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Curso Introdução ao Direito do Consumidor

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Introdução ao
Direito do Consumidor
 
Sumário 
MÓDULO I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS .............................................. 1 
Unidade 1 - Origem do Direito do Consumidor – breve histórico ............. 4 
A Revolução Industrial e o surgimento do consumidor .......................... 4 
Unidade 2 - Os principais agentes da relação de consumo ..................... 7 
Unidade 3 - Aplicação do Código de Defesa do Consumidor .................. 14 
MÓDULO II - A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 16 
Unidade 1 - A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço ......... 17 
Unidade 2 - A nova disciplina do vício ................................................ 24 
Unidade 3 - As responsabilidades subsidiária do comerciante e solidária do 
fornecedor ..................................................................................... 29 
Unidade 4 - Excludentes de Responsabilidade Civil .............................. 33 
MÓDULO III - PUBLICIDADE NO DIREITO DO CONSUMIDOR ................... 37 
Unidade 1 - A publicidade na sociedade brasileira atual ....................... 38 
Unidade 2 - A publicidade ilícita: Publicidade Enganosa e Publicidade 
Abusiva ......................................................................................... 42 
Unidade 3 - Força vinculante da publicidade para o fornecedor ............. 50 
MÓDULO IV - AS PRÁTICAS ABUSIVAS ................................................. 55 
Unidade 1 - As práticas abusivas e o CDC .......................................... 56 
Unidade 2 - Venda casada ................................................................ 59 
Unidade 3 - Recusa de contratar pelo fornecedor ................................ 64 
Unidade 4 - Execução de serviço sem orçamento prévio ...................... 67 
Unidade 5 – Cobrança de dívidas ...................................................... 70 
MÓDULO V – BANCO DE DADOS E CADASTRO DE CONSUMIDORES ......... 74 
Unidade 1 - Acesso do consumidor às informações a ele relativas ......... 75 
Unidade 2 - Limite temporal de consignação ....................................... 82 
MÓDULO VI - PROTEÇÃO CONTRATUAL ................................................ 85 
Unidade 1- O contrato de consumo e o contrato clássico ...................... 86 
Unidade 3 - Cláusulas abusivas ......................................................... 95 
MÓDULO VII - DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO .............................. 99 
Unidade 1 - O acesso à Justiça ....................................................... 100 
Unidade 2 - Mecanismos processuais, coletivos e individuais .............. 104 
 
1 
 
MÓDULO I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 
 
 
- Identificar os principais fatos que 
contribuíram para o surgimento do direito 
do consumidor; 
- diferenciar relação jurídica e relação de 
consumo; 
- conceituar e identificar os principais 
atores e objetos da relação de consumo; 
- apontar casos em que se aplica o Código 
de Direito do Consumidor. 
 
 
Introdução ao curso 
 
O TELEFONE 
 
“Honrado Senhor Diretor da Companhia Telefônica, 
 
 Quem vos escreve é um desses desagradáveis 
sujeitos chamados assinantes; e do tipo mais baixo: 
dos que atingiram essa qualidade depois de uma 
longa espera na fila. 
 Não venho, senhor, reclamar de nenhum direito. 
Li o vosso Regu-lamento e sei que não tenho direito 
a coisa alguma, a não ser pagar a conta. Esse Regulamento, impresso na 
página 1 de vossa interessante Lista (que é meu livro de cabeceira), é mesmo 
uma leitura que reco-mendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, 
alguma propensão para o orgulho ou soberba. Ele nos ensina a sermos 
humildes; ele nos mostra quanto nós, assinantes, somos desprezíveis e 
fracos. 
2 
 
 Aconteceu por exemplo, senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o 
prazer de me fazer uma visita. Tomamos uma modesta cer-veja e falamos 
de coisas antigas – mulheres que brilharam outrora, ma-drugadas dantanho, 
flores doutras primaveras. Ia a conversa quente e cordial ainda que algo 
melancólica, tal soem ser as parolas vadias de cumpinchas velhos – quando 
o telefone tocou. Atendi. Era alguém que queria falar ao meu amigo. Um 
assinante mais leviano teria chamado o amigo para falar. Sou, entretanto, 
um severo respeitador do Regu-lamento; em vista do que comuniquei ao meu 
amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não podia permitir; 
estava, entretan-to, disposto a tomar e transmitir qualquer recado. Irritou-
se o amigo, mas fiquei inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do Regulamento, 
segun-do o qual o aparelho instalado em minha casa só pode ser usado pelo 
assinante, pessoas de sua família, seus representantes ou empregados. 
 Devo dizer que perdi o amigo, mas salvei o Respeito ao Regula-mento; 
‘dura lex sed lex’; eu sou assim. Sei também (artigo 4) que se minha casa 
pegar fogo terei de vos pagar o valor do aparelho – mesmo que esse incêndio 
(artigo 9) for motivado por algum circuito organi-zado pelo empregado da 
Companhia com o material da Companhia. Sei finalmente (artigo 11) que se, 
exausto de telefonar do botequim da esquina a essa distinta Companhia para 
dizer que meu aparelho não funciona, eu vos 
chamar e vos disser, com lealdade e com as 
únicas expressões adequadas, o meu 
pensamento, ficarei eternamente sem 
te-lefone, pois o uso de linguagem obscena 
configurará motivo suficiente para a Companhia 
desligar e retirar o aparelho. 
 
 Enfim, senhor, eu sei tudo; que não tenho direito a 
nada, que não valho nada, não sou nada. Há dois dias 
meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, 
nem muge. Isso me trouxe, é certo, um certo sossego ao lar. Porém amo, 
senhor, a voz humana; sou uma dessas criaturas tristes e sonhadoras que 
passa a vida esperando que de repente a Rita Hayworth me telefone para 
3 
 
dizer que o Ali Khan morreu e ela está ansiosa para gastar com o velho Braga 
o dinheiro de sua herança, pois me acha muito simpático e insinuante, e 
confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma loja defronte do 
meu hotel só para me ver entrar ou sair. 
 
 Confesso que não acho tal coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita 
não tem meu número. Mas é sempre doloroso pensar que se tal coisa me 
acontecesse eu jamais saberia – porque meu apare-lho não funciona. Pensai 
nisso, senhor: um telefone que dá sempre si-nal de ocupado – ‘cuém cuém 
cuém’ – quando na verdade está quedo e mudo na modesta sala de jantar. 
Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer contemplando tristemente o 
aparelho silencioso, essa esfin-ge de matéria plástica; é na verdade algo que 
supera o rádio e a televi-são, pois transmite não sons nem imagens, mas 
sonhos errantes no ar. 
 
 Mas batem à porta. Levanto o escuro do magro bife e abro. Céus, é um 
empregado da Companhia! Estremeço de emoção. Mas ele me estende um 
papel: é apenas o cobrador. Volto ao bife, curvo a cabeça, mastigo devagar, 
como se estivesse mastigando meus pensamentos, a longa tristeza de minha 
humilde vida, as decepções e remorsos. O telefone continuará mudo; não 
importa: ao menos é certo, senhor, que não vos esquecestes de mim." 
Março de 1951 
 
 
 A crônica acima, de Rubem Braga, destaca a relação entre a prote-ção do 
consumidor e as telecomunicações. Nela, verifica-se a angústia de um 
consumidor em relação ao serviço prestado por um fornecedor. 
 
 
4 
 
Unidade 1 - Origem do Direito do Consumidor – breve histórico 
A Revolução Industrial e o surgimento do consumidor 
 
 De tempos em tempos o ser humano identifica que possui características 
queo inserem em um grupo específico capaz de lhe atribuir direitos e deveres 
no exercício das atividades a ele inerentes. Assim, as cidades foram criadas 
e logo seus habitantes foram alçados ao status de cidadãos. Depois, a esses 
foi impingido o pagamento de tributos, tornando-se contribuintes. 
 
 
 
Após a Primeira Revolução Industrial, surge a criação 
de produtos de massa e em série e, com ela, o 
consumidor. 
 
 
 
Os EUA e a Carta de Direitos do Consumidor 
 
 Emergindo como potência industrial, os Estados Unidos da América foram 
o palco inicial das discussões sobre a proteção ao consumidor. Partindo de 
pequenas leis esparsas e passando por leis antitrustes, já no início do século 
XX, foram criadas instituições com o fim de controlar o comércio de certos 
produtos, como a Federal Trade Comission (FTC), em 1914, e a Food and 
Drug Administration (FDA), em 1931. 
 
