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Precariedade no jornalismo, 
precariedade do jornalismo 
Relatório de seminário 
Profª Doutora Sara Meireles Graça 
(sociólogo convidado: Doutor José Nuno Matos) 
Aluno: Francisco Fontes 
Mestrado em Comunicação Social: Novos Media - ano letivo 2017/2018 
Escola Superior de Educação de Coimbra 
 
Resumo 
O presente relatório tem por base notas registadas durante a comunicação proferida pelo Doutor José 
Nuno Matos numa sessão de seminário realizada a 9 de junho de 2018 na Escola Superior de 
Educação de Coimbra, no âmbito do curso de mestrado em Comunicação Social - Novos Media. Na 
sua elaboração recorreu-se ainda a outros trabalho do autor sobre o tema da precariedade no 
jornalismo, de acesso público, bem como da autoria do Sindicato dos Jornalistas, ou de representantes 
desta organização. 
 
Palavras-chave: jornalismo; jornalistas; precariedade; emprego; comunicação social 
 
1. Precariedade 
Um terço dos jornalistas atualmente no exercício ganha menos de 700 euros (Branco, 2018), 
muitos outros vêm abandonando a profissão por falta de condições, ou por exclusão dos 
empregadores, e os indicadores da procura a partir dos anúncios de emprego confirmam a 
desvalorização de um corpo profissional altamente qualificado e de tão grande importância 
para a vida em sociedade. 
Estes resultados são ciclicamente evidenciados no espaço público por investigações em 
sociologia da comunicação, em tomadas de posição de entidades do setor, do Sindicato dos 
Jornalistas ou de profissionais, tal como sucedeu no 4º Congresso dos Jornalistas, realizado 
de 12 a 15 de janeiro de 2017. 
A razão de ser disto radica nas palavras-chave capitalismo e mercado, que o sociólogo José 
Nuno Matos (2014) explicou numa sessão pública com esta afirmação: “o jornalismo é 
trabalho e o trabalho é mercadoria. Numa sociedade capitalista a mercadoria é sujeita a um 
mercado, é sujeita ao jogo da oferta e da procura. O que nós temos é poucas empresas de 
comunicação social e muitos jornalistas”. 
2. Emprego 
O sociólogo, num estudo de caso sobre a oferta de emprego na plataforma “Carga de 
Trabalhos”, que realizou durante nove meses, de janeiro a setembro de 2016, chegou à 
conclusão de que em nenhuma delas encontrou o requisito de se pretender profissionais 
detentores de carteira profissional. 
Numa palestra, intitulada “Precariedade no jornalismo, precariedade do jornalismo”, que 
realizou a 9 de junho de 2018 num seminário do Mestrado em Comunicação Social: Novos 
Media, na Escola Superior de Educação de Coimbra, José Nuno Matos afirmou terem-se-lhe 
revelado “algumas surpresas” nessa pesquisa sobre ofertas de emprego para jornalistas. 
Embora as ofertas de recrutamento pelos meios de comunicação social tivessem tido a 
primazia, no total não resulta ser essa a maioria dos números agregados. Tais dados 
evidenciam que os saberes do jornalismo estão a ser procurados para áreas de trabalho fora 
da comunicação social, nomeadamente para produtoras de televisão, ou empresas 
publicitárias. 
Segundo as conclusões do sociólogo, as ofertas de emprego confirmam também a 
digitalização dos meios em Portugal, e entre as áreas temáticas do jornalismo procuradas a 
generalista reunia 49% da procura, e a maior parte estava concentrada nas cidades de Lisboa 
e Porto. 
Nas indicadas, além dos saberes comuns à prática jornalística, de redação e reportagem, por 
exemplo, os anúncios incluíam outros requisitos de saberes, de edição de texto online, de 
gestão de redes sociais, e também expressões e “conceitos ambíguos” como “produção de 
conteúdos”, que a serem desempenhados por jornalistas são de “discutível concordância com 
o Código Deontológico” do corpo profissional, observa o sociólogo. 
José Luís Garcia, José Marmeleira e José Nuno Matos, num artigo elaborado em coautoria, 
referem o seguinte: 
Submetido às ondas de choque da economia do saber ou do conhecimento e do capitalismo 
digital, o jornalismo é impelido a desligar-se do interesse público em ordem à sua 
transformação sucessiva em produção de conteúdos de tipo informativo com valor de 
mercado, num contexto em que comercialização e tecnologização se entrecruzam (Matos, 
2014, p. 7). 
 
