6% são públicas (IPEA, 2008). Segundo dados da pesquisa realizada pelo IPEA/SEDH/CNPq no período de 2007/2008, o Ceará possui apenas 30 Instituições de Longa Permanência para Idosos. O gráfico a seguir, foi construído segundo dados da pesquisa IPEA/SEDH/CNPq, de 2007/2008, demonstra que a quantidade de instituições públicas deixa muito a desejar no Estado do Ceará. No referido estado apenas 10% das instituições existentes são públicas, enquanto 90% das instituições são privadas filantrópicas (sem fins lucrativos), compreendidas entre religiosas – 47% e não religiosa – 43%. 40 Gráfico 01 - Ceará: nº de ILPIs identificadas e que responderam à pesquisa no Estado – 2007/2008 Fonte: Pesquisa IPEA/SEDH/CNPq A situação na capital cearense também não é muito diferente, pois segundo o IPEA/SEDH/CNPq de 2007/2008, existem apenas 10 ILPs em Fortaleza. O gráfico a seguir, foi construído segundo dados da pesquisa IPEA/SEDH/CNPq de 2007/2008, onde é possível visualizar a quantidade de ILPIs em Fortaleza, onde a instituição pública representa apenas 10% do total das instituições na capital. A proporção das instituições privadas filantrópicas religiosas é de 50%, e consequentemente as instituições privadas filantrópicas não religiosas representam 40% do total. Gráfico 02 - Fortaleza: nº de ILPIs identificadas e que responderam à pesquisa na capital -2007/2008 Fonte: Pesquisa IPEA/CNPq/SEDH 10% 47% 43% Ceará 2007/2008 Pública Privada Filantrópica Religiosa/Sem Fins Lucrativos 10% 50% 40% Fortaleza 2007/2008 Pública Privada Filantrópica Religiosa/Sem Fins Lucrativos Privada filantrópica Não Religiosa/ Sem Fins Lucrativos 41 Finalizando este item da pesquisa, informamos que a única ILPI administrada pelo poder público em Fortaleza, é o Abrigo do Estado do Ceará, localizado à Rua Olavo Bilac, 1280, bairro São Gerardo. O Abrigo público da Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social é uma unidade destinada a pessoas idosas em situação de abandono. 2.2. Regulamentação das Instituições de Longa Permanência para Idoso Além de proporcionar um ambiente acolhedor, uma vida saudável, para que os idosos (as) institucionalizados vivam dignamente, as ILPIs devem cumprir normas de funcionamento. As Instituições de Longa Permanência para Idosos têm seu funcionamento regulado por leis e normas específicas e buscam proporcionar um ambiente acolhedor ao seu público. Neste sentido sinalizaremos o que existe de normatização e orientações para os referidos equipamentos. A princípio as ILPIs foram regulamentadas através de quatro portarias, sendo uma do Ministério da Saúde e as demais regulamentadas pelo Ministério da Previdência e Assistência Social. A Portaria nº 810/1989, do Ministério da Saúde foi a primeira a aprovar, “normas e padrões para o funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento de idosos [...]”. Definindo as instituições de longa permanência como estabelecimentos de diversas denominações, com ambiente físico apropriado, com o quadro de pessoal adequado para atender os idosos, sob o regime de internato ou não, independente de pagamento e por período indeterminado. Em 2000, o Ministério da Previdência e da Assistência Social, publicou duas portarias de nº 2.854/2000 e nº 2.874/2000, e ambas definem o atendimento integral institucional como aquele “prestado em instituições acolhedoras conhecidas como: abrigo, asilo, lar e casa de repouso, para idosos em situação de abandono, sem família ou impossibilitados de conviver com suas famílias” (Portaria nº 2.854/00 e nº 2.874/00). 42 A Portaria da Secretaria de Política de Assistência Social- SAS-073, de 10 de maio de 2001, se constitui como uma etapa da regulamentação da Política Nacional do Idoso – PNI, trazendo novas mudanças no que se refere às “Normas e Padrões mínimos para serviços e programas de Atenção à Pessoa Idosa” de acordo com as demandas, no âmbito do Estado e do Município. Segundo a portaria supracitada o Atendimento Integral Institucional, “é aquele prestado em uma instituição asilar, prioritariamente aos idosos sem famílias, em situação de vulnerabilidade [...]” (p. 81). Priorizando serviços para que o idoso permaneça com sua família, sendo o atendimento integral institucional a última alternativa para o idoso. A Constituição Federal de 1988 preconiza que o cuidado voltado para a pessoa idosa deve ser feito pela família, em detrimento do atendimento asilar, porém no Art. 37, do Estatuto do Idoso (2003), afirma que, O idoso tem direito a moradia digna, seja no seio da família natural, substituta, ou desacompanhado de seus familiares, se assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada. Segundo o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas de lei (Art. 37, § 3º, p.21). O artigo 49, do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003, p. 25), como um instrumento importante para a garantia dos direitos dos idosos e norteador das políticas de atendimento, determina os princípios a serem seguidos pelas ILPIs, como: preservar os vínculos familiares, desenvolver atendimento personalizado, promover a participação do idoso nas atividades comunitárias de caráter interno e externo e preservar a identidade dele, bem como oferecer ambiente de respeito e dignidade. O art. 50 do Estatuto do Idoso (2003) delimita as obrigações das entidades de atendimento ao idoso, onde se inserem as instituições de longa permanência, I - celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obrigações da entidade e 43 prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o caso; II - observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos; III - fornecer vestuário adequado se for pública, e alimentação suficiente; IV - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade; V - oferecer atendimento personalizado; VI - diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares; VII - oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas; VIII - proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso; IX - promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer; X - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XI - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XII - comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças infectocontagiosas; XIII- providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos necessários
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