Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Apostila 2013| Ramón Eduardo Pereira Silva, M Sc. Universidade de Taubaté ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA AERONÁUTICA TEORIA DE VÔO Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva i “Não se espante com a altura do vôo. Quanto mais alto, mais longe do perigo. Quanto mais você se eleva, mais tempo há de reconhecer uma pane. É quando se está próximo do solo que se deve desconfiar" Alberto Santos=Dumont “O avião voa porque não tem tempo para cair” Orville Wright “É possível voar sem motores, mas não sem conhecimento e habilidade” Wilbur Wright Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva i Índice 1. Breve História do Vôo .......................................................................................... 2 1.1. A lenda de Dédalo e Ícaro ..................................................................................................... 2 1.2. Leonardo da Vinci ................................................................................................................. 3 1.3. Balões ................................................................................................................................... 4 1.4. Aerodinâmica, Controle e Propulsão .................................................................................... 6 2. Introdução às Aeronaves ................................................................................... 17 2.1. Conceitos ............................................................................................................................ 17 2.2. Configurações de Fuselagem .............................................................................................. 21 2.3. Configurações de Trem de Pouso ........................................................................................ 25 2.4. Configurações de Asa ......................................................................................................... 32 2.5. Configurações de Cauda ..................................................................................................... 48 2.6. Configurações de Motores .................................................................................................. 59 3. Motores Aeronáuticos ....................................................................................... 67 3.1. Propulsão ............................................................................................................................ 67 3.2. Ação e reação ..................................................................................................................... 67 3.3. Motores a Pistão ................................................................................................................. 67 3.4. Motores a Reação ............................................................................................................... 76 3.5. Motores Experimentais ....................................................................................................... 82 4. Aerodinâmica .................................................................................................... 86 4.1. Introdução .......................................................................................................................... 86 4.2. Aerofólios ............................................................................................................................ 87 4.3. Princípio de Benoulli e Tubo de Venturi .............................................................................. 91 4.4. Forças Aerodinâmicas ......................................................................................................... 95 4.5. Asa .................................................................................................................................... 105 4.6. Aumento de Sustentação .................................................................................................. 117 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva ii 5. Comandos de Vôo ............................................................................................ 131 5.1. Eixos de Rotação ............................................................................................................... 131 5.2. Aeronaves de Asa Fixa ...................................................................................................... 132 6. Estabilidade, Peso e Balanceamento ................................................................ 145 6.1. Estabilidade ...................................................................................................................... 145 6.2. Estabilidade Longitudinal ................................................................................................. 147 6.3. Estabilidade Lateral .......................................................................................................... 152 6.4. Estabilidade Direcional ..................................................................................................... 158 6.5. Acoplamento direcional e lateral ...................................................................................... 161 6.6. Peso e Balanceamento...................................................................................................... 164 6.7. Efeitos de Peso e Centro de Gravidade ............................................................................. 164 6.8. Tipos de Peso .................................................................................................................... 167 6.9. Cálculo do Peso ................................................................................................................. 170 6.10. Cálculo do Centro de Gravidade ................................................................................... 173 6.11. Envelope do Centro de Gravidade ................................................................................ 175 7. Asas Rotativas ................................................................................................. 179 7.1. Vôo em Potência ............................................................................................................... 182 7.2. Vôo Vertical ...................................................................................................................... 186 7.3. Vôo a Frente ..................................................................................................................... 186 7.4. Vôo Lateral ....................................................................................................................... 190 7.5. Vôo a Ré ............................................................................................................................ 191 7.6. Efeito Cone ........................................................................................................................ 191 7.7. Efeito Solo ......................................................................................................................... 192 7.8. Dissimetria de sustentação ............................................................................................... 193 7.9. Auto-rotação..................................................................................................................... 199 7.10. Comandos de Vôo ........................................................................................................ 202 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica- 2013 Prof. Ramón Silva iii Índice de Ilustrações Figura 1.1 – A queda de Ícaro. ................................................................................................................ 3 Figura 1.2 – Ornitóptero (a) e Helicóptero (b) de Da Vinci ...................................................................... 4 Figura 1.3 – Barco voador de Francesco de Lana .................................................................................... 4 Figura 1.4 – Passarola de Bartolomeu de Gusmão ................................................................................. 5 Figura 1.5 – Balão de Montgolfier .......................................................................................................... 5 Figura 1.6 – Balão de hidrogênio de Charles .......................................................................................... 6 Figura 1.7 – Mechanics Magazine com o planador de Cayley ................................................................. 7 Figura 1.8 – Avião de Henson ................................................................................................................. 8 Figura 1.9 – Dirigível de Guiffard ............................................................................................................ 9 Figura 1.10 – Planador de Lilienthal ..................................................................................................... 10 Figura 1.11 – Aeródromo de Langley .................................................................................................... 