A maioria das ofertas de emprego inseridas na “Carga de Trabalhos” apontava para 
polivalência de funções, segundo o sociólogo, e todas eram omissas em relação a salário, e 
quando o indicavam era para se referirem à bolsa de estágio, para a qual os candidatos teriam 
de cumprir os requisitos legais. 
Retomando aos mesmos autores: 
As próprias redações não ficam incólumes às alterações impostas, tomando cada vez mais a 
forma de tecnoambientes, nos quais os jornalistas se desmultiplicam em tarefas, muitas delas 
técnicas, perdendo capacidade de decisão e de resistência face à impetuosidade das formas 
de gestão empresariais (Matos, 2014, p. 7) 
 
José Nuno Matos, a partir dessas ofertas da plataforma “Carga de Trabalhos”, traça o perfil do 
jornalista procurado, que é o de alguém com qualificações e competências, em que a 
experiência profissional não é relevante, nem o facto de ser detentor de carteira profissional. 
Talvez traduza a procura de jovens com competências técnicas novas, observa. 
No domínio das competências procuradas, a licenciatura em comunicação social é 
dominante, sendo residuais as de marketing e de direito, estando estas associadas a outras 
formações do ensino superior. 
“Quando há empresas que não são da Comunicação Social a pedir jornalistas é o fenómeno 
de diluição de fronteiras, em campos que eram distintos”, afirma o sociólogo. 
José Nuno Matos admite que, apesar do contexto atual, o jornalismo ainda desperte algum 
romantismo, algum “amor à camisola”, e que as empresas aproveitem isso com a menção, 
nas ofertas de emprego, à possibilidade de integração nos quadros. Quando fazem menção 
ao salário –, impropriamente, pois trata-se de bolsa de estágio –, é “como uma espécie de 
benesse”. 
Se os novos quando são recrutados ficam em situação precária, a recibos verdes, como falsos 
freelancers, mas com todas as caraterísticas de trabalho subordinado, os mais velhos são 
dispensados das redações, por terem salários mais elevados, por deterem um estatuto moral 
entre os pares, e por revelarem mais dificuldades em se adaptar às novas linguagens do 
trabalho. 
“A situação do jornalista freelancer é a ideal, perfeita, porque não existe uma subordinação 
jurídico-formal ao patrão, considera o sociólogo (Matos, 2014), mas o problema são as 
lógicas do capitalismo e do mercado, que fazem com que “a relação seja desequilibrada. Uma 
relação que do ponto de vista formal não é subordinada; é entre dois agentes do mercado, 
mas do ponto de vista do mercado é muito desequilibrada”. 
José Luís Garcia, José Marmeleira e José Nuno Matos referem que a alusão à “flexibilidade” 
e à “mobilidade” do mercado de trabalho, como valores inerentes ao “empreendedorismo”, 
visa outros intentos, pois ao contratar um jovem jornalista “a prazo ou a recibo verde que, 
por se encontrar nessa situação, se sujeita mais facilmente a salários reduzidos e a horas 
extraordinárias” (Rebelo, 2014, p. 6). 
Para os autores, citados por Rebelo (2014, p. 6), “é mais lucrativo” recrutar um colaborador 
precário do que “manter um jornalista com muitos anos de casa, com um estatuto derivado 
dessa experiência e muito provavelmente sindicalizado”. 
3. Histórias de vida 
Histórias de vida de antigos jornalistas foram também relatadas num outro estudo de caso 
apresentado por José Nuno Matos no referido seminário do mestrado da Escola Superior de 
Educação de Coimbra. 
Nesta investigação, da qual apresentou o resultado de 15 entrevistas já tratadas, procurou 
saber emque se ocupam essas pessoas após o jornalismo, e também recolher as suas 
impressões e reflexões com o distanciamento que o tempo lhes permitiu. 
O sociólogo, a partir dos depoimentos, identificou três tipos de razões para o abandono do 
jornalismo, duas delas da iniciativa própria e uma terceira do foro do mercado e da política 
das organizações. 
A insatisfação pelo tipo de jornalismo que andavam a fazer, a “escrever banalidades”, “com 
gralhas”, e “sem tempo para pensar”, foram razões apontadas. 
Numa segunda ordem de razões emergiram questões materiais, e de dificuldades de 
conciliação com a vida familiar, devido às baixas retribuições económicas, à falta de tempo, 
e à impossibilidade de programação para acudir às solicitações da família. 
A dispensa, por encerramento do órgão de comunicação social, ou por redução dos quadros 
de pessoal, foi a terceira causa para o abandono do jornalismo. 
De ex-jornalistas foi encontrar alguns desempregados, outros a fazer assessorias de imprensa, 
a trabalhar em call centres, ou num projeto de alojamento local. Todos eles assumiram que 
o abandono “acabou por ter uma razão de ser”, à exceção de uma entrevistada, para a qual 
continua a ser “uma ferida aberta que não consegue fechar”. 
4. A precariedade, o medo, e o poético olor 
A 3 de maio de 2018, na evocação do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a presidente 
do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco (2018), afirmava que “um terço dos jornalistas em 
Portugal ganha um ‘salário indigno’, menos de 700 euros líquidos”, e que “a precariedade 
não escolhe idades”. 
As redações esvaziam-se de gente e, com esta, vai-se a diversidade de olhares, o lema passou 
a ser fazer muito em menos tempo, o exercício da profissão está muito condicionado a 
agendas oficiais e institucionais e decisões impostas por chefias e administrações [...] e o 
espírito crítico está adormecido, o medo e a autocensura instalaram-se (Branco, 2018). 
No 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses (2017) foi revelado que existiam 5522 jornalistas com 
carteira profissional e 2218 com título provisório de estagiário. 
No palco do congresso nenhum diretor de órgãos de informação reconheceu a existência de jornalistas 
precários nas suas redações, mas a assistir ao congresso foram encontrados alguns que, sob 
anonimato, em privado, prestaram informações, receosos de que ao “darem a cara” fossem ainda mais 
prejudicados nas redações onde trabalham (2017). 
“Há medo sim, nas redações hoje em dia. E esses testemunhos todos que conhecemos são 
histórias de amigos nossos, ou de pessoas conhecidas”, afirma Sofia Branco (2017), 
presidente da direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ). 
José Nuno Matos entende que “há duas contradições” nas motivações relacionadas com a 
profissão. Por um lado, é procurada por satisfação e gosto pessoal, mas quem vai para estágio 
não encontra autonomia para o exercício do jornalismo, nem compensação material. 
“Em face disto, é uma profissão cada vez menos interessante, e há uma fuga do jornalismo”, 
mas, como noutro momento o sociólogo admitiu (Matos, 2014), há quem ingresse na 
profissão por romantismo, “por questões de cidadania”. 
 [S]e formos ver as representações sociais dos jornalistas, desde a banda desenhada ao cinema de 
Hollywood, nós verificamos que o jornalista muitas vezes é representado como uma espécie de 
defensor da democracia. Gosto de pensar que também é por causa disso, não só por uma questão de 
mero interesse pessoal e de vedetismo (Matos, 2014). 
Considerações finais 
As revelações de José Nuno Matos reforçam a imagem que o jornalismo e os jornalistas vêm 
revelando à sociedade. Nas redações coabitam com um crescente número de jovens, precários 
ou estagiários. Em número, são cada vez menos, mas mais atarefados, a assumir novas 
tarefas, que os “ventos” do tempo ditam, algumas delas de fora do campo do jornalismo. 
O emprego ou, melhor, uma ocupação remunerada, mesmo se mal remunerada, é um bem 
escasso e precioso. Se é numa profissão que se procurou por paixão, o sacrifício vale a pena. 
Aguentar…à espera que um dia a situações melhore. O receio de dispensa, porque o mercado 
tem muita oferta, gera o medo. O medo leva a cedências, e os empregadores sabem disso, e 
aproveitam-se. Aproveitam-se do romantismo, da juventude, da ânsia de não perder a 
oportunidade. 
As investigações de José Nuno Matos, e similares, são de grande importância, não apenas no 
âmbito da sociologia das profissões, mas para ajudar a perceber fenómenos sociais, pelas 
implicações que o jornalismo tem para a vida pública. 
 