 
 
 
5 
 
 Porém, foi em 1962 que o presidente dos 
Estados Unidos da América, John F. Kennedy, 
apresentou, em famoso discurso (versão em 
inglês), os quatro direitos básicos do consumidor: 
o direito à segurança, o direito de ser informado, 
o direito de escolha e o direito de ser ouvido, 
formando, assim, o que ficou conhecido como A 
Carta de Direitos do Consumidor. Mais tarde, em 
1985, a esses foram acrescidos, pela Organização 
das Nações Unidas (ONU), os direitos à satisfação 
de necessidades básicas, à efetiva compensação, à educação e ao meio 
ambiente saudável. 
 
 
O Brasil e a Constituição de 1988 
 No Brasil, já se reconhecia a proteção ao consumidor na Lei Delegada nº 
4, de 1962, objetivando assegurar a livre distribuição de produtos necessários 
ao consumo do povo. Na década de 70, algumas instituições de defesa do 
consumidor foram criadas tanto no âmbito estadual como no nacional, entre 
elas o Conselho de Defesa do Consumidor (CONDECOM), no Rio de Janeiro; 
a Associação de Defesa do Consumidor (ADOC), em Curitiba; a Associação 
de Proteção ao Consumidor (APC), em Porto Alegre; e a Associação Nacional 
de Defesa do Consumidor (ANDEC). 
 
 Com a ditadura militar chegando ao fim na década de 80, o anseio por 
uma norma sólida de amparo ao consumidor tomava força. E, assim, 
reconhecendo a defesa do consumidor como um direito fundamental, a 
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, 
determinou, em seu art. 5º, inciso XXXII, que “o Estado promoverá, na forma 
da lei, a defesa do consumidor”. Não fosse o bastante, e com o claro intuito 
de não permitir qualquer descuido infraconstitucional, inseriu-se, no Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias, o art. 48, com o mandamento: “O 
6 
 
Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da 
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”. 
saiba mais 
Você sabia que a defesa do consumidor foi também 
incluída pela Constituição de 1988 entre os princípios 
gerais da Ordem Econômica? Está no art. 170,V: 
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização 
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os 
ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: (...) V - defesa do consumidor; (...)". 
 
 
 
 
 Para refletir 
"O consumo é a única finalidade e o único propósito 
de toda produção". 
 
Adam Smith 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Unidade 2 - Os principais agentes da relação de consumo 
 
 Na unidade passada vimos que, no Brasil, a defesa ao 
consumidor foi considerada um direito fundamental 
assegurado pela Constituição de 1988, e que, após a sua 
promulgação, foi criado o Código de Defesa do 
Consumidor (CDC), aplicando-se a todas as relações de 
consumo. 
 Agora, nesta unidade, veremos os principais agentes da relação de 
consumo e o que a diferencia de uma relação civil. 
 
Em que consiste uma relação de consumo? 
A relação de consumo consiste numa relação jurídica regulada pelo direito do 
consumidor. A relação jurídica é o liame existente entre sujeitos de direito 
diante de um objeto discutido. Uma relação é considerada específica quando 
determinada norma jurídica aplica-se sobre a mesma. 
 
Quais são os agentes da relação de consumo? 
Os agentes da relação de consumo são os sujeitos de direito da relação 
jurídica de consumo e estão definidos no Código de Defesa do Consumidor. 
Primeiramente, apresentaremos os conceitos legais dos principais agentes da 
relação de consumo. 
 
Conceitos de consumidor 
Quais são os conceitos de consumidor? 
 
O CDC optou por definir os conceitos de consumidor nos artigos 2º, 17 e 29, 
e fornecedor no artigo 3º. Vejamos: 
 
8 
 
 Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica 
que adquire ou utiliza produto ou serviço como 
destinatário final. 
 Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a 
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que 
haja intervindo nas relações de consumo. 
 Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de 
produtos ou prestação de serviços. 
 § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
 § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, 
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de 
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter 
trabalhista. 
 
 
Conceito de relação jurídica de consumo 
 
 Percebe-se, portanto, que o conceito de consumidor paira pelo destino 
pelo qual um produto ou serviço é adquirido, seja por pessoa física ou 
jurídica, desde que o faça para uso próprio e não faça parte das ações 
intermediárias da cadeia de produção. 
 
Qual é o conceito de relação jurídica de consumo? 
 
 A aquisição do produto ou utilização do serviço como destinatário final 
torna-se uma das principais características para identificação da relação 
jurídica de consumo, assim como a vulnerabilidade do consumidor que passa 
9 
 
a ser outra característica necessária para que a relação de consumo se 
complete. 
 
 Ressalte-se, ainda, que produtos adquiridos, mesmo utilizados para a 
produção, podem caracterizar a relação jurídica de consumo, desde que 
disponíveis no mercado de consumo. 
 
Como identificar o consumidor 
 Como podemos identificar o consumidor? 
 Diante do conceito de relação jurídica de consumo, que acabamos de 
estudar, determinaram-se as teorias consolidadas para definição de 
consumidor. 
 
 
Podem-se distinguir as teorias: 
 
Finalista, que analisa caso a caso a identificação do consumidor como 
destinatário final, sem que haja a continuidade da atividade econômica; e 
Maximalista, que aplica indistintamente o CDC quando da aquisição de um 
produto ou serviço, não importando se haverá uso particular ou profissional 
do bem. 
 
 A teoria finalista sofreu uma mutação ao ser minorada a sua aplicação, 
denominada por Cláudia Lima Marques como finalismo aprofundado. Esse 
finalismo aparenta-se mais propício para determinar a relação de consumo, 
na medida em que relativiza e analisa a hipótese concreta, desconsiderando 
a qualidade das partes e vislumbrando apenas o contrato firmado, desde que 
10 
 
presentes a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. Vejamos o que 
escreve a autora: 
 
“É uma interpretaçãofinalista mais aprofundada e madura, que deve 
ser saudada. Em casos difíceis envolvendo pequenas empresas que 
utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de 
expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos 
serviços, provada a vulnerabilidade, concluiu-se pela destinação final 
de consumo prevalente”. (2009, p.73). 
 
 
Essa posição está sendo adotada pelo STJ com muita parcimônia e tem 
demonstrado onde se pode verificar a relação jurídica de consumo. 
 
 Consumidores equiparados 
E os consumidores equiparados? 
 
 No conceito de consumidor, há, ainda, a figura dos consumidores 
equiparados, que não são configurados como destinatários finais, mas se 
materializam nesta condição por uma situação de fato comum. Assim, para 
efeito de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: 
 
a) os potencialmente consumidores (art. 2º, parágrafo único do CDC); 
 
b) as pessoas que sofrem com algum tipo de dano, sendo vítimas de acidente 
de consumo (art. 17 do CDC); e 
 
11 
 
c) os que sofrem algum tipo de prática abusiva, diante de determinadas 
estratégias comerciais ou de marketing (art. 29 do CDC). 
 
 O Código de Defesa do Consumidor e a Constituição da República 
Federativa Brasileira estão disponíveis, para consulta, na Biblioteca, textos 
complementares. 
 
 
O fornecedor na relação de consumo 
 
E como identificar o fornecedor na relação de consumo? 
 A relação de consumo não se completa sem a presença do fornecedor, 
cujo conceito torna-se primordial para identificá-la. Desta forma, o fornecedor 
caracteriza-se por desempenhar uma determinada atividade na cadeia de 
produção ou na prestação do serviço descrito no artigo 3º do CDC. Ora, a 
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, ainda 
que sem personalidade jurídica, pode ser enquadrada como fornecedor desde 
que desempenhe uma das atividades delineadas no referido artigo, com 
profissionalidade e lucro. Atividade essa que o particular comum não se 
enquadra quando exerce a mesma ação do artigo 3º do CDC, haja vista não 
praticá-la como atividade profissional ou habitual. 
 
 Essas características tornam fácil a identificação de casos em que se 
poderia excluir a qualidade de fornecedor, como nos casos em que na relação 
jurídica não há lucro (cooperativa habitacional), ou nos casos de vendas 
eventuais entre pessoas físicas ou venda de objetos desvalorizados para o 
desempenho da sua atividade. Assim como entidades associativas ou 
condomínios cujo interesse principal restringe-se à esfera de associados ou 
12 
 
condôminos. Lembre-se, ainda, da aplicação do CDC nas atividades 
bancárias. O CDC é claro quanto à sua aplicabilidade. 
 
 
Há associações, entretanto, que detêm a característica de fornecedor por 
condicionarem a prestação de serviços de assistência médica, mediante o 
pagamento de mensalidade. 
 
