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Rendas certas postecipadas Cleia Denise Santos Ciscato Introdução Você sabia que as rendas são parte integrante dos financiamentos ou dos empréstimos? Nesta aula, estudaremos os pagamentos sucessivos que compõem uma operação financeira, e cujo objetivo é amortizar uma dívida. Objetivos da aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o significado do termo “rendas” e conhecer seus modelos básicos; • entender como calcular renda certa postecipada. 1 Rendas Entenda que “rendas” referem-se a valores rentabilizados com juros ou não, empregados sucessivamente na composição de um capital investido ou no pagamento de um capital tomado como empréstimo. As rendas são séries de pagamentos, também chamadas de parcelas, termos ou prestações. Esses pagamentos são realizados para amortizar uma dívida financeira ou finan- ciar a aquisição de bens. EXEMPLO Pense em um financiamento imobiliário, em que o devedor realiza pagamentos pe- riódicos para amortizar sua dívida. Esses pagamentos de rendas parceladas irão compor o total do capital financiado para a aquisição do imóvel. As prestações são pagas ao credor na forma de rendas, em períodos e parcelas pré-determinadas. No caso de um investimento, quando um poupador realiza créditos periódicos de valores em seu banco, na modalidade “poupança”, por exemplo, está gerando rendas. Podemos entender a renda, portanto, como o conjunto de dois ou mais pagamentos que ocorrem em períodos distintos, objetivando o pagamento de uma dívida. Figura 1 – Valor do dinheiro no tempo Fonte: isak55 / Shutterstock.com FIQUE ATENTO! No Brasil, a remuneração pelo capital é muito inferior ao custo dos empréstimos. Ao mesmo tempo em que o sistema bancário remunera um capital a 12% ao ano, poderá cobrar 12% ao mês pelo uso de limite de cheque especial. Por isto, as rendas de aplicação somente serão interessantes se a mesma pessoa física ou jurídica não tiver endividamento. Confira uma matéria sobre os juros no Brasil em: <http:// epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2016/07/brasil-tem-maior-taxa-de- -juro-real-do-mundo.html> . Vejamos agora a conceituação de rendas certas! 2 Rendas certas As rendas certas também são denominadas “séries periódicas uniformes” e referem-se às rendas em que os elementos de cálculo já estão previamente determinados. Tais elementos são o valor do capital, o percentual de juros e a quantidade de parcelas. EXEMPLO Considere uma sequência de n pagamentos de valores iguais. Estamos tratando de uma série uniforme de pagamentos, visto que está definida a periodicidade de par- celas, bem como os valores de cada uma dessas rendas, de acordo com o que foi acordado na operação de financiamento ou de aplicação financeira. Isso compõe uma série uniforme de pagamentos. Figura 2 – Série uniforme de pagamentos Taxa de Juros = i% VP = ? 0 1 2 3 .... n - 2 n - 1 n Tempo PG TO . PG TO . PG TO . PG TO . PG TO . PG TO . Fonte: SOUZA; CLEMENTE, 2015, p. 37. Saiba que as rendas certas estão classificadas conforme a variação dos elementos, dividin- do-se em: postecipadas; antecipadas; e diferidas. Confira! • Rendas Postecipadas: são as rendas determinadas pelo pagamento feito sempre ao final de cada período, como, por exemplo, no caso das faturas de cartão de crédito, mensalidades de empréstimos ou de financiamentos. • Rendas Antecipadas: são as rendas em que há a obrigatoriedade de o pagamento ser realizado no início de cada período. Como exemplo, pense em um financiamento com um pagamento de entrada, sendo as prestações sucessivas realizadas em períodos seguintes a essa entrada. • Rendas Diferidas: referem-se às rendas nas quais há um prazo determinado entre o início da contratação do financiamento (ou da compra) e o pagamento da primeira par- cela. Perceba que esse prazo, ou período de tempo, é diferente dos que se sucedem. É o caso, por exemplo, da aquisição de um bem, em que há uma carência de seis meses para pagamento da primeira prestação do financiamento. FIQUE ATENTO! Ao contratar um financiamento, verifique se ele está no padrão em que ocorre o pa- gamento da primeira parcela antecipadamente (renda antecipada), ou se a primeira parcela ocorre no período seguinte à contratação (renda postecipada). Essa dife- rença provoca uma mudança no valor final de um endividamento, sendo que o total de juros será menor se houver antecipação da primeira parcela, visto que ocorre a redução de parte do valor principal (capital) já no início do tempo total. Agora que compreendemos o conceito de rendas certas, vamos analisar mais atentamente as rendas certas postecipadas. 