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TCC Pedagogia - Cristiane da Silva - O Assistencia e Educativo na Educação Infantil

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Prévia do material em texto

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ 
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ 
CURSO DE PEDAGOGIA
CRISTIANE DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: 
Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição 
pública do município de São José.
 
 
São José 
2013
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ 
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ 
CURSO DE PEDAGOGIA 
CRISTIANE DA SILVA
 
 
 
 
 
 
O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: 
Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição 
pública do município de São José. 
 
Trabalho elaborado para a disciplina de 
Conclusão de Curso (TCCII), do Curso de 
Pedagogia, como requisito parcial para o 
curso de graduação em Pedagogia do Centro 
Universitário Municipal de São José – USJ. 
Orientadora: Profa. Ma. Alexsandra de Souza 
Münich.
 
São José 
2013 
CRISTIANE DA SILVA 
O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: 
Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição 
pública do município de São José. 
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do 
grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – 
USJ – avaliado pela seguinte banca examinadora: 
BANCA EXAMINADORA 
________________________________________________________ 
Profª. Ma. Alexsandra de Souza Münich. 
Orientadora - USJ 
_________________________________________________________ 
Profª. Drª Maria Francisca Rodrigues Giron 
Examinadora - USJ 
_________________________________________________________ 
Profª. Ma Ana Elisa Cassal 
Examinadora - USJ
São José, 24 de junho de 2013. 
À Giovanna da Silva Bernardo, minha filha 
amada, que me compreendeu nos momentos em 
que meu tempo não poderia ser somente dela. 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu força, saúde e me acompanhou 
em todos os momentos. 
Aos meus pais, Roberto José da Silva e Maria Aparecida Luiz da Silva, que, 
mais do que me proporcionar uma boa infância, deram-me uma vida regada de bons 
momentos, formaram os fundamentos do meu caráter e são o meu porto seguro, 
incentivando-me e acreditando no meu potencial. 
A meu irmão e amigo Rafael da Silva que fez parte de minha infância e que 
sempre me proporciona bons momentos. 
A meu esposo, Jean Claudio Bernardo, que me compreendeu quando eu 
estava ausente e me deu forças para continuar; meu companheiro e amigo amoroso, 
o qual ouvia sempre com paciência minhas angustias.
A minha filha, Giovanna da Silva Bernardo, que me proporcionou muitos 
momentos de alegria e, nos meus momentos difíceis, trouxe-me o riso para aliviar 
minha agonia. 
Ao meu avô, José Emidio da Silva (in memoriam), e a minha avó, Vilma 
Filomena da Silva, ambos exemplos de honestidade, de amor e de perseverança , 
que sempre sonharam com este momento, incentivando-me e apoiando-me em 
minhas escolhas; compreendendo minha ausência com a difícil jornada de estudos e 
de trabalho. 
Aos meus demais familiares que compreenderam minha ausência nos 
encontros de família. 
A minha orientadora, Alexsandra de Souza Münich, exemplo admirável de 
comprometimento com a educação, que caminhou comigo, incentivando-me e 
guiando-me. 
À instituição que me recebeu de braço abertos, disponibilizando o espaço 
para a realização desta pesquisa. 
E a todos que acreditaram em mim e me deram forças para continuar.
A menos que modifiquemos a nossa 
maneira de pensar, não seremos 
capazes de resolver os problemas 
causados pela forma como nos 
acostumamos a ver o mundo. 
Albert Einstein
RESUMO 
O presente trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre o 
desenvolvimento da educação infantil no Brasil, ou seja, mostrar a transição do 
assistencialismo para o educativo bem como analisar as relações e interfaces do 
cuidar e do educar, por meio de questionários e de observações em uma instituição 
de educação infantil pública do município de São José. Inicio com um levantamento 
histórico da educação infantil e das leis que impulsionaram as mudanças nas 
concepções de educação da instituição. A partir das informações obtidas, foi 
realizada uma reflexão sobre o cuidar e o educar, mostrando que devem ser 
indissociáveis na educação de crianças de zero a seis anos. 
Palavras-chave: Educação Infantil. Assistencialismo. Educativo. Cuidar. 
Educar.
LISTA DE FOTOS 
Foto 1. Centro de Educação Infantil "R. T.". ...................................................................45
Foto 2. Grupo I – Momento da acolhida. ........................................................................47
Foto 3. Grupo I – O espaço. ..........................................................................................49
Foto 4. Grupo I – O espaço 2.........................................................................................50
Foto 5. Grupo I – Obstáculos.........................................................................................51
Foto 6. Grupo IV – Brincadeira no Solário......................................................................55
Foto 7. Grupo IV – O dentinho feliz...............................................................................56
Foto 8. Grupo IV – Pintando o dentinho. ........................................................................58
Foto 9. Grupo V – Brincadeiras livres. ...........................................................................59
Foto 10. Grupo V – Contação de história. .......................................................................60
Foto 11. Grupo V – Construindo um gatinho ..................................................................62
Foto 12. Grupo VII – Acolhida/Brincadeira livre. ............................................................64
Foto 13. Grupo VII – Roda de músicas...........................................................................66
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................09
2. O LUGAR DA CRIANÇA AO LONGO DA HISTÓRIA.........................................12
2.1 UM BREVE RETROSPECTO SOBRE A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA.............12
2.2 A INFÂNCIA NA ATUALIDADE..........................................................................14
2.3 O HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL.........................................................16
2.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA LEGISLAÇÃO ................................................23
2.4.1 A política federal para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 ........23
2.4.2 A política estadual para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 .....30
2.5 CUIDAR E EDUCAR ...........................................................................................35
2.6 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES (AS) DA EDUCAÇÃO INFANTIL..............39
3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA...................................................42
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA...............45
4.1 A INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL PESQUISADA..............................45
4.2 OBSERVANDO O CUIDAR E O EDUCAR NO COTIDIANO DA INSTITUIÇÃO.47
4.3 O OLHAR DAS PROFESSORAS PESQUISADAS SOBRE O CUIDAR E O 
EDUCAR ...................................................................................................................67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................73
REFERÊNCIAS.........................................................................................................76ANEXOS ...................................................................................................................81
APÊNDICE A ............................................................................................................82
APÊNDICE B ............................................................................................................83
QUESRIONÁRIOS....................................................................................................84
9
INTRODUÇÃO 
 No Brasil, até o século XX, instituições de ensino voltadas a educação de 
crianças de zero a seis anos1 não possuíam movimentos progressivos que 
assumissem responsabilidades em busca dos direitos das crianças. Apesar de surgir 
uma série de iniciativas nesse sentido, estas não obtiveram êxitos consideráveis que 
transformassem de maneira geral as políticas públicas direcionadas às crianças 
menores. Essas instituições iniciaram suas atividades com um caráter 
assistencialista2, voltado para o atendimento da saúde, para as questões higienistas, 
e com poucas preocupações para as iniciativas educacionais. 
Perceber a criança como parte do contexto social, dotada de capacidade de 
desenvolvimento, foi o primeiro passo para a transformação do caráter das 
instituições infantis. A Constituição de 1988 foi um marco para a instituição, a qual 
determina que a Educação Infantil é um dever do Estado brasileiro. A partir desse 
momento, a instituição de educação infantil passou a ser vista como parte dos 
direitos da criança, e não apenas como obrigação para com as mães trabalhadoras. 
Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente veio reforçar esse direito, 
tornando a instituição mais preparada para atender os pequenos. 
Atualmente as leis buscam se aproximar de uma concepção de infância que 
se desenvolveu e estruturou alicerces na história e na cultura, reconhecendo as 
especificidades e identificando as singularidades dessa faixa etária. As instituições 
de educação infantil foram sendo remodeladas a partir do momento em que o 
Estado passou a assumir o seu papel em relação à criança, garantindo e 
preservando a sua integridade e o seu desenvolvimento tanto no âmbito físico, 
quanto no emocional e no intelectual. 
Nesse sentido, o objetivo geral dessa pesquisa é investigar, por meio de 
observação, o cotidiano de uma instituição de educação infantil pública do município 
 