 
 
Síntese 
Por fim, mas não menos importante, a completude da relação 
de consumo dá-se com a entrega de um produto ou a 
prestação de um serviço, desde que presentes os agentes que 
estudamos. O produto caracteriza-se pela atividade 
desenvolvida pelo fornecedor com profissionalidade e 
habitualidade. Nesse sentido, veja-se o que descreve Antonio 
Hermann V. Benjamin (2009, p.82): 
 
“Quanto ao fornecimento de produtos, o critério 
caracterizador é desenvolver atividades tipicamente 
profissionais, como a comercialização, a produção, a 
importação, indicando também a necessidade de certa 
habitualidade, como a transformação, a distribuição de 
produtos. Essas características vão excluir da aplicação das 
normas do CDC todos os contratos firmados entre dois 
consumidores, não profissionais, que são relações puramente 
civis às quais se aplica o CC/2002. A exclusão parece correta, 
pois o CDC, ao criar direitos para os consumidores, cria 
deveres, e amplos, para os fornecedores.” 
 
 
 
13 
 
 
 Os serviços, por sua vez, são identificados quando colocados à disposição 
do consumidor, mediante remuneração. O CDC exige, portanto, apenas a 
remuneração na identificação do serviço. 
 
 
 Recentemente tem-se tratado da questão dos serviços gratuitos 
oferecidos ao consumidor e que, embora denominados gratuitos, são pagos 
sem a percepção do consumidor. Por isso, a jurisprudência tem identificado 
essas situações como relação de consumo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
Unidade 3 - Aplicação do Código de Defesa do Consumidor 
 
Na unidade anterior vimos as definições dos agentes da relação de consumo, 
o que vai nos ajudar a compreender a aplicabilidade do Código de Defesa do 
Consumidor (CDC). 
Vamos iniciar com o exemplo de Cláudia Lima Marques (2009, p. 68/69) para 
delimitar tal relação. Vejamos: 
 
 “(...) se dois civis, duas vizinhas amigas, contratam (compra e venda de uma 
joia antiga), nenhuma delas é consumidora, pois falta o fornecedor (o 
profissional, o empresário); são dois sujeitos 'iguais', regulados 
exclusivamente pelo Código Civil. Sendo assim, à relação jurídica de compra 
e venda da joia de família aplica-se o Código Civil, a venda é fora do mercado 
de consumo. Se dois comerciantes ou empresários contratam (compra e 
venda de diamantes brutos para lapidação e revenda), o mesmo acontece: 
são dois 'iguais', dois profissionais, no mercado de produção ou de 
distribuição, são dois sujeitos iguais regulados pelo Código Civil (que regula 
as obrigações privadas, empresariais e civis) e pelas leis especiais do direito 
comercial, direito de privilégio dos profissionais, hoje empresários. Já o ato 
de consumo é um ato misto entre dois sujeitos diferentes, um civil e um 
empresário, cada um regulado por uma lei (Código Civil e Código Comercial), 
e a relação do meio e os direitos e deveres daí oriundos é que é regulada pelo 
CDC. É direito especial subjetivo e relacional.” 
 
 
 
 
 
15 
 
Por fim, a jurisprudência tem identificado os casos de aplicação do CDC: 
 
· às entidades de previdência privada - Súmula 321; 
· aos contratos de arrendamento mercantil - Condomínio e 
Concessionária; 
· aos contratos do sistema financeiro de habitação - Sistema 
Financeiro. 
 
 
Não se aplica o CDC nos casos de: 
 
Serviço notarial 
Condomínios e condôminos; 
Locação; 
Contratos de crédito educativo; 
Benefícios previdenciários. 
 
 
 
Síntese 
Faça suas anotações, volte ao conteúdo e reveja os conceitos, bem como 
os exemplos. Quando estiver seguro do conteúdo realize as atividades 
propostas e siga em frente! 
 
 Parabéns! Você chegou ao final do primeiro Módulo de estudo do curso 
Introdução ao Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
 Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
 
16 
 
MÓDULO II - A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
 
- Identificar os tipos de responsabilidades civis 
nas relações de consumo e suas principais 
diferenças; 
 
- conceituar e diferenciar "fato" de "vício" do 
produto e do serviço; 
 
- identificar a figura dos responsáveis pelo 
fato e pelo vício do produto e do serviço, 
entendendo os seus alcances; 
 
- reconhecer as hipótesesde exclusão da 
responsabilidade civil nas relações de 
consumo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Unidade 1 - A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço 
 
 Como vimos no módulo anterior, foi na Constituição de 1988 que a defesa 
do consumidor passou a ser considerado um direito fundamental e um 
princípio geral da ordem econômica. 
 
 Com o zelo de não permitir qualquer descuido infraconstitucional, foi 
elaborado o código de defesa do consumidor (CDC), que prevê duas espécies 
de responsabilidade civil nas relações de consumo, vejamos: 
 
 a primeira, pelo fato do produto ou serviço, com regramento 
previsto nos arts. 12 a 17; 
 e a segunda, pelo vício do produto ou serviço, com previsão legal 
nos arts. 18 a 25. 
 
 Antes de estabelecer as principais diferenças entre as modalidades de 
responsabilidades, vejamos o que o CDC versa sobre a matéria: 
 
 
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, 
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.” 
 
 
18 
 
Fato e vício 
Vamos entender primeiramente o que caracteriza o fato 
 Fato significa ocorrência, acontecimento, evento. O CDC fala em fato 
acompanhado de defeito; é, portanto, o fato que apresenta um defeito 
causador de um dano. 
 
 Como diferenciar “fato” de “vício”? 
 No vício, o problema encontrado no produto ou no serviço frustra o 
consumidor tão somente pelo erro encontrado neles próprios, acarretando o 
mau ou impossível funcionamento. No fato do produto ou do serviço, por 
outro lado, este “erro” é externalizado, saindo do domínio do produto ou 
serviço para atingir a esfera particular do consumidor, causando-lhe um dano 
material, físico ou moral. 
 
Sérgio Cavalieri Filho (2011, p. 208) define que: 
 
“A palavra-chave neste ponto é o defeito. Ambos decorrem de um 
defeito do produto ou do serviço só que no fato do produto ou do 
serviço o defeito é tão grave que provoca um acidente que atinge o 
consumidor, causando-lhe dano material ou moral. O defeito 
compromete a segurança do produto ou serviço. Vício, por sua vez, é 
defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço em si; um 
defeito que lhe é inerente ou intrínseco, que apenas causa o seu mau 
funcionamento ou não funcionamento”. 
 
 
 
 
19 
 
Exemplos 
Fato x Vício 
Observe a foto ao lado - um carro que esquenta 
demais e pega fogo. 
 
Trata-se de vício ou de fato? 
 
 Vejamos como é fácil identificar quando se lida com o vício e quando é o 
fato que atinge o consumidor, por meio dos seguintes exemplos: 
 
1. O seu refrigerador parou de gelar 
 Vício: Foi inserido pouco gás refrigerante no refrigerador de ar, que, por 
isso, para de gelar. 
 Fato: Ao invés do gás refrigerante normal, foi colocado um gás letal no 
refrigerador de ar, intoxicando as pessoas que ali estavam. 
 
2. Um cosmético que promete eliminar rugas 
 Vício: Simplesmente não faz qualquer efeito. 
 Fato: O cosmético que promete eliminar rugas causa dilacerações na pele. 
 
3. Um carro cujo motor esquenta demais 
 Vício: O motor do carro esquenta demais e para de funcionar. 
 Fato: O motor do carro esquenta demais e pega fogo. 
 
4. Serviço de limpeza contratado 
20 
 
 Vício: A empresa que deixa partes sujas. 
 Fato: O mesmo serviço de limpeza usa um produto que causa fortes 
náuseas nas pessoas que ali habitam. 
 
 Estando clara a noção de fato, é hora de conhecer os possíveis 
responsáveis. 
 
 Nesse ponto, em vez de simplesmente imputar a responsabilidade aos 
fornecedores, quis o CDC restringir os personagens. Então, de acordo com 
seu art. 12, são responsáveis pelo fato do produto e do serviço: 
 
 o fabricante - aquele que fabrica e coloca no mercado de 
consumo produtos industrializados; 
 o produtor - aquele que fabrica e coloca no mercado de consumo 
produtos não industrializados; 
 o construtor, nacional ou estrangeiro - aquele que introduz 
produtos imobiliários no mercado de consumo, através de 
fornecimento de bens ou serviços; 
 o importador - aquele que faz circular produto estrangeiro dentro 
do país. 
 
Logo se percebe a ausência do comerciante, contudo sua exclusão não é 
absoluta, há exceção, conforme se verificará mais à frente. 
 
 
 
 
21 
 
 
 
A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço é objetiva e solidária: 
 
 Objetiva, porque independe da demonstração de culpa 
(imprudência, imperícia ou negligência) do responsável. Basta, 
portanto, a demonstração de que houve um dano, e o nexo 
causal entre este e o defeito no produto ou serviço que o gerou. 
Assim, a simples colocação no mercado de determinado produto, 
ou prestação de serviço, ao consumidor, já é suficiente para 
ensejar a responsabilização. 
 Solidária, uma vez que havendo mais de um responsável pela 
colocação do produto, ou serviço, defeituoso à disposição dos 
consumidores, todos podem ser demandados, e a 
responsabilidade de um não exclui a do outro. 
 