3 Rendas certas postecipadas Neste tópico, estudaremos especificamente as “rendas certas postecipadas”. Veja, no dia- grama do tempo, como ocorre um fluxo financeiro de um financiamento de um bem no valor de R$ 10.000,00, a ser pago em quatro prestações fixas de R$ 2.787,44, sem entrada, calculadas com juros compostos de 4,5% a.m. Perceba que esse é um caso de renda certa postecipada, em que o primeiro pagamento ocorre no período seguinte à contratação do financiamento. Figura 3 – Diagrama de um financiamento com rendas certas postecipadas } 1.a parcela 30 dias após a compra 10.000,00 0 1 2 3 4 Meses i = 4,5% a.m. 2.787,44 2.787,44 2.787,44 2.787,44 Fonte: elaborado pela autora, 2017. SAIBA MAIS! Quando não existia a facilidade de calculadoras financeiras ou planilhas eletrônicas, ou quando era proibido o emprego desses recursos em treinamentos para concursos públicos, os cálculos com séries uniformes, como no caso das rendas certas postecipadas, eram feitos com tabelas de séries de pagamentos, nas quais o valor principal era dividido por um fator para obtenção rápida do valor de PMT (prestação ou parcela). Tabela 1 – Fator atual de uma série de pagamentos (tabela parcial) I / n 1% 2% 3% 4% 5% 1 0,990099 0,980392 0,970874 0,961538 0,952381 2 1,970395 1,941561 1,913469 1,886094 1,859410 3 2,940985 2,883883 2,828611 2,775091 2,723248 4 3,091965 3,807728 3,717098 3,629895 3,545951 I / n 1% 2% 3% 4% 5% 5 4,853431 4,713459 4,579707 4,451822 4,329476 6 5,795476 5,601431 5,417191 5,242137 5,075692 7 6,728194 6,471991 6,230283 6,002054 5,786373 8 7,651678 7,325481 7,019692 6,732745 6,463213 9 8,566017 8,162237 7,786109 7,435331 7,107821 10 9,471304 8,982585 8,530203 8,110896 7,721735 11 10,367628 9,786848 9,252624 8,760477 8,306414 12 11,255077 10,575341 9,954004 9,385074 8,863251 13 12,133740 11,348374 10,634955 9,985648 9,393573 14 13,003703 12,106249 11,296073 10,563123 9,898641 15 13,865052 12,849263 11,937935 11,118387 10,379658 16 14,717874 13,577709 12,561102 11,652295 10,837769 17 15,562251 14,291872 13,166118 12,165669 11,274066 18 16,398268 14,992031 13,753513 12,659297 11,689587 Fonte: BRUNI; FAMÁ, 2009, p. 415. Agora vamos calcular um caso de rendas certas postecipadas. 4 Cálculo de rendas certas postecipadas Saiba que calcular as rendas certas postecipadas significa aplicar a fórmula para encontrar o PMT, que é a prestação, parcela ou pagamento. FIQUE ATENTO! Para saber o valor de prestações ou de rendas certas postecipadas geradas em um financiamento, devemos utilizar a fórmula para encontrar a prestação. Vamos consi- derar a aquisição de um bem no valor de R$ 10.000,00 que será totalmente financiado em 10 prestações, com pagamento da primeira prestação no período posterior à con- tratação. Os juros compostos cobrados no financiamento serão de 1,2% a.m. Qual é o valor de cada prestação nesse financiamento? Aplicando a fórmula, teremos: FIQUE ATENTO! ( )( )( ) ( )( ) ( )( ) ( )( ) ( )( ) ( ) ( ) ( ( ) ) ( ( ) ) ) ) ) ) ( ( ) ) ( ( ) ) n n nn)n n))n n) (n n( )n n)(n n( 10 10 VP i 1 + i VP i 1 + i ( (VP i 1 + i( ( VP i 1 + i ( (VP i 1 + i( ( VP i 1 + i ( ( ( (VP i 1 + i( ( ( (PMT = 1 + i – 1 ( ( 1 + i – 1( ( ) ) 1 + i – 1) ) 1 + i – 1 ( ( 1 + i – 1( ( ) ) 1 + i – 1) ) 1 + i – 1 ( ( ( ( 1 + i – 1( ( ( ( ) ) ) ) 1 + i – 1) ) ) ) n 1 + i – 1 n PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1(PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1( )PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1)(PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1( )PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1)(PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1( )PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1) (PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1( )PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1)(PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1(n nPMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1n n)n