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MSc. Thayssa Tavares da Silva Cunha Ferreira thayssa.tavares@ufrj.br 2017 Visão geral do processo de desenvolvimento de novos fármacos Visão geral do processo de desenvolvimento de novos fármacos Estudos pré-clínicos Farmacologia experimental: • Testes in vitro e em modelos animais: farmacologia, farmacocinética e toxicidade. Toxicologia experimental: • Toxicidade do fármaco em animais• Toxicidade do fármaco em animais • Potencial para mutagenicidade e teratogenicidade Base para o IND (Investigational New Drug) e para a primeira aplicação em seres humanos. Toxicologia: Toxicidade de dose única Toxicidade de doses repetidas Toxicidade reprodutiva Estudos adicionais Estudos pré-clínicos: toxicidade de dose única Também denominada de “toxicidade aguda”. Avalia a toxicidade por um período não superior a 24 horas. Conduzido com no mínimo duas espécies de mamíferos. Duas vias de administração. Dose limite a ser testada: 1000 mg/kg/dia. Os animais devem ser observados por no mínimo 14 dias após a administração da substância teste. Em desuso para cálculo da dose letal média (DL50). Estudos pré-clínicos: toxicidade de doses repetidas Informações sobre os efeitos tóxicos, identificação de órgãos alvos, efeitos na fisiologia do animal, hematológicas, bioquímicas, anátomo e histopatológicas. Mínimo duas espécies de mamíferos, incluindo uma espécie não roedora. As dosagens são estabelecidas a partir das informações produzidas em estudos de toxicidade aguda.de toxicidade aguda. A duração mínima do estudo varia entre 2 a 6 meses. Parâmetros avaliados: mortalidade, sinais clínicos, duração e reversibilidade da toxicidade, variações no peso corporal, etc. Estudos pré-clínicos: toxicidade reprodutiva Os estudos de toxicidade reprodutiva devem contemplar principalmente avaliações nas seguintes fases: • Fertilidade e desenvolvimento embrionário inicial, • Desenvolvimento pré e pós-natal, incluindo função materna, • Desenvolvimento embrio-fetal. Via de administração: a mesma pretendida em humanos. Dose: escolha da dose alta baseada em dados dos estudos de farmacologia, estudos de toxicidade aguda/ crônica e toxicocinética. Demais doses devem ser selecionadas na sequencia descendente. Avaliações: maturação de gametas, comportamento no acasalamento, fertilidade, estágio de pré-implantação embrionária, implantação. Estudos pré-clínicos: outros Estudos de genotoxicidade, tolerância local, carcinogenicidade, toxicocinética. Dos animais aos seres humanos... Dados dos estudos pré- clínicos INDIND Investigational New Drug Permissão para a realização dos estudos clínicos Aspectos importantes ligados aos ensaios clínicos Declaração de Helsinki - 1964 Histórico e aspectos éticos 1906: Congresso Americano cria a lei: “Pure Food and Drug Act”, antecessora do FDA II Guerra Mundial: Experiências com seres humanos são realizadas sem qualquer ética... 1949: Código de Nuremberg - O consentimento do paciente é essencial 1949: Código de Nuremberg - O consentimento do paciente é essencial 1951: Criação do FDA (Food and Drug Administration, EUA) Histórico e aspectos éticos 1960: Tragédia da Talidomida • Instituição do NDA (New Drug Application) • 1964: Declaração de Helsinki: ética e direitos dos pacientes de pesquisa Década de 70: Instituição do IND (Investigational New Drug) - 30 dias para autorização de ensaios clínicos 1977: FDA define as fases de estudos clínicos (I, II, III, IV) 1996: ICH-GCP (Conferência Internacional de Harmonização – Boas Práticas Clínicas) 1996: Resolução CNS 196/96 – Marco em pesquisa clínica no Brasil Aspectos éticos: o uso de placebo Declaração de Helsinki Restrição ao uso de placebo quando houvesse tratamento eficaz Conhecimento do pesquisador em benefício do paciente Comprovar que o candidato traz benefícios adicionais“A utilização de placebo como grupo controle quando existe terapia eficaz apresenta aspectos eticamente inaceitáveis” (2000). Atual versão da Declaração de Helsinque (2013): aprovação da utilização de placebo em experimentos, mesmo em situações onde existam tratamento eficaz. O