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Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 1 MACONHA Folha de Cannabis sp. (FOTO EXTRAÍDA DE E. RUSSO) 1. INTRODUÇÃO (Gahlinger, 2001, Figlie, 2004; Honório, 2006; Ribero et al., 2005; Silva et al, 2005, Rang, 2004) • Maconha é o nome dado às folhas e flores secas, preparada como mistura para fumar. Dá-se o nome de haxixe à resina extraída – ambos derivados da planta do cânhamo: Cannabis Sativa ; • Não se pode afirmar que existam duas diferentes espécies, mas sim duas variedades distintas da planta: a C. sativa, a mais comum delas, que cresce rapidamente e atinge cerca de 4.6 metros, e a variedade de tamanho menor, a C. indica, a qual é cultivada ao redor do mundo pelas propriedades psicoativas encontradas em sua resina; • A Cannabis é uma planta dióica, ou seja, sexos separados. As flores e inflorescências, principalmente da planta feminina, secretam uma resina que contém princípios ativos chamados canabinóides; • A maconha, nome popular brasileiro da planta Cannabis sativa, família Moraceae, apresenta mais de 400 componentes, sendo que aproximadamente 60 destes constituintes são canabinóides; • Os canabinóides são responsáveis pelos efeitos psíquicos e classificados em 2 grupos: canabinóides psicoativos (Delta-8-THC, Delta-9-THC e o seu metabólito ativo: 11-hidróxi-Delta-9-THC) e os não-psicoativos (canabidiol, canabinol); • O principal canabinóide é o Delta-9-tetrahidrocanabinol (∆9-THC ou THC - responsável pelos efeitos psicofarmacológicos), cuja concentração na planta varia Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 2 de 0,3% a 30%, o que contribui para a variabilidade dos níveis de THC nos tecidos humanos após a utilização da substância . • É a droga ilegal mais consumida no mundo, sendo que é bastante discutido o papel da maconha como uma ponte entre a primeira experiência com drogas e o uso posterior de outros tipos mais potentes de substâncias ilícitas. 2. HISTÓRICO (Gahlinger, 2001; Carlini, 2005, Russo, 2007) • O primeiro registro escrito do uso de Cannabis sp. aparece no livro Book of Drugs, escrito em 2737 A.C. pelo imperador chinês Shen Nung: ele a prescrevia para tratamento de gota, de malária, de dores reumáticas e de doenças femininas; • Por milhares de anos, foi utilizada como medicamento e dela extraiam fibras para a fabricação de tecidos. Por exemplo os romanos, na sua época, usavam cordas de cânhamo para a construção naval, enquanto que os indianos e chineses para uso medicamentoso e euforizante; • Durante os séculos de colonizações e conquistas, seu uso se espalhou pela Ásia Central, Norte da África e Europa, estendendo-se por diversos países; • Entre 1839 e 1900, mais de 100 estudos médicos sobre a cannabis foram publicados, sendo os principais usos para: depressão, inflamação, tumores, artrite, gota, doenças venéreas, incontinência, asma, insônia, cãibra, tosse, icterícia; • Em 1937 o “Marijuna Tax Act” tornou o uso da cannabis ilegal, e isso dificultou a prescrição pelos médicos. Em 1941, ela foi removida da Farmacopéia Americana e do Formulário Nacional; • Apenas em 1964 dois químicos israelenses, Y. Gaoni e R. Mechoulam isolaram e sintetizaram o ingrediente ativo delta-9-THC. Assim o THC era fabricado e distribuído para uso médico com o nome comercial de Marinol; • Durante a metade do século 19, o uso da cannabis se tornou muito popular entre escritores, poetas e artistas da Europa, entre eles Delacroix, Gautier e Baudelaire. Nessa época ela também foi popular nas Universidades Inglesas sendo abertamente usada por Oscar Wilde, Elizabeth Barrret Browning e Samuel Taylor. E no Estados Unidos Edgar Allan Poe foi um dos primeiros a aderir o uso ; Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 3 • No início ao século XX o uso da maconha