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1 Teoria da Personalidade As teorias, discussões e controvérsias sobre a Personalidade foram temas sempre presentes em toda história da filosofia, psicologia, sociologia, antropologia e medicina geral. Entre tantas tendências destaca-se um tronco ideológico segundo o qual os seres humanos foram criados iguais quanto sua capacidade potencial. Neste caso, a ocorrência das diferenças individuais seria interpretada como uma decisiva influência ambiental sobre o desenvolvimento da Personalidade. De acordo com tal enfoque, havendo no mundo uma hipotética igualdade de oportunidades, seríamos todos iguais quanto as nossas realizações, já que, potencialmente seríamos iguais. Assim pensando, se a todos fossem dadas oportunidades iguais, como por exemplo, oportunidade musical ou artística, seria impossível destacar-se um Chopin, Mozart, Monet, Rembrandt, porque a potencialidade de todos seus colegas de classe seria a mesma. A única diferença entre Einstein e os demais teria sido uma simples questão de oportunidade e circunstâncias ambientais. Neste caso a Personalidade, a inteligência, a vocação e a própria doença mental seriam questões exclusivamente ambientais. A ideia de buscar fora da pessoa os elementos que explicassem seu comportamento, a sua desenvoltura vivencial teve ênfase com as teorias de Rousseau, segundo o qual era a sociedade quem corrompia o homem. Subestimou-se a possibilidade da sociedade refletir, exatamente, a totalidade das tendências humanas. Seres humanos que trazem em si um potencial corruptor o qual, agindo sobre outros indivíduos sujeito à corrupção, produzem um efeito corruptível. Ou seja, trata-se de um demérito tipicamente humano. Outra concepção acerca da Personalidade foi baseada na constituição biotipológica, segundo a qual a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos cabelos, da pele, à estatura, aos distúrbios metabólicos e, às vezes, às malformações físicas, mas também, determinaria às peculiares, maneiras do indivíduo relacionar-se com o mundo: seu temperamento, seus traços afetivos, etc. As considerações extremadas neste sentido descartam qualquer possibilidade de influência do meio sobre o desenvolvimento e desempenho da Personalidade e atribui 2 aos arranjos sinápticos e genéticos a explicação de todas as características da Personalidade. Buscando um meio termo, como apelo ao bom senso, pode-se considerar a totalidade do ser humano como sendo um balanço entre duas porções que se conjugam de forma a produzir a pessoa tal como é: 1- uma natureza biológica, tendo por base nossa natural submissão ao reino animal e às leis da biologia, da genética e dos instintos. Assim sendo, os genes herdados se apresentam como possibilidades variáveis de desenvolvimento em contacto com o meio (e não como certeza inexorável de desenvolvimento); 2- Uma natureza existencial, suprabiológica conferindo à Personalidade elementos que transcendem o animal que repousa em nós. A pessoa, ser único e individual, distinto de todos outros indivíduos de sua espécie, traduz a essência de uma peculiar combinação bio-psico-social. Desta forma, a definição de Personalidade poderia ser esboçada da seguinte maneira: "PERSONALIDADE É A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DOS TRAÇOS NO INTERIOR DO EU, FORMADOS A PARTIR DOS GENES PARTICULARES QUE HERDAMOS, DAS EXISTÊNCIAS SINGULARES QUE EXPERIMENTAMOS E DAS PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS QUE TEMOS DO MUNDO, CAPAZES DE TORNAR CADA INDIVÍDUO ÚNICO EM SUA MANEIRA DE SER, DE SENTIR E DE DESEMPENHAR O SEU PAPEL SOCIAL". Dessa forma, o ser humano não pode ser considerado como um produto exclusivo de seu meio, tal como um aglomerado dos reflexos condicionados pela cultura que o rodeia e despido de qualquer elã mais nobre de sentimentos e vontade própria. Não pode, tampouco, ser considerado um punhado de genes, resultando numa máquina programada a agir desta ou daquela maneira, conforme teriam agido exatamente os seus ascendentes biológicos. Se assim fosse, o ser humano passaria pela vida incólume aos diversos efeitos e consequências de suas vivências pessoais. Sensatamente, o ser humano não deve ser considerado nem exclusivamente ambiente, nem exclusivamente herança, antes 3 disso, uma combinação destes dois elementos em proporções completamente insuspeitadas. Todas as vezes que colocamos lado a lado duas pessoas estabelecendo comparações entre elas, qualquer que seja o aspecto a ser medido e comparado, verificamos sempre a existência de diferenças entre ambas. Constatamos assim, as diferenças entre os indivíduos, as peculiaridades que os tornam únicos e inimitáveis. Por outro lado, podemos verificar também e paradoxalmente, outras características comuns a todos os seres humanos, tal como uma espécie de marca registrada de nossa espécie. Desta feita, há elementos comuns e capazes de nos identificar todos como pertencentes a uma mesma espécie, portanto, característicos da natureza humana e, a par destes elementos humanos próprios, outros atributos capazes de diferenciar um ser humano de todos os demais. Para demonstrar didaticamente este duplo aspecto da constituição humana imaginemos, por exemplo, um enorme canteiro de rosas amarelas. Embora todos os indivíduos do canteiro tenham características comuns e suficiente para ser considerados e identificados como rosas amarelas, será praticamente impossível encontrar, entre eles, dois exemplares exatamente iguais. Portanto, apesar de todos esses indivíduos possuírem traços individuais, tais como, perfume, pétalas e espinhos, cada um deles tem suas características individuais, mais perfume, pétalas de tonalidade diferente e espinhos mais realçados... No ser humano normal também pode se encontrar características universais, como por exemplo, a angústia, a ambição, o amor, o ódio, o ciúme, etc. Entretanto, em cada um de nós estes traços combinar-se-ão de maneira completamente singular. Podemos afirmar que os seres humanos são essencialmente iguais e funcionalmente diferentes, ou seja, podemos nos considerar iguais uns aos outros quanto à nossa essência humana (ontologicamente), entretanto, funcionamos diferentemente uns dos outros. Todas as tendências ideológicas que enfatizam a igualdade dos seres humanos, num total descaso para com as diferenças funcionais, ecoam aos ouvidos despreparados com eloquente beleza retórica, romântica, ética e moral, porém, falsas. 4 As teorias sobre igualdade plena entre seres humanos, sem que se reconheçam as diferenças funcionais sucumbem diante de incontáveis evidências em contrário: não resistem à constatação das flagrantes e involuntárias diferenças entre os indivíduos, bem como não explicam a indomável característica humana que é a perene vocação das pessoas em querer destacarem-se dos demais. Há então, elementos de notável semelhança na essência do ser humano, expressões e modos característicos da espécie. Podemos encontrar formas psíquicas no indivíduo que ocorrem não somente em seus ascendentes mais próximos, mas em outras épocas distantes de nós milhares de anos e às quais estamos ligados apenas pela arqueologia. Jung coloca estas Semelhanças Essenciais do ser humano como sendo certas formas típicas de comportamento característico, os quais, ao se tornarem conscientes, assumem o aspecto de representações do mundo. Poderíamos ilustrar um pouco mais esta questão das Semelhanças Essenciais lembrando os Instintos. Estes aparecem como formas típicas de comportamento da espécie, podendo, estar ou não associadas a um motivo consciente. Freud chama atenção para estas características universais da pessoa: os Instintos Básicos. Enfatizanotadamente o instinto para a preservação da vida, tanto da vida individual, sob a forma de afastamento da dor (ou busca do prazer), quanto da vida da espécie, através da sexualidade. Ele cita ainda o instinto da morte, o qual, apesar de contestado por muitos autores, quando voltado para o exterior conduz à agressão. Pela teoria dos instintos, serão inúteis as tentativas do ser humano em livrar-se totalmente das inclinações agressivas, já que indispensáveis para a execução dos instintos. Didaticamente poderíamos considerar os Arquétipos e os Instintos como duas faces de uma mesma moeda; enquanto os Instintos trazem em seu bojo uma conotação biológica e que nos remete às sombras de nosso passado mais animalesco, os Arquétipos distinguem o ser humano num patamar mais elevado e diferenciado, ou seja, mais espiritualizado. Na filosofia, a busca de uma característica humana marcante foi vislumbrada por Schopenhauer como sendo a Vontade. O fato de sentir e querer é a atitude mais básica que o ser humano conhece, portanto, comum a todos nós. Desta forma, o intelecto se coloca a serviço desta forma irracional, ou supra-racional, chamada Vontade. 