Buscar

Psicologia Jurídica: Objetivos e Métodos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1
PSICOLOGIA JURÍDICA
PSICOLOGIA JURÍDICA
Graduação
PSICOLOGIA JURÍDICA
49
U
N
ID
A
D
E 
4
PSICOLOGIA JURÍDICA
Nesta unidade, iremos estudar a psicologia jurídica segundo seus objetivos
e métodos. Além disso, iremos contextualizá-la no campo da doença mental
e Direito Penal. Perceberemos ao longo da unidade como a realidade brasileira
ainda não se apresenta definida quando a real condição do alienado mental
ao praticar atos criminosos e seu aspecto de entendimento ao momento do
ato. Analisaremos ainda, o histórico da observância da doença mental e como
cada especialista na área que atua faz-se demonstrar a sua compreensão
sob o assunto através dos laudos e perícias psicológicas em Direito Civil e
Penal.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Definir o campo de atuação da psicologia jurídica; esclarecer que a perícia
não se reduz a mero meio de prova, pois tem como função instruir e subsidiar
tecnicamente as teses das partes e sentenças dos juízes.
PLANO DA DISCIPLINA:
• Objetivo.
• Métodos (Investigação em Psicologia Jurídica).
• Doença mental e Direito.
• Responsabilidade penal.
• A Dinâmica psicosocial das decisões judiciais.
• Laudo e perícia psicológica em Direito Penal e Civil.
• Tipos de avaliações periciais.
• Doença mental, perturbação da saúde mental e Direito.
Bons estudos!
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
50
PSICOLOGIA JURÍDICA: OBJETIVO
Das idéias trazidas até aqui, vale relembrar que a Psicologia Jurídica, numa
compreensão transdisciplinar do homem e de sua conflitualidade, pode ajudar
o direito a cumprir sua imensa responsabilidade com a justiça. E ainda tem
como objetivos:
a) ser capaz de apontar ao mundo jurídico conhecimentos com
intuito de auxiliar o legislativo na elaboração de leis mais
adequadas à sociedade;
b) contribuir na tarefa de assessoramento judicial, colaborando na
organização do sistema de administração da justiça e;
c) tratar dos fundamentos psicológicos da justiça e do direito.
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA JURÍDICA
Muñoz Sabaté (1980) estabelece três grandes caminhos para o método
psicojurídico, são eles:
A psicologia do direito, cujo objetivo seria explicar a essência do fenômeno
jurídico, isto é, a fundamentação psicológica do direito uma vez que todo o
direito está repleto de conteúdos psicológicos. Essa tarefa de investigação
psicológica do direito recebeu a denominação de psicologismo jurídico,
representada basicamente pela escola do realismo americano e escandinavo
e apresenta-se como uma formulação eminentemente teórica até o momento
não sufucientemente investigada.
A psicologia no direito, que estudaria a estrutura das normas jurídicas
enquanto estímulos vetores das condutas humanas. As normas jurídicas
destinam-se a produzir ou evitar determinadas condutas e, nesse sentido,
carregam inúmeros conceitos de natureza psicológica. Nesse aspecto, a
psicologia no direito é uma disciplina aplicada e prática.
A psicologia para o direito, esta sim a psicologia jurídica como ciência
auxiliar do direito, tal como a medicina legal, a engenharia legal, a economia,
a contabilidade, a antropologia, a sociologia e a filosofia, entre outras. É a
psicologia convocada a iluminar os fins do direito.
DOENÇA MENTAL E DIREITO
O Direito Penal, enquanto ciência, faz-se necessário acompanhar a
evolução dos tempos, as mudanças da vida social a fim de que essa capacidade
de tutelar os interesses não se perca diante do passar dos anos. Um dos
maiores frutos da escola positiva foi a criação da Criminologia, que procurou
definir um conceito naturalístico do crime, conceituando-o como
“comportamento desviante”, procurando ver em seu autor uma realidade
sociobiopsicológica, nascendo o entendimento de ser a pena medida de
prevenção a novas ações criminosas, devendo ser ajustada às características
do criminoso, a fim de integrá-lo ao convívio social.