como medicamento praticamente desapareceu do mundo ocidental, em razão da descoberta de drogas sintéticas (novos medicamentos); • A prevalência do uso da cannabis se acentuou muito no final dos anos 1960. atingindo um pico no final de 1970, e início de 1980; • No Brasil, a planta foi introduzida pelos negros africanos trazidos como escravos, sendo seu uso proscrito em qualquer situação; • Nos Estados Unidos e Canadá, no entanto, a maconha e seus derivados sintéticos já são autorizados, quanto a sua utilização como medicamentos em pacientes com HIV, câncer, esclerose múltipla e muitas outras doenças, devido às suas possíveis ações anticonvulsivantes, analgésicas e antieméticas. **** CURIOSIDADE: “A palavra portuguesa maconha, segundo muitos, é um acrônimo do cânhamo, isto é, tem exatamente as mesmas letras, em outra ordem”. 3. EPIDEMIOLOGIA (II Levantamento Domiciliar, 2005) Segundo o último Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: MACONHA Uso na vida 8,8% Uso no ano 2,6% Uso no mês 1,9% Uso da MACONHA na vida por regiões: REGIÃO % de uso de maconha na vida Norte 4,8 Nordeste 6,1 Centro-oeste 7,8 Sudeste 10,3 Sul 9,7 Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 4 4. NOMES POPULARES (Gahlinger, 2001; Figlie, 2004; Ethan Russo, 2007; Zuardi, 2006; NIDA, 2007). Os nomes populares variam de acordo com as preparações e países nos quais são plantadas e comercializadas. • Diamba, fumo d´angola; Pot, weed, grass • Canabis; Marijuana; Erva; Fumo; “Back”; Baseado; Bomba; • Fininho; Cânhamo; Charas; Bangüê ; Ganja; “Sinsemilla” ; Haxixe 5. CLASSIFICAÇÃO (Carlini, 2005) • Droga alucinógena perturbadora do sistema nervoso central, cuja principal substância psicoativa é o ∆-9-THC • Tal droga ilícita é chamada de perturbadora ou alucinógena, pois modifica a atividade do Sistema Nervoso Central (SNC), ou seja, perturba ou distorce o seu funcionamento, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma desordenada, numa espécie de delírio. 6. TIPOS DE PREPARAÇÃO (Gahlinger, 2001; Figlie, 2004) • Maconha – forma mais utilizada no Brasil. É uma mistura das folhas, sementes, caules e flores secas da planta. Fumada pura num papel de cigarro ou de seda ou misturada ao tabaco, também pode ser utilizada na confecção de bolos e biscoitos. Comum na Índia o preparo de chá. • Bangüê - um preparo mais fraco, produzido a partir do processo de secagem das folhas • Ganja - nome dado ao preparo forte feito com as flores das plantas fêmeas • Haxixe ou Charas – resina seca e concentrada das flores; 5 a 10 vezes mais potente do que a maconha comum; misturado com tabaco e fumado como cigarro ou em cachimbo • Óleo de Hash – substância viscosa ainda mais potente, cujo THC é extraído do haxixe ou maconha com uso de solvente orgânico. Esse extrato é filtrado e a concentração de THC no óleo fica entre 15 a 50%. Utilizado de modo econômico Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 5 devido sua potência psicoativa, mas algumas gotas podem ser colocadas no cigarro ou cachimbo ou o óleo pode ser aquecido e inalado • Sinsemilla – (sem semente) planta feminina aparada, com maior conteúdo de princípio ativo THC • Injeção intravenosa do extrato de THC – por ser insolúvel em água, pode causar dores ou inflamação no local da aplicação. - O THC também já foi preparado na forma de cápsulas gelatinosas e administrado oralmente, para fins clínicos e de pesquisa experimental. 