11 Figura 1.12 – Avion III de Clement Ader ............................................................................................... 11 Figura 1.13 – Santos=Dumont número 6 .............................................................................................. 12 Figura 1.14 – Flyer dos Irmãos Wright .................................................................................................. 14 Figura 1.15 – 14-Bis de Santos=Dumont ............................................................................................... 15 Figura 2.1 – Principais dimensões do avião (EMBRAER KC 390)............................................................ 17 Figura 2.2 – Partes principais do avião (EMBRAER CBA-123) ................................................................ 18 Figura 2.3 – Partes principais do helicóptero (Bell UH-1H) ................................................................... 18 Figura 2.4 – Eixos de rotação do avião (Embraer AEW&C) ................................................................... 20 Figura 2.5 – Fuselagem (Airbus A300 – 608ST Beluga) ......................................................................... 21 Figura 2.6 – Fuselagem (Chinook HC3) ................................................................................................ 22 Figura 2.7 – Estrutura tubular .............................................................................................................. 23 Figura 2.8 – Avião com estrutura monocoque (Sukhoi Su-29) .............................................................. 24 Figura 2.9 – Avião com estrutura semi-monocoque (North American Mustang P-51) .......................... 24 Figura 2.10 – Trem de pouso: (a) Antonov 225 (b) Airbus A380............................................................ 25 Figura 2.11 – Avião com trem de pouso convencional (De Havilland DHC-3T) ...................................... 26 Figura 2.12 – Avião com trem de pouso triciclo (EMB 314 - ALX) .......................................................... 26 Figura 2.13 – Avião com trem de pouso biciclo (McDonnell Douglas – Harrier AV8) ............................ 27 Figura 2.14 – Avião com flutuadores (Cessna C182 Seaplane) .............................................................. 27 Figura 2.15 – Avião anfíbio (Beriev - Albatross A42 Mermaid) ............................................................ 28 Figura 2.16 – Avião com esquis (Bellanca Citagria 7GCBC) ................................................................... 28 Figura 2.17 – Helicóptero com trem de pouso triciclo (Agusta Westland AW139) ................................ 29 Figura 2.18 – Helicóptero com trem de pouso de esqui (Helibras AS350 B2 Esquilo) ............................ 29 Figura 2.19 – Avião com trem de pouso fixo (Embraer Ipanema) ......................................................... 30 Figura 2.20 – Avião com trem de pouso retrátil (Embraer Phenom 300) ............................................. 31 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva iv Figura 2.21 – Avião com trem de pouso escamoteável (Embraer EMB 120- Brasília) ............................ 31 Figura 2.22 – Avião asa baixa cantilever (Embraer Phenom 300) ......................................................... 33 Figura 2.23 – Avião asa média cantilever (Lockheed P-2H Neptune) .................................................... 34 Figura 2.24 – Avião asa alta cantilever (Antonov 225 - Mryia) ............................................................. 34 Figura 2.25 – Avião asa alta semi-cantilever (Cessna 182 Skylane) ....................................................... 35 Figura 2.26 – Avião asa pára-sol (Consolidated PBY Catalina) .............................................................. 35 Figura 2.27 – Avião asa gaivota (North American B-25 Mitchell Barbie III) ........................................... 36 Figura 2.28 – Avião asa gaivota invertida (Vought F4U Corsair) .......................................................... 36 Figura 2.29 – Avião asa biplana (Christen Eagle) .................................................................................. 37 Figura 2.30 – Avião asa triplana Fokker Dr.I (a) Sopwith Camel (b) ...................................................... 38 Figura 2.31 – Avião asa elíptica (Supermarine Spitfire) ........................................................................ 39 Figura 2.32 – Avião asa retangular (Fairchild AU23A Peacemaker) ...................................................... 39 Figura 2.33 – Avião asa trapezoidal (Embraer EMB 312 – Tucano) ....................................................... 40 Figura 2.34 – Avião com enflechamento positivo (Mikoyan-Gurevich MiG-15) .................................... 40 Figura 2.35 – Avião com enflechamento negativo (Grumman X-29) ..................................................... 41 Figura 2.36 – Avião com enflechamento variável (Grumman F-14 Tomcat) .......................................... 41 Figura 2.37 – Avião com asa em delta (Avro Vulcan) ............................................................................ 42 Figura 2.38 – Avião com asa em diedro positivo (North American P51 Mustang) ................................. 42 Figura 2.39 – Avião com asa em diedro negativo (McDonnell Douglas – Harrier AV8) ......................... 43 Figura 2.40 – Helicóptero com rotor convencional (Robinson R66) ...................................................... 44 Figura 2.41 – Helicóptero com rotores laterais (Kaman HH43-Huskie) ................................................. 44 Figura 2.42 – Helicóptero com rotor contra-rotativo (Kamov KA50) .................................................... 45 Figura 2.43 – Helicóptero com jatos na ponta do rotor (McDonnell XH-20) ...................................... 46 Figura 2.44 – Helicóptero com rotores em tandem (Boeing CH-46 Sea Knight) .................................... 47 Figura 2.45 – Tiltrotor (Osprey V22) ..................................................................................................... 47 Figura 2.46 – Configuraçãocom Canard de controle (VariEze) ............................................................. 48 Figura 2.47 – Configuração Três Asas (Piaggio Avanti P180) ................................................................. 49 Figura 2.48 – Configuração Tandem (Scaled Composites Proteus) ....................................................... 49 Figura 2.49 – Configuração Asa Voadora (Northrop-Crumman B2 Spirit) ............................................. 50 Figura 2.50 – Cauda Convencional (AirBus A340) ................................................................................. 51 Figura 2.51 – Cauda em T (Embraer Legacy 650) .................................................................................. 51 Figura 2.52 – Cauda Cruciforme (Grumman P16 Tracker) ..................................................................... 52 Figura 2.53 – Cauda em T (Aérospatiale Fouga Magister) ..................................................................... 52 Figura 2.54 – Cauda em Y (NASA Ikhana) ............................................................................................. 53 Figura 2.55 – Cauda em Y Invertido (McDonell Douglas F-4 Phantom) ................................................. 53 Figura 2.56 – Cauda em V invertido (NASA Predator) .......................................................................... 54 Figura 2.57 – Cauda em H (Fairchild A10 Thunderbolt) ........................................................................ 55 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva v Figura 2.58 – Cauda Dupla (Grumman F-14 TomCat) ............................................................................ 55 Figura 2.59 – Cauda Tripla (Lockheed Constellation) ............................................................................ 56 Figura 2.60 – Configuração Cauda Bifurcada (Lockheed P38- Lightning) ............................................... 56 Figura 2.61 – Cauda em Anel (Miller JM-2) ........................................................................................... 57 Figura 2.62 – Cauda Convencional (Bell 204) ........................................................................................ 57 Figura 2.63 – Cauda Fenestron (Eurocopter HH-65 Dolphin) ................................................................ 58 Figura 2.64 – Cauda NOTAR (MD250) ................................................................................................... 58 Figura 2.65 – Motor a Pistão em V North American Mustang P-51(a) e radial Vough F4U Corsair. ....... 59 Figura 2.66 – Turbojato (Aerospatiale BAC Concorde).......................................................................... 60 Figura 2.67 – Turbofan (Embraer Lineage 1000) ................................................................................... 60 Figura 2.68 – Turbohélice (Pilatus PC6) ................................................................................................ 