5 Posteriormente Nietzsche acrescentou à Vontade de Shopenhauer o Poder: motivação básica e universal entre os homens. A vontade do Poder serviu de orientação aos estudos de Alfred Adler para a compreensão psicodinâmica deste impulso natural, retirando do termo qualquer conotação pejorativa. Para Adler, o Poder atendia as mesmas exigências dos instintos básicos de Freud e a motivação da atitude humana estava firmemente atrelada à sua vontade do poder: poder sobre os demais semelhantes. Adler compara fenomenologicamente o poder aspirado pelo bandido que deseja ser o mais pérfido entre seus pares, com a aspiração de poder do indivíduo caridoso, manifestando sua pulsão de supremacia caridosa entre seus companheiros de altruísmo. Evidentemente não cabe aqui uma preocupação valorativa ou ética, mas apenas a constatação do fenômeno. De qualquer forma, seja a necessidade íntima de um deus que conforta, seja nossa perene tendência em preservar a vida ou garantir a espécie, seja nossa constante busca do prazer, seja uma vontade que motiva ou um poder que estimula, podemos pensar sempre num elemento da Personalidade humana que tenha se perpetuado ao longo de nossa história. Trata-se de determinadas posturas existenciais diante da vida que acompanham nossa espécie através de infindáveis gerações. São elas, verdadeiras Tendências Naturais do ser humano. Embora a essência destas Tendências Naturais pareça emancipada da situação temporal e ambiental atuais pelo fato de terem existido, de existirem e de continuarem existindo em qualquer momento de nossa história, suas manifestações comportamentais e emocionais deverão, em nome da normalidade psíquica, estar sempre vinculadas e adequadas ao modelo sócio-cultural e às possibilidades de ação de cada um. Portanto, não será a Tendência Natural pura e primitiva quem se manifestará na maneira de ser da pessoa, mas sim, estas mesmas tendências domesticadas e aculturadas. Uma conduta instintiva pura é praticamente impossível manifestar-se em condições psíquicas normais. Tais impulsos primitivos se diluem pelas pressões das circunstâncias e pelas peculiaridades afetivas de cada um e, se mascaram de tal forma, que acabam ficando dissimuladas pelo caráter do indivíduo. 6 Durante toda sua existência o indivíduo é compelido a atender estas Tendências Naturais, basicamente as mesmas em todos nós. As maneiras pelas quais tais tendências serão atendidas mostrarão as diferenças entre as pessoas, entre as gerações e entre os povos. O instinto do Poder, por exemplo, pode se manifestar de diversas maneiras nas diferentes pessoas; prazer em ter poder, em sentir-se superior aos demais nos mais variados aspectos existenciais. Um monge poderia manifestar esta tendência buscando o prazer em sentir-se o mais humilde entre seus pares, superior a todos os demais em termos de humildade e abnegação. Sentiria uma satisfação suprema, perante Deus, ao saber-se o mais humilde entre os mortais. O intelectual conquistaria seu prazer percebendo-se o mais erudito em sua área, o poder do saber. O amante, através do poder de cativar, ou o poder material do rico, a autoridade do político, a coragem do soldado, o qual teme mais a opinião de seus camaradas que a arma do inimigo, e assim por diante. Enfim, a busca do prazer deve atender certos anseios pessoais em concordância com determinadas circunstâncias sócio-culturais, mas, de qualquer modo, o fenômeno da busca do prazer com suas mais variadas apresentações é observado universalmente entre os homens. Para a manutenção de uma situação de equilíbrio entre o indivíduo e seu meio ou entre ele e si próprio é necessário um relacionamento harmônico entre o peso de suas tendências, as possibilidades de seu espírito e as exigências de seu ambiente. Há um ditado que diz: quando a miséria entra pela porta da frente a virtude sai pela janela. Isso ilustra bem que o que poder acontecer quando o ambiente passa a significar uma ameaça à sobrevivência ou passa a favorecer uma perspectiva de dor e sofrimento. As situações de emergência são capazes de determinar atitudes primitivas, as quais convocam o indivíduo a desempenhar uma postura vivencial em direção à sobrevivência, emancipada de considerações mais éticas. Há, pois, uma tendência ao aparecimento dos ditos comportamentos primordiais sempre que houver uma flagrante ameaça aos instintos básicos do indivíduo, como se procedesse a uma regressão ao estado biológico natural (predominantemente instintivo) ou uma espécie de desempenho vivencial comandado por um nível mais inferior de psiquismo e onde as 7 considerações mais sublimes, do tipo moral e ético, ficassem proteladas em benefício de considerações mais pragmáticas. Outro provérbio que ajuda uma análise mais didática é aquele que se diz: pau que nasce torto, não tem jeito: morre torto. Isso diz respeito ao componente constitucional da pessoa. Neste caso, havendo um peso exagerado das tendências naturais, ou seja, não se conseguindo domesticar bem tais tendências, mesmo em situações onde não haja uma exigência importante, o indivíduo passa a conduzir-se pelos ditames de seus impulsos naturais e por suas paixões mais primitivas. Nosso espírito, ou nossos sentimentos mais sublimes, ou aquele nosso algo mais humano é quem exerce a atividade harmonizadora no relacionamento dito civilizado do homem com o ambiente em que vive. Os instintos aparecem sempre idênticos entre os indivíduos de uma mesma espécie, porém, apenas enquanto funcionam instintivamente. As tendências naturais compreendem instintos em sua essência, mas o aparelho psíquico do ser humano tem por função a transformação da imagem instintiva original, de acordo com as imposições de sua cultura e de suas emoções. Desta forma, cada manifestação instintiva é peculiar a cada indivíduo, por causa da peculiaridade de seu padrão emocional, e será dissimulada pelas características de Personalidade de cada um. Mas nem por isso pode-se anular o instinto básico original, ele é apenas transformado e adequado ao indivíduo e às exigências do sistema sócio-cultural. Diferenças Funcionais Ao lado das Tendências Naturais, capazes de identificar todos nós como pertencentes à mesma espécie, vamos encontrar as peculiaridades próprias e particulares com as quais cada um se apresentará e se relacionará com o mundo. Allport ilustra estas diferenças funcionais de cada um através de suas considerações sobre os Traços Pessoais; verdadeiros arranjos pessoaise constitucionais determinados por fatores genéticos, os quais, interagindo com o meio em maior ou menor intensidade, resultariam numa característica psíquica capaz de particularizar um indivíduo entre todos os demais de sua espécie. 8 Entendem-se os traços herdados como possibilidades de vir a ser e não como uma certeza de que será. Há uma quantidade enorme, ainda pouco delimitada pela genética, de traços possíveis de transmissão hereditária, porém, apenas parte desses traços se manifestará no indivíduo. Esta maneira singular da pessoa interagir com seu mundo, decorrente de seus traços pessoais, pode ser chamada de Disposição Pessoal. Assim, conhece-se por Disposição Pessoal, a tradução no indivíduo da combinação particular de traços que se manifestam em sua Personalidade, combinação esta só possível nele próprio. Desta feita, a Disposição Pessoal de um indivíduo confunde-se com sua própria Personalidade, sua maneira particular de lidar com a vida, com o mundo e com suas próprias emoções. É possível, como mostraram inúmeros autores, agrupar indivíduos de acordo com determinadas características psíquicas mais ou menos comuns aos diversos grupos. Temos assim classificações que reconhecem os introvertidos, extrovertidos, sensitivos, pensativos, intuitivos, sentimentais ou, de outra forma, os explosivos, melancólicos, obsessivos, e assim por diante. Trata-se do reconhecimento de traços predominantes na Personalidade ou na maneira de ser, de tal forma que permitem uma classificação. Isso não quer dizer, de forma alguma, que a Personalidade total dos indivíduos classificados desta ou daquela maneira seja idêntica em todos do mesmo grupo: entre todos introvertidos, cada qual dispõe de uma Personalidade peculiar e apenas manifestam em comum uma tonalidade afetiva depressiva com sua conseqüente apresentação social introvertida. Para abordar o problema das diferenças funcionais dos indivíduos, mais precisamente das Personalidades peculiares de cada um, podemos considerar três critérios de observação: 1- os Traços como Personalidade; 2- o "eu" como Personalidade e; 3- os Papéis Sociais como Personalidade. 