1 O termo “de zero a seis anos” vem sendo utilizado em vários documentos relacionados à 
educação infantil no Brasil. Conforme o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 2010, 
o ingresso na educação infantil é limitado a crianças de zero a seis anos, sendo que as crianças que 
completam seis anos após 31 de março do ano da inscrição são matriculadas no 1º ano do ensino 
fundamental. 
2 “Assistencialista” é um termo utilizado quando ocorre uma prática politica que visa assistir os 
mais carentes, social e economicamente. Para Kuhlmann, a educação infantil oferecida nas 
instituições possuía objetivos bem delimitados de cuidados básicos e guarda. “As instituições pré-
escolares foram difundidas internacionalmente... como parte de um conjunto de medidas que 
conformam uma nova concepção assistencial...” (1998).
10
de São José, a fim de refletir sobre as relações de cuidar e educar que permeiam a 
mesma. Sendo assim, definiram-se os seguintes objetivos específicos: 
- Realizar um levantamento bibliográfico sobre o processo histórico em que a 
instituição de educação infantil se desenvolveu no Brasil, tendo em vista a 
conotação assistencial em que se iniciou; 
- Descrever e relacionar as leis que ampliaram os direitos das crianças no 
âmbito da educação infantil; 
- Refletir acerca das interações entre o/a educador/a3 e as crianças nas 
relações de cuidado e de educação que permeiam na instituição; 
- Analisar as situações de aprendizagem propostas pelas professoras 
observando as intenções pedagógicas que permeiam as mesmas; 
- Analisar o ponto de vista das professoras em relação ao cuidar e ao educar 
no ensino infantil; 
- Observar como tem sido organizado o cotidiano das crianças na instituição 
de educação infantil a fim de compreender as relações de cuidar e educar. 
Será levantado, neste estudo, o processo histórico em que a educação infantil 
no Brasil se desenvolveu, elementos trazidos por Moisés Kuhlmann Jr.4 que 
possibilitam a reflexão sobre a concepção de infância e o desenvolvimento da 
instituição. Além disso, serão trabalhadas e questionadas algumas leis e diretrizes 
que envolvem a constituição das instituições de ensino infantil no formato que 
conhecemos atualmente. Levando em consideração que a educação infantil é um 
direito da criança que implica um compromisso dos órgãos públicos e buscando 
respostas pautadas nesse processo histórico em que se formou a educação infantil, 
definiu-se o seguinte questionamento: Como se desenvolvem as relações entre 
cuidar e educar em uma instituição de educação infantil pública do município de São 
José, levando em consideração o processo histórico em que a mesma se 
desenvolveu? 
 
3
 O termo “educador(a)” é utilizado neste trabalho com o mesmo sentido do termo 
“professor(a)”, sem distinção de formação e funções pedagógicas, pois há vários questionamentos 
quanto a palavra educador(a) no sentido de que qualquer pessoa sem formação poderia educar uma 
criança. Há também, os que mencionam o educador(a) como um profissional que possui vocação 
trabalhando com amor e dedicação, deferentemente do professor que é apenas um profissional, com 
diz Rubens Alves 2004. 
4
 Kulmann Jr., formou-se em pedagogia pela faculdade de educação da USP, Mestre em 
Educação pela PUC-SP e Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências 
Humanas da USP. O autor aborda a importância da história da educação infantil para refletir sobre 
os aspectos atuais da instituição e as contribuições dessas reflexões para a formação pedagogia.
11
É sabido que a educação infantil tem papel fundamental no desenvolvimento 
humano e social dos pequenos. Sendo assim, este estudo almeja analisar o cuidar e 
o educar, observando as questões existentes no cotidiano da instituição. O cuidado 
foi o foco da educação infantil durante os séculos em que os objetivos cotidianos 
estavam ligados à assistência. A mudança na concepção de infância e toda a 
trajetória histórica de lutas alavancaram leis que permitem um novo olhar para a 
criança. As instituições possuem amparo legal para cuidar e educar de forma 
indissociável, com um cotidiano de trabalhos intencionados, a fim de possibilitar a 
construção do conhecimento. 
As instituições de educação infantil mudaram legalmente suas concepções, 
porém o envolvimento de toda estrutura de um centro de educação infantil, desde a 
formação dos professores até os espaços e materiais disponibilizados, é que 
realmente fazem da instituição um espaço pedagógico. Assim como a formação dos 
educadores que trabalham com as crianças de zero a seis anos, o espaço, os 
materiais, a disponibilidade de auxiliares de ensino, a participação de todos na 
construção do projeto político pedagógico, uma concepção de educação atenta ao 
tempo das crianças, o desenvolvimento de projetos pensados para os pequenos e o 
respeito aos direitos das crianças também são características fundamentais para 
uma instituição infantil com concepções pedagógicas. 
12
2. O LUGAR DA CRIANÇA AO LONGO DA HISTÓRIA 
2.1 UM BREVE RETROSPECTO SOBRE A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA 
Alguns autores resumem o entendimento de criança apenas como indivíduo 
oposto ao adulto, porque possui menos idade e/ou maturidade.Porém, não se trata 
de algo tão simples. Existem determinados papéis com diferentes desempenhos 
atribuídos à criança que devem ser levados em consideração. Sendo que há uma 
série de variáveis ligadas a questões sociais, econômicas e culturais que influenciam 
nesta definição de infância, não podemos afirmar que existe uma homogeneidade da 
população infantil, pois estaríamos desvinculando-as de suas realidades.
[...] considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de 
experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e 
sociais é muito mais do que uma representação dos adultos sobre esta fase 
da vida. É preciso conhecer as representações da infância e considerar as 
crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc., reconhecê-las 
como produtoras da história. (Kuhlmann Jr., 1998: 31). 
Até então, a trajetória histórica da infância na humanidade veio nos 
mostrando sentimentos a seu respeito que não consideravam a importância desta 
fase da vida. Não havia uma preocupação com a criança, em estudar seu 
desenvolvimento, sequer se reconhecia diferenças comportamentais, afetivas, 
psicológicas ou físicas entre elas e os adultos. A partir do século XVIII, um novo 
sentimento de infância, preocupado com o desenvolvimento das crianças, 
disseminou-se pela sociedade, trazendo como foco o cuidado com a saúde física e 
com a higiene, a chamada puericultura5. É a partir deste momento que a criança 
passa a ser considerada diferente dos adultos, carente de cuidados e proteção e 
toma lugar central na família. O sentimento de infância começou a surgir, havendo, 
assim, a distinção entre a criança e o adulto, a consideração de todas as suas 
 