61 Figura 2.69 – Ramjet (Lockheed SR 71 - Blackbird) ............................................................................... 61 Figura 2.70 – prop-fan (Antonov AN-70) .............................................................................................. 62 Figura 2.71 – Monomotor a pistão (Cessna 162 Skycatcher) ................................................................ 63 Figura 2.72 – Turbojato Bi-Motor (Northrop F-5 Tiger)......................................................................... 64 Figura 2.73 – Turbojato tri-motor (McDonnell Douglas MD-11) ........................................................... 64 Figura 2.74 – Turbofan quadrimotor (Boeing 747) ............................................................................... 65 Figura 2.75 – Aeronave com oito motores turbojato. (Boeing B-52 Stratofortress) .............................. 65 Figura 3.1 – Fases do motor quatro tempos. ........................................................................................ 68 Figura 3.2 – Motor dois tempos ........................................................................................................... 70 Figura 3.3 – Motor Ranger L-440 (a) seis cilindros invertidos, refrigerado ar usado no Fairchild PT-19 (b) ............................................................................................................................................... 71 Figura 3.4 – Motor Rolls-Royce Merlin V-12 (a) de Havilland D.H.98 Mosquito (b) .............................. 72 Figura 3.5 – Motor de cilindros opostos horizontalmente Lycoming O-540-J3A5D ............................... 73 Figura 3.6 – Motor radial Pratt & Whitney R-2800 (a) utilizada pela aeronave Republic P-47D Thunderbolt (b) .......................................................................................................................... 74 Figura 3.7 – Motor rotativo Gnome (a) Nieuport 28C.1. (b) ................................................................. 75 Figura 3.8 – Analogia entre motor alternativo e turbina a gás ............................................................. 76 Figura 3.9 – Turbojato esquemático ..................................................................................................... 77 Figura 3.10 – Motor turbojato Rolls-Royce Olympus (a) que equipa o BAC Concorde (b) ..................... 77 Figura 3.11 – Turbo-hélice esquemático............................................................................................... 78 Figura 3.12 – Turboprop Pratt&Wittney PT6A (a) que equipa o Embraer EMB 314 Super Tucano (b)... 78 Figura 3.13 – Turbofan esquemático .................................................................................................... 80 Figura 3.14 – Turbofan Rolls-Royce Trent 900 (a) que equipa o Airbus A380 (b) .................................. 80 Figura 3.15 - Esquemático Ramjet ........................................................................................................ 81 Figura 3.16 - Pratt & Whitney J58 (a) que equipa o Lockheed SR 71 Blackbird (b) ................................ 81 Figura 3.17 – Turboeixo esquemático ................................................................................................. 82 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva vi Figura 3.18 – Propfan esquemático ...................................................................................................... 83 Figura 3.19 – Propfan GE36 (a) que equipa o McDonnell-Douglas MD81 (b) ........................................ 83 Figura 3.20 – Analogia entre o motor Wankel e o motor alternativo quatro tempos. .......................... 84 Figura 3.21 – Motor Wankel Mazda 12A (a) e montado em uma aeronave Lancair (b) ....................... 85 Figura 4.1 – Resistência ao avanço ....................................................................................................... 86 Figura 4.2 – Seção transversal da asa. .................................................................................................. 87 Figura 4.3 – Elementos do aerofólio ..................................................................................................... 87 Figura 4.4 – Elementos que definem o aerofólio .................................................................................. 88 Figura 4.5 – Exemplos de aerofólios ..................................................................................................... 90 Figura 4.6 – Perfil aerodinâmico simétrico ........................................................................................... 90 Figura 4.7 – Tubo de Venturi ................................................................................................................92 Figura 4.8 – Fluxo de ar no perfil aerodinâmico. .................................................................................. 93 Figura 4.9 – Tubo de Venturi Imaginário .............................................................................................. 93 Figura 4.10 – Campo de pressão estática no aerofólio ......................................................................... 94 Figura 4.11- Pressão diferencial (Bernoulli) e ação e reação (Newton) ................................................. 95 Figura 4.12 – Resultante aerodinâmica. ............................................................................................... 95 Figura 4.13 – Componentes da resultante aerodinâmica. .................................................................... 96 Figura 4.14 – Camada limite ................................................................................................................. 99 Figura 4.15 – Influência do ângulo de ataque ..................................................................................... 100 Figura 4.16 – Stall............................................................................................................................... 101 Figura 4.17 – Perfil de velocidade na camada limite .......................................................................... 102 Figura 4.18 – Descolamento camada limite ........................................................................................ 102 Figura 4.19 – Ângulo de sustentação nula .......................................................................................... 103 Figura 4.20 – Comportamento da coeficiente de sustentação em relação ao ângulo de ataque ........ 103 Figura 4.21 – influência do arqueamento ........................................................................................... 104 Figura 4.22 – Influência da espessura do perfil na resultante aerodinâmica ...................................... 104 Figura 4.23 – Nomenclatura da asa .................................................................................................... 106 Figura 4.24 – Distribuição hipotética de sustentação ......................................................................... 106 Figura 4.25 – Distribuição real de sustentação ................................................................................... 107 Figura 4.26 – Coeficientes de sustentação bi e tridimensionais .......................................................... 107 Figura 4.27 – Formação dos vórtices de ponta de asa ........................................................................ 108 Figura 4.28 – Influência dos vórtices de ponta de asa ........................................................................ 109 Figura 4.29 – Razão de aspecto (alongamento) .................................................................................. 110 Figura 4.30 – Influência do alongamento na distribuição de sustentação .......................................... 111 Figura 4.31 – Diminuição de espessura ao longo da asa ..................................................................... 111 Figura 4.32 – Afilamento de asa (Yaklovev YAK 52 G) ........................................................................ 112 Figura 4.33 – Aeronave SAAB 91B com endplates. ............................................................................. 112 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva vii Figura 4.34 – Tanques nas pontas da asa da aeronave Embraer EMB-111 Bandeirulha ...................... 113 Figura 4.35 – Winglets nas ponta de asa do Airbus A320 ................................................................... 113 Figura 4.36 – Distribuição de sustentação .......................................................................................... 114 Figura 4.37 – Ocorrência de stall ........................................................................................................ 115 Figura 4.38 – Torção geométrica ........................................................................................................ 115 Figura 4.39 – Torção aerodinâmica .................................................................................................... 