Buscar

INSERÇÃO E ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS NO SUAS: POSSIBILIDADES E IMPASSES Dr. Silvio José Benelli Departamento de Psicologia Clínica da Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Assis – SP

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

INSERÇÃO E ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS NO SUAS: 
POSSIBILIDADES E IMPASSES
[1: Oficina apresentada no 3º Seminário Estadual sobre Psicologia e Assistência Social em São Paulo “10 anos do Sistema Único de Assistência Social: contribuições e desafios da psicologia para o enfrentamento da desigualdade social”. Realização: Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – CRP 06, dias 20 e 21 de março de 2015, na Universidade Paulista - UNIP (Campus Indianópolis), situada na Rua Dr. Bacelar, 1212 - Vila Clementino - São Paulo – SP.]
Dr. Silvio José Benelli
Departamento de Psicologia Clínica da Faculdade de Ciências e Letras 
UNESP – Campus de Assis – SP
Apresentaremos uma revisão problematizadora da literatura acadêmica sobre a inserção do psicólogo na Assistência Social, a partir de bancos de teses e dissertações de algumas universidades tais como os da UNESP, USP, UEM, PUC e também de outras universidades estaduais e federais. Encontrarmos uma amostra interessante sobre as diferentes reflexões que estão sendo produzidas sobre o nosso tema de investigação: a interface entre a Psicologia Clínica e a Assistência Social no campo das políticas públicas.
Encontramos 24 diferentes dissertações e teses, que agrupamos a partir da linha teórico-metodológica dos seus autores: 
perspectiva clínica tradicional (02), 
perspectiva da Psicologia Social dialética (10), 
perspectiva psicanalítica (07), 
perspectiva genealógica (02) 
e perspectiva cartográfica (03). 
Na literatura acadêmica disponível em bancos de teses e dissertações de algumas universidades tais como os da UNESP, USP, UEM, PUC e também de outras universidades estaduais e federais, encontrarmos uma amostra interessante sobre as diferentes reflexões que estão sendo produzidas sobre o nosso tema de investigação. Vamos começar apresentando uma pequena classificação que pretende situar as 24 diferentes dissertações e teses obtidas até o momento, agrupando-as a partir da linha teórico-metodológica dos seus autores:
1. Perspectiva clínica tradicional (02)
1. RAMOS, F. Q. Reflexões sobre o potencial terapêutico dos encontros com crianças e adolescentes em situação de rua no centro da cidade de São Paulo. Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica. Instituto de Psicologia, USP, São Paulo, 2011. 
2. GUIMARÃES, G. F. A clínica do desenraizamento: atendimento a crianças em situação de risco. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica, PUC, SP, 2007.
2. Perspectiva da Psicologia Social dialética (10)
1. ARAÚJO, F. I. C. “Mas a gente não sabe que roupa a gente deve usar...” Um estudo sobre a prática do psicólogo no Centro de Referência da Assistência (CRAS). Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010. 
2. BOTARELLI, A. O psicólogo nas políticas de proteção social: uma análise dos sentidos e das práxis. Tese de doutorado não-publicada, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. 
3. FERREIRA, C. R. C. As contribuições da psicologia histórico-cultural aos psicólogos que trabalham junto às Políticas Públicas de assistência social voltadas às crianças entre zero e seis. Dissertação de mestrado não-publicada, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2010.
4. FONTENELE, A. F. G. T. Psicologia e Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Estudo sobre a inserção de psicólogos nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS. Dissertação de mestrado não-publicada, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2008.
5. PAIVA, I. L. Os novos quixotes da psicologia e a prática social do “terceiro setor”. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Pós Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2008.
6. SANTOS, L. N. O encontro das psicólogas com o “social” no CRAS/SUAS: entre o suposto da igualdade e a concretude da desigualdade. Dissertação de mestrado em Psicologia Social. Instituto de Psicologia. Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. 
7. SENRA, C. M. G. Psicólogos sociais em uma instituição pública de Assistência Social: analisando estratégias de enfrentamento. Tese de doutorado não-publicada, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, São Paulo, 2009. 
