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Módulo Filosofia - PP - PARTE 1

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“Filosofia é a batalha 
entre o encanto de nossa 
inteligência mediante a 
linguagem” 
– Ludwig Wittgenstein – 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Vital dos Santos Souza Junior 
 
 
 
 
Caro aluno, 
 
 
Ao elaborarmos este módulo, visando contemplar a Filosofia, objetivamos construir um texto que 
possibilite a preparação para o aprendizado e desenvolvimento de ferramentas que serão 
utilizadas no decorrer de seu curso. 
Este módulo tem como objetivo central estabelecer uma relação entre o ensino de Filosofia e os 
aspectos que envolvem o indivíduo através de indagações e reflexões sobre os assuntos 
existentes em seu cotidiano, respeitando a diversidade de nossa composição social, mas 
despertando-o para o entendimento e reflexão sobre o conhecimento. 
Conforme diria Zygmunt Bauman (BAUMAN, Z., 1999, p. 11): “Questionar as premissas 
supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente 
que devemos prestar a nossos companheiros humanos e a nós mesmos”. 
A arte da Filosofia ou do Filosofar está inserida no constante questionamento de nossa realidade 
e de nós mesmos, fazendo-nos transformar nosso mundo interior e exterior. 
Esperamos que você construa a seu aprendizado de acordo com as orientações contidas neste 
módulo e, apoiando-se nas orientações de seu Professor-Tutor. 
Com a elaboração deste material, desenvolveremos com vocês a participação em um novo 
método de ensino – o ensino a distância. Dessa forma, você terá bastante flexibilidade para 
realizar as atividades nele previstas. Embora você possa definir o tempo que irá dedicar aos 
estudos e à elaboração dos trabalhos, o curso foi planejado para ser concluído em um prazo 
determinado. 
 “Não se aprende Filosofia, mas a filosofar.” - Kant 
 
Prof. Vital Souza Jr. 
 
 
 
IMPORTANTE: 
 
Este módulo é utilizado exclusivamente com fins didáticos na disciplina de FILOSOFIA nos cursos de graduação da UNEF. 
Não deve ser considerada como base para consulta bibliográfica, mas como material orientativo de apoio aos acadêmicos. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
PLANO DE ENSINO .......................................................................................................................................................... 5 
1. PERFIL DO EGRESSO ........................................................................................................................................... 5 
2. EMENTA .................................................................................................................................................................... 5 
3. OBJETIVOS .............................................................................................................................................................. 5 
4. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................................................ 6 
6. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ............................................................................................................................ 6 
7. METODOLOGIA ....................................................................................................................................................... 7 
8. AVALIAÇÃO .............................................................................................................................................................. 7 
9. RECURSOS .............................................................................................................................................................. 8 
10. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................... 8 
BIMESTRE I ...................................................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
I - A concepção da EAD como forma de ensino ................................................................................................ 10 
I.I – Histórico da EAD e suas diferentes gerações .......................................... Erro! Indicador não definido. 
II – Introdução à Metodologia da Pesquisa Científica. ........................................ Erro! Indicador não definido. 
III - Distintas formas de conhecimento humano: empírico ou senso comum, teológico, filosófico e 
científico. .................................................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
III.I - Diferentes tipos de conhecimentos: .......................................................... Erro! Indicador não definido. 
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. 
IV - Ciência e conhecimento científico: gênese e desenvolvimento ................. Erro! Indicador não definido. 
IV.I - A ciência e suas características ................................................................ Erro! Indicador não definido. 
IV.II – A Evolução Científica ................................................................................ Erro! Indicador não definido. 
POSITIVISMO ....................................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
PARA SABER MAIS ........................................................................................................................................... 16 
FUNCIONALISMO ................................................................................................ Erro! Indicador não definido. 
PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
ESTRUTURALISMO ............................................................................................ Erro! Indicador não definido. 
PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
DIALÉTICA ............................................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
FENOMENOLOGIA .............................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
MODELO HOLÍSTICO ......................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. 
V – A Pesquisa Científica ........................................................................................ Erro! Indicador não definido. 
V.I - Tipos de pesquisa......................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
 
TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. Erro!Indicador não definido. 
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. 
VI - Leitura, análise e interpretação de textos. ..................................................... Erro! Indicador não definido. 
VI.I - Método e estratégia de estudo e aprendizagem .................................... Erro! Indicador não definido. 
VI.II - Leitura e análise de textos ........................................................................ Erro! Indicador não definido. 
TÉCNICA PARA SUBLINHAR ............................................................................ Erro! Indicador não definido. 
TÉCNICA PARA ESQUEMATIZAR ................................................................... Erro! Indicador não definido. 
TÉCNICA PARA FICHAR .................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
TÉCNICA PARA RESUMIR ................................................................................ Erro! Indicador não definido. 
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. 
BIMESTRE II ..................................................................................................................... Erro! Indicador não definido. 
I - Normas Técnicas (ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas). .. Erro! Indicador não definido. 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................... 42 
 
 
 
 
 
PLANO DE ENSINO 
 
Faculdade: UNEF 
 
Curso: PP 
 
Disciplina: Filosofia 
 
Carga 
horária: 
 
T 36 h 
P 
 
Semestre
: 
2014.1 
 
Turno: Noturno Turma: 1º Semestre 
 
 
 1. PERFIL DO EGRESSO 
 
Os cursos de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda 
da UNEF têm como objetivo comum formar profissionais capazes de produzir e transmitir 
conhecimentos, a partir de uma interação com os processos de comunicação, conscientes do 
seu potencial transformador e aptos a atender às permanentes mudanças dos processos 
comunicacionais da sociedade e do mercado. 
 
2. EMENTA 
 
Introdução geral à Filosofia. Filosofia enquanto ciência. História da Filosofia: evolução do 
pensamento humano através dos tempos. Relevância da filosofia para sociedade 
contemporânea e para o exercício da profissão. 
 
3. OBJETIVOS 
3.1 Objetivo Geral: 
 
Criar condições para que os alunos adquiram noções elementares sobre a filosofia, as ciências 
humanas, a Verdade, a Ética, a Linguagem e a Estética. 
 
3.2 Objetivos específicos: 
 
 Inserir o aluno na questão da existência do pensamento filosófico, no que diz respeito à 
sua origem e nascimento, destaque para seus campos de investigação; 
 
 Introduzir o aluno na compreensão da razão e da natureza da linguagem em sua 
dimensão teórica e prática; 
 Discutir os aspectos da estética na reflexão crítica sobre a cultura e a arte com o objetivo 
epistêmico da filosofia; 
 Apresentar as questões éticas para a filosofia, ética aristotélica, o raciocínio ético e a 
questão da liberdade. 
 
 4. JUSTIFICATIVA 
 
A filosofia começa a surgir, ganhando força e se desenvolvendo rapidamente quando as 
respostas dadas pelo mito a certas indagações não satisfazem mais a certas mentes curiosas e 
que buscam respostas mais aprofundadas. A filosofia é um conhecimento, uma forma de saber, 
que tem uma esfera própria de competência fundamentada em ações válidas, precisas e 
ordenadas. Para Aristóteles, “a filosofia estuda as causas últimas de todas as coisas”. A filosofia 
pode ser definida como o estudo do conhecimento que envolve o ser humano na linguagem, na 
sua subjetividade, história, arte, cultura, política, etc. 
 
5. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
 
Ao término do curso, os estudantes deverão estar capacitados para: 
a) Compreender os conceitos básicos da Filosofia; 
b) Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros; 
c) Perceber a importância do conhecimento em Filosofia; 
d) Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de 
posição face a argumentos mais conscientes 
 
6. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
1 – Introdução à Filosofia 
 Histórico; 
 A mitologia; 
 Os pré-socráticos; 
 Platão / O Mito da Caverna; 
 Aristóteles: Ética a Nicômaco. 
 
2 – Noções Sobre Razão e a Dialética Socrática 
 A Dialética de Sócrates; 
 Empirismo – Descartes/Leibniz; 
 Racionalismo – Hobbes/Locke/Hume; 
 
 Soluções modernas na razão filosófica – Kant/Hegel; 
 Razão contemporânea – Hussell: fenomenologia. 
 
3 - A política 
 Desenvolvimento na história; 
 Indiferença. 
 
4 – A Ética 
 A Ética em Aristóteles; 
 Racionalismo ético; 
 A liberdade. 
 
5 – A Ideologia 
 Imaginário social; 
 Discurso Lacunar; 
 Inversão da realidade; 
 A Filosofia como ferramenta para a comunicação. 
 
6 – Revisão 
 
 
7. METODOLOGIA 
 
O conteúdo será discutido por meio de aulas expositivas/participativas, estimulando o debate e 
uma postura crítica em relação ao tema abordado; estudos de casos; leitura e discussão de 
artigos de jornais e revistas de circulação nacional sobre temas relacionados à disciplina; lista 
de exercícios para fixação e pesquisas bibliográficas, realização de trabalhos e exercícios em 
sala de aula, bem como de trabalhos de pesquisa e seminários. 
 