Brasil, na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde/Conep, manteve a proibição ao uso de placebo quando houver comparador eficaz Ensaios clínicos no Brasil Fase Custo – fármacos aprovados (US$ milhões) Fase I 15,2 Fase II 41,7 Fase III 115,2 Fonte: DiMasi, et al., 2003Fonte: DiMasi, et al., 2003 Patrocinador 2003 2004 2005* Total Indústria 127 133 72 332 Multinacionais 120 130 64 314 Nacionais 7 3 8 18 Universidades 7 7 13 27 Fonte: ANVISA Tipos de ensaios clínicos TIPOS DE ESTUDOS (I) • Quanto ao Número de Centros Unicêntrico Bicêntrico Multicêntrico, nacional ou internacional • Quanto ao Cegamento Aberto Simples-cego TIPOS DE ESTUDOS (II) • Quanto à Comparabilidade Simples-cego Duplo-cego • Quanto à Comparabilidade Simples Comparativo versus placebo Comparativo versus fármaco ativo • Quanto ao “Timing” Paralelo Cruzado Fatorial Objetivo de um ensaio clínico Definição de caso Desfecho O objetivo do ensaio clínico deve ser claramente determinado a priori, especificando o produto, dose, forma de administração, tipo de paciente, efeito esperado e parâmetros a serem medidos (toxicidade, alteração de provas bioquímicas, resposta imunológica, efeito terapêutico ou preventivo). Desfecho Guia de qualidade para ensaios clínicos A OMS tomando como referência a experiência de vários países publicou o documento “Guideline for good clinical practice for trials on pharmaceutical products”. Normas para delineamento, condução e relatório de estudos clínicos. Reconhecimento internacional. Aspectos éticos, proteção dos participantes, condução e análise da investigação, registros e regulamentação. Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos A etapa clínica corresponde aos estudos desenvolvidos em seres humanos. Descobrir ou verificar: • Efeitos clínicos ou farmacológicos (farmacocinéticos e farmacodinâmicos) • Efeitos indesejados É dividida em quatro fases segundo o nível de complexidade, estágio de É dividida em quatro fases segundo o nível de complexidade, estágio de desenvolvimento e objetivo da avaliação: •Fase clínica I •Fase clínica II •Fase clínica III •Fase clínica IV As fases são conduzidas de forma sequencial e cada uma tem por base os resultados da fase anterior. A segurança dos participantes não deve ser colocada em risco. Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fase I Primeiros estudos em seres humanos: • 20 a 80 voluntários saudáveis. • Visa a segurança: estabelece evolução preliminar de segurança e avaliação da toxicidade. • Os resultados criam um perfil farmacocinético.• Os resultados criam um perfil farmacocinético. Objetivos da fase I: •Tolerância em voluntários saudáveis •Maior dose tolerável •Menor dose efetiva •Relação dose/efeito •Duração do efeito •Efeitos colaterais Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fase II Quantidade: • 70 a 200 (até 500) geralmente pacientes selecionados por critérios rigorosos. • Uso de diferentes formulações e formas farmacêuticas. • Requer um grupo de comparação.• Requer um grupo de comparação. Objetivos da Fase II • Indicação da eficácia. • Confirmação da segurança (toxicidade). • Biodisponibilidade e bioequivalência de diferentes formulações. • Avalia a dose e a frequência de administração para os ensaios de Fase III. • Estabeleceas relações dose-resposta. Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fase III Estudos Internacionais acima 800 pacientes: • Multicentros com diferentes populações de pacientes para demonstrar eficácia e segurança a curto e longo prazo. Compara-se o novo com o existente Estudos randomizados • Divididos em dois grupos: Grupo controle – recebe o tratamento padrão Grupo investigacional – recebe a nova medicação • Combinação de substâncias: Pode haver a combinação de dois medicamentos Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fase III Visa o estabelecimento do perfil terapêutico: • Indicações • Dose e via de administração • Contra-indicações • Efeitos colaterais • Medidas de precaução• Medidas de precaução • Interações clinicamente relevantes (idade, peso, sexo, etc.) Demonstração de vantagem terapêutica: • Novo fármaco frente aos de escolha Estratégias de Farmacoeconomia: • Definição de preços, distribuição, publicações, etc. Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fase IV (farmacovigilância) São pesquisas realizadas depois da sua comercialização. Objetivos: • Restabelecer o valor terapêutico• Restabelecer o valor terapêutico • Identificar o surgimento de novas reações adversas • Confirmação da frequência de surgimento das reações já conhecidas • Avaliar as estratégias de tratamento Aspectos mercadológicos: • Estudos de suporte ao marketing • Estudos adicionais comparativos com produtos competidores • Novas formulações (palatabilidade, facilidade de ingestão) Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Fase IV (farmacovigilância) Rede de Hospitais Sentinela Rede Sentinela funciona como observatório no âmbito dos serviços para o gerenciamento de riscos à saúde, em atuação conjunta e efetiva com o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS).Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos O caso Vioxx (rofecoxibe) Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos O caso Viagra (sildenafila) Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos O caso Exubera (insulina inalável) Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos O caso do anticoncepcional masculino Estudos clínicos: vantagens Alta credibilidade para evidências científicas; Grupos (controle e de estudo) podem ser comparáveis; Intervenção e procedimentos decididos a priori; Ordem cronológica dos eventos; Interpretação simples, sem fatores de confundimento; Permite investigação de muitos desfechos simultaneamente. Estudos clínicos: limitações Questões éticas e dificuldades para intervenção; Exigência de população estável e cooperativa; Grupo investigado pode ser altamente selecionado; Impossibilidade de ajustar o tratamento às características individuais; Dificuldade de se obter conclusões sobre efeitos a longo prazo; Estudo caro e requer estrutura técnica e administrativa. MSc. Thayssa Tavares da Silva Cunha Ferreira thayssa.tavares@ufrj.br 2017 Qual a definição de interações medicamentosas? São tipos especiais de respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados pela administração simultânea ou anterior de outros, ou através da administração concorrente com alimentos. Podem acarretar: Potencialização do efeito farmacológico; Redução da eficácia; Aparecimento de reações adversas; Não causar nenhuma modificação no efeito farmacológico (pequeno significado clínico). Quanto maior o número de medicamentos que o paciente utiliza, maior a possibilidade de ocorrência de interações medicamentosas. Mecanismos das interações medicamentosas 1- Interações Farmacêuticas (incompatibilidade) Interações físico-químicas que ocorrem quando dois ou mais medicamentos são administrados na mesma solução ou misturados no mesmo recipiente e, o produto obtido, é capaz de inviabilizar a terapêutica clínica. Ocorrem FORA do organismo! Podem resultar em: Precipitação ou turvação; Mudança de coloração;Podem resultar em: Precipitação ou turvação; Mudança de coloração; Inativação do princípio ativo. N H N S- O O CH3 H3C Na+ N+ N H O O H H H O CH3 OH3C Tiopental sódico + Vecuronium ou Pancuronium Quando administrados juntos formam um precipitado branco que pode passar pelo tubo de administração intravenosa e causar embolismo no paciente. Mecanismos das interações medicamentosas 2- Interações Farmacodinâmicas Causam modificação do efeito bioquímico ou fisiológico do medicamento. Geralmente ocorre no local de ação dos medicamentos (biorreceptores) ou através de mecanismos bioquímicos específicos, sendo capaz de causar adição, potencialização, antagonismo ou sinergismo do efeitos farmacológico. Aditividade: EAB = EA + EB Antagonismo: E < E + E (=0) Antagonismo: EAB < EA + EB (=0) Potencialização: EAB < EA + EB (=0) Sinergismo: EAB > EA + EB Digoxina Furosemida Hipocalemia Mecanismos das interações medicamentosas 2- Interações Farmacodinâmicas Efeito aditivo do álcool com benzodiazepinas. Complexo GABA Ionóforo Sedativo Agonista BZDP-R Modulador Alostérico do GABA Diazepam Mecanismos das interações medicamentosas 3- Interações Farmacocinéticas