9 Os Traços Como Personalidade Nenhum ser humano mostrará Traços que já não existam em todos outros indivíduos, como uma espécie de patrimônio do ser humano, ou seja, à todos indivíduos de uma mesma espécie são atribuídos os traços característicos dessa espécie. Vimos isso no item anterior sobre as Semelhanças Essenciais. Entretanto, a combinação individual desses Traços em proporções variadas numa determinada pessoa caracterizará sua Personalidade ou sua maneira de ser (Diferenças Funcionais). O senso comum de um sistema sócio-cultural costuma elaborar uma relação muito extensa de adjetivos utilizados para a arguição dos indivíduos deste sistema: sincero, honesto, compreensivo, inteligente, cálido, amigável, ambiciosos, pontual, tolerante, irritável, responsável, calmo, artístico, científico, ordeiro, religiosos, falador, excitado, moderado, calado, corajosos, cauteloso, impulsivo, oportunista, radical, pessimista, e por aí afora. Podemos considerar Traço Predominante da pessoa em apreço a característica que melhor à define, como se, entre tantos traços tipicamente e caracteristicamente humanos, este traço específico predominasse sobre os demais. Pois bem. É exatamente a predominância de alguns traços e a atenuação de outros que acaba por constituir a Personalidade de cada um. Enfim, é como se o artista conseguisse extrair uma cor única e muito pessoal misturando uma série de cores básicas encontradas em todas as lojas de tintas. Como os traços básicos do ser humano são infinitamente mais numerosos que as cores básicas do exemplo, as combinações entre esses traços será infinita, fazendo desse fato a infinita diversidade de Personalidades. A combinação dos Traços resultará uma unidade funcional humana completamente distinta de todas as demais. É difícil pensar nestes Traços de outra forma, senão como certa inclinação inata submetida à influência agravante ou atenuante do meio, inclinação esta, responsável pela maneira como a pessoa se apresentará ao mundo ou ao convívio gregário. O "EU" Como Personalidade 10 O "eu" é o ser total, essencial e particular de uma pessoa. Frequentemente usado como sinônimo de Personalidade, diz respeito à consciência que o indivíduo tem do mundo e de si próprio. A compreensão da pessoa através do seu "eu" como Personalidade propõe a distinção entre aquilo que o indivíduo faz daquilo que ele pensa. Na abordagem do "eu" importa o elemento dinâmico da Personalidade, portanto, serão de inestimável valor as considerações sobre as Representações Internas que o indivíduo tem acerca da Realidade Externa. Importa aqui as relações entre o sujeito e o objeto ou entre a pessoa e o mundo. Enquanto a observação dos Traços é uma tarefa mais objetiva e prática, as considerações sobre o "eu" são avaliações mais subjetivas. As características da Personalidade assim avaliada dizem respeito não apenas ao modo como a pessoa se apresenta no mundo, conforme vimos em relação aos Traços, mas à maneira como a pessoa sente o mundo e se relaciona com ele. Muitos autores discorrem sobre esta forma de avaliação da Personalidade. Entre eles, Jung vê dois tipos de Disposição Pessoal pelas quais os indivíduos se caracterizarão no contacto com a realidade ou com o mundo objetivo: 1- A maneira introvertida e; 2- A maneira extrovertida. Além destas duas disposições básicas, reconhece ainda quatro funções associadas à elas: função pensamento, sentimento, sensação e intuição. Desta forma, o indivíduo pode ser considerado do tipo introvertido pensativo, ou sensitivo extrovertido e assim por diante. Pela tipologia psicológica de Jung são possíveis oito tipo psicológicos puros mas, normalmente, cada pessoa dispõe de duas funções predominantes, como por exemplo, o tipo extrovertido intuitivo-sentimental. Em sua obra Tipos Psicológicos este assunto é abordado detalhadamente e apresentado de maneira mais fácil do possa parecer nesse exemplo sumário. Outros autores consideram a Personalidade baseada no "eu" de maneira diferente. Entendem os indivíduos que contactam a realidade de maneira introvertida através de uma descrição mais diversificada e atribuindo-lhes outros predicados: tristes, inseguros, melancólicos, de tonalidade afetiva depressiva, e assim por diante. Na realidade, depois de compreender os conceitos da psicopatologia e psiquiatria de forma globalizada, veremos que as diferentes abordagem são mais semânticas que ideológicas. 11 O Papel Social Como Personalidade Este tipo de consideração sobre a Personalidade ressalta o papel constituído pelos sentimentos, atitudes e comportamentos que a sociedade espera do ocupante de uma posição em algum lugar da estrutura social. As pessoas tendem adaptar-se ao papel a elas designado. As pessoas que encontram um padre pela frente têm expectativas comuns sobre como ele dever se comportar, da mesma forma que o doente tem expectativas diante de seu médico, este de seus clientes e assim por diante. Todos desempenham muitos papeis sociais, cada um a seu tempo. Papel de criança pré-escolar, de criança escolar, de universitário, de enamorado, de profissional, de traído, de cúmplice, etc. Há papeis de pai, de filho, de chefe, de subalterno, enfim, estamos sempre a desempenhar algum papel social. Jung chama de Persona esta nossa apresentação social. A palavra Persona, de origem grega, significa máscara, ou seja, caracteriza a maneira pela qual o indivíduo vai se apresentar no palco da vida em sociedade. Portanto, diantedo palco existencial cada um de nós ostenta sua Persona, mas há, porém, uma respeitável distância entre o papel do indivíduo e aquilo que ele realmente é, ou entre aquilo que ele pensa ou pensam que é e aquilo que ele é de fato. Na realidade, considerar a Personalidade através do papel social pode não refletir a verdade dos fatos. Mais apropriado seria argüirmos, pelos papeis sociais, a Persona de cada um. A abordagem mais adequada seria através dos Traços, de uma forma mais superficial e objetiva e/ou através do "eu", de maneira mais subjetiva e profunda. Personalidade: Ambiente ou Genética? Há em biologia uma fórmula muito significativa e de validade indiscutível: FENÓTIPO = GENÓTIPO + AMBIENTE. Entende-se por Fenótipo o estado atual no qual se encontra o indivíduo aqui e agora, por Genótipo entende-se seu patrimônio genético e, em nosso caso, por Ambiente nos referimos às influências do destino sobre o desenvolvimento do ser. 12 De maneira geral, o estado em que se apresenta o indivíduo num dado momento deve ser entendido como uma conjugação entre seu patrimônio genético e a influência ambiental a que se submeteu. Em outras palavras, uma somatória daquilo que ele trouxe para a vida com aquilo que a vida lhe deu. Podemos assim, considerar a Personalidade como sendo composta de elementos constitucionais ou genotípicos e de elemento ambientais ou paratípicos. O resultado final do indivíduo, tal como se encontra no momento atual, será o seu fenótipo. A discussão acerca da preponderância de elementos ambientais ou constitucionais na gênese da Personalidade é antiga, acirrada, infindável e inconclusiva. A tendência moderna e Politicamente Correta seria entender a pessoa como um resultado de influência preponderantemente ambiental, mas como o Politicamente Correto sempre se caracteriza por acentuada demagogia, melhor seria uma concepção mais sensata. A ciência médica, acostumada que está a considerar relacionamentos causais para os fenômenos que estuda, sente-se incomodada quando alguma tendência sociogênica atribui à delinquência, por exemplo, um reflexo direto da pobreza (ambiental). Fosse assim, pelo menos em nosso meio a delinquência seria, no mínimo, milhares de vezes mais presente. É por causa de idéias assim que a sociedade reluta em entender a Depressão como um estado não necessariamente associado a alguma coisa má que tenha acontecido para a pessoa deprimida. A medicina psiquiátrica incomoda-se também diante de afirmações organogênicas sobre a inexorabilidade do comportamento agressivo como conseqüência irredutível de um bracinho longo de determinado cromossomo. Como contribuição à esta perpétua discussão, Smith propõe um modelo de quatro mecanismos de influência nos quais nos baseamos com alguma modificação(8). São eles: 1 - Mecanismo Genético-Constitucional Direto O mecanismo genético direto sugere uma influência dos genes e/ou da constituição de maneira direta na formação da Personalidade. Neste caso, a influência ambiental é muito diminuta e a participação constitucional é quase absoluta. São poucas as situações que se enquadram neste mecanismo e a maioria delas refere-se aos casos de 13 deficiência mental, como por exemplo, a Trissomia 21 ou Síndrome de Down, entre outras. De um modo geral, são situações onde o patrimônio genético determina uma configuração especial no indivíduo de natureza decididamente irreversível e imune às alternativas terapêuticas atuais (grife-se "atuais"). Diz-nos o bom senso que de acordo com os avanços dos conhecimentos da genética, tais situações tendem a rarear cada vez mais. A detecção precoce de genes anômalos ou patogênicos e o conhecimento acerca da penetrância de tais genes prometem um futuro mais otimista na área da genética e da concepção humana. Entretanto, atualmente tais procedimentos corretivos da formação constitucional desenvolvem-se, quase exclusivamente, na esfera da prevenção e não do tratamento. Falamos em Genético-Constitucionais e não apenas em Genéticos (como propunha Smith) devido às diferenças entre um acontecimento apenas genético e outro constitucional. Genético significa, em tese, hereditário. Constitucional, por sua vez, significa que faz parte da constituição da pessoa (inato), podendo ou não ser genético. A encefalopatia proporcionada pela toxoplasmose congênita, por exemplo, é constitucional, mas não é genética. 2 - Mecanismo Genético-Constitucional Indireto Neste caso, muito embora os traços marcantes da Personalidade possam ser determinados por fatores genéticos e/ou constitucionais, a atuação decisiva do ambiente poder alterar o curso do desenvolvimento do indivíduo. Uma surdez congênita, por exemplo, capaz de determinar uma Personalidade peculiar em decorrência das importantes limitações de desenvolvimento, será marcadamente atenuada caso o enfermo possa dispor de recursos especializados de treinamento e educação. Os genes, neste caso, são herdados como possibilidades de se tornarem ou não determinantes de características na Personalidade, dependendo do tipo de atuação ambiental. Um indivíduo que tenha em si uma potencialidade genética de ser alto, por exemplo, poder terminar seu desenvolvimento com baixa estatura se o meio não lhe fornecer condições adequadas de nutrição. 