8. MELO, E. P. E vamos à luta: o fazer do(a) psicólogo(a) no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). 131 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Fortaleza, 2011.
9. RIBEIRO, A. B. O psicólogo na proteção social especial: atuação junto às vítimas de violação de direitos no CREAS. 194 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Natal, 2010.
3. Perspectiva psicanalítica (07)
1. PASTORE, J. A. D.; SOARES, S. S. G. (Orgs.) O psicanalista na comunidade. São Paulo: SBP/SP, 2012.
2. MARIANO, M. L. H. S. O praticante de psicanálise no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS): a intervenção retificadora e outras questões. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011. 
3. SUSIN, L. M. O mal-estar na cultura e suas incidências na clínica em contextos de exclusão. Dissertação de mestrado em Psicologia Social e Institucional não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.
4. SOUZA, C. R. A. Política pública de assistência social em análise: história, valores e práticas. 2012, 100f. Dissertação (Mestre em Psicologia Social). Núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão: 2012.
5. SCARPARO, M. L. D-E. Em busca do sujeito perdido: a psicanálise na Assistência Social, limites e possibilidades. Dissertação de mestrado não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
6. ROGONE, H. M. H. Psicanálise e cidadania: correndo riscos e tecendo laços. Tese de doutorado não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
7. MOREIRA, J. O.; GUERRA, A. M. C. (Orgs.). A psicanálise nas instituições públicas: saúde mental, assistência social e defesa social. Curitiba: CRV, 2010. (livro)
4. Perspectiva genealógica (02)
1. CHRISTIANO, A. P. O psicológico na rede socioassistencial de atendimento à crianças e adolescentes. Dissertação (Mestrado em Psicologia e Sociedade) – Universidade Estadual Paulista, Assis, São Paulo, 2010. 
2. DIAS, D. D. Política pública de Assistência Social: entre o controle e a autonomia. Dissertação de Mestrado em Psicologia Social e Institucional. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
5. Perspectiva cartográfica (03)
1. MACEDO, J. P. S. O psicólogo no campo do bem-estar: cartografias de práticas na saúde e na assistência social. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2007.
2. ANDRADE, L. F. O psicólogo no Centro de Referência da Assistência (CRAS) de Fortuna de Minas – MG: na trilha cartográfica dos territórios subjetivos. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Belo Horizonte, 2009. 
3. MACERATA, I. M. “... como bruxos maneando ferozes”: relações de cuidado e de controle no fio da navalha. Experiência “psi” em dispositivo da política de assistência social para crianças e adolescentes em situação de rua. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Psicologia, 2010.
Podemos considerar que há uma certa variação no número de trabalhos acadêmicos encontrados, produzidos a partir de diferentes linhas teóricas. Sendo abrangentes em nossas considerações, poderíamos dizer que o leque de opções quanto as diferentes matrizes teóricas presentes no campo poderiam ser enumeradas assim: matrizpositivista – ciência tradicional; matriz materialista histórica – Marx; matriz psicanalítica – Freud, Melanie Klein, Psicologia do Ego, Lacan; matriz nietzschiana – Filosofia da Diferença: Foucault, Deleuze, Guattari. 
Ao longo do tempo destinado para essa pesquisa, pudemos ler atentamente todo o material colecionado. Depois de refletir, selecionamos alguns trabalhos de cada uma dessas linhas teórico-metodológica e procuramos resenhá-los minuciosamente, a modo de exemplo. Não resenhados a mesma quantidade de texto de cada uma das linhas. O próprio processo de trabalho de leitura e de resenha do material revelou que as vezes uns poucos trabalhos eram suficientes para esgotar um certo universo teórico, por saturação conceitual. 
A leitura, trabalhada e refletida desse abundante material acadêmico funcionou como uma importante imersão no campo temático que pretendíamos investigar. Também colecionamos diversos documentos oficiais, tanto da Assistência Social quanto da Psicologia, bem como livros e numerosos artigos acadêmicos que foram lidos e incorporados aos diversos ensaios que produzimos ao longo do desenvolvimento dessa pesquisa.