7. MODOS DE USO (Gahlinger, 2001, Gustafson, 2003; Ashton, 2001). • Oral (ingestão) – na forma de chás ou ingerida com alimentos gordurosos • Fumado, inalado - via de maior prevalência de uso • Intravenosa (muito rara) - forma de uso não adequado, pois a cannabis não é solúvel em água 8. FARMACOCINÉTICA(Gahlinger, 2001; Figlie, 2004; Ribeiro et al, 2005; Watanabe, 1991; Deustch, 1993; Glaz-Sandberg, 2007) • O delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), um dos 60 canabinóides presentes na Cannabis sp., é considerado o maior constituinte psicoativo da maconha. A quantidade de THC varia de acordo com a espécie, com a planta individualmente e com o estágio do ciclo de vida no qual a planta se encontra • A latência (diferença entre o tempo da administração e do surgimento dos efeitos) é parcialmente determinada pela concentração de THC na preparação • Quando a droga é fumada, 30% do THC são destruídos pela queima, sendo 20 a 40% perdidos com a fumaça. Em função de sua alta lipossolubilidade, o THC restante é rapidamente absorvido dos pulmões para a corrente sangüínea e atinge um pico de concentração em 15 a 45 minutos após ter sido inalado • O declínio da concentração sangüínea é rápido, com redução gradual entre 2 e 6 horas após o uso. Apenas 5 a 10% dos níveis iniciais permanecem após 1 hora – isso se deve ao rápido metabolismo hepático e à distribuição eficiente da Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 6 substância para o cérebro e para outros tecidos (baço, eritrócitos, intestino delgado) • Em síntese, os efeitos iniciam imediatamente após a droga atingir o SNC com duração de 1 a 3 horas. Alguns pacientes podem exibir os sintomas e sinais de intoxicação por até 12 a 24 horas, devido à liberação lenta dos canabinóides a partir do tecido adiposo • Mesmo com uma perda considerável de THC (taxa de absorção pulmonar 50%), a forma fumada é o método mais efetivo de uso da droga, pois a combustão converte o isômero delta-6 do THC na mais potente forma psicoativa da substância – o isômero delta-1 • Quando a droga for ingerida oralmente, a taxa de absorção será mais elevada (90 a 95%) e lenta, podendo o estabelecimento dos efeitos demorar 1 hora ou mais, permanecendo por mais de 5 horas. • Após a distribuição pelos tecidos, a cannabis chega ao fígado onde é metabolizada, através do sistema enzimático do citocromo P450, em 11-hidroxi-∆- 9-tetrahidrocanabinol e 8-hidroxi-∆-9-tetrahidrocanabinol, ambos metabólitos ativos. A concentração formada desses 2 compostos depende da dose ingerida, biodisponibilidade e perda da substância durante a primeira passagem pelo fígado. A segunda fase do metabolismo tem como produto final o 11-nor-9- carboxi-∆-9-tetraidrocanabinol-acil-glicuronídeo, principal metabólito encontrado na urina e fezes. • Devido à sua lipossolubilidade, os canabinóides acumulam-se nos órgãos onde os níveis de gordura são mais elevados (cérebro, testículos e tecido adiposo), sendo lentamente liberados para corrente sangüínea • A meia-vida do THC depende da experiência do usuário com a droga, sendo mais curta em usuários com um longo tempo de uso (19 a 27 horas) do que em usuários com um curto tempo de uso (50 a 57 horas) e isso é devido à rapidez com que a droga é metabolizada após liberação dos tecidos gordurosos • A droga é eliminada pela urina, bile, leite materno e fezes Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 7 9. MECANISMO DE AÇÃO (Martini et al 2007; Herkenham, 1991; Ihenetu, 2003; Pertwee, 2005; Piomelli, 2004; Joy, 2000; Pertwee, 1993; Schlicker, 2001; Chen, 1990). • O THC e seus metabólitos agem por meio de receptores específicos – chamados receptores canabinóides CB1 e CB2, embora nem todos os efeitos sejam mediados por esses receptores. Os receptores CB1 predominam no SNC e em alguns nervos periféricos terminais; os CB2 encontram-se principalmente nos tecidos periféricos nas células imunológicas, como linfócitos e macrófagos (relacionados à modulação da liberação de citocinas aos tecidos imunológicos). • Associados a esses receptores são encontrados ligantes endógenos os endocanabinóides como a anandamida que atua como agonista parcial de receptores CB1, assim como o ∆9-THC • Os receptores canabinóides estão inseridos na membrana celular, acoplados a proteína G e à enzima Adenilato Ciclase. • Os receptores canabinóides tornam-se ativos quando interagem com ligantes como a anandamida (agonista endógeno de receptores canabinóides) ou o ∆9- THC (agonista exógeno) Esse fenômeno desencadeia uma série de reações, como a ativação da proteína G e a inibição da Adenilato Ciclase que, conseqüentemente, diminui a produção de AMPcíclico (adenosina monofosfato cíclico), importante para a homeostasia celular, abertura dos canais de potássio e bloqueio dos canais de cálcio Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 8 • No SNC, os receptores CB1 e CB2 são encontrados em diversas áreas com funções específicas, como cerebelo e gânglios da base (responsável pela coordenação motora), hipocampo (aprendizagem e memória), córtex cerebral (funções cognitivas) e núcleo accumbens (recompensa). Tal distribuição está relacionada com os efeitos psicofarmacológicos da maconha. • Os receptores canabinóides localizam-se nas membranas pré-sinápticas, influenciando indiretamente sistemas de neurotransmissão como o ácido gama- aminobutírico (GABA), glutamato, noradrenalina, serotonina e dopamina Sobre a neurotransmissão glutamatérgica e noradrenérgica, os canabinóides inibem canais de cálcio e ativam canais de potássio, promovendo um bloqueio na liberação desses neurotransmissores. Quando sob efeito do THC, os opióides endógenos estimulam indiretamente o sistema dopaminérgico, promovendo o reforço positivo 10. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS EFEITOS DO USO DA MACONHA (Ribeiro et al, 2005; NIDA, 2007) - Um cigarro de maconha contém cerca de 0,3 a 1 g de maconha. Estima-se que a concentração mínima para produção dos efeitos euforizantes seja de 1 cigarro de 2 a 5 mg. - Os efeitos da intoxicação aparecem após alguns minutos do uso (fumado). - O THC causa sensação de euforia ou “high”, pois atua no sistema de recompensa liberando dopamina. Após ter passado a euforia, o usuário sente sono ou depressão e ocasionalmente ansiedade, medo, pânico. - Usuários pesados apresentam dificuldade em recordar eventos e memória a curto prazo, pois o THC altera o caminho no qual a informação é processada pelo hipocampo – área responsável pela formação de memória. THC também interrompe coordenação e equilíbrio pela ligação com os receptores no cerebelo e gânglio basal (responsáveis pelo equilíbrio, postura, coordenação dos movimentos e tempo de reação). Por esses efeitos a intoxicação pela maconha pode ocasionar acidentes. Estudos referem que de 6-11% das vítimas de acidentes fatais apresentaram teste positivo para THC, em muitos casos foi detectada presença de álcool. - Usuários de maconha que tem ingerido altas doses da droga experienciam psicose tóxica aguda: alucinação, desilusão, despersonalização, perda da sensação da identidade pessoal. 11. EFEITOS DO USO AGUDO (Gahlinger, 2001; Figlie, 2004; Seibel, 2001; Kalant, 2004; Ribeiro et al, 2005) a) Efeitos euforizantes: Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 9 - Aumento do desejo sexual - Sensação de lentificação do tempo - Aumento da autoconfiança e grandiosidade - Risos imotivados, hilaridade, - Loquacidade, aumento da sociabilidade - Sensação de relaxamento e aumento da capacidade de introspecção - Aumento da percepção das cores, sons, texturas e paladar b) Efeitos físicos: - Taquicardia (140 a 160 batimentos/min) - Taquipnéia, hipertensão, hipotermia, tontura - Retardo psicomotor - Redução da capacidade para execução de atividades motoras complexas - Incoordenação motora, redução da acuidade auditiva - Aumento da acuidade visual, broncodilatação - Hipotensão ortostática, aumento do apetite - Xerostomia (boca seca), tosse - Hiperemia por vasodilatação