14 Encontram-se, nesta possibilidade, os transtornos emocionais considerados endógenos pela psicopatologia. É o caso da esquizofrenia, por exemplo, que pode ou não se manifestar durante a vida do indivíduo apesar da probabilidade constitucional-genética. A eclosão franca da doença dependerá de um complexo conjunto de circunstâncias. Também a epilepsia poderia ser entendida através deste mecanismo, assim como outras condições psicopatológicas de comprovada concordância familiar. 3 - Mecanismo Ambiental Geral O ambiente em caráter geral, dentro do espaço sócio-cultural a que pertence o indivíduo, pode favorecer o desenvolvimento de alguns traços peculiares na forma de relacionamento para com o mundo. Os estímulos, as solicitações, as oportunidades de treinamento, as normas de convivência, enfim, todo o patrimônio oferecido à pessoa através do sistema sócio-cultural e ambiental poderá determinar modalidades características da pessoa existir. Será sobre as potencialidades constitucionais que o ambiente desempenhará uma ação modeladora da Personalidade, ou seja, o ambiente poderá alterar os rumos do desenvolvimento geral conferindo uma determinada maneira do indivíduo ser. Em termos psicopatológicos podemos alocar aqui alguns transtornos ditos neuróticos, com notável predominância dos elementos existenciais sobre os constitucionais. 4 - Mecanismo Ambiental Específico Encontramos aqui os elementos ambientais relacionados especificamente a determinados aspectos do desenvolvimento da Personalidade como, por exemplo, a desnutrição, o alcoolismo, certas infecções, intoxicações, etc. São intercorrências ambientais que atuam na Personalidade especificamente neste ou naquele aspecto, como pode ser o caso de um traumatismo craniano, após o qual o indivíduo tenha passado a apresentar convulsões ou demenciação. Neste caso podemos detectar UM elemento ambiental específico e responsável pela alteração no rumo do desenvolvimento da Personalidade. Isso quer dizer que sem este fator ambiental específico a Personalidade tomaria outro rumo e o indivíduo apresentar- se-ia na vida com outro desempenho existencial. 15 Embora a proposta esquematizada por Smith possa facilitar uma reflexão acerca do problema ambiente-constituição na gênese da Personalidade ou, mais além, na gênese dos transtornos da Personalidade, isso não deve ser tomadocomo uma questão hermética. Tanto para o desenvolvimento da Personalidade normal, quanto da patológica ou da não-normal, sempre iremos nos defrontar com uma condição multifatorial. Uma conjunção de vários destes mecanismos de influência. Na psicopatologia a ideia de causalidade deve ser vista com muita prudência. Nenhuma situação de desenvolvimento da Personalidade poderá ser determinada, exclusivamente, por este ou por aquele mecanismo proposto por Smith, antes disso, o que se vê com mais freqüência é sim uma conjunção de mais de um deles. Como se vê, atualmente o mais sensato seria admitir uma natureza bio-psico-social para como origem da Personalidade e o peso com que cada qual desses elementos participam na maneira como a pessoa É hoje, aqui e agora, será extremamente variável e individual. CONCEITO DE PERSONALIDADE Personalidade é um tema complexo. Conceituá-la de modo útil e compreensivo é uma difícil tarefa para os estudiosos do assunto. Sabemos que não há duas personalidades idênticas como não existem duas pessoas idênticas, embora muitas pessoas possuam traços em comum. A personalidade é temporal, pertence a uma pessoa que nasce, vive e morre. A personalidade existe em função de um meio no qual procura adaptar-se e, pertencendo a um ser vivo, tem que sofrer um processo de desenvolvimento. Neste sentido, cada indivíduo tem sua história pessoal e esta é a unidade básica a ser levada em conta no estudo da personalidade. Na história pessoal devemos considerar: os dados biopsicológicos herdados; o meio isto é, as condições ambientais, sociais e culturais nas quais os indivíduos se desenvolvem; os dados adquiridos na interação hereditariedade – meio; as características e condições de funcionamento do indivíduo nessa interação, possibilitando previsões a respeito do seu comportamento em situações futuras. 16 Considerando-se a personalidade como a unidade individual que se desenvolve em um determinado meio, toda manifestação daquela, sob a forma de diferentes tipos de comportamento, resulta de experiências passadas e de estímulos atuais do meio. Uma definição simplificada de personalidade:Personalidade é a resultante psicofísica da interação da hereditariedade com o meio, manifestada através do comportamento, cujas características são peculiares a cada pessoa. Constituição, temperamento e caráter O desenvolvimento da personalidade está intimamente associado ao desenvolvimento físico. Entretanto, as pessoas tendem dissociar o psíquico do físico, supervalorizando funções psíquicas como, por exemplo, a afetividade e subestimando funções físicas como, por exemplo, a excreção. Sabe-se, porém, que as primeiras motivações e ansiedades do ser humano estão ligadas aos processos fisiológicos. Seja qual for a fase do desenvolvimento, a personalidade apóia-se na estrutura física do indivíduo, a qual chamamos constituição. Nesta há um conjunto de características individuais hereditárias que podem ou não se desenvolver nas interações com o meio. A este conjunto dá-se o nome de genótipo. Por outro lado, existem características individuais adquiridas basicamente por influência do meio e que no conjunto são chamadas de parátipo. Entretanto, quando se observa uma pessoa, ela apresenta-se com sua estrutura fenotípicaque é o resultado da integração genótipo- parátipo. Sem aprofundar o significado dos conceitos acima, por analogia, podemos relacionar, no plano psicológico, temperamento com genótipo, caráter com parátipo e personalidade com fenótipo. 17 Temperamento é a tendência herdada do indivíduo para reagir ao meio de maneira peculiar. Assim, desde o nascimento, entre os indivíduos verificam-se diferentes limiares de sensibilidade frente aos estímulos internos ou externos, diferenças no tom afetivo predominante, variações no ritmo, intensidade e periodicidade dos fenômenos neurovegetativos (que funciona involuntariamente ou inconscientemente). Caráter é o conjunto de formas comportamentais mais elaboradas e determinadas pelas influências ambientais, sociais e culturais, que o indivíduo usa para adaptar-se ao meio. Ao contrário do temperamento, o caráter é predominante volitivo (depende da vontade) e intencional. Entretanto, de modo geral, temperamento e caráter estão intimamente associados, podendo estar tão imbricados que se torna difícil sua distinção. Portanto Personalidade é a interação dos aspectos físicos, temperamentais e caracterológicos. Teorias sobre a Personalidade Numerosas teorias têm sido elaboradas buscando linhas diretivas para o estudo da personalidade. Quando alguém deseja compreender o comportamento de outrem, em determinada circunstância, esforça-se por descobrir a motivação de suas atitudes e opiniões, sentimentos e crenças. Aqui será citada a teoria psicodinâmica de FREUD por ser a mais conhecida e por suprir a falta de um denominador comum teórico que possibilitasse um sistema organizado de encontro das diferentes observações individualizadas. O aparelho psíquico: Como a atividade motora está ligada à existência de um aparelho osteomuscular. Freud concebeu também para a atividade psíquica uma estrutura a que chamou de aparelho psíquico. Este é composto de três partes: Id, ego e superego. O id é a parte original desse aparelho a partir da qual, posteriormente desenvolvem-se as outras duas. Constitui a porção herdada e que está ligada a constituição. É a totalidade do aparelho psíquico do indivíduo ao nascer e está voltado 18 para a satisfação das necessidades básicas da criança no começo de sua vida. A atividade do id consiste de impulsos que obedecem ao princípio do prazer, isto é, que buscam o prazer e evitam a dor, na medida em que estas sensações são definidas pela própria natureza do organismo. Neste sentido, a atividade humana, no início da existência, é basicamente animal. Nesta época, a criança ao buscar satisfazer seus impulsos básicos, naturalmente não procura avaliar sua racionalidade nem as fontes de satisfação disponíveis. Ela deseja gratificação imediata e não tolera a frustração. Entretanto à medida que cresce terá que adaptar-se às exigências e condições impostas pelo meio. Para esta adaptação, diferencia-se do Id uma nova parte do aparelho psíquico, o Ego, que terá como principal função agir como intermediário entre o id e o mundo externo. O Ego ao defrontar-se com as demandas do meio a criança precisa gradualmente redirigir os impulsos do id, de modo que estes sejam satisfeitos dentro de outro princípio que não o do prazer: o princípio da realidade. Isso significa que o indivíduo deve suportar um sofrimento para depois alcançar o prazer e renunciar a um prazer que poderá fazê-lo sofrer mais tarde. No entanto, ambos os princípios visam o mesmo fim, alcançar a satisfação e evitar a dor. Portanto, pode-se considerar o