Em todos os casos, concorre solidariamente o fabricante da peça ou do 
componente do produto fabricado, produzido, construído ou importado, 
assunto a ser abordado mais detalhadamente na Unidade 3. 
 
Ver jurisprudência: Fato do produto e do serviço 
 
 
 
 
 
22 
 
Profissionais liberais 
 Haveria alguma diferença no entendimento das responsabilidades 
dos profissionais liberais? 
 
“Art. 14 (...) 
 § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada 
mediante a verificação de culpa.” 
 
 
 O CDC incluiu a possibilidade de responsabilização dos profissionais 
liberais (médicos, advogados, dentistas etc.), conforme o § 4º do art. 14, 
acima descrito. Entretanto, nesse caso em particular, há uma quebra da regra 
da objetividade e, assim, sua responsabilização será verificada mediante 
verificação de culpa. Em outras palavras, não basta o dano e o nexo causal 
com o defeito no serviço do profissional liberal: há que se verificar a 
existência de negligência, imperícia ou imprudência do profissional, com o fim 
de responsabilizá-lo pessoalmente. 
 
 
 
Veja jurisprudência: Profissionais Liberais 
 
 
 
 
23 
 
 
Há, na doutrina, quem defenda que o termo “fato” do produto e do serviço 
não sinônimo de acidente de consumo e que, portanto, assim não deveria 
ser tratado, como define Rizzato Nunes (2011, p.317), quando afirma que 
“Diga-se, de qualquer maneira, que se tem usado tanto “fato” do produto 
e do serviço, quanto “acidente de consumo”, para definir o defeito. Porém, 
o mais adequado é guardar a expressão “acidente de consumo” para as 
hipóteses em que tenha ocorrido mesmo um acidente: queda de avião, 
batida do veículo por falha do freio, quebra da roda gigante no parque de 
diversões, etc., e deixar fato ou defeito para as demais ocorrências 
danosas.” 
 
 
 
 
Vimos nesta unidade que fato do produto pode ser explicado pelo "erro" 
apresentado no produto ou no serviço, que extrapola o simples problema 
de funcionamento, causando ao consumidor um dano material, físico ou 
moral. Certamente, agora você já está apto a identificar os possíveis 
responsáveis, deacordo com a norma legal vigente. 
 
 
 
 Seguiremos buscando compreender a nova disciplina do vício. Bons estudos! 
 
Ver jurisprudência: Fato do produto e do serviço 
 
 
24 
 
Unidade 2 - A nova disciplina do vício 
 
Vamos relembrar. 
 
Na unidade anterior, vimos que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) 
prevê duas espécies de responsabilidade civil nas relações de consumo: 
 
- a primeira, pelo fato do produto ou serviço; e 
 
- a segunda, pelo vício do produto ou serviço, com previsão legal nos arts. 
18 a 25, que veremos a seguir. 
 
 
Então, analisemos o que o CDC versa sobre a matéria: 
 
 
“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não 
duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou 
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a 
que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do 
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, 
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.” 
 
 
 
25 
 
 
Vício 
 
O que é o vício do produto e serviço? 
 Quando falamos em vício do produto ou do serviço, estamos nos referindo 
a qualquer problema relacionado ao produto ou ao serviço que, de alguma 
forma, prejudique sua funcionalidade e os tornem imperfeitos para o fim ao 
qual se destinam. 
 No vício, ao contrário do que vimos em relação ao fato, a falha não 
extrapola a esfera do produto ou serviço. Não atinge pessoalmente a figura 
do consumidor, de forma a lhe causar um dano material, físico ou moral. É a 
falha sem acidentes ou consequências graves. 
 
Pode-se dizer que o fato é um vício com algo a mais? 
 Sim, esse algo a mais seria o dano pessoal. Diz-se também que todo fato 
por origem é um vício, uma vez que para gerar o dano ao consumidor, o 
produto ou serviço tem necessariamente que apresentar uma falha 
antecessora e causadora do dano. Já a recíproca, obviamente, não é 
verdadeira. 
 
Tipos de vícios 
 
Quais são os tipos de vícios? 
 Além dos “vícios ocultos” previstos no Código Civil de 1916 pelos 
chamados “vícios redibitórios”, o CDC inovou acrescentando os “vícios de 
qualidade” e “vícios de quantidade”, ainda que aparentes ou de fácil 
constatação, quando tornam os produtos impróprios ou inadequados ao 
consumo a que se destinam ou lhe diminuam o valor. 
26 
 
 
 
 
Acrescente-se, ainda, que o CDC facultou ao consumidor uma gama de 
possibilidades de reparação mais abrangente que o Código Civil, incluindo 
a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente 
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, o abatimento 
proporcional do preço, a complementação do peso ou medida. 
 
 
 Vejamos os seguintes tipos de vícios: 
 
 1. Vícios redibitórios 
 Os vícios redibitórios são os defeitos ocultos da coisa, que fazem com que 
o negócio jurídico de compra e venda não produza um dos efeitos ao qual se 
destina, qual seja a perfeição do bem alienado. 
 Além da exigência de que o vício seja oculto, nos vícios redibitórios a 
coisa recebida deve originar-se de uma relação contratual e possuir defeito 
grave e contemporâneo à celebração do contrato. A nova disciplina do vício 
derrubou essas amarras. A responsabilização quanto ao vício, como previsto 
no CDC, independe de um contrato entre as partes, não há distinção quanto 
à gravidade, e pode ocorrer antes, durante ou depois da realização do 
negócio. 
 Exemplos: comprar um cavalo manco ou estéril; alugar uma 
casa que tem muitas goteiras; receber em pagamento um carro 
cujo motor aquece nas subidas. 
 
27 
 
 
 
2. Vícios de qualidade 
 
 Apresentam-se nos produtos ou serviços com 
erros que diminuem as funções ou o valor que é 
normal se esperar deles. A qualidade que se 
encontra é inferior à corretamente presumida pelo 
consumidor. 
 Exemplos: televisão cujo som não funciona, carro com problemas de 
aquecimento, ferro de passar roupa que esquenta pouco, roupa 
descosturada, serviço de limpeza mal executado, prazo de validade vencido 
etc. 
 
 
 
 
Ver jurisprudência: Vício de Qualidade 
 
 
 
Síntese 
 
3. Vícios de quantidade 
 Nos produtos ou serviços em que a prestação pode ser quantificada, o 
consumidor recebe menos do que o que lhe foi ofertado. Decorrem das 
disparidades com as indicações constantes do recipiente, embalagem, 
28 
 
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes 
de sua natureza, que se dá quando a perda de certo conteúdo durante o 
processo distributivo já é esperada como consequência natural do produto. 
 
 Ainda, produtos com peso ou, quando divisíveis, em número menor que 
o anunciado. Está diretamente ligado ao dever do fornecedor de informar. 
 Exemplos: frango congelado cuja quantidade de água eleva o 
peso real do produto; vidro de mostarda de 200ml que só tem 
150ml; caderno de 100 páginas com apenas 80; serviço de tevê 
por assinatura que retira canais de sua programação sem o 
prévio aviso ao consumidor etc. 
 
 Ver jurisprudência: Vício de Quantidade 
 
 
 
Nesta unidade, vimos que vício do produto e do serviço pode ser 
caracterizado por qualquer problema relacionado a eles que, de alguma 
forma, prejudique sua funcionalidade e os tornem imperfeitos para o fim 
ao qual se destinam. Ainda aqui, percebemos o alcance do Código de 
Defesa do Consumidor, que permitiu ao consumidor uma gama de 
possibilidades de reparação , mostrando-se bem mais abrangente e 
pormenorizado que o Código Civil. 
 
 
 
29 
 
Unidade 3 - As responsabilidades subsidiária do comerciante e solidária do 
fornecedor 
 
 Agora que já identificamos as diferenças entre fato e vício do produto e 
do serviço, vamos estudar os principais conceitos e a abrangência das 
responsabilidades dos agentes da relação de consumo. 
 Iniciaremos por conhecer as responsabilidades subsidiárias do 
comerciante. 
 Por responsabilidade subsidiária, para efeito do estatuído no CDC, 
entenda-se aquela em que B passa a ser responsável quando A não pode ser 
identificado. Já na responsabilidade solidária, tanto A quanto B são 
responsáveis, e é uma faculdade do consumidor escolher se vai demandar A, 
B ou ambos. Vejamos: 
 
 “Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo 
anterior, quando: 
 
 I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser 
identificados; 
 
 II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, 
produtor, construtor ou importador; 
 
 III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.” 
 