5
 Puericultura é o acompanhamento do desenvolvimento infantil. As ações de puericultura, no 
Brasil, são percebidas no século XVIII com a criação das Casas de Expostos e o atendimento 
assistencial voltado para as crianças. As questões higienistas da época também praticavam a 
puericultura, como o objetivo de acompanhar o crescimento da criança orientando sobre vacinação, 
alimentação e prevenção de doenças. Para saber mais, ver: 
< http://www.fmabc.br/disciplinas/images/pdf/manual_pediatria_puericultura.pdf.> 
13
particularidades e capacidade de desenvolvimento, a análise do contexto social em 
que estaria inserida. 
Foi com o aparecimento das primeiras escolas que passou a se considerar a 
infância como mais longa, que não findava quando se aprendia a andar e a falar 
como os adultos. Nessa época, as crianças eram tratadas como pequenos adultos. 
A fase escolar contribuiu para esta visão, uma vez que foram sendo percebidas 
diferenças cognitivas entre adultos e crianças. Nesse tempo, o sentimento de 
infância era voltado para o lado assistencialista. 
O sentimento moderno de infância corresponde a duas atitudes 
contraditórias que caracterizam o comportamento dos adultos até os dias de 
hoje: uma considera a criança ingênua, inocente e graciosa e é traduzida 
pela paparicação dos adultos; e outra surge simultaneamente à primeira, 
mas se contrapõem a ela, tomando a criança como um ser imperfeito e 
incompleto, que necessita de moralização e da educação feita pelo adulto. 
(Kramer, 1984: 18) 
A concepção de infância que temos nos dias atuais é uma visão construída 
historicamente, em que é possível perceber o contraste existente entre a atualidade 
e algumas décadas atrás. A criança passou a ocupar um local de destaque na 
sociedade muito diferente da época em que sua presença era praticamente 
imperceptível. Nesta época, as crianças eram inibidas de participar socialmente da 
vida comunitária e eram tratadas como um pequeno adulto, passando 
despercebidas suas características e peculiaridades. Esse duplo sentimento que 
Kramer aborda vem com essa construção histórica do espaço da criança no lar, 
surgindo uma nova concepção de família. 
Até o final do século XVIII e inicio do século XIX, a infância não possuía uma 
definição muito concreta, jovens de dezoito anos ou até mais eram chamados de 
crianças. Além disso, diluir as diferenças entre adultos e crianças, ocultava ainda 
mais a essência e a importância de especificidade destas. 
No século XVIII, ocorreram muitas transformações sociais que contribuíram 
para a percepção da criança como um ser particular. As reformas religiosas católicas 
e protestantes, as transformações tecnológicas e as mudanças sociais alavancaram 
as grandes mudanças na história da concepção de infância. As crianças passaram 
14
a ser vistas como sujeitos de direitos, legítimas como figura social, possuidoras de 
respeito em todas as suas dimensões. 
Essa etapa da história em que a concepção de infância se construiu 
transformou a visão que se tinha das crianças. Os pequenos passaram a ocupar um 
lugar de destaque na sociedade, que passou a valorizar a infância. Essa valorização 
contribuiu para o desenvolvimento do olhar pedagógico dentro da educação, 
preocupada com as novas adaptações de métodos educacionais que satisfizessem 
as novas demandas desencadeadas por estas transformações. 
2.2 A INFÂNCIA NA ATUALIDADE
Atualmente a concepção de que a criança é um ser com características bem 
diferentes das dos adultos, um ser particular e de direitos, tem gerado as maiores 
mudanças na Educação Infantil. Essa nova concepção tem tornado o atendimento 
às crianças de 0 a 6 anos ainda mais específico, exigindo do educador uma postura 
consciente de como deve ser realizado o trabalho com as crianças pequenas, 
mostrando-lhe as suas especificidades e as suas necessidades enquanto criança e 
enquanto cidadão. 
Outro ponto fundamental é o processo de socialização que a criança vivencia 
no ambito familiar nos seus primeiros anos de vida, onde aprende boa parte da 
cultura materna. E, posteriormente, no ambiente escolar, onde conhece outras 
realidades distintas das vivenciadas em família, como aponta Ferreira (2000): 
[...] a Sociologia da família, ao privilegiar a socialização das crianças 
pequenas, sobrevalorizando as questões que se prendem com as 
aprendizagens básicas centradas em torno da relação mãe-filho, tem-nas 
construído como uma idade associal, de espera e dependência, circunscrita 
a um período de vida que se entende desde o nascimento até à entrada 
para a escola primária (0-6 anos). Mas se deduz, a partir dos contributos da 
Sociologia da família que a infância começa com o nascimento, ela não 
acaba aos 6 anos, ficando, ausentes as idades que se seguem [...]. 
(FERREIRA, 2000) 
15
Para Ferreira (2000), a família promove os primeiros ensinamentos às 
crianças enquanto são dependentes, e esse período de dependência, por vezes, se 
perpassa até a entrada da criança à escola. 
[...] a escola enquanto instituição social representa o tempo que organiza, 
molda e orienta todos os outros tempos da infância, o local onde se realiza 
a socialização secundária das crianças e se assiste ao processo da sua 
escolarização, ou seja, onde se processa a aprendizagem da trilogia: leitura, 
escrita e cálculo, bases fundamentais para aceder à cultura letrada. 
(FERREIRA, 2000).
A criança passa por várias transformações durante a infância. Em seus 
primeiros anos de vida, os pequenos se deparam com diversas situações de 
confronto, sentimentos diferentes, situações de disputa, entre outras descobertas 
que fazem a criança começar a perceber que no ambiente onde vivemos há infinitas 
regras de convivência e leis preestabelecidas pela sociedade. Tais situações fazem 
com que os pequenos comecem a entender a realidade do mundo em que vivem, 
aprendendo a lidar com os acontecimentos do cotidiano e a conviver com as outras 
pessoas. Os pequenos participam das relações sociais,desenvolvem-se através da 
interação com o outro e com o meio em que vivem. As crianças buscam participar 
dessas relações se aproximando e se apropriando de comportamentos e valores 
que permeiam a realidade em que vivem. 
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil6 (RCNEI) traz a 
concepção de infância como construída historicamente e a ideia de que atualmente 
não há apenas uma maneira de se considerar a criança, pois há múltiplas 
diversidades de realidades sociais, culturais, étnicas e etc. que podem interferir 
nessa noção de infância. Sabemos que existem crianças que trabalham, que são 
exploradas, que sofrem maus tratos e abusos, que não possuem seus direitos 
garantidos. 
 
6 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) foi aprovado em 1998 e 
possui três volumes. O objetivo deste documento é servir de guia reflexivo sobre a prática educativa 
de qualidade. Os três volumes abordam diversos aspectos da educação infantil, desde a concepção 
de criança até a experiência profissional e eixos de trabalho. Sua função, como diz o próprio RCNEI é 
“contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e 
pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da 
educação infantil....”.
16
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte 
de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma 
determinada cultura, em um determinado momento histórico. É 
profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas 
também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de 
referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que 
estabelece com outras instituições sociais. (RCNEI – Vol. 1, 1998: 21) 
As atuais pesquisas relativas à infância apontam que ao propormos algo às 
crianças devemos aproximar nosso ponto de vista ao delas. Não existe um método 
ideal de relações entre adulto e criança, porém devemos levar em consideração as 
diferentes condições de vida de um grupo escolar e perceber a criança como sujeito 
de direitos e capaz de criar seu próprio espaço. 
2.3 O HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
A educação infantil se constituiu historicamente como instituição educacional. 
Podemos perceber as características das instituições por meio de estudos da 
história e das vivências do cotidiano. Há muitos elementos importantes que 
permeiam o dia a dia na educação infantil. As ações e as vivências se 
transformaram ao longo dos anos e a instituição foi formando características 
diferentes. 
Desde o século passado tornou-se recorrente atribuir às instituições de 
educação infantil a iminência de atingir a condição de educacionais — como 
se não houvesse sido até então. Muitas vezes, como forma de justificar 
novas propostas que, por sua vez, não chegavam a alterar significativamente 
as características próprias da concepção educacional assistencialista. 
(KUHLMANN JR., 2003: 53) 
Kuhlmann Jr. nos remete a reflexão quanto à dicotomia entre assistência e 
educação. Algumas instituições foram criadas com o propósito de atender os mais 
carentes, outras não. São nessas diversas origens sociais da educação infantil que 
se criaram objetivos educacionais variados que constituíram as características desse 
processo histórico nas instituições. 
17
As relações que se constituem nas instituições infantis possuem dimensões 
afetivas e biológicas que foram se transformando ao longo da história, constituindo 
um binômio de atendimento com uma grande complexidade. A ação pedagógica se 
entrelaça entre o educar e o cuidar em que, com o passar dos anos, um foi 
ganhando mais espaço que o outro, porém ainda é complexo perceber onde ambos 
começam e onde terminam no cotidiano escolar. 
 Do ponto de vista histórico, a educação infantil no Brasil esteve durante 
séculos sob a responsabilidade da família, pois era no convívio familiar que a 
criança aprendia as tradições e regras da sociedade. As primeiras instituições 
começaram a surgir no século XIX possuindo caráter assistencialista assim como os 
asilos e os orfanatos. Essas creches eram destinadas a auxiliar as mães que 
precisavam trabalhar por serem viúvas ou mães solteiras. Alguns fatores 
contribuíram para que a instituição passasse a atender as demais crianças, como a 
desnutrição, a mortalidade infantil e os acidentes domésticos. É importante ressaltar 
que em décadas passadas a mortalidade infantil possuía índices altíssimos e, por 
isso, era considerada comum a criança não ultrapassar os três primeiros anos. 
Alguns educadores, religiosos e empresários começaram a pensar em um espaço 
que tirasse o cuidado com a criança do âmbito familiar. 
O surgimento das instituições de educação infantil, como afirma Kuhlmann Jr., 
não foi apenas uma sequência de fatos somados, e sim a interação de tempos, 
influências e temas. Em 1899, foi fundado o Instituto de Proteção e Assistência à 
Infância do Rio de Janeiro e, no mesmo ano, também foi inaugurada a creche da 
Companhia de Fiação e Tecidos Cordovado7, sendo a primeira creche brasileira, 
porém apenas destinada a filhos de operários. 
Os movimentos operários foram ganhando força com a industrialização e a 
inserção da mão de obra feminina no mercado de trabalho. Esses movimentos 
começaram a reivindicar a criação de instituições para os filhos das mulheres 
trabalhadoras. Essas organizações feministas começaram a defender a ideia de que 
todas as mulheres deveriam ser atendidas, independente da necessidade ou classe 
social. Os movimentos operários influenciados por movimentos de outros países e 
 