PSICOLOGIA JURÍDICA
51
A consciência e a vontade foram então consideradas as funções psíquicas
básicas que determinam a conduta da pessoa e seus atos. Isto por que,
devido a elas o comportamento é dirigido de certo modo, podendo haver a
repressão dos impulsos ou, ao contrário, sua ativação ou a sua conversão
em ações voluntárias, conforme vimos na teoria da psicanálise durante nosso
estudo da unidade II. Assim, a responsabilidade supõe no agente, duas
condições: a liberdade e a consciência da obrigação. Isto porque a loucura
quando leva ao crime, uma das causas mais comuns é a perda da lucidez
entre nós e as perspectivas que podemos ter no enfrentamento.
Você deve estar se questionando: como proceder quando os indivíduos
em questão possuem desvios de ordem psíquica que os transformam, por vezes,
em verdadeiras máquinas de matar, de violentar ou de produzir barbaridades
inimagináveis? A reclusão pura e simples num presídio qualquer seria capaz de
curar o doente mental do mal que o domina, dando à comunidade a segurança
de que aquele internado ao ser posto em liberdade não irá praticar outras
atrocidades? (Participe do fórum de discussão)
O Direito Penal, diante desses questionamentos, busca auxílio em outras
ciências na tentativa de melhor compreender as ações criminosas e o perfil
dos delinqüentes. É certo que em casos onde a ofensa é produzida por um
comportamento desviante, a complexidade que já existia na tarefa de se
estipular a pena ser aplicada ao autor do crime, torna-se ainda maior diante
da confusa personalidade de um alienado mental. A Psicopatologia Judiciária,
portanto, busca abordar os aspectos psicológicos das perturbações mentais
do ponto de vista da aplicação da justiça.
RESPONSABILIDADE PENAL
A imputabilidade, segundo Marcello Jardim Linhares (1978), é um atributo
da pessoa, um modo de agir relativamente a um fato que a lei define como
crime. A responsabilidade penal só existe quando o agente for imputável,
ou seja, quando reúne a capacidade de entendimento e a capacidade de
querer a realização do ato ilícito.
Por capacidade de entendimento se considera a faculdade intelectiva, a
possibilidade de conhecer, de compreender, de discernir os motivos da própria
conduta. Significa a possibilidade de o agente saber quando transgride uma
norma, quando descumpre um dever e que, por isso, estando agindo
antijuridicamente, pode receber uma sanção (LINHARES, 1978).
Como você perceberá, não variam muito os conceitos doutrinários do
direito e da psiquiatria sobre a responsabilidade criminal. Para o direito, a
doutrina majoritária entende ser responsável em direito penal aquele que
pode responder pela infração que cometeu; o delinqüente não pode ser
declarado responsável se não reunir dois elementos: a imputabilidade e a
culpabilidade. Já para a psiquiatria:
O princípio da repressão penal pressupõe o domínio de certa liberdade
em todo o comportamento individual. Com suas obrigações e
proibições, a lei pretende limitar a escolha pelo sujeito entre as relações
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
52
possíveis a uma dada situação. Ainda não julga os atos apenas pelos
seus efeitos, senão também pelas intenções que os dirigem; de tal
forma, um homicídio pode ser intencional e outras vezes não (Id. Ib.;
p. 23).
No caso de distúrbio mental, pode-se dizer que a responsabilidade penal
não existe, uma vez que a mesma exige condições mínimas de saúde e de
maturidade mental. Doença ou distúrbio mental é qualquer estado patológico
da mente clinicamente diagnosticável, seja de ordem psíquica, seja
conseqüente de uma moléstia física ou permanente.
A prática e o saber psiquiátricos constroem-se, dessa forma, em estreita
relação com o campo da justiça criminal, questionando os pressupostos da
doutrina clássica do direito penal, tais como: responsabilidade e livre-arbítrio(Castel, 1978; Harris, 1993; Foucault, 1991).
