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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação

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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 1 - Antropologia e Cultura 
 
 
Para explicar as diferenças entre as muitas sociedades e instituições, principalmente aquelas dos “povos exóticos”, a Antropologia desenvolveu uma 
metodologia própria baseada, inicialmente, em relatos e, posteriormente, em observação direta. 
 
Para começar a pensar antropologicamente, é necessário que você conheça a definição de Homem. 
 
Ao contrário dos outros animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite cultura aos seus descendentes. 
Se os outros animais agem orientados pelos instintos, o animal humano ofusca os instintos através do desenvolvimento da cultura. 
Outra definição importante é a de Cultura. Apesar de praticarem e transmitirem a cultura, nem sempre os seres humanos se esforçaram por defini-la e analisá-
la. 
 
De acordo com Lakatos e Marconi (1999): 
 
Podemos inferir que a classificação mencionada acima é aceita em termos de senso comum, não tendo respaldo em nenhuma teoria científica que mereça 
credibilidade. 
 
De acordo com Tomazi (2000), o primeiro a criar uma definição de cultura foi Edward Tylor (Inglaterra 1832 – 1917), ao juntar na palavra inglesa culture os 
sentidos que, no final do século XVII e início do século XVIII, eram carregados pela palavra alemã kultur e pela palavra francesa civilization. 
Para esse autor, em seu livro Primitive Culture de 1871, “Cultura ... tomada em seu sentido etnográfico amplo é o todo complexo que inclui conhecimento, crença, 
arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. 
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Edward_Burnett_Tylor.jpg 
Definição de cultura, na concepção de Tylor, é aprendida e não transmitida geneticamente, esse aprendizado se dá por meio da comunicação e da linguagem. Fica 
explícita também a oposição entre natureza e cultura, sendo a cultura considerada superior à primeira. 
A partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e nas outras Ciências Sociais e, em decorrência disso, houve uma proliferação de 
definições. 
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and definitions, A. L. Kroeber e C. Kluckhohn fizeram a análise de 160 definições em inglês 
concebidas por antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros. 
 
Teoria da Evolução 
No século XIX, o pensamento social foi muito influenciado pela Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. Vários foram os pensadores que viam nas 
sociedades um movimento semelhante ao observado nos organismos. Para esses estudiosos, a sociedade evoluiria, natural e necessariamente de um estágio 
primitivo, para um estágio avançado. 
O darwinismo social serviu, como justificativa para a intervenção europeia (colonialismo) em sociedades da África, Ásia, América e Oceania. 
 
Etnia X Raça (definição e limitações do termo para tratar a humanidade) 
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias (2006), porque configuram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas características 
exteriores, sejam estas culturais ou ainda físicas ou hereditárias. 
Isto favorece a identificação entre os membros, que se reconhecem como pertencentes a determinado grupo, ao mesmo tempo em que os diferencia de outros 
grupos. 
 
Determinismo 
Existem doutrinas que afirmam que objetos e acontecimentos são e ocorrem de determinada maneira por serem regidos por leis ou forças que os fazem assim. 
Acredita-se que a possibilidade de escapar do determinismo é mínima ou nula. Podemos citar duas formas de determinismo: 
 
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois pode-se observar que uma das características da espécie humana é a capacidade de romper as 
suas próprias limitações. 
Etnocentrismo 
Etnocentrismo é um fenômeno universal originado no fato de que o ser humano, ao enxergar o mundo através das lentes de sua Cultura, passa a considerar o 
seu modo de vida como o mais correto e mais natural. 
 
 
Relativismo Cultural 
Existe uma tendência em abandonar os juízos de valor no que diz respeito às diferentes culturas. Não existe, em termos de cultura, nem melhor nem pior, nem 
mais nem menos, nem superior nem inferior. Os padrões de beleza, de justiça, de moralidade etc., são relativos à cultura na qual os indivíduos estão inseridos. 
Existem diferenças no modo de pensar e de agir entre as diversas culturas que, segundo o relativismo cultural, devem ser respeitadas. Porém, muitas vezes essa 
posição tem sido encarada como descaso, apatia, em relação ao outro. 
 
 
Com base no que acabamos de ver, cite exemplos de contextos e situações que mostram a relação entre educação e cultura ocorrendo de maneira não 
sistemática e formal. 
Corrigir 
Vamos conhecer agora os mitos, a religião e a ideologia como sistemas culturais e suas funções como ferramentas educativas desde as primeiras comunidades 
humanas. 
Mitos 
De acordo com Chauí (2004), o vocábulo tem sua origem na palavra grega mythos, derivada de dois verbos: 
 
 
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três formas: 
 
O mito aparece em todas as culturas. A seguir você terá mais informações sobre este tema. 
Chauí (2004) afirma que o mito possui três funções: 
 1ª FUNÇÃO EXPLICATIVA 
Explica o presente por alguma ação passada cujos efeitos persistiram no tempo. Como exemplo, a autora cita a crença de que uma constelação existe 
porque no passado crianças fugitivas e famintas morreram na floresta e foram levadas ao céu por uma deusa que as transformou em estrelas. 
 2ª FUNÇÃO ORGANIZATIVA 
Organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de poder, de sexo, etc.), legitimando e garantindo a permanência de um sistema complexo de 
proibições e permissões. 
 3ª FUNÇÃO COMPENSATÓRIA 
Narra uma situação passada que é a negação do presente e que pode servir para compensar os homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do 
passado foi corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária. 
Segundo a autora, o mito tem caráter educativo porque, na narrativa, encontramos mensagens ou normas que acabam orientando os comportamentos 
necessários para a vida em grupo. 
De acordo com Meksenas (2000),há um mito muito difundido entre alguns índios do Brasil, no qual a origem da noite é atribuída à atitude de um grupo que, 
não obedecendo às tradições do seu povo, quebrou um coco proibido. Dali fugiu a noite, escurecendo toda a mata. Os deuses, sentindo piedade dos demais 
índios, devolveram-lhes a claridade do dia, mas com a condição de que agora seria sempre intercalada com um período noturno, para que todos se lembrassem 
do ocorrido. 
Não nos preocupando em saber se realmente a existência da noite pode ser explicada por esse mito ou pela ideia científica do movimento do globo terrestre, o 
que importa é saber que esse mito acaba sendo educativo porque ele fixa uma norma social: os perigos que podem aparecer a um grupo quando não se 
respeitam certas tradições ou o cuidado que devemos ter com o desconhecido. (p. 21) 
Apesar da nossa sociedade valorizar o pensamento científico, não podemos dizer que os mitos ficaram no passado. De acordo com Chauí, o pensamento 
conceitual e o pensamento mítico podem coexistir na mesma sociedade. Para ela, a predominância de uma ou outra forma do pensamento depende, de um lado, 
das tendências pessoais e da história de vida dos indivíduos e, de outro, do modo como uma sociedade ou uma cultura recorrem mais à uma do que à outra 
forma para interpretar a realidade, intervir no mundo e explicar-se a si mesma. (2004, p. 164) 
Religião 
 
 
A religião é um vínculoentre o mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por divindades ou um mundo separado da natureza 
(Chauí, p. 253). 
É importante destacar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em todas as sociedades conhecidas até hoje. Muitas religiões já existiram e diversas 
continuam existindo. 
O antropólogo se interessa pelo papel da religião na sociedade, mas não é papel da antropologia fazer julgamentos de valor sobre o conteúdo das religiões. 
Se a maioria das instituições sociais têm sua origem em necessidades materiais, a religião se dirige às indagações sobrenaturais do ser humano. 
 