8. AVALIAÇÃO 
 
 
Os alunos serão avaliados nos seguintes aspectos: 
 Capacidade de aprendizado dos conteúdos e apresentação teórico e prático. 
 Capacidade de relacionar a teoria à prática, observação, argumentação e sistematização 
de ideias. 
 Participação e interesse nas atividades, assim como pontualidade e assiduidade. 
 Atenção e aplicação durante as aulas. 
 Realização das tarefas exigidas (incluindo as extraclasses). 
 
 
ATIVIDADE(S) PESO DATA 
 
Avaliação individual no AVA – 05 
questões 
 
2,00 
Paper a ser entregue até o dia da 
aula V - postado através do AVA (A 
avaliação levará em consideração 
Conteúdo, organização, 
autenticidade, lógica e pontualidade). 
2,00 
Prova Individual (Domínio do 
conteúdo, capacidade de 
desenvolvimento da análise crítica, 
desenvolvimento do raciocínio e 
organização). 
 
6,0 
 
 
9. RECURSOS 
 
Quadro branco. Piloto. Televisor. DVD. Data-show. Computadores conectados à internet. Textos. 
 
10. REFERÊNCIAS 
 
 
10.1 Referência Básica: 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à 
filosofia. 3. ed.rev. São Paulo: Moderna, 2003. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. 
LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia: aprendendo a 
pensar. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2004. 
RESENDE, Antonio. Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau 
e de graduação. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar , 2002. 
 
10.2 Referência Complementar: 
 
MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. Tradução de 
Guilhermo de la Cruz Coronado. 8. ed. São Paulo: Mestre Jou,1980. 
PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. Tradução de Maria Helena Nery Garcez, 3.ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 1997. 
PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Fundação 
Calouste Gulbenkian, 1993. 
 
 
 
 
I - Introdução à Filosofia 
 
I.I Afinal, o que é Filosofia? 
Em uma roda de amigos, comentários em uma mesa, no sentido mais comum, a palavra 
filosofia tem a ver com pensamento ou com o ato de pensar, com a reflexão (superficial 
ou profunda) de algo que nos cerca. Podemos acreditar que Deus existe. Ou podemos 
acreditar que não. 
Essas também são crenças filosóficas. 
Segundo Aires (2003) em seu Dicionário Escolar de Filosofia (versão online), filosofia é 
“o estudo dos problemas de carácter mais geral e conceptual (sic.) que afectam (sic.) o 
nosso pensamento científico, religioso, artístico e quotidiano, para os quais não há 
respostas científicas.” 
Já segundo o dicionário online Aurélio, filosofia é o: 
Conjunto de concepções, práticas ou teóricas, acerca do ser, dos seres, do 
homem e de seu papel no universo. / Atitude reflexiva, crítica ou especulativa, de 
elaboração de tais concepções. / Conjunto de toda ciência, conhecimento ou 
saber racional. / Reflexão crítica sobre os fundamentos do conhecimento 
(valores cognitivos), da lógica, da ética e da estética (valores normativos). / 
Sistema de princípios que explicam ou sintetizam determinada ordem de 
conhecimentos 
 
A filosofia está presente em todos os momentos de nossas vidas, nos mais variados 
questionamentos ou problemas, por exemplo: Será tudo relativo ou acontece por 
acaso? Existe o livre-arbítrio? O que é e para onde vai o conhecimento? Existe vida 
após a morte? O que é ética e moral? Dizer que os problemas da filosofia são meros 
conceitos é negar sua natureza enquanto problemas e que tudo é de fácil solução. 
(RESENDE, 2002) 
O método utilizado pela filosofia é a discussão racional utilizando-se de argumentos. Isto 
significa que não há métodos formais nem científicos de prova, não é só a experiência 
que conta, como na matemática ou na física; tudo o que se pode fazer é pensar tão 
corretamente quanto possível, procurando soluções adequadas. (CHAUÍ, 2003) 
Não é aspecto também somente cultural, pois: 
 
A cultura é o processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai 
sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como 
resultado da ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a 
princípio coladas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato 
inventivo com o mundo natural.” (VIEIRA PINTO, 1969, p. 123 apud ARANHA, 
1998) 
Voltando aos aspectos conceituais “há um sentido menos comum, em que filosofar 
significa saber viver, ou melhor, saber viver com sabedoria, de acordo com uma 
doutrina, com uma Filosofia” (ASSMAN, 2006, p.15) 
Ainda segundo Assman (2006, p.15): 
Existe, porém, um sentido mais específico e preciso de filosofar: procurar e/ou 
encontrar a verdade por meio de uma atividade racional. E a gente encontra a 
verdade porque precisa e deseja saber a verdade. E a verdade é necessária 
para viver. 
Porém no meio estudantil sabemos que “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a 
qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, 
se costuma chamar de ‘filósofo’ alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da 
lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis”. 
(CHAUÍ, 2003, p.9). 
Desta forma, conforme Chauí (2003, p. 9) “uma primeira resposta à pergunta ‘O que é 
Filosofia?’ poderia ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as 
ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência 
cotidiana; jamais aceita-los sem antes havê-los investigado e compreendido”. 
Isto é que forma o amago da Filosofia, que compreende o conhecimento e a sabedoria. 
Em seu radical “A palavra filosofia é de origem grega. É composta por duas outras: philo 
e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre 
os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio” (AIRES, 
2003) 
Nas palavras de Chauí (2003, p. 19): 
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de 
Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria 
plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou 
amá-la, tornando-se filósofos. 
Desta forma podemos afirmar que Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, 
amor e respeito pelo saber. Filósofo é aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo 
 
saber, deseja saber. Assim a filosofia indica um estado de espírito da pessoa que ama, 
isto é, daquela que deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. 
Para Luckesi (2002, p. 13): 
No cotidiano, o conhecimento parece ser alguma coisa tão corriqueira que nos 
não nos perguntamos pelo que ele e, pelo seu processo, pela sua origem, pela 
sua forma de apropriação. Aos poucos, ao longo de nossa infância, 
adolescência, juventude, vamos adquirindo entendimentos das coisas que 
compõem o mundo que nos cerca, das relações com as pessoas, das normas 
morais e sociais que regem as relações entre os seres humanos. Nós, por isso, 
nos acostumamos a esses entendimentos, a partir do momenta em que fomos 
adquirindo-os espontaneamente. Com eles e a partir deles, conversamos, 
discutimos, temos certezas e duvidas, formulamos juízos. Contudo, quase 
nunca, exceção feita aos especialistas, nos perguntamos sobre o que e o 
conhecimento, seu significado, origem. Habituamo-nos a utilizar o entendimento, 
por isso não o problematizamos. 
 
I.I.I Mas para que filosofia? 
 
Vamos iniciar esta reflexão com outros questionamentos: Para que língua portuguesa? 
Para que matemática? Geografia? Física? História? Biologia? Física? Educação Física? 
 
“[...] ninguém pergunta para que as ciências, pois 
todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos 
produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à 
realidade.” (CHAUÍ, 2003, p.10) 
A fonte de estudo da filosofia se baseia no 
conhecimento. O conhecimento constitui uma 
relação de ação e reação do indivíduo sobre o meio em que está inserido. 
Os primeiros filósofos não faziam uma distinção profunda entre as diferentes 
áreas do conhecimento. Aristóteles, por exemplo, dedicou-se não apenas ao que 
hoje reconhecemos como filosofia, mas também à física, astronomia, biologia, 
etc. Para os primeiros filósofos, o estudo da filosofia tinha muito mais em comum 
com a biologia, a matemática ou a história, do que com outras manifestações 
culturais como a arte ou a religião. E o que tinha em comum era o estudo 
racional da natureza das coisas e a procura da verdade. A filosofia surge assim 
associada, juntamente com as outras áreas do conhecimento, à própria ideia de 
investigação livre, opondo-se à atitude dogmática que consiste em proclamar 
pretensas "verdades" que não se podem colocar em causa. 
A filosofia não é coisa do passado. Apesar da sua longa história (ver filosofia, 
história da), a filosofia continua viva; na verdade, há talvez mais filósofos hoje em 
dia do que ao longo de toda a história da humanidade. E também não é verdade 
que não exista progresso em filosofia; sem dúvida que a compreensão actual 
(sic.) dos problemas, teorias e argumentos da filosofia é superior à de qualquer 
época do passado. Simplesmente, talvez não haja na filosofia o tipo de 
progresso por acumulação de resultados que podemos encontrar na ciência. O 
progresso da filosofia é um alargamento da compreensão. Podemos continuar 
sem conseguir provar se temos ou não livre-arbítrio,ou se Deus existe ou não, 
ou sequer como se pode justificar a nossa crença no mundo exterior; mas a 
compreensão que temos hoje destes problemas é mais profunda do que a que 
se tinha no passado. (AIRES, 2003) 
Mas devemos lembrar que “Filósofo é quem não se contenta com as 
coisas óbvias. É quem toma distância do que acontece, para entender 
melhor o que acontece”. (ASSMAN, 2006, p.17) 
Logo, o ato de filosofar é um ato de reflexão, é buscar em si as respostas 
para indagações do cotidiano, que muitas vezes movem a humanidade, 
afinal, não são as respostas que movem o mundo, e sim as perguntas. 
Refletir é, por exemplo, tomar o próprio eu como objeto de compreensão. E se 
pode dizer que é esta a capacidade humana que nos distingue dos seres 
animais: se dissermos que os animais conhecem, os seres humanos conhecem 
que conhecem, sabem que sabem. Por isso somos capazes de rir de nós 
mesmos. De toda forma, quem prefere uma vida tranquila (sic.), uma vida mais 
grudada ao cotidiano, ao terra-a-terra, fica longe da Filosofia. E quem quer 
alcançar maior profundidade, quem gosta de chegar às raízes, ser mais radical, 
vai precisar dela, mesmo que isso não lhe venha a trazer certezas ou 
tranquilidade... e talvez nem felicidade. (ASSMAN, 2006, p.19) 
 