116 Figura 4.40 – Ocorrência de stall profundo ........................................................................................ 117 Figura 4.41 – Princípio de funcionamento do slot .............................................................................. 119 Figura 4.42 – Efeito dos slots no coeficiente de sustentação .............................................................. 119 Figura 4.43 – Deslocamento do ângulo de stall devido ao acionamento dos slats .............................. 120 Figura 4.44 – Distribuição de pressão com os slats acionados. ........................................................... 121 Figura 4.45 – Slat ............................................................................................................................... 121 Figura 4.46 – Flap inclinado................................................................................................................ 122 Figura 4.47 – Flap Krueger.................................................................................................................. 123 Figura 4.48 – Efeito da extensão dos flaps no coeficiente de sustentação. ......................................... 124 Figura 4.49 – Flap plano ..................................................................................................................... 125 Figura 4.50 – Flap tipo ventral ............................................................................................................ 125 Figura 4.51 – Flap tipo slotted ............................................................................................................ 126 Figura 4.52 – Flap tipo double-slotted ................................................................................................ 126 Figura 4.53 – Flap tipo triple-slotted .................................................................................................. 127 Figura 4.54 – Flap tipo Fowler ............................................................................................................ 127 Figura 4.55 – Comparação entre os tipos de flaps .............................................................................. 128 Figura 5.1 – Eixos de rotação da aeronave ......................................................................................... 131 Figura 5.2 – Superfícies de controle primárias ................................................................................... 132 Figura 5.3 – Manche (Embraer Ipanema)/volante (Boeing 787 Dreamliner)/side-stick (Airbus A320) 133 Figura 5.4 – Acionamento dos ailerons .............................................................................................. 133 Figura 5.5 – Guinada adversa ............................................................................................................. 134 Figura 5.6 – Ailerons diferenciais ....................................................................................................... 135 Figura 5.7 – Ailerons tipo frise ........................................................................................................... 136 Figura 5.8 – Interconexão aileron/leme ............................................................................................. 136 Figura 5.9 – Flaperons (Kitfox Lite Ultralight) ..................................................................................... 137 Figura 5.10 – Movimento do profundor .............................................................................................138 Figura 5.11 – Stabilator (Northrop F-5 Tiger II) ................................................................................... 139 Figura 5.12 – Taileron (Panavia Tornado) ........................................................................................... 139 Figura 5.13 - Elevons (Avro Vulcan) ................................................................................................... 140 Figura 5.14 - Atuação do leme direcional .......................................................................................... 141 Figura 5.15 - Cauda em V (Beechcraft Bonanza) ................................................................................ 141 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva viii Figura 5.16 - Horn e trim tabs (Beechcraft Super 18) .................................................................... 143 Figura 5.17 - Acionamento do trim tab em vôo ................................................................................. 143 Figura 5.18 - Roda de ajuste .............................................................................................................. 144 Figura 6.1 – Exemplos de estabilidade estática .................................................................................. 145 Figura 6.2 – Exemplos de estabilidade dinâmica ................................................................................ 146 Figura 6.3 – Forças atuantes em um avião ......................................................................................... 147 Figura 6.4 – Compensação de momento pelo estabilizador ............................................................... 148 Figura 6.5 – Forças atuantes na estabilidade longitudinal .................................................................. 150 Figura 6.6 – Influência da velocidade na carga do estabilizador ......................................................... 151 Figura 6.7 – Influência da tração na carga do estabilizador ................................................................ 152 Figura 6.8 – Asa com diedro positivo ................................................................................................. 153 Figura 6.9 – Vento relativo na glissagem ............................................................................................ 154 Figura 6.10 – Momento estabilizador do diedro positivo ................................................................... 154 Figura 6.11 – Momento desestabilizador do diedro negativo ............................................................ 155 Figura 6.12 – Efeito do enflechamento da asa na estabilidade lateral ................................................ 156 Figura 6.13 – Efeito da fuselagem e do estabilizador horizontal na estabilidade lateral ..................... 157 Figura 6.14 – Efeito da posição da asa na estabilidade lateral ............................................................ 158 Figura 6.15 – ângulo de derrapagem .................................................................................................. 159 Figura 6.16 – Efeito do enflechamento na estabilidade direcional ..................................................... 160 Figura 6.17 – Efeito da fuselagem na estabilidade direcional ............................................................. 161 Figura 6.18 – Dutch Roll ..................................................................................................................... 162 Figura 6.19 – Divergência espiral ....................................................................................................... 163 Figura 6.20 – Centro de gravidade adiantado ..................................................................................... 166 Figura 6.21 – Centro de gravidade recuado ........................................................................................ 167 Figura 6.22 – Esforços na aeronave devido ao carregamento de combustível .................................... 168 Figura 6.23 – Avião Phenom 100 ........................................................................................................ 172 Figura 6.24 – Pesagem de Helicóptero ............................................................................................... 172 Figura 6.25 – Balança no pneu ........................................................................................................... 173 Figura 6.26 – Avião EMB 711 Corisco ................................................................................................. 174 Figura 6.27 – Envelope do CG ............................................................................................................. 176 Figura 7.1 – Parâmetros geométricos da pá ....................................................................................... 180 Figura 7.2 – Estações da pá ................................................................................................................ 180 Figura 7.3 – Torção da pá ................................................................................................................... 181 Figura 7.4 – Pá trapezoidal ................................................................................................................. 182 Figura 7.5 – Vôo pairado .................................................................................................................... 183 Figura 7.6 – Tendência de translação ................................................................................................. 