Portanto, a religião tem função explicativa como o mito. Ela fornece explanações, por exemplo, de como surgiram o mundo, a natureza, os animais e os 
homens. 
Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de espírito e segurança aos indivíduos. Além disso, fornece normas que garantem a sobrevivência 
social. Acreditar em seres dotados de poderes sobrenaturais inspira respeito, temor e veneração, fazendo com que os indivíduos cumpram as regras. 
Ideologia 
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (pág. 570): 
 
D. Tracy foi o primeiro autor a fazer uso do termo no sentido de estudo das ideias, no final do século XVIII, sendo empregado da mesma forma por vários 
autores franceses, posteriormente, no século XIX. Ainda no século XIX, a palavra ideologia adquiriu conotação pejorativa, significando ideias abstratas e 
enganadoras. 
 
A ideologia tem estreita ligação com a educação, pois alguns autores de influência marxista percebem a escola como um local onde se reproduzem as falsas 
consciências com o objetivo de manter o status quo. 
 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 2 - A Sociologia como Ciência Social 
Sociologia: uma nova ciência 
O ser humano é um animal que produz mitos, religiões, ideologias, enfim, cultura. Na tentativa de entender as coisas ao nosso redor, produzimos uma vasta gama de conhecimentos como o filosófico, o 
religioso, o de senso comum etc. 
A sociedade ocidental produziu uma forma específica de explicar o mundo, chamada de ciência, ou seja, uma forma racional, objetiva, sistemática, metódica e refutável de formulação das leis que regem 
os fenômenos. 
 
Na sociedade ocidental, a ciência é a principal forma de construção da realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito por 
pretender ser a única promotora e critério de verdade. 
 
Renascimento 
O Renascimento é o momento classificado por muitos estudiosos como a ruptura entre o mundo medieval e o mundo moderno urbano, burguês 
e comercial. 
 
De acordo com Costa (2005), existiam diversas visões do Renascimento. Dentre elas, destacamos: 
 
Reforma Protestante 
 
De acordo com Quintaneiro (2002), ao contestar a autoridade da Igreja como instância última na interpretação dos textos sagrados e na 
absolvição dos pecados, a Reforma colocou sobre o fiel essa responsabilidade e, instituindo o livre exame, fez da consciência individual o 
principal nexo com a divindade. Para esse autor: 
 
Racionalismo 
No século XVII, surge o Racionalismo e fortalece a ideia de que o homem produz a história e não a Divina providência. Essa concepção 
fundamentava a ideia de que a sociedade podia ser compreendida porque, ao contrário da natureza, ela é obra dos próprios indivíduos. O 
pensamento filosófico desse século contribuiu para a popularização do pensamento científico. 
 
Segundo Francis Bacon, a Teologia perdeu o posto de norteadora do pensamento. 
A autoridade, que exatamente constituía um dos alicerces da teologia, deveria, em sua opinião, ceder lugar a uma dúvida metódica, a fim de 
possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. 
Os pensadores desse período defenderam, assim, o emprego sistemático da razão e do livre exame da realidade. 
Fonte: http://pt-br.mouse.wikia.com/wiki/Francis_Bacon 
 
Segundo Martins (2001, p. 21): 
 
Revolução Industrial e Revolução Francesa 
É em meio a esse cenário de efervescência intelectual, política e social que observamos dois eventos históricos importantes, que também 
ficaram conhecidos como Revoluções Burguesas. São eles: 
Revolução Industrial 
É um fenômeno histórico ocorrido na Inglaterra, por volta do meado do século XVIII, que trouxe profundas alterações no mundo do 
trabalho, desagregou a sociedade feudal, ao reordenar a sociedade rural e abolir a servidão, e consolidou a civilização capitalista. 
É nesse momento que nasce o proletariado, isto é, a classe dos trabalhadores livres assalariados, e se exacerbam os problemas 
urbanos. 
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No século XIX, os pensadores burgueses já não mais desejavam que as ideias revolucionárias iluministas continuassem animando o homem 
comum, pois, como a burguesia havia chegado ao poder, deveria lutar para mantê-lo. Apesar da industrialização e urbanização crescentes na 
França, a situação do proletariado era extremamente precária, pois os trabalhadores viviam na miséria e estavam sempre ameaçados pelo 
desemprego, o que acabou intensificando as crises econômicas e a luta de classes naquela sociedade. 
Aquele era o momento de abandonar os ideais iluministas e fundar uma nova ciência para “reorganizar” e “higienizar” a sociedade. Dito de outra 
forma, a Sociologia nasceu dos interesses burgueses em manter a ordem social e a estabilidade, ligando-se aos movimentos de reforma 
conservadora da sociedade. A preocupação passou a ser a de fazer com que os indivíduos aceitassem a ordem existente, deixando de lado a 
sua negação. 
Auguste Comte 
Auguste Comte é considerado o pai da Sociologia, também conhecida como Física Social. 
De acordo com Tomazi (2000), Comte rompeu logo cedo com a tradição de sua família monarquista e católica, transformando-se em um 
republicano com ideias liberais. Desenvolveu atividades políticas e literárias que lhe permitiram elaborar uma proposta para solucionar os 
problemas da sociedade de sua época. 
Vivendo no período imediatamente posterior à Revolução Francesa, preocupou-se em organizar a sociedade que, em sua opinião, estava caótica. 
Destacamos algumas das contribuições de Comte: 
 
 
 Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 3 - Émile Durkheim e o Funcionalismo 
Émile Durkheim 
Émile Durkheim foi quem sistematizou a Sociologia. A seguir veja um breve histórico de sua vida: 
1858 
Nasceu em 15 de abril em Épinal, França. 
1858 
1879 
Entrou para a École Normale Supérieure, quando conheceu as obras de pensadores como Auguste Comte e Herbert Spencer, intelectuais que 
o influenciaram na busca por dotar a Sociologia de um caráter científico. 
1879 
1887 
Foi nomeado professor de Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras da Universidade de Bordeaux, onde ministrou o primeiro curso 
de Sociologia das universidades francesas. 
1887 
1895 
Lançou As Regras do Método Sociológico. 
1895 
1897 
Publicou O Suicídio. 
1897 
1912 
Publicou As Formas Elementares da Vida Religiosa. 
1912 
1913 
A cadeira de que era titular passou a se chamar Cadeira de Sociologia da Sorbonne. 
1913 
1915 
Em meio à Primeira Guerra Mundial, seu único filho morreu no front de Salonique. 
1915 
1917 
Em 15 de novembro, muito abalado pela perda de seu filho, faleceu em Paris. 
1917 
A concepção de Sociologia como ciência positiva 
O século XIX foi marcado por várias mudanças importantes. Uma delas é o fato de alguns pensadores, inclusive Émile Durkheim, terem se 
dedicado à fundação de uma nova ciência, cujo objetivo era dar conta das coisas da sociedade, abandonando a arte política e a simples 
especulação. 
Alguns dos autores que influenciaram Durkheim: 
 