 
 
Referências 
Branco, S. (3 de maio de 2018). Sindicato denuncia que um terço dos jornalistas em Portugal ganha 
um “salário indigno”. Expresso. (E. Lusa, Entrevistador) Obtido em 11 de junho de 2018, 
de http://expresso.sapo.pt/sociedade/2018-05-03-Sindicato-denuncia-que-um-terco-dos-
jornalistas-em-Portugal-ganha-um-salario-indigno#gs.NQeKnyY 
Matos, J. N. (2014). José Nuno Matos fala sobre a representação dos jornalistas. (P. Pereira, Ed.) 
Obtido em 10 de junho de 2018, de Paulo Pereira, YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=wo4vryUpdt4 
Portugueses, 4. C. (janeiro de 2017). Afirmar o Jornalismo. Obtido de 4º Congresso dos Jornalistas 
Portugueses: http://www.congressodosjornalistas.com/event/4o-congresso-dos-jornalistas-
portugueses/ 
Rebelo, J. (2014). Apresentação. Em J. (. Rebelo, As Novas Gerações de Jornalistas em Portugal 
(pp. 1-7). Lisboa: Editora Novos Mundos. 
Vários. (13 de janeiro de 2017). Vozes confidenciais. Precários que não existem. (A. Afonso, & P. 
Costa, Entrevistadores) Obtido em 11 de junho de 2018, de 
http://www.jornalistas.congressodosjornalistas.com/vozes-confidenciais-precarios-que-nao-
existem/

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