Matemática na escola x Matemática na rua Ao fi nal desta aula, você deverá ser capaz de: • Enumerar características da Matemática da rua e da escola. • Dar exemplos sobre a importância do uso da simbologia matemática. • Diferenciar os aspectos que envolvem o uso da calculadora na sala de aula e na rua. Pré-requisitos Nesta aula você usará conteúdos do Ensino Fundamental, tais como operações matemáticas básicas com números naturais e racionais, expressões, equações do 1º grau, e conteúdos trabalhados em Geometria Básica, como o cálculo da área do círculo. Tenha uma calculadora simples à mão. ob jet ivo s Meta da aula Apresentar características sobre a Matemática utilizada na rua e contrapor com a ensinada nas escolas. 1AULA C E D E R J8 Instrumentação do Ensino da Aritmética e da Álgebra | Matemática na escola x Matemática na rua Existem pesquisas na área de Educação Matemática que sinalizam para fato de a Matemática ser considerada um “bicho-papão” pela maioria dos alunos. Podemos dizer que a Matemática ensinada nos Ensinos Fundamental e Médio se divide em três grandes áreas: Geometria, Álgebra e Aritmética. Nosso foco, nesta disciplina, está voltado, para questões pertinentes à formação do futuro professor nas áreas de Aritmética e Álgebra. Como sabemos, a Aritmética envolve o estudo dos números e das operações matemáticas, enquanto a Álgebra se encarrega de resolver equações, inequações e estudar funções. Nos programas de ensino de grande parte das escolas, a organização começa priorizando o estudo de números e operações; só a partir do 3º ciclo, 5ª e 6ª séries, se introduz o estudo de equações e generalizações. Uma outra questão pertinente ao ensino de Aritmética e de Álgebra são as inter-relações existentes entre elas, como defendem Lins e Gimenez (1997), aspectos que estudaremos nas próximas aulas. Ainda hoje, o ensino da Álgebra restringe-se quase que exclusivamente a transmitir métodos; ou seja, há uma ênfase excessiva nos procedimentos algébricos. Os alunos resolvem os mais variados problemas, expressões e equações com o objetivo de encontrar o valor da incógnita, geralmente x, ou aplicar os procedimentos aprendidos nos problemas apresentados. É fácil perceber que a maioria dos alunos não entende o que faz e, em pouco tempo, esquece tudo o que “aprendeu”. Percebendo tal situação, professores, muitas vezes, querem mudar as metodologias e não sabem como fazê-lo; vão a um outro extremo, trabalhando só o que entende por vivência do aluno, não conseguindo fazer com que ele avance no conhecimento matemático. Enquanto isso, os anos vão passando e a história se repetindo, ou melhor, as práticas vão se reproduzindo... Mas quem sabe você, futuro professor de Matemática, poderá se aventurar a modifi car essa história? Não existe “receita de bolo” ou “fórmula milagrosa” para o ensino, mas existem muitos caminhos para o professor que alia o conhecimento matemático a metodologias. INTRODUÇÃO C E D E R J 9 A U LA 1 A MATEMÁTICA NAS RUAS Vamos dar uma de Peter Pan? Então, imagine-se voando à luz do dia. Lá embaixo há muita gente circulando pelas ruas: há gente preocupada com o reajuste no aluguel do imóvel, calculando os rendimentos futuros de suas aplicações, contando quantos dias faltam para o casamento, conferindo o troco que receberam dos comerciantes, fazendo medições para a compra de materiais de construção... É!... Na vida de todos nós, a Matemática está bastante presente e nem nos damos conta disso... E olhe o feirante: ele vende o quilo da banana a R$ 1,50. Há uma pessoa que escolhe uma penca de bananas e dá ao feirante para pesá-la. Ele a põe na balança de dois pratos e, por meio de pesos, faz a pesagem. “Deu 400 gramas” – responde ele; e continua: “São R$ 0,60.” Puxa! Como ele