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longo e gradual processo de elaboração. Pode-se afirmar que o presidencialismo foi uma criação americana do século XVIII. A péssima lembrança que tinham da atuação do monarca, enquanto estiveram submetidos a coroa inglesa, mais a influência dos autores que se opunham ao absolutismo, como Montesquieu, determinou a criação de um sistema que, consagrando a soberania da vontade popular, adotava ao mesmo tempo um mecanismo de governo que impedia a concentração do poder. O sistema presidencial norte-americano aplicou, com o máximo rigor possível, o princípio dos freios e contrapesos, contido na doutrina da separação dos poderes. As características básicas do presidencialismo, segundo Dallari são: � O Presidente da República é o chefe de estado e o chefe de governo: o mesmo órgão unipessoal acumula as duas atribuições, desempenhando as funções de representação, ao mesmo tempo em que exerce a chefia do poder executivo. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 17 � A chefia de governo é unipessoal: a responsabilidade pela fixação de diretrizes do poder executivo cabe exclusivamente ao Presidente da República. � O Presidente da República é escolhido pelo povo: o povo escolhe diretamente o nome do chefe de governo, não apenas os parlamentares. Assim, mesmo que determinado partido recebe menos votos, ainda assim pode eleger o presidente. � O Presidente da República é escolhido por um prazo determinado: para não configurar uma monarquia eletiva, foi estabelecido um prazo determinado para o mandato do presidente. � O Presidente da República tem poder de veto: orientando-se pelo princípio da separação de poderes, os constituintes norte-americanos atribuíram ao Congresso a totalidade do poder legislativo. Entretanto, para que não houvesse o risco de uma verdadeira ditadura do legislativo, reduzindo-se o chefe do executivo à condição de mero executor automático das leis, lhe foi concedida a possibilidade de interferir no processo legislativo através do veto. Os defensores do parlamentarismo consideram-no mais racional e menos personalista, porque atribui responsabilidade política ao chefe do executivo e transfere ao Parlamento a competência para fixar a política de Estado, ou, pelo menos, para decidir sobre a validade da política fixada. Os que são contrários a esse sistema de governo argumentam com sua fragilidade e instabilidade, sobretudo na época atual em que o Estado não pode ficar numa atitude passiva, de mero vigilante das relações sociais. O Estado precisa de mais dinamismo e energia, que não se encontram no parlamentarismo. O regime presidencial tem sido preferido nos lugares e nas épocas em que se deseja o fortalecimento do poder executivo, sem quebra da formal separação de poderes. A seu favor argumenta-se com a rapidez com que as decisões podem ser tomadas e postas em prática. Além disso, cabendo ao presidente decidir sozinho, sem responsabilidade política perante o parlamento, existe unidade de comando, o que permite um aproveitamento mais adequado das possibilidades do Estado. O principal argumento que se usa contra o presidencialismo é que ele constitui, na realidade, uma ditadura a prazo fixo. Eleito por um tempo certo e sem responsabilidade política efetiva, o presidente pode agir francamente contra a vontade do povo ou do Congresso sem que haja meios normais para afastá-lo da presidência. O presidencialismo CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 18 conduziria à reprovável e abusiva concentração de poderes nas mãos de uma única pessoa, à hipertrofia de seu poder pessoal, ao governante onipotente. O presidencialismo traz na aparência a estabilidade dos governos, mas uma vez desencadeadas as crises e não podendo os dirigentes ser removidos antes de expirado o prazo constitucional do mandato que exercem, a solução ordinariamente conduz às revoluções, golpes de Estado, tumultos e ditaduras, fazendo instáveis as instituições mesmas. Segundo Bonavides: A esses vícios outros se vêm somar: a influência perturbadora do presidente na operação sucessória, buscando eleger seu sucessor ou até mesmo, se for o caso, reformar a Constituição para reeleger-se; a debilidade e a subserviência do Congresso à vontade presidencial, convertendo-se o Legislativo num Poder ausente, caracterizado por impotência crônica, sistema onde não há em verdade a colaboração dos poderes, senão o predomínio de um poder sobre outro ou a disputa de hegemonia entre os poderes; onde as crises de governo geram a crise das instituições; onde o Congresso, entrando em conflito com o Executivo, só dispõe de instrumentos negativos de controle: a recusa de dotações orçamentárias, a obstrução legislativa, etc. O Ministério no sistema presidencial é um corpo de auxiliares da confiança imediata do Presidente, responsável perante este, sem nenhum vínculo de sujeição política ao Congresso. Nos países onde o presidencialismo é mais próximo ao modelo americano tradicional, os ministros são pessoas estranhas às casas legislativas, em cujas dependências o presidente jamais vai recrutá- los, fazendo assim realçar o princípio da separação dos poderes. Essa regra vem sendo consideravelmente abalada em alguns Estados como o nosso. Surgiu o conceito de presidencialismo plebiscitário para descrever o sistema no qual o chefe do Poder Executivo é escolhido diretamente pela população para mandatos fixos, independente do apoio parlamentar. Supõe-se que o presidente, usualmente mediante apelos populistas, estabelece um vínculo de legitimidade diretamente com a população, enfraquecendo a representação parlamentar. Entende-se que o capital político eleitoral do Presidente da República é uma força capaz de imprimir coerência a este sistema altamente fragmentado. Essa suposição tem como base a comunicação direta dos candidatos à presidência com o grande eleitorado nacional, a crença de que a adesão desse grande eleitorado é estável e propicia ao presidente, de maneira contínua, o poder político de que ele carece. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 19 Além de ser caracterizado por um presidencialismo plebiscitário, dizemos que no Brasil também vigora o "presidencialismo de coalizão". Essa expressão foi cunhada por Sérgio Abranches em 1988. Como as eleições para presidência e parlamento são distintas, o eleitor pode optar por eleger um presidente de um partido e um representante parlamentar de outro. Neste caso, o presidencialismo difere do parlamentarismo justamente pelas origens distintas do poder executivo e do poder legislativo. A "coalizão" está relacionada aos acordos feitos entre partidos, geralmente por meio da ocupação de cargos no governo e alianças entre forças políticas para alcançar determinados objetivos. Na maioria das vezes a coalizão é feita para sustentar um governo, dando-lhe suporte político no legislativo e influenciando na formulação das políticas. Segundo Abranches, a lógica da formação das coalizões tem dois eixos: o partidário e o regional (estadual). Além de buscar formar a coalizão com base em interesses partidários, o governo tem de olhar também para os interesses regionais. Segundo o autor: É isso que explica a recorrência de grandes coalizões, pois o cálculo relativo à base de sustentação política do governo não é apenas partidário- parlamentar, mas também regional. Segundo Abranches, há outros países que apresentam governos de coalizão. No entanto, o Brasil é o único país que, além de combinar proporcionalidade, multipartidarismo e o “presidencialismo imperial”,