7 A Creche Companhia de Viação e Tecido Corcovado, conforme Kuhlmann Jr., foi “a primeira 
creche brasileira para filhos de operários de que se tem registro”, no ano de 1899. Sua criação foi 
impulsionada pela entrada das mulheres no mercado de trabalho.
18
permeados por muitos conflitos conseguiram algumas conquistas, como o aumento 
no número de instituições que seriam mantidas pelo governo. 
Por meio de instituições assistenciais, outras creches foram surgindo. A 
Associação das Damas da Assistência à Infância fundou, em 1908, a primeira 
creche destinada a filhos de empregadas domésticas diferente das outras criadas 
para filhos de operarias. Nesta mesma época, surgiram várias organizações 
voltadas ao auxílio e ao amparo das necessidades das mães e crianças e dotadas 
de vários serviços de proteção à mulher grávida pobre, de higiene durante e após a 
gravidez, de assistência ao recém-nascido, de consultas e exames médicos e de 
vacinação. 
A ideia de infância, como se pode concluir, não existiu sempre, e da mesma 
maneira. Ao contrario, ela aparece com a sociedade capitalista, urbano-
industrial, na medida em que muda a inserção e o papel social 
desempenhado pela criança na comunidade. (KRAMER, 1984: 19) 
Com o surgimento da sociedade capitalista e urbano-industrial, a ideia de 
infância começa a ser construída e seu papel social passa a se transformar na 
comunidade. Anteriormente, a criança desempenhava papeis na produção rural, 
principalmente na sociedade feudal. Com a industrialização, a criança foi, aos 
poucos, ganhando outro enfoque, passando a ser alguém que precisa de cuidados, 
ser escolarizada e até se preparar para o futuro. 
Em 1930, o setor público brasileiro passou a participar diretamente do 
atendimento na pré-escola. Atualmente, esse serviço se faz através de uma 
superposição de órgãos públicos. Inicialmente, a criança passou a ser atendida fora 
da família com um olhar filantrópico e assistencial. No final do séculoXIX, período 
da abolição da escravatura no Brasil, ocorreu algumas iniciativas isoladas de 
proteção à criança, a fim de resolver a questão da mortalidade infantil. Algumas 
creches começaram a surgir nesta época, porém por iniciativa de instituições 
assistencialistas sem o auxílio do poder público. Esses programas eram de baixo 
custo e voltados para o atendimento de crianças pobres e de mães que precisavam 
trabalhar. Nessa época, existiam casas que recebiam as crianças abandonadas, 
chamadas de Casas de Expostos8. As creches vieram em oposição àquelas casas 
 
8
 Casas de expostos surgiram no Brasil no ano de 1726 em Salvador. Mais conhecida como 
Roda dos Expostos pelo mecanismo giratório utilizado para abandonar os recém-nascidos. 
19
para que as mães pudessem trabalhar e não abandonassem seus filhos. Como diz 
Kuhlmann Jr.: 
[...] um conjunto de medidas que conformam uma nova concepção 
assistencial, a assistência cientifica, abarcando aspectos como a 
alimentação e habitação dos trabalhadores e dos pobres... A creche, para 
as crianças de zero a três anos, foi vista como muito mais do que um 
aperfeiçoamento das Casas de Exposto, que recebiam as crianças 
abandonadas; pelo contrario, foi apresentada em substituição ou oposição a 
estas, para que as mães não abandonassem as suas crianças. 
(KUHLMANN JR., 1998) 
Ainda no início do século XX, começaram a surgir os jardins de infância, 
voltados para as classes mais altas. Essas instituições passaram a ser defendidas 
por alguns setores da sociedade, pois se acreditava que elas trariam benefícios para 
o desenvolvimento infantil. Nesse mesmo período, algumas entidades tiveram 
destaque, como: Instituto de Proteção à Infância do Rio de Janeiro, que objetivava 
atender as mães grávidas pobres e aos recém-nascidos; e também o Instituto de 
Proteção e Assistência à Infância, que, em seguida, precedeu a criação do 
Departamento da Infância, que tinha como objetivo fiscalizar as instituições. Ligava-
se o termo pedagógico aos jardins de infância com o intuito de fazer propaganda da 
instituição a fim de atrair os filhos das famílias mais ricas, sendo que os jardins de 
infância eram ditos diferentes das creches. 
Em maio de 1943, com a consolidação das leis trabalhistas, ocorreu uma 
normatização e regulação das relações de trabalho. As mães trabalhadoras 
passaram a ter amparo legal quanto às questões de maternidade e de assistência à 
infância. A seção V da lei abrange a proteção à maternidade, e, conforme os artigos 
397, 399 e 400, após o período de licença maternidades os pequenos também 
ganharam o amparo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)9, como podemos 
verificar a seguir: 
Art. 397 - O SESI, o SESC, a LBA e outras entidades públicas destinadas à 
assistência à infância manterão ou subvencionarão, de acordo com suas 
possibilidades financeiras, escolas maternais e jardins de infância, 
distribuídos nas zonas de maior densidade de trabalhadores, destinados 
 
9 A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a principal norma legislativa brasileira referente 
ao Direito do trabalho, criada através do Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943.
20
especialmente aos filhos das mulheres empregadas. Art. 399 - O Ministro do 
Trabalho e da Administração conferirá diploma de benemerência aos 
empregadores que se distinguirem pela organização e manutenção de 
creches e de instituições de proteção aos menores em idade pré-escolar, 
desde que tais serviços se recomendem por sua generosidade e pela 
eficiência das respectivas instalações. Art. 400 - Os locais destinados à 
guarda dos filhos das operárias durante o período da amamentação 
deverão possuir, no mínimo, um berçário, uma saleta de amamentação, 
uma cozinha dietética e uma instalação sanitária. (CLT, 1943) 
Na década de 70, as creches ou jardins de infância eram vinculados aos 
órgãos de assistência social, e não aos de educação como os demais níveis de 
ensino. Nessa época, começaram a surgir algumas mudanças progressistas nas 
instituições voltadas aos pequenos, o que, mesmo de forma lenta, motivou críticas à 
educação compensatória, enfatizando o caráter assistencialista e discriminatório, já 
que existiam creches especificas para o atendimento dos mais pobres e outras 
voltadas para o atendimento das crianças de classes mais favorecidas. 
[...] as crianças das classes sociais dominadas (economicamente 
desfavorecidas, exploradas, marginalizadas, de baixa renda) são 
consideradas como “carentes”, “deficientes” “inferiores” na medida em que 
não correspondem ao padrão estabelecido. Faltariam a estas crianças, 
“privadas culturalmente”, determinados atributos, atitudes ou conteúdos que 
deveriam ser nelas incutidos. A fim de suprir as deficiências de saúde e 
nutrição, as escolares, ou as do meio sociocultural em que vivem as 
crianças, são propostos diversos programas de educação pré-escolar de 
cunho compensatório. (KRAMER, 1984: 25) 
Kramer afirma que a política brasileira expressava em sua reforma 
pedagógica uma instituição pré-escolar que romperia as barreiras entre as classes 
sociais. Porém, na realidade, as mudanças ocorridas não alterariam a situação da 
estrutura social. A educação pode, sim, ocasionar mudanças na realidade social, 
mas, como afirma Kramer (1984): “não o de ser o responsável pela transformação 
dessa conjuntura”. 
 Para Oliveira, as instituições de educação infantil, na década de 70, viriam 
com outra perspectiva: a de superar as condições sociais dos mais pobres, que 
eram o público maior a ser atendido. 
21
[...] sob o nome de “educação compensatória”, foram sendo elaboradas 
propostas de trabalho para as creches e pré-escolas que atendiam a 
população de baixa renda. Tais propostas visavam à estimulação precoce e 
ao preparo para a alfabetização, mantendo, no entanto, as práticas 
educativas geradas por uma visão assistencialista da educação e do ensino. 
(Oliveira, 2002).
Para Kuhlmann, as instituições infantis pré-escolares destinadas às crianças 
pobres tinham objetivos assistenciais marcados por uma pedagogia da submissão, 
partindo de uma concepção preconceituosa da pobreza que objetivava o preparo 
dos indivíduos para permanecer em seu lugar social. Havia uma grande defesa da 
educação assistencialista por se pensar que os pequenos de classe baixa que 
ficassem na rua, estariam vulneráveis a contaminações de influências externas, ou 
seja, seria uma prevenção à criminalização, uma guarda para que essas crianças 
não se tornassem possíveis marginais. 
O que diferencia as instituições não são as origens nem a ausência de 
propósitos educativos, mais o público e a faixa etária atendida. É a origem 
social e não a institucional que inspirou objetivos educacionais diversos. 
Mas a creche, para os bebês, embora vista como apenas para as classes 
populares, também era apresentada em textos educacionais do século XIX, 
como o primeiro degrau da educação. Kuhlmann, 2003: 54) 
Outra característica que Kuhlmann Jr. aborda sobre a educação 
assistencialista seria, a de propor, um atendimento de baixa qualidade para que as 
crianças de baixa renda já se preparassem para um futuro na mesma condição. O 
péssimo atendimento seria uma maneira de garantir um acomodamento futuro para 
que permanecesse na mesma condição social, sem buscar melhorias. Afirmava-se 
que o atendimento deveria ser compatível com a classe social, ou seja, quanto mais 
pobre pior seria o atendimento. 
As concepções educacionais vigentes nessas instituições se mostravam 
explicitamente preconceituosas, o que acabou por cristalizar a ideia de que, 
em sua origem, no passado, aquelas instituições teriam sido pensadas 
como lugar de guarda,de assistência, e não de educação. Essa 
polarização, presente nos estudos sobre a educação pré-escolar, chega a 
atribuir à história da educação infantil uma evolução linear, por etapas: 
primeiro se passaria por uma fase médica, depois por uma assistencial, etc., 
culminando, nos dias de hoje, no atingir da etapa educacional, entendida 
22
como superior, neutra ou positiva, em si, em contraposição aos outros 
aspectos. (Kuhlmann Jr., 2010: 166) 
O atendimento à criança tem se constituído ao longo dos anos, assim como 
sua valorização. Muitas modificações ocorreram até o século XX, porém, entre o 
discurso e a realidade, existe uma grande distância. Os objetivos das instituições 
passaram por muitas modificações: de médico-sanitarista para o assistencialista; do 
assistencialista para o âmbito social; e, deste, para o educacional. 
Até a década de setenta, não houve modificações consideráveis na lei 
brasileira que garantisse a oferta deste nível de ensino. Neste sentido, várias 
organizações uniram forças com diferentes setores da sociedade a fim de buscar 
garantir direitos às crianças e uma educação de qualidade. Esse direito foi 
reconhecido somente em 1988, com a Carta Constitucional. A pressão dos 
movimentos e o esforço coletivo de vários segmentos impulsionaram a inclusão da 
creche e da pré-escola no sistema educativo. Como diz na Constituição Federal de 
1988, Artigo 208, o inciso IV: [...] O dever do Estado para com a educação será 
efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-escolas às crianças de 
zero a seis anos de idade. (BRASIL, 1988). 
Com o reconhecimento da criança de zero a seis anos como sujeito de 
direitos à educação, um novo pensamento de pedagogia começa a ser 
implementado no cotidiano das instituições e novas leis surgem, com o objetivo de 
realizar um novo conceito nas instituições com práticas diferenciadas das 
tradicionais.
A pedagogia nova ou moderna concebe a natureza da criança como 
inocência original; a educação deve proteger o natural infantil, preservando 
a criança da corrupção da sociedade e salvaguardando sua pureza. A 
educação não se baseia na autoridade do adulto, mas na liberdade da 
criança e na expressão de sua espontaneidade (KRAMER 1884). 
De acordo com a pedagogia tradicional10, o adulto intervém diretamente na 
natureza da criança, pois tal pedagogia prescreve que o dever do educador é 
 
