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A contribuição da fenomenologia de Husserl

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A contribuição da fenomenologia de Husserl
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Husserl trouxe no inicio do século XX, uma nova abordagem do conhecimento a que deu o nome de fenomenologia.
Segundo Husserl, a fenomenologia está encarregada, entre outras, de três tarefas principais: distinguir e separar psicologia e filosofia, afirmar a prioridade do sujeito do conhecimento ou consciência reflexiva diante dos objetos e ampliar/renovar o conceito de fenômeno. 
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Distinção e separação entre 
psicologia e filosofia 
No final do século XIX e no início do 
século XX, muitos pensadores julgaram que a psicologia tomaria o lugar da teoria do conhecimento e da lógica e, portanto, da Filosofia. 
Na opinião deles, a ciência positiva do 
psiquismo seria suficiente para explicar as causas e as formas de conhecimento, sem necessidade de investigações filosóficas. 
 
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Husserl, porém, mostrou o equívoco de tal opinião. 
A psicologia explica, por meio de 
observações e de relações causais, fatos mentais e comportamentais, isto é, os mecanismos físicos, fisiológicos e psíquicos que nos fazem ter sensações, percepções, lembranças, pensamentos ou que nos permitem realizar ações pelas quais nos adaptamos ao meio ambiente. 
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A filosofia, porém, difere da psicologia, 
porque investiga o que é a percepção, o que é a memória, o que é o comportamento, o que quer dizer "psíquico", o que quer dizer "físico", etc. 
Em outras palavras, não explica fatos 
mentais e de comportamento por meio de relações de causa e efeito, mas descreve as significações que constituem a vida psíquica, o sentido das atividades e operações psíquicas. 
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Como, para a fenomenologia, as 
significações são as essências, a filosofia difere da psicologia porque esta explica fatos e aquela descreve essências da vida psíquica. 
Por exemplo, a psicologia nos diz que há 
percepção e nos oferece uma explicação causal para ela, mas não pode nos dizer o que é a percepção, pois para isso precisaria conhecer a essência da própria consciência. 
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Manutenção da prioridade do sujeito do conhecimento 
Husserl privilegia ou dá prioridade à 
consciência reflexiva ou ao sujeito do conhecimento, isto é, afirma que as essências descritas pela Filosofia são produzidas ou constituídas pela consciência enquanto um poder para dar significação à realidade.
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A consciência de que fala o filósofo não
é, aquela de que fala o psicólogo. Para este, a consciência é o nome dado a um conjunto de fatos externos e internos 
observáveis e explicados causalmente. A consciência a que se refere o filósofo é o sujeito do conhecimento, como estrutura e atividade universal e necessária do saber. É a consciência Transcendental ou o Sujeito Transcendental. 
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Qual é o poder da consciência reflexiva? 
O de constituir ou criar as essências, pois estas nada mais são do que as significações produzidas pela consciência, na qualidade de um poder universal de doação de sentido ao mundo.
A consciência não é uma coisa entre as coisas, não é um fato observável, nem é, como imaginava a metafísica, uma substância pensante ou uma alma. 
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A consciência é uma pura atividade, o ato 
de constituir essências ou significações, dando sentido ao mundo das coisas das coisas. Estas – ou o mundo como significação – são o correlato da consciência, aquilo que é visado por ela e dela recebe sentido. Não é uma coisa nem um substância (uma coisa), mas uma atividade (uma ação). Por ser uma ação que visa aos objetos como significações, toda consciência é sempre consciência de. A isso Husserl dá o nome de intencionalidade. 
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Ampliação/renovação do conceito de fenômeno 
Desde Kant, fenômeno indicava aquilo que, do mundo externo, se oferece ao sujeito do conhecimento sob as estruturas cognitivas a priori da consciência (isto é, sob as formas a priori do espaço e do tempo e sob os conceitos a priori do entendimento). 
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No entanto, Hegel ampliou o conceito de fenômeno, afirmando que tudo o que aparece só pode aparecer para uma consciência e que a própria consciência mostra-se a si mesma no conhecimento de si, sendo ela própria um fenômeno. 
Por isso, foi Hegel o primeiro a usar a palavra fenomenologia para com ela indicar o conhecimento que a consciência tem de si mesma através dos demais fenômenos que lhe aparecem. 
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Husserl mantém o conceito kantiano e hegeliano, mas amplia ainda mais a noção de fenômeno. Para compreendermos essa ampliação precisamos considerar a crítica que endereça a Kant e a Hegel. 