184 Figura 7.7 – Efeito pendular ............................................................................................................... 185 Teoria de Vôo Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva ix Figura 7.8 – Vôo vertical - subida ....................................................................................................... 186 Figura 7.9 – Vôo à frente .................................................................................................................... 187 Figura 7.10 – Sustentação translacional ............................................................................................. 188 Figura 7.11 – Fluxo induzido .............................................................................................................. 190 Figura 7.12 – Vôo lateral .................................................................................................................... 190 Figura 7.13 – Vôo a ré ........................................................................................................................ 191 Figura 7.14 – Efeito cone .................................................................................................................... 192 Figura 7.15 – Efeito solo ..................................................................................................................... 193 Figura 7.16 – Dissimetria de sustentação ........................................................................................... 194 Figura 7.17 – Rotor rígido (MBB Bo-105) ............................................................................................ 195 Figura 7.18 – Rotor semi-rígido (Bell UH-1) ........................................................................................ 196 Figura 7.19 – Rotor articulado ............................................................................................................ 196 Figura 7.20 – Batimento em um rotor semi-rígido ............................................................................. 197 Figura 7.21 – Batimento em um rotor articulado ...............................................................................198 Figura 7.22 – Avanço-recuo da pá ...................................................................................................... 199 Figura 7.23 – Disco em auto-rotação .................................................................................................. 200 Figura 7.24 – Comportamento aerodinâmico na envergadura da pá .................................................. 201 Figura 7.25 - Comandos de vôo do helicóptero ................................................................................. 204 Figura 7.26 - Swashplate ................................................................................................................... 205 Figura 7.27 - Defasagem no acionamento do comando cíclico .......................................................... 206 Figura 7.28 - Comandos no cockpit.................................................................................................... 207 Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 1 Capítulo 01 - História do Vôo Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 2 1. Breve História do Vôo 1.1. A lenda de Dédalo e Ícaro A mais famosa lenda sobre a história do vôo vem da Grécia antiga. Dédalo era um construtor muito habilidoso que foi acolhido por Minos o rei da ilha grega de Creta, após assassinar Talo em Atenas. Dédalo foi incumbido pelo rei a construir um labirinto onde se trancaria o Minotauro, uma criatura metade homem e metade touro, fruto da traição da rainha Pasifae com um touro. Ao Minotauro eram levados quatorze jovens atenienses, metade homens e metade mulheres para sacrifício. Teseu, filho do rei de Atenas ofereceu-se como vítima com o intuito de assassinar o monstro e o conseguiu com a ajuda de Dédalo e Ariadne, a filha de Minos apaixonada por Teseu. Furioso com a traição, Minos mandou trancar Dédalo e seu filho Ícaro no labirinto. Com a necessidade de fugir da ilha, Dédalo criou dois pares de asas utilizando-se de cera e penas de aves e deu uma a seu filho. Ao saltar sobre o mar, Dédalo alertou Ícaro a não voar tão baixo que a umidade do oceano deixasse as asas mais pesadas e nem tão alto que o calor do sol pudesse derreter a cera. Ícaro deslumbrado com o poder do vôo, alçou vôo cada vez mais alto se aproximando do sol e teve a cera de suas asas derretidas. Ícaro caiu no mar Egeu e Dédalo chegou à ilha da Sicília. A Figura 1.1 mostra a queda de Ícaro no mar Egeu. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 3 Figura 1.1 – A queda de Ícaro. 1.2. Leonardo da Vinci Da Vinci (1442-1519), sem dúvida, foi o mais criativo dos estudiosos do século XV. Dez anos após iniciar seus estudos sobre as asas dos pássaros, Leonardo projetou seus primeiros ornitópteros: aparelhos de asas móveis movidos por energia humana. Um de seus desenhos mais curiosos apresenta a idéia de um helicóptero, porém ao invés das pás o aparelho possuía uma forma aparafusada. Era como se a máquina devesse “entrar no ar”. A Figura 1.2 mostra rabiscos dos dois aparelhos. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 4 (a) (b) Figura 1.2 – Ornitóptero (a) e Helicóptero (b) de Da Vinci 1.3. Balões No século XVII o jesuíta italiano Francisco de Lana concluiu que o ar possuía densidade e baseado no princípio do empuxo de Arquimedes desenhou sua idéia de balão. Conforme é demonstrado na Figura 1.3, o barco voador de Francesco consistia de uma cesta de vime presa por quatro esferas ocas e uma vela de pano. As esferas eram construídas de metal leve e teriam todo o ar interno removido. Figura 1.3 – Barco voador de Francesco de Lana Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 5 Outro inventor que utilizou o princípio de Arquimedes foi o padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão, o Padre Voador. Ao observar que a fumaça subia rapidamente, pelo fato do ar quente ser menos denso que o ar frio, Gusmão concluiu que aprisionando o ar quente em um invólucro poderia fazer o aparelho subir. A “Passarola” (1709) de Bartolomeu de Gusmão foi o primeiro balão a realmente voar. A Figura 1.4 mostra o conceito da Passarola de Gusmão Figura 1.4 – Passarola de Bartolomeu de Gusmão Tendo feito as mesmas observações de Gusmão os irmãos Joseph e Etienne Montgolfier, proprietários de uma fábrica de papel em Annonay, construíram em 1783 um grande balão de ar quente, o qual subiu aos céus carregando uma pessoa alojada em um cesto de vime. A Figura 1.5 mostra o balão dos irmãos Montgolfier Figura 1.5 – Balão de Montgolfier Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 6 O físico francês Jacques Charles, também em 1783, foi o primeiro a utilizar um balão de seda revestida de borracha e cheio de hidrogênio. A Figura 1.6 mostra o balão de Charles sobrevoando Paris. O balão a hidrogênio atingiu 3000 ft. Figura 1.6 – Balão de hidrogênio de Charles 1.4. Aerodinâmica, Controle e Propulsão Em plena Revolução Industrial, Sir George Cayley (1773-1857), dedicou a maior parte de sua vida ao estudo dos princípios do vôo, adotando um enfoque científico. Em 1804, Cayley inventou um molinete para poder estudar o esforço gerado em um plano inclinado imerso num fluxo de ar. Neste mesmo ano escreveu e publicou o livro “Tratado dos Princípios Mecânicos de Navegação Aérea”. Descobriu que a resistência doa ar sobre um corpo aumenta na proporção do quadrado da velocidade e publicou, em 1810, suas experiências expondo que uma maquia provida com superfícies adequadas que fosse impelida por um motor com potencia suficiente para vencer a resistência do ar, e que ao mesmo tempo fosse leve para uso prático, poderia voar. Essa foi a primeira descrição de uma aeronave de asa fixa e motor a hélice. Cayley conseguiu realizar alguns vôos controlados com modelos de planadores providos de superfícies móveis na cauda dos aparelhos. Em 1853 projetou e construiu Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 7 um planador em tamanho natural capaz de sustentar o peso de um homem (Figura 1.7). Figura 1.7 – Mechanics Magazine com o planador de Cayley As idéias e as teorias de Cayley serviram de base de estudo para muitos dos futuros pioneiros da aviação. Durante as cinco décadas seguintes, Cayley trabalhou no seu protótipo tempo durante o qual ele deduziu muitas das leis básicas de aerodinâmica. Em 1853 um amigo de Cayley fez um vôo planado de curta duração em Brompton-by- Sawdon, Inglaterra. Cayley é considerado atualmente o fundador da ciência física de aerodinâmica. Willian Samuel Henson continuou o trabalho de Cayley ao perceber que o principal entrave ao vôo mecânico era a falta de um mecanismo leve e potente. Henson Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 8 assumiu a tarefa de criar um modelo nessas condições e patenteou, em 1842, o projeto de um avião motorizado e movido à hélice. Embora o modelo que construiu fosse bastante semelhante aos aviões modernos (Figura 1.8) o vôo não foi bem sucedido. Figura 1.8 – Avião de Henson Henson associou-se ao seu