10
 Pedagogia tradicional é um termo utilizado na atualidade para caracterizar métodos de 
ensino antigos que tem como característica principal o aluno como mero ouvinte que precisa apenas 
decorar o conteúdo. A pedagogia tradicional é criticada nos dias atuais em função do ensino 
padronizado, o qual não possibilita uma maior interação entre professor e aluno.
23
disciplinar e ensinar regras às crianças. Em contraposto, a nova pedagogia traz um 
pensamento diferente para a natureza da criança, em que a ideia é buscar a 
interação entres as crianças, a busca por conhecimento e instigar um “espírito 
investigador” nos pequenos. 
A Constituição de 1988 foi um marco para a educação infantil e alavancou a 
discussão sobre a definição de um novo caráter para as instituições de ensino 
infantil. Até se chegar ao novo caráter dessas instituições, percorreu-se um grande 
caminho no qual surgiram muitos documentos que modificaram significativamente o 
olhar para a criança, principalmente no âmbito educacional. O cuidar e o educar se 
entrelaçam no cotidiano das instituições, e a intencionalidade das atividades 
planejadas possibilita o desenvolvimento da criança e a observação da 
individualidade e da singularidade de cada uma. 
2.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA LEGISLAÇÃO 
2.4.1 A política federal para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 
 A partir da década de 90, começaram a surgir leis mais direcionadas à 
infância e alguns documentos de política educacional de âmbito federal e estadual. 
Alguns destes documentos se destacaram por ter influenciado e promovido à 
educação de zero a seis anos, o que melhorou a qualidade11 do atendimento das 
creches e deu maior destaque às questões relativas à infância. 
 Os documentos de política educacional que impulsionaram uma educação 
infantil de qualidade e que serviram de base para muitas discussões no âmbito do 
atendimento e do direcionamento das instituições são: Estatuto da Criança e do 
Adolescente (Lei nº 8.069/90); Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 
nº 9.394/96); Plano Nacional de Educação (1998); Diretrizes Curriculares Nacionais 
para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB nº 022/98). E os documentos do estado 
 
11 O termo “Qualidade” é utilizado aqui baseado no documento do Ministério da Educação 
(MEC), Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (2009). Este documento se refere às 
definições de qualidade e aos fatores que os influenciam, como: o contexto social e econômico em 
que está inserida a instituição, os valores e as tradições culturais e os conhecimentos científicos 
sobre as crianças. 
24
de Santa Catarina que complementam os documentos federais são: Lei do Sistema 
Estadual de Ensino de Santa Catarina (1998); Plano Estadual de Educação de 
Santa Catarina (2004); Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (2005). 
Inicialmente, procurando contextualizar a razão pela qual, nas últimas 
décadas, ou seja, desde os anos de 1990, a infância tem recebido uma atenção 
diferenciada na política educacional em nível mundial, podemos perceber grande 
influência de outros países que impulsionaram a criação de documentos 
direcionados à infância. Tal contexto tem sido determinante na formulação da 
política educacional brasileira. 
No ano de 1990, ocorreu na Tailândia a Conferência Mundial de Educação 
para Todos12 – Education for All. Nessa Conferência, o Brasil, entre outros países, 
assumiu um compromisso com a formulação e a implantação de uma política 
educacional que garantisse o acesso de todos à educação fundamental. Nesta 
política, a educação infantil ganha espaço como primeiro nível da educação básica, 
propondo-se para esta educação a responsabilidade pela formação voltada para o 
seu amadurecimento e a preparação para o trabalho cada vez mais cedo. 
O Brasil possuía um grande número de analfabetos e, por isso, o Banco 
Mundial13, um dos órgãos financiadores da Conferência Mundial sobre Educação 
para Todos, em 1990, e das políticas públicas dos países mais pobres, decidiu pelo 
investimento na educação infantil, de modo a garantir desde cedo a inclusão das 
crianças na sala de aula. 
O Banco Mundial não fez isso apenas pensando em melhorar a educação, ou 
seja,fez com interesses econômicos, preocupado com “quantos reais” o governo 
federal economizaria ao descentralizar a educação, na medida em que transferiria 
para os Municípios a responsabilidade pela manutenção da educação infantil e 
fundamental (CERISARA, 2002). 
A educação básica foi colocada como prioridade, mas afastou-se a ideia de 
que os países membros da Conferência Mundial ofereceriam uma educação de 
qualidade para todos. Apesar de ser um direito adquirido na LDB/96, isso não 
 
12 Também conhecida por “Conferencia Jomtien”, cujo “objetivo era estabelecer compromissos 
mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, 
condição insubstituível para o advento de uma sociedade mais humana e mais justa”, conforme 
consta no site: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=110
13 Banco Mundial é uma organização internacional que possui autonomia para intervir nas 
regras e propostas de países economicamentemais pobres. No Brasil, o Banco Mundial participa de 
programas dirigidos à saúde, à educação e a melhorias dos serviços públicos. Para saber mais: 
Altmann, 2002. http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11656.pdf
25
ocorre, pois os recursos destinados pelo FUNDEF14 (Fundo de Manutenção e 
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) foram 
voltados exclusivamente para o ensino fundamental, e a educação infantil ficou "à 
mercê da sorte”, esperando que os municípios assumam o compromisso com o seu 
financiamento. 
 No ano de 2006, sob orientação do Banco Mundial, o governo brasileiro 
amplia este fundo com a criação, através de lei aprovada pelo Congresso Nacional, 
do FUNDEB15 (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de 
Valorização dos Profissionais da Educação), que passou a contemplar todos os 
níveis educacionais, desde a educação infantil até o ensino médio. 
Outra medida sugerida pelo Banco Mundial, no ano de 1996, foi de uma 
escolarização precoce das crianças pequeninas, o que implica no fato de que as 
crianças devem ir (e estão indo) cada vez mais cedo para a escola, por 
consequência das mudanças que ocorrem no setor produtivo e nas relações de 
trabalho, que exigem um novo perfil de trabalhador. Para o Banco Mundial, este 
novo perfil deve começar a ser desenvolvido desde a mais tenra idade. Por isso, 
este organismo internacional defende e exige dos países de economia capitalista a 
implantação de uma política de inserção cada vez mais precoce das crianças na 
rede escolar, uma vez que as instituições de ensino desta rede serão 
primordialmente responsáveis por tal formação. 
Essa política de escolarização precoce encontrou resistência dos educadores 
brasileiros, pois consideram que é fundamental que a criança possa viver sua 
infância, sem preocupações, permitindo seu crescimento e amadurecimento natural 
e intelectual como ser humano. 
O Banco Mundial exigiu que os governos padronizassem o atendimento nas 
escolas. Para que essa medida fosse implantada, o Ministério da Educação do Brasil 
 