A DINÂMICA PSICOSOCIAL DAS DECISÕES JUDICIAIS
Uma série de projetos foi realizada para modificar o código até então
vigente e adequá-lo aos avanços da ciência penal: o código brasileiro deveria
acompanhar os avanços da criminologia (Schwarcz, 1995; Salla, 1999).
Vejamos então como se caracteriza, no Brasil, o procedimento adotado
com os doentes mentais delinqüentes.
A doença mental no código de 1940 é causa excludente de culpabilidade
e, por isso, os doentes mentais criminosos são absolvidos. Uma vez que são
absolvidos e carentes de culpabilidade não devem ser punidos, mas tratados.
Dessa forma, aplica-se a tais louco-criminosos a medida de segurança com
internação em manicômio judiciário, a qual se funda em sua periculosidade
presumida por lei (artigo 78, I). Um ponto a ser considerado com relação à
medida de segurança, no código de 1940, é seu caráter indeterminado, sendo
fixo apenas o tempo mínimo. Este, em que pese a sua determinação com
base na periculosidade, guarda estreita relação com o crime cometido. Nesse
sentido, a internação no Manicômio Judiciário tem seus termos definidos no
artigo 91:
Art. 91. O agente isento de pena, nos termos do artigo 22, é internado
em manicômio judiciário.
§ 1. A duração da internação é, no mínimo:
I — de seis anos, se a lei comina ao crime pena de reclusão não
inferior, no mínimo, a 12 anos;
II — de três anos, se a lei comina ao crime pena de reclusão não
inferior, no mínimo, a oito anos;
III — de dois anos, se a pena privativa de liberdade, cominada ao
crime, é, no mínimo, de um ano;
IV — de um ano nos outros casos.
PSICOLOGIA JURÍDICA
53
§ 2. Na hipótese do nº IV, o juiz pode submeter o indivíduo apenas a
liberdade vigiada.
§ 4. Cessa a internação por despacho do juiz, após perícia médica,
ouvidos o Ministério Público e o diretor do estabelecimento.
§ 5. Durante um ano depois de cessada a internação, o indivíduo fica
submetido à liberdade vigiada, devendo ser de novo internado se seu
procedimento revela que persiste a periculosidade. Em caso contrário,
encontra-se extinta a medida de segurança.
Alguns pontos mostram-se interessantes, no que se refere aos termos
definidos anteriormente. Como dizem Hungria e Fragoso (1978, p. 189-190),
“o tempo mínimo fixado visa “proteger” o juiz de “influências espúrias” de
“laudos superficiais ou conclusões prematuras””. Hungria e Fragoso põem
em evidência a permanência do conflito entre juristas e psiquiatras, os quais
“estão sempre inclinados a conjecturas otimistas sobre a cessação de
periculosidade dos pacientes”.
Laudo e perícia psicológica em Direito Civil e Penal
A perícia psiquiátrica é um documento de caráter clínico-psiquiátrico,
solicitado pela justiça com objetivo de atestar a condição mental de uma
pessoa e assessorar tecnicamente a justiça em duas situações básicas: na
avaliação da interdição civil por razões mentais e na avaliação de
inimputabilidade. No primeiro caso, avaliando a capacidade civil, a perícia
psiquiátrica se dará no Direito Civil e na questão da imputabilidade, no Direito
Criminal.
Estão previstos em lei alguns impedimentos formais para a nomeação
ou aceitação do perito; seriam no caso dele atuar nos processos onde:
a) for parte;
b) houver prestado depoimento como testemunha;
c) for cônjuge, parente em linha reta em qualquer grau ou parente
em linha colateral até segundo grau (irmão ou cunhado) do
advogado da parte;
d) for cônjuge, parente em linha reta em qualquer grau ou parente
em linha colateral até terceiro grau (tio e sobrinho) da parte;
e) for membro da administração de pessoa jurídica que é parte no
feito.