Durkheim tratou de definir a Sociologia, seu objeto de estudo, seu método de trabalho e seus conceitosfundamentais. Transformou temas como 
o Direito, a Educação, a Religião, o Suicídio e a Moral em objetos de análise sociológica. 
Preocupado com os problemas de seu tempo e convicto de que a sociedade europeia passava por um período de anomia, Durkheim sentia a 
necessidade de construir as novas formas sociais e, na sua concepção, a Sociologia tinha importante papel nesta tarefa, pois apenas ela estava 
habilitada a restaurar a noção de unidade orgânica da sociedade. 
Dessa forma, a preocupação com a moral e a manutenção da ordem social foi constante em seu pensamento, o que resultou em críticas, aceitas 
por uns e questionadas por outros, que o caracterizaram como um sociólogo conservador, avesso mesmo às mudanças, interessado em ensinar 
aos homens a obedecer à ordem vigente. 
Consciente de que a França atribuía um peso muito grande ao senso comum (consciência coletiva difusa), Durkheim procurou criar uma nova 
ciência elaborada na universidade. Muito preocupado com a objetividade, o autor advertia que, a exemplo de cientistas de áreas como a 
Biologia e a Química, o sociólogo não devia fazer concessões às opiniões baseadas no senso comum. 
A nova ciência positiva: a Sociologia 
Durkheim tinha como objetivo criar uma ciência positiva, autônoma (sobretudo em relação à Biologia e à Psicologia) e diferente das outras. Para 
tanto, esforçou-se em definir as suas bases, seu objeto de estudo e seu método, mas teve que recorrer ao exemplo de outras ciências já 
formadas, como a Biologia, a Química e a Física. 
 
Atente-se para alguns conceitos: 
Leis naturais 
Aqui a palavra lei deve ser entendida em seu sentido científico e não no sentido jurídico ou legislativo. De acordo com Cervo e Bervian (2002, p. 
54), “Duas são as principais funções da lei científica: resumir grande quantidade de fatos e de fenômenos e possibilitar a previsão de novos 
fatos e fenômenos”. Leis naturais seriam leis invariáveis que independem, por exemplo, da vontade humana. Alguns exemplos dessas leis são: 
a água ferve a 100 graus; o calor dilata os metais etc. 
Concepção 
Apesar de esta concepção ter dominado durante muito tempo, Durkheim mostra que alguns pensadores como Aristóteles, Montesquieu e 
Condorcet viam a sociedade como algo natural, porém, estas ideias não tinham muito fôlego a ponto de fazer vingar uma ciência social 
orientada para o estudo das leis naturais que regem a sociedade. 
Leis necessárias 
É importante ter em mente a ideia de necessário como algo que não poderia ser diferente daquilo que é. A chuva é necessária porque não pode 
deixar de acontecer, por mais que eu queira que faça sol. Comer é necessário porque não posso deixar de me alimentar, sob risco de morrer de 
inanição. 
Objeto de estudo da Sociologia: os Fatos sociais 
Em As Regras do Método Sociológico, Durkheim afirma que o objeto de estudo da Sociologia é o fato social. Veja as três características que tornam os fatos sociais realmente 
sociais. 
 EXTERIORIDADE 
Os fatos sociais agem sobre os indivíduos independentemente de suas vontades particulares. São maneiras de pensar, de agir e sentir 
que existem fora das consciências individuais. 
Antes de nascermos, as regras morais, os costumes e as leis já existiam e, a despeito de nossas vontades, continuarão existindo. Por 
exemplo, um devoto, ao nascer, já encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa. Da mesma forma, o sistema de moedas 
que utilizamos para fazer as transações comerciais e as práticas seguidas nas diferentes profissões funcionam independentemente do uso 
que cada indivíduo faz delas. 
Durkheim ressalta que, embora a exterioridade seja condição necessária, não é condição suficiente para transformar os fenômenos em 
fatos sociais. 
 COERCITIVIDADE 
 GENERALIDADE 
Agora que você já sabe o que é fato social e quais são suas características veja, a seguir, como o sociólogo deve estudá-lo. 
Regras para o estudo dos fatos sociais 
Depois de definir e caracterizar os fatos sociais, Durkheim se dedica a elaborar os principais passos, o método para o seu estudo. São eles: 
 
 
No início do terceiro capítulo de As Regras do Método Sociológico, Durkheim afirma que os fenômenos normais são “os que são como deviam 
ser”, e os patológicos são aqueles que “deveriam ser diferentes do que são”. 
Dito de outra forma, normal é tudo o que é comum a todos ou quase todos. Em 
contrapartida, o patológico é tudo ou quase tudo que se apresenta de forma excepcional. 
Durkheim alerta para o fato de o sociólogo se expor a erros quando não toma as devidas precauções metodológicas quanto à distinção entre 
normal e patológico. Uma falha desse tipo seria classificar o crime como algo patológico. 
É necessário, entender que o autor concebe crime como “um ato que ofende certos sentimentos coletivos dotados de energia e de nitidez 
particulares” (1972: p. 58), não se restringindo ao sentido jurídico. 
Se, à primeira vista, o crime parece patológico, após uma análise meticulosa pode-se afirmar que o crime é normal e isso se deve a dois 
motivos. Em primeiro lugar, porque é universal, isto é, acontece em todas as espécies sociais e em todos os estágios de desenvolvimento. Em 
segundo lugar, porque reforça sentimentos contrários, de repulsa ao agressor e aos fatores que o motivaram a cometer o crime. 
Há ainda um outro aspecto muito importante: em alguns casos, o criminoso é visto como agente de mudança e a ausência do crime tornaria a 
sociedade estática. Isso permitiu ao autor concluir que, além de normal, o crime é necessário e tem a sua utilidade. 
Consciência coletiva e representações coletivas 
Em A Divisão do Trabalho Social, Durkheim afirma que enquanto seres socializados possuímos, simultaneamente, uma consciência 
individual e uma consciência coletiva. 
 
A consciência coletiva é o nível mais profundo da realidade social. É a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de certa 
comunidade, constituindo um determinado sistema que possui vida própria, persiste no tempo e une as gerações. É, em outras palavras, o 
sistema de Representações coletivas presente em determinada sociedade. 
Para Durkheim, não são os indivíduos que geram a consciência coletiva, ao contrário, é a consciência coletiva que molda as consciências 
individuais. A força que a consciência coletiva exerce sobre os indivíduos varia com o tipo de sociedade dependendo do seu estágio de 
evolução. 
Solidariedade Social 
Em sua tese de doutorado A Divisão do Trabalho Social, Durkheim propõe-se a investigar a função da Divisão do Trabalho. O autor se 
preocupou em analisar, à luz da Morfologia Social, a evolução das sociedades e a coesão social que dela resulta, que o fez concluir que as 
sociedades caminham, natural e necessariamente, do estado mecânico em direção ao estado orgânico, apresentando uma solidariedade 
característica para cada um desses estágios. Veja a seguir: 
Sociedades Mecânicas 
São aquelas de tipo pré-capitalista, muito “simples”, dotadas de forte consciência coletiva, onde a divisão do trabalho se baseia principalmente 
nos critérios de sexo e idade. 
Nesse tipo de sociedade, a identificação entre os indivíduos se dá por meio da família, da religião, da tradição e dos costumes. A autoridade 
coletiva é absoluta e a consciência coletiva é tão forte que se sobrepõe à consciência individual. A solidariedade social de tipo mecânica é gerada 
pelas semelhanças entre os indivíduos que, partilhando os mesmos sentimentos e valores, diferem pouco entre si. 
 