amigo John Stringfellow para continuar os estudos econstruir e experimentar novos modelos, porém não conseguiram resultados satisfatórios. Devido aos fracassos, Henson sentiu-se desanimado e Strigfellow continuou sozinho. Em 1848 construiu um pequeno modelo, propelido por um pequeno motor a vapor. Este modelo foi lançado com sucesso, mas ficou pouco tempo em vôo. A falta de um motor com potência suficiente ainda impossibilitava o desenvolvimento da aviação e muitos estudiosos passaram a se dedicar à pesquisa sobre como controlar o movimento de balões com o uso de superfícies de controle e de hélices movidas por motores. Tais balões passaram a ser denominados dirigíveis. O engenheiro francês Henri Guiffard, em 1852, foi o primeiro homem a combinar com êxito um motor a vapor relativamente leve e de potência suficiente em um balão em forma de charuto (Figura 1.9) ao invés de cilíndrico. Equipado com o motor inventado pelo próprio Guiffard o Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 9 dirigível voou por 27 km ao redor de Paris. O controle proporcionado pelo leme permitia o desvio do balão, porém a potência do motor era insuficiente para fazer o balão voltar ao ponto de partida. Figura 1.9 – Dirigível de Guiffard Embora o dirigível de Guiffard tivesse iniciado o controle direcional, o controle e a estabilidade ainda eram desconhecidos. Por volta de 1871, Alphonse Pénaud começou a desenvolver estudos sobre estabilidade e controle, chegando a criar modelos propelidos a elástico. Os irmãos Otto e Gustav Lilienthal dedicaram grande parte de sua vida ao estudo da aviação. Foram os estudiosos mais bem sucedidos do final do século XIX, concentrado suas pesquisas em asas fixas construíram vários modelos de planadores, alguns biplanos e outros monoplanos como mostra a Figura 1.10. Chegaram a realizar mais de 2000 vôos bem sucedidos com esses planadores, com distância percorrida de até 396 m. Ao chegar ao que achavam que fosse o limite no estudo de planadores, decidiram então se dedicar ao estudo de motores. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 10 Um modelo à gasolina foi desenvolvido na França por Lenoir poucos anos antes, porém era pesado e inseguro. Os motores a vapor ainda levavam consigo o peso das caldeiras e então decidiram procurar modos alternativos de energia. Adaptaram um novo motor às pontas giratórias das asas de seu aparelho tentando realizar um vôo do tipo ornitóptero. Otto decidiu testar a aeronave como planador antes do ensaio motorizado, perdeu o controle e feriu-se fatalmente ao cair de uma altura de 16m. Figura 1.10 – Planador de Lilienthal Ainda por volta desta época alguns estudiosos tentaram construir máquinas voadoras utilizando motores a vapor. Em 1893 o inglês Hiram Maxim construiu um imenso biplano com um incrível motor a vapor de 360 CV e 750 kg que não conseguiu levantar vôo e acabou destruído na primeira tentativa. Em 1896, o americano Samuel Langley, construiu em experimentou com sucesso um aeromodelo que voou uma distância de 800 m em um minuto e meio. O aeromodelo foi denominado de “aeródromo”. Tentou então construir um modelo em escala maior, que fosse capaz de levar uma pessoa de 85 kg, utilizando um motor de 50 hp. Duas tentativas frustradas aconteceram em sete de outubro e oito de dezembro de 1903, quando o aeródromo foi lançado com um piloto por uma catapulta adaptada a uma balsa sobre o rio Potomac. A Figura 1.11 ostra o aeródromo montado sobre a balsa. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 11 Figura 1.11 – Aeródromo de Langley Vários aeroplanos movidos por motores a vapor foram construídos por Clement Ader. Embora ainda existam algumas dúvidas sobre o fato, afirma-se que Ader conseguiu voar 70 m tripulando o Avion III (Figura 1.12), avião movido por dois motores a vapor de 20 cv acionando uma hélice de quatro lâminas que foi destruído ao toca o solo na aterrissagem. Figura 1.12 – Avion III de Clement Ader Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 12 Ainda no final do século XIX, o brasileiro Alberto Santos Dumont iniciou suas experiências em dirigíveis a hidrogênio, dotados de motores à gasolina de quatro tempos. Introduziu algumas inovações aperfeiçoando o controle longitudinal com pesos deslizantes, conseguindo assim dominar totalmente a dirigibilidade. Em 1901, Santos Dumont ganhou 100 mil francos ao vencer o desafio proposto pelo empresário Henri Deustch de La Muerthe ao partir do campo de Saint Cloud, sobrevoar o rio Sena e o Campo de Bagatelle, contornando a Torre Eiffel e retornando ao ponto de partida em polêmicos trinta minutos. A Figura 1.13 mostra o dirigível número 6 contornando a Torre Eiffel em 19 de janeiro de 1901. Figura 1.13 – Santos=Dumont número 6 Nessa mesma época os irmãos Wilbur e Orville Wright, donos de uma pequena fábrica de bicicletas, acompanhavam, dos Estados Unidos, as experiências dos irmãos Lilienthal. Quando a notícia da morte de Otto chegou aos Estados Unidos, os Wright decidiram dedicar mais tempo e dinheiro à sua paixão pela aeronáutica. Estudaram as experiências de outros pesquisadores que haviam tentado resolver os mistérios do vôo e esperaram quatro anos para iniciar qualquer trabalho prático. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 13 Sabiam que a dificuldade não estava em construir um planador que fosse capaz de fazer um vôo reto, mas sim em encontrar alguma maneira de controlá-lo em vôo. A técnica de controle dos planadores de Lilienthal era o desvio do centro de gravidade do aparelho pela movimentação do corpo do piloto. A primeira tentativa de resolver o problema do controle foi a colocação de uma superfície móvel à frente de um aparelho que fora inspirado nos planadores dos Lilienthal. Fizeram vários experimentos com esse planador em 1901, porém o controle não se mostrou completamente eficaz. Voltaram a estudar e realizaram experimentos com vários modelos de asas em um pequeno túnel aerodinâmico, talvez o primeiro a ser construído. Construíram e voaram um novo planador em 1902 obtendo total controlabilidade do aparelho. Como o passo seguinte seria a colocação de um sistema propulsor, desenvolveram um motor e hélices. Construíram um aparelho baseado em seus bem sucedidos planadores. O aparelho pesava 340 kg, o que o tornava muito pesado para decolar por meios próprios. Então decidiram usar um sistema de catapulta. Em 17 de dezembro de 1903 realizaram quatro vôos, tendo alcançado a distância de 193 m em 59 segundos sob o testemunho de cinco pessoas. A aeronave Flyer construída pelos irmãos Wright é mostrada na Figura 1.14 Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 14 Figura 1.14 – Flyer dos Irmãos Wright Os bem sucedidos experimentos com dirigíveis estimularam Santos Dumont a dedicar-se ao “mais pesado que o ar”. O primeiro aparelho construído em 1903 não obteve sucesso em levantar vôo. Em 1906 Dumont fez várias alterações em sua máquina, acrescentando um motor mais potente ao estranho biplano de cauda na proa. Em 13 de setembro de 1906, o avião 14-Bis levantou vôo no campo de Bagatelle e voou cerca de oito metros. Em 23 de outubro do mesmo ano o 14-Bis percorreu uma distância de 220 m em 12 s a uma altura de 6 m do solo. Esse vôo foi testemunhado por uma comissãotécnica do L’Aéro-Club de France, sendo considerado o primeiro vôo oficial de uma aeronave mais pesada que o ar que decolava por recursos próprios. A Figura 1.15 mostra o 14-Bis fazendo seu vôo oficial sobre o Campo de Bagatelle em 1906. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 15 Figura 1.15 – 14-Bis de Santos=Dumont Embora se tenha criado a polêmica sobre a realização do primeiro vôo, os primeiros vôos oficiais dos irmãos Wright só ocorreram em 1908. Até então suas tentativas só haviam sido presenciadas por testemunhas ocasionais e com pouca repercussão. O segundo argumento contra os Wright é que o Flyer não decolou por meios próprios. Apesar da polêmica criada, a partir de 28 de outubro de 1906 o avião deixava de ser um sonho impossível e passava a ser encarado como uma realidade factual. Desde então começaram a surgir interesses em toda a parte em torno das possibilidades civis e militares das novas máquinas. Começaram a se formar grandes empresas e institutos de pesquisa, inúmeros trabalhos começaram a ser feitos e a ciência aeronáutica passou a se desenvolver de maneira muito rápida. O advento das duas grandes guerras mundiais e o início do transporte internacional em larga escala proporcionou o desenvolvimento de aeronaves cada vez maiores e mais velozes. Teoria de Vôo – História Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 16 Referências Homero Souza (1991) Fundamentos de Aeronáutica, Embraer, 287p, São José dos Campos, 1991. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 16 Capítulo 02 - Introdução Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 17 2. Introdução às Aeronaves 2.1. Conceitos 2.1.1. Dimensões As principais dimensões da aeronave são: o comprimento, a altura e a envergadura. O comprimento é a distância entre a parte mais posterior e a parte mais anterior da aeronave. A altura é a distância entre o solo e a parte mais alta da aeronave. A envergadura é a distância entre as pontas de asa. Para os helicópteros a envergadura é a distância entre o centro do rotor e a ponta da pá. Figura 2.1 – Principais dimensões do avião (EMBRAER KC 390) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 18 2.1.2. Partes As principais partes das aeronaves são mostradas na Figura 2.2 e na Figura 2.3 Figura 2.2 – Partes principais do avião (EMBRAER CBA-123) Figura 2.3 – Partes principais do helicóptero (Bell UH-1H) asa fuselagem Trem de pouso Grupo motopropulsor Empenagens fuselagem rotor principal rotor de cauda Trem de pouso empenagens cauda Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 19 2.1.3. Movimentos A aeronave tem liberdade de girar em três eixos e realizar combinação de movimento entre eles. O eixo longitudinal é um eixo imaginário que se estende desde o nariz até a cauda do avião. O movimento que realiza o avião ao redor deste eixo é denominado rolamento ou giro. As superfícies de comando do rolamento são os ailerons. Ao girar o manche se produz a deflexão diferencial dos ailerons: ao tempo que o aileron de uma das asas sobe, o aileron da outra asa baixa, sendo o ângulo de deflexão proporcional ao grau de rotação das hastes do manche. O aileron que tenha sido flexionado para baixo, produz um aumento de sustentação em sua asa correspondente, provocando a ascensão da mesma, enquanto o aileron que é flexionado para cima, produz em sua asa uma diminuição de sustentação, motivando a descida da mesma. O piloto, em caso de querer inclinar-se até a esquerda, girará o manche até a esquerda, fazendo o aileron direito descer elevando assim a asa direita, e simultaneamente, o aileron esquerdo se flexionaria para cima produzindo uma perda da sustentação na asa esquerda e portanto sua descida. O eixo lateral ou transversal é um eixo imaginário que se estende de ponta a ponta das asas do avião. O movimento que realiza o avião ao redor deste eixo se denomina inclinação ou arfagem. O piloto, a partir da cabine de comando é capaz de modificar a orientação em relação a este eixo através do profundor. Ao puxar para trás o manche (até o piloto) se produz uma elevação do nariz do avião, e ao empurrá-lo a frente se produz um abaixamento do nariz do avião. O eixo vertical é um eixo imaginário que, passando pelo centro de gravidade do avião, é perpendicular aos eixos transversal e longitudinal. Este eixo é perpendicular ao Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 20 eixo de inclinação e ao de rolamento, está contido em um plano que passa pelo nariz e a cauda do aparelho e que normalmente divide este em duas partes simétricas). O movimento que realiza o avião ao redor deste eixo se denomina guinada. A superfície de comando da guinada é o leme de cauda ou leme de direção. O controle sobre o leme de direção é realizado mediante os pedais. Para conseguir um movimento de guinada para a direita, o piloto pressiona o pedal direito, gerando assim uma deflexão da superfície do leme de direção para a direita. Ao oferecer mais resistência ao avanço por este lado, o aparelho tende a retardar o movimento de sua parte direita e avançar a parte esquerda e por tratar-se de uma estrutura rígida o resultado é um giro à direita sobre o eixo vertical mencionado Figura 2.4 – Eixos de rotação do avião (Embraer AEW&C) O movimento em torno do eixo vertical nos helicópteros é realizado pelo rotor de cauda, enquanto que os outros são realizados pelo rotor principal. longitudinal transversal vertical Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 21 2.2. Configurações de Fuselagem A fuselagem é a parte fundamental da estrutura da aeronave. É onde estão alojados os tripulantes passageiros e carga, além de conter os sistemas da aeronave e eventualmente o trem de pouso e o grupo motopropulsor. Na fuselagem dos aviões estão fixadas as asas e as empenagens, portanto a fuselagem suporta todos os esforços de tração, compressão, flexão e torção geradas pelas cargas atuantes nessas superfícies. A fuselagem deve promover o maior espaço possível para transporte de carga paga. Portanto a fuselagem deve apresentar grandes espaços internos em relação ao seu tamanho e é projetada para atender este requisito de espaço e os requisitos de missão da aeronave. Fuselagens projetadas para grandes cargas são mostradas na Figura 2.5 e Figura 2.6 Figura 2.5 – Fuselagem (Airbus A300 – 608ST Beluga) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 22 Figura 2.6 – Fuselagem (Chinook HC3) Além da função de carga, a fuselagem deve suportar a instalação de grande parte dos sistemas da aeronave, instrumentos e em alguns casos os motores, trens de pouso, armamentos, etc. A estrutura da fuselagem deve ainda suportar aos esforços de tração gerados pela pressurização da aeronave. A fuselagem de estrutura tubular é montada como uma estrutura treliçadade tubos de liga, que são revestidos com chapas ou telas. A estrutura treliçada deve suportar todos os esforços produzidos durante o vôo sendo que o revestimento não contribui para a rigidez da aeronave. O revestimento é chamado de “revestimento não-trabalhante”. Este tipo de estrutura é mais barato e de construção mais fácil, porém possui baixa relação resistência/peso e é utilizada principalmente em pequenas aeronaves esportivas, utilitários e ultra-leves. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 23 Figura 2.7 – Estrutura tubular A estrutura monocoque é utilizada na maioria das aeronaves de pequeno porte e é classificada como sendo de revestimento trabalhante. Todas as tensões são resistidas pelas chapas de revestimento. A forma da fuselagem é dada pela presença das cavernas. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 24 Figura 2.8 – Avião com estrutura monocoque (Sukhoi Su-29) Este tipo de construção é mais complicada que a tubular, porém além de possuir uma boa relação resistência/peso é mais eficiente aerodinamicamente. A estrutura semi-monocoque é semelhante à monocoque porém a presença de longarinas aumenta sua resistência. Figura 2.9 – Avião com estrutura semi-monocoque (North American Mustang P-51) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 25 2.3. Configurações de Trem de Pouso 2.3.1. Introdução O trem de pouso tem a função de sustentar a aeronave em solo e possibilitar a locomoção desta na pista. (a) (b) Figura 2.10 – Trem de pouso: (a) Antonov 225 (b) Airbus A380 2.3.2. Classificação Os trens de pouso pra operação em solo podem ser classificados em três tipos: O trem de pouso convencional possui os trens principais localizados a frente do centro de gravidade do avião e uma pequena roda (bequilha) na parte traseira da fuselagem. Os trens de pouso principais são aqueles que suportam a maior parte do peso da aeronave e o maior esforço do impacto do avião no pouso. A bequilha tem a função de servir de apoio e promover o controle dimensional sobre o solo. A Figura 2.11 mostra uma aeronave com trem de pouso convencional. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 26 Figura 2.11 – Avião com trem de pouso convencional (De Havilland DHC-3T) O trem de pouso triciclo possui as pernas dos trens principais atrás do CG do avião e uma perna auxiliar localizado no nariz da aeronave. O trem auxiliar tem as mesmas funções da bequilha. A Figura 2.12 mostra uma aeronave com trem de pouso tipo triciclo. Figura 2.12 – Avião com trem de pouso triciclo (EMB 314 - ALX) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 27 O trem de pouso biciclo possui uma perna do trem principal atrás e outra a frente do CG. Esta configuração exige a presença de pequenas pernas nas asas para permitir a estabilidade lateral da aeronave em solo. Figura 2.13 – Avião com trem de pouso biciclo (McDonnell Douglas – Harrier AV8) Para pouso na água podem ser utilizados flutuadores ao invés de rodas como é demonstrado na Figura 2.14 Figura 2.14 – Avião com flutuadores (Cessna C182 Seaplane) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 28 Aeronaves anfíbias podem pousar e decolar tanto na água quanto em solo. A Figura 2.15 mostra um avião anfíbio. Figura 2.15 – Avião anfíbio (Beriev - Albatross A42 Mermaid) Para pouso e decolagem na neve os trens são adaptados com esquis, como é demonstrado na Figura 2.16. Figura 2.16 – Avião com esquis (Bellanca Citagria 7GCBC) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 29 Da mesma maneira que os aviões, os helicópteros possuem trem de pouso que pode ser do tipo triciclo ou esqui. Figura 2.17 – Helicóptero com trem de pouso triciclo (Agusta Westland AW139) Figura 2.18 – Helicóptero com trem de pouso de esqui (Helibras AS350 B2 Esquilo) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 30 Aviões de pequeno porte apresentam trens de pouso fixo, isto é, que permanecem baixados tanto em solo quanto em vôo. A estrutura mais simples é a de molas. 