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Hildizina Norberto Dias Nobre Roque dos Santos Paula Cruz Orlanda Lídia Gomane Ernesto Júnior Jerónimo Simão Manual de Práticas e Estágio Pedagógico Universidade Pedagógica Índice Pág Introdução ..................................................................................................................................................... 6 Capítulo 1 – As Práticas e Estágio Pedagógico na Universidade Pedagógica ........................................13 1.1. Objectivos, princípios e fases da Prática e Estágio Pedagógico ........................................................13 1. Objectivos gerais ...............................................................................................................................13 1.1.2. Princípios orientadores gerais......................................................................................................15 1.1.3. Fases da Prática e Estágio Pedagógico ........................................................................................15 1.2. A noção e o lugar da Prática e Estágio Pedagógico no currículo .....................................................19 1.3. Actividades das Práticas Pedagógicas .........................................................................................23 1.3.1. Trabalho de Campo ..............................................................................................................23 1.3.1.1. Trabalho de Campo real............................................................................................................25 1.3.1.2. Trabalho de Campo virtual .......................................................................................................27 1.3.2. Seminários ...................................................................................................................................33 1.3.2.1. Orientações gerais, temas e actividades dos seminários ...........................................................34 1.3.2.2. Orientação de Seminários Pedagógicos....................................................................................36 1.3.2.2.1. Definição ...............................................................................................................................36 1.3.2.2.2. Objectivos..............................................................................................................................36 1.3.2.2.3. Preparação do seminário........................................................................................................37 1.3.2.2.4. Material a ser apresentado no seminário................................................................................40 1.3.2.2.5. Gestão do tempo ....................................................................................................................40 1.3.2.2.6. Função dos membros do grupo..............................................................................................40 1.3.2.2.7. Aspectos organizativos ..........................................................................................................41 1.4. As atribuições do praticante, do supervisor e do tutor......................................................................41 1.4.1. Atribuições do praticante.............................................................................................................41 1.4.2. Atribuições do supervisor ............................................................................................................43 1.4.3. Atribuições do tutor .....................................................................................................................43 Capítulo 2 – Métodos, técnicas e estratégias de formação nas Práticas e Estágio Pedagógico .............45 2.1. Aprendizagem Cooperativa .................................................................................................................47 2.2. Narrativas..............................................................................................................................................49 2.3. Narrativa Autobiográfica.....................................................................................................................52 2.4. Análise de Casos ...................................................................................................................................55 2.5. Resolução de problemas .......................................................................................................................58 2.6. Trabalho de Projecto............................................................................................................................60 2.7. Investigação-acção ................................................................................................................................62 2.8. Oficinas Pedagógicas ............................................................................................................................64 2.8.1. Oficina Pedagógica de produção de material didáctico ...............................................................64 2.8.2. Oficina Pedagógica como espaço de aprendizagem ....................................................................68 2.9. Micro-ensino ........................................................................................................................................70 2.9.1 As micro-aulas..............................................................................................................................71 2.9.1.1. Noção de micro-aulas ...............................................................................................................71 2.9.1.2. Planificação e execução............................................................................................................72 2.9.1.3. Um exemplo de micro-aulas .....................................................................................................73 2.9.2. Ensino reflexivo e video formação ..............................................................................................81 