Sociedades Orgânicas 
São mais extensas, mais complexas. Por possuírem estruturas econômicas avançadas, exigiam uma divisão do trabalho não mais baseada em 
sexo e idade, mas, na diversidade de funções que torna os indivíduos interdependentes. 
Se nas sociedades mecânicas a consciência coletiva gerava uma irresistível coesão social, nas sociedades orgânicas a divisão do trabalho socialtem por função criar a solidariedade social, pois a complexidade da vida e a ausência de semelhanças acabam por aproximar as pessoas, fazendo 
com que se completem. 
Em sociedades com forte divisão do trabalho, as relações sociais se baseiam na especialização de tarefas. Assim, a educação tem caráter duplo, 
pois, ensina aos novos membros valores, crenças e conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade e, por outro lado, fornece 
conhecimentos específicos da área profissional em que a pessoa deverá atuar. 
 
 
 
 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 4 - Émile Durkheim: Educação e Sociologia 
 
A Educação 
Na concepção de Durkheim, a educação tem um papel fundamental na preparação do indivíduo para a vida em sociedade. Por esse motivo, ele 
se dedicou a estudar a educação como um fato social. 
Em Educação e Sociologia, Durkheim se propõe a fazer um exame crítico das definições de educação formuladas por diferentes e importantes 
pensadores dos fenômenos sociais. Assim, ao analisar as concepções de John Stuart Mill, Immanuel Kant e James Mill, o autor conclui que não 
existe uma educação ideal, pois se observarmos a história, a educação varia com o tempo e com as regiões. 
 
 
Algumas das afirmações de Émile Durkheim sobre a educação: 
 
 
Movido pela sua convicção de que as sociedades evoluem e devem ser estudadas em determinado estágio de seu desenvolvimento, Durkheim 
utiliza como método de estudo a observação histórica para mostrar que os sistemas de educação têm poder coercitivo, pois, em cada momento 
há um tipo regulador de educação do qual os indivíduos não podem escapar sem resistências e que restringem os anseios daqueles que são 
discordantes. 
A Educação como produto da sociedade 
 
Fonte: Rawpixel.com / Shuttertsock 
 
Ao definir mais precisamente a educação, Durkheim conclui que há algumas condições para que ela realmente exista, ou seja, é necessário que 
haja uma geração de adultos, uma geração de jovens e, que a primeira exerça uma ação sobre a segunda. 
 
O sistema educativo, em qualquer sociedade, possui duplo aspecto, ou seja, é, simultaneamente: 
 
 
 
 
 
Profissões 
 
“Cada profissão, com efeito, constitui um meio sui generis que reclama aptidões particulares e conhecimentos especiais, onde reinam certas 
ideias, certos usos, certas maneiras de ver as coisas; e, como a criança deve ser preparada tendo em vista a função que será chamada a 
desempenhar, a educação, a partir de uma certa idade não pode mais continuar a ser a mesma para todas as pessoas às quais ela se destina” 
(2001, p. 50). 
Segundo Durkheim, cada sociedade formula determinado ideal de ser humano, ou seja, é a sociedade que determina o que esperar do 
indivíduo, seja do ponto de vista intelectual, físico ou moral. Em outras palavras, seremos aquilo que a sociedade espera que sejamos. 
Assim, se até certo ponto esse ideal é o mesmo para todos os cidadãos, há um momento em que os indivíduos devem se diferenciar, segundo 
os meios sociais particulares em que estão inseridos. 
Para o autor, a parte básica da educação é constituída por esse ideal, ao mesmo tempo, uno e diverso, que tem por função suscitar na criança: 
 
VLADGRIN / Shutterstock 
É a sociedade, em seu conjunto, e cada meio social, em particular, que determinam o ideal a ser realizado. Durkheim ressalta que a 
homogeneidade é importante, pois é a base onde os sistemas de educação específicos se fundamentarão. A educação a perpetua e reforça, 
fixando na criança certas similitudes essenciais, exigidas pela vida coletiva. 
É a heterogeneidade que torna a cooperação possível. A educação assegura a persistência dessa diversidade necessária, o que permite 
especializações. 
 
Se a sociedade chegou a um grau de desenvolvimento em que as antigas divisões em castas e em classes não podem mais manter-se, 
prescreverá uma educação mais una em sua base. Se, no mesmo momento, o trabalho está mais diversificado, provocará nas crianças, sobre 
um primeiro fundo de ideias e de sentimentos comuns, uma mais rica diversidade de aptidões profissionais. Se vive em estado de guerra com 
as sociedades envolventes, esforça-se por formar os espíritos com base num modelo fortemente nacionalista; se a concorrência internacional 
toma uma forma mais pacífica, o tipo de educação que procurará realizar é mais geral e mais humano. 
 
A evolução das sociedades 
É necessário observar alguns temas importantes na teoria do autor, que foi fortemente influenciado pelo darwinismo social e, por isso, estava 
totalmente convencido de que, como os organismos, as sociedades também evoluíam. Segundo Durkheim (1893), as sociedades passariam 
do estágio mecânico para o estágio orgânico. 
 
http://indiokadweu154brasil.blogspot.com.br/ e Rawpixel.com / Shutterstock 
A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela recebida pelo futuro engenheiro, que difere também da dispensada ao futuro 
advogado. Não podemos hoje, em nossa sociedade, conceber que só se formem ou engenheiros, ou advogados ou médicos. Advogados 
precisam dos serviços dos engenheiros, que precisam dos cuidados dos médicos e, assim por diante. 
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser leigo nas outras faz com que os profissionais de um 
campo dependam de outros profissionais. Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e a mulher que, por serem 
diferentes, se complementam, formando um todo. 
A educação como socialização das novas gerações 
 
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e 
desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio 
especial ao qual está particularmente destinada. 
Dessa definição podemos assumir que a educação é a socialização metódica das novas gerações. Cada membro da sociedade possui em si 
dois seres: 
 
Saiba Mais 
Os indivíduos agem de acordo com as necessidades sociais e a sociedade impõe aos homens uma tirania muito forte. Mas, segundo Durkheim, 
os próprios homens desejam que isso ocorra porque o ser novo, que a ação coletiva cria em cada um de nós por intermédio da educação, 
representa o que há de melhor no homem, o que há de propriamente humano em nós. 
Na verdade, o homem só é homem porque vive em sociedade. Para comprovar essa afirmação, Durkheim mostra o desenvolvimento da moral, 
o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento da linguagem, coisas que só podem acontecer na vida em sociedade. 
O Estado e a educação 
O Estado é a instituição social mais importante que tem influência sobre a educação, tendo mais peso que a família, segundo Durkheim. Não 
poderia ser de outra forma, dado o caráter coercitivo atribuído pelo autor à educação. 
A importância do Estado cresce à medida que assume uma função coletiva e busca a educação da criança na sociedade em que vive. Caberia 
a esse órgão esclarecer os princípios essenciais, fazer com que sejam ensinados nas escolas, cuidar para que as crianças não os ignorem e os 
respeitem. 
 
