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“Filosofia é a batalha entre o encanto de nossa inteligência mediante a linguagem” – Ludwig Wittgenstein – Prof. Vital dos Santos Souza Junior Caro aluno, Ao elaborarmos este módulo, visando contemplar a Filosofia, objetivamos construir um texto que possibilite a preparação para o aprendizado e desenvolvimento de ferramentas que serão utilizadas no decorrer de seu curso. Este módulo tem como objetivo central estabelecer uma relação entre o ensino de Filosofia e os aspectos que envolvem o indivíduo através de indagações e reflexões sobre os assuntos existentes em seu cotidiano, respeitando a diversidade de nossa composição social, mas despertando-o para o entendimento e reflexão sobre o conhecimento. Conforme diria Zygmunt Bauman (BAUMAN, Z., 1999, p. 11): “Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que devemos prestar a nossos companheiros humanos e a nós mesmos”. A arte da Filosofia ou do Filosofar está inserida no constante questionamento de nossa realidade e de nós mesmos, fazendo-nos transformar nosso mundo interior e exterior. Esperamos que você construa a seu aprendizado de acordo com as orientações contidas neste módulo e, apoiando-se nas orientações de seu Professor-Tutor. Com a elaboração deste material, desenvolveremos com vocês a participação em um novo método de ensino – o ensino a distância. Dessa forma, você terá bastante flexibilidade para realizar as atividades nele previstas. Embora você possa definir o tempo que irá dedicar aos estudos e à elaboração dos trabalhos, o curso foi planejado para ser concluído em um prazo determinado. “Não se aprende Filosofia, mas a filosofar.” - Kant Prof. Vital Souza Jr. IMPORTANTE: Este módulo é utilizado exclusivamente com fins didáticos na disciplina de FILOSOFIA nos cursos de graduação da UNEF. Não deve ser considerada como base para consulta bibliográfica, mas como material orientativo de apoio aos acadêmicos. SUMÁRIO PLANO DE ENSINO .......................................................................................................................................................... 5 1. PERFIL DO EGRESSO ........................................................................................................................................... 5 2. EMENTA .................................................................................................................................................................... 5 3. OBJETIVOS .............................................................................................................................................................. 5 4. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................................................ 6 6. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ............................................................................................................................ 6 7. METODOLOGIA ....................................................................................................................................................... 7 8. AVALIAÇÃO .............................................................................................................................................................. 7 9. RECURSOS .............................................................................................................................................................. 8 10. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................... 8 BIMESTRE I ...................................................................................................................... Erro! Indicador não definido. I - A concepção da EAD como forma de ensino ................................................................................................ 10 I.I – Histórico da EAD e suas diferentes gerações .......................................... Erro! Indicador não definido. II – Introdução à Metodologia da Pesquisa Científica. ........................................ Erro! Indicador não definido. III - Distintas formas de conhecimento humano: empírico ou senso comum, teológico, filosófico e científico. .................................................................................................................... Erro! Indicador não definido. III.I - Diferentes tipos de conhecimentos: .......................................................... Erro! Indicador não definido. AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. IV - Ciência e conhecimento científico: gênese e desenvolvimento ................. Erro! Indicador não definido. IV.I - A ciência e suas características ................................................................ Erro! Indicador não definido. IV.II – A Evolução Científica ................................................................................ Erro! Indicador não definido. POSITIVISMO ....................................................................................................... Erro! Indicador não definido. PARA SABER MAIS ........................................................................................................................................... 16 FUNCIONALISMO ................................................................................................ Erro! Indicador não definido. PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. ESTRUTURALISMO ............................................................................................ Erro! Indicador não definido. PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. DIALÉTICA ............................................................................................................. Erro! Indicador não definido. PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. FENOMENOLOGIA .............................................................................................. Erro! Indicador não definido. PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. MODELO HOLÍSTICO ......................................................................................... Erro! Indicador não definido. TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. Erro! Indicador não definido. AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. V – A Pesquisa Científica ........................................................................................ Erro! Indicador não definido. V.I - Tipos de pesquisa......................................................................................... Erro! Indicador não definido. TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................. Erro!Indicador não definido. AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. PARA SABER MAIS ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. VI - Leitura, análise e interpretação de textos. ..................................................... Erro! Indicador não definido. VI.I - Método e estratégia de estudo e aprendizagem .................................... Erro! Indicador não definido. VI.II - Leitura e análise de textos ........................................................................ Erro! Indicador não definido. TÉCNICA PARA SUBLINHAR ............................................................................ Erro! Indicador não definido. TÉCNICA PARA ESQUEMATIZAR ................................................................... Erro! Indicador não definido. TÉCNICA PARA FICHAR .................................................................................... Erro! Indicador não definido. TÉCNICA PARA RESUMIR ................................................................................ Erro! Indicador não definido. AUTOATIVIDADE ................................................................................................. Erro! Indicador não definido. ATIVIDADES COMPLEMENTARES .................................................................. Erro! Indicador não definido. BIMESTRE II ..................................................................................................................... Erro! Indicador não definido. I - Normas Técnicas (ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas). .. Erro! Indicador não definido. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................... 42 PLANO DE ENSINO Faculdade: UNEF Curso: PP Disciplina: Filosofia Carga horária: T 36 h P Semestre : 2014.1 Turno: Noturno Turma: 1º Semestre 1. PERFIL DO EGRESSO Os cursos de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UNEF têm como objetivo comum formar profissionais capazes de produzir e transmitir conhecimentos, a partir de uma interação com os processos de comunicação, conscientes do seu potencial transformador e aptos a atender às permanentes mudanças dos processos comunicacionais da sociedade e do mercado. 