2.10. Uso de Tecnologia Educativa nas Práticas e Estágio Pedagógico...................................................85 Capítulo 3. Técnicas de recolha e análise de dados nas Práticas Pedagógicas .....................................101 3.1.1. Noção de observação .................................................................................................................102 3.1.1.1. Aspectos a ter em conta na observação ..................................................................................104 3.1.2. Observação directa ....................................................................................................................106 3.1.2.1. Formas e meios de observação ...............................................................................................106 2 3.1.2.2. Tipos de observação ...............................................................................................................106 3.1.2.3. Conteúdos da observação .......................................................................................................111 3.1.3. A observação indirecta ..............................................................................................................113 3.1.3.1. Entrevista ................................................................................................................................113 3.1.3.1.1. Tipos de entrevista...............................................................................................................113 3.1.3.1. Questionários ..........................................................................................................................114 3.1.3.1. Análise de dados documentais................................................................................................1183.1. Métodos para análise de dados ..........................................................................................................120 3.2.1. Operações de análise de dados ..................................................................................................121 3.2.2. Métodos de análise de dados .....................................................................................................121 3.2.2.1. Descrição ................................................................................................................................121 3.2.2.2. Análise Estatística...................................................................................................................123 3.2.2.3. Análise de Conteúdo...............................................................................................................124 3.2.2.4. Análise de vídeos e leitura de imagens ...................................................................................126 3.2. Observação da Prática Pedagógica Geral e Específica .................................................................133 Capítulo 4 - Planificação e leccionação de aulas .....................................................................................135 4.1. A concepção de um plano de aula .....................................................................................................136 4.1.1. Os elementos de um plano de aula.............................................................................................137 4.1.1.1. Os objectivos ..........................................................................................................................137 4.1.1.1.1 Os objectivos gerais e específicos ........................................................................................138 4.1.1.2. Competências .........................................................................................................................141 4.1.1.2. Conteúdos ...............................................................................................................................153 4.1.1.4. Os métodos .............................................................................................................................156 4.1.1.4.1. Classificação dos método ....................................................................................................157 4.1.1.5. Os meios .................................................................................................................................165 4.1.1.6. A organização das actividades de ensino e aprendizagem......................................................167 4.1.1.7. A avaliação .............................................................................................................................169 4.2. A execução das aulas ..........................................................................................................................174 4.2.1. O domínio dos nervos...............................................................................................................175 4.2.2. O controlo da voz .....................................................................................................................177 4.2.3. Rituais de início, transição e fecho da aula..........................................................................177 4.2.4. Gestão dos comportamentos dos alunos ....................................................................................178 Capítulo 5 - Avaliação das Práticas e Estágio Pedagógico .....................................................................182 5.1. Noções Gerais de Avaliação nas Práticas e Estágio Pedagógico .....................................................182 5.2. Princípios Norteadores da Avaliação nas Práticas e Estágio Pedagógico......................................186 5.3. Os intervenientes no processo de avaliação ......................................................................................187 5.3.1. Auto – avaliação. .......................................................................................................................188 5.3.2. A avaliação do colega................................................................................................................189 