 
 
30 
 
 Com a imputação da responsabilidade subsidiária do comerciante, o CDC 
previne duas situações que poderiam gerar falhas no processo de 
responsabilização pelo fato: 
1. Com a retirada do comerciante da regra de responsabilização 
porque com isso evita-se que ele pague por erro que não 
cometeu. O que se quer nos casos em que a segurança do 
consumidor está sob risco é punir e educar aquele que de 
fato deu causa para a ocorrência do dano. 
2. Ao prever a responsabilidade do comerciante nos casos em 
que os responsáveis originários não puderem ser 
identificados com precisão. Nada mais justo. Afinal, ao 
colocar o produto em circulação sabendo queo responsável 
pela sua fabricação, construção, produção ou importação não 
pode ser identificado com clareza, o comerciante assume o 
risco e atrai para si, então, essa responsabilização. É como 
se o comerciante dissesse: “Ok, esse produto não é 
identificável, mas eu o garanto”. 
 
 
Ver jurisprudência: Responsabilidade subsidiária do comerciante 
 
 
 Vamos agora à responsabilidade solidária do fornecedor: 
 
“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis 
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os 
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes 
31 
 
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com 
as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou 
mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua 
natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.” 
(Grifos nossos.) 
 
 
O termo “solidariamente” que remete diretamente ao princípio da 
solidariedade, em que mais de uma pessoa pode ser titular de um direito 
ou dever, está presente, no CDC, em vários artigos além do acima citado, 
ao imputar responsabilidade comum àquelas pessoas que contribuíram 
para a colocação, no mercado, de produto ou serviço defeituoso. 
 
 
 -Consulte: CDC - arts. 7º, parágrafo único; 19; 25, §§ 1º e 2º; 28, § 3º; 
e, 34. 
 
 No vício do produto ou serviço, a solidariedade é a regra. Porém, há duas 
exceções. São elas: 
 
 1. Produtos in natura, isto é, produtos artesanais, que não sofreram 
processo de industrialização. Nesse caso, quando não identificado claramente 
o seu produtor, o responsável será o fornecedor imediato. - Art. 18, § 5º do 
CDC. 
 2. Produtos pesados ou medidos na presença do consumidor utilizando 
instrumento (balança, trena etc.) não aferido segundo os padrões oficiais. 
Igualmente, responsabilidade do fornecedor imediato. - Art. 19, § 2º do CDC. 
 
 
32 
 
Exemplo: 
João compra um carro e ao dirigi-lo à noite percebe que os faróis subitamente 
se apagam e voltam a acender algum tempo depois. João, nesse caso, pode 
demandar o fabricante do carro, assim como aquele que fornece a peça para 
o fabricante e, ainda, tendo ocorrido somente o vício e não o fato, o 
comerciante que vendeu o carro para João. Caso seja impossível identificar o 
fabricante do carro e o fornecedor da peça, João pode demandar o 
comerciante inclusive quando o defeito gerou um dano passível de 
configuração do fato do produto, como já vimos na responsabilidade 
subsidiária do comerciante. 
 
 
 
 
Ver jurisprudência: Responsabilidade Solidária do Fornecedor 
 
 
 
 
 
Nesta unidade pudemos perceber a diferença entre a responsabilidade 
subsidiária e a solidária. Exemplificando, à luz do CDC, a primeira é aquela 
em que B passa a ser responsável quando A não pode ser identificado, e a 
segunda, tanto A quanto B são responsáveis e é uma faculdade do 
consumidor escolher se vai demandar A, B ou ambos. 
 
 
33 
 
Unidade 4 - Excludentes de Responsabilidade Civil 
 
 Entendendo a responsabilidade subsidiária do comerciante e a solidária do 
fornecedor, passaremos, agora, aos casos de exclusão da responsabilidade 
do fornecedor, de acordo com o CDC. 
 
 Analise atentamente o caput do art. 12 do CDC e seu § 3º: 
 
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, 
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
(...) 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito 
inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” 
 
 
 
 
 
34 
 
Exclusão da responsabilidade do fornecedor 
 
 Como se percebe, são três as hipóteses de exclusão da responsabilidade do 
fornecedor: 
 
 1. Quando provar que não colocou o produto no mercado: 
Naturalmente, estando o produto no mercado presume-se que o fornecedor 
o colocou. Cabe, porém, a este, rebater essa presunção, quando puder 
demonstrar através de provas que não foi o responsável. Tal situação pode 
ocorrer quando, por exemplo, há produtos falsificados em circulação ou 
quando o fornecedor foi vítima de furto ou roubo de produto ainda incompleto 
para ser colocado no mercado. 
 
 2. Inexistência do defeito: Ainda que posto em circulação normal, o 
fornecedor prova que na verdade não há defeito. Aqui, sendo provado que o 
defeito inexiste, o próprio fato gerador da responsabilidade é fulminado. 
Trata-se do caso em que há uma percepção equivocada por parte do 
consumidor quanto ao defeito questionado. É o caso, por exemplo, da pessoa 
que pensa ter passado mal por causa da ingestão de um queijo, quando 
percebe que este se encontra mofado. Eis que o fornecedor demonstra que o 
bolor encontrado nesse queijo não só é tolerado como desejado, que é uma 
característica intrínseca daquele tipo de queijo e que o passar mal do 
consumidor, portanto, não teve qualquer ligação com um defeito naquele 
laticínio, sendo tal defeito, assim, inexistente. 
 
 
 3. Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro: Igualmente à 
inexistência do defeito, mais uma vez, caso provada pelo fornecedor a culpa 
exclusiva do consumidor ou de terceiro, o fato gerador da responsabilidade, 
qual seja, o defeito, é desconstituído. Pois se há culpa exclusiva do 
35 
 
consumidor ou de terceiro, não há o que se falar em defeito do produto. Este 
foi posto em circulação pelo fornecedor em sua perfeição; porém, ao alcançar 
seu destinatário (o consumidor) ou o terceiro, estes provocam o problema, 
seja por descuido, mau uso ou até mesmo intencionalmente. Tal condição 
pode ser verificada, por exemplo, quando a despeito de aviso claro no 
medicamento sobre a posologia, o indivíduo toma o dobro da dose 
recomendada. Ou seja, não há defeito no medicamento e sim culpa exclusiva 
daquele que tomou dose superior à que se indicou. 
 
 
 
Constatado o vício ou fato do produto ou serviço, verificamos que as 
hipóteses nas quais o fornecedor é eximido de responsabilidade são: 
quando ele provar que não colocou o produto no mercado, quando da 
inexistência do defeito ou quando provada a culpa do consumidor ou de 
terceiro. 
 
 
 
 
 
Ver jurisprudência: Excludentes de Responsabilidade Civil 
 
 
 
36 
 
 Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
 
 Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 
 Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
 
 
37 
 
MÓDULO III - PUBLICIDADE NO DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
 
 
- Identificar a origem da publicidade e seu 
contexto atual; 
 
- diferenciar as formas de publicidade ilícita; 
 
- reconhecer os aspectos importantes sobrevinculação da oferta; 
 
- relacionar a teoria à prática a partir dos 
exemplos e de jurisprudência atualizada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
Unidade 1 - A publicidade na sociedade brasileira atual 
 
 Vimos, nas unidades anteriores, os conceitos básicos que norteiam as 
relações de consumo, bem como as responsabilidades dos seus principais 
agentes. 
 Nesta unidade vamos conhecer um pouco sobre a área da comunicação 
que guarda relação direta com as relações de consumo: a publicidade. 
 
 Não há como falar em publicidade como a conhecemos hoje sem iniciar 
pela própria história do consumo. O mesmo motor impulsionador deste, 
traduzido pela revolução industrial e a massificação da produção, dá o norte 
para o que chamamos atualmente de publicidade. 
 
 
Quando surgiu a publicidade? 
 
Embora existam registros de publicidade ao longo dos séculos, foi no século 
XIX, após a Revolução Industrial, que criou-se, para o fornecedor em escala, 
a necessidade de propagar e incentivar o consumo de suas mercadorias. A 
simples colocação dos itens no mercado não era mais garantidora de um 
consumo que se equilibrasse com a produção. Assim, surge a publicidade 
como é conhecida hoje, a mais importante ferramenta de incentivo ao 
consumo. 
 
 
 
39 
 
Publicidade 
 
Qual é o significado da palavra publicidade? 
 