princípio da realidade como o princípio do prazer modificado pelo desenvolvimento da razão. Assim, o ego tem uma função de autopreservação, pois se houvesse apenas a busca da gratificação imediata sem levar em conta as consequências da total evitação do sofrimento, o indivíduo sucumbiria. Como intermediário entre o mundo interno (id) e o mundo externo, o ego exerce uma série de funções. Em relação ao primeiro, aprende a controlar as demandas dos impulsos, decidindo se estes devem ser satisfeitos imediatamente, mais tarde ou nunca. Em relação ao segundo, percebe os estímulos, avaliando sua qualidade e intensidade a partir de lembranças de experiências passadas, protege-se dos estímulos percebidos como perigosos, aproveitaos estímulos favoráveis e realiza modificações no meio, que possam resultar em benefício da própria pessoa. Em outras palavras, são funções do ego: perceber, lembrar, planejar e decidir. O Superego - À proporção que se desenvolve, a criança descobre que certas demandas do meio persistem sob a forma de normas e regras estabelecidas. Desta forma o ego tem que lidar repetidamente com os mesmos tipos de problemas e 19 aprender a encontrar para estes soluções socialmente aceitáveis. O indivíduo, entretanto, não precisará indefinidamente, parar para pensar cada vez que isso ocorrer. A decisão far-se-á automaticamente, pois as regras e normas impostas pelo mundo externo vão se incorporar na estrutura psíquica, constituindo o superego. Este que popularmente é chamado de “consciência” representa a resposta automática, “certo” ou “errado”, que surge na pessoa diante das várias situações que exigem uma tomada de posição. Assim o superego representa a herança sócio-cultural do indivíduo, enquanto o id representa a herança biológica. As três partes da estrutura não podem ser consideradas isoladamente no seu desenvolvimento e funcionamento. Elas são interdependentes. O ego desempenha papel de integrador lidando simultaneamente com as demandas do id, do superego e do mundo externo. Nem o id, nem o superego são realistas, pois agem imediata e irrefletidamente, o primeiro buscando de forma indiscriminada o prazer e o segundo censurando automaticamente. O ego é a parte racional que realiza uma transação realista considerando os aspectos próprios da natureza do indivíduo e o tipo de meio onde vive. Decide o que fazer, quando e de que forma, visando sempre o bem estar do organismo integral. O desenvolvimento do homem como ser social, baseia-se no equilíbrio entre as forças dos impulsos primitivos irracionais do id e as forças das exigências do superego e do meio a partir do qual este se formou. O bom resultado deste equilíbrio dependerá da existência de um ego fortalecido, de um superego moderado e do conhecimento da natureza dos impulsos do id. Caso contrário, o equilíbrio da personalidade obedecerá a padrões desviados da normalidade, entendendo-se aqui, por normalidade a tendência um completo bem-estar biopsicossocial. Consciente, pré-consciente e inconsciente Topograficamente, o aparelho psíquico está dividido em três planos ou sistemas: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. 20 O consciente é uma parte relativamente pequena e inconstante da vida mental de uma pessoa. Corresponde a tudo aquilo que um indivíduo está ciente em determinado instante e cujo conteúdo provém de duas fontes principais: o conjunto dos estímulos atuais, percebidos pelo aparelho sensorial e as lembranças de experiências passadas, evocadas naquele instante. Quanto mais a atenção do indivíduo estiver voltada para os fatos da realidade presente, menos haverá lugar para lembranças do passado. Em contraposição, quanto mais a consciência estiver ocupada pelas recordações, menos atento estará o indivíduo para as ocorrências atuais. Se o consciente corresponde a tudo o que ocupa a atenção de um indivíduo em determinado instante, o reservatório de tudo o que possa ser lembrado no instante seguinte corresponde ao pré-consciente. Resta uma área da vida psíquica, onde se encontram os impulsos primitivos que influenciam o comportamento e dos quais não se tem consciência e um grupo de idéias, carregadas emocionalmente, que uma vez foram conscientes, mas em vistas de seus aspectos intoleráveis foram expulsas da consciência para um plano mais profundo, de onde não poderão vir à tona voluntariamente. Esta área corresponde ao inconsciente. No que diz respeito às partes da estrutura psíquica, o id é inteiramente inconsciente. O ego, sendo a porção que se diferenciou do id para contactar com o mundo externo e ao mesmo tempo receber informações do mundo interno, é parte consciente ( e pré-consciente) e parte inconsciente. O superego sendo a incorporação no psíquico, dos padrões autoritários e idéias da sociedade é inconsciente na medida em que funciona automaticamente, mas passível de compreensão consciente, uma vez que originou do ego seu contato com o mundo externo. Uma analogia é comumente empregada para ilustração da hipótese topográfica do funcionamento mental. Toma - se como exemplo o iceberg, em que a porção acima da superfície corresponde ao consciente, a porção que se torna visível, conforme o movimento das águas, corresponde ao pré-consciente e a parte sempre submersa, proporcionalmente muito maior, corresponde ao inconsciente. Consciente Pré-consciente Inconsciente S U P E R E G O E G O ID 21 Teoria da personalidade O estudo da personalidade nos últimos anos é de tão grande significado social, que está hoje em pleno desenvolvimento. No entanto, apesar de seu grande avanço, o que se conhece sobre personalidade ainda é insuficiente para atender às exigências práticas que são colocadas em proporções cada vez menores pelo mundo contemporâneo. A palavra personalidade, evidentemente, não se constitui em um termo desconhecido, porquanto vem sendo usada indevidamente para determinar os traços que nos tornam agradáveis as outras pessoas. Gostamos ou admiramos. O indivíduo que “tem personalidade” , prontamente afirmamos que ele é dinâmico, amigo, simpático. Assim, alguém tem personalidade, quando “impressiona fortemente” a seus semelhantes. Por outro lado, somos indiferentes ou não toleramos o indivíduo que não “tem personalidade” porque, pelo menos para nós ele é irritante ou desagradável. Chega-se mesmo a dizer que uma pessoa que passa desapercebida, apática na vida em comum, “não tem personalidade”. Existem correntes da Psicologia que estudam a formação da Personalidade mas por outro lado há correntes da mesma que negam a existência de tal conceito. O que seria então Personalidade? A personalidade é uma estrutura interna, formada por diversos fatores em interação. Não se reduz a um traço apenas, como a autodeterminação ou um valor moral. Pode ser muito ou pouco valorizada. Não importa. Uma pessoa mesmo sem valores, mal formada, com falhas morais ou limitações psicológicas, não deixa de ter personalidade porque tem uma estrutura interna, embora defeituosa. Também, a personalidade não é a simples soma ou justaposição de elementos, mas um todo organizado e individual, produto de fatores biopsicossociais. • Nos fatores biológicos estão: o sistema glandular e o sistema nervoso. • Entre os fatores psicológicos estão: o grau e as características de inteligência, as emoções, os sentimentos, as experiências, os complexos, os condicionamentos, a cultura, a instrução, os valores e vivências humanas. 22 • Nos grupos sociais, como a família,a escola, a igreja, o clube, vizinhança, processa-se a interação dos fatores sociais. Componentes da Personalidade (Temperamento e Caráter) Sendo a personalidade, o que distingue uma pessoa da outra, a mesma encontra-se apoiada em herança biológica e na ação ambiental. Os fatores biológicos, principalmente o sistema glandular e o sistema nervoso determinam no indivíduo o temperamento, que é constituído de impulsos naturais. Ser agressivo ou não ser agressivo, ser irrequieto ou indolente, ser emotivo ou não emotivo, ter reações primárias ou secundárias, podem ter traços temperamentais. Assim, o indivíduo nasce com determinado temperamento, mas fatores ambientais podem modificá-lo até certo ponto. Assim, a educação pode manter domínio e controle sobre o temperamento;a alimentação; as doenças; o clima; os acontecimentos e outros fatores causam algumas transformações nos traços temperamentais. A vida ensina o homem a controlar ou a estimular seu temperamento. Todo tipo temperamental tem seus aspectos positivos e aspectos negativos. Conhecendo-se bem, o homem pode dominar os aspectos negativos e estimular e desenvolver os aspectos positivos. O temperamento é parte da personalidade, e, esta não se reduz àquele. A personalidade é o todo; o temperamento é um aspecto desse todo. Portanto, o temperamento é um aspecto inato, biológico da personalidade. As qualidades que estão relacionadas com o temperamento incluem entre outras, excitabilidade, irrascibilidade, impulsividade, receptividade (sensibilidade), reserva, passividade, otimismo, pessimismo,vivacidade e letargia. O princípio e valores do homem constituem seu Caráter. Caráter é um termo que etimologicamente significa “gravar”. Mas esse conceito sofreu total evolução. Hoje, caráter significa padrão de valores da personalidade. É constituído de valores morais e sociais. Adquiri-se o caráter na