Conforme Chauí (2003, p. 12): 
A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento 
sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o 
próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos 
também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres 
humanos, com os animais, as plantas, a s coisas, os fatos e acontecimentos, e 
exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de 
gestos e ações. A reflexão filosófica também se volta para essas relações que 
mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações 
que realizamos nessas relações. 
De forma geral, Chauí (2003, p.14-16) nos traz quatro dimensões de definições para a filosofia: 
1. Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Filosofia 
corresponde, de modo vago e geral, ao conjunto de ideias, valores e práticas 
pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, 
definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o 
justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, 
o contingente e o necessário. 
Qual o problema dessa definição? Ela é tão genérica e tão ampla que não 
permite, por exemplo, distinguir a Filosofia e religião, Filosofia e arte, Filosofia e 
ciência. Na verdade, essa definição identifica Filosofia e Cultura, pois esta é uma 
visão de mundo coletiva que se exprime em ideias, valores e práticas de uma 
sociedade. 
A definição, portanto, não consegue acercar-se da especificidade do trabalho 
filosófico e por isso não podemos aceitá-la. 
2. Sabedoria de vida. Aqui, a Filosofia é identificada com a definição e a ação 
de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à 
contemplação do mundo para aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas 
de modo ético e sábio. 
A Filosofia seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir 
a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, 
sobre nossos impulsos, desejos e paixões. É nesse sentido que se fala, por 
exemplo, numa filosofia do budismo. 
Esta definição, porém, nos diz, de modo vago, o que se espera da Filosofia (a 
sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a Filosofia e, por isso, também 
não podemos aceitá-la. 
3. Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade 
ordenada e dotada de sentido. Nesse caso, começa-se distinguindo entre 
Filosofia e religião e até mesmo opondo uma à outra, pois ambas possuem o 
mesmo objeto (compreender o Universo), mas a primeira o faz através do 
esforço racional, enquanto a segunda, por confiança (fé) numa revelação divina. 
Ou seja, a Filosofia procura discutir até o fim o sentido e o fundamento da 
realidade, enquanto a consciência religiosa se baseia num dado primeiro e 
inquestionável, que é a revelação divina indemonstrável. 
Pela fé, a religião aceita princípios indemonstráveis e até mesmo aqueles que 
podem ser considerados irracionais pelo pensamento, enquanto a Filosofia não 
admite indemonstrabilidade e irracionalidade. Pelo contrário, a consciência 
filosófica procura explicar e compreender o que parece ser irracional e 
inquestionável. 
 
No entanto, esta definição também é problemática, porque dá à Filosofia a tarefa 
de oferecer uma explicação e uma compreensão totais sobre o Universo, 
elaborando um sistema universal ou um sistema do mundo, mas sabemos, hoje, 
que essa tarefa é impossível. 
Há pelo menos duas limitações principais a esta pretensão totalizadora: em 
primeiro lugar, porque a explicação sobre a realidade também é oferecida pelas 
ciências e pelas artes, cada uma das quais definindo um aspecto e um campo da 
realidade para estudo (no caso das ciências) e para a expressão (no caso das 
artes), já não sendo pensável uma única disciplina que pudesse abranger 
sozinha a totalidade dos conhecimentos; em segundo lugar, porque a própria 
Filosofia já não admite que seja possível um sistema de pensamento único que 
ofereça uma única explicação para o todo da realidade. Por isso, esta definição 
também não pode ser aceita. 
4. Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. A 
Filosofia, cada vez mais, ocupa -se com as condições e os princípios do 
conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o 
conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão 
das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e 
coletivo; com as transformações históricas dos conceitos, das ideias e dos 
valores. 
A Filosofia volta-se, também, para o estudo da consciência em suas várias 
modalidades: percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, 
experiência, reflexão, comportamento, vontade, desejo e paixões, procurando 
descrever as formas e os conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser 
humano e o mundo, do ser humano consigo mesmo e com os outros. 
Finalmente, a Filosofia visa ao estudo e à interpretação de ideias ou 
significações gerais como: realidade, mundo, natureza, cultura, história, 
subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, 
contradição, mudança, etc. 
Sem abandonar as questões sobre a essência da realidade, a Filosofia procura 
diferenciar -se das ciências e das artes, dirigindo a investigação sobre o mundo 
natural e o mundo histórico (ou humano) num momento muito preciso: quando 
perdemos nossas certezas cotidianas e quando as ciências e as artes ainda não 
ofereceram outras certezas para substituir as que perdemos. 
Em outras palavras, a Filosofia se interessa por aquele instante em que a 
realidade natural (o mundo das coisas) e a histórica (o mundo dos homens) 
tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o 
senso comum já não sabe o que pensa r e dizer e as ciências e as artes ainda 
não sabem o que pensar e dizer. 
Esta última descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como análise(das 
condições da ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, 
volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade 
para o conhecimento, o sentimento e a ação) e como crítica(das ilusões e 
dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, 
políticas e artísticas), essas três atividades (análise, reflexão e crítica) 
estando orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre 
a realidade e os seres humanos. Além de análise, reflexão e crítica, a 
Filosofia é a busca do fundamentoe do sentido da realidade em suas 
múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a 
necessidade interna que as transforma em outras. (grifo nosso) 
 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
Não deixe de ler os interessantes artigos disponíveis no AVA: 
 
 EWING, A.C. O que é filosofia e por que vale a pena estudá-la, 
 DUTRA, Delamar José Volpato. O que é filosofia, professor? E para 
que serve? 
 
I.II Principais períodos da História da Filosofia 
 
Segundo Luckesi (2002, p. 16): 
 
No que se refere ao conhecimento, ha quatro elementos a serem destacados: 
um sujeito que conhece; um objeto que e conhecido; um ato de conhecer, e, 
finalmente, um resultado, que é a compreensão da realidade ou o conhecimento 
propriamente dito (a explicação produzida e exposta, tornada disponível as 
pessoas). 
Segundo HAMLYN (1990, p. 6), 
a história da Filosofia não pode dizer respeito meramente a ideias. A Filosofia se 
concentra em problemas, mesmo que apenas nos problemas de compreender 
isto ou aquilo. A solução de problemas requer justificação e esta exige 
argumentos. 
Dentro deste contexto de argumentar e questionar a realidade existente, buscando a 
compreensão e respostas para estes questionamentos é que nasce a Filosofia. 
Segundo Aires (2003): 
A filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga, no séc. VI a.C. Os primeiros 
filósofos gregos foram Pitágoras (c. 580-500 a.C.) e Tales de Mileto (c. 624-546 
a.C.), sendo ambos igualmente os fundadores do que hoje chamamos "ciência" 
(que eles não distinguiam da filosofia). Os primeiros filósofos dedicaram uma 
especial atenção à cosmologia (que hoje é uma disciplina científica), isto é, ao 
estudo da origem e natureza última do universo. Sócrates e Platão dedicaram-se 
depois a problemas éticos e políticos, assim como a alguns aspectos mais 
conceptuais da filosofia. Fizeram da procura de definições explícitas de conceitos 
básicos como beleza, justiça e conhecimento a sua atividade (sic.) principal. 
Aristóteles desenvolveu praticamente todas as áreas da filosofia e da ciência, e 
estabeleceu firmemente o estudo sistemático de problemas filosóficos e 
científicos. Fundaram-se várias escolas dedicadas ao estudo da filosofia e 
surgiram vários filósofos importantes. 
Sendo assim, costuma-se dividir a história da filosofia 
ocidental em quatro períodos, de acordo com a divisão 
habitual da própria história. Fala-se assim de filosofia antiga 
(do séc. VI a.C. ao séc. III d.C.), medieval (sécs. III-XV), 
moderna (sécs. XVI-XVIII) e contemporânea (do séc. XIX 
aos dias de hoje). 
Filosofia antiga - Estuda-se, em Filosofia Antiga, o surgimento da Filosofia e seu 
desenvolvimento pelos gregos, especialmente, e pelos romanos. Em geral, ela é 
repartida, tomando-se Sócrates como referência. Assim, há o período pré-socrático e o 
pós-socrático. Corresponde ao período compreendido entre os séculos VI e V a.C. Suas 
figuras de destaque são Sócrates, Platão e Aristóteles, além de outros de quem se sabe 
menos, como Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Parmênides, Empédocles e 
Demócrito. A transição entre esta etapa e a Filosofia Medieval não é muito nítida. Ela se 
dá quando o cristianismo ganha status e recorre ao pensamento grego, para dar 
 