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Contra Kant, Husserl afirma que não há
nôumeno, não há a "coisa em si" incognoscível (sem explicação). Tudo o que existe é fenômeno e só existem fenômenos. Fenômeno é a presença real de coisas reais diante da consciência; é aquilo que se apresenta diretamente, "em pessoa", "em carne e osso", à consciência. 
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Contra Hegel, Husserl afirma que a consciência possui uma essência diferente das essências dos fenômenos, pois ela é doadora de sentido às coisas e estas são receptoras de sentido. A consciência não se encarna nas coisas, não se torna as próprias coisas, mas dá significação a elas, permanecendo diferente delas. 
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O que é fenômeno?
A fenomenologia é a descrição de todos os
fenômenos, ou eidos (aparências) ou essências, ou significação de todas estas 
realidades: materiais, naturais, ideais, culturais. 
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Ao ampliar o conceito de fenômeno,
Husserl propôs que a Filosofia distinguisse diferentes tipos de essências ou fenômenos e que considerasse cada um deles como manifestando um tipo de realidade diferente, um tipo de ser diferente. Falou, assim, em regiões do ser: a região consciência, a região natureza, a região matemática, a região arte, a região história, a região religião, a região política, a região ética, etc. Propôs que a Filosofia investigasse as essências próprias desses seres ou desses entes, criando ontologias regionais. 
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Ôntico e Ontológico
O filósofo alemão Martin Heidegger propõe distinguir duas palavras: ôntico e ontológico. 
Ôntico se refere à estrutura e à essência própria de um ente, aquilo que ele é em si mesmo, sua identidade, sua diferença em face de outros entes, suas relações com outros entes. 
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Ontológico se refere ao estudo filosófico
dos entes, à investigação dos conceitos que nos permitam conhecer e determinar pelo pensamento em que consistem as modalidades ônticas, quais os métodos adequados para o estudo de cada uma 
delas, quais as categorias que se aplicam a cada uma delas. 
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Em resumo:
Ôntico diz respeito aos entes em sua existência própria; ontológico diz respeito aos entes tomados como objetos de conhecimento. Como existem diferentes esferas ou regiões ônticas, existirão ontologias regionais que se ocupam com cada uma delas. 
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Em nossa experiência cotidiana, distinguimos espontaneamente cinco grandes estruturas ônticas:
1. os entes materiais ou naturais que chamamos de coisas reais (frutas, árvores, pedras, rios, estrelas, areia, o Sol, a Lua, metais, etc.); 
2. os entes materiais artificiais que também chamamos de coisas reais (nossa casa, mesas, cadeiras, automóveis, telefone, computador, lâmpadas, chuveiro,roupas, calçados, pratos, talheres, etc); 
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3.	os entes ideais, isto é, aqueles que não são coisas materiais, mas ideias gerais, concebidas pelo pensamento lógico, matemático, científico, filosófico e aos quais damos o nome de idealidades (igualdade, diferença, número, raiz quadrada, círculo, conjunto, classe, função, variável, frequência, animal, vegetal, mineral, físico, psíquico, matéria, energia, etc.); 
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4.	os entes que podem ser valorizados positiva ou negativamente e aos quais damos o nome de valores (beleza, feiúra, vício, virtude, raro, comum, bom, mal, justo, injusto, difícil, fácil, possível, impossível, verdadeiro, falso, desejável, indesejável, etc.); 
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5.	os entes que pertencem a uma realidade
diferente daquela a que pertencem as coisas, as idealidades e os valores e aos quais damos o nome de metafísicos (a divindade ou o absoluto; o infinito e o nada; a morte e a imortalidade; a identidade e a alteridade; o mundo como unidade, a relação e diferenciação de todos os entes ou de todas as estruturas ônticas, etc.). 
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Como passamos da experiência ôntica à investigação ontológica? 
Quando aquilo que faz parte de nossa vida 
cotidiana se torna problemático, estranho, confuso; quando somos surpreendidos pelas coisas e pelas pessoas, porque acontece algo inesperado ou imprevisível; quando desejamos usar certas coisas e não sabemos como lidar com elas; enfim, quando o significado costumeiro das coisas, das ações, dos valores ou das pessoas perde sentido ou se mostra obscuro e confuso, ou quando o que nos foi dito, ensinado e transmitido sobre eles já não nos satisfaz e queremos saber mais e melhor. 
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