14 O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do 
Magistério (FUNDEF) foi instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996, e 
regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de 
junho de 1997. O FUNDEF foi implantado, nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, quando passou 
a vigorar a nova sistemática de redistribuição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental. 
Conforme consta no site do MEC: <www.mec.gov.br/>
15 O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos 
Profissionais da Educação (FUNDEB) atende toda a educação básica, da creche ao ensino médio. 
Substituto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do 
Magistério (Fundef), que vigorou de 1997 a 2006, o FUNDEB está em vigor desde janeiro de 2007 e 
se estenderá até 2020. Conforme consta no site do MEC: <www.mec.gov.br/>
26
(MEC)16 elaborou os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 
Trata-se de uma reforma curricular com o objetivo de modificar a forma e o conteúdo 
da educação infantil, de modo a atender as demandas do mercado de trabalho. Para 
o MEC e o Banco Mundial atender as demandas desse mercado, o governo precisa 
fazer com que a educação infantil tenha um mínimo de qualidade. Por sua vez, para 
que aconteça esse investimento do Banco Mundial, as escolas devem prestar contas 
anualmente ao MEC. 
Quando se pensa em direito da criança à educação, devemos nos reportar a 
um importante documento - o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)17, 
aprovado pela Lei nº 80.069/90, de 13 de julho de 1990. O Estatuto é destinado 
única e exclusivamente para crianças e adolescentes de zero a dezoito anos de 
idade, sendo que antes não havia nada em termos legais que garantisse os direitos 
dessa faixa etária. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe, conforme o artigo 1º, sobre a 
proteção integral à criança e ao adolescente, a qual deve ser assegurada pelos 
municípios. Estes também são responsáveis em garantir às crianças e aos 
adolescentes, por meio de Conselhos Tutelares e Fundações, o direito à educação. 
Como diz no artigo 53: “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando 
ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho [...]”. Além disso, o próprio Estatuto define que a idade 
da criança é de zero a doze anos e a do adolescente é de doze a dezoito anos. 
O ECA tem como objetivo mediar compromissos e possibilitar o engajamento 
social, estimulando a criança e o adolescente a ter liberdade com responsabilidade, 
conhecendo seus direitos e deveres como cidadãos. Segundo o Estatuto, com 
relação à educação escolar, os principais direitos da criança e do adolescente são: 
� Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
� Atendimento em creches e pré-escolas as crianças de zero a seis anos de 
idade; 
 
16 O Ministério da Educação (MEC) é um órgão do governo federal do Brasil fundado no 
decreto n.º 19.402, em 14 de novembro de 1930 e sua atual estrutura ficou estabelecida pelo decreto 
n° 4.791, de 22 de julho de 2003. Possui competênci as com a política nacional de educação, 
abrangendo a educação infantil e a educação geral, com algumas exceções, como: o ensino militar; 
pesquisa e extensão universitária; e magistério.
17 O ECA foi instituído pela Lei 8.069 no dia 13 de julho de 1990, regulamentando o direito das 
crianças e dos adolescente, principalmente no que tange a proteção integral dos mesmos. Para saber 
mais: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>
27
� Ser preparado para o exercício da cidadania, e a preparação para o 
trabalho. (BRASIL, 1990: 9)
Assim, como a criança e o adolescente têm direitos, os Estados tem deveres 
a cumprir. De acordo com as diretrizes da política de atendimento do ECA (BRASIL, 
1990), o Estado deve criar órgãos públicos, no âmbito municipal, estadual e nacional 
que assegurem a participação popular e partidária das crianças e dos adolescentes, 
assim como a manutenção de fundos e o estímulo de recursos destinados à cultura, 
ao esporte e ao lazer. Os direitos e deveres presentes no ECA proporcionam uma 
política de atendimento para todo o território nacional. 
 No Estatuto da Criança e do Adolescente, percebe-se que não basta ter uma 
boa teoria, pois muito do que está escrito no Estatuto está longe de ser colocado em 
prática. Falta uma atuação compatível com a realidade das crianças e uma política 
com foco educativo, direcionada às instituições de ensino. 
Esses fatos preparam o ambiente para a aprovação da nova LDB, Lei 
9394/96, que estabelece a educação infantil como etapa inicial da 
educação básica, conquista histórica que tira as crianças pequenas pobres 
de seu confinamento em instituições vinculadas a órgãos de assistência 
social. (OLIVEIRA, 2002) 
Conforme Oliveira, com o ECA e toda a atenção que se voltou em torno da 
criança no início da década de 90, foi aprovada a terceira versão da Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação (LDB)18 no ano de 1996. Criou-se, dessa forma, mais uma 
estratégia governamental para a implantação da política educacional, seguindo os 
ditames do Banco Mundial. 
A LDB ficou sete anos em debate, porque havia muitos embates e conflitos de 
interesses em jogo entre as forças que integravam o Congresso Nacional naquela 
época, até que foi aprovada em 20 de dezembro 1996. A LDB está em sintonia com 
as reformas neoliberais implantadas pelo governobrasileiro nos anos 1990. 
 A LDB/96 foi construída com base na Constituição Federal de 1988, que 
reconheceu como direito da criança o acesso à educação infantil, em creches e pré-
escolas. Assim, pela primeira vez na história do Brasil, uma lei federal deu direito de 
 
18 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB, aprovada em sua ultima versão em 20 de 
dezembro de 1996, foi criada em 1961 e teve sua segunda versão em 1971.
28
acesso das crianças de zero a seis anos à educação infantil, passando a ser dever 
de o Estado manter instituições educativas que atendam sua faixa etária. 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/1996) dispõe 
que a educação infantil passa a ser definida como a primeira etapa da Educação 
Básica, conforme diz Oliveira. A atual Constituição reconheceu a educação infantil 
como um direito da criança, dever do Estado e opção da família, sem vincular as 
instituições de ensino infantil à Política de Assistência Social, e sim à Política 
Nacional de Educação. 
A LDB, no artigo 29º, “afirma que a educação infantil tem como finalidade o 
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, 
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da 
comunidade.” Também é uma determinação da LDB que essa assistência 
educacional seja oferecida em creches para crianças de zero a três anos e em pré-
escolas para crianças de quatro a seis anos. 
A lei afirma que toda criança de zero a seis anos de idade tem direito à escola 
básica, mas, na prática, o que se percebe são creches e pré-escolas lotadas, 
faltando vagas e a necessidade de construção de novas creches e instituições de 
educação infantil. Não existe, de fato, oportunidade para que todas as crianças 
nessa faixa etária tenham acesso. 
Em 2001, foi promulgado o Plano Nacional de Educação - PNE19 (Lei n° 
10.172/2001), o qual estabelece metas qualitativas que prevê prazos em relação à 
qualidade do atendimento da rede de ensino infantil, desde a infraestrutura até a 
formação dos educadores. Em relação às creches e pré-escolas, o Plano define que 
o município deve acompanhar, controlar e supervisionar as instituições, primando a 
qualidade no atendimento. 
O Plano foi instituído não apenas com base nos argumentos econômicos do 
governo, mas também calcado em uma preocupação com o cuidado e com a 
educação da criança, a partir do seu nascimento até o ensino médio. Podemos 
entender que esta preocupação está ligada, também, a uma política de 
“higienização”. 
 