Interferem no perfil farmacocinético do medicamento, podendo afetar o padrão de absorção, distribuição, metabolização ou excreção. Difíceis de prever! Modificam a magnitude e duração do efeito, mas a resposta final do medicamento é preservada. Mudanças na concentração plasmática implicam em alteração do perfil farmacológico. Importantes interações farmacocinéticas estão associadas com: Alteração do metabolismo do fármaco; Transportadores de fármacos; Ligação às proteínas plasmáticas. Mecanismos das interações medicamentosas A) Interações que modificam a absorção (biodisponibilidade) Fatores como fluxo sangüíneo do TGI, pH, motilidade gástrica, dieta, presença de outras substâncias e o tipo de formulação farmacêutica podem interferir na absorção de fármacos. Anti-ácidos Aumentam o pH Diminuem a dissolução do comprimido de Cetoconazol (fármaco básico) Antagonistas de Receptores H2 Por isto, recomenda-se que a administração estes fármacos seja separada pelo período de no mínimo 2h. Mecanismos das interações medicamentosas A) Interações que modificam a absorção (biodisponibilidade) A tetraciclina interage com preparações que contém íons Fe++; ou com o leite (Ca++), formando complexos não absorvíveis. 40% ou mais da dose administrada de digoxina é metabolizada pela flora intestinal. O uso comcomitante de antibióticos elimina um grande número das bactérias normais da flora intestinal Conc. Digoxina Toxicidade Mecanismos das interações medicamentosas A) Interações que modificam a absorção (biodisponibilidade) Metoclopramida (anti-emético) Aumenta a absorção de ciclosporina devido ao aumentociclosporina devido ao aumento do tempo de esvaziamento estomacal Aumenta a toxicidade da ciclosporina Ciclosporina Mecanismos das interações medicamentosas B) Interações que modificam a distribuição Fármacos que possuem grande afinidade pelas proteínas plasmáticas quando associados com outros, podem agir como deslocadores e aumentar a concentração sérica do segundo. Ex.: Fenilbutazona e Varfarina Fenilbutazona 98-99% de ligação à Fenilbutazona Varfarina 98-99% de ligação à proteínas plasmáticas 97% de ligação à proteínas plasmáticas Competição A fenilbutazona por ter maior afinidade deslocaa varfarina podendo gerar hemorragia! Mecanismos das interações medicamentosas C) Interações que modificam a metabolização Trata-se dos indutores e inibidores enzimáticos ou alterações no metabolismo de primeira passagem. Ex.: Fenitoína aumenta o metabolismo hepático da teofilina (entre outros fármacos), reduzindo sua concentração plasmática e sua ação farmacológica. Ex.: Carbamazepina aumenta o seu próprio metabolismo e de outros fármacos como: Haloperidol, Olanzapina, Risperidona, Teofilina, Contraceptivos Orais, Mianserina, Lamotrigina, Warfarin, etc. CYP450 METABÓLITOS Fenitoína Teofilina Mecanismos das interações medicamentosas C) Interações que modificam a metabolização Trata-se dos indutores e inibidores enzimáticos ou alterações no metabolismo de primeira passagem. Ex.: Eritromicina inibe o metabolismo de fármacos antihistamínicos, como o Astemizol e a Terfenadina. Inibe OH Ex.: Rifampicina reduz a concentração sérica de verapamil, por aumentar o seu metabolismo de primeira passagem. Rifampicina também aumenta o metabolismo hepático do verapamil. Inibe CYP450 Terfenadina N OH CH3 H3C H3C Conc. Plasmática Risco de Vida CARDIOTOXICIDADE Mecanismos das interações medicamentosas D) Interações que modificam a excreção Ex.: Antiácidos aumentam a depuração (clearance) renal de salicilatos e do fenobarbital. 12 16 20 S a li cy li c a ci d r e n a l cl e a ra n ce ( m l/ m in ) Ex.: A acidificação da urina (com cloreto de amônio ou com ácido ascórbico) aumenta a eliminação de anfetaminas, efedrina, quinidina e nicotina. 0 4 8 4 5 6 7 8 Urine pH S a li cy li c a ci d r e n a l cl e a ra n ce ( m l/ m in ) Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Exemplo Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Exemplo Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Exemplo Fases da etapa clínica de desenvolvimento de novos fármacos Exemplo
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