Além desses impedimentos formais, a legislação prevê que perícia será
considerada suspeita quando o perito for:
a) amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
b) credor ou devedor de qualquer das partes, ou isso ocorrer com
seu cônjuge, bem como aos parentes em linha reta em qualquer
grau ou em linha colateral até terceiro grau (tio e sobrinho);
c) herdeiro, donatário ou empregador de qualquer das partes;
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
54
d) presenteado de qualquer das partes ou as houver aconselhado
em relação à causa ou ainda as auxiliado financeiramente com
as despesas do processo;
e) interessado no julgamento do feito em favor de uma das partes.
A avaliação do estado mental da pessoa a ser periciada deve ser relatada
de forma precisa e inteligível. O objetivo dessa avaliação é informar à justiça
o que a medicina constata sobre a função mental da pessoa em apreço.
Apesar do desejável cuidado científico e técnico, não se trata de uma tese
ou dissertação de mestrado, mas de uma informação precisa com propósitos
de ser, sobretudo, inteligível.
Em resumo, os objetivos básicos da Perícia Psiquiátrica não podem se
distanciar do seguinte:
1 - Estabelecer o Diagnóstico Médico.
2 - Estabelecer o Estado Mental no momento da ação.
3 - Estabelecer o Prognóstico Social, isto é, indicar, do ponto de
vista psiquiátrico, a irreversibilidade ou não do quadro, a
incapacidade definitiva ou temporária, a eventual periculosidade
do paciente.
Tipos de avaliações periciais
Os Exames Periciais Psiquiátricos podem ser divididos em 3 tipos básicos:
no direito civil, no direito criminal (ou penal) e no direito do trabalho. Tendo
como norte os objetivos desta unidade, abordaremos a seguir o primeiro e
o segundo tipos.
A PERÍCIA EM DIREITO CIVIL
Um dos principais objetivos da Psicologia Jurídica na área do Direito Civil
é a avaliação da Capacidade Civil. Quando o perito é designado em processos
de interdição, de incapacidade, de prodigalidade, capacidade de doação,
anulação de casamento, etc., estamos falando em perícia psiquiátrica em
Direito Civil.
De um modo geral, no Direito Civil a perícia psiquiátrica terá utilidade nos
casos de:
1 - Ações de Interdição. No direito civil a perícia psiquiátrica tem como um
dos principais objetivos avaliar a capacidade da pessoa se autodeterminar
(reger seus próprios atos) e administrar seus bens. Essas perícias se baseiam
na avaliação da Capacidade Civil e são requeridas pelo juiz nas ações de
interdição de direito civil, como ocorre, principalmente, em deficientes mentais
e pessoas demenciadas.
2 - Ações de anulações de atos jurídicos em pessoas que tenham,
porventura, tomado alguma atitude civil (compra, venda, casamento, divórcio,
entre outros) enquanto não gozava da plenitude de seu juízo crítico. Nesses
casos, avaliam-se as condições de consciência da pessoa. Seria uma espécie
de avaliação da Capacidade Civil temporária.
PSICOLOGIA JURÍDICA
55
3 - Avaliação da capacidade de testar. Como no caso anterior, a perícia
psiquiátrica aqui é solicitada nas ações de anulações de testamentos. Isso
ocorre em casos onde, supostamente, a pessoa tenha tomado alguma
atitude testamentária sem que gozasse plenamente de reger plenamente
seus atos.
4 - Anulações de casamentos e separações judiciais litigiosas. Mais ou
menos com os mesmos objetivos dos casos anteriores.
5 - Ações de modificação de guarda de filhos, normalmente quando o
cônjuge tutor demonstra insuficiência psíquica para manter a guarda do(s)
filho(s).
6 - Avaliação de transtornos mentais em ações de indenização e ações
securitárias. Esses exames estão, normalmente, relacionados à medicina
ocupacional, nas ações de anulações de atos jurídicos em pessoas que
tenham, porventura, tomado alguma atitude civil (compra, venda, casamento,
divórcio, etc.) enquanto não gozava da plenitude de seu juízo crítico.
 
A CAPACIDADE CIVIL
Segundo do Código Civil Brasileiro (art.12), “toda pessoa é capaz de direitos
e deveres na ordem civil” e, para tal, entende-sea capacidade de direito
como sendo a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações.