19
 O projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação (PNE) para vigorar de 2011 a 2020, 
foi enviado pelo governo federal ao Congresso em 15 de dezembro de 2010. O novo PNE apresenta 
dez diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas das estratégias específicas de concretização. O texto 
prevê formas de a sociedade monitorar e cobrar cada uma das conquistas previstas. Conforme: 
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=16478&Itemid=1107>
29
Desde a época da Corte Imperial no Brasil, havia um problema que 
incomodava diversos agentes sociais nos anos 1870: a existência de crianças e 
jovens que circulavam livres pelas ruas da cidade, supostamente privados de uma 
disciplina doméstica e de um lar que os abrigasse. Ocorrendo a relação entre 
educação, instrução e a ideia de prevenir a criminalidade e as desordens. 
Era importante que o Estado e a sociedade atuassem no sentido de retirar as 
crianças e jovens das ruas da cidade. Para tanto, propunha-se não o afastamento 
desses pequenos, mas a sua integração na sociedade, por meio de uma formação 
moral e religiosa (educação) e de uma preparação profissional (instrução elementar, 
ensino de artes e ofícios indústrias). 
A ideia seria educar, no sentido de difundir valores morais e comportamentais, 
instruindo por meio da alfabetização. As instituições educativas voltadas para a 
infância devem primar por uma educação de qualidade, e as necessidades da vida 
para o desenvolvimento das crianças, como saúde, educação, nutrição, moradia, 
cultura, lazer, etc., devem ser assistidas pelo governo para possibilitar o 
desenvolvimento pleno na infância. 
Conforme Batista (1998, p.1): “O que se percebe, no cotidiano da educação 
infantil, é que existe, ainda, uma grande distância entre o que se pretende e o que 
se realiza, o que se “quer fazer” e o que se “pode fazer”, ou seja, apesar dos 
grandes avanços nas leis brasileiras, muitas instituições não possuem estrutura para 
o atendimento previsto, e as intenções propostas pelos educadores nem sempre são 
possíveis de se concretizar, por falta de apoio ou conhecimento." 
No horizonte de dez anos para a implantação do Plano Nacional de 
Educação, este visa a uma demanda para a educação infantil com atendimento de 
qualidade, beneficiando todas as crianças e famílias. Cada vez mais a família 
procura uma vaga nas creches para seus filhos, e, com o PNE, o governo propõe 
mudar essa realidade. Segundo esse documento, o mais importante nesse processo 
é o cuidado na qualidade do atendimento, pois só assim a família pode esperar 
resultados positivos na educação. 
O PNE apresenta vários objetivos e metas. Dentre eles, alguns com especial 
importância por estarem diretamente relacionados com o presente objeto de estudo. 
Segundo o PNE (BRASIL, 1998: 15-18), são seus objetivos: 
30
� Ampliar a oferta de educação infantil num prazo de cinco anos; 
� Elaborar em um ano os padrões mínimos de infra-estrutura para o 
funcionamento adequado; 
� Adaptar os prédios de educação infantil em 5 anos, para que todos estejam 
conformes aos padrões mínimos; 
� Assegurar que, em dois anos, todos os municípios tenham definido sua 
política para a educação infantil, com base nas Diretrizes Nacionais, 
Normas Complementares Estaduais e nas sugestões do Referencial 
Curricular Nacional; 
� Incluir as creches ou entidades equivalentes no Sistema Nacional de 
Estatísticas Educacionais num prazo de três anos. 
� Implantar Conselhos Escolares e outras formas de participação da 
comunidade escolar, com propostas para a melhoria das instituições 
educacionais; 
� Adotar progressivamente o atendimento em tempo integral para crianças de 
zero a seis anos de idade.
Como citado anteriormente, as Diretrizes Curriculares Nacionais Para a 
Educação Infantil foram aprovadas através da Resolução CNE nº 1/99 e são normas 
complementares à LDB/96. Vale lembrar que a LDB/96 substituiu a idéia de currículo 
mínimo nacional para todos os graus e modalidades de ensino, por diretrizes 
curriculares nacionais, com o objetivo de criar uma homogeneidade em todo 
território nacional no que se relaciona a propostas curriculares. 
As Diretrizes Curriculares Nacionais se constituem numa doutrina sobre os 
princípios éticos, políticos, estéticos e pedagógicos para a educação infantil. Eis a 
seguir os campos de abrangência de tais princípios:
� Princípios Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do 
respeito ao bem comum; 
� Princípios Políticos: direitos e deveres da cidadania, do exercício da 
criticidade e do respeito à ordem democrática; 
� Princípios Estéticos da Sensibilidade, Criatividade, Ludicidade e da 
Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais. 
� Propostas pedagógicas: de acordo com a necessidade dos alunos, da 
família e dos professores, levando em conta a identidade de cada um deles. 
(BRASIL, 1999: 18). 
2.4.2 A política estadual para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 
A política do estado de Santa Catarina apresenta vários documentos que 
ampliam o atendimento às crianças de zeroa seis anos. Com o objetivo de adequar 
o sistema educacional catarinense à LDB/96, o estado de Santa Catarina aprovou a 
31
Lei do Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina (LSE)20, a Lei nº 170, de 07 de 
agosto de 1998. 
Com relação à educação infantil, a LSE/98 propõe uma educação para todos, 
com a participação da comunidade, gratuita, capaz de proporcionar à criança o seu 
desenvolvimento, além de escolas e creches com condições e suporte do estado 
Segundo a lei estadual, os objetivos dessa educação para todos devem ser: 
� Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
� Promoção da interação escolar, da comunidade e dos movimentos sociais; 
� Educação escolar em Santa Catarina, direito de todos e dever da família, 
promovida com a colaboração da sociedade inspirada nos princípios da 
democracia, da liberdade e da igualdade, nos ideais de solidariedade 
humana e bem-estar social e no respeito à natureza;
� O dever do estado com a educação escolar pública será efetivado mediante 
a garantia do atendimento em creches e pré-escola às crianças de zero a 
seis anos de idade; 
� A instituição de educação, respeitadas a normas legais e regulamentares, 
compete elaborar e executar seu projeto político pedagógico; 
� Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas de trabalho escolar 
estabelecidos; 
� Articular-se com as famílias e com a comunidade, criando processos de 
integração da sociedade com a escola; 
� Informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos 
educandos, bem como sobre a execução se seu projeto político 
pedagógico; 
� A educação infantil, nas instituições mantidas ou subsidiadas pelo estado, 
em complementação às ações municipais na área, tem por objetivos: 
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus 
aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, proporcionando à criança 
o desenvolvimento de sua auto-imagem e o convívio no seu processo de 
socialização, com a percepção das diferenças e contradições sociais; 
� A educação infantil será oferecida para as crianças de zero a três anos de 
idade, em creches ou instituições equivalentes e as crianças de quatro a 
seis anos de idade pré-escola (SANTA CATARINA, 1998: 54 -70). 
Comparando a LDB/96 e a LSE/98, é possível perceber muitas semelhanças 
entre elas. A principal diferença é o fato de que a LSE/98 enfatiza a questão da 
participação da comunidade e da família e a integração da sociedade com a escola. 
Na Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, que foi elaborada no 
decorrer de 2005 com base na Proposta anterior de 1998, também encontramos 
proposições sobre a educação infantil. A Proposta Curricular é composta de vários 
volumes, e entre eles há um documento voltado para a área da educação infantil. 
 
20 A Lei do Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina segue os princípios e normas da 
Constituição Federal, da Constituição do Estado e das leis federais sobre diretrizes e bases da 
educação nacional.
32
A Proposta Curricular apresenta como seu objetivo maior a educação na 
infância, pois a educação infantil é vista como um lugar para brincar. Já o ensino 
fundamental é um lugar para estudar. No entanto, entendemos que a educação 
infantil não pode ser apenas o local do brincar. Deve também proporcionar 
aprendizagens às crianças, ou seja, ela pode se constituir num espaço de estudos. 
De acordo com a Proposta, a criança precisa ter vez e voz, oportunidade para 
trocar experiências, vivências, curiosidades e ampliar sempre o seu repertório de 
conhecimentos. Nesse documento, defende-se que a instituição de educação infantil 
precisa refletir sobre o lugar da infância no currículo e, a partir daí, traçar metas e 
reflexões que contemplem: ludicidade, interações sociais, educação, cuidado, 
complexidade do brincar, emoção, corpo, cognição cultural, sociabilidade, 
conhecimentos científicos e diferentes linguagens, como a musical, a corporal e a 
simbólica. É importante envolver a criança através da fantasia, utilizando a 
linguagem literária. A criança deve se sentir estimulada a ouvir ou a ler uma história. 
A organização espacial é um princípio norteador da prática pedagógica que pode, 
dependendo da sua estruturação, facilitar ou complicar a vivencia da infância. 
A Proposta Curricular de Santa Catarina preconiza, como um dos pressupostos 
da prática pedagógica na educação infantil, a interação social, indicando que os 
educadores devem organizar o ambiente e facilitar o convívio social das crianças e 
dos funcionários (SANTA CATARINA, 2005, p.45- 65). Desta maneira, o(a) 
professor(a) precisa ter uma rotina dentro da sala de aula para dar valor e ênfase na 
manifestação, na diversidade e na espontaneidade das crianças. 
Toda instituição precisa ter um Projeto Político Pedagógico21, e nele deve estar 
salientado a “voz das crianças” e de todos que contribuem para o seu 
funcionamento, de forma a configurar, assim, uma proposta flexível. A família é parte 
fundamental na instituição de ensino e esta parceria ajuda no desenvolvimento 
intelectual, afetivo das crianças (SANTA CATARINA, 2005, p.45-65). 
Além da Lei do Sistema Estadual de Ensino, em Santa Catarina, foi elaborado 
em 2004 o Plano Estadual de Educação, também com base na LDB/96. 
 