responde tudo isso com tanta facilidade, se muitas vezes não tem escolaridade? Por que tantas pessoas que fazem conta quase o tempo todo sentem tanta difi culdade na matemática ensinada pela escola? Pense na seguinte situação: um menino na rua vende laranjas. Ele compra um saco com 130 laranjas por R$ 70,00 (setenta reais) para serem revendidas. Separa em lotes de 10 laranjas e vende cada lote por R$ 0,50. Com o dinheiro da venda de todas as laranjas ele poderá comprar outro saco de laranja? Sobrará algum dinheiro para ele? Esse erro na rua é irreparável; por isso, é pouco provável que essa situação aconteça. Trazer os problemas da matemática da rua para a escola, a fi m de facilitar a aprendizagem, nem sempre atende aos objetivos do professor. Se a situação das laranjas for proposta como um problema para ser resolvido pelo mesmo menino na escola, pode ser que ele erre, e não haverá nenhuma conseqüência “grave” nisso; ou seja, no problema da escola ele não perde dinheiro; este problema aproxima a realidade desse aluno, embora não a reproduza. O que queremos dizer é que estamos falando de duas matemáticas distintas. A matemática da escola apresenta situações cotidianas para exemplifi car seus conteúdos. A utilidade disso é a fácil apreensão do conteúdo, a possibilidade de estabelecer analogias que podem ser exploradas pelo professor. A Matemática da escola é um mundo de conceitos e resultados que tem por fi nalidade a aprendizagem da C E D E R J10 Instrumentação do Ensino da Aritmética e da Álgebra | Matemática na escola x Matemática na rua ATIVIDADES Matemática como Ciência. A Matemática da escola privilegia atitudes mentais bastante diferentes das usadas no dia-a-dia. É importante levar em conta o “conhecimento prévio” dos alunos, como afi rmam os PCN de Matemática (1997), mas temos de ter em mente que trazer o cotidiano não signifi ca reproduzi-lo na escola exatamente como ele ocorre na rua. Isso seria impossível. Também é preciso ter em mente que na escola queremos, a partir desses contextos, construir um conhecimento que envolve capacidade de generalização e abstração características do pensamento matemático. 1. Através de uma história, a Revista do Professor de Matemática mostra uma situação que exemplifica algumas diferenças entre a matemática da rua e a da escola. Trata-se de um advogado que precisa de água e sabe que seu vizinho, um caipira, tem de sobra. Um dia, esse advogado que comprara um sítio, constatou que nele não havia nascente de água. Descobriu que seu vizinho, um caipira, tinha em sua propriedade uma nascente de água boa e farta. Fez-lhe, então, uma proposta: – Eu instalo um cano de uma polegada de diâmetro na sua nascente, conduzo água para o meu sítio e lhe pago x reais por mês. A proposta foi aceita. O tempo passou, o advogado precisou de mais água e fez uma nova proposta ao caipira. Propôs trocar o cano de uma polegada por um de duas polegadas de diâmetro e paga-lhe 2x reais por mês a ele. O caipira, após pensar bastante, não aceitou a proposta. C E D E R J 11 A U LA 1 Eu instalo um cano de uma polegada de diâmetro na sua nascente. Conduzo água para o meu sítio e lhe pago X reais por mês. Tempos Depois Vamos trocar o cano de uma polegada por um de duas polegadas de diâmetro e pagar-lhe 2x reais por mês? NÃO! É que num tá certo, uai! A água que vosmecê me paga passa por aqui: E vosmecê qué me pagá o dobro... Acontece que o cano que vosmecê vai ponhá é assim: Pois é. Quem me paga a água que passa por aqui? C E D E R J12 Instrumentação do Ensino da Aritmética e da Álgebra | Matemática na escola x Matemática na rua Após analisar a paródia do advogado e do caipira: 1.a. Escreva o problema apresentado em linguagem matemática. 1.b. Se o advogado pagou x reais pelo cano