Juridicamente a capacidade é entendida como o requisito necessário para o
sujeito agir por si, avaliando corretamente a realidade e distinguindo o lícito
do ilícito, o desejável do prejudicial, o adequado do inadequado e assim por
diante.
Ao contrário, a incapacidade civil é a restrição legal ou judicial ao exercício
da vida civil, incapacidade de avaliar plenamente a realidade e de distinguindo
o lícito do ilícito. E como tantas outras situações na psiquiatria ou nas
avaliações humanas, também a questão da capacidade-incapacidade não
se resume em uma posição exclusivamente binária (capaz ou incapaz). A
incapacidade poderá ser absoluta ou relativa (arts. 32 e 42 do Código Civil),
de tal forma que as pessoas consideradas absolutamente incapazes, não
poderão exercer direta ou pessoalmente seus direitos, devendo ser
representados pelos pais, tutores ou curadores.
A PERÍCIA EM DIREITO CRIMINAL
Para as perícias criminais, segundo o Código de Processo Penal (CPP), o
encargo pericial também é obrigatório e exige-se o trabalho de dois peritos
oficiais concomitantemente.
Em síntese, a perícia psiquiátrica em Direito Criminal (ou Penal) objetiva,
principalmente, o seguinte:
1 - Verificação da capacidade de imputação nos incidentes de insanidade
mental. Nesse caso está em jogo a imputabilidade normalmente atrelada à
capacidade da pessoa discernir o que faz, ter noção do caráter ilícito e de se
autodeterminar.
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
56
2 - Verificação da capacidade de imputação nos incidentes de
farmacodependência. Trata-se da difícil avaliação da imputabilidade ou semi-
imputabilidade que se aplicam aos dependentes químicos e alcoólatras.
3 - Exames de cessação de periculosidade nos sentenciados à medida
de segurança. Quando as pessoas internadas em casas de custódia
(manicômio judiciário) ou em tratamento ambulatorial compulsório são
avaliadas para, mediante laudo, terem cessado a periculosidade que
determinou a medida de segurança.
4 - Avaliação de transtornos mentais em casos de lesão corporal e crimes
sexuais. 
5 DOENÇA MENTAL, PERTURBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL E DIREITO
Segundo Hungria e Fragoso (1978, p. 59), a personalidade do sujeito
representa probabilidades de conduta, havendo sempre espaço para a
liberdade e autodeterminação, mediadas pela vontade. Quando se orienta
no sentido da criminalidade, encontramos a chamada periculosidade como
expressão da personalidade. Como o nosso código de 1940 presumia em lei
a periculosidade dos doentes mentais, a personalidade deles não precisava
ser avaliada no processo penal, o que objetivamente retira dos doentes
mentais o “espaço de liberdade” de suas condutas: tem, a princípio,
periculosidade máxima, quase como um cálculo preciso e invariavelmente
certo.
Ou seja, quando a periculosidade é presumida por lei, dispensa-se a
prática do fato previsto como crime para aplicação da medida de segurança,
sendo suficiente a ocorrência de um “quase-crime”. O crime impossível e a
tentativa inadequada, embora não sejam fatos criminosos, poderiam ser
considerados indícios de periculosidade.
Um outro ponto a ser considerado aqui, e que se refere ao juízo de
periculosidade, é a relação entre personalidade, tipo e motivação do crime:
o indivíduo é considerado mais perigoso, quanto mais o crime (tipo e motivo)
corresponda à sua personalidade.
