Buscar

A POLÍTICA DE COTAS E SEU IMPACTOS NO UNIVERSO DOS CONCURSOS PÚBLICOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A POLÍTICA DE COTAS E SEUS IMPACTOS NO UNIVERSO DOS CONCURSOS PÚBLICOS
Samara Coelho de Souza
Acadêmica do Curso de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus do Araguaia.
Resumo 
O presente artigo irá versar sobre a necessidade da política de cotas em concursos públicos bem como seu impacto na dinâmica concorrencial. Ademais serão analisados os pontos negativos e positivos da criação desta lei, bem como a sua fragilidade no que tange a autodeclaração, e sua possível variação conforme o interesse pessoal do concurseiro.
1. INTRODUÇÃO
Tema deste artigo é objeto de calorosas discussões e controvérsias acerca da necessidade, efetividade e impacto da Lei 12.990/14 que entrou em vigor dia 10/06/2014 e terá vigência por 10 anos, reservando aos negros ( aqueles que se auto declaram pretos ou pardos ) 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e sociedades de economia mistas controladas pela União. Importante ressaltar que reserva somente em concursos públicos que ofereçam três ou mais vagas e não se aplicará a certames cujos editais tenham sido publicados antes da vigência da lei, e que caso constatado que a declaração de negro ou pardo seja falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se já tiver sido nomeado, poderá ter sua admissão anulada e responder a um procedimento administrativo.
Por um lado, os defensores desta Lei dizem que ela veio para promover a igualdade racial por meio da política compensatória às injustiças históricas sofridas por esse povo, em contrapartida afirmam que trata-se de uma discriminação negativa com roupagem de discriminação positiva, e ainda que a mesma é inconstitucional. Quem é contra fundamenta-se principalmente no entendimento que a lei fere o princípio da igualdade e não se conformam com o disposto nos artigos 2º e 3º da referida Lei, primeiramente pelo fato da fragilidade do requisito que é baseado na ‘autodeclaração conforme o quesito cor ou raça utilizado pela Fundação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística’, dessa forma como pode ter eficácia essa simples autodeclaração, uma vez que o próprio IBGE em suas perquisas constatou que há uma enorme discrepância a autoclassificação e heteroclassicação, o que demonstra que esse método acaba não sendo eficaz, como se verá adiante. Já o artigo 3º dispõe que estes candidatos concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e as á ampla concorrência (se for aprovado dentro do número de vagas oferecidos para a ampla concorrência, sua vaga não será computada para preencher a reserva de cotas). E assim, os que são contra defendem que não há necessidade cotas em concursos públicos já que os editais não levam em consideração características pessoais de forma que possa haver algum tipo de discriminação racial (negativa) capaz de obstar a nomeação de alguém, pois seus critérios são pré fixados, e além disso, delimitam as matérias especificamente para serem estudadas, e com isso, o que vai fazer alguém se destacar mais é sua dedicação, então a partir dessas opiniões será demonstrado que há uma necessidade de uma regulamentação nesta lei para correção desses pontos controversos.
2-O IMPACTO NO UNIVERSO DOS CONCURSEIROS À LUZ DO ARTIGO 2º DA LEI 12.990/14 E A POSSIVEL VARIAÇÃO DE AUTODECLARAR-SE DE ACORDO COM INTERESSE.
De antemão é possível afirmar que levando em consideração a composição racial do Brasil e a enorme ocorrência de miscigenação que trazem a uma grande parte da população traços negros e pardos, essa lei poderá trazer uma certa complicação, pois grande numero de concurseiros poderão valer-se desse beneficio, uma vez que o critério é a autoafirmação e não a heteroafirmação, como reza o Art. 2º -“Poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE”.
 Como dito anteriormente, e comprovada através da Figura 01, é variável a forma de como se vêem e de como são vistos segundo a determinação de cor ou raça, e essa falta de um critério mais eficaz poderá gerar insegurança jurídica nos concurseiros, pois o ato de se autodeclarar no momento da inscrição já assegura o direito à concorrência simultânea entre cotas e ampla concorrência, e assim é evidente que a maioria preferirão se autodeclarar como pardos ou negros.
FIGURA 01- Distribuição das pessoas de 15 anos ou mais de idade por autoclassificação e heteroclassificação, segundo a cor ou raça - Brasil – 2008.
Diante disso, constata-se que é necessário uma regulamentação no que tange a esse critério, que seja exigido exames para uma comprovação real e mais segura para que haja uma verdadeira promoção de igualdade através dessa compensação e não o oposto, pois é fato que essa inovação vai alterar a dinâmica concorrencial exigindo que os que não se enquadram nesse perfil tenha uma maior dedicação, por outro lado, poderá trazer reflexos negativos como a acomodação dos que poderão se beneficiar com as cotas.
03- PRINCIPIO DA IGUALDADE- ART. 5º ‘CAPUT’ E A LEI 12990/14.