2.3.3. Tipos O trem de pouso do tipo fixo é utilizado em aviões de pequeno porte. Nesta configuração o trem permanece abaixado tanto em solo como em vôo. O amortecimento do impacto da aeronave no solo pode ser tanto por bolas de aço quanto por amortecedores de borracha. Embora o amortecimento deste impacto seja bastante eficiente, a aeronave apresenta tendência a saltar se o pouso não for realizado com suavidade. Figura 2.19 – Avião com trem de pouso fixo (Embraer Ipanema) Os trens do tipo móvel são recolhidos à estrutura da aeronave quando esta está em vôo. O recolhimento da estrutura do trem de pouso evita o arrasto provocado pelo fluxo de ar incidente. A desvantagem deste tipo de configuração é o aumento de peso provocado pela presença do mecanismo de recolhimento. O trem de pouso retrátil recolhe as pernas na estrutura do avião, porem permite que as rodas, ou parte delas estejam visíveis. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 31 Figura 2.20 – Avião com trem de pouso retrátil (Embraer Phenom 300) O trem de pouso escamoteável recolhe toda a estrutura, não deixando as pernas ou as rodas à vista. A estrutura fica totalmente isolada do vento relativo, portanto é a configuração que possui menor arrasto. Figura 2.21 – Avião com trem de pouso escamoteável (Embraer EMB 120- Brasília) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 32 2.4. Configurações de Asa 2.4.1. Introdução As asas são responsáveis pela sustentação da aeronave. A asa possui uma estrutura cuja seção transversal é um perfil aerodinâmico capaz de gerar a força de sustentação necessária para vencer o peso da aeronave. Da mesma forma que a fuselagem, a asa pode ter um revestimento trabalhante ou um revestimento de tecido envernizado recobrindo uma estrutura interna de madeira ou alumínio. Na sua estrutura a asa é constituída pelas nervuras, que são os perfis responsáveis pela forma aerodinâmica da seção da asa, e pelas longarinas, que são responsáveis por manter as nervuras nas suas respectivas posições ao longo da envergadura e são responsáveis pela resistência à flexão da asa. Enquanto nos aviões a asa é considerada fixa, nos helicópteros as pás são consideradas asas rotativas. Além da função original de produzir sustentação, nos aviões as asas geralmente alojam em seu interior os tanques de combustível, instalações elétricas, motores e trem de pouso. As cargas externas das asas são os armamentos e os tanques externos. 2.4.2. Classificação quanto à posição e número de asas fixas As asas fixas podem ser classificadas conforme a sua posição em relação à fuselagem da aeronave como asa baixa, asa média e asa alta. Conforme o engastamento que apresentam na fuselagem são classificadas como cantilevere semi- cantilever. A asa totalmente engastada na fuselagem é a asa tipo cantilever, sem a necessidade de estruturas externas. Este tipo de engastamento apresenta menor arrasto, porém necessita de uma estrutura mais rígida, pois precisa absorver integralmente as forças de flexão da asa. Se a asa está apoiada na fuselagem com o auxílio de estruturas externas (montantes), a configuração é chamada de semi-cantilever. A vantagem deste tipo de Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 33 configuração é que os esforços de flexão não são transmitidos à fuselagem proporcionando uma estrutura mais leve. Porém a presença dos montantes gera mais arrasto na aeronave. Na configuração de asa baixa, a asa passa por baixo da fuselagem. É a configuração mais usual e tem a vantagem de resultar em uma estrutura mais leve. Figura 2.22 – Avião asa baixa cantilever (Embraer Phenom 300) Na configuração de asa média, a estrutura da asa atravessa a fuselagem do avião. Não é uma aplicação aplicável aos modelos para transporte de passageiros porque as longarinas atravessam o interior da cabine inviabilizando a movimentação de pessoas. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 34 Figura 2.23 – Avião asa média cantilever (Lockheed P-2H Neptune) A configuração de asa alta é mais utilizada por aeronaves de transporte de carga. A asa passando por cima da fuselagem facilita o transporte de carga para o seu interior. Esse tipo de configuração apresenta maior peso da estrutura da fuselagem. Figura 2.24 – Avião asa alta cantilever (Antonov 225 - Mryia) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 35 Figura 2.25 – Avião asa alta semi-cantilever (Cessna 182 Skylane) Na configuração pára-sol a asa fica posicionada acima da fuselagem. Um montante une a asa à fuselagem. Essa configuração é bastante utilizada por hidroaviões por conseguir manter uma grande altura dos motores em relação ao nível de água. Figura 2.26 – Avião asa pára-sol (Consolidated PBY Catalina) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 36 Se a hélice da aeronave fica muito próxima ao solo, a utilização da configuração asa de gaivota é uma solução. Os motores são afastados do solo por uma mudança de diedro na região próxima à raiz da asa. Figura 2.27 – Avião asa gaivota (North American B-25 Mitchell Barbie III) A solução asa de gaivota invertida foi criada para o projeto do Vought F4U Corsair para permitir que as pernas do trem de pouso fossem reduzidas. O Corsair possuía a maior hélice que já equipou um avião monomotor. Figura 2.28 – Avião asa gaivota invertida (Vought F4U Corsair) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 37 A configuração biplana foi largamente utilizada até a década de 30. A estrutura mais rígida leve, formada pelas asas pelos montantes e cabos (estais) é também conhecida por estrutura hubanada. A desvantagem desta configuração é a interferência aerodinâmica entre as asas. A utilização de duas asas permite a construção de aeronaves com envergadura menor, onde a sustentação é dividida entre as duas asas e a taxa de rotação em torno do eixo longitudinal é melhorada. Por essas razões, aeronaves acrobáticas como o Christen Eagle e o Pitts utilizam essa configuração. Quando a asa superior é posicionada mais a frente que a asa inferior diz-se que o stagger é positivo. Se a asa superior está mais recuada o stagger é negativo. Se o ângulo de incidência da asa superior é maior que o da asa inferior então se diz que a aeronave possui decalagem positiva. Se o ângulo de incidência da asa superior é menor que o da asa inferior então se diz que a decalagem é negativa. Figura 2.29 – Avião asa biplana (Christen Eagle) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 38 Aeronaves com três asas (triplanos) também foram utilizadas no início do século XX. Os modelos mais famosos a utilizar essa configuração foram o Fokker DR.I, avião operado pelo Barão Vermelho (Manfred Von Richthofen), e o Sopwith Camel, avião que o abateu. (a) (b) Figura 2.30 – Avião asa triplana Fokker Dr.I (a) Sopwith Camel (b) 2.4.3. Classificação quanto ao formato de asas fixas Para minimizar o arrasto induzido, a distribuição de sustentação na asa deve ser ajustada de maneira que seja elíptica. A solução de asa elíptica foi utilizada com grande sucesso no projeto do caça Spitfire, durante a 2ª Guerra Mundial. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 39 Figura 2.31 – Avião asa elíptica (Supermarine Spitfire) A construção de asas elípticas possui alta complexidade e custo elevado. A construção de asa retangular é mais simples e mais barata. Por esse motivo é a mais utilizada em aviação geral. Figura 2.32 – Avião asa retangular (Fairchild AU23A Peacemaker) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 40 Apesar das vantagens na construção da asa retangular, a distribuição de sustentação se afasta bastante da elíptica. Uma solução intermediária é conseguida pela construção de uma asa no formato trapezoidal. Figura 2.33 – Avião asa trapezoidal (Embraer EMB 312 – Tucano) A utilização de enflechamento nas asas é reduzir os efeitos de compressibilidade em altas velocidades subsônica. Figura 2.34 – Avião com enflechamento positivo (Mikoyan-Gurevich MiG-15) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 41 Figura 2.35 – Avião com enflechamento negativo (Grumman X-29) Figura 2.36 – Avião com enflechamento variável (Grumman F-14 Tomcat) Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 42 Figura 2.37 – Avião com asa em delta (Avro Vulcan) O ângulo de diedro é implementado para ajustar a estabilidade latero-direcional da aeronave. Figura 2.38 – Avião com asa em diedro positivo (North American P51 Mustang) Os efeitos da utilização de enflechamento e diedro serão estudados na seção detalhada sobre asas. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica - 2013 Prof. Ramón Silva 43 Figura 2.39 – Avião com asa em diedro negativo (McDonnell Douglas – Harrier AV8) 2.4.4. Configurações de rotores de aeronaves de asas Rotativas Os helicópteros são classificados pelas suas configurações em cinco tipos. O rotor simples ou convencional tem a vantagem de ser relativamente simples. Seus componentes principais são: rotor principal, sistema de controles, sistema de acionamento, comandos e rotor de cauda. O acionamento do rotor de cauda consome em torno de 8% a 10% da potência do motor em vôo pairado e de 3% a 4% no vôo a frente. A simplicidade da configuração e a economia em peso são as maiores vantagens. A desvantagem é o perigo de acidente com o rotor de cauda. Teoria de Vôo – Introdução às Aeronaves Especialização em Engenharia Aeronáutica
Compartilhar