fundamento teórico a suas teses. Em termos cronológicos, esse período coincide 
aproximadamente com a queda de Roma, no século V. (HAMLYN, 1990) 
Filosofia medieval - A Filosofia Medieval se estende até aproximadamente o século XV, 
quando ocorre o que se chama Renascença. (HAMLYN, 1990) 
No período medieval a filosofia foi estudada num contexto sobretudo religioso. 
Muitos filósofos deste período foram extraordinariamente perspicazes, tendo 
desenvolvido algumas ideias e argumentos hoje considerados centrais em 
filosofia, não só na filosofia da religião e na metafísica, mas também na ética, 
filosofia da linguagem e lógica (AIRES, 2003) 
Ela está principalmente subordinada à Igreja Católica, e seus representantes capitais 
são Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. É quase totalmente uma filosofia 
escolástica. Há ainda alguns filósofos de origem árabe ou judaica, mas não fazem parte 
da tradição filosófica ocidental, embora seus trabalhos tenham sido fundamentais para 
que o pensamento antigo atingisse nossos dias. (HAMLYN, 1990) 
Filosofia moderna - O período que compreende a Filosofia Moderna vai do final da 
Idade Média até fins do século XIX. Há propostas de que seja dividido em Filosofia da 
Renascença e Filosofia Moderna. A primeira é marcada pela descoberta de obras 
desconhecidas de Platão e Aristóteles, além de outras obras do mundo grego, sendo 
seus principais pensadores Maquiavel, Montaigne, Erasmo, More, Giordano Bruno etc. 
Na segunda, predomina “a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a 
partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas”. 
(HAMLYN, 1990) 
Nas palavras de Chaui (2003), e seus representantes mais destacáveis foram Galileu, 
Bacon, Descartes, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Locke, Berkeley, Newton, Hume e 
Kant. 
Filosofia contemporânea - Estendendo-se de meados do século XIX até nossos dias, é 
o período mais complexo de definir, afinal está em construção, e não temos o 
distanciamento afetivo e cronológico para nos ajudar a entendê-lo. (HAMLYN, 1990) 
No séc. XIX, e sobretudo a partir do séc. XX, a filosofia conhece uma vitalidade e 
diversidade que ultrapassa de longe qualquer período histórico anterior. Alguns 
filósofos alemães e franceses fundam correntes como o existencialismo, a 
fenomenologia e a hermenêutica; nestas áreas, destacam-se filósofos como 
Husserl, Heidegger e Sartre. Alguns filósofos ingleses e americanos deixam-se 
influenciar decisivamente pelo trabalho de Frege, Russell e Wittgenstein, 
recuperando o projecto original da filosofia: o estudo racional de problemas 
 
conceptuais. Sobretudo depois da segunda guerra mundial, florescem disciplinas 
antes negligenciadas, como a metafísica, a filosofia da religião, a filosofia da 
arte, a ética, incluindo a ética aplicada) e a filosofia política. A filosofia da ciência 
e a epistemologia atingem resultados de grande importância, assim como a 
filosofia da linguagem e a lógica, que em grande parte se autonomiza 
relativamente à filosofia. A filosofia, tal como as artes e as ciências, entra no séc. 
XXI com um grau de sofisticação, pertinência e alcance nunca antes atingido 
(AIRES, 2003) 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
 [...] Por que a Coruja é o símbolo da 
sabedoria e está sempre atrelada a filosofia? 
Se pensarmos um pouco na cultura grega, 
ou mais precisamente na sua mitologia, 
veremos que sempre acompanhada da 
deusa Athena está a coruja। Athena (Αθηνά) 
ou Palas Athená é a deusa da sabedoria e 
da justiça, filha do poderoso Zeus e Métis, 
deusa da prudência e a primeira esposa de 
Zeus. As aves são os seres mais próximos 
dos céus, logo, mais próximos dos deuses. 
Também é comum ver a soberana águia 
acompanhando sempre o portentoso Zeus, o 
mais poderoso dos deuses gregos. 
A coruja demonstra uma alerta constante, é símbolo da vigilância, está sempre 
apta para sobreviver na noite e sempre atenta aos perigos da escuridão। Nas 
moedas mais antigas da Grécia é muito comum encontrarmos a figura desse 
animal tão prudente, talvez mostrando com isso que a cultura grega antiga 
estava sempre vigilante e a frente dos outros povos। Em grego coruja é gláuks 
“brilhante, cintilante”। Um dos epítetos da deusa Athena é “a de olhos gláucos”, 
ou seja, a que enxerga além do que todos vêem। 
O filósofo alemão Friedrich Hegel em sua obra Filosofia do Direito ilustra muito 
bem a harmoniosa relação entre a coruja e a filosofia. Escreve ele: “A coruja de 
Minerva alça seu vôo somente como início do crepúsculo”. O papel da filosofia 
é justamente elucidar o que não é claro ao censo comum, é alertar acerca da 
vida. O crepúsculo é o linear do dia pra coruja, enquanto cessamos nossas 
obras e nos recolhemos em nossos lares, a coruja “alça seu vôo” a trabalho. É 
a noite que a fascina, por isso seu nome em latim: Noctua, “ave da noite”. Não 
é a beleza o seu destaque, mas é a capacidade de ver o que aves diurnas não 
conseguem ver. Seu pescoço gira 360º, dando-lhe uma visão completa 
capacitando-a a ver o todo. É também uma ave de rapina, rápida na escolha, e 
que por vê a presa e não ser vista, sempre tem sucesso na caça, apanhando os 
despreparados e desprovidos que se arriscam na noite escura. 
São essas as características que um filósofo deve possui. Enxergar o que 
outras pessoas não conseguem ver, ter uma visão do todo, ou seja, uma visão 
que abarque todos os ângulos da realidade. Deve ser capaz de articular os 
pensamentos contra seus adversários. É preciso raptar as bases dos 
argumentos dos oponentes. Também, deve-se raptar aqueles que estão se 
enveredando por caminhos de erros e por enxergarmos na noite quando outros 
não vêem, podemos ajuda-los e conduzi-los (pelo argumento) a desfechos 
 
virtuosos. 
Sócrates é um fiel representante dessa relação coruja-filosofia, acusado de 
“raptar” jovens atenienses – pois enxergava a frente de seu tempo – foi 
condenado a morte. Diferente de Platão, também não era sua beleza que o 
projetava, mas sim sua inigualável sabedoria. Sócrates era mestre na 
argumentação, conduzia as pessoas à “darem a luz sua idéias”, ensinava nas 
praças e ruas, era um homem livre para expor seus argumentos que por muitas 
vezes ironizava o oponente. Era de fato uma figura “corujesca”, feia como uma 
coruja á luz do dia, mas sagaz como na noite. Que logo se levante homens de 
sabedoria alçando vôo na necessidade, que logo a Coruja de Minerva com seus 
olhos gláucos enxergue nesses dias de trevas soluções para uma vida voltada 
ao bem. Essa é uma das diversas correlações entre a coruja e a filosofia. 
 