 Publicidade, analisando o termo ao pé da letra, significa aquilo que é 
público, destinado ao povo ou colocado para o conhecimento de todos. 
Porém, no mundo das mercadorias e do consumo, publicidade é o mesmo 
que fomentar a venda de produtos. Hoje, invade as nossas vidas por diversos 
meios, com abordagem desde a mais tranquila, que se resume a mostrar os 
benefícios de determinado aparelho; passando pela mais contundente, que 
quer fazer o consumidor acreditar que sua vida ficará melhor com aquilo que 
se pretende vender; até as de cunho agressivo, que têm o claro condão de 
incutir na mente das pessoas que o seu produto é absolutamente necessário, 
que sem ele ou não se vive ou se vive muito mal. 
 
 
Quando a publicidade surgiu no Brasil? 
 
Em nosso País, já se coletam traços da publicidade, 
como a conhecemos hoje, a partir do século XIX. 
Anúncios de venda de escravos, imóveis, carroças, 
artesanato e serviços de profissionais liberais eram 
corriqueiros em cartazes, folhetos e painéis em São 
Paulo e no Rio de Janeiro. Nesta cidade, em 1821, nasceu o primeiro jornal 
diário do Brasil. O Diário do Rio de Janeiro era um jornal dedicado aos 
anúncios de negócios. 
 
 
40 
 
 Desse período em diante a publicidade tomou corpo e passou a fazer parte 
do dia a dia dos brasileiros, aproveitando a chegada dos vários meios que 
passaram a lhe dar suporte, como os outdoors, as placas de publicidade, o 
rádio, o cinema, a televisão, entre outros. Com a evolução tecnológica, 
tornava-se cada vez maior a abrangência que um produto poderia conquistar. 
 
 Até o final da década de 1970 não existia no Brasil qualquer dispositivo 
que ao menos monitorasse o crescimento da iniciativa publicitária. Foi 
quando, ainda no regime militar, aprovou-se o Código Brasileiro de 
Autorregulamentação Publicitária (CBAP), editado em 5 de maio de 1980; e, 
em seguida, foi fundado o Conselho Nacional de Autorregulamentação 
Publicitária (CONAR). 
 
 Tanto o Código quanto o Conselho tinham a função de zelar pela ética na 
publicidade. O CBAP, embora desempenhando função pública, tem natureza 
privada, por ter sido criado e assinado por associações ligadas ao exercício 
da publicidade. 
 
Atividade publicitária 
 
Quais são os limites para a atividade publicitária? 
 Com a chegada do Código de Defesa do Consumidor, a questão dos limites 
para a atividade publicitária enfim encontra amparo legal na forma de 
proteção aos direitos do consumidor. Desde então, a convivência entre o 
CBAP e o CDC é harmoniosa, e ambos, o primeiro pela via privada e o 
segundo pela previsão legal, se prestam a regular o trabalho publicitário e 
proteger o consumidor. O ponto de partida é distinto mas o objetivo acaba 
se desenhando em uma comunhão de interesses. 
 
41 
 
 
O CDC elenca uma série de princípios que devem ser verificados em 
relação à publicidade: 
 
 princípio da identificação da mensagem publicitária (art. 36); 
 princípio da vinculação contratual da publicidade (art. 30); 
 princípio da veracidade (art. 37, § 2°); 
 princípio do ônus da prova a cargo do fornecedor (art. 38); 
 princípio da transparência da fundamentação da publicidade (art. 
36, parágrafo único); 
 princípio da correção do desvio publicitário (art. 56, XII). 
 
 
 
 
Como vimos, a publicidade surgiu no século XIX, após a Revolução 
Industrial, como forma de incentivar o consumo e equilibrar a produção. O 
Código de Defesa do Consumidor prevê uma série de princípios que, além 
de regular o trabalho publicitário, destinam-se à proteção do consumidor. 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Unidade 2 - A publicidade ilícita: Publicidade Enganosa e Publicidade 
Abusiva 
 
 
 
 Na unidade passada, vimos a origem da publicidade e os princípios 
elencados pelo CDC para proteção ao consumidor. 
 
 Nesta, vamos conhecer as formas de publicidade ilícita e diferenciá-las. 
Mas, primeiro, procuremos entender o que significam os termos publicidade 
e propaganda, muito usados nos meios de comunicação. 
 
Publicidade x Propaganda 
 
 Muito se confunde publicidade com propaganda, como se fossem 
sinônimos. Não o são: 
 
 
 A publicidade é caracterizada pelo intuito comercial, nasce e 
finaliza com o escopo negocial. 
 A propaganda tem por fim ideais, geralmente com fins 
humanitários, religiosos, políticos ou cívicos. 
 
 
 
43 
 
Publicidade Enganosa 
 
Publicidade enganosa no CDC 
 
 O princípio da veracidade da publicidade encontra respaldo legal no artigo 
37, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor: 
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação 
de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer 
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, 
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados 
sobre produtos e serviços. 
(...) 
 § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por 
omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto 
ou serviço. 
 
O que é a publicidade enganosa? 
 
 Por publicidade enganosa entenda-se aquela que tem como característica 
induzir o consumidor em erro. O intuito desse tipo de publicidade é o de iludir, 
burlar, lograr, embaçar, esconder, disfarçar. Enfim, criar no imaginário das 
pessoas um cenário a respeito do produto que não corresponde à sua 
realidade, utilizando-se para tal de informação errônea a respeito da 
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço 
e quaisquer outros dados sobre produtos, como bem elencado pelo CDC. 
 
44 
 
Não se deve confundir publicidade enganosa com publicidade falsa 
 
 É possível que uma mensagem publicitária seja enganosa ainda que não 
possua qualquer elemento de falsidade. Nesse sentido, por exemplo, um 
premiado anúncio comercial veiculado na televisão pela Folha de São Paulo 
na década de 80 trazia um filme onde se via círculos pretos e brancos na tela 
enquanto uma voz calma e determinada narravaos grandes feitos de um 
homem. 
 
 Com o passar do tempo, os pontos iam se modificando, até que se 
percebia que era uma fotografia muito próxima da lente de filmagem, que ia 
se distanciando lentamente e prometia, então, mostrar a figura tão festejada 
pela voz de fundo. 
 
 Em meio ao rufar de tambores, eis que aparece a foto de Adolf Hitler, 
responsável pelo holocausto, um dos piores momentos da história humana. 
No fim, com essa imagem, a voz concluía: “É possível contar um monte de 
mentiras, dizendo só a verdade...” Uma aula sobre publicidade enganosa! 
 
 Elemento criativo e fantasioso da publicidade 
 
Igualmente equivocado seria levar o princípio da 
veracidade da publicidade, consagrado no art. 37 do 
CDC, às últimas consequências, não permitindo a 
liberdade criativa do publicitário. Assim, quando 
aquilo que não é verdadeiro sai do campo da 
realidade para adentrar o espaço da fantasia, não 
teremos aí uma publicidade enganosa. Um tapete que voa, o motor de um 
carro composto por pôneis ou um animal falante não têm o condão de 
45 
 
ludibriar o consumidor, pois nesses casos a criação não tem o objetivo de 
informar, mas tão somente de atrair a atenção das pessoas. O elemento 
fantasioso é evidente o suficiente para desconfigurar a indução ao erro. 
 
 
 
 Tipos de publicidade enganosa: 
 
 Por comissão (ou por ação): o anunciante induz o consumidor 
em erro fazendo declaração falsa sobre o produto ou serviço. 
*Ver jurisprudência por Comissão 
 
Exemplo: Produto anunciado afirma que tira riscos da pintura dos carros 
quando, na verdade, o máximo que pode fazer é limpar a área onde aplicado. 
 
 
 
 Por omissão: o anunciante induz o consumidor em erro deixando 
de informar algo essencial referente ao produto ou serviço. 
**Ver jurisprudência por Omissão 
 
 
 
 
 
46 
 
 
Essencial 
 No caso da omissão, a questão que aqui se enfrenta é lidar com a 
subjetividade do termo “essencial”. 
 Mas afinal, o que é essencial? 
 Como bem ilustra Rizzato Nunes (2011. p. 555), “constrói-se um conceito 
de essencial naquilo que importa à publicidade. E, nessa linha, é de dizer que 
essencial será aquela informação ou dado cuja ausência influencie o 
consumidor na sua decisão de comprar, bem como não gere um 
conhecimento adequado do uso e consumo do produto ou serviço 'realmente', 
tal como são”. 
 No que se refere à conduta omissiva, cabe salientar que ela ocorre não 
por qualquer omissão. Não é a falta de informação sobre condições que já 
são de domínio público. Por exemplo, não é preciso informar que o carro 
anunciado precisa de combustível para cumprir o seu objetivo de transporte. 
 Exemplo de omissão: Uma televisão é anunciada com grande chamariz 
para sua característica de conectividade à Internet sem o uso de fios, em que 
o consumidor poderá navegar pela rede mundial, assistir a vídeos 
diretamente na tela da tevê, consultar seus e-mails etc. Entretanto, omite 
que para tornar isso possível o consumidor terá que comprar outro aparelho, 
um dispositivo específico, responsável justamente pela conectividade sem fio. 
 