2. EMENTA Introdução geral à Filosofia. Filosofia enquanto ciência. História da Filosofia: evolução do pensamento humano através dos tempos. Relevância da filosofia para sociedade contemporânea e para o exercício da profissão. 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral: Criar condições para que os alunos adquiram noções elementares sobre a filosofia, as ciências humanas, a Verdade, a Ética, a Linguagem e a Estética. 3.2 Objetivos específicos: Inserir o aluno na questão da existência do pensamento filosófico, no que diz respeito à sua origem e nascimento, destaque para seus campos de investigação; Introduzir o aluno na compreensão da razão e da natureza da linguagem em sua dimensão teórica e prática; Discutir os aspectos da estética na reflexão crítica sobre a cultura e a arte com o objetivo epistêmico da filosofia; Apresentar as questões éticas para a filosofia, ética aristotélica, o raciocínio ético e a questão da liberdade. 4. JUSTIFICATIVA A filosofia começa a surgir, ganhando força e se desenvolvendo rapidamente quando as respostas dadas pelo mito a certas indagações não satisfazem mais a certas mentes curiosas e que buscam respostas mais aprofundadas. A filosofia é um conhecimento, uma forma de saber, que tem uma esfera própria de competência fundamentada em ações válidas, precisas e ordenadas. Para Aristóteles, “a filosofia estuda as causas últimas de todas as coisas”. A filosofia pode ser definida como o estudo do conhecimento que envolve o ser humano na linguagem, na sua subjetividade, história, arte, cultura, política, etc. 5. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Ao término do curso, os estudantes deverão estar capacitados para: a) Compreender os conceitos básicos da Filosofia; b) Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros; c) Perceber a importância do conhecimento em Filosofia; d) Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais conscientes 6. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1 – Introdução à Filosofia Histórico; A mitologia; Os pré-socráticos; Platão / O Mito da Caverna; Aristóteles: Ética a Nicômaco. 2 – Noções Sobre Razão e a Dialética Socrática A Dialética de Sócrates; Empirismo – Descartes/Leibniz; Racionalismo – Hobbes/Locke/Hume; Soluções modernas na razão filosófica – Kant/Hegel; Razão contemporânea – Hussell: fenomenologia. 3 - A política Desenvolvimento na história; Indiferença. 4 – A Ética A Ética em Aristóteles; Racionalismo ético; A liberdade. 5 – A Ideologia Imaginário social; Discurso Lacunar; Inversão da realidade; A Filosofia como ferramenta para a comunicação. 6 – Revisão 7. METODOLOGIA O conteúdo será discutido por meio de aulas expositivas/participativas, estimulando o debate e uma postura crítica em relação ao tema abordado; estudos de casos; leitura e discussão de artigos de jornais e revistas de circulação nacional sobre temas relacionados à disciplina; lista de exercícios para fixação e pesquisas bibliográficas, realização de trabalhos e exercícios em sala de aula, bem como de trabalhos de pesquisa e seminários. 8. AVALIAÇÃO Os alunos serão avaliados nos seguintes aspectos: Capacidade de aprendizado dos conteúdos e apresentação teórico e prático. Capacidade de relacionar a teoria à prática, observação, argumentação e sistematização de ideias. Participação e interesse nas atividades, assim como pontualidade e assiduidade. Atenção e aplicação durante as aulas. Realização das tarefas exigidas (incluindo as extraclasses). ATIVIDADE(S) PESO DATA Avaliação individual no AVA – 05 questões 2,00 Paper a ser entregue até o dia da aula V - postado através do AVA (A avaliação levará em consideração Conteúdo, organização, autenticidade, lógica e pontualidade). 2,00 Prova Individual (Domínio do conteúdo, capacidade de desenvolvimento da análise crítica, desenvolvimento do raciocínio e organização). 6,0 9. RECURSOS Quadro branco. Piloto. Televisor. DVD. Data-show. Computadores conectados à internet. Textos. 10. REFERÊNCIAS 10.1 Referência Básica: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed.rev. São Paulo: Moderna, 2003. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia: aprendendo a pensar. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2004. RESENDE, Antonio. Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar , 2002. 10.2 Referência Complementar: MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. Tradução de Guilhermo de la Cruz Coronado. 8. ed. São Paulo: Mestre Jou,1980. PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. Tradução de Maria Helena Nery Garcez, 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. I - Introdução à Filosofia I.I Afinal, o que é Filosofia? Em uma roda de amigos, comentários em uma mesa, no sentido mais comum, a palavra filosofia tem a ver com pensamento ou com o ato de pensar, com a reflexão (superficial ou profunda) de algo que nos cerca. Podemos acreditar que Deus existe. Ou podemos acreditar que não. Essas também são crenças filosóficas. Segundo Aires (2003) em seu Dicionário Escolar de Filosofia (versão online), filosofia é “o estudo dos problemas de carácter mais geral e conceptual (sic.) que afectam (sic.) o nosso pensamento científico, religioso, artístico e quotidiano, para os quais não há respostas científicas.” Já segundo o dicionário online Aurélio, filosofia é o: Conjunto de concepções, práticas ou teóricas, acerca do ser, dos seres, do homem e de seu papel no universo. / Atitude reflexiva, crítica ou especulativa, de elaboração de tais concepções. / Conjunto de toda ciência, conhecimento ou saber racional. / Reflexão crítica sobre os fundamentos do conhecimento (valores cognitivos), da lógica, da ética e da estética (valores normativos). / Sistema de princípios que explicam ou sintetizam determinada ordem de conhecimentos A filosofia está presente em todos os momentos de nossas vidas, nos mais variados questionamentos ou problemas, por exemplo: Será tudo relativo ou acontece por acaso? Existe o livre-arbítrio? O que é e para onde vai o conhecimento? Existe vida após a morte? O que é ética e moral? Dizer que os problemas da filosofia são meros conceitos é negar sua natureza enquanto problemas e que tudo é de fácil solução. (RESENDE, 2002) O método utilizado pela filosofia é a discussão racional utilizando-se de argumentos. Isto significa que não há métodos formais nem científicos de prova, não é só a experiência que conta, como na matemática ou na física; tudo o que se pode fazer é pensar tão corretamente quanto possível, procurando soluções adequadas. (CHAUÍ, 2003) Não é aspecto também somente cultural, pois: A cultura é o processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a princípio coladas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato inventivo com o mundo natural.” (VIEIRA PINTO, 1969, p. 123 apud ARANHA, 1998) Voltando aos aspectos conceituais “há um sentido menos comum, em que filosofar significa saber viver, ou melhor, saber viver com sabedoria, de acordo com uma doutrina, com uma Filosofia” (ASSMAN, 2006, p.15) Ainda segundo Assman (2006, p.15): Existe, porém, um sentido mais específico e preciso de filosofar: procurar e/ou encontrar a verdade por meio de uma atividade racional. E a gente encontra a verdade porque precisa e deseja saber a verdade. E a verdade é necessária para viver. Porém no meio estudantil sabemos que “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de ‘filósofo’ alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis”. (CHAUÍ, 2003, p.9). Desta forma, conforme Chauí (2003, p. 9) “uma primeira resposta à pergunta ‘O que é Filosofia?’ poderia ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceita-los sem antes havê-los investigado e compreendido”. Isto é que forma o amago da Filosofia, que compreende o conhecimento e a sabedoria. Em seu radical “A palavra filosofia é de origem grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio” (AIRES, 2003) Nas palavras de Chauí (2003, p. 19): Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Desta forma podemos afirmar que Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo é aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim a filosofia indica um estado de espírito da pessoa que ama, isto é, daquela que deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. Para Luckesi (2002, p. 13): No cotidiano, o conhecimento parece ser alguma coisa tão corriqueira que nos não nos perguntamos pelo que ele e, pelo seu processo, pela sua origem, pela sua forma de apropriação. Aos poucos, ao longo de nossa infância, adolescência, juventude, vamos adquirindo entendimentos das coisas que compõem o mundo que nos cerca, das relações com as pessoas, das normas morais e sociais que regem as relações entre os seres humanos. Nós, por isso, nos acostumamos a esses entendimentos, a partir do momenta em que fomos adquirindo-os espontaneamente. Com eles e a partir deles, conversamos, discutimos, temos certezas e duvidas, formulamos juízos. Contudo, quase nunca, exceção feita aos especialistas, nos perguntamos sobre o que e o conhecimento, seu significado, origem. Habituamo-nos a utilizar o entendimento, por isso não o problematizamos. I.I.I Mas para que filosofia? Vamos iniciar esta reflexão com outros questionamentos: Para que língua portuguesa? Para que matemática? Geografia? Física? História? Biologia? Física? Educação Física? “[...] ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade.” (CHAUÍ, 2003, p.10) A fonte de estudo da filosofia se baseia no conhecimento. O conhecimento constitui uma relação de ação e reação do indivíduo sobre o meio em que está inserido. Os primeiros filósofos não faziam uma distinção profunda entre as diferentes áreas do conhecimento. Aristóteles, por exemplo, dedicou-se não apenas ao que hoje reconhecemos como filosofia, mas também à física, astronomia, biologia, etc. Para os primeiros filósofos, o estudo da filosofia tinha muito mais em comum com a biologia, a matemática ou a história, do que com outras manifestações culturais como a arte ou a religião. E o que tinha em comum era o estudo racional da natureza das coisas e a procura da verdade. A filosofia surge assim associada, juntamente com as outras áreas do conhecimento, à própria ideia de investigação livre, opondo-se à atitude dogmática que consiste em proclamar pretensas "verdades" que não se podem colocar em causa. A filosofia não é coisa do passado. Apesar da sua longa história (ver filosofia, história da), a filosofia continua viva; na verdade, há talvez mais filósofos hoje em dia do que ao longo de toda a história da humanidade. E também não é verdade que não exista progresso em filosofia; sem dúvida que a compreensão actual (sic.) dos problemas, teorias e argumentos da filosofia é superior à de qualquer época do passado. Simplesmente, talvez não haja na filosofia o tipo de progresso por acumulação de resultados que podemos encontrar na ciência. O progresso da filosofia é um alargamento da compreensão. Podemos continuar sem conseguir provar se temos ou não livre-arbítrio,ou se Deus existe ou não, ou sequer como se pode justificar a nossa crença no mundo exterior; mas a compreensão que temos hoje destes problemas é mais profunda do que a que se tinha no passado. (AIRES, 2003) Mas devemos lembrar que “Filósofo é quem não se contenta com as coisas óbvias. É quem toma distância do que acontece, para entender melhor o que acontece”. (ASSMAN, 2006, p.17) Logo, o ato de filosofar é um ato de reflexão, é buscar em si as respostas para indagações do cotidiano, que muitas vezes movem a humanidade, afinal, não são as respostas que movem o mundo, e sim as perguntas. Refletir é, por exemplo, tomar o próprio eu como objeto de compreensão. E se pode dizer que é esta a capacidade humana que nos distingue dos seres animais: se dissermos que os animais conhecem, os seres humanos conhecem que conhecem, sabem que sabem. Por isso somos capazes de rir de nós mesmos. De toda forma, quem prefere uma vida tranquila (sic.), uma vida mais grudada ao cotidiano, ao terra-a-terra, fica longe da Filosofia. E quem quer alcançar maior profundidade, quem gosta de chegar às raízes, ser mais radical, vai precisar dela, mesmo que isso não lhe venha a trazer certezas ou tranquilidade... e talvez nem felicidade. (ASSMAN, 2006, p.19) Conforme Chauí (2003, p. 12): A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, a s coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações. A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações. De forma geral, Chauí (2003, p.14-16) nos traz quatro dimensões de definições para a filosofia: 1. Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Filosofia corresponde, de modo vago e geral, ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o necessário. Qual o problema dessa definição? Ela é tão genérica e tão ampla que não permite, por exemplo, distinguir a Filosofia e religião, Filosofia e arte, Filosofia e ciência. Na verdade, essa definição identifica Filosofia e Cultura, pois esta é uma visão de mundo coletiva que se exprime em ideias, valores e práticas de uma sociedade. A definição, portanto, não consegue acercar-se da especificidade do trabalho filosófico e por isso não podemos aceitá-la. 2. Sabedoria de vida. Aqui, a Filosofia é identificada com a definição e a ação de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação do mundo para aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas de modo ético e sábio. A Filosofia seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, sobre nossos impulsos, desejos e paixões. É nesse sentido que se fala, por exemplo, numa filosofia do budismo. Esta definição, porém, nos diz, de modo vago, o que se espera da Filosofia (a sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a Filosofia e, por isso, também não podemos aceitá-la. 3. Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Nesse caso, começa-se distinguindo entre Filosofia e religião e até mesmo opondo uma à outra, pois ambas possuem o mesmo objeto (compreender o Universo), mas a primeira o faz através do esforço racional, enquanto a segunda, por confiança (fé) numa revelação divina. Ou seja, a Filosofia procura discutir até o fim o sentido e o fundamento da realidade, enquanto a consciência religiosa se baseia num dado primeiro e inquestionável, que é a revelação divina indemonstrável. Pela fé, a religião aceita princípios indemonstráveis e até mesmo aqueles que podem ser considerados irracionais pelo pensamento, enquanto a Filosofia não admite indemonstrabilidade e irracionalidade. Pelo contrário, a consciência filosófica procura explicar e compreender o que parece ser irracional e inquestionável. No entanto, esta definição também é problemática, porque dá à Filosofia a tarefa de oferecer uma explicação e uma compreensão totais sobre o Universo, elaborando um sistema universal ou um sistema do mundo, mas sabemos, hoje, que essa tarefa é impossível. Há pelo menos duas limitações principais a esta pretensão totalizadora: em primeiro lugar, porque a explicação sobre a realidade também é oferecida pelas ciências e pelas artes, cada uma das quais definindo um aspecto e um campo da realidade para estudo (no caso das ciências) e para a expressão (no caso das artes), já não sendo pensável uma única disciplina que pudesse abranger sozinha a totalidade dos conhecimentos; em segundo lugar, porque a própria Filosofia já não admite que seja possível um sistema de pensamento único que ofereça uma única explicação para o todo da realidade. Por isso, esta definição também não pode ser aceita. 4. Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. A Filosofia, cada vez mais, ocupa -se com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com as transformações históricas dos conceitos, das ideias e dos valores. A Filosofia volta-se, também, para o estudo da consciência em suas várias modalidades: percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão, comportamento, vontade, desejo e paixões, procurando descrever as formas e os conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser humano e o mundo, do ser humano consigo mesmo e com os outros. Finalmente, a Filosofia visa ao estudo e à interpretação de ideias ou significações gerais como: realidade, mundo, natureza, cultura, história, subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, contradição, mudança, etc. Sem abandonar as questões sobre a essência da realidade, a Filosofia procura diferenciar -se das ciências e das artes, dirigindo a investigação sobre o mundo natural e o mundo histórico (ou humano) num momento muito preciso: quando perdemos nossas certezas cotidianas e quando as ciências e as artes ainda não ofereceram outras certezas para substituir as que perdemos. Em outras palavras, a Filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a histórica (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que pensa r e dizer e as ciências e as artes ainda não sabem o que pensar e dizer. Esta última descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como análise(das condições da ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação) e como crítica(das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas), essas três atividades (análise, reflexão e crítica) estando orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e os seres humanos. Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamentoe do sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. (grifo nosso) PARA SABER MAIS Não deixe de ler os interessantes artigos disponíveis no AVA: EWING, A.C. O que é filosofia e por que vale a pena estudá-la, DUTRA, Delamar José Volpato. O que é filosofia, professor? E para que serve? I.II Principais períodos da História da Filosofia Segundo Luckesi (2002, p. 16): No que se refere ao conhecimento, ha quatro elementos a serem destacados: um sujeito que conhece; um objeto que e conhecido; um ato de conhecer, e, finalmente, um resultado, que é a compreensão da realidade ou o conhecimento propriamente dito (a explicação produzida e exposta, tornada disponível as pessoas). Segundo HAMLYN (1990, p. 6), a história da Filosofia não pode dizer respeito meramente a ideias. A Filosofia se concentra em problemas, mesmo que apenas nos problemas de compreender isto ou aquilo. A solução de problemas requer justificação e esta exige argumentos. Dentro deste contexto de argumentar e questionar a realidade existente, buscando a compreensão e respostas para estes questionamentos é que nasce a Filosofia. Segundo Aires (2003): A filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga, no séc. VI a.C. Os primeiros filósofos gregos foram Pitágoras (c. 580-500 a.C.) e Tales de Mileto (c. 624-546 a.C.), sendo ambos igualmente os fundadores do que hoje chamamos "ciência" (que eles não distinguiam da filosofia). Os primeiros filósofos dedicaram uma especial atenção à cosmologia (que hoje é uma disciplina científica), isto é, ao estudo da origem e natureza última do universo. Sócrates e Platão dedicaram-se depois a problemas éticos e políticos, assim como a alguns aspectos mais conceptuais da filosofia. Fizeram da procura de definições explícitas de conceitos básicos como beleza, justiça e conhecimento a sua atividade (sic.) principal. Aristóteles desenvolveu praticamente todas as áreas da filosofia e da ciência, e estabeleceu firmemente o estudo sistemático de problemas filosóficos e científicos. Fundaram-se várias escolas dedicadas ao estudo da filosofia e surgiram vários filósofos importantes. Sendo assim, costuma-se dividir a história da filosofia ocidental em quatro períodos, de acordo com a divisão habitual da própria história. Fala-se assim de filosofia antiga (do séc. VI a.C. ao séc. III d.C.), medieval (sécs. III-XV), moderna (sécs. XVI-XVIII) e contemporânea (do séc. XIX aos dias de hoje). Filosofia antiga - Estuda-se, em Filosofia Antiga, o surgimento da Filosofia e seu desenvolvimento pelos gregos, especialmente, e pelos romanos. Em geral, ela é repartida, tomando-se Sócrates como referência. Assim, há o período pré-socrático e o pós-socrático. Corresponde ao período compreendido entre os séculos VI e V a.C. Suas figuras de destaque são Sócrates, Platão e Aristóteles, além de outros de quem se sabe menos, como Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Parmênides, Empédocles e Demócrito. A transição entre esta etapa e a Filosofia Medieval não é muito nítida. Ela se dá quando o cristianismo ganha status e recorre ao pensamento grego, para dar fundamento teórico a suas teses. Em termos cronológicos, esse período coincide aproximadamente com a queda de Roma, no século V. (HAMLYN, 1990) Filosofia medieval - A Filosofia Medieval se estende até aproximadamente o século XV, quando ocorre o que se chama Renascença. (HAMLYN, 1990) No período medieval a filosofia foi estudada num contexto sobretudo religioso. Muitos filósofos deste período foram extraordinariamente perspicazes, tendo desenvolvido algumas ideias e argumentos hoje considerados centrais em filosofia, não só na filosofia da religião e na metafísica, mas também na ética, filosofia da linguagem e lógica (AIRES, 2003) Ela está principalmente subordinada à Igreja Católica, e seus representantes capitais são Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. É quase totalmente uma filosofia escolástica. Há ainda alguns filósofos de origem árabe ou judaica, mas não fazem parte da tradição filosófica ocidental, embora seus trabalhos tenham sido fundamentais para que o pensamento antigo atingisse nossos dias. (HAMLYN, 1990) Filosofia moderna - O período que compreende a Filosofia Moderna vai do final da Idade Média até fins do século XIX. Há propostas de que seja dividido em Filosofia da Renascença e Filosofia Moderna. A primeira é marcada pela descoberta de obras desconhecidas de Platão e Aristóteles, além de outras obras do mundo grego, sendo seus principais pensadores Maquiavel, Montaigne, Erasmo, More, Giordano Bruno etc. Na segunda, predomina “a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas”. (HAMLYN, 1990) Nas palavras de Chaui (2003), e seus representantes mais destacáveis foram Galileu, Bacon, Descartes, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Locke, Berkeley, Newton, Hume e Kant. Filosofia contemporânea - Estendendo-se de meados do século XIX até nossos dias, é o período mais complexo de definir, afinal está em construção, e não temos o distanciamento afetivo e cronológico para nos ajudar a entendê-lo. (HAMLYN, 1990) No séc. XIX, e sobretudo a partir do séc. XX, a filosofia conhece uma vitalidade e diversidade que ultrapassa de longe qualquer período histórico anterior. Alguns filósofos alemães e franceses fundam correntes como o existencialismo, a fenomenologia e a hermenêutica; nestas áreas, destacam-se filósofos como Husserl, Heidegger e Sartre. Alguns filósofos ingleses e americanos deixam-se influenciar decisivamente pelo trabalho de Frege, Russell e Wittgenstein, recuperando o projecto original da filosofia: o estudo racional de problemas conceptuais. Sobretudo depois da segunda guerra mundial, florescem disciplinas antes negligenciadas, como a metafísica, a filosofia da religião, a filosofia da arte, a ética, incluindo a ética aplicada) e a filosofia política. A filosofia da ciência e a epistemologia atingem resultados de grande importância, assim como a filosofia da linguagem e a lógica, que em grande parte se autonomiza relativamente à filosofia. A filosofia, tal como as artes e as ciências, entra no séc. XXI com um grau de sofisticação, pertinência e alcance nunca antes atingido (AIRES, 2003) PARA SABER MAIS [...] Por que a Coruja é o símbolo da sabedoria e está sempre atrelada a filosofia? Se pensarmos um pouco na cultura grega, ou mais precisamente na sua mitologia, veremos que sempre acompanhada da deusa Athena está a coruja। Athena (Αθηνά) ou Palas Athená é a deusa da sabedoria e da justiça, filha do poderoso Zeus e Métis, deusa da prudência e a primeira esposa de Zeus. As aves são os seres mais próximos dos céus, logo, mais próximos dos deuses. Também é comum ver a soberana águia acompanhando sempre o portentoso Zeus, o mais poderoso dos deuses gregos. A coruja demonstra uma alerta constante, é símbolo da vigilância, está sempre apta para sobreviver na noite e sempre atenta aos perigos da escuridão। Nas moedas mais antigas da Grécia é muito comum encontrarmos a figura desse animal tão prudente, talvez mostrando com isso que a cultura grega antiga estava sempre vigilante e a frente dos outros povos। Em grego coruja é gláuks “brilhante, cintilante”। Um dos epítetos da deusa Athena é “a de olhos gláucos”, ou seja, a que enxerga além do que todos vêem। O filósofo alemão Friedrich Hegel em sua obra Filosofia do Direito ilustra muito bem a harmoniosa relação entre a coruja e a filosofia. Escreve ele: “A coruja de Minerva alça seu vôo somente como início do crepúsculo”. O papel da filosofia é justamente elucidar o que não é claro ao censo comum, é alertar acerca da vida. O crepúsculo é o linear do dia pra coruja, enquanto cessamos nossas obras e nos recolhemos em nossos lares, a coruja “alça seu vôo” a trabalho. É a noite que a fascina, por isso seu nome em latim: Noctua, “ave da noite”. Não é a beleza o seu destaque, mas é a capacidade de ver o que aves diurnas não conseguem ver. Seu pescoço gira 360º, dando-lhe uma visão completa capacitando-a a ver o todo. É também uma ave de rapina, rápida na escolha, e que por vê a presa e não ser vista, sempre tem sucesso na caça, apanhando os despreparados e desprovidos que se arriscam na noite escura. São essas as características que um filósofo deve possui. Enxergar o que outras pessoas não conseguem ver, ter uma visão do todo, ou seja, uma visão que abarque todos os ângulos da realidade. Deve ser capaz de articular os pensamentos contra seus adversários. É preciso raptar