Fonte: Supriya07 / Shutterstock 
Durkheim era taxativo e afirmava que tudo que é educação deve estar em certa medida submetido à ação do Estado. Ele percebia a ausência 
de unidade moral em sua sociedade, e a presença de muitas concepções divergentes, por isso se preocupava com a escola e com os 
professores. 
 
A escola não pode ser pertença de um partido, e o professor falta aos seus deveres quando usa a autoridade de que dispõe para arrastar os 
seus alunos nos trilhos de seus próprios ideais, por mais justificados que lhe possam parecer. 
 
 papel do professor 
Para a ação educativa ser bem sucedida na transformação de um ser associal, como o bebê, em uma personagembem definida que 
desempenhe um papel útil na sociedade, o educador deve agir como um hipnotizador. 
A criança, como o hipnotizado, está numa situação de passividade. Como a vontade infantil ainda é rudimentar, ela é facilmente sugestionável e 
O professor exerce sobre seus alunos uma ascendência baseada na superioridade de sua cultura e de sua experiência. O educador deve ter, 
também, serenidade. 
 
Se professores e pais sentissem, de uma forma mais constante, que nada se pode passar diante da criança sem deixar nela alguma marca, que 
o moldar do seu espírito e do seu caráter depende destes milhares de pequenas ações insensíveis que se produzem a cada instante e aos 
quais não prestamos atenção por causa da sua insignificante aparência, como zelariam mais pela sua linguagem e pela sua conduta! 
Seguramente, a educação não pode chegar a grandes resultados quando procede por safanões bruscos e intermitentes. 
 
Como o objetivo da educação é formar um ser novo, constrangendo o indivíduo e subjugando o egoísmo individual, não é possível formar o ser 
social através de brincadeiras e do prazer. É preciso então que o educador: 
 
 
 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 5 - O Pensamento Sociológico de Karl Marx 
 Introdução 
 
Karl Marx 
O alemão Karl Marx influenciou de modo significativo o pensamento ocidental, tanto no século XIX quanto no século XX. 
 
Ao nos referirmos a ele como um dos clássicos do pensamento sociológico, o fazemos por reconhecer a forte influência que o seu trabalho exerce, ainda hoje, 
sobre as obras de muitos autores. 
A obra de Marx também teve influência sobre a construção do primeiro regime socialista a ser instituído na história recente da humanidade. Esta experiência se 
daria na Rússia, em 1917, ano em que o partido bolchevique, liderado por Lênin, no comando de um movimento revolucionário instituiria naquele país um 
projeto socialista de inspiração marxista. 
 
A partir daí, a Rússia passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, ou como se costumava dizer ao nível do senso comum, União 
Soviética. 
 
A expansão do socialismo de Karl Marx 
Vamos conhecer um pouco da história da expansão do socialismo de Marx pelo mundo. 
 
Todo este quadro no cenário geopolítico mundial mostra a importância do marxismo para o mundo contemporâneo. 
Na verdade, esta bipolaridade entre os dois modelos socioculturais — o ocidental, marcado pela presença do capitalismo e da economia de mercado, e o 
socialismo —, traria muitas consequências para as relações entre as diferentes nações do mundo, dentre as quais se pode destacar a própria guerra fria. 
No meio intelectual, o marxismo também faria sentir a sua presença ao longo de todo o século XX. 
Com a participação de seu amigo e colaborador Friedrich Engels, Marx tinha, como objeto de sua pesquisa, a sociedade capitalista do século XIX. Suas teses e 
princípios teóricos eram baseados no materialismo dialético. 
 
Neste sentido, para Marx, as contradições não seriam situações anômalas presentes na sociedade, mas ao contrário, fariam parte de sua própria essência. 
A organização do trabalho social 
A identificação destas contradições no interior da sociedade concentraria o foco da análise marxista no modo como o trabalho social é organizado. A análise da 
história humana com base nos princípios da dialética materialista levaria Marx a identificar as contradições de interesses existentes entre as principais classes 
sociais, como o principal fator de motivação das mudanças sociais. 
 
Para Marx, esta “luta de classes” seria o principal combustível para as transformações nas sociedades humanas. Este modo de pensar a sociedade daria origem a 
um novo conceito elaborado por Marx, que seria o materialismo histórico. Na prática, uma aplicação da dialética materialista ao estudo da história humana. 
 
Tipos de sociedades ou modelos de produção 
A partir da visão de Marx, foi possível se identificar alguns tipos de sociedades ou modos de produção. 
 Modo de produção escravista 
O escravismo predominou na chamada Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), momento em que as principais 
contradições se dariam entre os escravos e seus senhores. 
 Modo de produção feudal 
O feudalismo predominou na Idade Média, cujo antagonismo de classes seria identificado entre os nobres, donos das 
terras e os servos que, ao ocuparem estas terras, se viam obrigados a prestarem serviços aos primeiros. 
 Modo de produção capitalista 
O predomínio do capitalismo acontece no período contemporâneo. Nesta nova fase da organização social, as relações 
de produção ou o modo como os indivíduos se relacionavam para organizar e implementar o trabalho social seriam 
desenvolvidos com base num processo de remuneração assalariada da mão de obra. Eram os operários que, 
desprovidos da propriedade das fábricas e dos meios de produção, “vendiam” aos burgueses, donos destes 
estabelecimentos, o único bem que possuíam, que seria a sua força de trabalho. Assim, neste modo de produção, 
como afirmava Marx, as principais contradições seriam aquelas existentes entre a burguesia — dona dos meios de 
produção — e o proletariado, que compreenderia os operários e trabalhadores de um modo geral. 
É importante destacar que, a cada um desses modos de produção corresponderiam diferentes níveis de desenvolvimento das forças produtivas e diferentes 
formas de organização do trabalho social ou das relações de produção. 
 
São justamente as diferentes posições dos homens com relação às formas de propriedades presentes numa sociedade, ou modo de produção, que irão definir as 
diferentes classes sociais existentes. A transformação de um tipo de sociedade para outro, ou de um modo de produção a outro, se dá por meio dos conflitos 
abertos entre a classe dominante e as classes exploradas num determinado período. 
 
Assim, de acordo com Marx: 
A história humana é uma história das lutas entre as classes. 
 
Para entender melhor a luta de classes, assista ao vídeo a seguir: 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 6 - A Teoria Marxista e as Práticas de Educação 
 O pensamento dialético 
Na concepção marxista, a partir da lógica do pensamento dialético, haveria uma reciprocidade de influências entre a consciência e as condições 
materiais da vida em sociedade. 
 
A particularidade da concepção de Marx está no fato de ele perceber este grande conjunto das ideias representado pelos valores e crenças 
predominantes, no caso da sociedade capitalista, como o fruto de um processo de dominação das elites burguesas. Como consequência, por 
terem perdido o controle sobre a organização da produção, os trabalhadores teriam perdido, também, a possibilidade de construir uma visão 
adequada sobre a sua própria realidade. Eles perceberiam o mundo a partir dos valores da burguesia, como se esta fosse a única forma 
possível de trabalhar e viver. 
 
 
Segundo Marx, no capitalismo existem os burgueses, proprietários dos meios de produção. 
 
E aqueles que vendem o único bem que possuem, ou seja, a sua força de trabalho, em troca do pagamento de salário. Estes seriam os proletários, 
classe que representaria a maioria da sociedade. Para eles, o modo de vida estabelecido na sociedade capitalista parece algo natural. É como 
se trabalhar em troca de um salário fosse um modo de vida que sempre existiu e sempre existirá. 
 
 
Um conceito fundamental, na concepção marxista, é o de alienação. O trabalho na sociedade capitalista é considerado como algo sobre o qual 
o próprio trabalhador não possui nenhum controle. Ou seja, um operário numa determinada linha de montagem executa muito bem a sua função, 
por exemplo, encaixar amortecedores na carroceria do veículo, sem ter a menor ideia sobre o procedimento para construir,de modo completo, 
um automóvel. Este saber lhe foi expropriado num processo histórico, juntamente com os meios de produção. Este mecanismo é definido por 
Marx como alienação. 
O trabalho social 
A organização do trabalho social na sociedade capitalista, segundo Marx, possuiria, portanto, uma considerável diferença em relação ao que 
era feito na sociedade feudal. 
Naquele período, em que predominavam as oficinas artesanais nas vilas e pequenas cidades, o Mestre Artesão era ao mesmo tempo executor e 
organizador do processo produtivo. 
 
 
 
Essa situação difere profundamente daquela presente na sociedade capitalista, na qual o dono da fábrica, que organiza e planeja a produção, 
não é quem executa o trabalho. 
No modelo civilizatório marcado pela presença do capitalismo, a fragmentação das atividades profissionais é a marca registrada. Dessa forma, 
a regra para a divisão do trabalho é: 
 
A causa da consciência distorcida construída pela grande maioria dos trabalhadores acerca do seu próprio modo de vida, é justamente esta 
divisão qualitativa do trabalho. 
Vamos conhecer, a seguir, mais sobre o pensamento de Marx. 
O Projeto Educacional de Marx 
Marx considerava esta situação, além de injusta, a causa de todo o processo de alienação presente na sociedade de sua época, a Europa do 
século XIX. 
Para resolver este problema, além da ação de conscientização das massas pelos integrantes do partido comunista (que ele considerava o 
partido revolucionário da causa dos trabalhadores) Marx imaginou um projeto de educação que pudesse compensar estas diferenças. 
 
Marx e Engels percebiam as práticas de educação escolar como uma importante ferramenta que poderia ser utilizada, tanto para perpetuar o 
processo de alienação e de dominação existente na sociedade capitalista, quanto para emancipar os trabalhadores desta realidade. 
É fundamental que você procure deslocar o pensamento para o século XIX e tente imaginar como viviam as pessoas nas cidades industriais 
naquele momento, para poder entender o raciocínio de Marx com relação ao seu projeto educacional. 
Em algumas citações de O Capital, sua obra mais importante, Marx relata algumas visitas a escolas localizadas em cidades na Inglaterra, cujas 
condições de ensino eram tão precárias, que só poderiam servir como espécie de engodo, para a nova legislação inglesa de 1844, que 
determinava que as crianças ao serem contratadas pelas fábricas deveriam estar devidamente matriculadas em algum estabelecimento de 
ensino. 
 
Sugerido para solucionar o problema educacional, o projeto de Marx certamente seria alvo de certa estranheza nos dias atuais. Para ele: 
 
O Projeto Educacional de Marx pode ser representado pela equação abaixo. 
Projeto Educacional de Marx = Educação Intelectual + Educação Profissional + Educação Física 
Para Marx era fundamental que todos os indivíduos combinassem educação intelectual, educação profissional e educação física, na sua 
formação. Só assim, todos se tornariam indivíduos integralmente desenvolvidos, capazes de desenvolver diferentes tarefas e atividades sociais. 
Ele considerava injusto que alguns indivíduos trabalhassem apenas com a mente, desenvolvendo seu intelecto, enquanto outros passassem 
toda a vida presos a atividades manuais repetitivas e embrutecedoras, no que se refere ao espírito humano. 
Mesmo para os membros da burguesia, a educação fragmentada era considerada por Marx como prejudicial, na medida em que o indivíduo se 
via desprovido daquilo que ele considerava como conhecimento tecnológico. 
Atenção 
É importante ressaltar que este projeto de educação sugerido pela teoria marxista se apresentava para a realidade europeia no século XIX. 
Neste momento o acesso a escola, mesmo num sentido tradicional, era restrito a um pequeno número de crianças originárias das classes mais 
favorecidas. 
Além disso, a possibilidade de automação do processo produtivo, como conhecemos hoje, era algo inconcebível em termos tecnológicos. 
Sendo assim, na visão de Marx, a ideia de que todos pudessem, ao longo de seu dia, compartilhar todas as funções existentes na sociedade, 
tanto as mais enaltecedoras quanto as mais laboriosas, se apresentava como a alternativa mais justa. 
 
 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 7 - A Sociologia de Max Weber 
 IAção social 
 
Um importante conceito que é a base a partir da qual a sociologia weberiana pode ser estruturada é o conceito de ação social. 
Mas o que isso significa? 
Ação social, segundo Weber, é todo tipo de conduta humana relacionada a outros 
indivíduos e dotada de um sentido subjetivamente elaborado. 
 
O que é a sociedade para Weber? 
 
A sociedade NÃO seria um organismo com uma espécie de complementaridade entre as suas partes, como postulava Durkheim, nem 
tampouco uma espécie de prisão para as classes menos favorecidas, como imaginava Marx. 
A sociedade se apresentava como uma grande teia formada por diversos tipos de ações sociais. A identificação do sentido subjetivo dessas 
ações, ou seja, do tipo de racionalidade que as motiva e que leva a este ou àquele comportamento é o que define a sociologia weberiana 
como compreensiva. 
De um modo diferente daquele empregado por seus contemporâneos, Weber rompe de forma mais sistemática com o cientificismo 
de influência positivista, muito presente nas obras de pensadores do século XIX, como Émile Durkheim. 
Na opinião de Max Weber, as ciências sociais, definidas por ele como ciências da cultura, são disciplinas cujas diretrizes 
metodológicas e teóricas são profundamente influenciadas pelo ponto de vista do investigador, ou seja, ao se produzir conhecimento 
científico, ou se relacionar com ele é de grande relevância se levar em consideração os valores presentes na personalidade do 
cientista ou pesquisador. 
Neste sentido, não existiria uma espécie de ciência “neutra”, sendo o próprio foco da pesquisa científica estabelecido, muitas vezes, 
em sintonia com os valores morais, políticos ou religiosos de quem desenvolve o trabalho. 
 
