Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APOSTILA DE INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA (Com noções em Aconselhamento Bíblico) Letra grega Psi PROFESSOR PR. LUCAS LIMA Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 2 CONTEÚDO INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................04 1. A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO .............................................................................04 1.1 JOHN LOCKE E A PSICOLOGIA ...........................................................................................06 1.2 DAVI HUME E A PSICOLOGIA ...........................................................................................06 1.3 DARWIN E A PSICOLOGIA ................................................................................................06 1.4 WILHELM WUNDT E A PSICOLOGIA .................................................................................07 1.5 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA ...................................................................08 1.6 O PRINCÍPIO DO SENTIDO. ..............................................................................................08 2. ABORDAGENS PSICOLÓGICAS, ESCOLAS E PENSADORES .......................................................09 2.1 ESTRUTURALISMO .........................................................................................................09 2.2 FUNCIONALISMO ...........................................................................................................10 2.3 ASSOCIACIONISMO .......................................................................................................10 2.4 PAVLOV E A REFLEXOLOGIA ..........................................................................................10 2.5 BEHAVIORISMO ............................................................................................................11 2.5.1 BURRHUS FREDERIC SKINNER ............................................................................11 2.6 GESTALT – PSICOLOGIA DA FORMA ..............................................................................12 2.7 PSICANÁLISE ................................................................................................................12 2.8 HUMANISMO ...............................................................................................................15 2.8.1 A PIRÂMIDE DE MASLOW .................................................................................16 2.9 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL ........................................................................................16 2.10 PSICODRAMA ..............................................................................................................17 2.11 PSICOLOGIA ANALÍTICA ...............................................................................................18 2.12 PSICOLOGIA COGNITIVA ..............................................................................................19 3. O CONCEITO DE SAÚDE E OS PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS .......................................19 3.1 O CONCEITO DE SAÚDE ................................................................................................19 3.2 TRANSTORNOS MENTAIS .............................................................................................21 Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 3 3.3 PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS .............................................................................22 3.3.1 DEPRESSÃO ........................................................................................................22 3.3.2 ANSIEDADE ........................................................................................................25 3.3.3 TRANSTORNO BIPOLAR ......................................................................................26 3.3.4 TOC (TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO) ..................................................28 3.3.5 ESQUIZOFRENIA .................................................................................................30 3.3.6 HIPERATIVIDADE (DÉFICIT DE ATENÇÃO).............................................................33 4. TEORIA DOS QUATRO TEMPERAMENTOS ...............................................................................35 5. TAREFA – TESTE DE PERSONALIDADE .....................................................................................37 6. A PSICOLOGIA E A BÍBLIA – NOÇÕES DE ACONSELHAMENTO BÍBLICO .....................................38 7. GLOSSÁRIO ............................................................................................................................40 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................................42 Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 4 INTRODUÇÃO A Psicologia talvez seja uma das mais controversas ciências da atualidade. Amada por uns e odiada por outros, sem dúvida ainda permanece obscura para a grande maioria. Alguns grupos evangélicos e católicos tratam-na como coisa do diabo. Até mesmo cientistas questionam sua autenticidade como ciência, visto que seu propósito é adentrar o campo ainda obscuro das emoções e do funcionamento do cérebro. Se para estudiosos e religiosos ela não é unanimidade, quem dirá para outros grupos de pessoas? Mas, antes de qualquer conclusão ou preconceito, é preciso conhecer as propostas, técnicas e abordagens da Psicologia. A partir de uma análise mais aprofundada, pode-se então chegar a alguma conclusão, quer seja de apoio, questionamento ou repulsa. A Psicologia é uma das mais complexas ciências da atualidade. Estudar a alma humana talvez seja a mais complexa de todas as tarefas, visto que as pessoas são frutos de influências genéticas, sociais, físicas, ambientais, cognitivas e espirituais. De forma direta ou indireta, outras ciências se juntam à Psicologia nessa empreitada. São elas: neurologia, filosofia, psiquiatria, sociologia, pedagogia, etc. A Psicologia, no entanto, busca adentrar as profundezas do SER humano, identificando suas motivações, traumas e carências. Ninguém que se aprofunde nesta ciência saíra ileso. Um dos diferenciais da Psicologia é sua proposta de não encontrar respostas ou soluções simples e prontas para coisas que são complexas por natureza (Ex.: um psiquiatra que trata a depressão com antidepressivo na cura da mesma e desconsidera os fatores causadores e desencadeantes do mal). A Psicologia procura entender quem é o ser humano e como ele age e reage. Antes de qualquer tentativa de comparar ou colocar em choque a Psicologia e a Teologia, vamos conhecer o campo psicológico sem preconceitos e com a certeza de que, como toda ciência, a Psicologia é fruto da busca do homem para se autoconhecer. Uma coisa é certa: ao se conhecer melhor, o homem não conseguirá fugir da verdade de que há um vazio enorme em sua alma... Um espaço que só Deus pode preencher por completo. 1. A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO (INFLUÊNCIAS RECEBIDAS) Tendo em vista que desde o início dos tempos o ser humano busca conhecer suas origens, o mundo que o rodeia e seu interior, não seria difícil afirmarmos que os antigos filósofos, os pré-socráticos, eram em sua essência psicólogos, mesmo que ainda não fossem assim denominados. Na busca da compreensão sobre a origem do homem, destacam-se duas visões: o Criacionismo e o Evolucionismo. Na primeira corrente, crê-se que um Ser Superior tenha criado todas as coisas que existem de forma distinta, permanecendo invariáveis (todo ofundamento, o homem, as plantas e os animais). Este relato encontra-se pormenorizado na Bíblia Sagrada, o livro sagrado dos cristãos. A segunda corrente, conhecida como Evolucionismo, é aquela que apresenta o mundo como algo em processo de mudança genética em que as características de toda uma espécie são alteradas durante muitas gerações, com a função de proporcionar uma melhor adaptação dos indivíduos daquela espécie ao meio ambiente, processo conhecido como Seleção Natural. O que diferencia a primeira corrente da segunda é que no Criacionismo o ingrediente que move esta compreensão é a fé, enquanto que o Evolucionismo é uma teoria científica, proposta e divulgada por Charles Darwin, em sua obra A Origem das Espécies. Mas, independentemente das questões de origem do Universo, o ser humano sempre se interessou pelo seu universo interior. “De onde vim e para onde vou?” e também “Quem sou e qual meu papel neste Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 5 mundo?”