família, na escola e na sociedade em geral. Como diz ALLPORT (1979), caráter é a personalidade valorizada. Nesse sentido o caráter é um aspecto da personalidade. Quando se diz que uma pessoa tem uma personalidade sem caráter, está se referindo à sua aceitabilidade moral e social. Portanto, o caráter se 23 origina a partir de fatores como: integridade, fidedignidade e honestidade. Está associado àquelas nossas ações que satisfazem ou deixam satisfazer os padrões aceitos da sociedade e que são, conseqüentemente, julgados como “certos” ou “errados”. Estrutura e dinâmica da personalidade (segundo a teoria psicanalítica) Id – O id é a fonte da energia psíquica (libido). É de origem orgânica e hereditária.O id é formado por instintos, impulsos organicos e desejos inconscientes, ou seja, pelo que Freud designa como pulsões. Está relacionado a todos os impulsos não civilizados, de tipo animal, que o indivíduo experimenta. . Não tolera tensão. Se o nível de tensão é elevado, age no sentido de descarregá-la. É regido pelo princípio do prazer. Sua função e procurar o prazer e evitar o sofrimento. Localiza-se na zona inconsciente da mente. O Id não conhece a realidade objetiva, a "lei" ética e social, que nos prende perante a determinadas situações devido as conclusões da interpretação alheia. Por isso surge o Ego. Ego – Significa “eu” em latim. E responsável pelo contato do psiquismo com o mundo objetivo da realidade. O Ego atua de acordo com o princípio da realidade. Estabelece o equilíbrio entre as reivindicações do Id e as exigências do superego com as do mundo externo. É o componente psicológico da personalidade. As funções básicas do Ego são: a percepção, a memória, os sentimentos e os pensamentos. Localiza-se na zona consciente da mente. Superego – Atua como censor do Ego. É o representante interno das normas e valores sociais que foram transmitidos pelos pais através do sistema de castigos e recompensas impostos à criança. Ele é estruturado durante a fase fálica, quando ocorre o Complexo de Édipo. É nesse momento que a criança começa a internalizar os valores e as normas sociais. São nossos conceitos do que é certo e do que é errado. O Superego nos controla e nos pune (através do remorso, do sentimento de culpa) quando fazemos algo errado, e também nos recompensa (sentimos satisfação, orgulho) quando fazemos algo meritório. O Superego procura inibir os impulsos do Id, uma vez que este não conhece a moralidade. É o componente social da personalidade.As principais funções do Superego são: inibir os impulsos do id (principalmente os de natureza agressiva e sexual) e lutar pela perfeição. 24 • Pelo Id o empregado deixaria de comparecer ao trabalho num belo dia ensolarado, dedicando-se a uma aprazível atividade de lazer: uma pescaria, um cinema, etc. • O Ego aconselharia prudência e buscaria uma oportunidade adequada para essas atividades. • O Superego diria ser inaceitável faltar com um compromisso assumido, por exemplo, com o supervisor ou colegas de trabalho. Os três sistemas da personalidade não devem ser considerados como fatores independentes que governam a personalidade. Cada um deles têm suas funções próprias, seus princípios, seus dinamismos, mas atuam um sobre o outro de forma tão estreita que é impossível separar os seus efeitos. Níveis de Consciência da Personalidade Para Freud, os três níveis de consciência são: consciente, pré-consciente e inconsciente. Consciente – inclui tudo aquilo de que estamos cientes num determinado momento. Recebe ao mesmo tempo informações do mundo exterior e do mundo interior. Pré-consciente – (ou sub-consciente) – se constitui nas memórias que podem se tornar acessíveis a qualquer momento, como por exemplo, o que você fez ontem, o teorema de Pitágoras, o seu endereço anterior, etc. É uma espécie de “depósito” de lembranças a disposição, quando necessárias. Inconsciente – estão os elementos instintivos e material reprimido, inacessíveis à consciência e que podem vir à tona num sonho, num ato falho ou pelo método da associação livre. Os processos mentais inconsciente desempenham papel importante no funcionamento psicológico, na saúde mental e na determinação do comportamento. Os Mecanismos de Defesa da Personalidade As frustrações e os conflitos, dependendo da sua quantidade e freqüência, podem causar prejuízos sérios à estrutura e à saúde da personalidade. Frustrações e conflitos podem acontecer a cada momento. A condução atrasa, o café está frio, o vendedor da 25 loja não nos atende direito, o livro que queríamos comprar está esgotado, um encontro que está sendo esperado é cancelado etc. Assim, o homem não pode ficar olhando de frente, vivenciando em profundidade suas frustrações e fracassos. Desse modo poderia chegar à beira da autodestruição. Para evitar que isto aconteça, mobiliza seus mecanismos de defesa. Para Freud a defesa é a operação pelo qual o Ego exclui da consciência conteúdos indesejáveis. São vários os mecanismos. Os principais são: Racionalização – consiste em justificar de forma mais ou menos lógica e ética a própria conduta. Apresenta-se como um esforço defensivo para manter o auto-respeito. É provavelmente um dos mecanismos menos inconscientes. Por ele, arranjamos desculpas e explicações que nos inocentem de erros e fracassos. A criação de um “bode expiatório” é também racionalização. Dar uma desculpa para inocentar nosso “eu” ou jogar a culpa em outro tem a mesma finalidade: aliviar da “culpa”, ou de algo que nos inferiorize diante de nós e dos outros. Isto é tão antigos quanto Adão e Eva. Depois de cometido seu “pecado original”, para livrar seu “eu” da culpa. Adão optou por um “bode expiatório”, culpando sua mulher, Eva. Esta, por sua vez, optou pela desculpa: “fui tentada pelo diabo, em forma de serpente”. Costuma-se ouvir de pessoas demitidas “afinal, aquela empresa estava realmente em decadência”; depois das mudanças de Administração, ficou mesmo impossível trabalhar lá; somente o pessoal menos qualificado permaneceu.” Reconhecer nossa irracionalidade, ainda quando nos é incômoda, ajuda a superá-la. Nem a conduta e nem os impulsos das pessoas são sempre racionais. Projeção – consiste em atribuir a outros as idéias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas. Sem que percebamos, muitas vezes, vemos nos outros defeitos que nos são próprios Podem servir como exemplos: o aluno que se sente frustrado pela reprovação nos exames, põe-se a dizer que o professor é incapaz. O marido infiel que desconfia da esposa. Repressão –é o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente. Vivências que provocam sentimentos de culpa são 26 esquecidas. Muitos casos de amnésia (excluídas as causas orgânicas) podem ser explicados através deste mecanismo. Esquecemos o que é desagradável. Deslocamento – Na tentativa de ajustar nosso comportamento e eliminar as tensões, muitas vezes, não podendo descarregar nossa agressão na fonte de frustração (um chefe, a organização, etc), passamos a agredir terceiros que não têm nada a ver com o caso. É bom lembrar que a toda ou a quase toda frustração corresponde agressão. Regressão – significa voltar a comportamentos imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou. A criança de cinco anos que, após o nascimento de um irmão, volta a chupar o dedo, molhar a cama e falar como bebê, é um exemplo de regressão. Dessa maneira, reage melhor à frustração. É o caso do funcionário que, diante do chefe, assume comportamento menos adulto. Somatização - o conflito se transforma numa perturbação fisiológica. Por exemplo, numa fiscalização, o funcionário foi apanhado em flagrante falta. A partir daí, por ocasião dos períodos de fiscalização, adoece, passa mal, sente vômitos etc. Distúrbios da Personalidade A melhor maneira de definir “distúrbio” é caracterizá-lo como deficiência psicológica com repercussão na área emocional e interpessoal. Este termo caracteriza uma faixa que vai desde formas neuróticas leves até a loucura, na plenitude do seu termo. Normal seria aquela personalidade com capacidade de viver eficientemente, manter relacionamento duradouro e emocionalmente satisfatório com outras pessoas, trabalhar produtivamente, repousas e divertir-se, ser capaz de julgar realisticamente suas falhas e qualidades, aceitando-as. A falha de uma ou outra dessas características pode indicar a presença de uma deficiência psicológica ou “distúrbio” da personalidade. Classificamos distúrbios da personalidade em 3 grandes tipos básicos: 1º Tipo: Neuroses É a existência de tensão excessiva e prolongada, de conflito persistente ou de uma necessidade longamente frustrada, é sinal de que na pessoa se instalou um estado neurótico. A neurose determina uma modificação, mas não uma desestruturação da 27 personalidade e muito menos de perda de valores da realidade. Costuma-se catalogar os sintomas neuróticos em certas categorias, como: a) Ansiedade - a pessoa é tomada por sentimentos generalizados e persistente de intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas são: palpitações do coração, tremores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma exagerada e ansiosa preocupação por si mesmo. b) Fobias – uma área da personalidade passa a ser possuída por respostas de medo e ansiedade. Na angústia o medo é difuso e quando vem à tona é sinal de que já existia, há longo tempo. Se apresenta envolta em muita tensão, preocupação, excitação e desorganização do comportamento. Na reação fóbica, o medo se restringe a uma classe limitada de estímulos. Verifica-se a associação do medo a certos objetos, animais ou situações. c) Obsessiva-Compulsiva: A Obsessão é um termo que se refere a idéias que se impõem repetidamente à consciência. São por isto dificilmente controláveis. A compulsão refere-se a impulsos que levam à ação. Está intimamente ligada a uma desordem psicológica chamada transtorno obsessivo-compulsivo. 