5.4. Áreas e instrumentos de Avaliação nas Práticas Pedagógicas ........................................................193 5.4.1. Os Seminários............................................................................................................................195 5.4.2. O Trabalho de Campo................................................................................................................196 5.4.3. Os Relatórios .............................................................................................................................198 5.4.3.1. Os Relatórios Anuais ..............................................................................................................198 Capítulo 6 - Elaboração dos Relatórios das Práticas e Estágio Pedagógico .........................................199 6.1. Definição de Relatório de Práticas e Estágio Pedagógico................................................................199 6.2. Objectivos dos Relatórios de Práticas e Estágio Pedagógico ..........................................................200 6. 2.1 Objectivos Gerais ......................................................................................................................200 6. 2.2 . Objectivos Específicos ............................................................................................................200 6.3. Estrutura dos Relatórios de Práticas e Estágio Pedagógico...........................................................200 6.3.1. Elementos da estrutura básica dos Relatórios das Práticas Pedagógicas ...................................201 3 6.4. Apresentação Gráfica dos Relatórios de Práticas e Estágio Pedagógico .......................................204 6.5. A Redacção dos Relatórios de Práticas Pedagógicas .......................................................................205 6.5.1 Etapas da Redacção do Relatório ...............................................................................................206 6.5.2 Planificação/pré-escrita ..............................................................................................................206 6.5.3 Textualização..............................................................................................................................208 6.5.3.1 Estilo........................................................................................................................................213 6.5.3.2 A Construção do Parágrafo......................................................................................................213 6.5.3.3. Formas de tratamento .............................................................................................................214 6.5.4. Revisão ......................................................................................................................................214 Conclusão ...................................................................................................................................................217 Apêndice 1 – Observação da Escola.........................................................................................................218 Apêndice 2 – Observação de aulas ...........................................................................................................222 Apêndice 3 – Inquérito ao Delegado de Disciplina .................................................................................226 Apêndice 4 – Mapa de Avaliação Semestral...........................................................................................228 Apêndice 5 – Verbos paradefinir Objectivos .........................................................................................230 Apêndice 6 – Registo de episódios problemáticos ...................................................................................233 Apêndice 7 – Elementos essenciais de um Plano de aula.......................................................................234 Apêndice 8 – Questionário relativo ao funcionamento de Sector Pedagógico.....................................236 Apêndice 9 – Roteiro de Entrevista com o Director Adjunto Pedagógico ..........................................239 Apêndice 10 – Roteiro de Entrevista com o Director Adjunto Pedagógico ........................................241 Apêndice 11 – Roteiro de Entrevista com o Director da Escola ..........................................................243 Apêndice 13 – Ficha de Avaliação das tarefas do Tutor .......................................................................246 Apêndice 14 – Ficha de Avaliação das tarefas do Praticante................................................................248 Apêndice 15 – Exemplo de um Guia de Correcção de testes ...............................................................250 Apêndice 16 – Roteiro de entrevista aos alunos .....................................................................................251 Anexo 1. Modelo de Capa (ocupa uma folha A4)....................................................................................253 Anexo 3- Exemplo de Índice de um Relatório de Prática Pedagógica do Curso de Português...........255 Anexo 4 – Estrutura do Relatório de PPG ..............................................................................................256 Anexo 5 – Estrutura dos Relatórios de Práticas Pedagógicas de ..........................................................260 Anexo 6 – Estrutura do Relatório do Estágio Pedagógico .....................................................................263 Referências Bibliográficas ........................................................................................................................266 4 FICHA TÉCNICA Título: Manual de Práticas e Estágio Pedagógico Autores: Hildizina Norberto Dias, Nobre Roque dos Santos, Paula Cruz, Orlanda Gomane, Ernesto Júnior, Jerónimo Simão Edição: Editora Educar No. de Registo: 5240/RLINLD/2007 ?? Arranjo Gráfico: Editora Educar Tiragem: 1000 exemplares Impressão: . Ano: 2010 - 2ª