. As respostas para estas perguntas trariam alívio para a própria angústia e inquietação inerentes ao ser humano. Era preciso entender as próprias emoções, ansiedades, sentimentos, o porquê da existência, do nascimento e da morte. Este processo de autoconhecimento é importantíssimo, pois nos leva a entender que não precisamos e nem devemos fugir das sensações desconfortáveis, mas sim devemos enfrentá-las para encontrar equilíbrio em nossa jornada terrena. Um dos maiores equívocos atuais talvez seja o de querer se livrar a todo e qualquer custo da dor e dos sofrimentos. Mas eles são parte da complexa natureza humana. Não existem fórmulas miraculosas para fazer com que o ser humano pare de sofrer, por mais que os livros de autoajuda, a religião, a ciência e a filosofia digam o contrário. A Psicologia, a Teologia e todas as áreas do conhecimento humano devem se empenhar sim em entender a alma humana e aprender a lidar com a própria existência, repleta de vitórias e derrotas. A aflição foi e ainda é tema de muitos estudos. O próprio mestre Jesus ensinou aos seus seguidores que a vida seria de aflições. Seria então correto afirmar que a Psicologia surgiu com base em dois ramos distintos do conhecimento: a Filosofia e a Medicina. Por que não dizer então que a Psicologia é a resposta humana para o que a Teologia há tempo já nos ensina? Talvez muitos psicólogos não aceitem tal posição, mas, se analisarmos o objetivo de Deus ao criar o homem, vemos que, com o passar das gerações, novas teorias humanas são criadas, mas, no fundo, apenas corroboram o que Jesus buscou ensinar com toda sua história de vida. A primeira grande obra psicológica de que se tem notícia é do pensador Aristóteles (384-322 a.C.), De Anima (Acerca da Alma). Embora já se estudasse a alma humana, o termo Psicologia só aparece no século XVI, com Rodolfo Goclênio. A palavra psicologia tem sua raiz etimológica nos termos (psiché – alma + logos – razão, estudo). Apesar de sua história não ser antiga, sua regulamentação como profissão ocorreu apenas em 27 de agosto de 1962, quando passou a se comemorar o “dia do psicólogo”. Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado, mas com uma curta história de reconhecimento enquanto atividade profissional e ciência. A partir de relatos históricos da Índia, China, Ásia Menor, etc., vê-se que o ser humano sempre refletiu sobre a alma, morte e imortalidade, bem e mal, e as causas dos medos e preocupações. A partir da compreensão de que a alma do ser humano e a sua existência são assuntos interligados, e que o ser humano está sempre em processo de aprendizagem, não há dúvidas de que a Psicologia é uma ciência em construção e o psicólogo, um profissional que nunca estará pronto, mas sempre em formação. Aristóteles foi o divulgador da ideia de que o todo vem antes das partes e é, portanto, mais do que o somatório das partes. Ex.: Uma floresta é mais do que o somatório das suas árvores, arbustos, ervas e animais que a constituem; é, na verdade uma totalidade própria com características especiais que pertencem à totalidade. Assim também é o ser humano, no domínio psíquico, uma totalidade especial, muito mais do que uma soma de pensamentos e emoções isoladas. Este pensamento se perpetuou através da corrente psicológica conhecida como Gestalt ou Psicologia da Forma. Esta concepção opõe-se à ideia de Wilhem Wundt (1832-1920) de que o todo da mente humana é constituído a partir de processos elementares, a qual denominou, a princípio, de a moderna Psicologia Científica, orientada pelo pensamento atomista da Física. Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como aquilo que vivifica a vida. No entanto, a resposta de como esse processo ocorria não foi encontrada. Tales de Mileto (625-556), primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia, muito antes de Aristóteles, considerou o movimento como algo essencial para o processo de vivificação. Defendeu a existência de uma substância fundamental que daria origem ao movimento e à transformação da vida. Para ele, o princípio de tudo era a água. "O morto resseca, enquanto os germes são úmidos e os alimentos, cheios de seiva", ele dizia. Alguns filósofos da Antiga Grécia pensavam que a alma era "ar"; outros, que os odores eram os elementos vivificantes. Platão (427-347 a.C.) qualifica a alma de ser espiritual; seu discípulo Aristóteles a considerava Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 6 como uma força, aliás, incorpórea, que movia e dominava os corpos. A partir de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela especulação, existiam, contudo, também já na antiguidade, estudos amplos sobre processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos sensoriais e sobre perturbações destas funções em caso de lesões cerebrais. Muito se houve falar sobre a teoria dos quatro temperamentos (a qual estudaremos mais adiante), sobretudo em livros norte-americanos de Psicologia e aconselhamento, mas a grande verdade é que esta doutrina remonta ao grande médico grego Hipócrates (460-377 a.C.), conhecido como o “pai da medicina”. O médico romano Galeno (201-131 a.C.) retomou e desenvolveu tal teoria. Os humores ou temperamentos seriam: sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático, seguindo princípios físicos de identificação. Apesar do seu funcionamento pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos afirmou-se na prática e os quatro tipos foram finalmente introduzidos como noções da nossa linguagem diária. Outro importante nome ao estudarmos os primórdios da Psicologia é o de Agostinho, ou Santo Agostinho (354-430), pelo fato de ter descoberto dois métodos importantes: o da auto-observação e o da descrição da experiência interior, dando origem a uma Psicologia mais subjetiva e qualitativa, baseada na fala e na introspecção, ao contrário daquela que prioriza apenas o comportamento observável. De certa forma, pode-se citar a Psicologia Europeia como aquela que mais se aproxima de uma prática menos comercial e imediatista para uma mais aprofundada e introspectiva, denominada por alguns de “Psicologia Profunda”. 1.1 JOHN LOCKE (1632-1704) E A PSICOLOGIA Grande parte das pessoas que trabalha na educação já ouviu falar que “a criança é como uma folha em branco na qual são registradas várias experiências”. Esta ideia, que também influenciou bastante a Psicologia, principalmente as abordagens que priorizam a experiência como principal fonte de formação do ser humano, provém de um pensador chamado John Locke. Locke destacava que as impressões sensoriais são de grande importância para o desenvolvimento de nossa experiência. Imaginou o espírito da criança como uma folha em branco (tábula rasa) na qual serão registradas as experiências. John Locke também tem papel decisivo na Pedagogia e na Psicopedagogia. 1.2 DAVID HUME(1711-1776) E A PSICOLOGIA David Hume foi um filósofo escocês que aperfeiçoou a teoria aristotélica das associações. Hume ensinou que as representações eram imagens de impressões sensoriais e se encontravam ligadas umas às outras com base em leis mecanicamente funcionais. Reforçando o pensamento de Aristóteles, formulou as leis da associação do contato espaço-tempo, da semelhança, do contraste e da causalidade. Desde então se verifica a importância que as experiências exercem sobre a vida de todo ser humano, gerando gratificação ou traumas. As experiências têm uma função primordial na estrutura do indivíduo, principalmente de zero a seis anos de vida. Aquilo que é vivenciado nesta fase torna-se determinante na vida adulta. A forma de ser, de reagir e de enfrentar as crises em boa parte é construída na infância, assim como a forma feliz de celebrar a vida em seus detalhes mais simples. 1.3 CHARLES DARWIN (1809-1882) E A PSICOLOGIA A Psicologia sempre viveu o dilema de optar entregar-se à objetividade, para que ocorresse a apropriação do fazer científico, ou exercer um modo alternativo de fazer seus estudos da maneira mais alternativa e aberta à especulação e assim correr o risco de não ser legitimada nos meios acadêmicos. Pela própria raiz eminentemente filosófica, toda a Psicologia fora praticada até meados do século XX de modo predominantemente especulativo. Julgava-se poder solucionar todos os problemas a partir da reflexão, da análise e da síntese. Ledo engano. Atualmente, percebe-se que Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 7 as alternativas acima citadas não são excludentes, mas que podem se complementar e se enriquecer mutuamente e assim o fazer científico enriquece seu olhar, tornando-se mais holístico e menos fragmentado. Um exemplo desta visão integral do indivíduo e seus problemas é o caso de alguém que esteja com gastrite. Esta pessoa pode ser tratada como alguém que tem uma irritação gástrica ou então pode ser avaliada interdisciplinarmente, em que profissionais de diversas áreas identificam as causas físicas, alimentares e emocionais que levaram o paciente a este estado doentio no estômago, o qual passa então a ser denominado como órgão de choque. Quanto ao modo empírico de fazer ciência, pode-se afirmar que um dos principais impulsos na Psicologia teve sua origem nas observações e experimentos de Darwin, fundador da moderna teoria genética e da hereditariedade. Como citado anteriormente, a sua obra de maior impacto para a ciência foi “A Origem das Espécies” (1859). Esta obra, publicada para garantir originalidade e reconhecimento de autoria, visto que outros escritores começavam a apresentar ideias semelhantes, inclusive anteriormente a seus escritos. A obra de Darwin influenciou de modo revolucionário quase todos os domínios da ciência, desde a Física e a Química, passando pela Biologia, até chegar à Psicologia. Ela promove debates acalorados e inúmeras teses, colocando teólogos e cientistas como inimigos frontais, lógico, dentro de uma perspectiva excludente e fragmentada. Além de suas investigações biológicas, Darwin ocupou-se igualmente de uma série de problemas que hoje denominaríamos psicológicos. As ideias de Darwin deram um novo impulso à investigação psicológica e constituíram o fundamento para muitos campos da moderna Psicologia, tais como: a Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia Animal; o estudo da expressão dos movimentos afetivos, a investigação das diferenças entre os diversos indivíduos; o problema da influência da hereditariedade em comparação com a do meio ambiente; o problema do papel da consciência; e, logo a seguir; o estudo experimental das funções anímicas, como também a introdução do princípio quantitativo da investigação. 