A seguir, apresentaremos as resenhas que produzimos sobre uma amostra das teses e dissertações que colecionamos, problematizando a interface da Psicologia Clínica com a Assistência Social no campo das políticas públicas, focalizando os diferentes modos de inserção dos psicólogos nesse campo: como técnicos e como pesquisadores.[2: Em nossas buscas, não encontramos nenhuma tese ou dissertação desenvolvidas na perspectiva behaviorista, comportamental ou cognitivo-comportamental. Encontramos apenas poucos livros (ZAMBERLAN, 2005; BAZON, 2010), capítulos de livros (NEIVA, 2010) e alguns artigos (NARDI; DELL'AGLIO, 2010; COSTA; WILLIAMS; CIA, 2012) que foram trabalhados nos ensaios 11 e 12, nesse relatório. ]
1. Perspectiva clínica tradicional 
Caracterizamos a clínica tradicional como aquela que permanece no plano da relação ego-realidade, campo do imaginário, ocupando-se da pessoa, do indivíduo como outro semelhante, sem incluir o plano da realidade psíquica inconsciente, tal como caracterizada no campo de Freud e Lacan. 
2. Perspectiva da Psicologia Social dialética
A perspectiva dialética em Psicologia pauta-se no materialismo histórico e também no método dialético, critica a clínica psicologizante tradicional e propõem práticas de atuação que incluem o plano da ação social e política. O sujeito é considerado como ator social no plano da história e como cidadão na ordem da política.
3. Perspectiva psicanalítica na Assistência Social
Embora falemos em Psicanálise no singular, é preciso considerar e distinguir que há pelo menos quatro modalidades diversas no complexo campo psicanalítico: Freud e seus seguidores (ROUDINESCO, 1998, p. 272-281), Melanie Klein e os membros de sua escola (ROUDINESCO, 1998, p. 430-435), a Psicologia do Ego, de tradição norte-americana (ROUDINESCO, 1998, p. 169-171; ZIMERMAN, 2004; FENICHEL, 2005; BARATTO; AGUIAR, 2007) e a de Lacan seus continuadores (ROUDINESCO, 1998, p. 445-453). Nossa resenha sobre a perspectiva psicanalítica no campo da Assistência Social é composta por algumas dessas versões. Começamos com apresentando uma concepção que entendemos estar mais alinhada com a Psicologia do Ego e prosseguimos com outras situadas no campo de Freud e Lacan.
4. Perspectiva genealógica 
Os trabalhos localizados na perspectiva genealógica são realizados com base nos estudos de Foucault sobre a sociedade disciplinar e os modos de funcionamento de saberes, poderes e a produção social e histórica de sujeitos.
5. Perspectiva cartográfica 
Os trabalhos realizados na perspectiva cartográfica são produzidos a partir de Deleuze e Guattari, como uma possibilidade de pesquisa-intervenção que pretende, por um lado, superar as características da ciência hegemônica que cinde saber e fazer, conhecimento e política, e por outro incluir as questões da ética e do desejo como sendo fundamentais.
Resenhamos detalhadamente 13 desses trabalhos, sendo que a leitura, trabalhada e refletida desse abundante material acadêmico funcionou como uma importante imersão no campo temático.
Parece importante distinguir, por um lado, um conjunto de dados que os pesquisadores captam na realidade concreta da Assistência Social, questão que procuramos focalizar nessa investigação, em diversas localidades brasileiras e, de outro, suas respectivas abordagens teórico-metodológicas, já no plano da pesquisa acadêmica. 
Recortam diversos aspectos de uma realidade que é múltipla e complexa, a partir de suas experiências e de seus referenciais teóricos, enfatizando aspectos distintos, apresentando níveis ou planos analíticos diferentes, às vezes antagônicos, às vezes, possivelmente suplementares – mas nunca complementares nem totalizantes –, lançando luz sobre diversos aspectos problemáticos do cenário composto pelo campo socioassistencial. 
É interessante notar que há um exercício do pensamento dos pesquisadores que também deve ser incluído entre as formas de atuação dos psicólogos no âmbito da Assistência Social. Ao analisarem a inserção de outros psicólogos nessa política pública por meio da prática teórica, eles também estão criando de modo diferente, a realidade social e histórica que constitui a própria Assistência Social na sua interface com a Psicologia, enquanto ciência e profissão. 
Pesquisadores, a partir de distintas visadas, vão se deparando com problemas muito parecidos: pode-se dizer que constatam que há psicólogos que fazem o que podem nas circunstâncias conjunturais precárias e estruturais paradoxais nas quais estão inseridos. Há muitos psicólogos técnicos que parecem trabalhar com o senso comum – quando não a partir do preconceito mesmo –, há outros que procurariam seguir uma determinada perspectiva teórica adotada ainda na graduação, sobretudo com relação ao atendimento clínico numa linha específica. 
Muitos dizem não terem sido formados para atuar no campo das políticas públicas sociais. Lendo os relatos de pesquisa dos psicólogos pesquisadores, percebe-se a fragilidade institucional, financeira e técnica da Assistência Social como política pública nos diversos municípios e esse fato não é acidental, pois o Estado resiste em se responsabilizar efetivamente pelo financiamento dessa política pública social. 
O clientelismo do poder público municipal, as disputas políticas locais, os interesses eleitoreiros, são obstáculos que precisam ser enfrentados e superados para a consolidação da Assistência Social em toda parte. Práticas de gestão autoritárias, centralizadoras, opressoras e mesmo despóticas – em prefeituras, secretarias, estabelecimentos assistenciais públicos e ONGs – não são incomuns nesse cenário, de acordo com a literatura compulsada. 
Aspectos tais como a construção de equipes mínimas, condições institucionais adequadas de trabalho e de formação continuada, deixam muito a desejar: a terceirização é a tônica geral, muitas das contratações são temporárias, falta remuneração que valorize os trabalhadores, os planos de carreira são raros, há uma intensa rotatividade de funcionários nos estabelecimentos, o que promove a descontinuidade das ações em andamento e incide diretamente nos seus precários efeitos resolutivos. 
Hipótese: podemos considerar que em geral, na atualidade, o lugar ético possível para o psicólogo estaria entre a tutela normalizadora, o agente político e a Atenção Psicossocial.
Apresentação de uma amostra do campo, por meio dos resumos das teses e dissertações:
1. Clínica tradicional
2. Dialética crítica
3. Psicanalítica (campo de Freud e Lacan)
4. Genealogia
5. Cartografia
Dimensões institucionais do trabalho na Assistência Social
Partimos da composição alguns parâmetros como definidores de um modelo de produção institucional no campo da práxis da Assistência Social: 
a. Dimensão técnica ou prática
b. Dimensão teórica
c. Dimensão ideológica
d. Dimensão política
e. Dimensão das concepçõesdas formas de organização do estabelecimento institucional
f. Dimensão dos modos da relação da instituição/estabelecimento com a clientela e a população (incluindo o território), e modos da relação da população com a instituição/estabelecimento.
g. Dimensão ética 
a. Dimensão técnica ou prática: inclui o fazer, o processo de trabalho, os meios de ação sobre o “objeto”/“sujeito”, o plano das práticas (por ex.: acolhida, escuta, atendimento, encaminhamento, monitoramento, avaliação, etc). 
b. Dimensão teórica concepções sobre como é o “objeto”/“sujeito”: 
a) Psicologia: Clínica Tradicional (psicologia do ego, humanista, comportamental, psicometria, etc.), Clínica Psicanalítica, Análise Institucional, Sócio-História (dialética), Genealógica, Esquizoanalítica. 