E o que ocorre no caso do doente mental? A partir da discussão sobre a
monomania no século XIX, os psiquiatras foram chamados a atuar nos
tribunais, justamente nos casos de crimes ilógicos, irracionais, inesperados,
acidentais e sem motivo. Isso, para Foucault (1991), colocava os juízes diante
de um grande problema, o qual deve ser compreendido dentro das
modificações que vinha sofrendo o direito penal. Segundo Foucault, a questão
que se impõe aos tribunais na atualidade refere-se ao sujeito delinqüente,
e não mais ao crime como fato concreto. Essa questão começou a se impor
aos juízes no século XIX com a intervenção da psiquiatria nos tribunais em
torno dos crimes sem razão, “os crimes que não são precedidos,
acompanhados ou seguidos de nenhum dos sintomas tradicionalmente
reconhecidos e visíveis da loucura”. Além disso, eram crimes graves, ocorridos
na esfera doméstica e, o mais importante, eram crimes sem motivo. A
motivação para o ato delinqüente ganha, a partir de então, um lugar de
destaque na atividade de julgar. Em fins do século XVIII e início do século
PSICOLOGIA JURÍDICA
57
XIX, ocorreu um deslocamento no campo jurídico-penal, passando a ser o
criminoso o objeto da punição. Dessa forma, o crime se articula à
personalidade do sujeito delinqüente e desta articulação depende o sucesso
do sistema punitivo; nela se baseia sua lógica. O castigo, em sua forma
privativa de liberdade, que tem por fim último recuperar os delinqüentes,
volta-se contra seus motivos, vontade, tendências e instintos.
Eis que surge no direito penal brasileiro o novo objeto da punição, o
“homem que se vai julgar”. Nos casos de loucura, esse homem é, de antemão,
conhecido; não é necessário ao juiz vasculhar seu passado, desvendar suas
relações, decifrar suas condutas para aplicar-lhe a sanção penal. A doença
já o mostra em sua personalidade criminal, em sua máxima periculosidade
e, para reconhecê-la, a psiquiatria é chamada através da perícia ou exame
de sanidade mental.
As duas figuras jurídicas fundamentais que costumam requerer
assessoria de uma perícia psiquiátrica, a interdição civil por razões mentais
e a avaliação de inimputabilidade, são baseadas no fato de que determinados
transtornos mentais produzirem prejuízo da capacidade de discernimento,
de controlar impulsos e da capacidade de decidir com plena liberdade.
Os diagnósticos e estados mentais que aparecem mais freqüentemente
diante do perito em Psiquiatria Jurídica são:
Neuroses: notadamente a obsessiva-compulsiva e histérica.
Psicoses: esquizofrenias, parafrenias, orgânicas e senis.
Retardos mentais (oligofrênia).
Transtornos de personalidade ou psicopatias.
Dependentes químicos e suas complicações.
Epilepsias e suas complicações.
Transtornos dos impulsos (compulsões, piromania, jogo).
Parafilias ou desvios sexuais.
Em se constatando alguma doença ou alteração mental, a atitude pericial
mais importante é saber se esta alteração já existia por ocasião do ato que
determinou a perícia ou aconteceu depois, quer dizer, é importante saber se
a alteração ou doença é superveniente ou não ao fato que determinou a
perícia.
Entretanto, apesar da possibilidade do perito psiquiátrico estabelecer
um diagnóstico atual, esse fato nem sempre é suficiente para a justiça.
Freqüentemente o perito deverá também estabelecer, da melhor forma
possível, a condição psíquica da pessoa examinada por ocasião do ato
delituoso, ou seja, deverá proceder a uma avaliação retrospectiva (do
passado).
Este tipo de perícia criminal normalmente visa avaliar a responsabilidade
penal do examinado, ou seja, avaliar se essa pessoa apresentava algum
transtorno mental no momento do crime e se tal transtorno comprometeu a
A superveniência de doença
mental (SDM) é quando, depois
do ato delituoso, a pessoa pas-
sa a apresentar sinais e sinto-
mas de algum transtorno men-
tal. Quando a doença mental é
constatada antes do ato
delituoso ou durante a
tramitação do processo, este
será suspenso. A lei brasileira
privilegia a saúde da pessoa
acusada e a suspensão do pro-
cesso pleiteia sua recuperação.