1.4 WILHELM WUNDT (1832-1920) E A PSICOLOGIA Médico, filósofo e psicólogo alemão, Wilhelm Wundt é considerado o pai da Psicologia moderna, devido à criação, em 1879 do Instituto Experimental de Psicologia, em Leipzig. Desenvolveu, além disso, um sistema amplo para o nascimento desta nova ciência, pesquisando aspectos que iam desde a Psicologia Experimental Fisiológica até a Psicologia dos Povos, dando origem ao que hoje se conhece como Psicologia Social e Comunitária. Um fato curioso sobre Wundt é que sua base teórica sobre a Psicologia era proveniente da Física. Não é à toa que hoje termos como “campos de tensão” são utilizados em dinâmicas de grupo. Wundt pretendia encontrar elementos e processos elementares, pois acreditava poder construir a alma como um todo. Apesar da grandiosa concepção fundamental, a Psicologia dos Povos de Wundt não levou a quaisquer resultados duradouros, precisamente no que se refere à compreensão dos fenômenos mais complexos ou mesmo daqueles que dizem respeito ao desenvolvimento humano, mesmo porque Wundt não chegou a desenvolver um conceito preciso daquilo que seria essa área, chamada Psicologia dos Povos (mais adiante veremos as abordagens que resultaram do trabalho de Wilhelm Wundt). Enquanto Wundt trabalhava seus conceitos, outros pensadores, paralelamente, estudavam os fenômenos de maturação por meio da observação de animais e crianças, o que daria origem à Psicologia do Desenvolvimento. Esse sistema de pensamento incide exclusivamente sobre a observação do comportamento animal e humano e dos processos de maturação de tal comportamento. De Francis Galton a Lloyd Morgam, William McDougall, Thorndike, Yerkes e John B. Watson, encontramos uma série de investigações brilhantes que se ocupam das questões da hereditariedade, do comportamento animal, dos instintos e do comportamento infantil. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 8 O estudo do comportamento observável é um dos pilares doutrinários do Behaviorismo e os estudos realizados por seus seguidores baseavam-se quase que exclusivamente em observações de animais e de crianças. Hoje em dia, a Psicologia Animal e a Psicologia Infantil constituem dois ramos extremamente vastos e significativos da investigação psicológica, apesar de que já são necessários vários cuidados legais, pelos abusos antes cometidos por pesquisadores menos avisados. Para pesquisas que envolvam seres humanos, por exemplo, é necessário, atualmente, que seja assinado um termo de Livre Consentimento. É preciso conhecer de que trata a pesquisa e os possíveis riscos envolvidos, para assim decidir se deseja fazer parte da experiência ou não. Praticamente toda a teoria piagetiana foi obtida a partir de observações dos seus próprios filhos. Um estudo cuidadoso e que certamente exigiu muito do espírito investigativo de Piaget. Foram anos a fio para que fosse possível elaborar a sua teoria, de contribuição inestimável também para a Psicologia Clinica infantil. 1.5 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA É impossível falar da Psicologia da Inteligência e da Forma sem citar nomes como: Franz Brentano (1838- 1917), Christian von Ehrenfels (1859-1932) e Edmund Husserl (1859-1938). Estes dois grupos, que costumam normalmente ser designados por Escola de Wurzburg e de Berlim, insistiam na compreensão das relações de sentido e na percepção de formas, ou seja, de formas e totalidades. São processos de uma espécie própria e não se podem explicar como sendo formados por elementos, ou seja, a forma não se mostra absoluta, mas existe uma relação entre a forma e a percepção de quem vê, para que haja um sentido. Esse pensamento explica, de certa forma, a existência da relatividade e do significado da arte. O valor da obra artística, uma tela, por exemplo, está no significado atribuído pelo observador. Esta Escola Psicológica demonstra que o todo tem um significado maior do que o que teria simplesmente se as suas partes fossem unidas. Fazendo uma analogia a esse pensamento e demonstrando-o, por exemplo,na rotina de uma policlínica, diria que trabalhar numa equipe interdisciplinar de saúde tem um efeito muito superior a que tentar unir conclusões de trabalhos isolados de diversos profissionais de saúde, produzidos de forma individualizada. Daí ser a máxima desta Escola: "O todo é mais que a soma de suas partes". Os pensadores da Psicologia da Inteligência e da Forma apresentavam, além disso, a comprovação experimental para demonstrar sua tese. Não são as representações, mas sim as suas relações que decidem o sentido de um pensamento, afirmou Karl Buhler, um dos jovens representantes da Escola de Wurzburg, ao ser contestado por Wundt. As percepções estruturais do pensamento são operações específicas, por meio das quais se constroem as nossas percepções: as impressões sensoriais não são simplesmente refletidas e ligadas umas com as outras, mas dá-se a partir de diferentes centros cerebrais, uma projeção das impressões sensoriais em diferentes direções, o que faz com que cada pessoa interprete e veja o mundo de uma determinada forma. (Pimentel, 2003; Perls, 1969). 1.6 O PRINCÍPIO DO SENTIDO "Minha vida carece de sentido". “É preciso dar sentido à existência". "Menino, dê um rumo à sua vida!". Todos certamente já ouviram frases assim, que denotam, de certa forma, a necessidade de que a vida tenha um significado, uma direção, senão se transformaria num barco a derivas. Eduard Spranger trouxe á Psicologia o que denominava de valores espirituais, aos poucos retornando á mesa de discussão, dentro de uma perspectiva mais abrangente e menos reducionista. "Reivindico a palavra Psicologia para a ciência da vida provida de sentido" declarou Eduard Spranger no ano de 1922, numa máxima verdadeiramente clássica. A palavra "sentido" é definida aqui de modo diferente do que na Psicologia da Inteligência, para a qual sentido significa o contexto espiritual de um pensamento. Sentido aqui é definido como "aquilo que está integrado num todo de valores como membro constituinte" ou, por outras palavras, provido de sentido é aquilo que contribui para a realização de valores, o que amplia a função da Psicologia, de apenas Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 9 explicativa para algo compreensivo. Spranger, que, seguindo as ideias de Wilhelm Dilthey (1833-1911), contrapõe uma Psicologia compreensiva à Psicologia explicativa dos experimentalistas. O essencial na vida humana passa a ser a orientação dos valores. Dever-se-ia compreender a pessoa a partir do "espírito objetivo", produtor de valores. Na linguagem da moderna Psicologia isso quer dizer que Spranger se ocupava exclusivamente com as finalidades de valor e com os produtos de cultura formados através deles, enquanto considera o estudo da realização das ações humanas desprovidas de importância. Porém, como Karl Buhler acentua na sua obra "A Crise da Psicologia", ambos os aspectos são importantes. É necessário entender que se tratam apenas de aspectos diferentes de um mesmo ser, o ser humano. Portanto, uma dimensão não deve excluir a outra, mas a ela se complementar. Ação e sentido são inerentes à alma da pessoa. De nada adianta a execução de tarefas se aquilo não vier provido de sentido e, a falta deste sentido tem promovido diversos transtornos psíquicos no mundo do trabalho. Um terceiro grupo ocupou-se ainda de outra maneira com a relação de sentido das finalidades. Este fato mostra cada vez mais claramente que o ponto de vista do sentido ocupa um plano especial na Psicologia atual. É a relação de sentido da ação motivada, tal como Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da Psicanálise, a viu e descreveu - aliás, descreveu-a, no inicio da sua teorização dentro dos limites daquilo que ele definiu como Libido, e que pode ser rapidamente conceituado como energia vital. Aos poucos a relação de sentido da ação motivada foi se ampliando, até compreender-se a concepção cada vez mais divulgada de que todo o nosso pensamento e procedimento visam à satisfação de determinadas necessidades e adquire o seu sentido a partir de tal necessidade ou desejo. Sob este ponto de vista, todo o procedimento é provido de sentido, uma vez que é determinado por motivos. Mesmo o pensamento e procedimento daqueles que estão em sofrimento psíquico têm sentido, isto é, tem em vista um objetivo, ainda que o sentido dos próprios objetivos se já mal compreendido naquele momento. No entanto, uma vez que mesmo esse sentido mal compreendido é muitas vezes susceptível de ser interpretado pelo analista, é possível, em muitos casos, ajudar a pessoa a adquirir uma melhor auto-compreensão e a partir daí um modo de vida mais equilibrado e harmônico. Dentro de uma perspectiva psicanalítica, pode-se afirmar que até aquilo que se sonha é provi do de sentido, visto que lhe é inerente uma finalidade dirigida no sentido da satisfação de necessidades. A interpretação, introduzida por Freud no pensamento psicológico como novo princípio fundamental, deve ser utilizado sempre que a pessoa que atua oculta a si própria e aos outros o verdadeiro objetivo dos seus anseios. Em tais casos, ela pensa e atua simbolicamente, quer dizer, (acontece inconscientemente), em vez do objetivo verdadeiro coloca um objetivo substituto ou ilusório, para desviar a atenção das intenções que lhe parecem contestáveis, reprováveis ou puníveis. No principio do sentido amplo aqui desenvolvido, encontram-se incluídos, tanto o principio da relação do sentido no nosso pensamento, acentuado pela Psicologia da Inteligência, como o princípio do sentido das finalidades de valor, defendido por Spranger. Atravessada por várias teorias, recorrendo a métodos e técnicas de investigação diversificada, organizada em várias especialidades, a Psicologia procura, nesta diversidade, responder às questões que desde sempre se colocaram acerca do comportamento, emoções, sentimentos, relações sociais, sonhos, perturbações... (NASIO, 1988) 2. ABORDAGENS PSICOLÓGICAS, ESCOLAS E PENSADORES 2.1 ESTRUTURALISMO Considera-se como fundador da Psicologia moderna Wilhelm Wundt, por ter criado, em 1879 , o primeiro laboratório de Psicologia na universidade de Leipzig, Alemanha. A Psicologia só se tornou uma ciência independente da filosofia graças a Wundt, no final do século XIX. Foi a partir deste acontecimento que se desenvolveram de forma sistemática as investigações em Psicologia, através de vários autores que a esta ciência se dedicaram, construindo múltiplas escolas e teorias. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 10 Wundt criou o que, mais tarde, seria chamado de Estruturalismo, por Edward Titchener; cujo objeto de estudo era a estrutura consciente da mente, as sensações. Segundo esta perspectiva, o objetivo da Psicologia seria o estudo cientifico da Experiência Consciente através da Introspecção. Titchener levou a ideia da Psicologia para os Estados Unidos da América, modificando-a em alguns pontos. As principais limitações do Estruturalismo residem no fato de a introspecção não ser um verdadeiro método científico incontestável e de esta corrente excluir a Psicologia animal e infantil. Esta corrente foi extinta em meados do século XX (Badcock, 1976). 2.2 FUNCIONALISMO O Funcionalismo é o modelo que substitui o Estruturalismo na evolução histórica da Psicologia, sendo o seu principal impulsionador William James. O principal interesse desta corrente teórica residia na utilidade dos processos mentais para o organismo, nas suas constantes tentativas de se adaptar ao meio. O ambiente é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento. (Cultural, 1974). 2.3 ASSOCIACIONISMO Wilhem Wundt (1832-1920), juntamente com o seu discípulo Tichener, inicia o caminho que irá levar a Psicologia a atingir o estatuto de ciência. Começa por definir como objeto da Psicologia o estudoda mente: O estudo da mente (ou consciência) faz-se ao nível do consciente do ser humano pela análise dos elementos simples da mente, à semelhança da divisão em átomos da realidade. (Monteiro 2003). Para ele e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867-1927), as operações mentais não eram mais do que a organização de sensações elementares, procurando relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso. No seu laboratório, em Leipzig, vai procurar conhecer a forma como se relacionam e associam os elementos da consciência: é a concepção associacionista (vide associacionismo) dos comportamentos. Para atingir este objetivo, vai utilizar como método a introspecção (observação interna), mas de um modo controlado: Observadores treinados deveriam, no laboratório, descrever as suas próprias experiências, resultantes de uma situação experimental definida. Os dados eram depois relacionados e interpretados por uma equipe de psicólogos; ex.: após a apresentação de um estímulo visual ou som teriam de descrever as sensações recorrendo a um conjunto definido de termos para maior objetividade. 2.4 PAVLOV (1849-1936) E A REFLEXOLOGIA Você está condicionado a fazer isto ou aquilo. Joãozinho precisa de um reforço escolar. Os trabalhadores da empresa estão sem estímulo. Sequestradores precisariam ser punidos no Brasil. Todos não já ouvimos expressões desse tipo pelo menos uma vez na vida. Em grande parte o nosso vocabulário de base comportamentalista se deve ao pensador e filósofo russo chamado Pavlov, devido a uma de suas clássicas experiências fisiologistas e uma das mais conhecidas é a que ele realizou com cães. De modo simples esse experimento pode ser descrito de forma simplista, da seguinte forma: O cientista tocava uma sineta e em seguida oferecia alimento ao cão. Depois de algumas vezes repetindo essa experiência ele passou a apenas tocar a sineta e observou, através de equipamentos de laboratório que esse simples estímulo fazia com que as glândulas salivares do cão produzissem secreção e exibir um comportamento de esperar pela chegada do alimento. Esse comportamento poderia ser reforçado e se tornar cada vez mais forte ou se tornar tênue até a ponto de ser extinto, a depender das variáveis apresentadas ao sujeito. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 11 Os conhecimentos advindos dos experimentos de Pavlov se generalizaram e, com as devidas adaptações, puderam se r utilizados em muitas outras áreas e atualmente são empregados nos setores empresarial, escolar e clínico, principalmente. Na área de adestramento animal, até hoje os princípios da Reflexologia de Pavlov são empregados. Pavlov continuou sua pesquisa em ritmo intenso, estudando minuciosamente aquilo a que hoje denominamos sistema nervoso e sistematizou um conjunto de leis fisiológicas, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1904. Segundo este cientista, é no córtex cerebral o local onde reside o espírito. É lá onde os comportamentos nascem, modificam-se e são extintos. Atualmente, estas ideias já não são utilizadas de forma tão radical, apesar de muitas delas se fazerem presentes, de forma mais sutil, no chamado neobehaviorismo; contudo, é na aprendizagem onde ganha um forte impacto. Veja o nosso sistema de avaliações, por exemplo! O pensamento pavloviano foi aprofundado pelo cientista J.B.Watson. Ao reflexo condicionado de Pavlov, ele acrescentou o condicionamento denominado operante. Era tanta a confiança de Watson que ele afirmou em certa ocasião que bastava entregar nas mãos dele uma dúzia de crianças bem nutridas e um ambiente favorável no qual ele as transformaria naquilo que ele quisesse e isso não iria depender da raça, aptidões ou inclinações intelectuais. Da mesma forma, poderia transformar essas crianças em ladrões ou pedintes, caso desejasse. Essa forma de pensar e fazer a Psicologia trouxe para si um sem-número de críticas, principalmente a de ser "reducionista", ou seja, o pensar psicológico estaria reduzido ao comportamento, fosse ele humano ou animal. O fato é que, por causa desse sistema de conhecimentos sobre o comportamento, a Psicologia pode ser reconhecida atualmente como Ciência, embora ainda seja vista com certa desconfiança pelos pensadores mais radicais de outras áreas, principalmente aquelas mais antigas, como o Direito e a Medicina. É lógico que isso não se aplica a todos. Para os behavioristas, entretanto, que se utilizavam e ainda se utilizam, do conhecimento objetivo, todo e qualquer comportamento poderia ser medido, quantificado, controlado, como também a possibilidade de repetir ações poderia ser prevista. Dentro de uma perspectiva mais radical, pode-se afirmar que a hereditariedade não é levada em conta e o ambiente só é considerado como forma de exercer um maior controle sobre as variáveis. Emoções não são levadas em conta. Não se cogita o subjetivo. Contudo, houve um intenso estudo dos processos cognitivos, dando origem em grande parte àquilo que hoje se denomina Neuropsicologia. O pensamento Behaviorista Radical é norteado por princípios que aos nossos olhos podem parecer estranhos, a depender da perspectiva com que observarmos esses parâmetros: Essa corrente apregoa que todo e qualquer comportamento se constitui de uma resposta a estímulos. Comportamentos simples são formados por cadeias menores e comportamentos mais complexos são simplesmente o somatório de redes mais simples de comportamentos interligados. O comportamento humano passa a ser visto, então, como fruto dos movimentos musculares e das secreções glandulares, o que parece absurdo aos nossos olhos. Watson não se resumiu à vida acadêmica, mas chegou a ser vice-presidente de uma agência de propaganda. Dentro dessa linha de pensamento também se destacaram nomes como Skinner, Tolman e Hull. 2.5 BEHAVIORISMO J. B. Watson (1878-1958) - Fonte: John B. Watson. Retirado de arbeitsblaetter.stangl-taller.at A maior escola de pensamento americana surgiu no inicio do século XX, sendo influenciada por teorias sobre o comportamento e fisiologia animal. A tradução do inglês de Behavior é comportamento, portanto, o foco de estudo do comportamentismo ou Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 12 comportamentalismo (titulo traduzido) é o comportamento observável, e o condicionamento é o método utilizado nesta escola. Foi fundada por John B. Watson (Behaviorismo Metodológico) que acreditava que o controle do ambiente de um indivíduo permitia desencadear qualquer tipo de comportamento desejável. Traz do funcionalismo a aplicação prática da Psicologia; o seu foco está na aprendizagem. Segundo esta perspectiva não se pode estudar cientificamente os pensamentos, desejos e sentimentos que acompanham os comportamentos em estudo. (Watson, 1972). 