Para adentrar nesse assunto, trago à baila a analise de uma decisão de um Processo de Argüição de Inconstitucionalidade em Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2005.021645-7/0001.00, de Criciúma-SC em que TJ-SC que afirma que as cotas raciais em concursos públicos são Incostitucionais.
Por unanimidade, os desembargadores declararam inconstitucional a Lei Complementar 32/04 de Criciúma (SC), que prevê a reserva de vagas para afro-descendentes. 
Os desembargadores mantiveram decisão de primeira instância que garantiu o cargo a uma candidata que passou no concurso público para auxiliar administrativo na prefeitura da cidade, mas foi preterida por candidato que ingressou pelo sistema de cotas. Ela se classificou em 14ª posição e a frente dos candidatos com menor resultado, mas que foram classificados por serem negros. Para garantir sua vaga no concurso, a candidata recorreu à Justiça contra o prefeito do município. Alegou que teria direito à vaga independentemente da reserva aos negros estabelecida pela lei e pelo edital do concurso. 
De acordo com o relator, desembargador Luiz Cezar Medeiros, "não há distinção entre a condição de afro-brasileiro e a candidata branca" e concluiu seu voto citando os conceitos das palavras Racismo e Segregação Racial. Assim dizendo: “Segregação Racial é uma Política que objetiva separar e/ou isolar no seio de uma sociedade de minorias raciais e, ext., as sociais, religiosas, etc., discriminação racial. Racismo: Qualquer teoria ou doutrina que considera que as características culturais humanas são determinadas hereditariamente, pressupondo a existência de algum tipo de correção entre as características ditas 'raciais' (isto é, físicas e morfológicas) e aquelas culturais (inclusive atributos mentais, morais, etc.) dos indivíduos, grupos sociais e ou populações” e concluiu assim: “Como se vê, as expressões racismo ou segregação racial definidas por um dos Dicionários mais respeitados da Língua Portuguesa excluem, de forma extreme de dúvidas qualquer tipo de implicação de que tais condutas possam ser direcionadas apenas aos negros, aos brancos, aos cafusos, mulatos, mamelucos ou qualquer outra espécie de raça humana. Praticar o racismo é contribuir através de atos e práticas, para a distinção pura e tão somente por este fato, pelo beneficiamento de um, em detrimento de outro”. 
O voto foi fundamentado também no artigo 5º ‘caput’ que assim dispõe: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...] e no Art. 19, inciso III ao qual dispõe a vedação a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. 
De acordo com o Professor Gustavo Vicente Sander, O Princípio da Igualdadeou Isonomia é uma decorrência da igualdade de todos perante a lei, quer dizer, todos os cidadãos subordinam-se às regras gerais e abstratas editadas pelo legislador, sem distinções que configurem privilégios pessoais em função de raça, cor, idade ou gênero.
É importante considerar que esta decisão se deu no ano de 2007, em que o Princípio da igualdade ainda promovia a igualdade formal apenas. Hodiernamente, o objetivo é a promoção da igualdade material, buscando "tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades". 
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversamente da opinião do Relator Luiz Cezar Medeiros e dos que se posicionam contra a lei de cotas em concursos públicos, ela não fere o Principio da Igualdade. O que fere este Principio é aquela lei criada sem levar em conta o contexto social e a finalidade do ordenamento jurídico pátrio, entre elas, “reduzir as desigualdades" (art. 3º, III da CF). É fato que as oportunidades para ascensão no mercado de trabalho não são as mesmas para homens e mulheres, bem como para as pessoas de pele clara e para os negros, entre outras. E à medida em que as situações desiguais vão se igualando em conseqüência da dinâmica natural das relações sociais, a discriminação (negativa) possa se minimizar acentuadamente ao longo desses dez anos de vigência da lei 12.990/14. Porém fica registrado que esta lei necessita de uma regulamentação mais precisa no que tange a autodeterminação pessoal como negros ou pardos, como explicitado anteriormente.
Sem embargos de opiniões diversas, acredito que seria mais eficaz se em vez do critério ser a cotas para negros e pardos, o critério fosse a baixa renda independentemente da cor da pele. Em consonância dessa opinião, cito o professor Ernani Pimentel, fundador da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos, o qual defende que as cotas poderiam beneficiar pessoas pobres, vindas da escola pública. “Eu não sou contra uma reparação da sociedade por tudo o que fizeram com os negros. Na verdade, acho que o Estado tem de reconhecer e recompor esses dados. Agora, não pode ficar só para os negros. A rigor, não são só os negros que devem ser olhados, mas todos aqueles que não têm condições de disputar cargos que demandam educação.”
5- REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/caracteristicas_raciais/PCERP2008.pdf - acessado em 08/08/20014
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ADMINISTRACAO-PUBLICA/462680-PROJETO-QUE-CRIA-COTA-DE-20-PARA-NEGROS-EM-CONCURSOS-PUBLICOS-GERA-POLEMICA.html
http://www.siserpcriciuma.com/products/cotas-raciais-em-concurso-publico-s%C3%A3o-inconstitucionais,-decide-tj-sc-/

Outros materiais