conjuntival – olhos avermelhados; c) Efeitospsíquicos: - Despersonalização, depressão, desrealização - Alucinações e ilusões - Ansiedade, sonolência e irritabilidade - Prejuízos à concentração e na memória de curto prazo - Letargia, excitação psicomotora - Ataques de pânico, paranóia, Prejuízo no julgamento - Fator desencadeador da esquizofrenia em indivíduos predispostos ou piora do quadro Também podem ocorrer: a) Déficits motores: - prejuízo na capacidade de dirigir veículos Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 10 b) Déficits cognitivos: - perda de memória de curto prazo, com dificuldade para lembrar-se de eventos - redução na capacidade para solucionar problemas - problemas para diferenciar tempo e espaço (habilidades psicoespaciais) - piora da compreensão diante de estímulos sensoriais - redução das atividades da vida diária; piora na capacidade de concentração 12. EFEITOS DO USO CRÔNICO DA MACONHA (Figlie, 2004; Ribeiro et al, 2005; NIDA, 2007) • Complicações físicas a) Gerais - fadiga crônica, letargia, náusea crônica b) Alterações respiratórias - - Tosse seca; laringites e faringites de repetição; - Dor de garganta crônica; congestão nasal; - Piora da asma (fumo diário por 6 a 8 semanas causa significativa obstrução das vias aéreas); bronquite crônica; - Infecções freqüentes dos pulmões e do trato respiratório superior; - Aumento do risco de desenvolver câncer de pulmão e de outros tumores malignos associados ao uso de substâncias carcinogênicas (cavidade oral, laringe, faringe, esôfago, próstata e colo de útero). c) Efeitos reprodutivos - - Infertilidade: número e concentração de espermatozóides diminuem durante a ejaculação; - Problemas menstruais: supressão do hormônio folículo-estimulante e luteinizante, causando ciclos anovulatórios; - Impotência: aumento da vasodilatação nos genitais e retardo da ejaculação; - Diminuição da libido e da satisfação sexual – redução da produção de testosterona; - Inibição reversível da espermatogênese: aumento do número de espermatozóides com aparência anormal e diminuição de sua mobilidade, pela supressão da concentração sérica de prolactina e de testosterona. Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 11 d) Efeitos no Sistema Cardiovascular – aumento do trabalho cardíaco e conseqüente taquicardia, com prejuízo em hipertensos ou com doenças coronarianas e cerebrovasculares • Complicações Neurologias e Psiquiátricas - Deficiências cognitivas: afrouxamento das associações, fragmentação do pensamento, confusão mental, alterações na memória de curto prazo e prejuízo da atenção - Diminuição da coordenação motora, depressão e ansiedade - Mudanças rápidas de humor/irritabilidade - Ataques de pânico e tentativas de suicídio - Mudanças de personalidade, psicoses (nos casos de uso pesado) • Complicações Sociais - Isolamento social - Afastamento do lazer e de outras atividades sociais - Síndrome amotivacional (usuários parecem apáticos com diminuição da ambientação, perda da atenção e capacidade de julgamento, alto grau de distração, comprometimento da comunicação e diminuição do relacionamento interpessoal). Identificada em 1971 por alguns psiquiatras, mas ainda necessita ser confirmada. Essa síndrome parece estar mais relacionada com um estado constante de intoxicação do que com mudanças de personalidade ou funcionamento cerebral, tendendo a melhorar com a interrupção do uso e aconselhamento. 13. EFEITOS NA GESTAÇÃO (Briggs, Freeman & Yaffe, 2005; NIDA, 2007, de Moraes Barros, 2006; Davitian et al, 2006) • O uso de maconha é contra-indicado durante a gestação, pois o delta-9-THC atravessa a barreira placentária e atinge diretamente o feto. • A ação do metabólito ativo da maconha no SNC (incluindo vias dopaminérgicas mesolímbicas) durante a vida fetal traz conseqüências para a criança após o nascimento e ao longo do tempo. Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 12 • Recém-nascidos apresentam: - alterações nas respostas a estímulos visuais, tremores, choro alto e irritação, os quais indicam problemas no desenvolvimento neurológico. • Essas crianças, na idade escolar, apresentam diminuição no controle de impulsos, dificuldades em executar tarefas que envolvam atenção, memória e capacidade para resolução de problemas mais do que aquelas que não foram expostas a droga. Efeitos: • Hipotrofia comparável a da síndrome alcoólica fetal • Diminuição do tempo e da qualidade da gestação • Diminuição do peso fetal e do tamanho do pé • Problemas Neurológicos 14. REAÇÃO DE OVERDOSE (Gahlinger, 2001) • A toxicidade aguda da maconha é baixa. Experiências feitas com animais demonstram que é necessária uma quantidade de 40.000 vezes a dose normal para ser letal. • Não existem casos de morte por intoxicação relatados na literatura. • Overdose é mais comum no caso da maconha ser ingerida VO ou como haxixe, quando a absorção é lenta. Nessas situações, pode se induzir vômito ou usar catártico para lavagem do trato gastrintestinal. Sinais: pulso rápido, baixa pressão arterial, estupor 15. TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA (Martini et al, 2007, Kalant, 2004) • A tolerância surge quando são utilizadas altas doses, exposições freqüentes e preparações mais concentradas de maconha, devido, em maior parte, à adaptação farmacodinâmica do que à alteração farmacocinética – através da desensibilização e redução dos receptores canabinóides à droga; • Pode ocorrer tolerância cruzada ao álcool; • A dependência física à maconha, caracterizada por uma significativa síndrome de abstinência quando o uso crônico da droga é descontinuado de forma abrupta, Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 13 se manifesta por: obsessão em adquirir e usar a droga, irresponsabilidades profissionais e sociais como conseqüência ao uso, grande dificuldade em se manter por longos períodos em abstinência quando motivado a parar, dificuldade em controlar as quantidades de droga usadas e persistência do uso mesmo após sérios problemas sociais e de saúde gerados pela droga; • O risco da dependência à maconha aumenta progressivamente com o aumento na freqüência do uso esse reduz com a idade – adolescentes são mais vulneráveis à dependência do que adultos; • Vários fatores podem determinar o risco do desenvolvimento da dependência à maconha, tais como fatores genéticos para dependência ao álcool e a outras drogas, idade do primeiro uso e dependência pré-estabelecida ao álcool e/ou a outras drogas. 16. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ( Figlie, 2004; Kalant, 2004) • Em usuários de grandes doses diárias e com um longo tempo de uso de maconha, a síndrome de abstinência foi relatada como certo "desassossego interno", horas após a última dose de THC; • O quadro de abstinência inicia-se tipicamente 1 a 3 dias após a cessação do uso, tendo seu pico entre 2 e 6 dias, e terminando em até 14 dias após a parada; • A síndrome caracteriza-se por: irritabilidade, ansiedade, insônia, sudorese, inquietude, coriza, soluços, redução do apetite, náuseas, vômitos, dores musculares, dores de estômago, diarréia, sensibilidade aumentada à luz (fotofobia), vontade intensa de usar a droga (fissura), confusão mental, depressão, perda de peso e tremores discretos; • Em alguns casos, notou-se comportamento não-cooperativo e resistente. Estes sintomas não são sempre aparentes e ainda são controvertidos na literatura, carecendo de mais estudos. 