Disponível em: http://inclinacoesfilosoficas.blogspot.com.br/2008/02/coruja-de-
minerva.html 
 
 
I.II.I A mitologia; 
 
Para referir-se à palavra e à linguagem, os gregos possuíam duas palavras: 
mythose logos. Diferentemente do mythos, logos é uma síntese de três palavras 
ou ideias: fala/palavra, pensamento/ideia e realidade/ser. Logos é a palavra 
racional do conhecimento do real. É discurso (ou seja, argumento e prova), 
pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração) e realidade (ou seja, os nexos 
e ligações universais e necessários entre os seres). (CHAUÍ, 2003, p. 175) 
Mitologia é um conceito criado após o surgimento da Filosofia. Na antiguidade grega, 
antes da Filosofia, a mitologia era o modo narrativo que os gregos usavam para explicar 
o porquê dos fenômenos (aquilo que aparece às sensações). Havia narrativa para 
explicar praticamente tudo. Este poder explicativo estava vinculado a outro fator muito 
importante e muito caro aos gregos: a crença de que as narrativas tinham de fato 
acontecido do modo como descrito na narração; não havia dúvidas e nem porque 
duvidar. Como as narrativas falavam sempre de um mundo sobrenatural, ou seja, um 
mundo que transcendia a natureza das coisas visíveis, havia uma interação 
inquestionável e indubitável entre homens, natureza e deuses. Os deuses eram vistos, 
principalmente, por sua característica que os diferenciavam dos homens, a imortalidade. 
Os homens chamavam-se, entre si, de mortais, justamente porque eram diferentes dos 
deuses. Os mitos referiam-se à origens de um fato ou de um estado de coisas, por 
exemplo, ao nascimento, à morte, ao clima, à guerra, a uma relação entre homens ou 
entre homens e natureza. O mito, portanto, explicava como algo veio a ser como é. A 
comprovação inquestionável do mito se dá pelo fato das coisas serem como são, por 
exemplo, o mito da morte é comprovado pela existência da morte. Como a narrativa era 
uma história sagrada, não havia preocupação em querer saber porque os deuses agiram 
 
como agiram, simplesmente havia aceitação tácita que era a crença, ou seja, as coisas 
aconteceram como aconteceram e ponto final. (FONSECA) 
 As narrativas mitológicas chegaram aos gregos pela oralidade vindas de tempos 
imemoriais. De tempos em tempos os mitos eram rememorados. Nestas épocas ou 
momentos, os gregos reatualizavam suas crenças, e delas tiravam suas forças e 
energias para continuarem a viver, trabalhar e lutar. É importante observar que o foco de 
suas preocupações em momentos de crise ou conflitos estava vinculada ao passado 
mitológico. A ênfase estava, portanto, no presente alimentado pelo passado. 
(FONSECA) 
 
Na Antiguidade e na Idade Média praticamente os dois conceitos se equivalem 
[conhecimento e filosofia], enquanto Ciência e Filosofia se baseiam na razão, em 
contraposição a outros saberes que não privilegiam uma fundamentação 
racional, como é o caso da mitologia ou da teologia, que incluem em si, 
necessariamente, uma crença ou a fé. Só na modernidade é que se estabelece 
mais claramente uma distinção entre ambas: a Filosofia continua mantendo 
como sua característica a pretensão de conhecer o todo como tal, como o 
estudo dos “porquês”, enquanto a Ciência nasce e se consolida como o 
conhecimento da realidade a partir do estudo das partes e como o estudo 
do “como” da realidade. (ASSMAN, 2006, p. 33) 
 
A consciência mítica está associada ao conhecimento do mito que narra os fenômenos 
referentes à criação. Os mitos se relacionam com aspectos humanos como: medo, 
poder, esperança, felicidade, etc. Estes elementos são explicados através da crença da 
realidade mitológica. Desta forma a consciência religiosa está intimamente associada à 
consciência mítica. As duas retratam a existência e a importância do sobrenatural, 
chegando a dimensão do que consideram sagrado. 
Conforme Hamlym (1990, p. 09 e 10): 
Conta -se que Tales, que viveu por volta do ano 600 a.C., afirmava que todas as 
coisas estavam repletas de deuses e há numerosas referências a certas coisas 
como divinas em filósofos subsequentes, sem que isso implicasse uma atitude 
religiosa específica. A natureza era simplesmente considerada como algo divino. 
Ao mesmo tempo, a alegação de Aristóteles de que Tales dissera que o 
“primeiro princípio” de todas as coisas era a água, e a tese subsequente 
proposta por Anaxímenes, sucessor de Tales, de que as diferentes matérias são 
formadas de ar mediante processos recíprocos de condensação e rarefação, 
parecem ciência primitiva – uma tentativa antiga de identificar a natureza básica 
da realidade física e explicar como os fatos observáveis de coisas físicas sã o 
derivados das mesmas. Ainda assim, o mais longo dos três fragmentos que 
temos dos escritos de Anaxímenes (se foram escritos) diz que o ar envolve todo 
o mundo, da mesma maneira que nossa alma, “sendo ar”, nos mantém íntegros 
e nos controla. O que quer que mais fosse, a alma era para os gregos o princípio 
 
da vida. O ar ou a respiração eram as indicações mais claras da vida. Daí a 
conexão entre alma e ar. A implicação, porém, era que o mundo em geral 
possuía também vida e alma. Se assim era, a escolha do ar por Anaxímenes 
como matéria básica não teria sido determinada exclusivamente por 
considerações físicas. Este pensamento seria uma mistura de diferentes 
elementos. 
 
O mito é um relato que oferece uma explicação definitiva; o mito não precisa de 
justificativa. Ao contrário, é o mito que justifica uma sociedade, uma cultura, um 
costume, como vimos acima. 
Da maneira como é elaborado, o mito não é para ser criticado ou discutido. Da mesma 
forma, ele não precisa ser apresentado através de argumentações – ele simplesmente é 
comunicado à comunidade por aquelesque se consideram os arautos das Musas ou dos 
Deuses. Vale aqui lembrar que quando uma religião se apropria do mito; este fica sujeito 
à crítica e precisa apresentar justificativas. 
Como exemplo perfeito disto tome-se o mito da Criação e de Adão e Eva. O relato é 
mais antigo do que o judaísmo. Daí foi incorporado na religião e desde então precisa 
justificar-se, já que faz parte de um "plano" efetivo de Deus para com a humanidade, 
segundo o discurso religioso. 
A filosofia é uma narrativa que não oferece uma explicação definitiva, já que a discussão 
é própria da filosofia. Existem sistemas filosóficos que se pretendiam definitivos; que 
pretendiam oferecer uma explicação definitiva da realidade. Talvez seja por isso que 
quase se transformaram em seitas. 
Outro aspecto é que a filosofia sempre precisa se justificar. O próprio ato de filosofar já 
implica a apresentação de uma justificativa daquilo que vai ser dito. Por ser um processo 
baseado na experiência e/ou no raciocínio lógico, a filosofia sempre está sujeita a 
críticas. 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
[A existência precede a essência]* 
 
Quando concebemos um Deus criador, esse Deus identificamo-lo quase sempre com um 
artífice superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos, trate-se duma 
 
doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos sempre que a vontade segue 
mais ou menos a inteligência ou pelo menos a acompanha, e que Deus, quando cria, 
sabe perfeitamente o que cria. Assim o conceito do homem, no espírito de Deus, é 
assimilável ao conceito de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o 
homem segundo técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um 
corta-papel segundo uma definição e uma técnica. Assim o homem individual realiza um 
certo conceito que está na inteligência divina. No século XVIII, para o ateísmo dos 
filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a 
existência. Tal ideia encontramo-la nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em 
Diderot, em Voltaire e até mesmo num Kant. O homem possui uma natureza humana; 
esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que 
significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal - o homem; 
para Kant resulta de tal universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como 
o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de 
base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem precede essa existência histórica que 
encontramos na natureza. [...] 
O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus 
não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que 
existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, 
como diz Heidegger, a realidade humana. Que significará aqui o dizer-se que a 
existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se 
descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o 
existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será 
alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que 
não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas 
como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja 
após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o 
primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade, e 
o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, 
senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra 
_________________________ 
* Os títulos entre colchetes foram criados pelas autoras desta obra; não constam, 
portanto, do texto original ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o 
homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança 
 
para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. [...] Mas se 
verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo 
que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio 
do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando 
dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é 
responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os 
homens. 
 
SARTRE, Jean-Paul. 
O existencialismo é um humanismo. 
São Paulo, Abril Cultural, 
1973. p. 11-12. (Col. Os Pensadores) 
 
 
 
Veja a charge da Mafalda... 
 
 
 
E reflita: Por que devo aprender? 
 