n)PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1)n n))n n)PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1)n n) (n n(PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1(n n( )n n)PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1)n n)(n n(PMT = VP x i 1+ i / 1+ i –1(n n( PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,(PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,( )PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,)(PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,( )PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,) (PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,((PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,(10PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,10PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,012 – 1)012 – 1)10012 – 110 PMT = 10.000 x 0,012 x 1,12669177 / 1,(PMT = 10.000 x 0,012 x 1,12669177 / 1,( )PMT = 10.000 x 0,012 x 1,12669177 / 1,)(PMT = 10.000 x 0,012 x 1,12669177 / 1,( )PMT = 10.000 x 0,012 x 1,12669177 / 1,) (PMT = 10.000 x 0,012 x 1,12669177 / 1,( 12669177 – 1 PMT = 10.000 x 0,01352 / 0,(PMT = 10.000 x 0,01352 / 0,( )PMT = 10.000 x 0,01352 / 0,) (PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0,(PMT = 10.000 x 0,012 1+ 0,012 / 1 + 0, 12669177 PMT = 135,20 / 0,12669177 PMT = 1.067,16 A renda certa postecipada da aquisição do bem é de R$ 1.067,16 mensal. É preciso considerar que o primeiro pagamento ocorre no período seguinte ao evento em que as rendas se originaram, visto que estamos falando de rendas postecipadas. Vamos, agora, realizar mais um experimento em que precisamos saber o PMT de um fi nanciamento de 100% de um veículo, no valor de R$ 85.000,00, parcelado em 24 meses, com juros mensais de 1,8% a.m. O primeiro pagamento é realizado no período seguinte à compra. Assim, aplicamos a fórmula: PMT = VP x (( i (1+ i) n) / ((1+ i) n –1) PMT = 85.000 x (0,01 8((1+ 0,018) 24)/ ((1 + 0,018) 24 – 1) PMT = 85.000 x (0,018 x 1,53442855) / (1,53442855 –1) PMT = 85.000 x (0,02761971/ 0,53442855) PMT = 85.000 / 0,05168082 PMT = 4.392,87 A renda certa postecipada nesse fi nanciamento é, portanto, de R$ 4.392,87. SAIBA MAIS! As taxas utilizadas no sistema bancário para o cálculo de rendas nos contratos de fi nanciamento têm suas prestações calculadas por uma taxa superior à taxa de juros inicialmente apresentada no negócio. Isso ocorre pela inclusão de outros custos fi nanceiros, como, por exemplo, a taxa de cadastro e o seguro, que aumentam o custo do fi nanciamento. Nesse caso, para gerar cálculo das parcelas, é utilizada a taxa CET ou Custo Efetivo Total. Para mais informações, acesse o site do Banco do Brasil: <https://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/custo.asp>. Agora, você já conhece as rendas certas postecipadas e, além de calcular prestações, poderá também conferir as prestações fi xas de fi nanciamentos quando informadas por bancos, lojas ou outro tipo de credor. Fechamento Chegamos ao final de nosso conteúdo. Vimos, aqui, a conceituação de rendas e, mais especifica- mente, de rendas certas postecipadas, as quais são comumente utilizadas nos cálculos financeiros em que há prestações fixas que ocorrem um período após a efetivação da aplicação ou do empréstimo. Nesta aula, você teve oportunidade de: • compreender o significado do termo “rendas” e conhecer seus modelos básicos; • entender como calcular renda certa postecipada. Referências BANCO CENTRAL DO BRASIL. FAQ - Custo Efetivo Total (CET), dez. 2014. Disponível em: <https:// www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/custo.asp>. Acesso em: 13 jan. 2017. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Matemática Financeira com HP 12C e Excel. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ÉPOCA NEGÓCIOS. Brasil tem a maior taxa de juro real do mundo, 20 jul. 2016. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2016/07/brasil-tem-maior-taxa-de-juro-real- do-mundo.html>. Acesso em: 13 jan. 2017. PUCCINI, Abelardo. Matemática Financeira: objetiva e aplicada. 9. ed. revista e atualizada. São Paulo: Elsevier, 2011. SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Decisões Financeiras e Análise de Investimentos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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