21 O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um documento elaborado pela instituição de ensino, 
juntamente com o corpo docente e a comunidade, que cria objetivos e metas para o ano letivo. O 
PPP ganhou progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, por 
meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), no artigo 15º. 
33
De acordo com Censo Escolar de 2003 (SANTA CATARINA, 2003), há um total 
de 186.640 crianças matriculadas nas creches e pré–escolas, mantidas pelas 
prefeituras de 293 municípios. 
As creches e pré-escola mantidas pelo Estado de Santa Catarina têm um total 
de 22.632 crianças matriculadas com idade de zero a seis anos. Já os municípios 
têm um número muito mais elevado, de 163.730 crianças matriculadas, com a faixa 
etária de zero a seis anos. Pressupõe-se que esta diferença é consequência da 
LDB/96, pela qual a educação infantil deve ser mantida pelos municípios. 
Há um grande crescimento da rede municipal de ensino infantil e uma procura 
de vagas nessas instituições. Mas, com relação à criança de zero a três anos, a 
procura é menor, pois são poucas as creches que estão preparadas para receber 
essa demanda, faltando recursos e verbas para oferecer espaço, berço, banheira, 
profissionais qualificados e materiais pedagógicos para essa faixa etária. 
O PEE estabelece algumas metas e objetivos para a educação catarinense. O 
prazo para as metas serem alcançadas é até 2010. São objetivos e metas do Plano:
� Priorizar o currículo construído com a participação da comunidade e voltado 
à realidade e à necessidade das crianças; 
� Mudar a nomenclatura de creches e pré-escolas para Centro Educação 
Infantil (CEI); 
� Garantir 100% das vagas em creches e pré-escolas; 
� Ampliar progressivamente o horário de período integral nas escolas; 
� Garantir um percentual da Receita Federal, Estadual e Municipal para 
investir na ampliação da educação infantil; 
� Construir novos CEI’s para dar conta da demanda; 
� Garantir acesso e permanência na educação infantil a partir de cinco anos 
de idade, mas opcional para as demais idades; 
� Garantir atendimento a todas as crianças de zero a seis anos de idade, 
respeitando a diversidade regional, cultural [...] 
� Os Municípios devem definir políticas para educação infantil assim como 
formulações dos Projetos PolíticosPedagógicos com base nas normas 
citadas anteriormente. (SANTA CATARINA, 2004: 17-27)
Analisando o histórico da educação infantil no que se refere à legislação, pode 
se perceber que todos os documentos de política educacional da esfera federal ou 
estadual de governo, apresentam objetivos comuns, principalmente quando se trata 
da educação infantil. Um desses objetivos é a garantia de acesso e permanência de 
crianças de zero a seis anos nas instituições escolares mantidas pelo município. 
34
A legislação estadual é complementar a legislação federal, por isso as duas são 
tão parecidas. Portanto, a legislação estadual deve incorporar as determinações da 
legislação federal e, no máximo, aperfeiçoar ou ampliar tais determinações no 
sentido de atender as peculiaridades do estado. 
Pouco mais de dez anos após a instituição da educação infantil na educação 
básica em 1996, a educação infantil brasileira foi incluída no Fundo de Manutenção 
e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). O fundo respalda o 
financiamento da educação infantil, o que é uma grande conquista, já que o ensino 
fundamental é a prioridade da educação nacional. Este financiamento possibilita a 
ampliação e a melhoria do atendimento em creches e pré-escolas. 
Outra lei que vale salientar é a Lei nº 11.27422, de 06 de fevereiro de 2006, que 
influencia diretamente na educação das crianças de seis anos. Com esta lei, as 
crianças passam a ser incluídas no ensino fundamental de nove anos de duração. 
Em toda história da educação infantil brasileira é possível perceber que o 
direito da criança de zero a seis anos à educação foi amparado através das Leis 
apenas nas últimas décadas. Porém a sociedade precisa se mobilizar a fim de 
efetivar esta estrutura jurídica e permitir que as crianças tenham um atendimento 
eficaz, incluindo socialmente e com qualidade todas as crianças, sem distinções. 
Em 2009, foi elaborado um documento pelo Ministério da Educação, por meio 
da Coordenação Geral de Educação Infantil, chamado de Critérios para um 
atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Já 
havia sido elaborada uma versão mais antiga em 1995. Esse documento estabelece 
critérios para um atendimento de qualidade que visa atender necessidades 
fundamentais das crianças e tem como objetivo colaborar para que o atendimento 
atinja um patamar mínimo de qualidade com respeito aos direitos básicos das 
crianças. 
Os educadores podem utilizar esse documento para refletir sobre o cotidiano 
das creches, pois o texto faz uma abordagem pontuando os direitos que devem ser 
garantidos para que a creche respeite a criança. Segue alguns critérios que, no 
documento, transformam-se em tópicos mais detalhados: “Nossas crianças têm 
direito à: brincadeira; atenção individual; ambiente aconchegante, seguro e 
 
22
 A Lei nº 11.274 sancionada em 06 de fevereiro de 2006 regulamenta o ensino fundamental 
de nove anos. A lei tem como objetivo assegurar às crianças um maior tempo de convívio escolar, 
oportunizando a aprendizagem com mais qualidade.
35
estimulante; contato com a natureza; higiene e saúde; alimentação sadia; 
desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão; movimento 
em espaços amplos; proteção, ao afeto e à amizade; expressar seus sentimentos; 
especial atenção durante seu período de adaptação à creche; desenvolver sua 
identidade cultural, racial e religiosa”. 
2.5 CUIDAR E EDUCAR 
A creche e a pré-escola sofreram durante anos com a falta de leis que 
pudessem nortear seu papel e seus objetivos. Inicialmente, as creches tinham como 
objetivo principal o cuidar. Com a criação das leis e o grande debate que se seguiu 
sobre a infância, o educar foi ganhando espaço nas instituições. Atualmente, o 
cuidar e o educar são fundamentais no atendimento aos pequenos e devem fazer 
parte do cotidiano dos centros de educação infantil. 
Cunha (2002: 6-7), destaca no seu artigo a diferença entre educar e cuidar: 
Educar: [...] significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras 
e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir 
para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, 
de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e 
confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da 
realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o 
desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das 
potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na 
perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. 
Cuidar [...] valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um 
ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva 
e implica em procedimentos específicos [...] Para cuidar é preciso antes de 
tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade, ser solidário 
com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a 
construção de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado. 
Entretanto, há autores como Wiggers (2002: 3) que falam justamente da 
necessidade das “múltiplas dimensões, que tratam o cuidado e a educação das 
novas gerações de forma dicotômica”. A autora supõe que isto é provocado pela
“ausência de clareza quanto ao caráter educativo e/ou à especificidade da educação 
infantil”. Este “caráter educativo” é compreendido como “espelho” do modelo escolar 
36
(id.ibid, p. 9). Wiggers ressalta a ausência de clareza no que tange à dimensão 
educativa da creche e da pré-escola e considera que: 
[...] a educação infantil, como área específica, precisa ainda refletir, discutir, 
debater e produzir conhecimentos e práticas sobre como devem ser 
cuidadas e educadas crianças menores de 7 anos em creches e pré-
escolas, compromisso de todos os que, direta ou indiretamente, se 
vinculam a esta modalidade educativa. (WIGGERS, 2002: 12 apud 
AZEVEDO, sd: 9) 
 
Para o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil é fundamental 
que: “as instituições de educação infantil incorporem de maneira integrada as 
funções de educar e cuidar”, ou seja, o cuidar e o educar demanda uma integração 
das intenções do educador, que devem desenvolver ambas as funções levando em 
consideração a qualidade do atendimento. 
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e 
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para 
o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser 
e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e 
confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da 
realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o 
desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das 
potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na 
perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis 
(RCNEI-Vol 1, 1998: 23).
A educação infantil ocupa um espaço importante no atual cenário educacional 
brasileiro. As práticas pedagógicas que visam o desenvolvimento integral das 
crianças oportunizam interações com novas experiências, articulam e mediam 
situações de aprendizagem e focam na apropriação interdisciplinar de 
conhecimento, tornando-se, assim, um ambiente propício ao desenvolvimento da 
criança. 
Atualmente, são comuns os estudos que afirmam a importância dos primeiros 
anos de vida para o desenvolvimento biológico, emocional, cognitivo e social da 
criança, tornando-se uma fase importante para a construção do aprendizado. Os 
resultados apresentados em pesquisas demonstram que crianças que

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