 
 
I.II.II Os pré-socráticos 
Conforme já citamos na Filosofia Antiga, a Filosofia é sistemática, uma forma de 
conhecimento que “tem uma história de mais de dois mil e quinhentos anos. Nascida na 
Grécia Antiga, ali se consolidou, tornando-se uma das principais marcas da civilização 
ocidental.” (ASSMAN, 2006, p.22) 
Ainda sob a ótica de Assman (2006, p. 22 e 23): 
Os gregos, desde os primórdios (por volta de 1.500 a.C., com a civilização 
micênica), se concentraram nas costas do Mediterrâneo em pequenas e distintas 
nações, constituindo posteriormente cidades independentes e rivais entre si. 
Cada cidade com sua cultura, seus hábitos, sua política. Mesmo assim, criou-se 
uma comunidade de língua e de religião, o que fez com que se constituísse em 
um povo, aos quais se opunham todos os que não falavam o grego. Eram os 
bárbaros, e “bárbaro” significa precisamente aquele que não fala o grego. A 
genialidade grega, reconhecida historicamente – alguns falam do “milagre grego” 
– afirma-se com Homero, com pintores, escultores, ceramistas, e com os 
primeiros nomes da Ciência e da Filosofia: Tales de Mileto, Heráclito, 
Anaximandro, Xenófanes e Parmênides. Além da região conhecida como Grécia, 
havia também a Magna Grécia, incluindo partes do sul da Itália peninsular 
(Tarento, Nápoles, Crotona) e da Sicília (Siracusa, Agrigento). Ali viveram 
pensadores como Pitágoras, Empédocles, e foi para Siracusa que depois viajou 
Platão para tentar aplicar sua teoria. Entre as cidades-estado consolida-se, por 
volta dos séculos VI e V a. C., a importância de Esparta e Atenas, esta última 
realizando e sofrendo grandes alterações sociais e políticas, com Sólon, 
Clístenes e Péricles, e com o desenvolvimento do comércio e a expansão da 
colonização grega. Todos nos lembramos da Guerra do Peloponeso (431-401 a. 
C.), entre Atenas e Esparta, através da qual se afirmou a superioridade da 
primeira. Atenas criou a democracia direta, e neste contexto surgem as artes, as 
tragédias e comédias. Depois disso se consolida em Atenas a Filosofia, 
mostrando que a vida da cidade, a política, é um chão propício no qual pode 
germinar melhor a atividade filosófica. É em Atenas que vivem os grandes 
trágicos Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, o autor de comédias, Aristófanes, e os 
primeiros historiadores, Heródoto e Tucídides. Na mesma cidade, os filósofos 
Anaxágoras e Demócrito lecionaram, assim como o fizeram os sofistas, os 
primeiros professores que se fizeram pagar pelo ensino. E depois, os três 
maiores expoentes da Filosofia grega: Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates 
(470/469-399 a.C.), condenado à morte por um governo tirânico (veja na figura 2 
uma representação da Morte de Sócrates), o seu discípulo Platão (428/427-
348/347 a. C.), fundador da Academia, e Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.), 
fundador do Liceu, professor de Alexandre Magno, jovem imperador que viria a 
confirmar, depois de seu pai Felipe já ter conquistado a Grécia, o fim da 
autonomia das cidades-estado, estabelecendo o império macedônico,sucedido 
pelo domínio romano da Grécia. Deixam de existir as cidades-estado autônomas 
e passa a existir a idéia de império, onde praticamente já não é mais possível ao 
cidadão participar da vida política, obrigando-o a encontrar o sentido da sua vida 
fora desta. E passa a existir uma ideia de “universalidade” também na política, o 
que facilita o estabelecimento da mesma religião para todos, de um só deus para 
todos, o que vai acontecer depois com a tradição judaico-cristã. 
Em todo caso, o imperador Alexandre contribui para que a cultura grega, que ele 
aprendeu com seu mestre Aristóteles, se expanda pelo Oriente Médio. Como 
 
não lembrar dos períodos “helênico” ou “alexandrino”, que não só conservam as 
obras clássicas do pensamento grego com a posterior criação da biblioteca de 
Alexandria no norte e África, mas também continuam atraindo para as novas 
cidades artistas, sábios e homens letrados. Em todo caso, a Filosofia grega não 
morre, mas continua em Roma e depois floresce em toda a Europa, a partir do 
casamento feito entre a racionalidade grega e a nova religião, o Cristianismo, 
que aos poucos deixa de ser uma religião marcada pela mentalidade oriental e 
passa, sobretudo a partir da obra Paulo de Tarso (o apóstolo São Paulo), que é 
de formação grega, a mesclar a nova religião com o pensamento racional grego. 
Este casamento entre razão grega e religião judaico-cristã tornou-se a base da 
Idade Média e – como se reconhece cada vez mais – a base da própria tradição 
moderna. Por tudo isso se pode dizer que a Filosofia é filha da Grécia e que o 
Ocidente tem lá o seu berço. 
 
Sobre a história da Filosofia na Grécia, pode-se dizer que há três fases: 
O PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO, em que a Filosofia se ocupa 
principalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da natureza; 
Os Pré-Socráticos foram os primeiros Filósofos gregos que viveram entre os séculos VII 
a V a.C. Habitaram a cidade de Atenas antes dos sofistas e nomeadamente antes de 
Sócrates. Há semelhança de Sócrates conhecem-se apenas notícias e fragmentos das 
suas obras, que só chegaram até nós porque foram citados ou copiados em obras de 
Filósofos posteriores. 
O PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO, ocorrido entre o final do séc. V até o 
final do Séc. IV a.C., em que o objeto de estudo passa a ser o homem, sua vida política 
e moral e sua capacidade de conhecer as coisas; e 
O PERÍODO HELENÍSTICO OU GRECO-ROMANO, entre o final do Século III a.C até o 
Séc. II d.C, quando começa a consolidar-se a supremacia da visão cristã, sobretudo com 
Santo Agostinho. Neste período, deixa-se de acreditar em soluções mais coletivas para 
a vida humana e se começa a introduzir uma saída individual, consolidando-se uma 
nova ética e uma política que deixa de ser vista como boa. É o período dos estóicos, dos 
epicuristas e dos céticos. 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
 
 
Estóicos, Epicuristas e Céticos– envolve tanto o pensamento grego, quanto o 
pensamento romano que predomina entre o fim da autonomia das cidades-
estado gregas, com a morte de Alexandre Magno em 323 a.C., e a conquista do 
Antigo Egito em 30 a. C. pelos Romanos, e, mais ainda, com a gradual 
afirmação da perspectiva cristã. São estóicos, por exemplo, tanto Zenão, grego, 
quanto Cícero, Sêneca e o imperador romano Marco Aurélio. Todos eles 
abandonam o ideal anterior (Platão e Aristóteles), de que tudo se resolve pela 
política, e passam a dar importância ao indivíduo, à individualidade e à vida 
privada. Os estóicos – chamados assim pois se reuniam, em Atenas, perto do 
pórtico, em grego “stoa” – apregoam o ideal da fraternidade universal, 
contrários, portanto, à escravidão, e defendem o ideal da vida austera. Por isso 
até hoje se mantém o termo “estóico” com este sentido de austeridade, de 
capacidade de suportar o sofrimento. O epicurismo, chamado também de 
Escola do Jardim, porque ali se reuniam os discípulos de Epicuro, defende o 
valor da vida humana individual, o bem-estar, o prazer espiritual e físico como 
fim da existência humana. E os céticos insistem em dizer que os seres 
humanos, por mais que o queiram, não conseguem conhecer a realidade de 
forma objetiva e neutra. (ASSMAN, 2006, p.25) 
 
Os primeiros filósofos gregos dedicaram-se ao problema de determinar qual era o 
princípio material de que era constituída a natureza ordem. Foram chamados de 
naturalistas, pois procuravam responder a questões do tipo: O que é a natureza ou qual 
o fundamento último das coisas? 
 Foram considerados como pessoas desprendidas das preocupações materiais do 
dia a dia e que se dedicavam apaixonadamente à contemplação da natureza. Tinham 
então como principal objetivo viverem para contemplarem a natureza. Foram 
simultaneamente poetas e profetas, quer se trate de Anaximandro, de Parménides, de 
Heraclito ou de Empédocles. Para estes Filósofos a aparência era manifestação do ser, 
que o aparecer era o desabrochar em plena luz do ser que se mostrava, e era por isso 
que ser e aparecer estavam tão intimamente ligados, pois o aparecer nunca tinha 
cortado a sua ligação com o ser. Se estes Filósofos tinham então como preocupação 
fundamental a natureza, Sócrates por seu lado interessava-se mais pelos problemas do 
ser humano e da sociedade, pois considerava que explicar a origem e a verdade das 
coisas através de objetos materiais era absurdo. Sócrates passou uma vida a 
ridicularizar aqueles que pensavam saber qualquer coisa que não fosse de natureza 
espiritual. 
Fonseca destaca que o primeiro Filósogo grego conhecido foi Tales de Mileto 
que viveu por volta do ano 600 a.C. Tales na companhia de Anaximandro e 
Anaxímenes defendia que a água, o indefinido, e o ar eram o princípio ou 
origem de todas as coisas. Preocupavam-se em encontrar a unidade por 
 