Quando a doença mental é
constatada após condenação,
haverá a interrupção do cum-
primento da pena, a qual pode-
rá se transformar em medida de
segurança.UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
58
capacidade de entender o caráter e a natureza de seu ato, bem como se
comprometeu também a capacidade de se determinar de acordo com esse
entendimento. Na realidade o perito oferecerá à justiça subsídios para avaliar
se o réu é imputável, semi-imputável ou inimputável.
Outro objetivo de algumas perícias psiquiátricas é a avaliação
prognóstica ou, mais didaticamente, a avaliação das perspectivas sociais
do examinado. A partir das condições mentais atuais, à luz dos
acontecimentos passados e, também, baseado no curso e evolução
conhecidos pela psicopatologia, o perito psiquiátrico deverá estabelecer o
prognóstico do examinado. A questão da periculosidade passa por esse
tipo de avaliação.
As perícias de avaliação prognóstica têm realçado valor em algumas
situações especiais, como por exemplo;
a. quando se questiona a cessação da periculosidade em internos
reclusos por medida de segurança;
 b. por ocasião do livramento condicional, indultos de Natal (e
outros) em prisioneiros que cumprem pena e;
 c. quando se questiona a capacidade para o pátrio (nacional)
poder ou tutela de filhos em casos de maus tratos à crianças.
Normalmente, essas perícias não são exclusivamente psiquiátricas, mas,
sobretudo, avalizadas também por profissionais de outras áreas, como, por
exemplo, assistentes sociais, psicólogos, etc.
Desta forma, para uma pessoa portadora de Transtorno Mental que
comete algo ilícito, depois de constatada a condição mórbida de sua sanidade
psíquica por perícia psiquiátrica, não será possível atribuir-lhe a culpabilidade.
Assim sendo, diante de uma situação indicativa de possível Transtorno Mental,
compete exclusivamente à autoridade judicial a solicitação da perícia.
Nessas circunstâncias, reconhece-se que essa pessoa não possui a
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com este entendimento, conseqüentemente, não pode ser rotulado
como criminoso.
O Código Penal vigente é ainda o de 1940, ao qual foram feitas algumas
alterações através da Lei de Execuções Penais 7.209/84. É importante
ressaltar que está em tramitação uma nova reforma do código penal, em
sua parte geral. No entanto, ainda permanece a mesma diretriz no que se
refere à atuação frente ao doente mental delinqüente. Não vamos aqui
reproduzir o que se manteve, ou seja, a inimputabilidade e irresponsabilidade
do doente mental e a semi-responsabilidade dos que apresentam
“perturbação da saúde mental” se encontram nos mesmos termos, agora
no artigo 26. Algumas modificações, no entanto, foram feitas com relação às
medidas de segurança:
Art. 96. As medidas de segurança são:
I — Internação em hospital de custódia e tratamento ou, à falta,
em outro estabelecimento adequado.
PSICOLOGIA JURÍDICA
59
II — Sujeição a tratamento ambulatorial.
Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará a sua
internação. Se, todavia o fato previsto como crime for punível
com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento
ambulatorial.
§1. A internação, ou o tratamento ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada,
mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo
mínimo fixado deverá ser de um a três anos.
§2. A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado
e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se
o determinar o juiz da execução.
§3. A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente,
antes do decurso de um ano, pratica fato indicativo de sua
periculosidade.
§4. Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz
determinar a internação do agente, se essa providência for
necessária para fins curativos.
A medida de segurança se apresenta, agora, sob a forma de internamento
em hospital de custódia e tratamento ou similar e o tratamento ambulatorial.
Além disso, o prazo mínimo de duração deve ser determinado pelo juiz, no
limite mais estreito de um a três anos, mantendo-se, no entanto, o seu
caráter indeterminado e a liberdade condicional que a segue. Os limites
continuam elásticos, a lógica mantém-se: o doente mental delinqüente é
englobado por uma estratégia que se centra na periculosidade — futuro,
risco, probabilidade — a qual cabe uma sanção indeterminada.
IMPORTANTE: A PRODIGALIDADE
Prodigalidade é um termo referido pela justiça, mas sem nenhuma 
representação nas classificações atuais da psiquiatria (DSM.IV e CID.10),
embora um especialista em psiquiatria seja capaz identificar seu significado
jurídico em alguns quadros psicopatológicos.