2º Tipo: Psicoses O psicótico pode encontrar-se ora em estado de depressão, ora em estado de extrema euforia e agitação. Em dado momento age de um modo e em outro se comporta de maneira totalmente diferente. Houve uma desestruturação da sua personalidade. O dado clínico para se aferir à psicose é a alteração dos juízos da realidade. O psicótico passa a perceber a realidade de maneira diferente. Por isso, faz afirmações e tem percepções não apoiadas nem justificadas pelos dados e situações reais. Nas psicoses, além da alteração do comportamento, são comuns alucinações (ouvir vozes, ter visões e delírios). Pode ser possuído por intensas fantasias de grandeza ou perseguição. Pode sentir-se vítima de uma conspiração assim como se julgar milionário, um ser divino, etc. As Psicoses se manifestam como: a) Esquizofrenia - apatia emocional, carência de ambições, desorganização geral da personalidade, perda de interesse pela vida nas realizações pessoais e sociais. 28 pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado,riso insólito, bobice, infantilidade, hipocondria, delírios e alucinações transitórias. b) Maníaca- depressiva – caracteriza-se por perturbações psíquicas duradouras e intensas, decorrentes de uma perda ou de situações externas traumáticas. O estado maníaco pode ser leve ou agudo. É assinalado por atividade e excitamento. Os maníacos são cheios de energia, inquietos, barulhentos, falam alto e têm idéias bizarras, uma após outra. O estado depressivo, ao contrário, caracteriza-se por inatividade e desalento. Seus sintomas são: pesar, tristeza, desânimo, falta de ação, crises de choro, perda de interesse pelo trabalho, por amigos e família, bem como por suas distrações habituais. Torna-se lento na fala, não dorme bem à noite, perde o apetite, pode ficar um tanto irritado e muito preocupado. c) Paranóia – caracteriza-se sobretudo por ilusões fixas. É um sistema delirante. As ilusões de perseguição e de grandeza são mais duradouras do que na esquizofrenia paranoide. Os ressentimentos são profundos. É agressivo, egocêntrico e destruidor. Acredita que os fins justificam os meios e é incapaz de solicitar carinho. Não confia em ninguém d) Psicose alcoólica – é habitualmente marcada por violenta intranqüilidade, acompanhada de alucinações de uma natureza aterradora. e) Arteriosclerose Cerebral – evolui de um modo semelhante a demência senil. O endurecimento dos vasos cerebrais dá lugar a transtornos de irrigação sangüínea, as quais são causa de que partes isoladas do cérebro estejam mal abastecidas de sangue. Os sintomas são, formigamento nos braços e pernas, paralisias mais ou menos acentuadas, zumbidos no ouvido, transtorno de visão, perturbações da linguagem em forma de lentidão ou dificuldade da fala. 3º Tipo: Psicopatias Os psicopatas não estruturam determinadas dimensões da personalidade, verificando- se uma espécie de falha na própria construção. Os principais sintomas das psicopatias são: Diminuição ou ausência da consciência moral. O certo e o errado; o permitido e o proibido não fazem sentido para eles. Desta maneira, simular, dissimular, enganar, roubar, assaltar, matar, não causam sentimentos de repulsa e remorso, em suas 29 consciências. O único valor para eles é seus interesses egoístas: Inexistência de alucinações; ausência de manifestações neuróticas; falta de confiança; Busca de estimulações fortes; Incapacidade de adiar satisfações; Não toleram um esforço rotineiro e não sabem lutar por um objetivo distante; Não aprendem com os próprios erros, pelo fato de não reconhecerem estes erros; Em geral, têm bom nível de inteligência e baixa capacidade afetiva; Parecem incapazes de se envolver emocionalmente. Não entendem o que seja socialmente produtivo. Esquema de Desenvolvimento de Erik Erikson Confiança X Desconfiança (até um ano de idade) Durante o primeiro ano de vida a criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela requerendo cuidado quanto a alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimentoocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo. Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro ano) Neste período a criança passa a ter controle de suas necessidades fisiológicas e responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novas coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência. Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano) Durante este período a criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhado por mulheres e homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud) entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual ” e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos. Construtivismo X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos) 30 Neste período a criança está sendo alfabetizada e frequentando escola (s), o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias em nossa cultura. Caso tenha dificuldades o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade. Identidade X Confusão de Papeis (dos 12 aos 18 anos) O jovem experimenta uma série de desafios que envolve suas atitudes para consigo, com seus amigos, com pessoas do sexo oposto, amores e a busca de uma carreira e de profissionalização. Na medida que as pessoas à sua volta ajudam na resolução dessas questões desenvolverá o sentimento de identidade pessoal, caso não encontre respostas para suas questões pode se desorganizar, perdendo a referência. Intimidade X Isolamento (jovem adulto) Nesse momento o interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afectiva. Caso ocorra uma decepção a tendência será o isolamento temporário ou duradouro. Produtividade X Estagnação (meia idade) Pode aparecer uma dedicação a sociedade à sua volta e realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material. Integridade X Desesperança (velhice) Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos, do contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança. PSICOLOGIA INTERPESSOAL–KAREN HORNEY- (1885 – 1952) 31 Diferenças Individuais Os indivíduos diferem no equilíbrio entre três orientações interpessoais: aproximar-se, voltar-se contra e afastar-se. Adaptação e Ajustamento A saúde implica modos interpessoais equilibrados. A psicanálise é a terapia preferível, mas a auto-análise pode ser um suplemento importante. Processos Cognitivos Obliterações e outros mecanismos de defesa limitam a compreensão, mas um auto-exame corajoso pode levar ao crescimento. Sociedade A cultura é muito importante na moldagem da personalidade, especialmente por meio dos papéis sexuais. Influências Biológicas A biologia é bem menos importante do que afirma a psicanálise ortodoxa. Desenvolvim ento da Criança A ansiedade básica e a hostilidade são as emoções fundamentais da infância, causadas pelo amor parental inadequado. Desenvolvim ento dos adultos Poucas mudanças fundamentais ocorrem na personalidade após a infância. ✓ O inconsciente é um poderoso determinante da personalidade, porém para ela os conflitos importantes estão baseados em questões interpessoais não- resolvidas.Acreditava que a personalidade tem origem na primeira infância, porém sua formação se concentra na relação entre pais e filhos. 32 ✓ Horney, objetava vigorosamente o conceito freudiano de inveja do pênis, como o fator determinante na psicologia feminina – o conflito mais profundo originava-se dos sentimentos de inferioridade genital e de seu ciúme do homem. ✓ O Complexo de Édipo não é um conflito sexual agressivo entre a criança e o progenitor, mas uma ansiedade decorrente de perturbações básicas como rejeição, superproteção e punição no relacionamento da criança com a mãe e com o pai. Desenvolvimento da personalidade ✓ A atmosfera familiar ideal proporciona calor humano, benevolência e um atrito saudável com os desejos e as vontades dos outros. ✓ As preocupações com segurança e alienação intrapsíquica e interpessoal constituem as forças motivacionais primárias da personalidade. ✓ Horney, ressaltou os determinantes sociais e culturais no desenvolvimento da personalidade; ✓ Julgava necessário conhecer a cultura e o ambiente familiar para a compreensão do comportamento; ✓ Os fatores culturais determinam os padrões de comportamento anormal. ✓ O indivíduo com problema emocional é um e “enteado” da nossa cultura. (HORNEY, 1939, p: 8) Papéis de Gênero ✓ A biologia determina o sexo porém é a cultura que determina os traços e comportamentos pra homens e mulheres; ✓ Os homens são estimulados a serem competitivos; ✓ As mulheres podem desenvolver o medo do sucesso, que seria um conflito entre a competição e a necessidade de afeto. Ansiedade básica As crianças experienciam naturalmente ansiedade, desamparo e vulnerabilidade. Tudo o que perturbaa segurança da criança em relação aos pais produz ANSIEDADE BÁSICA. A ANSIEDADE BÁSICA se refere ao: 33 “Sentimento da criança de estar isolada e desamparada em um mundo potencialmente hostil; uma ampla variedade de fatores adversos no ambiente pode produzir essa insegurança em uma criança; dominação direta ou indireta, indiferença, comportamento errante, falta de respeito pelas necessidades individuais da criança, falta de orientação real, atitudes depreciativas, admiração demais ou ausência de admiração, inexistência de um carinho consistente, ter de tomar partido nas discórdias parentais, responsabilidade exagerada ou insuficiente, injustiça, superproteção, discriminação, promessas não cumpridas, ou seja, em geral tudo o que perturba a segurança da criança em relação aos pais, produz ansiedade básica.”