detrás da multiplicidade dos objectos do universo, e o princípio de explicação 
da natureza a partir da própria natureza (filósofo da physis – natureza). É 
apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da 
Escola Jônica. 
Já Assman (2006, p. 26 a 30) destaca diversos outros filósofos que 
contribuíram para o saber antes de Sócrates: 
Homero foi o primeiro grande poeta grego que teria vivido, há cerca de 3.500 
anos, e consagrou o género épico com as suas grandiosas obras, A Ilíadae a 
Odisséia. 
Heráclito de Éfesonasceu aproximadamente em 540 a.C. e morreu em 470 a.C. 
em Éfeso, na Jônia. Filósofo pré-socrático, “pai da dialética”. Problematiza a 
questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de “Obscuro”, pois desprezava 
a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos) e tinha 
também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. 
Anaximandro de Miletonasceu em 609/610 a.C. e morreu em 546 a.C. Foi um 
filósofo pré-Socrático, discípulo de Tales, e também geógrafo, matemático, 
astrônomo e político. Atribui-se a ele a confecção de um mapa do mundo 
habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição 
das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da 
astronomia grega). 
Xenófanes de Cólofonnasceu por volta de 570 a.C. e morreu em 460 a.C. 
Filósofo grego nascido em Cólofon, na Jónia. Escreveu unicamente em versos 
em oposição aos filósofos jônios como Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e 
Anaxímenes de Mileto. Da sua obra restaram uma centena de versos. A sua 
concepção filosófica destaca-se pelo combate ao antropomorfismo, afirmando 
que se os animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses 
em forma de animais, ou seja, à sua própria imagem. 
Parmênides de Eléianasceu em cerca de 530 a.C. e morreu em 460 a.C. em 
Eléia, hoje Vélia, Itália. Foi o fundador da escola eleática. Há uma tradição que 
afirma ter sido Parmênideso discípulo de Xenófanes de Cólofon, mas não há 
certeza sobre o fato, já que uma tradição distinta afirma ter sido o filósofo 
pitagórico Amínias (ou Ameinias) quem despertou a vocação filosófica de 
Parmênides. Em geral, é contraposto a Heráclito: enquanto para este, toda a 
realidade estaria sempre em movimento, seria processo, para Parmênides, toda 
mudança seria mera aparência. 
Pitágoras foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos pelos anos 
de 571 a.C. e 570 a.C. e morreu provavelmente em 497 a. C. ou 496 a.C. em 
Metaponto. A sua biografia está envolta em lendas. Foi o fundador de uma 
escola de pensamento grega, chamada de Pitagórica, e foi o criador da palavra 
“filósofo”. 
Empédocles nasceu em Agrigento, 483 a.C. e morreu em Peloponeso, 430 a.C. 
Foi um filósofo, médico, legislador, professor, místico além de profeta; foi 
defensor da democracia e sustentava a ideia de que o mundo seria constituído 
por quatro princípios: água, ar, fogo e terra. 
Sólon, poeta e legislador ateniense, em 594 a.C. iniciou uma reforma onde as 
estruturas social, política e econômica da polis ateniense foram alteradas. 
Aristocrata por nascimento, trabalhou no comércio. Fez reformas abrangentes, 
sem fazer concessões aos grupos revolucionários e sem manter os privilégios 
dos eupátridas, e criou a eclésia (assembléia popular). Profundo conhecedor das 
leis, foi convocado como legislador pela aristocracia em meio ao contexto de 
tensão social existente na polis, no qual os demais grupos sociais viam as 
reformas de Drácon (ocorridas por volta de 621 a.C.) como algo insuficiente. 
Clístenes foi um nobre ateniense que reformou a constituição da antiga Atenas 
em 508 a.C., sendo considerado, geralmente, o pai da democracia, que aí 
 
implantou. Como pertencia à família dos Alcmeónidas, obteve o apoio necessário 
para a destituição de Hípias, filho do “tirano” Pisístrato, de uma família rival; abriu 
caminho para a adoção de uma postura democrática para Péricles. 
Péricles nasceu em 495 a.C. e morreu em Atenas 429 a.C. Foi um dos 
principais líderes democráticos de Atenas, e talvez o mais célebre. Nasceu em 
meio a uma família da nobreza ateniense, descendente do líder reformista 
Clístenes, responsável pela introdução da maioria das instituições democráticas, 
durante a revolução de 510 a.C., Consagrou-se como a maior personalidade 
política do século V a.C. A presença dele foi tão marcante, que a época em que 
ele viveu denominou-se de Século de Péricles. 
Ésquilo (Elêusis c. 525 a.C. – Gela 456 a.C.) foi um poeta trágico grego, 
considerado como o fundador da tragédia. Foi soldado em Maratona, Salamina e 
Plateias. Ao longo da sua vida assistiu à consolidação da democracia ateniense, 
tendo posteriormente viajado para Siracusa a convite do tirano Hiéron, onde terá 
travado conhecimento com os místicos pitagóricos. Na sua obra destaca-se a 
importância dada ao sofrimento, narrando as sagas dos Deuses e dos Mitos. Diz-
se que escreveu 79 tragédias (segundo alguns autores, cerca de 90), das quais 
se conservaram apenas sete. 
Sófocles foi um dramaturgo grego que nasceu em 496 a.C. e morreu em 
(aproximadamente) 406 a.C. Um dos mais importantes escritores gregos de 
tragédia, ao lado de Ésquilo e Eurípedes, relata a história de personagens 
nobres e da realeza. Escreveu cerca de 120 peças, das quais apenas sete 
sobreviveram. Trabalhou também como ator, não se limitando à literatura. Foi 
ordenado sacerdote de Esculápio, o deus da medicina, e eleito duas vezes para 
a Junta de Generais, que administrava os negócios civis e militares de Atenas. 
Eurípedes nasceu em Salamina c. 485 a.C. e morreu em Pela, Macedônia, 406 
a.C. Foi um poeta trágico grego. Pouco se sabe de sua vida, mas parece ter sido 
austero e pouco sociável. Apaixonado pelo debate de ideias, suas investigações 
e estudos lhe trouxeram mais aflições do que certezas. Alguns críticos o 
chamaram de “filó sofo de teatro”, mas não há certeza se Eurípedes, de fato, 
pertenceu a alguma escola filosófica. Contudo, parece inegável nele a influência 
do filósofo Anaxágoras de Clazômenas e também do movimento sofístico. É de 
Eurípedes o maior números de peças trágicas da Grécia que chegaram até nós: 
dezoito no total. 
Aristófanes nasceu em 447 a.C. e morreu em 385 a.C. Foi um dramaturgo 
grego, considerado o maior representante da Comédia Antiga. Nasceu em 
Atenas e, embora sua vida seja pouco conhecida, sua obra permite deduzir que 
teve uma formação requintada. 
Heródoto foi um historiador grego, continuador de Hecateu de Mileto, nascido no 
Século V a.C. em Halicarnasso hoje Bodrum, na Turquia. Foi o autor da história 
da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida 
simplesmente como As histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como 
uma nova forma de literatura. 
Tucídides nasceu em Atenas, entre 460 a.C. e 455 a.C. e morreu por volta de 
400 a.C. Historiador grego, escreveu História da guerra do Peloponeso, onde, 
em oito volumes, ele conta a guerra entre Esparta e Atenas ocorrida no século V 
a.C. Esta obra é vista no mundo inteiro como um clássico e representa a primeira 
obra de seu estilo. É o historiador mais profundo da Antigüidade. 
Anaxágoras de Clazômenas(Clazômenas, c. 500 a.C. – Lâmpsaco, 428 a.C.) 
Filósofo grego do período pré-socrático. Nasceu em Clazômenas, na Jônia, e 
fundou a primeira escola filosófica de Atenas, contribuindo para a expansão do 
pensamento filosófico e científico desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era 
protegido de Péricles, que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado 
de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jônia, 
e lá fundou uma nova escola. Escreveu um tratado aparentemente pequeno 
intitulado Sobre a natureza 
Demócrito de Abderanasceu por volta de de 460 a.C. e morreu em 370 a.C. É 
tradicionalmente considerado um filósofo pré- socrático. Cronologicamente é um 
erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, 
contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento 
 
ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis. Foi discípulo e 
depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de 
ele ter sido o maior expoente da teoria atômica, ou do atomismo. 
 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
 
Na verdade, pouco sabemos sobre Pitágoras, e não muito mais sobre sua 
escola, porque ela era protegida por regras de sigilo. Era em parte um culto 
religioso, no qual Pitágoras era líder e profeta, pautado por normas, algumas 
das quais tinham muito em comum com os tabus de outras sociedades. Havia 
um respeito geral pela santidade da vida e a aceitação da doutrina de 
transmigração da alma. Mas era também uma escola que se interessava por 
doutrinas e indagações de autêntico interesse intelectual. 
Enfatizava principalmente a matemática – a aritmética, interpretada como uma 
investigação dos tipos de números, a geometria interpretada como investigação 
da formulação métrica das formas, a harmonia interpretada como investigação 
da formulação de intervalos musicais. Pensava-se que os números eram 
derivados de unidades, que podiam ser em si mesmas identificadas com os 
pontos, ou seixos, usados na contagem, de modo que havia uma transição fácil 
da aritmética para a geometria, que podia ser em si mesma interpretada como 
dizendo respeito às razões entre comprimentos. A harmonia, de igual maneira 
– a preocupação com as propriedades dos intervalos musicais, não harmonia 
no sentido moderno –poderia relacionar -se com as duas outras disciplinas, 
porque as relações entre os vários intervalos musicais podiam ser descobertas 
mediante comparações dos comprimentos das cordas que, quando tangidas, 
produziam tons diferentes. (HAMLYN, 1990, p.11-12) 
 
 
I.II.II.I Sócrates (c. 469-399 a. C.) 
 