Segundo Taborda (2004), no período pré-codificação, as Ordenações
Filipinas definiam o pródigo como ‘aquele que, desordenadamente, gasta,
destrói a sua fazenda, reduzindo-se à miséria por sua culpa’. Pródigo é o
que pratica a prodigalidade ou, no dizer do Conselheiro Lafayette, ‘quem
consome e estraga seu patrimônio com gastos improdutivos sem um fim
útil’.
O conceito de prodigalidade é jurídico e não-psiquiátrico, embora
transtornos mentais possam ser responsáveis pelo comportamento pródigo,
o qual será, então, um sintoma.
Pela descrição do que pretende a justiça com o termo “prodigalidade”, a
psicopatologia satisfaz esse conceito, principalmente, com a sintomatologia
dos estados eufóricos, próprios dos Episódios de Mania do Transtorno Bipolar
UNIDADE 4 - PSICOLOGIA JURÍDICA
60
do Humor, portanto, concordando com Taborda, a prodigalidade seria sim
um sintoma psíquico e não uma doença em si.
Ainda na esfera dos sintomas, algumas patologias relacionadas ao
controle dos impulsos ou relacionadas ao comportamento compulsivo
poderiam se enquadrar naquilo que a justiça pretende com a expressão
“prodigalidade”. Nesses casos, estariam as compulsões para o jogo, para
as dependências químicas, para as compras e similares.
Com o intuito de preservar a integridade e o patrimônio familiar,
geralmente dilapidado pelas pessoas que se encaixam na descrição de
“pródigos”, nossa legislação atual continua a aplicar o Decreto de 1934, ou
seja, manter o dispositivo necessário para interditar parcialmente as pessoas
portadoras desse sintoma.
A perícia psiquiátrica que se pretende nesses casos, é auxiliar o juiz
sobre a necessidade de curatela dos pródigos ou sobre alguma espécie de
restrição na administração de seus bens.
A partir da análise desta unidade, podemos perceber que o doente
mental, no Brasil, tem o seu estatuto jurídico marcado pela ambigüidade: a
sua doença é o móvel de seu ato, excluindo, por isso, a culpabilidade e a
responsabilidade. Na “estratégia da periculosidade”, a punição justifica-se
como tratamento, e a prevenção fundamenta-se em um ato passado. Para
concluir, mais um ponto merece ser comentado com relação ao dispositivo
jurídico da loucura-perigo no Brasil. Vimos que aos doentes mentais são
reservadas as medidas de segurança que se fundamentam na periculosidade,
ou seja, em probabilidade, suposição, hábito. “A justiça penal tem de
contentar-se, aqui, com indícios, com sinais, ou sintomas, ou cálculos
aproximativos para averiguar o conjunto de probabilidades, que é, afinal de
contas, a personalidade individual” (Hungria e Fragoso, 1978, p. 85). A
periculosidade é um risco e, por isso, uma incerteza que se expressará,
talvez, num futuro também incerto. Frágil mostra-se para nós o fundamento
da medida de segurança. No entanto, e aqui encontramos mais um ponto
característico da política penal da loucura, tantas incertezas não se mostram
problemáticas, uma vez que a medida de segurança não é uma pena. Para
que ela seja aplicada, é suficiente a “razoável suspeita” ou a “fundada
suposição” e, em se tratando de perigosos, não se aplica o clássico critério
de solução da justiça in dubio pro reo, mas sim o in dubio pro republica.É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Prosseguiremos nossos estudos na unidade V quando trataremos da
Psicologia jurídica aplicada no judiciário.

Outros materiais

Materiais relacionados

48 pág.
psicologia judiciária

Escola Colegio Estadual Barao Do Rio Branco

User badge image

Rodrigo Pinheiro

33 pág.
psicologia judiciária

Escola Colegio Estadual Barao Do Rio Branco

User badge image

Rodrigo Pinheiro

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes