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HIPERTROFIA DO ANEL LINFÁTICO DE WALDEYER 1.0- INTRODUÇÃO • O anel de Waldeyer compreende as tonsilas palatinas (ou amígdalas), tonsilas nasofaríngeas (ou adenoides), tonsilas linguais, tonsilas peritubárias e todo tecido linfoide distribuído pela parede posterior da orofarinfe na entrada do trato aerodigestivo. • Principais sinais e sintomas: dispneia, apneia, roncos relacionados a hipertrofia/hiperplasia; dor em quadros inflamatórios/infecciosos (virais e bacterianos); problemas de renais e/ou cardíacos (complicações sistêmicas das infecções pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A) e halitose (caseum nas criptas das tonsilas palatinas); alterações da orelha média por obstrução da tuba auditiva ou foco de infecção por bactérias presentes na adenoide. 2.0- QUADRO CLÍNICO • As manifestações clínicas frequentes da hipertrofia das tonsilas são a apneia e o ronco. • As hipertrofias das tonsilas faríngeas e palatinas são mais frequentes. • Outras manifestações HAT: o Dificuldade de aprendizado; o Déficit de crescimento; o Enurese; o Distúrbios de comportamento; o Distúrbios de fala; o Alterações musculoesqueléticas; o Alterações ortodôndicas; o Alterações cardiovasculares. 3.0- CLASSIFICAÇÃO • Durante o exame otorrinolaringológico, deve-se avaliar o tamanho das tonsilas palatinas, que são classificadas em cinco diferentes graus, conforme a escala de Brodsky e Koch: • O grau de hipertrofia adenoidiana podeser avaliada pela radiografia simple de cavum ou pela videonasofibroendoscopia e classificado em cinco diferentes níveis, dependendo da obstrução evidenciada ao exame. 4.0- AVALIAÇÃO CLÍNICA 4.1- Anamnese • Apesar de muitas vezes somente queixas como obstrução nasal e roncos serem valorizadas pelos pacientes e familiares, muitos outros sinais e sintomas mais importantes devem ser investigados. • Nos dias atuais, aspectos comportamentais e relacionados ao desenvolvimento neuropsicomotor ganham destaque em razão das consequências que um sono inadequado ocasionado pela hipertrofia dos tecidos linfoides do anel de Waldeyer determinam. 4.2- Exame físico • Oroscopia: deve permitir uma visualização adequada da orofaringe, sem gerar reflexo nauseoso no paciente, pois, nesses casos, as tonsilas do paciente são projetadas medialmente, levando muitas vezes a uma impressão equivocada do verdadeiro tamanho das tonsilas. o É importante que o observador observe o polo inferior das tonsilas palatinas porque muitas vezes esse polo se encontra edemaciado independentemente do polo superior. Quando o paciente assume o decúbito dorsal, acaba sentindo a diminuição da passagem do ar. ▪ O uso da nasolaringoscopia tornou esse erro infrequente. 4.3- Exames complementares • O grau de hipertrofia das tonsilas palatinas e faríngeas pode ser avaliado pela radiografia simples de cavum e pela videonasofibroendoscopia. o O exame da fibroendoscopia possibilita diagnósticos diferenciais o que a radiografia não permite. o Apesar de a radiografia ser muito utilizada para análise da rinofaringe, é na região da oro e hipofaringe com estreitamentos ocasionados pelo volume das tonsilas que se pode ter uma ideia do grau de participação desse componente do anel de Waldeyer na clínica do paciente. Sugere- se a realização do exame digitalizado em perfil da mesma forma que se coletam imagens para a realização da cefalometria. • A TC e a RM não têm indicação como exame de rotina. o A sua indicação se restringe a diagnóstico diferencial de tumores ou malformações. • No exame de videoendoscopia, a utilização de fibras flexíveis é preferível porque permite a visualização de narinas, rino, oro e hipofaringe. Isso permite que haja uma ideia do grau de participação dos tecidos linfoides da região nas vias aerodigestivas. o É um exame com poucas complicações. • A polissonografia é o exame padrão-ouro para documentação e avaliação de apneias do sono. o É um método dispendioso e pouco acessível na rede pública. o Esse método acaba medindo as pausas ventilatórias durante o sono. • A oximetria apresenta-se como um bom método alternativo de triagem para avaliação de dessaturações, pois tem baixo custo e alta sensibilidade. • A avaliação cardiovascular dos pacientes é feita com maior fidedignidade através de cateterismo cardíaco. o Esse método é invasivo e inviável para triagens em pacientes em repercussões cardiovasculatres. • O ecocardiograma é um método não invasivo, de baixo curto e amplamente utilizado, que permite a avaliação anatômica e funcional das cavidades cardíacas e a estimativa das pressões na artéria pulmonar, apresentando boa correlação com dados hemodinâmicos obtidos por cateterismo cardíaco. • A avaliação card[iaca fica reservada para casos de suspeita de Hipertensão pulmonar: crianças baixo de 2 anos, síndrome de Down, muitas dessaturações na avaliação polissonográfica ou oximetria, episódios de cianose ou sinais de IC. 5.0- COMPLICAÇÕES DA HIPERTROFIA ADENOTONSILAR • Qualquer alteração craniofacial, neuropsicomotora ou postural já deveriam ser consideradas complicações importantes. • A hipertensão pulmonar e o cor pulmonale são descritas como sendo as principais complicações para HAT. • Noonan defmiu cor pulmonale secundário à obstrução de vias aéreas superiores como "síndrome clínica com respiração estertorosa, estridor, sonolência, evidências eletrocardiográficas de hipertrofia ventricular direita, sinais radiológicos de cardiomegalia e ocasionalmente edema pulmonar e insuficiência cardíaca''. • A obstrução crônica das vias aérea superiores frequentemente se associa com síndrome da apneia do sono e, nos casos mais graves, evoluem com hipertensão pulmonar e cor pulmonale. O desenvolvimento deste tipo de hipertensão pulmonar fundamenta-se na vasoconstrição pulmonar hipóxica durante períodos de apneia que ocorrem nestes pacientes repetidas vezes à noite. Com a evolução dos episódios de apneia, a resistência vascular pulmonar tende a aumentar resultando em insuficiência cardíaca direita. • A hipertensão pulmonar e cor pulmonale são indicações incontestáveis para realização de adenoamigdalectomia, após a qual tem-se normalização clínica rápida e ecocardiográfica em alguns meses. • A ecocardiografia é um bom método diagnostico para hipertensão pulmonar em pacientes com HAT que apresentam apneia do sono. 6.0- TRATAMENTO • O tratamento cirúrgico para casos de HAT é controverso. No entanto, quando detectada a hipertensão pulmonar, a indicação é absoluta. 6.1- INDICAÇÃO CIRÚRGICA • De modo geral, as indicações de tonsilectomia e adenoidectomia envolvem roncos e/ou apneias, preferencialmente documentdas, tosilites de repetição, abscesso peritonsilar, suspeita de neoplasia (assimetria de tonsilas palatinas) e halitose. • O último consenso da Academia Americana de Otorrinolaringologia (2011) informa que as duas causas mais comuns de indicação de adenotonsilectomia são distúrbios respiratórios do sono (de ronco primário a apneia do obstrutiva do sono) e infecção tonsilar recorrente. Ambas as afecções trazem custos altos para o sistema de saúde em termos de números de consultas médicas, uso de medicação mais frequente, mais episódios que requerem visita hospitalar, mais dias de aula perdidos e mais dias de trabalho perdidos pelos cuidadores. • Além disso, distúrbios respiratórios do sono e tonsilites estão associados a crianças com índices menores de qualidade de vida. • No entanto, persiste-se a controvércia sobre os possíveis benefícios da tonsilectomia frente aos riscos cirúrgicos e pós-cirúrgicos. 6.2- DESCRIÇÃO CIRÚRGICA • A tonsilectomia é definida como o procedimento cirúrgico realizado comou sem adenoidectomia que remove completamente as tonsilas palatinas, incluindo a cápsula, através da dissecção do espaço peritonsilar, entre a cápsula da tonsila e a musculatura da parede da orofaringe. • Se, por um lado, a literatura não indica necessidade de coagulograma e hemograma em crianças hígidas sem história compatível, crianças com sintomas respiratórios obstrutivos (síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono) deveriam ser mais investigadas do ponto de vista cardiorrespiratório antes de um procedimento cirúrgico pelos cuidados específicos que essas alterações geram no pós-operatório imediato. • É importante acalmar os familiares e informa-los que com o passar dos anos os tecidos linfoides regridem. RONCO PRIMÁRIO 1.0- INTRODUÇÃO • O ronco primário (RP) é definido como o ronco sem eventos respiratórios do sono, representando um fenômeno complexo gerado na via aérea superior (VAS) pela interação dos tecidos moles da área colapsável da faringe. • O RP causa danos ao sono do cônjuge e familiares também. • Como estágio inicial dentro de um conceito evolutivo dos distúrbios respiratórios relacionados ao sono (DRRS) pode estar progressivamente relacionado a distúrbios cognitivos, riscos cardiovasculares e metabólicos. • O seu diagnóstico é fundamental e em geral simples. • A interação difusa da musculatura na vibração das estruturas do palato mole, tonsilas e orofaringe, somada à adesão geralmente baixa ao tratamento clínico, tornam a eficácia do tratamento difícil. 2.0- EPIDEMIOLOGIA • O RP pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais frequente em homens de meia-idade acima do peso ideal. • O ronco é o sintoma mais comum presente nos DRRS. No entanto, por si só, não é um preditor deles. 3.0- IMPORTÂNCIA • O RP pode ser considerado uma forma leve de distúrbios respiratórios do sono. • Os roncadores são mais predispostos a HAS, doenças cardíacas e cerebrovasculares. • Há aumento de incidência de aterosclerose, nictúria e refluxo faringolaríngeo na população roncadora. • Um processo considerado continuum é avaliado da seguinte forma: o VAS normais > RP > Síndrome da resistência de via aérea superior (SRVAS) > hipoventilação obstrutiva > Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). 4.0- CLASSIFICAÇÃO • A Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD-2) localiza o RP no grupo 2 – parassonias, dentro do subgrupo D – outras parassonias, junto com bruxismo e enurese noturnos, entre outros. • Já a SAOS está no grupo 1 - dissonias, subgrupo A - distúrbios intrínsecos do sono, junto com narcolepsia, insônias e síndrome das pernas inquietas, por exemplo. • Alguns termos sinônimos, indevidamente usados, são comuns: ronco simples, ronco habitual, ronco sem apneia, respiração ruidosa durante o sono, ronco rítmico, ronco contínuo. 5.0- DEFINIÇÃO E FISIOPATOLOGIA • O RP é caracterizado pelo som respiratório na VAS durante o sono sem apneia ou hipoventilação. • Ocorre durante a inspiração ou expiração de forma contínua, não sendo acompanhada de despertares ou evidência de distúrbio do sono. • Atinge volume sonoro suficiente para causar distúrbios do sono no companheiro de quarto. • Os fatores que geram o sono são: o Anatômicos; ▪ Pode decorrer de desproporções esqueléticas faciais, do excesso de tecido mole, do estreitamento e instabilidade na área colapsável da VAS (do palato duro ao nível do osso hioide). ▪ Em consequência, há aumento da pressão negativa intratorácica a fim de assegurar o volume do fluxo aéreo. ▪ O estreitamento das vias aéreas leva ao efeito de vácuo de acordo com o princípio de Bernoulli. O fluxo de ar passa a ser turbulento gerando vibração, trauma local e edema. o Inter-relação neuromuscular sob comando central, mecanorreceptores locais; o Fatores circunstanciais como posição de decúbito, higiene do sono e ingestão de substância. • O som é produzido pela vibração dos tecidos faríngeos (base de língua, palato mole, úvula, parede faríngea posterior e lateral) ou laríngeos (por ptose da epiglote) na inspiração devido a um fluxo de ar turbulento através de uma VAS estreita e relaxada. 6.0- FATORES DE RISCO • Obesidade ou ganho de peso; consumo de álcool antes de dormir; tabagismo; fármacos depressores do sistema nervoso central, como ansiolíticos, miorrelaxantes, hipnóticos; hipotireoidismo e outras condições médicas; alterações anatômicas da VAS como hipertrofia tonsilar, discrepâncias maxilomandibulares; obstrução nasal; refluxo faringolaríngeo e menopausa sem reposição hormonal; decúbito supino. 7.0- APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Geralmente a queixa inicial é o parceiro de quarto perturbado pelo ruído alto ocasionado pelo ronco. • A intensidade do ronco pode variar e, muitas vezes, causar o despertar do próprio paciente. • O paciente pode referir boca seca (despertares com grande desejo de beber água). • NÃO há queixa de sonolência excessiva dirurna (SED), cansaço, insônia ou fragmentação o sono, como ocorre na SRVAS ou na SAOS. O paciente assintomático pode não estar ciente do problema. 8.0- AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA • Para o diagnóstico de RP deve-se realizar um exame clínico completo. • Recomenda-se realizar um questionário do sono validade. • Quando os sintomas se SED ou apneias se apresentam concomitantemente ao RP, o exame no polissonógrafo é mandatário para avaliação objetiva. o Na polissonografia, deve-se considerar: ▪ Esforço respiratório relacionado à despertares (RERA). o Quando o índice de distúrbio respiratório do sono (IRD) é menor do que 5 eventos/hora, sem alterações nos gases arteriais e índices de despertares (ID) normal para idade, o paciente é classificado como portador de RP ou SRV AS. • A presença do ronco, na ausência de queixa ou dos sinais de SED, apneias presenciais, sufocamento noturno ou cefaleia matinal, caracteriza o roncador primário. 9.0- CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS • Critério mínimo: A + B + E. A. Queixa de ronco feita por um observador. B. Não há evidência de insônia ou sonolência excessiva diurna causada pelo ronco. C. O paciente queixa-se de boca seca ao acordar. D. A polissonografia demonstra: 1. Ruído inspiratório ou expiratório geralmente ocorrendo por longos períodos durante o sono. 2. Ausência de associação de despertares abruptos, dessaturação de oxigênio arterial ou distúrbio cardíacos. 3. Padrão normal de sono. 4. Padrão respiratório normalmente durante o sono. E. Os sintomas não encontram critérios diagnósticos de outros distúrbios do sono (síndrome da apneia do sono central, SAOS, síndrome da hipoventilação alveolar central, laringospasmo relacionado ao sono, etc.). 10.0- CRITÉRIOS DE SEVERIDADE • Leve: O ronco não acontece todas as noites e somente quando o paciente está em decúbito dorsal. • Moderado: O ronco ocorre todas as noites; ocasionalmente incomoda terceiros; em geral é abolido pela mudança de posição de decúbito. • Severo: O ronco ocorre todas as noites, incomoda terceiros, não é alterado pela mudança de decúbito. O parceiro de quarto eventualmente deixa o aposento devido ao volume do ruído. 11.0- CRITÉRIOS DE DURAÇÃO • Agudo: 3 meses ou menos. • Subagudo: entre 3 meses a 1 anos. • Crônico: mais de um ano. 12.0- TRATAMENTO • O tratamento é feito com intervenção conservadora/comportamental por meio de perda de peso, correção do decúbito durante o sono, evitação de sedativos, tratamento da rinite alérgica e da obstrução nasal e cessação do tabagismo. • Os procedimentos cirúrgicos clássico sobre o palato (faringoplastias) e correção da obstrução nasal são utilizados (septoplastias e turbinoplastias). • Os procedimentos ambulatoriais são bem populares e vem ganhado popularidade. Elesserão descritos nos próximos subitens. 12.1- Uvolopalatoplastia assistida por laser (LAUP) • A LAUP é um procedimento cirúrgico que envolve a redução e o recontorno dos tecidos da úvula e do palato mole, usando laser de dióxido de carbono, visando à redução vibratória da orofaringe. • O tratamento por meio de vaporização com laser da úvula e da margem livre do palato é ambulatorial e sob anestesia local. 12.2- Radiofrequência • A redução do volume de tecido por radiofrequência (RFTVR) é uma tecnologia cirúrgica minimamente invasiva que usa corrente de radiofrequência para reduzir o volume do tecido de forma precisa. • A energia da radiofrequência produz uma agitação iônica de moléculas a um nível celular. Os íons tendem a seguir uma mudança de direção com a corrente alternada gerada. A corrente passa através do paciente, o calor é gerado no tecido que envolve o eletrodo e a temperatura máxima variável da radiofrequência é de 105ºC. O aumento do calor nos tecidos ocasiona a dissecação e a coagulação de proteínas. Há dois tipos de radiofrequência: monopolar e bipolar 12.3- Enrijecimento palatal cautérico (CAPSO) • Consiste em desnudar ou ressecar uma área da mucosa palatal na face oral causando cicatrização, fibrose e enrijecimento do palato mole. o É uma técnica de baixo custo e com complicações semelhantes às da LAUP. 12.4- Injeção roncoplástica • As injeções roncoplásticas podem ser realizadas em consultório, sob anestesia tópica. • O procedimento é simples, rápido, com poucas complicações, e baixo custo, podendo ser repetido. 