Segundo Aires (2003) Sócratesé: “Uma das figuras mais carismáticas e enigmáticas da 
história da filosofia”. 
Sócrates nada escreveu e só podemos ter acesso a seus 
pensamentos através dos escritos de seu discípulo Platão. Não 
sabemos se são fiéis, mas é certo que Sócrates acreditava que 
ninguém peca com conhecimento de causa, e que a reflexão sobre 
a verdadeira natureza das virtudes morais é essencial à boa vida. 
 Nasceu em Atenas, filho de um escultor e uma parteira. Quando 
jovem, serviu no exército contra Esparta na Guerra do Peloponeso, mas, fora isso, 
sempre viveu em Atenas, onde se casou e teve vários filhos. Sabemos mais sobre o 
próprio homem: na batalha, mostrou notável força e resistência físicas, exibindo grande 
 
bravura, segundo todos os relatos. A julgar pelas descrições, tinha uma cara feia, 
lembrando um buldogue, e era andrajoso. Ficava parado por horas, aparentemente 
perdido em pensamentos, e afirmava ouvir uma voz interior divina que o dissuadia de 
cursos de ação. Apesar dessas esquisitices, tinha grande senso de humor, e sua graça 
e carisma atraíam a devoção de muitos. (FONSECA) 
Também se sabe pouco acerca do seu pensamento, embora seja a figura central 
de muitos diálogos de Platão, uma vez que é difícil diferenciar o Sócrates 
histórico da personagem platónica. Para Sócrates, a filosofia é um modo de vida 
e, por isso, fazia filosofia na ágora (praça pública), no ginásio ou nas ruas de 
Atenas, dialogando com aqueles que estivessem dispostos a investigar com ele 
um qualquer conceito moral. Começava por pedir ao seu interlocutor a definição 
de uma virtude, como a justiça, e depois, por intermédio de perguntas e 
respostas, levava-o a chegar a uma conclusão contraditória (ver contradição) 
com a definição que tinha apresentado. Com este método de refutação 
(elenchus) procurava mostrar àqueles que pretendiam ser sábios que as suas 
crenças (ver crença) eram inconsistentes (ver inconsistência) e, deste modo, 
levá-los a formular crenças mais adequadas. Apesar de afirmar não saber as 
respostas às questões que punha sobre as definições, há algumas ideias que 
parece ter assumido. As mais importantes são que a virtude, embora não possa 
ser ensinada, é conhecimento; que ninguém faz o mal (ver mal moral) 
voluntariamente; que não se pode fazer mal a um homem bom; que é pior fazer 
do que sofrer o mal; e que todas as virtudes se reduzem a uma, o conhecimento 
do que é e não é bom para um ser humano. (AIRES, 2003). 
Suas indagações críticas, contudo, irritavam alguns atenienses. Embora tenha 
sobrevivido à era dos Trinta Tiranos, após a derrota de Atenas por Esparta, apenas 
quatro anos depois que a democracia foi restabelecida, Sócrates foi levado a julgamento 
e condenado à morte por desrespeito aos deuses e por corromper os jovens. Poderia ter 
fugido, mas escolheu aceitar sua sentença e tomou voluntariamente a cicuta que o 
matou. Platão (seu pupilo) assistiu ao julgamento e se sentiu inspirado a preservar sua 
memória em diálogos. (FONSECA). 
 
PARA SABER MAIS 
 
 
 
Ironia: Estratégia utilizada por Sócrates, tal como é retratado nos 
diálogos de juventude de Platão, como parte do seu método de refutação 
(elenchus), em que finge ignorância e elogia a habilidade dos 
interlocutores para, desse modo, revelar a sua ignorância. 
Maiêutica: Nome pelo qual a personagem Sócrates, no Teeteto de 
Platão, designa o seu método de perguntas e respostas. O interesse da 
expressão está no facto de pôr ênfase no lado positivo do processo, uma 
vez que se trata de partejar as almas dos interlocutores de modo a que 
 
estes deem à luz as ideias que de forma não consciente já contêm em si 
e que pode, por isso, ser entendido como um processo complementar da 
reminiscência. Nesse sentido, talvez seja mais uma noção platónica do 
que socrática. (AIRES, 2003). Para Sócrates, o relevante era o espírito 
crítico, assim como o reconhecimento da própria ignorância era o 
primeiro e decisivo passo para o conhecimento. Somente quando nos 
damos conta de que não sabemos o que supúnhamos saber é que 
iniciamos a busca para descobri-lo. Sócrates não afirmava ensinar ele 
mesmo esse conhecimento; seu talento residia em, como uma parteira, 
ajudar os outros a dar à luz o conhecimento inato que residia em suas 
mentes. 
 
I.II.II.II Platão (427-347 a. C.) 
 
Filósofo grego que, juntamente com Sócrates, seu mestre, e Aristóteles, seu discípulo, é 
uma das figuras mais importantes da filosofia ocidental. Nasceu em Atenas, numa 
família aristocrática, e, como era comum na época e nos jovens da sua classe, ter-se-ia 
dedicado à política ativa não o tivesse dela afastado, primeiro, o 
governo dos Trinta Tiranos e, depois, a execução de Sócrates, em 
399. (AIRES, 2003) 
Apesar disso, fez várias viagens à Sicília com o objetivo de 
influenciar Dionísio II, tirano de Siracusa, e a sua filosofia está 
profundamente marcada por preocupações de carácter ético (ver 
ética) e político (ver filosofia política). Fundou em Atenas, em 387, uma escola dedicada 
ao ensino e à investigação, chamada Academia, onde ensinou até ao final da sua vida. 
Com exceção da Apologia de Sócrates (trad. 1993, INCM), todas as outras obras que 
escreveu são diálogos, que é comum distribuir por três períodos: juventude, maturidade 
e velhice. As obras do primeiro período tratam de conceitos morais específicos, como a 
piedade (Êutifron) ou a coragem (Laques) e nelas Sócrates é a figura central; as obras 
de maturidade expõem as suas principais teorias (teoria das ideias, da imortalidade e 
transmigração das almas); e nas obras de velhice, critica e revê algumas das teorias dos 
diálogos de maturidade. Defendeu que aquilo que várias ações justas têm em comum é 
o facto de participarem da ideia ou Forma de justiça. As Ideias são eternas e imutáveis, 
ao passo que as coisas sensíveis, que delas participam, são perecíveis e mutáveis. 
Existe uma hierarquia do ser, desde as imagens, artefatos e seres vivos, que constituem 
 
o mundo sensível e que são objeto de opinião, até às entidades matemáticas e às Ideias 
(de que a suprema é a Ideia incondicionada de Bem), que constituem o mundo inteligível 
e cujo conhecimento consiste na recordação (ver reminiscência) daquilo que a alma 
imortal contemplou aquando da sua existência separada do corpo. A justiça consiste em 
cada um desempenhar na cidade a função para a qual a sua natureza é mais adequada 
e a sociedade justa é aquela em que os cidadãos estão distribuídos por três classes, de 
acordo com a sua natureza: guardiões, que têm a seu cargo o governo; guerreiros, que 
protegem a cidade dos inimigos; e artesãos, a que pertencem a generalidade dos 
habitantes. (AIRES, 2003) 
Segundo Chauí (2003, p.199): 
Platão, por exemplo, considerava que o melhor caminho para o conhecimento 
verdadeiro era o que permitia ao pensamento libertar -se do conhecimento 
sensível (crenças, opiniões), isto é, das imagens e aparências das coisas. 
Atribuía esse papel liberador à discussão racional, sob a forma do diálogo.No 
diálogo, os interlocutores, guiados pelas perguntas do filósofo (no caso, 
Sócrates), examinam e discutem opiniões que cada um deles possui sobre 
alguma coisa; descobrem que suas opiniões são contraditórias e não levam a 
conhecimento algum. Aceitam abandoná-las e conseguem, pouco a pouco, 
chegar à ideia universal ou à essência da coisa procurada. Por se tratar de um 
confronto entre imagens e opiniões contrárias ou contraditórias, esse método ou 
caminho era chamado por Platão de dialética (discussão de teses contrárias e 
em conflito ou oposição). 
As contribuições de Platão para vários domínios da filosofia são tão importantes que 
houve quem afirmasse que toda a filosofia posterior é apenas uma nota de rodapé à sua 
obra. 
PARA SABER MAIS

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