b) Pedagogia: Tradicional (autoritária), Renovada (pseudodemocrática e psicologizante), Dialética (dialógica, democrática, politizadora, Educação Popular). 
c) Sociologia: funcionalista (reacionária), progressista (conservadora) (alienadas e mantenedoras da desordem social institucionalizada), dialética (revolucionária e transformadora).
c. Dimensão ideológica (valores, crenças, ideias) compõe o plano sociocultural, tanto o que existe e é historicamente hegemônico quanto o novo que pretende superá-lo:
a) Senso comum: preconceito/bom senso
b) Saber científico interventor autoritário: conhecer para saber, saber para prever, prever para intervir e controlar.
c) Saber transdisciplinar: tratar o outro como sujeito na ordem do conhecimento, da ação, do governo e da educação, o outro como sujeito da própria vida.
d) Elitismo arrivista: os direitos não são para todos, são privilégios de poucos.
e) Clientelismo: assistir os mais pobres é fazer favor, como concessão e benesse da autoridade.
f) Cultura da cidadania: todas as pessoas são sujeitos de direitos, que são complexos, interligados, indissolúveis, inalienáveis e intransferíveis. Os deveres seguem e são consequências dos direitos usufruídos. 
d. Dimensão política: se refere às decisões tomadas, as escolhas e as opções realizadas, bem como o planejamento e o desenho das orientações técnicas definidas, que são plasmadas nos textos e documentos escritos, incluindo as leis, as normas, os regulamentos escritos.
Entendemos que os problemas institucionais são também problemas sociais. Soluções técnicas apenas, muitas vezes não são suficientes para resolvê-los. Eles exigem soluções políticas para sua metabolização. A política não é uma questão meramente técnica (eficácia administrativa) nem científica (conhecimentos especializados sobre gerenciamento ou administração), é ação e decisão coletiva quanto aos interesses e direitos do próprio grupo social.
e. Dimensão das concepções das formas de organização do dispositivo institucional (prefeitura, secretaria, CRAS, CREAS, entidade de atendimento)
a) O modelo patrimonialista
b) O modelo de gestão piramidal, hierárquico e burocrático
c) O modelo gerencial
- copia o modelo da empresa capitalista como modelo de eficiência
- implementa uma gestão tecnocrática da administração pública
d) O modelo democrático na administração pública 
- co-gestão: participação, participacionismo, voluntariado, participação política
- conselhos municipais
- orçamento participativo
- audiências públicas
- conferências municipais
e) O modelo da organização em rede 
- a democracia radical
f. Dimensão dos modos da relação da instituição/estabelecimento com a clientela e a população (incluindo o território), e modos da relação da população com a instituição/estabelecimento.
a) Relação tuteladora e assistencialista, com as seguintes características gerais: consideram o problema social sob a aparência de ajuda; provocam a dependência por meio da doação ofertada; promovem atos compensatórios e não soluções concretas para os problemas; recriam a miséria sob a forma de tutela; promovem uma concepção naturalizante da pobreza, que é vista como normal, como residual e não como efeito estrutural da atual organização social; estigmatizam a pobreza e também o pobre; oferecem aos pobres condições de minimização da pobreza de modo também pobre e secundário; não pensam na intencionalidade ou na orientação ética com a qual a ajuda está sendo prestada; reconhecem apenas a noção de favor e não assimilam a noção de direito; são predominantemente paternalistas.
b) Relação emancipadora e cidadã: as ações assistenciais – sem nunca perderem de vista que o Modo Capitalista de Produção neoliberal não é uma sociedade direitos, no que pese sua ênfase ideológica no discurso dos direitos humanos e sociais – poderiam pautar-se pelas as seguintes características: fundamentam-se na lógica dos direitos humanos, dos direitos políticos, dos direitos sociais e dos direitos dos segmentos sociais específicos, superando a noção do favor; visam ao reforço da cidadania participativa; vão além da ajuda material e imediata; incluem atividades de orientação e de assessoria; promovem o sentido de reflexão, o aguçamento do espírito crítico e/ou tomada de decisões na população; também podem realizar as ações emergenciais necessárias, mas o fazem juntamente com uma análise pertinente das distorções promovidas pelo funcionamento da estrutura social, geradora do empobrecimento das classes populares; procuram desenvolver a articulação em rede entre todas as políticas sociais; buscam a causa dos problemas sociais de modo radical, situando-os no contexto social mais amplo, englobando as dimensões políticas, econômicas, culturais, jurídicas e sociais; buscam auxiliar as pessoas a exercerem a sua cidadania de modo integral.