as bases dos argumentos dos oponentes. Também, deve-se raptar aqueles que estão se enveredando por caminhos de erros e por enxergarmos na noite quando outros não vêem, podemos ajuda-los e conduzi-los (pelo argumento) a desfechos virtuosos. Sócrates é um fiel representante dessa relação coruja-filosofia, acusado de “raptar” jovens atenienses – pois enxergava a frente de seu tempo – foi condenado a morte. Diferente de Platão, também não era sua beleza que o projetava, mas sim sua inigualável sabedoria. Sócrates era mestre na argumentação, conduzia as pessoas à “darem a luz sua idéias”, ensinava nas praças e ruas, era um homem livre para expor seus argumentos que por muitas vezes ironizava o oponente. Era de fato uma figura “corujesca”, feia como uma coruja á luz do dia, mas sagaz como na noite. Que logo se levante homens de sabedoria alçando vôo na necessidade, que logo a Coruja de Minerva com seus olhos gláucos enxergue nesses dias de trevas soluções para uma vida voltada ao bem. Essa é uma das diversas correlações entre a coruja e a filosofia. Disponível em: http://inclinacoesfilosoficas.blogspot.com.br/2008/02/coruja-de- minerva.html I.II.I A mitologia; Para referir-se à palavra e à linguagem, os gregos possuíam duas palavras: mythose logos. Diferentemente do mythos, logos é uma síntese de três palavras ou ideias: fala/palavra, pensamento/ideia e realidade/ser. Logos é a palavra racional do conhecimento do real. É discurso (ou seja, argumento e prova), pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração) e realidade (ou seja, os nexos e ligações universais e necessários entre os seres). (CHAUÍ, 2003, p. 175) Mitologia é um conceito criado após o surgimento da Filosofia. Na antiguidade grega, antes da Filosofia, a mitologia era o modo narrativo que os gregos usavam para explicar o porquê dos fenômenos (aquilo que aparece às sensações). Havia narrativa para explicar praticamente tudo. Este poder explicativo estava vinculado a outro fator muito importante e muito caro aos gregos: a crença de que as narrativas tinham de fato acontecido do modo como descrito na narração; não havia dúvidas e nem porque duvidar. Como as narrativas falavam sempre de um mundo sobrenatural, ou seja, um mundo que transcendia a natureza das coisas visíveis, havia uma interação inquestionável e indubitável entre homens, natureza e deuses. Os deuses eram vistos, principalmente, por sua característica que os diferenciavam dos homens, a imortalidade. Os homens chamavam-se, entre si, de mortais, justamente porque eram diferentes dos deuses. Os mitos referiam-se à origens de um fato ou de um estado de coisas, por exemplo, ao nascimento, à morte, ao clima, à guerra, a uma relação entre homens ou entre homens e natureza. O mito, portanto, explicava como algo veio a ser como é. A comprovação inquestionável do mito se dá pelo fato das coisas serem como são, por exemplo, o mito da morte é comprovado pela existência da morte. Como a narrativa era uma história sagrada, não havia preocupação em querer saber porque os deuses agiram como agiram, simplesmente havia aceitação tácita que era a crença, ou seja, as coisas aconteceram como aconteceram e ponto final. (FONSECA) As narrativas mitológicas chegaram aos gregos pela oralidade vindas de tempos imemoriais. De tempos em tempos os mitos eram rememorados. Nestas épocas ou momentos, os gregos reatualizavam suas crenças, e delas tiravam suas forças e energias para continuarem a viver, trabalhar e lutar. É importante observar que o foco de suas preocupações em momentos de crise ou conflitos estava vinculada ao passado mitológico. A ênfase estava, portanto, no presente alimentado pelo passado. (FONSECA) Na Antiguidade e na Idade Média praticamente os dois conceitos se equivalem [conhecimento e filosofia], enquanto Ciência e Filosofia se baseiam na razão, em contraposição a outros saberes que não privilegiam uma fundamentação racional, como é o caso da mitologia ou da teologia, que incluem em si, necessariamente, uma crença ou a fé. Só na modernidade é que se estabelece mais claramente uma distinção entre ambas: a Filosofia continua mantendo como sua característica a pretensão de conhecer o todo como tal, como o estudo dos “porquês”, enquanto a Ciência nasce e se consolida como o conhecimento da realidade a partir do estudo das partes e como o estudo do “como” da realidade. (ASSMAN, 2006, p. 33) A consciência mítica está associada ao conhecimento do mito que narra os fenômenos referentes à criação. Os mitos se relacionam com aspectos humanos como: medo, poder, esperança, felicidade, etc. Estes elementos são explicados através da crença da realidade mitológica. Desta forma a consciência religiosa está intimamente associada à consciência mítica. As duas retratam a existência e a importância do sobrenatural, chegando a dimensão do que consideram sagrado. Conforme Hamlym (1990, p. 09 e 10): Conta -se que Tales, que viveu por volta do ano 600 a.C., afirmava que todas as coisas estavam repletas de deuses e há numerosas referências a certas coisas como divinas em filósofos subsequentes, sem que isso implicasse uma atitude religiosa específica. A natureza era simplesmente considerada como algo divino. Ao mesmo tempo, a alegação de Aristóteles de que Tales dissera que o “primeiro princípio” de todas as coisas era a água, e a tese subsequente proposta por Anaxímenes, sucessor de Tales, de que as diferentes matérias são formadas de ar mediante processos recíprocos de condensação e rarefação, parecem ciência primitiva – uma tentativa antiga de identificar a natureza básica da realidade física e explicar como os fatos observáveis de coisas físicas sã o derivados das mesmas. Ainda assim, o mais longo dos três fragmentos que temos dos escritos de Anaxímenes (se foram escritos) diz que o ar envolve todo o mundo, da mesma maneira que nossa alma, “sendo ar”, nos mantém íntegros e nos controla. O que quer que mais fosse, a alma era para os gregos o princípio da vida. O ar ou a respiração eram as indicações mais claras da vida. Daí a conexão entre alma e ar. A implicação, porém, era que o mundo em geral possuía também vida e alma. Se assim era, a escolha do ar por Anaxímenes como matéria básica não teria sido determinada exclusivamente por considerações físicas. Este pensamento seria uma mistura de diferentes elementos. O mito é um relato que oferece uma explicação definitiva; o mito não precisa de justificativa. Ao contrário, é o mito que justifica uma sociedade, uma cultura, um costume, como vimos acima. Da maneira como é elaborado, o mito não é para ser criticado ou discutido. Da mesma forma, ele não precisa ser apresentado através de argumentações – ele simplesmente é comunicado à comunidade por aquelesque se consideram os arautos das Musas ou dos Deuses. Vale aqui lembrar que quando uma religião se apropria do mito; este fica sujeito à crítica e precisa apresentar justificativas. Como exemplo perfeito disto tome-se o mito da Criação e de Adão e Eva. O relato é mais antigo do que o judaísmo. Daí foi incorporado na religião e desde então precisa justificar-se, já que faz parte de um "plano" efetivo de Deus para com a humanidade, segundo o discurso religioso. A filosofia é uma narrativa que não oferece uma explicação definitiva, já que a discussão é própria da filosofia. Existem sistemas filosóficos que se pretendiam definitivos; que pretendiam oferecer uma explicação definitiva da realidade. Talvez seja por isso que quase se transformaram em seitas. Outro aspecto é que a filosofia sempre precisa se justificar. O próprio ato de filosofar já implica a apresentação de uma justificativa daquilo que vai ser dito. Por ser um processo baseado na experiência e/ou no raciocínio lógico, a filosofia sempre está sujeita a críticas. TEXTO COMPLEMENTAR [A existência precede a essência]* Quando concebemos um Deus criador, esse Deus identificamo-lo quase sempre com um artífice superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos, trate-se duma doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos sempre que a vontade segue mais ou menos a inteligência ou pelo menos a acompanha, e que Deus, quando cria, sabe perfeitamente o que cria. Assim o conceito do homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o homem segundo técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um corta-papel segundo uma definição e uma técnica. Assim o homem individual realiza um certo conceito que está na inteligência divina. No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a existência. Tal ideia encontramo-la nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e até mesmo num Kant. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal - o homem; para Kant resulta de tal universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem precede essa existência histórica que encontramos na natureza. [...] O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra _________________________ * Os títulos entre colchetes foram criados pelas autoras desta obra; não constam, portanto, do texto original ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. [...] Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo, Abril Cultural, 1973. p. 11-12. (Col. Os Pensadores) Veja a charge da Mafalda... E reflita: Por que devo aprender? I.II.II Os pré-socráticos Conforme já citamos na Filosofia Antiga, a Filosofia é sistemática, uma forma de conhecimento que “tem uma história de mais de dois mil e quinhentos anos. Nascida na Grécia Antiga, ali se consolidou, tornando-se uma das principais marcas da civilização ocidental.” (ASSMAN, 2006, p.22) Ainda sob a ótica de Assman (2006, p. 22 e 23): Os gregos, desde os primórdios (por volta de 1.500 a.C., com a civilização micênica), se concentraram nas costas do Mediterrâneo em pequenas e distintas nações, constituindo posteriormente cidades independentes e rivais entre si. Cada cidade com sua cultura, seus hábitos, sua política. Mesmo assim, criou-se uma comunidade de língua e de religião, o que fez com que se constituísse em um povo, aos quais se opunham todos os que não falavam o grego. Eram os bárbaros, e “bárbaro” significa precisamente aquele que não fala o grego. A genialidade grega, reconhecida historicamente – alguns falam do “milagre grego” – afirma-se com Homero, com pintores, escultores, ceramistas, e com os primeiros nomes da Ciência e da Filosofia: Tales de Mileto, Heráclito, Anaximandro, Xenófanes e Parmênides. Além da região conhecida como Grécia, havia também a Magna Grécia, incluindo partes do sul da Itália peninsular (Tarento, Nápoles, Crotona) e da Sicília (Siracusa, Agrigento). Ali viveram pensadores como Pitágoras, Empédocles, e foi para Siracusa que depois viajou Platão para tentar aplicar sua teoria. Entre as cidades-estado consolida-se, por volta dos séculos VI e V a. C., a importância de Esparta e Atenas, esta última realizando e sofrendo grandes alterações sociais e políticas, com Sólon, Clístenes e Péricles, e com o desenvolvimento do comércio e a expansão da colonização grega. Todos nos lembramos da Guerra do Peloponeso (431-401 a. C.), entre Atenas e Esparta, através da qual se afirmou a superioridade da primeira. Atenas criou a democracia direta, e neste contexto surgem as artes, as tragédias e comédias. Depois disso se consolida em Atenas a Filosofia, mostrando que a vida da cidade, a política, é um chão propício no qual pode germinar melhor a atividade filosófica. É em Atenas que vivem os grandes trágicos Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, o autor de comédias, Aristófanes, e os primeiros historiadores, Heródoto e Tucídides. Na mesma cidade, os filósofos Anaxágoras e Demócrito lecionaram, assim como o fizeram os sofistas, os primeiros professores que se fizeram pagar pelo ensino. E depois, os três maiores expoentes da Filosofia grega: Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates (470/469-399 a.C.), condenado à morte por um governo tirânico (veja na figura 2 uma representação da Morte de Sócrates), o seu discípulo Platão (428/427- 348/347 a. C.), fundador da Academia, e Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.), fundador do Liceu, professor de Alexandre Magno, jovem imperador que viria a confirmar, depois de seu pai Felipe já ter conquistado a Grécia, o fim da autonomia das cidades-estado, estabelecendo o império macedônico,sucedido pelo domínio romano da Grécia. Deixam de existir as cidades-estado autônomas e passa a existir a idéia de império, onde praticamente já não é mais possível ao cidadão participar da vida política, obrigando-o a encontrar o sentido da sua vida fora desta. E passa a existir uma ideia de “universalidade” também na política, o que facilita o estabelecimento da mesma religião para todos, de um só deus para todos, o que vai acontecer depois com a tradição judaico-cristã. Em todo caso, o imperador Alexandre contribui para que a cultura grega, que ele aprendeu com seu mestre Aristóteles, se expanda pelo Oriente Médio. Como não lembrar dos períodos “helênico” ou “alexandrino”, que não só conservam as obras clássicas do pensamento grego com a posterior criação da biblioteca de Alexandria no norte e África, mas também continuam atraindo para as novas cidades artistas, sábios e homens letrados. Em todo caso, a Filosofia grega não morre, mas continua em Roma e depois floresce em toda a Europa, a partir do casamento feito entre a racionalidade grega e a nova religião, o Cristianismo, que aos poucos deixa de ser uma religião marcada pela mentalidade oriental e passa, sobretudo a partir da obra Paulo de Tarso (o apóstolo São Paulo), que é de formação grega, a mesclar a nova religião com o pensamento racional grego. Este casamento entre razão grega e religião judaico-cristã tornou-se a base da Idade Média e – como se reconhece cada vez mais – a base da própria tradição moderna. Por tudo isso se pode dizer que a Filosofia é filha da Grécia e que o Ocidente tem lá o seu berço. Sobre a história da Filosofia na Grécia, pode-se dizer que há três fases: O PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO, em que a Filosofia se ocupa principalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da natureza; Os Pré-Socráticos foram os primeiros Filósofos gregos que viveram entre os séculos VII a V a.C. Habitaram a cidade de Atenas antes dos sofistas e nomeadamente antes de Sócrates. Há semelhança de Sócrates conhecem-se apenas notícias e fragmentos das suas obras, que só chegaram até nós porque foram citados ou copiados em obras de Filósofos posteriores. O PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO, ocorrido entre o final do séc. V até o final do Séc. IV a.C., em que o objeto de estudo passa a ser o homem, sua vida política e moral e sua capacidade de conhecer as coisas; e O PERÍODO HELENÍSTICO OU GRECO-ROMANO, entre o final do Século III a.C até o Séc. II d.C, quando começa a consolidar-se a supremacia da visão cristã, sobretudo com Santo Agostinho. Neste período, deixa-se de acreditar em soluções mais coletivas para a vida humana e se começa a introduzir uma saída individual, consolidando-se uma nova ética e uma política que deixa de ser vista como boa. É o período dos estóicos, dos epicuristas e dos céticos. PARA SABER MAIS Estóicos, Epicuristas e Céticos– envolve tanto o pensamento grego, quanto o pensamento romano que predomina entre o fim da autonomia das cidades- estado gregas, com a morte de Alexandre Magno em 323 a.C., e a conquista do Antigo Egito em 30 a. C. pelos Romanos, e, mais ainda, com a gradual afirmação da perspectiva cristã. São estóicos, por exemplo, tanto Zenão, grego, quanto Cícero, Sêneca e o imperador romano Marco Aurélio. Todos eles abandonam o ideal anterior (Platão e Aristóteles), de que tudo se resolve pela política, e passam a dar importância ao indivíduo, à individualidade e à vida privada. Os estóicos – chamados assim pois se reuniam, em Atenas, perto do pórtico, em grego “stoa” – apregoam o ideal da fraternidade universal, contrários, portanto, à escravidão, e defendem o ideal da vida austera. Por isso até hoje se mantém o termo “estóico” com este sentido de austeridade, de capacidade de suportar o sofrimento. O epicurismo, chamado também de Escola do Jardim, porque ali se reuniam os discípulos de Epicuro, defende o valor da vida humana individual, o bem-estar, o prazer espiritual e físico como fim da existência humana. E os céticos insistem em dizer que os seres humanos, por mais que o queiram, não conseguem conhecer a realidade de forma objetiva e neutra. (ASSMAN, 2006, p.25) Os primeiros filósofos gregos dedicaram-se ao problema de determinar qual era o princípio material de que era constituída a natureza ordem. Foram chamados de naturalistas, pois procuravam responder a questões do tipo: O que é a natureza ou qual o fundamento último das coisas? Foram considerados como pessoas desprendidas das preocupações materiais do dia a dia e que se dedicavam apaixonadamente à contemplação da natureza. Tinham então como principal objetivo viverem para contemplarem a natureza. Foram simultaneamente poetas e profetas, quer se trate de Anaximandro, de Parménides, de Heraclito ou de Empédocles. Para estes Filósofos a aparência era manifestação do ser, que o aparecer era o desabrochar em plena luz do ser que se mostrava, e era por isso que ser e aparecer estavam tão intimamente ligados, pois o