17. TRATAMENTO (Figlie, 2004; Budney et al, 2007; NIDA, 2007) • Até o presente momento, não existem medicamentos e os métodos para tratar usuários crônicos de maconha não estão bem estabelecidos. Não há regimes de Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 14 retirada desta droga em pacientesdependentes – porém, a descontinuação de seu uso é um pré-requisito para o tratamento • A retirada da droga inclui a combinação de terapia motivacional e terapia cognitivo-comportamental • As técnicas terapêuticas devem incluir estratégias que expressem empatia, reflexão, afirmação, reforço da auto-eficácia, explorando os prós e os contras do uso da droga, trabalhando com a resistência e elaborando planos e metas para alcançar a abstinência • Os benzodiazepínicos podem ser úteis nos quadros ansiosos agudos, assim como nos psicóticos, se associados a algum neuroléptico. • Fármacos que diminuem a atividade dopaminérgica mesolímbica no nucleo accumbens, como o antagonista canabinóide CB1 Rimonabant – podem bloquear os efeitos de recompensa da maconha, e podem ser usados para prevenir a recaída. 18. DETECÇÃO (Verstraete, 2004; Rang, 2004; Moeller & Kraemer, 2002; Huestis et al, 1996; Huestis & Cone, 2004) • O delta-9-THC, passa ao plasma sanguíneo e, devido a sua alta lipossolubilidade, permanece por longo período de tempo no compartimento tecidual rico em gordura, sendo excretado lentamente. Assim, o THC e seus metabólitos podem ser detectados no sangue até 6 dias após o último uso, sendo que traços podem persistir por mais de 4 semanas. • O THC pode ser detectado na urina, sangue, cabelo, ar expirado, leite materno, gorduras corporais. Tempo para detecção no organismo com uso esporádico: a dose absorvida após se ter fumado cannabis varia entre 5 e 30mg com tempo de meia-vida de 30 minutos. O metabólito, ácido11-nor-9-carboxi-delta-9-tetrahidrocanabinol (THCCOOH), que é mais ativo do que o próprio delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), apresenta meia-vida mais longa, cerca de 20 a 57 horas em usuários ocasionais e 3 a 13 dias em usuários regulares. Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 15 • O THC é detectável por aproximadamente 5 horas no sangue e 10 horas na urina. • O THCCOOH pode ser detectado no sangue em até 36 horas. Para cannabis fumada nas concentrações de 1,75% e 3,5% o tempo de detecção na urina é de 34 e 87 horas, respectivamente. • Diferenças na sensibilidade e especificidade das técnicas de imunoensaio influenciam a eficiência da detecção do uso da maconha. Assim, o tempo médio de detecção varia entre 1 a 5 dias após o uso de baixas doses e de 3 a 6 dias após uso de altas doses usuando-se 20 ng/mL cutoff imunoensaio. Tempo para detecção no organismo com uso crônico: em usuários crônicos, o metabólito inativo THCCOOH pode ser detectado na urina por semanas ou meses (máximo 95 dias). Pode ocorrer flutuação nos níveis séricos e urinários de THC de forma a serem obtidos resultados seqüenciais positivos e negativos, mesmo na ausência de nova exposição à droga. Fluido oral: concentração de THC após uso oral ou fumado a detecção é até 34 horas Cabelo: até 90 dias Autor: VIVAVOZ Fonte: SISP Versão 1.0 -30/07/2008 16 19. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASHTON, C.H. Pharmacology and effects of cannabis: a brief review. British journal of psychiatry, n.178, p.101-106, 2001. 2. BRIGGS, G.G.; FREEMAN, R. K.; YAFFE, S. J. Drugs ins Pregnancy and Lactation. 7 ed.. Lippincott Williams & Wilkins. Philadelphia USA, 2005. 3. BUDNEY, A.; ROFFMAN, R.; STEPHENS, R.; WALKER, D. Marijuana Dependence and its Treatment. Addiction Science & Clinical Practice. December, 2007. 4. CARLINI, E.A.; GALDURÓZ, J.C.; NOTO, A.N. et al. II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do País – 2005. Brasília: Secretária Nacional Antidrogas, 2007. 5. CARLINI, E.A.; RODRIGUES, E.; GALDURÓZ, J.C. Cannabis sativa L. e substâncias canabinóides em medicina. 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