 
É na simples escolha de uma das partes deste todo para ser estudada, que se encontram envolvidos os valores do pesquisador. A escolha de 
um caminho para a pesquisa envolve um tipo de racionalidade e, consequentemente, também se caracteriza como uma ação social. 
Com o objetivo de qualificar estas ações sociais, Weber desenvolve o conceito de tipos puros ou tipos ideais, sabendo que estas construções 
não espelhariam de forma fiel a realidade. Elas se apresentariam como pontos de referência, a partir dos quais seria possível se estabelecer 
níveis de comparação com o mundo concreto, funcionando, na prática, como um importante método de investigação para as ciências sociais. 
Para a sociologia weberiana a sociedade concebida como esta totalidade, ou um “todo” monolítico seria algo absolutamente incompreensível 
“pela simples razão de que este todo reside na interação entre as partes e não é possível conhecer todas elas ao mesmo tempo, porque são 
muitas e porque se renovam a cada dia.” (Rodrigues, 2006: p. 61). 
Tipos de ações sociais 
 
Todas as ações praticadas em sociedade implicam em um determinado nível de racionalidade, por parte do sujeito que as executa. Justamente 
a partir do seu caráter mais ou menos racional, Weber estabelece uma classificação para as ações sociais, segundo o princípio dos tipos ideais. 
Ação social racional com relação a fins 
 
São aquelas cujo sentido subjetivo envolve os meios adequados para se atingir determinados objetivos, previamente estabelecidos. Ex.: uma 
pesquisa científica, um projeto econômico, fazer um curso de graduação etc. 
Ação social racional com relação a valores 
 
São aquelas cujo princípio racional não se vincula tanto ao objetivo a ser alcançado, mas à afirmação de determinados valores. Ex.: participar 
de uma manifestaçãoem defesa da natureza ou em prol dos direitos humanos, ou entrar para a universidade porque a família considera este 
um ponto importante. 
Ação social afetiva 
 
São aquelas cujo sentido subjetivo racional se mistura a uma forte carga emocional, muitas vezes comprometendo a própria análise da 
racionalidade em questão. Ex.: ações motivadas por ciúme, cólera, paixão etc. 
Ação social racional com relação ao regular ou 
ação social tradicional 
 
São aquelas cujo sentido subjetivo se constrói com vistas à observação de costumes ou tradições. Ex.: o casamento religioso ou o batismo dos 
filhos em determinada igreja, para quem não é praticante daquela crença. Ir para a universidade porque todos na família assim o fizeram etc. 
Vale ressaltar que a afirmação de que Weber considerava as situações descritas como tipos ideais, construídas para simples efeito 
de comparação é porque elas não representam a realidade num sentido fiel, mas sim para efeito de aproximação. 
 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 8 - As Práticas de Educação para a Sociologia Weberiana 
 
 
Para explicar este movimento, Weber constrói novamente uma tipologia, num sentido ideal, destinada a analisar as diferentes formas de 
dominação legítima. Segundo este autor, existiriam três tipos puros ou ideais de dominação legítima. 
 
 
A educação weberiana 
É neste momento que a sociologia weberiana atribui um significado relevante para as práticas de educação. É importante que você entenda 
bem estes conceitos: 
 
Para refletir sobre a sociologia da educação, Weber constrói alguns conceitos como o da Pedagogia do Cultivo e o da Pedagogia do 
Treinamento. 
 PEDAGOGIA DO CULTIVO 
É um conjunto de práticas destinadas a formar um tipo de indivíduo culto, o que implica transformações no seu 
comportamento interior e exterior. Este processo assumiria o sentido de uma “qualificação cultural” no sentido de 
uma educação de caráter abrangente, o que traria implicações no sentido do status e da própria qualidade de vida 
do indivíduo. Nas sociedades pré-industriais estas práticas estariam restritas às elites sociais e intelectuais. 
 PEDAGOGIA DO TREINAMENTO 
São as práticas de educação dominantes do Capitalismo. Segundo o autor, com a racionalização da vida social e a crescente 
burocratização do Estado moderno, a educação deixa gradualmente de ter como objetivo a “qualidade da posição do homem na vida” e 
passa a se constituir num projeto especializado com o objetivo de formar peritos e especialistas com vistas ao mercado de trabalho. 
Weber percebia com certa melancolia esta relação com o conhecimento, que poderia ser percebida como uma espécie de “depressão 
intelectual”. 
Para Weber, a Pedagogia do Treinamento, imposta pela racionalidade da sociedade capitalista, se apresentava como um forte obstáculo 
ao desenvolvimento do talento e da própria realização pessoal dos homens, de um modo geral. 
Esta era uma racionalidade que mantinha uma relação utilitarista com o conhecimento, destinada apenas à obtenção de poder e dinheiro. 
 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 9 - As Contribuições de Bourdieu, Gramsci e Mannheim 
 
Antonio Gramsci e a reforma intelectual e moral 
O comunista italiano Antonio Gramsci nunca publicou um livro, mas encontramos suas ideias em periódicos de partidos políticos e da imprensa 
e, sobretudo, nos famosos Cadernos do Cárcere, produzidos durante a sua prisão durante o governo fascista de Mussolini. 
É importante ressaltar que Gramsci sofreu muita influência de Karl Marx, porém, foi adiante, pois atualizou a teoria de Marx para analisar as 
sociedades capitalistas da Europa na primeira metade do século XX. 
 
Em sua obra, Gramsci faz distinção entre Oriente e Ocidente. Essa não é apenas uma distinção geográfica, mas, política. 
 
 
Por Ocidente ele entendia aqueles países em que a sociedade civil é estruturada, múltipla, organizada, e compartilha com o Estado a 
administração da vida social. São os países de capitalismo avançado, cujo mercado interno é forte e a vida política é plural. 
Ao contrário do Oriente, no Ocidente o poder encontra-se diluído entre o Estado e a Sociedade Civil. Sendo assim, não é suficiente que os 
grupos políticos revolucionários se voltem apenas contra o Estado. É preciso empreender uma “revolução no cotidiano” a partir de uma política 
feita na sociedade. Para chegar a tal intento, não basta o uso da força, é necessário alcançar a consciência das pessoas. É preciso ganhar a 
“batalha das ideias”. 
Por Oriente ele entendia os países onde o Estado é poderoso e a Sociedade Civil é fraca, dotada de pouca organização e de pouca capacidade 
de fazer frente ao Estado. 
 
Entenda a diferença entre os pensamentos de Marx e Gramsci. 
 Gramsci 
Para ele, eliminar a propriedade privada dos meios de produção não seria suficiente, pois precisariam lutar também 
contra a “apropriação privada, ou elitista, do saber e da cultura”. 
 Marx 
Afirmava que o proletariado deveria abolir a exploração econômica de uma classe sobre a outra, eliminando a 
propriedade privada dos meios de produção. 
 
De acordo com Gramsci, era necessário desfazer a separação entre “intelectuais” e “pessoas simples”, porque apenas aqueles tidos como 
intelectuais ocupavam postos de administração do Estado e da sociedade civil, concentrando mais poder. 
Para este autor, a luta pela hegemonia, ou seja, o processo lento e complexo pelo poder político nas sociedades complexas, não é vencida 
através do golpe de Estado ou pelo êxito nas eleições. É necessário convencer as pessoas, conseguir um consenso social em torno de suas 
concepções. Nesses termos, ele considerava o convencimento mais adequado do que a força. 
 