2.5.1 BURRHUS FREDERIC SKINNER (1904-1990) Foi influenciado, inicialmente, pelas teorias de Ivan Pavlov e Edward Thorndike. E, posteriormente, pelas teorias do operacionismo. Foi Burrhus Frederic Skinner o maior autor neocomportamentalista, levantando a tona seu condicionamento operante e a modificação do comportamento (Behaviorismo Radical). No meio do século XX, vários autores escreveram sobre o pensamento, a cognição. Diziam fazer parte do comportamento este pensamento, estava sendo criada uma divisão no behaviorismo: a Psicologia Cognitiva . Alguns autores desta escola foram: Albert Bandura, Julian Rotter e Aaron Beck . Estes falavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição. O aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado. É chamada de a primeira grande força da Psicologia (Skinner, 2006). 2.6 GESTALT, A PSICOLOGIA DA FORMA Fundada dentro da filosofia por MaxWertheimmer e Kurt Koffka a Gestalt traz novas perguntas e respostas para a Psicologia. Ela se detém nos campos da percepção e na visão holística do homem e do mundo. A palavra gestalt não tem uma tradução para o português, mas pode ser entendida como forma, configuração. Criticava principalmente a Psicologia de Wundt, que era chamada de Psicologia do "tijolo e argamassa", pois via a mente humana dividida em estruturas. A gestalt preocupa-se com o homem visto como um todo, e não como a soma das suas partes (o lema da Gestalt é, como visto anteriormente, justamente este: O todo é mais que a soma das suas partes). No ano de 1951, Frederic S. Pearls cria a teoria Gestalt - terapia, trazendo consigo a teoria de campo de grupos de Kurt Lewin. ________________________________________ ________________________________________ ____________________________________ ____________________________________ 2.7 PSICANÁLISE Sigmund Freud (1856-1939). Retirado de www.thecjc.org/sfreud.htm Quando se pensa em procurar um psicólogo, um emaranhado de ideias invade a mente: Tem-se a falsa impressão de que é preciso estar transtornado emocionalmente ou mentalmente para procurar ajuda. Na verdade o psicólogo deveria trabalhar numa perspectiva muito mais de Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 13 promoção à saúde que propriamente no âmbito meramente curativo, mas os preconceitos em relação ao seu trabalho muitas vezes o impedem de trabalhar dentro dessa perspectiva. Também se imagina uma sala sombria, com móveis pretos e um divã. Atrás dele alguém calado e de aspecto severo, fechado. Muito desse imaginário coletivo faz parte do legado deixado por Sigmund Freud, Pai da Psicanálise. Na verdade nem todo psicanalista é psicólogo. Ele pode ser formado em Medicina, por exemplo. O médico psiquiatra também pode se utilizar a Psicanálise para a elaboração de alguns conceitos. O psicólogo por sua vez, trabalha dentro do que denomina abordagem, que pode ser: Humanista, Existencialista, Behaviorista ou Psicanalista, a depender da base teórica que de sustentação é sua prática. Isso também não quer dizer que o psicólogo só possa utilizar-se dos conhecimentos de sua abordagem. É cada vez maior o número de psicólogos denominados temáticos, ou seja, aqueles que se utilizam diversos arcabouços teóricos, a depender da demanda daquele momento. São também denominados de psicólogos ecléticos. Sigmund Freud foi um médico psiquiatra que estudou sobre vários assuntos e levou bem mais tempo que seus colegas para se formar, por ter utilizado boa parte de seus anos em estudos de laboratório. Estudou, por exemplo, temas como a fisiologia dos peixes. O seu interesse pela Psiquiatria, entretanto, se iniciou com as descobertas de Charcot, seu futuro mestre, e os estudos sobre Histeria, considerado naquela época, doença de mulher, principalmente daquelas que não haviam casado. O termo histeria vem de “útero” e até hoje as mulheres solteiras de idade mais avançada são chamadas de forma desprezível, de histéricas. Freud descobriu que a histeria possuía causas emocionais e que as pessoas nas quais eram recalcadas, ou seja, as que não extravasavam seus desejos libidinais, poderiam sofrer de crises histéricas, inclusive homens. Essa descoberta, ao ser proclamada em um encontro científico, causou furor nos médicos presentes, que se retiraram, deixando o Dr. Freud falando sozinho naquele encontro internacional. Freud viu suas aulas particulares se esvaziarem de alunos. Como também suas turmas da faculdade se tornaram pouco frequentadas. Polêmico, mas obstinado, estudava até as três horas da manhã, e muito material escrito acabava sendo jogado no lixo, pois já discordava de tudo aquilo. Suas teorias iam ser reescritas por várias vezes durante a sua vida. Trabalhou com hipnose, mas logo reconhecera a sua falta de habilidade com tal técnica e percebeu que poderia produzir os mesmos efeitos com a técnica da associação livre, o que daria origem à cura pela fala, ou, como ficaria conhecida mais tarde, psicanálise. A Psicanálise foi considerada por Freud como um conhecimento firmado em um tripé composto por técnica, teoria e pesquisa, principalmente. A Psicanálise é conhecida pela investigação do inconsciente e pela descoberta da sexualidade infantil, tema polêmico até hoje. Freud não teve apenas um mestre, mas vários nomes inspiraram sua teoria, desde Goethe a Nietzsche. Costumava ler desde literatura e antropologia, a livros de Biologia e Fisiologia Animal. Também tinha uma predileção por antiguidades. Um personagem importante da psicanálise foi seu discípulo, Carl G. Jung, primeiro presidente da sociedade psicanalítica. Com o avanço da teoria de Freud em relação à sexualidade infantil, Jung, que não concordava com o que Freud afirmava acerca do assunto, rompe com o psicanalista e segue outro caminho, criando uma nova teoria, denominada Psicologia analítica. A proposta inicial foi retirar do inconsciente o seu teor puramente sexual. Mas Freud retifica o ex-colega, dizendo que "o ego possui várias naturezas das pulsões, mas a pulsão sexual é a que ganha mais investimento". Freud, inclusive, alerta que é possível canalizar as pulsões libidinais para as artes ou à produção científica. O conceito de inconsciente foi criado anos antes, e Freud utilizou-se desse termo com outro sentido, encarregando-se de criar uma teoria acerca do tema. Na psicanálise, inconsciente significa outra ordem, com outras regras, um dos elementos do aparelho psíquico, constituído por pensamentos, memórias e Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 14 desejos que não se encontram em nível consciente, mas que exercem grande peso no comportamento humano. Existem atualmente várias correntes psicanalíticas, oriundas de pensadores que ampliaram ou discordaram da visão freudiana. Dentre estes nomes estão Anna Freud, filha de Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion, Winnicott, Carl G. Jung, Alfred Adler, Erik Erikson, Carl Rogers, etc. (TALAFERRO, 1996). A psicanálise hoje se apresenta de várias formas, que são: a psicanálise ortodoxa, a psicanálise nova (ou neopsicanálise) e a Psicologia de orientação analítica ou de orientação psicanalítica (utilizada não só por psicanalistas formados, mas também por psicólogos não especializados), todas com algumas peculiaridades. A Psicanálise é considerada a segunda grande força da Psicologia, e segundo o Conselho Federal de Psicologia Brasileiro e demais Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs). A psicanálise é aceita no meio acadêmico, porém só pode ser utilizada de forma integral com uma formação em Psicanálise, devo dizer que ainda não é reconhecida pelo MEC. Caso contrário, deve-se utilizar a técnica de psicoterapia de orientação psicanalítica. Para a Psicanálise, as ações humanas são orientadas, por três instâncias mentais (simbólicas): - Consciente (EGO) - Raciocínio, operações lógicas; - Pré-consciente (SUPEREGO) - Memórias, interiorização de regras sociais, produzem angústias, ansiedades e "pune" o EGO quando este aceita impulsos vindos do ID; - Inconsciente (ID) - pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece à lógica nem à moral. Representa os impulsos e os instintos. Para ter acesso ao inconsciente, o psicanalista utiliza processos indiretos, tais como: - Hipnose - Consiste em induzir o paciente, através de uma sugestão intensa, a um estado semelhante ao sono, a partir do qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para determinada ação ou comportamento. A hipnose é pouco usada atualmente. Sua utilização se restringe ao controle de comportamentos de uso abusivo de álcool e drogas e só deve ser praticado por profissionaiscapacitados e treinados devidamente. - Método psicanalítico, recorrendo às técnicas de: * Interpretação de sonhos; * Interpretação de atos falhos; * Transferência, ou seja, o paciente atua, durante a sessão, em relação ao psicanalista, como se ele fosse outra pessoa: pai, mãe, namorado, etc. Cabe ao profissional trabalhar com essa "encenação" de forma a levar o paciente à cura de seu trauma. Nesse jogo se encontram envolvidos sentimentos e emoções muito fortes, de raiva, ressentimento, paixão, etc. A Psicanálise se popularizou demais , o que levou seu vocabulário a ser utilizado de forma indiscriminada e também a graves erros de interpretação. Além disso, várias pessoas praticantes de charlatanismo se dizem "psicanalistas". Freud ainda elaborou o que chamava de 4 fases psicossexuais do desenvolvimento: Fase Oral – Período: de 0 a 1 ano aproximadamente. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 15 Características principais: a região do corpo que proporciona maior prazer à criança é a boca. É pela boca que a criança entra em contacto com o mundo, é por esta razão que a criança pequena tende a levar tudo o que pega à boca. O principal objeto de desejo nesta fase é o seio da mãe, que, além de alimentá-la, proporciona satisfação ao bebê. Fase Anal – Período: 2 a 4 anos aproximadamente Características: Neste período a criança passa a adquirir o controle dos esfíncteres, a zona de maior satisfação é a região do ânus. A criança descobre que pode controlar as fezes que sai de seu interior, oferecendo-o à mãe ora como um presente, ora como algo agressivo. É nesta etapa que a criança começa a ter noção de higiene. Fase Fálica – Período: de 4 a 6 anos aproximadamente. Características: Nesta etapa do desenvolvimento a atenção da criança volta-se para a região genital. Inicialmente a criança imagina que tanto os meninos quanto as meninas possuem um pênis. Ao serem defrontadas com as diferenças anatômicas entre os sexos, as crianças criam as chamadas "teorias sexuais infantis", imaginando que as meninas não têm pênis porque este órgão lhe foi arrancado (complexo de castração). É neste momento que a menina tem medo de perder o seu pênis. Neste período surge também o complexo de Édipo, no qual o menino passa a apresentar uma atração pela mãe e a se rivalizar com o pai, e na menina ocorre o inverso. Fase de Latência – Período: de 6 a 11 anos aproximadamente. Características: este período tem por característica principal um deslocamento da libido da sexualidade para atividades socialmente aceitas, ou seja, a criança passa a gastar sua energia em atividades sociais e escolares. A partir dos 11 anos, o agora adolescente, retoma seus impulsos sexuais, partindo então em busca de amor fora do seu grupo familiar. Freud definia como fase Genital. A adolescência é um período de mudanças no qual o jovem tem que elaborar a perda da identidade infantil e dos pais da infância para que pouco a pouco possa assumir uma identidade adulta. 2.8 HUMANISMO Carl Rogers (1902-1987) - www.psychotherapie-netzwerk.de O enfoque da psicanálise no inconsciente, e seu determinismo, e o enfoque na observação apenas do comportamento, pelo behaviorismo, foram as críticas mais fortes dos novos movimentos de Psicologia surgidos no meio do século XX. Na verdade o humanismo não é uma escola de pensamento, mas sim um aglomerado de diversas correntes teóricas. Em comum elas têm o enfoque humanizador do aparelho psíquico, em outras palavras elas focalizam o ser humano como detentor de liberdade, escolha, sempre no presente. Traz da filosofia fenomenológico-existencial um extenso gabarito de ideias. Foi fundada por Abraham Maslow, porém a sua história começa muito tempo antes. A Gestalt foi agregada ao humanismo pela sua visão holística do homem, sendo importante campo da Psicologia, na forma de Gestalt-terapia . Mas foi Carl Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra humanista. Ele, depois de anos afinco praticando psicanálise, notou que seu estilo de terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos, como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu tratamento, portanto não era passivo, como passa a ideia de paciente, denominando então este como cliente. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 16 Era a terapia centrada no cliente (ou na pessoa). Seus métodos foram usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas centradas nos alunos, etc. Apresentou três conceitos, que seriam agregados posteriormente para toda a Psicologia. Estes eram a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender seu sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, em seus defeitos, angústias, etc.). Erik Erikson, também psicanalista, trouxe seu estudo sobre as oito fases psicossociais, em detrimento às quatro fases psicossexuais de Freud, onde todas as fases eram interdependentes, e não necessariamente determinam as fases posteriores; para ele o homem sempre irá se desenvolver, não parando na primeira infância. Viktor Frankl , com sua Logoterapia* , veio a acrescentar os aspectos da existência humana, e do sentido da vida, onde um homem, quando sente um vazio de sentido na vida, busca auxílio, pois não se sente confortável em viver sem sentido ou ideais. Diz também que eventos muito fortes podem adiantar a busca pelo sentido da vida. Tais eventos podem criar desconforto, trauma intenso, mas podem criar um aspecto de fortaleza no indivíduo (ROGERS, 1961, 1974). *A Logoterapia é um sistema teórico – prático de Psicologia, criado pelo psiquiatra vienense Viktor Frankl, que se tornou mundialmente conhecido a partir de seu livro "Em Busca de Sentido" (Um Psicólogo no Campo de Concentração) no qual expõe suas experiências nas prisões nazistas e lança as bases de sua teoria. Para a Logoterapia, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano... A Logoterapia é considerada e desenhada como terapia centrada no sentido. Vê o homem como um ser orientado para o sentido. O Nome surgiu da palavra grega logos que significa razão, palavra, sentido, princípio, etc. 2.8.1 PIRÂMIDE DE MASLOW Maslow trouxe, para a Psicologia que havia fundado, estes autores, agregando, ainda seus estudos sobre a pirâmide de necessidades humanas. Para Maslow, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que sejam saciadas as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de autoestima. Se uma destas necessidades não está saciada, há a incongruência. Quando todas estiverem de acordo, abre-se espaço para a auto-realização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo. Esta é hoje considerada a terceira grande força dentro da Psicologia (FRICK, 1975). 2.9 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL Maslow estava insatisfeito com sua própria teoria, dizendo que lhe faltava o fato de o homem ser um ser espiritualizado. Para ele era importante a espiritualidade e as características da consciência alterada, teoria de Stanislav Grof. Criou então, com ajuda de outros psicólogos, uma teoria que era abrangente neste aspecto. Como Carl G. Jung era um estudioso dos aspectos transcendentais da consciência, foi tomada sua teoria para incorporar a Psicologia transpessoal. A abordagem Transpessoal é, portanto, uma área da Psicologia que estuda as possibilidades psíquicas (mentais, emocionais, intuitivas e somatossensoriais) do ser humano pelos diferentesestados ou graus de consciência pelos quais passa a pessoa (para se ter ideia do que sejam estados de consciência, lembre-se que o estado de consciência de quando se está acordado é diferente do estado de consciência de quando se está dormindo; que o estado de consciência de quando se resolve um problema de matemática é diferente de quando se assiste a um filme, etc.). (Jornal Infinito, 2003). Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 17 Em cada um destes estados de consciência (que são vários, alguns ainda desconhecidos) é experimentado uma forma diferente de se perceber ou interpretar a realidade (quando estamos com raiva ou frustrados, percebemos o mundo de uma maneira bem diferente de quando estamos apaixonados). A Psicologia Transpessoal, portanto, volta-se para o estudo destes diversos estados, não os encarando como contrários, mas como complementares, dando, porém, especial ênfase aqueles estados de consciência superiores, espirituais ou "transpessoais". Porque em tais estados, o sentimento de separação e de egoísmo torna-se um segundo plano em relação a um sentimento e identificação mais ampla, cooperativa, fraternal, transpessoal para com todos os seres vivos (consciência crística, búdica, nirvânica, universal ou ecológica). Segundo a Teoria Transpessoal, Francisco de Assis, Gandhi, Jesus Cristo, Einstein, Luther King e tantos outros grandes nomes foram detentores de outra forma de ver e sentir o mundo que o fizeram capazes de ajudar o próximo e tornaram-se capazes de ver o mundo de outra forma. A essa capacidade eles denominam "consciência cósmica". A Psicologia Transpessoal fala de vários níveis de consciência, que vão do mais obscuro (sombra), até o mais alto grau de consciência, a transpessoal. Por ter seu foco na consciência e seus aspectos, foi também chamada de Psicologia da consciência. Seu estudo é recente e traz muitas características que necessitam de um estudo maior. (TABONE, 2005). Vale ressaltar que a Psicologia Transpessoal ainda não é reconhecida como prática científica pelo Conselho Federal de Psicologia e os psicólogos inscritos no Conselho não estão autorizados a tê-la como prática profissional. 