12.5- Implantes palatais • A primeira indicação para locação de implante palatal é o tratamento de ronco primário de origem palatal. • Tem como vantagem ser um procedimento minimamente invasivo, que dura cerca de 20 minutos, com mínima dor, necessidade apenas de anestesia local, pouco desconforto, pouca morbidade e efetivo enrijecimento do palato. São inseridos no palato mole, por meio de um aplicador especial, 3 a 5 implantes sintéticos de poliéster, medindo 1 8 x 1,5 mm cada, paralelos, um na linha média e quatro laterais, a 2 mm de distância um do outro. Há uma resposta natural do organismo à locação dos implantes causando um ancoramento deles, encapsulamento e conexão entre eles, o que traz suporte e enrijece o palato, reduzindo obstrução e vibração do tecido. SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAOS) 1.0- INTRODUÇÃO • A SAOS é um importante problema de saúde pública associado a repercussões hemodinâmicas, neurológicas e comportamentais. • É uma doença crônica e evolutiva, ocorrendo na seguinte ordem cronológica: Ronco primário, síndrome da resistência das cias aéreas superiores, apneia obstrutiva do sono, SAOS leve, SAOS moderada e SAOS grave. 2.0- DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO • O diagnóstico baseia-se na história clínica (a entrevista deve ser realizada com membros da família também. • O exame físico otorrinolaringológico, incluindo nasofibrolaringoscopia, medida de PA, cálculo de IMC, medidas de circunferência cervical (realizada na altura da membrana cricotireoidea) e abdominal e polissonografia devem ser ralizadas. • Os familiares referem roncos, sono agitado, “engasgos” e apneias. • O paciente tem queixa de sonolência diurna excessiva (sonolência nas quais se espera que ele esteja atento), fadiga (possível associação a retenção de CO2), impotência, noctúria, pirose, alterações de memória e concentração. • Alterações mais relevantes ao exame físico: obesidade, alterações do esqueleto craniofacial (retrognatia é um achado frequente) e alterações anatômicas da via aérea. • A graduação das tonsilas palatinas e o escore de Mallampati modificado (com língua no interior da cavidade oral) estão associados a um maior estreitamento da via aérea. • A endoscopia da via aérea superior uti1izando nasofibrolaringoscopia flexível permite uma avaliação dinâmica do nariz até a laringe. Ela pode ser realizada com manobra de Müller, na qual o paciente inspira com nariz e boca fechados para criar o máximo de pressão negativa Ela é avaliada nas regiões retropalatal e retroglossal e classificada como 1 +: < 25%; 2+: 25-50%; 3+: 50-75%; 4+: 75-100% de obstrução, que pode ser concêntrica, laterolateral ou anteroposterior. O exame é subjetivo, depende do esforço do paciente e da impressão do examinador. • A polissonografia é o exame padrão-ouro para SAOS. • Definições importantes em relação a SAOS: • Com base no índice de apneia e hipopneia (IAH) obtido na polissonografia, a SAOS pode ser classificada em: o SAOS leve: IAH 5-15/h; o SAOS moderada: IAH 15-30/h; o SAOS severa: IAH 30/h. • A sonolência diurna excessiva (SDE) representa a principal sequela da fragmentação do sono e pode ser avaliada subjetivamente por escalas, como a Escala de Sonolência de Epworth. o A escala é útil para investigação diagnóstica e no acompanhamento ambulatorial dos pacientes após tratamento clínico e/ou cirúrgico. o A SDE aumenta o risco de acidentes automobilísticos. • A SAOS é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares e acidente vascular encefálico isquêmico. o Todo paciente com hipertensão arterial sistêmica resistente ao tratamento deve ser investigado para SAOS. 3.0- FATORES DE RISCO • Fatores anatômicos (aumento de partes moles ou desproporções esqueléticas) e funcionais determinam o estreitamento e o colapso da via aérea durante o sono. • O