Blocos históricos 
Gramsci classificava a sociedade em dois blocos: 
 
 
 
A partir de alianças internas, as classes dominantes e as classes dominadas acabam se organizando em blocos, chamados por 
Gramsci de “blocos históricos”. 
 
Cada bloco tem seus próprios intelectuais que brigam para organizar a cultura de determinado contexto histórico a partir de seus 
interesses. 
 
Segundo Gramsci, existem dois tipos de intelectuais: 
 
 
 
 
Esse movimento de Gramsci teve como consequência a criação de um sistema educacional híbrido, no qual há dois tipos de escola: 
 HUMANISTA 
 ESPECIALIZADA 
 
Com o desenvolvimento industrial e a urbanização, o perfil da formação desses intelectuais se transformou. 
Ao lado da escola “clássica”, desenvolveu-se uma escola técnica que substituiu a clássica, pois era mais adequada à formação dos intelectuais 
orgânicos das classes dominantes. 
Para Gramsci, a abolição das “escolas desinteressadas” é sinal de elitismo e de exclusão das classes trabalhadoras de uma formação de 
qualidade, e que a expansão do ensino ocorria de forma caótica, pouco organizada e sem políticas orientadas. 
A partir dessas constatações, Gramsci elaborou a sua própria Política Educacional. 
Para que todos tivessem acesso à nova escola e para evitar a interferência de interesses econômicos, esta escola deveria ser pública e de 
qualidade. 
Para Gramsci, era importante dar a todas as classes a possibilidade de formar os seus próprios intelectuais, pois, caso contrário, as 
classes dominantes sempre venceriam a “batalha das ideias”. 
 
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron - A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino (1970) 
O sociólogo francês Pierre Bourdieu baseou-se nas concepções de Émile Durkheim e no Estruturalismo para fazer a sua análise sobre a 
educação contemporânea. É importante saber que, para o Estruturalismo de Bourdieu, os sujeitos sociais são vistos como marionetes das 
estruturas dominantes. 
 
 
Em 1970, Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, sob a influência de Durkheim, Karl Marx, Max Weber ecom o intuito de construir uma teoria 
sobre o sistema escolar, partem do princípio de que toda e qualquer sociedade estrutura-se como um sistema de relações de força material 
entre grupos e classes. 
Para Bourdieu e Passeron, a força material, ou seja, o capital econômico, é a base que determina a força simbólica ou capital cultural. O papel 
deste é reforçar, por dissimulação, as relações de força material. 
Dito de outra forma, a classe que possui o capital econômico produz e reproduz o capital cultural e faz isso escondendo (dissimulação) o seu 
caráter de violência simbólica (dominação cultural). 
A função da educação é a de reprodução das desigualdades sociais. Pela reprodução cultural, a educação contribui para a reprodução social. 
Despossuídas de força material e força simbólica, as classes dominadas não escapam dessa imposição. Segundo Saviani (2005), para 
Bourdieu e Passeron, a educação, não se configura como um fator de superação da dominação, mas, ao contrário, constitui-se como um 
elemento reforçador da mesma. Toda tentativa de usá-la como instrumento de superação da dominação é apenas ilusão. É a forma pela qual 
ela dissimula e, por isso, cumpre eficazmente a sua função de dominação. 
À luz da teoria da violência simbólica, a classe dominante exerce um poder de tal modo absoluto que se torna inviável qualquer 
reação por parte da classe dominada. 
 
Karl Mannheim 
Karl Mannheim também recebeu influências dos clássicos. Segundo Rodrigues, Mannheim retomou a formulação de Max Weber sobre os tipos 
de educação e tem por objetivo fornecer um programa para a mudança da educação. Para ele: 
 
 
Nesse sentido, duas ciências são fundamentais: a psicanálise e a sociologia. 
Psicanálise 
 
É responsável por um novo padrão de vida pautado pela saúde mental e pela libertação das repressões adquiridas na formação do homem. 
 
 
Sociologia 
 
Era vista como a disciplina capaz de sintetizar as contribuições de todas as camadas sociais para o processo educacional. A Sociologia devia, 
então, servir de base à Pedagogia. Assim, Mannheim defendia uma sociedade essencialmente democrática, uma democracia de bem-estar social 
dirigida pelo planejamento racional e governada por cientistas. 
Saiba mais 
Conforme Rodrigues (2007), “Em suma, Mannheim era um homem de seu tempo, em busca de um programa de estudos em sociologia da 
educação que possibilitasse a formulação de projetos educacionais que ampliassem o horizonte do homem, que superasse as divisões em 
blocos políticos e ideológicos, que não o satisfaziam”. 
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação / Aula 10 - A Cultura da Escola em um Espaço Multicultural 
 A educação e a sociedade multicultural 
Refletir sobre o papel da educação em uma sociedade marcada pela multiculturalidade é algo recente no mundo ocidental e, de modo particular, na América 
Latina. 
Na verdade este é um processo que não surge a partir de questões exclusivamente pedagógicas, uma vez que sua origem está relacionada a questões de natureza 
política, ideológica e cultural, decorrentes, em muitos casos, a conflitos étnico-culturais. 
O que pode ser percebido, como consequência inclusive de nossa herança colonial, é que as relações étnicas nas sociedades contemporâneas da América Latina 
apresentam-se como reflexos de estruturas de dominação e disputa pelo poder político. 
Neste sentido, mesmo constatando a presença de uma realidade social marcada pela multiculturalidade, é possível identificar um sentido homogeneizador na 
cultura escolar, o que estabelece uma desconexão entre esta e a cultura da sociedade, num sentido mais generalizado. 
 
 
A cultura escolar, de um modo predominante, se apresenta como “engessada”, no sentido da reprodução de um único discurso, que seria aquele dos segmentos 
mais elitizados da sociedade. Desta forma criam-se verdadeiros “aparteids” socioculturais, ou processos de guetificação. 
De modo conclusivo, fica evidente que a simples consciência do caráter multicultural da sociedade não estabelece, por si só, uma perspectiva mais democrática 
no que se refere às relações entre os diferentes grupos étnicos. 
A construção de um sentido intercultural para as relações sociais envolve o diálogo e uma concreta inter-relação, entre as diferentes realidades culturais. 
Neste sentido, é preciso: 
Que se abandone a perspectiva etnocêntrica, que tem caracterizado as relações sociais, por exemplo, na sociedade brasileira; 
Que o “outro” seja percebido apenas como diferente e não como algo “menor” em função da diferença. 
Sintetizando, a perspectiva intercultural para a educação envolve uma efetiva relação dialógica entre os diferentes segmentos sociais e grupos étnicos. 
Para isto, é fundamental a existência de um espaço democrático, em que se possa fomentar a solidariedade e o respeito à diferença nas relações entre as diversas 
etnias. 
É mportante construir, ao nível das políticas educacionais, a valorização da 
diversidade cultural, garantindo a todos, em igualdade de condições e de 
forma digna, o direito à educação.

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