2.10 PSICODRAMA "Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus." (J. L. Moreno) 2.10.1 JACOBO LEVY MORENO (1892-1974) O Psicodrama pode ser considerado como um dos meios psicoterápicos mais inovadores. Falar em Psicodrama nos remete a um médico romeno chamado Jacob Levy Moreno. Ele foi o criador do Psicodrama e do Sociodrama, reverenciado como exemplo de criatividade e dedicação à investigação psicológica e social. Ele nasceu na Romênia em 1892 e faleceu nos EUA em 1974. Foi um homem de ampla cultura e fortes ideias religiosas e filosóficas, amante do teatro e incansável investigador do ser humano e de seus vínculos afetivos; deixou-nos uma vasta obra escrita e um movimento psicodramático que abrange a América, Europa e Ásia. Em 1925, indo morar no EUA, desenvolveu e sistematizou suas descobertas: a socionomia, sendo dividida em sociometria, sociodinâmica e a sociatria. A socionomia é o estudo do grupo e suas relações. A sociometria visa a medir as relações entre os membros do grupo, evidenciando as preferências e evitações presentes nas relações grupais. Utiliza como método o teste sociométrico. A sociodinâmica se interessa pela dinâmica do grupo e utiliza como método o role-playing ou jogo de papéis. Já a sociatria busca tratar as relações grupais e utiliza três métodos: o sociodrama, a psicoterapia de grupo e o Psicodrama. Com a leitura de suas obras, muitos autores declaram que o psicodrama possui um grande conteúdo emocional e uma audácia renovadora, pois surgiu como uma nova e dinâmica linha de investigação para o conhecimento e terapia dos conflitos psicológicos. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 18 Para o surgimento desta teoria, Moreno desafiou criticas, rompeu com o movimento médico da sua época, atacando os valores oficiais, conseguindo desenvolver uma teoria baseada numa concepção de ser humano e de saúde que têm como núcleo a espontaneidade. O otimismo sobre o vital, o amor, a catarse e os papéis que o Eu do indivíduo vai formando (MORENO, 1980). Esta busca pelo reencontro dos verdadeiros valores éticos, religiosos e culturais em uma forma dramática espontânea, (mais tarde, denominado como desenvolvimento do Axiodrama) foi o primeiro conteúdo do Psicodrama. O lugar do nascimento do psicodrama foi um teatro dramático de Viena. Moreno declarou que não possuía nenhuma equipe de atores, nem uma peça e que neste dia apresentou- se sozinho, sem nenhuma preparação, ante um público de mais de mil pessoas. Segundo ele no palco havia somente uma poltrona de espaldar alto, como o trono de um rei, no assento, uma coroa dourada. Surgiu com um intento de tratar e curar o público de uma enfermidade, uma síndrome cultural e patológica que os participantes compartilhavam no momento (Viena encontrava-se em pós-guerra, não havia governos... A Áustria estava inquieta em busca de uma nova alma). Mas psicodramaticamente, Moreno possuía um elenco e uma obra. Uma vez que o público era seu elenco, e a obra era retratada pela trama demonstrada pelos acontecimentos históricos, no qual cada um representava seu papel real. Cada representante de um papel foi então convidado para subir ao palco, e encenar o papel de um rei, sem preparação e diante de um público desprevenido, que funcionava como jurado. Mas neste primeiro momento nada se passou. Ninguém foi achado digno de ser rei e o mundo permaneceu sem líder. Apesar do aparente fracasso desta primeira representação, este foi o marco do nascimento de uma nova modalidade de expressão catártica que, instrumentada pelo exercício da espontaneidade e sustentada na teoria dos papéis, viria a se constituir o método psicodramático de abordagem dos conflitos interpessoais, cujo âmbito natural é o grupo. Surge então, a expressão "psicoterapia de grupo". O psicodrama desde seus primórdios estabeleceu um setting basicamente grupal, com a presença do terapeuta (diretor de cena), seus egos auxiliares e os pacientes (tanto como protagonistas como público). Aliás, a expressão, "psicoterapia de grupo" foi pela primeira vez utilizada por Moreno. 2.11 PSICOLOGIA ANALÍTICA Também conhecida como Psicologia junguiana, é um ramo de conhecimento e prática da Psicologia, iniciado por Carl Gustav Jung (1875-1961) no qual se distingue da psicanálise iniciada por Freud, por uma noção mais alargada da libido e pela introdução do conceito de inconsciente coletivo . (JUNG, 1981) Divergindo da perspectiva de Freud, Jung via a psique como positiva e negativa, um repositório não só das memórias e das pulsões reprimidas, mas também uma instância da dinâmica da divindade. A Psicologia analítica foi desenvolvida com base nos estudos de Freud e no amplo conhecimento que Jung tinha da tradição psicológica contida na alquimia e na mitologia. Quando Jung conheceu a obra de Freud, identificou-se com suas ideias e logo quis conhecê-los. Ao se conhecerem a admiração foi mútua, pois Freud rapidamente recebeu o jovem como seu discípulo e um dos defensores de suas ideias. Porém, esta parceria durou pouco, pois Jung mostrava-se insatisfeito, com algumas das posições de Freud, especialmente a teoria da libido e sua relação com os traumas. Freud, por sua vez, não compartilhava do interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo. A Psicologia Analítica conheceu, depois da estruturação por Jung, um grande desenvolvimento noschamados pós-junguianos, que ampliaram a visão de Jung. Merece destaque neste desenvolvimento a Escola Desenvolvimentista, que estudou o desenvolvimento humano desde o nascimento até a fase adulta. Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 19 E, que tem como fonte a Escola Junguiana de Londres e a pessoa de Michael Fordham com sua obra "A criança como individuo" e também a pessoa de Eric Neumann, com a obra "A criança". Além desta, há também a Psicologia Arquetípica, que é fruto do trabalho de James Hillman, o qual explora e desenvolve ao máximo a importância dos arquétipos na vida das pessoas. Marie-Louise voz Franz foi uma das mais importantes colaboradoras de Jung, e após sua morte desenvolveu um amplo trabalho abordando temas como a alquimia, a interpretação psicológica dos sonhos e dos contos de fada. 2.12 PSICOLOGIA COGNITIVA A Psicologia cognitiva é um ramo da Psicologia que estuda a cognição, isto é, o processo mental que está por trás do comportamento. Este processo mental de conhecimento envolve atenção, memória, percepção, raciocínio, juízo, imaginação, linguagem e pensamento. Acredita-se que é possível reprogramar a mente a ponto de encontrar soluções para as questões atuais e problemas vividos. Diferentemente de outras abordagens, ela desconsidera aspectos sobrenaturais e introspectivos para a solução de problemas. O foco está no hoje, diferentemente, por exemplo, da psicanálise, a qual aborda a descoberta dos traumas como solução para o problema. Na psicologia cognitiva, o foco está no hoje. Saber dos traumas só faria andar para trás, a proposta deve ser para o hoje. Como solucionar o processo cognitivo e assim solucionar seus problemas. A Psicologia cognitiva é um dos mais recentes ramos da investigação em Psicologia, tendo se desenvolvido como uma área separada desde os fins dos anos 1950s e princípios dos anos 1960s (apesar de terem existido exemplos de pensadores na área da cognição). O termo começou a ser usado com a publicação do livro Cognitive Psychology de Ulrich Neisser em 1967. No entanto a abordagem cognitiva foi divulgada por Donald Broadbent no seu livro Perception and Communication em 1958. Desde então o paradigma dominante na área foi o do processamento de informação, modelo defendido por Broadbent. Neste quadro de pensamento, considera-se que os processos mentais são comparáveis a software a ser executado num computador que neste caso seria o cérebro. As teorias do processamento de informação têm como base noções como: entrada; representação; computação ou processamento e saídas. Devido ao desenvolvimento de metáforas de terminologia computacionais, a Psicologia cognitiva beneficiou muito do florescimento da investigação na área da inteligência artificial e suas congêneres, nos anos 1960s e 1970s. De fato, desenvolveu-se como um dos aspectos significantes da área interdisciplinar da ciência cognitiva, que tenta integrar um conjunto de abordagens à investigação da mente e dos processos mentais. 3. O CONCEITO DE SAÚDE E OS PRINCIPAIS TRANSTORNOS EMOCIONAIS 3.1 CONCEITO DE SAÚDE Seria possível compreender bem o que significa e o que representa transtorno psicológico sem ter o entendimento prévio do que significaria saúde? A definição mais conhecida de saúde é a encontrada na Constituição da Organização Mundial de Saúde, ou seja, aquela que se propõe a considerá-la um completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença. Seria possível ser portador de um completo bem-estar? Dentro dessa perspectiva, até parece que para ter saúde é necessário viver em outro planeta e não habitar naquele que denominamos Terra. O conceito de saúde é cada vez mais relativo e suas discussões atrelam esse bem a outras dimensões do bem-viver humano como saneamento básico, lazer e acesso à educação e cultura, por exemplo. O certo é que a percepção de saúde varia muito entre as diferentes culturas, assim quanto às crenças sobre o que traz ou retira a saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define ainda a Engenharia Sanitária como sendo um conjunto de tecnologias que promovem o bem-estar físico, mental e social. Sabe-se que Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 20 sem o saneamento básico (sistemas de água , de esgoto, sanitários e de limpeza urbana) a saúde pública fica completamente prejudicada. A OMS reconhece ainda que a cada unidade monetária (dólar, euro, real, etc.) direcionada ao saneamento básico economiza-se cerca de quatro a cinco unidades em sistemas de saúde (postos, hospitais, tratamentos, etc.) e que cerca de 80% das doenças mundiais são causadas por falta de água potável suficiente para atender as populações. Portanto, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida. (Wood; Cohen, 2007) Assim, não é um "bem de troca", ma s um "bem comum", um bem e um direito social, em que cada um e todos possam ter assegurado o exercício e a prática do direito à saúde. A partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo, adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Em outras palavras, considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público. Para o balizamento e orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações. A partir dai, deve-se perguntar: afinal, o que significa esse processo saúde- doença e quais suas relações com a saúde e com o sistema de serviços de saúde? Em síntese, em termos da determinação causal, pode-se dizer que ele representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, que se modifica em diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. Assim, houve a teoria mística sobre a doença, que os antepassados julgavam co mo um fenômeno sobrenatural, ou seja, ela estava além da sua compreensão do mundo, superada posteriormente pela teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria dos miasmas (gazes), que vai predominar por muito tempo. Até que, com os estudos de Louis Pasteur na França, entre outros, vem a prevalecer a "teoria da unicausalidade", com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente etiológico, ou seja, aquele que causa a doença. Devido a sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente. Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos principalmente da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivos. O fato é que se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais. Deve-se ressaltar ainda o recente e acelerado avanço que se observa no campo da Engenharia Genética e da Biologia Molecular, co m suas implicações tanto na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo, surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três componentes: agente, hospedeiro e meio, considerados como fatores causais, que evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o envolvimento do ambiente(não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia humana e sistema- serviço de saúde, numa permanente inter-relação e interdependência. Alguns autores questionam esse modelo, ressaltando, por exemplo, que o "estilo de vida" implicaria uma opção e conduta pessoal voluntária, o que pode não ser verdadeiro, pois pode estar condicionado a fatores sociais, culturais, entre outros. De qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e complexidade causal: saúde e doença não são estadas estanques, isolados, de causa aleatória - não se está com saúde ou doença por acaso. Há uma determinação permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. Daí se dizer que há uma "produção social da saúde e/ou da doença". Em última instância, como diz Breilh, "o processo saúde-doença constitui uma expressão Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 21 particular do processo geral da vida social". Outro nível de compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o conceito do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável. Independentemente de qualquer conceito ou teoria, o que se vê, atualmente são doenças que atacam diretamente o sistema emocional e cerebral, para as quais não há microorganismos causadores e sim fatores variados. Não estamos falando da Deficiência Mental, na qual os pacientes apresentam problemas crônicos ou agudos no funcionamento intelectual, na adaptação a ambientes, no relacionamento com outras pessoas, etc. A deficiência Mental tem vários níveis e, em geral, são fruto de má-formação genética ou traumas cranianos que danificam a estrutura cerebral, por vezes de forma irreversível, impedindo o paciente de ter suas faculdades mentais plenas. Mas o que chama a atenção dos dias de hoje são os transtornos mentais. 3.2 TRANSTORNOS MENTAIS Durante séculos as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do resto da sociedade, algumas vezes encarcerados, em condições precárias, sem direito a se manifestar na condução de suas vidas. Hoje em dia, as atitudes negativas os afastam da sociedade de maneiras mais sutis, mas com a mesma efetividade. Você provavelmente conhece alguém que tem problemas mentais. Transtornos mentais como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, uso de drogas e álcool, demência e esquizofrenia, podem afetar qualquer pessoa em qualquer época da sua vida. Na realidade, elas podem causar mais sofrimento e incapacidade que qualquer outro tipo de problema de saúde. Apesar disso, pessoas com essas condições, muitas vezes atraem medo, hostilidade e desaprovação em vez de compaixão, apoio e compreensão. Tais reações não somente influem para que se sintam isolados e infelizes, como são impedimentos para que busquem ajuda efetiva e tratamento. A saúde mental é componente chave de uma vida saudável. O termo "doença mental" ou transtorno mental engloba um amplo espectro de condições que afetam a mente. Doença mental provoca sintomas tais como: desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória. Algumas vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente; outras vezes, desconfortos, escondidos no fundo da mente podem desencadear outras doenças do corpo ou produzir sintomas somáticos. Um grande espectro de fatores - nosso mapa genético, química cerebral, aspectos do nosso estilo de vida podem causar algum tipo de transtorno mental. Acontecimentos que nos acometeram no passado e nossas relações com as outras pessoas - participam de alguma forma. Seja qual for a causa, a pessoa que desenvolve a "doença mental" ou o transtorno mental, muitas vezes se sente em sofrimento, desesperançada e incapaz de levar sua vida na sua plenitude. Existem muitos tratamentos efetivos para a doença mental. Eles podem incluir medicamentos e outros tratamentos físicos, ou tratamentos pela fala (Psicoterapias) de várias espécies, aconselhamento e/ou apoio no dia-a-dia da vida em diferentes formas. Diferentes profissionais da saúde podem estar envolvidos na assistência da pessoa que está mentalmente enferma: clínicos gerais, psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e grupos de apoio voluntários, dentre outros.. As causas do sofrimento mental são complexas e os psicólogos, assim como outros profissionais da saúde mental não têm todas as respostas. Sabe-se que alguns aspectos da doença mental, tais como ansiedade, desespero e sentimentos suicidas, nem sempre são fáceis de serem tratados, pois envolvem âmbitos os mais diversos da existência humana. Na antiga Grécia, sinais corporais ou "stigmata" feitos por cortes ou queimaduras no corpo, marcavam as pessoas como diferentes. Pessoas com doença mental que há muito não são marcadas no corpo, mas atitudes críticas e prejudiciais podem ser tão danosas quanto às marcas corporais. Basta abrir um jornal, Escola Teológica Batista Livre Introdução à Psicologia – Pr Lucas Lima 22 ligar a TV ou ir ao cinema para perceber tais atitudes. Enquanto a mídia não aceitar essas queixa pelas percepções negativas, toda vez que um programa, artigo ou filme retrata um esteriótipo ou falha em esclarecer um mal entendido sobre doença mental, ela auxilia na manutenção de mitos. Os estigmas podem surgir por diferentes caminhos. As pessoas com sofrimento mental podem agir de forma diferente. Uma pessoa deprimida pode se apresentar triste ou apática; alguém na fase maníaca da doença bipolar pode parecer exageradamente feliz ou irritável. O problema é que quando alguém é marcado como diferente, é difícil para ele ser aceito, não importa o quanto ele tente, Eles não conseguem afastar o estigma e o resultado disso, pois perdem a confiança em si mesmos. Com o tempo, começam a se sentir como estranhos e que não se enquadram na vida. Pessoas com transtornos mentais ou doenças mentais continuam a ser prejudicadas e discriminadas em todas as áreas de suas vidas, desde onde encontrar um lugar para viver, encontrar um trabalho. Não é surpreendente que muitas pessoas com doença mental grave terminem pobres ou sem teto. Cabe a todos nós tomarmos conhecimento do dano que provocamos com nossas atitudes negativas e nossa colaboração para isolá-los. Seja quem formos e seja o que fazemos, nós podemos combater os efeitos danosos do estigma estendendo nossa amizade, apoio e compreensão em vez do nosso julgamento e discriminação, para as pessoas que estão mentalmente doentes. Descrever pessoa com doença mental como "louco", "esquisito", "Pinel" "lunático", o diminui como pessoa a não ser levada seriamente ou com a percepção que ele é perigoso pode excluí-lo das atividades do dia a dia. Muitas pessoas acreditam que doença mental é incurável. Eles podem até ver certos tratamentos, como com antidepressivos ou psicoterapias, como sem valor ou mesmo danosos, mesmo que em muitos casos tenham se mostrado efetivos. O fato é que cientistas estão fazendo progressos no desvendamento da estrutura e química do cérebro. Como consequência tem-se melhor compreensão da mente e como ela funciona. Entretanto, a doença mental te m muitas causas. Ela não é apenas uma questão de química alterada e envolve questões sociais, emocionais, cognitivas e físicas. 3.3 PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS 3.3.1 DEPRESSÃO Depressão é uma palavra frequentemente usada para descrever nossos sentimentos. Todos se sentem angustiados de vez em quando, ou muito alegre às vezes, e tais sentimentos são normais. A depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento. Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa
Compartilhar