(HORNEY, 1945, p:41) Hostilidade Básica O desamparo, a rejeição e a negligência dos pais provocam a raiva na criança, denominada HOSTILIDADE BÁSICA. “A ansiedade básica experienciada pela criança, naturalmente provoca ressentimento ou HOSTILIDADE BÁSICA, que por sua vez, produz um dilema ou conflito para a criança porque expressar a hostilidade poderia fazer com que ela fosse punida e poria em risco o amor recebido dos pais. [...] As crianças lidam com sua hostilidade reprimindo-a. [...] A repressão exacerba o conflito, intensificando a ansiedade e a hostilidade.” (HORNEY, 1973, p:86) Ansiedade versus hostilidade A criança insegura, ansiosa, rejeitadae mais tarde o adulto perturbado, desenvolve várias estratégias para lidar com seus sentimentos de isolamento e desamparo. Qualquer uma dessas estratégias pode-se tornar um aspecto permanente da personalidade: ✓ Pode ficar hostil e tentar se vingar daqueles que a rejeitaram ou maltrataram; ✓ Pode tornar-se excessivamente submissa, a fim de recuperar o amor que sente ter perdido; 34 ✓ Pode desenvolver umquadro irrealista e idealizado de si mesma para compensar seus sentimentos de inferioridade; ✓ Pode voltar a agressão contra si mesma e se desprezar. ✓ Pode tentar comprar o amor dos outros ou usar ameaças para obrigar as pessoas a gostarem dela; ✓ Pode mergulhar na auto piedade para obter a simpatia dos outros; ✓ Pode tentar obter poder sobre os outros; dessa maneira ela compensa seus sentimentos de desamparo, encontra uma saída para a hostilidade e consegue explorar as pessoas; ✓ Pode tornar-se altamente competitiva, considerando a vitória mais importante que a realização; AS NECESSIDADES NEURÓTICAS Horney mencionou dez necessidades neuróticas que constituem as origens dos conflitos internos: 1) Necessidade neurótica de afeição e aprovação: desejo indiscriminado de agradar os outros e cumprir suas expectativas; extremamente sensível a qualquer sinal de rejeição ou frieza. 2) Necessidade neurótica de um parceiro que assuma a vida da pessoa: é uma parasita; supervaloriza o amor e tem um medo extremo de ser abandonada e deixada sozinha. 3) Necessidade neurótica de restringir sua vida a limites estreitos: não é exigente, contentando-se com pouco; prefere permanecer na obscuridade e valoriza a modéstia acima de tudo. 4) Necessidade neurótica de poder: busca do poder pelo amor ao poder, em um desrespeito essencial pelos outros; glorificação indiscriminada da força e desprezo pela fraqueza; acham que podem realizar qualquer ação , simplesmente exercendo o poder da sua vontade. 5) Necessidade neurótica de explorar os outros. 6) Necessidade neurótica de prestígio: a autovalorização da pessoa é determinada pela quantidade de reconhecimento público recebido. 35 7) Necessidade neurótica de admiração pessoal: as pessoas com essa necessidade tem um quadro inflado de si mesmas e querem ser admiradas nesta base, e não por aquilo que realmente são. 8) Ambição neurótica de realização pessoal: querem ser as melhores e obrigam-se a realizações cada vez maiores como resultado de sua insegurança básica. 9) Necessidade neurótica de auto-suficiência e independência: tendo-se desapontado nas tentativas de encontrar relacionamentos carinhosos e satisfatórios com os outros, a pessoa se afasta e não quer vincular-se a nada e a ninguém, tornando- se solitárias. 10) Necessidade neurótica de perfeição e não-vulnerabilidade: temerosas de cometer erros e ser criticadas, as pessoas tentam se tornar infalíveis; constantemente buscam falhas em si mesmas para poder corrigi-las antes que se tornem óbvias para os outros. Orientações interpessoais Horney classificou essas dez necessidades neuróticas em três grupos: Cada uma dessas “tendências neuróticas” superenfatiza um dos elementos envolvidos na ansiedade básica: ✓ Aproximar-se das pessoas: o desamparo; ✓ Afastar-se das pessoas: o isolamento; ✓ Voltar-se contra: a hostilidade. Aproximar-se das pessoas ✓ Aquiescência ou Solução de Auto-anulação: voltam-se para as outras pessoas em busca do amor e da proteção que faltam em suas vidas. Para ser amada a pessoa fará de tudo para ser benquista. Voltar-se contra as pessoas ✓ Agressão ou Solução Expansiva: poder e domínio parecem oferecer proteção contra a vulnerabilidade de estar desamparado. O prestígio protege da humilhação, os outros é que são humilhados. 36 Afastar-se das pessoas ✓ Retraimento ou Solução de Renúncia: procuram viver sem os outros, tendo desistido de resolver o problema da ansiedade básica por meio do amor e do poder. Orientações interpessoais Todas as pessoas têm esses conflitos, mas algumas pessoas os têm em forma mais agravada. Em outras palavras, enquanto a pessoa normal consegue resolver os conflitos integrando as três orientações, uma vez que elas não são mutuamente exclusivas, a pessoa neurótica, reconhece apenas uma das tendências e nega ou reprime as outras duas. “A disparidade entre as questões conflitantes é bem menor para a pessoa normal do que para o neurótico.” (HORNEY, 1945, p: 31) Principais ajustamentos à ansiedade básica 1) Ocultando o conflito: aproximar-se dos outros ou voltar-se contra eles; 2) Desvinculação: afastar-se dos outros; 3) O self idealizado: afastar-se do self real: a) Alienação do self real b) A Tirania dos “Deveria” 4 ) Externalização: projeção do conflito interno Técnicas Secundárias de Ajustamento 1) Obliterações: não enxerga a discrepância entre o nosso comportamento e a nossa auto-imagem; 2) Compartimentalização: comportamentos incompatíveis dissociados - (na família, no trabalho etc.); 3) Racionalização: enganar a si mesmo pelo raciocínio 4) Autocontrole excessivo: impede as pessoas de serem esmagadas por emoções; 5) Certeza arbitrária; 37 6) Esquivança: não se comprometem com nenhuma opinião ou ação; 7) Cinismo: evita-se o conflito negando-o ou ridicularizando-o. Solução do conflito ✓ Horney, diferentemente de Freud e Jung, não achava que o conflito estivesse inerente na natureza do ser humano, sendo portanto inevitável; acreditava que o conflito é decorrente das condições socioculturais, principalmente por meio das experiências na infância. ✓ Todos esses conflitos são evitáveis ou solucionáveis se a criança for criada em um lar no qual exista segurança, confiança, amor, respeito, tolerância e carinho. (HORNEY, 1937, p: 290. Erikson e a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento Elaine Rabello e José Silveira passos Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha, em 1902 (vindo a falecer em 1994). Tento inicialmente optado pela carreira artística, foi convidado a trabalhar em uma escola para pacientes submetidos à psicanálise, entrando então em contato com o grupo de Anna Freud. Em 1933, quando se casou com uma canadense, mudou-se para os Estados Unidos, continuando seus estudos em Psicanálise, tornando-se o primeiro psicanalista infantil americano. Sem negar a teoria freudiana sobre desenvolvimento psicossexual, Erikson mudou o enfoque desta para o problema da identidade e das crises do ego, ancorado em um contexto sociocultural. O estudo da identidade tornou-se estratégico para o autor, que viveu em uma época onde a Psicanálise deslocava o foco do id e das motivações inconscientes para os conflitos do ego. Na verdade, é preciso considerar que as mudanças de enfoque na teoria psicanalítica ocorreram antes da morte de Freud (Hall et. al., 2000). O que havia de ser contestado e modificado foi feito por seus discípulos em sua presença. Esta foi a causa de tantas 38 dissidências em seu círculo de estudos. Jung e Adler são exemplos daqueles que foram excluídos de seu grupo ao discordarem de alguns pontos da teoria freudiana ou simplesmente por terem mudado o foco de estudo. Após a morte de Freud, a Psicanálise sofreu uma espécie de ampliação. Algumas idéias foram redefinidas, outras suprimidas, mas, em sua maioria, até mesmo por decorrência do contato da Psicanálise com a Psicologia, foram estendidas. Um avanço da teoria freudiana que é, sem dúvida, da maior importância para o estudo do humano no século XX, é o foco no ego. Em Freud, o ego aparece como sistema muitas vezes subserviente ao id. Anna Freud, filha de Sigmund Freud, dando continuidade aos seus estudos, atribuiu ao ego uma característica de mais autonomia, com um maior poder de decisão e de atuação. Anna também ampliou os mecanismos de defesa de sete para dez., atribuindo a eles um caráter menos patológico do que Freud o fizera. Com sua teoria, Anna Freud
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