aparecer nunca tinha cortado a sua ligação com o ser. Se estes Filósofos tinham então como preocupação fundamental a natureza, Sócrates por seu lado interessava-se mais pelos problemas do ser humano e da sociedade, pois considerava que explicar a origem e a verdade das coisas através de objetos materiais era absurdo. Sócrates passou uma vida a ridicularizar aqueles que pensavam saber qualquer coisa que não fosse de natureza espiritual. Fonseca destaca que o primeiro Filósogo grego conhecido foi Tales de Mileto que viveu por volta do ano 600 a.C. Tales na companhia de Anaximandro e Anaxímenes defendia que a água, o indefinido, e o ar eram o princípio ou origem de todas as coisas. Preocupavam-se em encontrar a unidade por detrás da multiplicidade dos objectos do universo, e o princípio de explicação da natureza a partir da própria natureza (filósofo da physis – natureza). É apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Já Assman (2006, p. 26 a 30) destaca diversos outros filósofos que contribuíram para o saber antes de Sócrates: Homero foi o primeiro grande poeta grego que teria vivido, há cerca de 3.500 anos, e consagrou o género épico com as suas grandiosas obras, A Ilíadae a Odisséia. Heráclito de Éfesonasceu aproximadamente em 540 a.C. e morreu em 470 a.C. em Éfeso, na Jônia. Filósofo pré-socrático, “pai da dialética”. Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de “Obscuro”, pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos) e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Anaximandro de Miletonasceu em 609/610 a.C. e morreu em 546 a.C. Foi um filósofo pré-Socrático, discípulo de Tales, e também geógrafo, matemático, astrônomo e político. Atribui-se a ele a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Xenófanes de Cólofonnasceu por volta de 570 a.C. e morreu em 460 a.C. Filósofo grego nascido em Cólofon, na Jónia. Escreveu unicamente em versos em oposição aos filósofos jônios como Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto. Da sua obra restaram uma centena de versos. A sua concepção filosófica destaca-se pelo combate ao antropomorfismo, afirmando que se os animais tivessem o dom da pintura, representariam os seus deuses em forma de animais, ou seja, à sua própria imagem. Parmênides de Eléianasceu em cerca de 530 a.C. e morreu em 460 a.C. em Eléia, hoje Vélia, Itália. Foi o fundador da escola eleática. Há uma tradição que afirma ter sido Parmênideso discípulo de Xenófanes de Cólofon, mas não há certeza sobre o fato, já que uma tradição distinta afirma ter sido o filósofo pitagórico Amínias (ou Ameinias) quem despertou a vocação filosófica de Parmênides. Em geral, é contraposto a Heráclito: enquanto para este, toda a realidade estaria sempre em movimento, seria processo, para Parmênides, toda mudança seria mera aparência. Pitágoras foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos pelos anos de 571 a.C. e 570 a.C. e morreu provavelmente em 497 a. C. ou 496 a.C. em Metaponto. A sua biografia está envolta em lendas. Foi o fundador de uma escola de pensamento grega, chamada de Pitagórica, e foi o criador da palavra “filósofo”. Empédocles nasceu em Agrigento, 483 a.C. e morreu em Peloponeso, 430 a.C. Foi um filósofo, médico, legislador, professor, místico além de profeta; foi defensor da democracia e sustentava a ideia de que o mundo seria constituído por quatro princípios: água, ar, fogo e terra. Sólon, poeta e legislador ateniense, em 594 a.C. iniciou uma reforma onde as estruturas social, política e econômica da polis ateniense foram alteradas. Aristocrata por nascimento, trabalhou no comércio. Fez reformas abrangentes, sem fazer concessões aos grupos revolucionários e sem manter os privilégios dos eupátridas, e criou a eclésia (assembléia popular). Profundo conhecedor das leis, foi convocado como legislador pela aristocracia em meio ao contexto de tensão social existente na polis, no qual os demais grupos sociais viam as reformas de Drácon (ocorridas por volta de 621 a.C.) como algo insuficiente. Clístenes foi um nobre ateniense que reformou a constituição da antiga Atenas em 508 a.C., sendo considerado, geralmente, o pai da democracia, que aí implantou. Como pertencia à família dos Alcmeónidas, obteve o apoio necessário para a destituição de Hípias, filho do “tirano” Pisístrato, de uma família rival; abriu caminho para a adoção de uma postura democrática para Péricles. Péricles nasceu em 495 a.C. e morreu em Atenas 429 a.C. Foi um dos principais líderes democráticos de Atenas, e talvez o mais célebre. Nasceu em meio a uma família da nobreza ateniense, descendente do líder reformista Clístenes, responsável pela introdução da maioria das instituições democráticas, durante a revolução de 510 a.C., Consagrou-se como a maior personalidade política do século V a.C. A presença dele foi tão marcante, que a época em que ele viveu denominou-se de Século de Péricles. Ésquilo (Elêusis c. 525 a.C. – Gela 456 a.C.) foi um poeta trágico grego, considerado como o fundador da tragédia. Foi soldado em Maratona, Salamina e Plateias. Ao longo da sua vida assistiu à consolidação da democracia ateniense, tendo posteriormente viajado para Siracusa a convite do tirano Hiéron, onde terá travado conhecimento com os místicos pitagóricos. Na sua obra destaca-se a importância dada ao sofrimento, narrando as sagas dos Deuses e dos Mitos. Diz- se que escreveu 79 tragédias (segundo alguns autores, cerca de 90), das quais se conservaram apenas sete. Sófocles foi um dramaturgo grego que nasceu em 496 a.C. e morreu em (aproximadamente) 406 a.C. Um dos mais importantes escritores gregos de tragédia, ao lado de Ésquilo e Eurípedes, relata a história de personagens nobres e da realeza. Escreveu cerca de 120 peças, das quais apenas sete sobreviveram. Trabalhou também como ator, não se limitando à literatura. Foi ordenado sacerdote de Esculápio, o deus da medicina, e eleito duas vezes para a Junta de Generais, que administrava os negócios civis e militares de Atenas. Eurípedes nasceu em Salamina c. 485 a.C. e morreu em Pela, Macedônia, 406 a.C. Foi um poeta trágico grego. Pouco se sabe de sua vida, mas parece ter sido austero e pouco sociável. Apaixonado pelo debate de ideias, suas investigações e estudos lhe trouxeram mais aflições do que certezas. Alguns críticos o chamaram de “filó sofo de teatro”, mas não há certeza se Eurípedes, de fato, pertenceu a alguma escola filosófica. Contudo, parece inegável nele a influência do filósofo Anaxágoras de Clazômenas e também do movimento sofístico. É de Eurípedes o maior números de peças trágicas da Grécia que chegaram até nós: dezoito no total. Aristófanes nasceu em 447 a.C. e morreu em 385 a.C. Foi um dramaturgo grego, considerado o maior representante da Comédia Antiga. Nasceu em Atenas e, embora sua vida seja pouco conhecida, sua obra permite deduzir que teve uma formação requintada. Heródoto foi um historiador grego, continuador de Hecateu de Mileto, nascido no Século V a.C. em Halicarnasso hoje Bodrum, na Turquia. Foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura. Tucídides nasceu em Atenas, entre 460 a.C. e 455 a.C. e morreu por volta de 400 a.C. Historiador grego, escreveu História da guerra do Peloponeso, onde, em oito volumes, ele conta a guerra entre Esparta e Atenas ocorrida no século V a.C. Esta obra é vista no mundo inteiro como um clássico e representa a primeira obra de seu estilo. É o historiador mais profundo da Antigüidade. Anaxágoras de Clazômenas(Clazômenas, c. 500 a.C. – Lâmpsaco, 428 a.C.) Filósofo grego do período pré-socrático. Nasceu em Clazômenas, na Jônia, e fundou a primeira escola filosófica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era protegido de Péricles, que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jônia, e lá fundou uma nova escola. Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a natureza Demócrito de Abderanasceu por volta de de 460 a.C. e morreu em 370 a.C. É tradicionalmente considerado um filósofo pré- socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis. Foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica, ou do atomismo. PARA SABER MAIS Na verdade, pouco sabemos sobre Pitágoras, e não muito mais sobre sua escola, porque ela era protegida por regras de sigilo. Era em parte um culto religioso, no qual Pitágoras era líder e profeta, pautado por normas, algumas das quais tinham muito em comum com os tabus de outras sociedades. Havia um respeito geral pela santidade da vida e a aceitação da doutrina de transmigração da alma. Mas era também uma escola que se interessava por doutrinas e indagações de autêntico interesse intelectual. Enfatizava principalmente a matemática – a aritmética, interpretada como uma investigação dos tipos de números, a geometria interpretada como investigação da formulação métrica das formas, a harmonia interpretada como investigação da formulação de intervalos musicais. Pensava-se que os números eram derivados de unidades, que podiam ser em si mesmas identificadas com os pontos, ou seixos, usados na contagem, de modo que havia uma transição fácil da aritmética para a geometria, que podia ser em si mesma interpretada como dizendo respeito às razões entre comprimentos. A harmonia, de igual maneira – a preocupação com as propriedades dos intervalos musicais, não harmonia no sentido moderno –poderia relacionar -se com as duas outras disciplinas, porque as relações entre os vários intervalos musicais podiam ser descobertas mediante comparações dos comprimentos das cordas que, quando tangidas, produziam tons diferentes. (HAMLYN, 1990, p.11-12) I.II.II.I Sócrates (c. 469-399 a. C.) Segundo Aires (2003) Sócratesé: “Uma das figuras mais carismáticas e enigmáticas da história da filosofia”. Sócrates nada escreveu e só podemos ter acesso a seus pensamentos através dos escritos de seu discípulo Platão. Não sabemos se são fiéis, mas é certo que Sócrates acreditava que ninguém peca com conhecimento de causa, e que a reflexão sobre a verdadeira natureza das virtudes morais é essencial à boa vida. Nasceu em Atenas, filho de um escultor e uma parteira. Quando jovem, serviu no exército contra Esparta na Guerra do Peloponeso, mas, fora isso, sempre viveu em Atenas, onde se casou e teve vários filhos. Sabemos mais sobre o próprio homem: na batalha, mostrou notável força e resistência físicas, exibindo grande bravura, segundo todos os relatos. A julgar pelas descrições, tinha uma cara feia, lembrando um buldogue, e era andrajoso. Ficava parado por horas, aparentemente perdido em pensamentos, e afirmava ouvir uma voz interior divina que o dissuadia de cursos de ação. Apesar dessas esquisitices, tinha grande senso de humor, e sua graça e carisma atraíam a devoção de muitos. (FONSECA) Também se sabe pouco acerca do seu pensamento, embora seja a figura central de muitos diálogos de Platão, uma vez que é difícil diferenciar o Sócrates histórico da personagem platónica. Para Sócrates, a filosofia é um modo de vida e, por isso, fazia filosofia na ágora (praça pública), no ginásio ou nas ruas de Atenas, dialogando com aqueles que estivessem dispostos a investigar com ele um qualquer conceito moral. Começava por pedir ao seu interlocutor a definição de uma virtude, como a justiça, e depois, por intermédio de perguntas e respostas, levava-o a chegar a uma conclusão contraditória (ver contradição) com a definição que tinha apresentado. Com este método de refutação (elenchus) procurava mostrar àqueles que pretendiam ser sábios que as suas crenças (ver crença) eram inconsistentes (ver inconsistência) e, deste modo, levá-los a formular crenças mais adequadas. Apesar de afirmar não saber as respostas às questões que punha sobre as definições, há algumas ideias que parece ter assumido. As mais importantes são que a virtude, embora não possa ser ensinada, é conhecimento; que ninguém faz o mal (ver mal moral) voluntariamente; que não se pode fazer mal a um homem bom; que é pior fazer do que sofrer o mal; e que todas as virtudes se reduzem a uma, o conhecimento do que é e não é bom para um ser humano. (AIRES, 2003). Suas indagações críticas, contudo, irritavam alguns atenienses. Embora tenha sobrevivido à era dos Trinta Tiranos, após a derrota de Atenas por Esparta, apenas quatro anos depois que a democracia foi restabelecida, Sócrates foi levado a julgamento e condenado à morte por desrespeito aos deuses e por corromper os jovens. Poderia ter fugido, mas escolheu aceitar sua sentença e tomou voluntariamente a cicuta que o matou. Platão (seu pupilo) assistiu ao julgamento e se sentiu inspirado a preservar sua memória em diálogos. (FONSECA). PARA SABER MAIS Ironia: Estratégia utilizada por Sócrates, tal como é retratado nos diálogos de juventude de Platão, como parte do seu método de refutação (elenchus), em que finge ignorância e elogia a habilidade dos interlocutores para, desse modo, revelar a sua ignorância. Maiêutica: Nome pelo qual a personagem Sócrates, no Teeteto de Platão, designa o seu método de perguntas e respostas. O interesse da expressão está no facto de pôr ênfase no lado positivo do processo, uma vez que se trata de partejar as almas dos interlocutores de modo a que estes deem à luz as ideias que de forma não consciente já contêm em si e que pode, por isso, ser entendido como um processo complementar da reminiscência. Nesse sentido, talvez seja mais uma noção platónica do que socrática. (AIRES, 2003). Para Sócrates, o relevante era o espírito crítico, assim como o reconhecimento da própria ignorância era o primeiro e decisivo passo para o conhecimento. Somente quando nos damos conta de que não sabemos o que supúnhamos saber é que iniciamos a busca para descobri-lo. Sócrates não afirmava ensinar ele mesmo esse conhecimento; seu talento residia em, como uma parteira, ajudar os outros a dar à luz o conhecimento inato que residia em suas mentes. I.II.II.II Platão (427-347 a. C.) Filósofo grego que, juntamente com Sócrates, seu mestre, e Aristóteles, seu discípulo, é uma das figuras mais importantes da filosofia ocidental. Nasceu em Atenas, numa família aristocrática, e, como era comum na época e nos jovens da sua classe, ter-se-ia dedicado à política ativa não o tivesse dela afastado, primeiro, o governo dos Trinta Tiranos e, depois, a execução de Sócrates, em 399. (AIRES, 2003) Apesar disso, fez várias viagens à Sicília com o objetivo de influenciar Dionísio II, tirano de Siracusa, e a sua filosofia está profundamente marcada por preocupações de carácter ético (ver ética) e político (ver filosofia política). Fundou em Atenas, em 387, uma escola dedicada ao ensino e à investigação, chamada Academia, onde ensinou até ao final da sua vida. Com exceção da Apologia de Sócrates (trad. 1993, INCM), todas as outras obras que escreveu são diálogos, que é comum distribuir por três períodos: juventude, maturidade e velhice. As obras do primeiro período tratam de conceitos morais específicos, como a piedade (Êutifron) ou a coragem (Laques) e nelas Sócrates é a figura central; as obras de maturidade expõem as suas principais teorias (teoria das ideias, da imortalidade e transmigração das almas); e nas obras de velhice, critica e revê algumas das teorias dos diálogos de maturidade. Defendeu que aquilo que várias ações justas têm em comum é o facto de participarem da ideia ou Forma de justiça. As Ideias são eternas e imutáveis, ao passo que as coisas sensíveis, que delas participam, são perecíveis e mutáveis. Existe uma hierarquia do ser, desde as imagens, artefatos e seres vivos, que constituem o mundo sensível e que são objeto de opinião, até às entidades matemáticas e às Ideias (de que a suprema é a Ideia incondicionada de Bem), que constituem o mundo inteligível e cujo conhecimento consiste na recordação (ver reminiscência) daquilo que a alma imortal contemplou aquando da sua existência separada do corpo. A justiça consiste em cada um desempenhar na cidade a função para a qual a sua natureza é mais adequada e a sociedade justa é aquela em que os cidadãos estão distribuídos por três classes, de acordo com a sua natureza: guardiões, que têm a seu cargo o governo; guerreiros, que protegem a cidade dos inimigos; e artesãos, a que pertencem a generalidade dos habitantes. (AIRES, 2003) Segundo Chauí (2003, p.199): Platão, por exemplo, considerava que o melhor caminho para o conhecimento verdadeiro era o que permitia ao pensamento libertar -se do conhecimento sensível (crenças, opiniões), isto é, das imagens e aparências das coisas. Atribuía esse papel liberador à discussão racional, sob a forma do diálogo.No diálogo, os interlocutores, guiados pelas perguntas do filósofo (no caso, Sócrates), examinam e discutem opiniões que cada um deles possui sobre alguma coisa; descobrem que suas opiniões são contraditórias e não levam a conhecimento algum. Aceitam abandoná-las e conseguem, pouco a pouco, chegar à ideia universal ou à essência da coisa procurada. Por se tratar de um confronto entre imagens e opiniões contrárias ou contraditórias, esse método ou caminho era chamado por Platão de dialética (discussão de teses contrárias e em conflito ou oposição). As contribuições de Platão para vários domínios da filosofia são tão importantes que houve quem afirmasse que toda a filosofia posterior é apenas uma nota de rodapé à sua obra. PARA SABER MAIS
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