g. Dimensão ética 
Ética da tutela – o indivíduo é tomado como objeto de intervenção e eu sei o que é melhor para o outro e vou aconselhá-lo, vou decidir e manda-lo fazer o que acho que seja correto para ele. O profissional é a figura de autoridade, investida de saber e também de poder.
Ética da interlocução – diálogo com o outro como um indivíduo igual a mim: somos duas pessoas racionais e capazes de escolhas e de decisões acertadas, permanecemos no plano da vontade individual, desconhecendo quaisquer fatores estruturais ou conjunturais que nos determinam ou condicionam. 
Ética da ação social: o indivíduo é tomado enquanto sujeito consciente e tratado formalmente como cidadão, precisando apenas de inclusão, de reabilitação, reinserção, ressocialização e de contratualidade social. Predomina uma sociologização terapêutica que dispensa qualquer tipo de clínica.
Ética do cuidado: variação do modelo anteriror, nela o indivíduo é tomado como objeto de cuidado, com base na solidariedade, compaixão e identificação, recaindo facilmente na ética da tutela.
Ética do sujeito do inconsciente: parte das contribuições teóricas, técnicas, éticas e políticas da Psicanálise do campo de Freud e Lacan, postulando um indivíduo que porta um sujeito do inconsciente, um sujeito do cuidar-se. O sujeito é alguém que aprende, que se organiza e que se implica de modo absolutamente próprio e singular.
Referências
ARAÚJO, F. I. C. “Mas a gente não sabe que roupa a gente deve usar...” Um estudo sobre a prática do psicólogo no Centro de Referência da Assistência (CRAS). Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010. 
BENELLI, S. J. Entidades assistenciais socioeducativas: a trama institucional. Rio de Janeiro: Vozes, 2014. 237 p. 
BENELLI, S. J. As éticas nas práticas de atenção psicológica na Assistência Social. Estudos de Psicologia, Puc-Campinas, vol. 31, n.2, p.269-278, 2014. 
CHRISTIANO, A. P. O psicológico na rede socioassistencial de atendimento à crianças e adolescentes. Dissertação (Mestrado em Psicologia e Sociedade) – Universidade Estadual Paulista, Assis, São Paulo, 2010. 
MARIANO, M. L. H. S. O praticante de psicanálise no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS): a intervenção retificadora e outras questões. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011. 
MACEDO, J. P.S. O psicólogo no campo do bem-estar: cartografias de práticas na saúde e na assistência social. Dissertação de Mestrado em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2007.
MACERATA, I. M. “... como bruxos maneando ferozes”: relações de cuidado e de controle no fio da navalha. Experiência “psi” em dispositivo da política de assistência social para crianças e adolescentes em situação de rua. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Psicologia, 2010.
PAIVA, I. L. Os novos quixotes da psicologia e a prática social do “terceiro setor”. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Pós Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2008.
RAMOS, F. Q. Reflexões sobre o potencial terapêutico dos encontros com crianças e adolescentes em situação de rua no centro da cidade de São Paulo. Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica. Instituto de Psicologia, USP, São Paulo, 2011. 
SOUZA, C. R. A. Política pública de assistência social em análise: história, valores e práticas. 2012, 100f. Dissertação (Mestre em Psicologia Social). Núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão: 2012.
SUSIN, L. M. O mal-estar na cultura e suas incidências na clínica em contextos de exclusão. Dissertação de mestrado em Psicologia Social e Institucional não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

Outros materiais