ronco – ruído de baixa frequência ocasionado pela vibração dos tecidos – é mais prevalente durante a inspiração, aumentando as chances de todos os tipos de SAOS. • Esse colapso é causado por um desequilíbrio entre a pressão de sucção inspiratória intrafaríngea e as forças dilatadoras dos músculos faríngeos. A obstrução da via aérea pode acontecer em vários níveis, resultando em diminuição do fluxo aéreo com apneia ou hipopneia, apesar do esforço respiratório. • Sexo masculino, obesidade e idade são fatores de risco independentes para a presença de SAOS. • Tabagismo, alcoolismo, uso de drogas sedativas, período pós-menopausa e história familiar (possivelmente relacionada com anormalidades craniofaciais ou hábitos que levem à obesidade) também são fatores relacionados. • Várias doenças são causa de obstrução das vias aéreas superiores e, assim, podem originar ou agravar a SAOS: rinite alérgica, polipose nasossinusal, desvio septal, tumores da via aérea superior, hipertrofia adenoamigdaliana, glossoptose, paralisia de prega vocal e doenças neuromusculares. 4.0- TRATAMENTO • A morbimortalidade da SAOS é significativa. • O tratamento da SAOS passa pela perda de peso, continuous positive airway pressure (CPAP) e alguns procedimentos cirúrgicos. • Os tratamentos são didaticamente divididos em clínicos e cirúrgicos, mas há pacientes que necessitam ser submetidos a ambos. • Para aqueles pacientes com apneia posicional (IAH pelo menos duas vezes maior em posição supina comparada com outras posições), a terapia posicional é uma opção efetiva. Consiste em evitar a posição supina durante o sono, o que pode ser realizado com a fixação de bolas de tênis na região posterior do traje de dormir do paciente. • O uso do aparelho intraoral (AIO) é uma opção que apresenta bons resultados para SAOS leve a moderada ou com ronco primário. o O uso desse método necessita de uma avaliação adequada pelo cirurgião dentista. • Os exercícios orofaríngeos são orientados por profissionais de fonoaudiologia e são uma opção ainda em investigação para SAOS moderada. o São exercícios diários que tem por objetivo reduzir a altura da base da língua e aumentar a altura do palato mole, aumentando, assim a luz da faringe. • Os aparelhos depressão positiva (CPAP) consistem em um método não invasivo que evita o colapso da via aérea. Eles são eficazes na melhora dos sintomas de SAOS, da sonolência diurna na escala de Epworth e na qualidade de vida medida por questionários específicos. Portanto, são a primeira escolha em SAOS moderada a grave. O tratamento deve ser vitalício e com um uso mínimo de 4 horas por noite em 70% das noites. Apesar da sua alta efetividade, há uma baixa adesão, e essa é a maior limitação dessa terapia. • Os tratamentos cirúrgicos são norteados pela idade do paciente, anatomia da via aérea superior e gravidade da doença. o A cirurgia nasal melhora a qualidade do sono, reduz a sonolência diurna e o ronco, mas não melhora o IAH. Ela pode ser utiliza para a melhor adaptação do aparelho de pressão positiva ou ao aparelho intraoral. • As cirurgias faríngeas mais utilizadas no tratamento da SAOS são a uvulopalatofaringoplastia, a uvulopalatoplastia com laser ou radiofrequência e a faringoplastia lateral. Há muita heterogeneidade nos estudos, o que dificulta a comparação entre as técnicas e com o CPAP ou AIO. • Friedman e colaboradores6 identificaram como principais fatores preditores para o sucesso da uvulopalatofaringoplastia o escore de Mallampati modificado, o tamanho das tonsilas palatinas e o IMC. A partir disso, dividiram os pacientes em quatro estágios, conforme a tabela a seguir: • Para o estágio I, ele relata sucesso de 80%, para o II, 40%, para o III, 8,1 %. Os pacientes em estágio IV não são candidatos ao tratamento cirúrgico no palato mole. • O avanço maxilomandibular é uma opção em pacientes com SAOS que não tiveram adaptação ou não desejam CPAP, principalmente se houver alteração do esqueleto craniofacial. • A traqueostomia é o procedimento mais agressivo, sendo utilizado quando houver falha de todos os outros tipos de tratamento para SAOS.
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