Importante! Na publicidade enganosa, para fins do art. 37 do CDC, a 
intenção é irrelevante. A questão da boa ou má-fé do anunciante não 
interfere na caracterização da publicidade enganosa. 
 
 
 
 
47 
 
Enganosidade potencial 
 O CDC não exige a ocorrência do dano em concreto aos consumidores 
para a configuração da publicidade enganosa. A simples detecção da 
enganosidade, ainda que não amparada em caso de lesão real a consumidor, 
é o suficiente para o enquadramento na proibição do art. 37 do CDC. Diz-se, 
portanto, que se pune a capacidade em abstrato de induzir em erro. Isto 
posto, trata-se de matéria que pode ser denunciada por qualquer pessoa, 
independente da condição ou não de consumidora daquele produto. 
 
 Vamos, agora, conhecer a outra forma de publicidade ilícita, conforme 
aponta o Código de Defesa do Consumidor: a Publicidade Abusiva 
 
 Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
 
 (...) 
 
 § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer 
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se 
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita 
valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar 
de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 
 
A publicidade abusiva não se sustenta no erro ou na tentativa de induzi-lo, 
mas sim nos meios escusos, contrários à ética, utilizando-se da 
suscetibilidade dos consumidores para "empurrar" aquilo que se quer 
vender. 
 
 
48 
 
 São, por exemplo, os anúncios que denigrem a imagem de certo grupo de 
pessoas, que veiculem mensagens racistas, comerciais que incitem um 
comportamento não tolerado, como o de agressão ao meio ambiente, que se 
aproveitem do poder de julgamento ainda em formação das crianças para 
incutir um desejo pelo produto ou ainda que promovam uma conduta que 
pode pôr em perigo sua saúde ou segurança. 
 
 Exemplo: Comercial de marca de roupa que mostra policiais 
militares do Rio de Janeiro revistando mulheres de forma 
abusiva. Tal publicidade existiu e foi considerada abusiva uma 
vez que incitava a violência, mostrava as mulheres como objetos 
e agredia a imagem da cidade. A marca chegou a pedir desculpas 
e retirou a campanha publicitária. 
 
 
 
Síntese 
 Solidariedade na publicidade enganosa e abusiva 
 
 Há solidariedade entre o fornecedor do produto (anunciante) e o veículo 
de comunicação onde o anúncio é realizado? 
 
 A matéria não é pacífica. Há corrente doutrinária, liderada por Nelson Nery 
Junior e Paulo Jorge Scartezzini Guimarães, que entende haver sim a 
solidariedade entre tais personagens. De outro lado, Zelmo Denari e Rizzato 
Nunes defendem justamente o contrário, alegando que, como o próprio nome 
diz, as empresas contratadas para propagar as mensagens publicitárias são 
meros veículos e não possuem o conhecimento da matéria, apenas 
reproduzem informações que lhes são repassadas. 
49 
 
 
 
 Na jurisprudência, igualmente, encontramos ambas as posições, o que 
pode ser confirmado da leitura dos seguintes julgados do Superior Tribunal 
de Justiça. 
 Já Sérgio Cavalieri Filho defende uma terceira linha de pensamento, que, 
em regra, adota a posição de que não há solidariedade, exceto quando houver 
dolo ou culpa da empresa de comunicação. E, desse modo, afirma: “Em 
situações de patente publicidade enganosa ou quando a empresa de 
comunicação está ciente da incapacidade do anunciante de cumprir o 
prometido, não há como deixar de reconhecer a responsabilidade do veículo 
de comunicação por violação ao dever de vigilância sobre os anúncios que 
veicula". 
 
 
 Como visto, a publicidade enganosa se resume ao uso de meios que 
induzem ao erro para convencer o consumidor a comprar um determinado 
produto ou contratar um serviço. A publicidade abusiva, por sua vez, 
caracteriza-se pelo uso de mensagem inescrupulosa e ofensiva para atingir 
seus meios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
 
Unidade 3 - Força vinculante da publicidade para o fornecedor 
 
 
 
 Estudamos na unidade anterior as formas de publicidade ilícita, quais 
sejam, a publicidade enganosa que induz o consumidor ao erro, e a abusiva, 
caracterizada pelo uso de mensagem inescrupulosa e ofensiva. Tratamos, 
ainda, neste módulo das origens da publicidade, bem como das diferençasentre publicidade e propaganda. 
 
Vamos, então, tratar sobre a vinculação da oferta, que chamamos de 
força vinculante. 
 
 Ao disciplinar a oferta em seção própria inaugurada pelo art. 30 e 
esmiuçada pelos artigos seguintes, o CDC inovou ao vincular o anunciante à 
oferta que este realiza. É o que chamamos de princípio da vinculação. 
 
 Em comparação com a prescrição do direito privado, na forma do art. 427 
do Código Civil, o CDC diferencia-se na medida em que impede que o 
fornecedor venha a evadir-se de sua responsabilidade impondo limites e 
condições atrelados à sua oferta. Observe: 
 
“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, 
veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a 
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor 
51 
 
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a 
ser celebrado.” 
 
 Qual a relação entre o princípio da vinculação e o marketing? 
 O princípio da vinculação guarda estreita relação com o que nos 
acostumamos a chamar de “marketing”. Por “marketing” entenda-se o 
conjunto de estratégias e ações que provêm o desenvolvimento, o 
lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado 
consumidor. 
 
Como podemos entender o termo “informação”, no artigo 30 do CDC? 
 O caput do art. 30 do CDC distingue informação de publicidade, 
acentuando, com isso, o alcance da vinculação à publicidade e, ao mesmo 
tempo, não descuidando de dar previsão a toda informação veiculada no 
interesse de alcançar o consumidor, ainda que não faça parte de uma peça 
publicitária propriamente dita. 
 Informação, para os fins que aqui se discute, é toda manifestação do 
fornecedor que não seja considerada anúncio. 
 
 Como entender o termo “suficientemente precisa”? 
 Por “suficientemente precisa” é de se conceber que o simples exagero não 
é suficiente para vincular o fornecedor. Os casos em que o anúncio promete, 
por exemplo, “a melhor pizza do bairro” ou “o melhor óleo de motor do 
mercado” não contêm precisão suficiente para gerar a obrigação do 
fornecedor. Entretanto, caso este utilize o mesmo expediente para algo que 
pode ser aferido com certa tranquilidade, como “o melhor preço da cidade” 
ou “o café mais barato do Brasil”, a vinculação passa a ser possível. 
 
 
52 
 
E se o fornecedor recusar-se a cumprir sua oferta ou mesmo se este 
sequer possui os meios para o seu cumprimento? 
Preceitua o CDC, em seu art. 35, que: 
“Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento 
à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, 
alternativamente e à sua livre escolha: 
 
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, 
apresentação ou publicidade; 
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; 
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia 
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e 
danos.” 
 
 E em sites de Internet que promovem a compra coletiva? 
 Nos dias atuais, tem sido cada vez mais comum a oferta de produtos e 
serviços por meio de sítios na Internet que promovem a compra coletiva, 
opção em que, ao alcançar certo número de interessados de fato, o produto 
ou serviço anunciado é vendido por um preço normalmente abaixo do valor 
de mercado. 
 Com isso as queixas têm aumentado, e muitas vezes o fornecedor (ou a 
empresa por trás do sítio) que ofereceu o produto ou serviço não possui mais 
o produto em estoque. Ambos podem ser responsabilizados. Nesses casos, a 
restituição, nos moldes do inciso III, aparece como alternativa justa e viável. 
 
 
 
 
53 
 
E no ramo imobiliário? 
 Na seara imobiliária são facilmente detectáveis os exemplos da 
vinculação, quando no objetivo de atrair o cliente, o empreendedor ou 
vendedor promete mundos e fundos em relação ao acabamento do imóvel, 
sem honrar com suas promessas no momento da entrega das chaves. 
 Tendo por base o princípio da boa-fé objetiva, em que o fornecedor deve 
se portar no sentido de cumprir os deveres anexos de lealdade, proteção, 
informação, confiança e cooperação, resta subentendido que a oferta 
integrará o contrato firmado, independentemente de estar ou não contida nas 
cláusulas escritas deste. 
 
 Como o consumidor deve se prevenir? 
 
 
 Desse modo, de nada adianta ao fornecedor prometer e depois escusar-
se de sua responsabilidade alegando que aquilo não fora 
pactuado, uma vez que não consta da redação. E, por 
isso, é importante que o consumidor guarde toda peça 
de publicidade onde constem as ofertas, com o fim de 
facilitar a comprovação do que ocorreu. 
 
 
E quando há erro ou engano na publicidade? 
 Cumpre diferenciar a oferta daqueles casos em que é latente que o preço 
foi veiculado com base em erro. 
 
 Exemplo: Se um aparelho de TV específico tem o valor médio de mercado 
de R$ 5.000,00, uma oferta dele por R$ 50,00, ou seja, 1% do valor real, é 
54 
 
provavelmente um erro de digitação ou de entendimento de quem se 
responsabilizou pela edição da publicidade. 
 
 Utilizando o mesmo exemplo, se a mesma TV é ofertada por R$ 4.500,00, 
é razoável entender que se trata de uma oferta com desconto de 10% do 
valor normal. 
 
 Nesse último caso, não poderá o fornecedor se eximir do cumprimento da 
oferta. 
 Jurisprudência: Força Vinculante da publicidade para o fornecedor 
 
Agora que você está apto a identificar a origem da publicidade e seu 
contexto atual, pronto para diferenciar as formas de publicidade ilícita, 
reconhecer as forças vinculantes da propaganda para o fornecedor e como 
o consumidor pode se preservar, siga em frente! 
 
 Parabéns! Você chegou ao final do Módulo III do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
 
 Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
 
55 
 
MÓDULO IV - AS PRÁTICAS ABUSIVAS 
 
 
 
- Conceituar e identificar as práticas abusivas; 
 
- informar o tipo de cobrança admitida pelo 
CDC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
 
 
Unidade 1 - As práticas abusivas e o CDC 
 
 Vimos, nas unidades anteriores, como diferenciar publicidade de 
propaganda e a identificar suas práticas ilícitas. Vamos, agora, especificar 
algumas das práticas abusivas previstas no Código de Defesa do Consumidor. 
 
O que são as práticas abusivas? 
 
 As práticas abusivas dizem respeito a toda atitude contrária ao senso 
comum que afronta quaisquer benefícios ou direitos do consumidor, despreza 
o costume comercial ou se utiliza do abuso de direito. 
 
As práticas abusivas e o CDC 
 
 Os fornecedores deveriam agir corretamente para não se enquadrarem 
no rol exemplificativo do artigo 39 do CDC, ou seja, nos seguintes quesitos: 
 
 
Das Práticas Abusivas 
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: 
 
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de 
outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; 
 
57 
 
II - recusar atendimento às demandas dos consumidores,na exata medida 
de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos 
e costumes; 
 
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer 
produto, ou fornecer qualquer serviço; 
 
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista 
sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus 
produtos ou serviços; 
 
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; 
 
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização 
expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores 
entre as partes; 
 
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo 
consumidor no exercício de seus direitos; 
 
 VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em 
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, 
se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas 
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de 
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); 
 
58 
 
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem 
se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos 
de intermediação regulados em leis especiais; 
 
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços; 
 
XI - (Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado 
em inciso XIII, quando da converão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999); 
 
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar 
a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; 
 
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou 
contratualmente estabelecido. 
 
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues 
ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras 
grátis, inexistindo obrigação de pagamento. 
 
 
 
 
O Código de Defesa do Consumidor elenca, em seu art. 39, diversas 
práticas que afrontam o consumidor, desprezam o costume comercial ou 
se utilizam do abuso de direito. 
 
 
59 
 
Unidade 2 - Venda casada 
 
 Na unidade anterior, vimos o conceito de práticas abusivas e os exemplos 
previstos no art. 39 do CDC. Vamos, nesta unidade, conhecer a primeira das 
quatro práticas que mais causa danos ao consumidor, prevista no inciso I. A 
saber: a venda casada. 
 
 Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: 
 
 I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento 
de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites 
quantitativos; 
 
 (...) 
 
Como o CDC entende a venda casada? 
 
 O CDC explica a “venda casada” como sendo 
condicionar o fornecimento de um produto ou 
serviço, ao fornecimento de outro. A melhor 
maneira de entender a venda casada consiste 
nos exemplos que o dinamismo das ofertas e inserção de marketing têm a 
oferecer aos consumidores, sejam na forma de serviços, nas gôndolas de 
supermercados, nos restaurantes etc. Resta saber até que ponto podem os 
comerciantes se utilizar das chamadas vendas casadas para que assim 
sejam consideradas. 
 
 
60 
 
Exemplos de venda casada 
 
 
Supermercado - Vejamos o mais simples exemplo do 
supermercado, quando vincula um certo produto a 
determinada quantidade, como nas promoções "leve 3, 
pague 2". A venda casada se configuraria caso o 
supermercado não oferecesse o produto isolado, ainda que por preço maior. 
A venda casada ilegal ocorre quando o consumidor não tem a opção de 
comprar somente um produto. Colocar preço especial para quem leva mais 
do mesmo produto não é venda casada. 
 Telefonia móvel e fixa - Serve de exemplo a vinculação do valor de 
um telefone móvel a determinado plano de serviço, desde que fidelize junto 
à prestadora de telefonia. Não há obrigação de oferecer esse aparelho pelo 
melhor preço ofertado para todos, independente do plano; o que não pode 
é a prestadora não dar ao cliente a opção de comprar o produto sem 
fidelização, ainda que seja mais caro. Ver legislação (art. 40 da Resolução 
477, de 07/08/2007, que trata do Regulamento de Serviço Móvel Pessoal). 
 
 
 Quanto aos serviços, caso uma determinada prestadora de telefonia 
ofereça um pacote com linha telefônica, internet e televisão a cabo, por um 
valor promocional: trata-se de venda casada? 
 Existindo a opção de contratar qualquer uma dessas opções em separado, 
não há o que falar em venda casada. Mais difícil é separar os serviços de 
telefonia fixa e internet banda larga, principalmente quando esta última é 
prestada via ADSL, que necessita da linha telefônica fixa para funcionar. 
Ainda assim, é direito do consumidor receber esses serviços isoladamente, 
caso assim queira. 
61 
 
 A realidade é que atualmente a necessidade de inclusão digital induz o 
consumidor, carente de informação e em posição vulnerável, a consumir 
dois serviços quando queria somente um. 
 
 
 
Veja a ação ajuizada pelo Ministério Público Federal relativamente ao 
assunto: Telefonia Móvel 
 
 
 
 
Para refletir 
Você já percebeu que as lojas de telefone celular sempre têm dois 
preços para os celulares: um valor para aquisição no plano pré-pago e outro 
para o pós-pago. Você nunca se perguntou por quê? 
 
 
 A seguinte decisão revela essa mesma orientação: “Apelação cível. AÇÃO 
CIVIL PÚBLICA. CONTRATO DE FIDELIZAÇÃO DE SERVIÇO DE TELEFONIA 
MÓVEL. VALIDADE. OPÇÃO DE COMPRA CONCEDIDA AO CONSUMIDOR. 
 
 1. A estipulação de multa de fidelização em contrato telefônico, por si só, 
não é nula, desde que a contrapartida de sua estipulação prime pelo equilíbrio 
contratual. (Precedentes). 
62 
 
 2. A multa prevista no contrato tem natureza jurídica de cláusula penal e 
objetiva prefixar o valor das perdas e danos sofridos pela operadora, no caso 
de o assinante infringir o prazo de fidelidade. 
 3. O consumidor pode comprar ou não o aparelho celular, com ou sem 
desconto. Se com desconto, em contrapartida, fica vinculado à operadora 
pelo prazo de carência estipulado no contrato, salvo, dentre outras, nas 
hipóteses de fortuito, extravio ou furto do aparelho, casos em que se admite 
a rescisão do negócio jurídico, sem ônus para o consumidor. 
 
 4. Recurso conhecido e desprovido, sentença mantida. (TJDFT - 
20060111303538APC, Relator JOÃO BATISTA TEIXEIRA, 3ª Turma Cível, 
julgado em 09/02/2011, DJ 17/03/2011, p. 182). 
 
 Serviços bancários - Nos serviços bancários, também se condicionam a 
abertura de conta ou a aquisição de empréstimo a outros serviços, cuja 
vinculação não tem nenhuma explicação para tais contratações, senão onerar 
o consumidor. Ver legislação. 
 
 
Síntese 
 
 Ver jurisprudência: para terminar e aguçar ainda mais o seu interesse, 
vamos conhecer o voto do acórdão, com o intuito de aprofundar sobre o 
significado da prática abusiva de venda casada. 
 Vejamos também os exemplos colacionados pelo Tribunal de Justiça do 
Distrito Federal e Territórios em obra disponibilizada em seu site sobre o CDC. 
 
63 
 
 
 Síntese 
Como vimos, o CDC explica o termo "venda casada" como sendo o 
condicionamento do fornecimento de um produto ou serviço, ao 
fornecimento de outro, sendo essa prática considerada abusiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64 
 
Unidade 3 - Recusa

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