edição 5 Lista de Siglas e Abreviaturas BD - Banda Desenhada DG - Didáctica Geral Dlit - Didáctica da Literatura DP - Didáctica do Português EP - Estágio Pedagógico LP - Língua Portuguesa MIC - Metodologia de Investigação Científica OP - Oficina Pedagógica P - Pergunta PEA - Processo de Ensino e Aprendizagem PEP – Práticas e Estágio Pedagógico PP - Prática Pedagógica PPdI - Prática Pedagógica de... I PPdII - Prática Pedagógica de ... II PPG - Prática Pedagógica Geral R - Resposta RPP - Relatório de Prática Pedagógica TPC - Trabalho para Casa UP - Universidade Pedagógica 6 Introdução Este Manual foi construído por um grupo de docentes que, habitualmente, trabalham na supervisão das Práticas e Estágio Pedagógico (PEP). A motivação surgiu da necessidade que sentíamos de haver um instrumento orientador que respondesse às principais preocupações que os estudantes praticantes nos colocavam, respectivamente: - Quais são os objectivos das Práticas e do Estágio Pedagógico? - Que princípios orientam as Práticas e o Estágio Pedagógico? - Por que é que eu tenho de ir à escola logo no 1º ano, se ainda tenho muita coisa para aprender nas disciplinas teóricas? - Como é que vou conseguir relacionar os conhecimentos que estou a aprender nas disciplinas teóricas com o que vou observar na escola? - Por que é que tenho de observar uma escola se eu a frequento desde a 1ª classe? - Sabendo que muitos professores das Escolas Primárias têm cursos de 6ª classe mais um ano de formação, será que eu vou aprender alguma coisa com pessoas menos habilitadas que eu? - Eu já sou professor há muitos anos, por que razão tenho de fazer Práticas e Estágio Pedagógico? - Qual é o meu papel como “estudante praticante”? Como me devo comportar na escola? - Como é que vou conhecer a realidade escolar? - Como vou ser avaliado nas Práticas e no Estágio Pedagógico? O objectivo do presente Manual é fornecer subsídios teóricos e práticos imprescindíveis para a compreensão e realização das Práticas e Estágio Pedagógico (PEP), ao longo da Licenciatura. A elaboração do presente Manual justifica-se pela escassez de bibliografia relevante, disponível na UP, sobre a realização de Práticas e Estágio Pedagógico. Durante 7 os primeiros anos de implementação das Práticas Pedagógicas (PP´s) em 2004 e 2005, íamos fornecendo aos estudantes fotocópias de extractos de livros, apontamentos ou fichas sobre os várias conteúdos, mas notávamos as dificuldades dos estudantes em sistematizarem e usarem, de forma relevante, a informação diversificada que iam recebendo, por isso resolvemos sistematizar tal informação e elaborar este Manual. Em 2008 e 2009 realizámos a Reforma Curricular e alterámos alguns aspectos das PP´s, por essa razão tivemos de rever e efectuar uma 2ª edição do Manual. A metodologia usada para a elaboração do Manual foi a pesquisa bibliográfica. A bibliografia usada centrou-se em temas como, supervisão, práticas pedagógicas, estágios pedagógicos, métodos de ensino e aprendizagem, planificação e execução de aulas, técnicas de recolha de dados, avaliação de práticas e estágios pedagógicos e elaboração de relatórios científicos. O quadro teórico para a construção do Manual foi multidisciplinar, tendo-se usado fundamentos teóricos das áreas da Didáctica Geral, Didáctica do Português, Supervisão, Educação/Currículo, Pedagogia e Metodologia de Investigação Científica. A elaboração deste Manual tem a relevância teórica de trazer conhecimento agregado sobre a realização de Práticas e Estágio Pedagógico num Sistema Curricular Integrado de Formação de Professores. Tal sistema tenta romper com a lógica positivista da dissociação entre a teoria e a prática e do reducionismo que considera a Prática e o Estágio Pedagógico como um apêndice que é colocado no fim do curso. A nova proposta de PEP da UP pretende fundar-se numa Epistemologia da Prática, em que os conhecimentos dos futuros professores brotem da prática vivida e experimentada. A relevância prática deste trabalho é o facto de ele se constituir como um instrumento útil e auxiliador para a realização mais compreensiva e organizada das PEP. O Manual é constituído por uma introdução, seis capítulos, apêndices e anexos. O primeiro capítulo explica os objectivos, a noção, as actividades da PEP e as atribuições dos intervenientes nas PEP’s; o segundo capítulo apresenta os métodos, as técnicas e as estratégias usadas nas PP’s; o terceiro capítulo trata das técnicas de recolha e análise de dados; o quarto capítulo aborda os principais fundamentos da planificação e execução de 8 aulas; o quinto capítulo apresenta algumas indicações sobre a avaliação durante as PEP’s; o sexto capítulo explica como devem ser elaborados os Relatórios de Práticas e Estágio Pedagógico (RPEP). Em apêndice, colocamos vários instrumentos de recolha de dados. Em anexo foram colocadas propostas de formas de estruturação dos Relatórios de Práticas e Estágio Pedagógico para que o estudante consiga orientar melhor o seu trabalho. Vejamos de seguida algumas reflexões sobre a profissão docente que nos serviram de inspiração e estímulo para prosseguirmos na nossa missão de ensinar e educar. De acordo com Demos (2005), “ser Professor é cuidar que o aluno aprenda.” O fazer com que alguém aprenda alguma coisa parte do acto de ensinar, que prevê a transmissão de conhecimentos variados de um indivíduo para o outro. Mas já o cuidar apelaa uma atitude por parte de quem ensina, virada para a dedicação e para o empenho deste professor. Entre ensinar e educar existem aspectos comuns e aspectos distintos, e nós pensamos que a valorização da tarefa do professor reside exactamente nesta distinção. Se pensarmos que um dos principais agentes do processo educativo é o professor, seria interessante reflectirmos sobre as principais características que nos ajudam a construir um possível perfil do professor, do educador. Vejamos o seguinte poema de Zuleide Rodrigues (pós-graduada em Educação, PUC-SP). Professor e os muitos codinomes Professor, codinome Educador, Preceptor, Mestre, Orientador, Mediador, Disciplinador, "tio" "tia", não importa. O que conta é que, No contato com seu aluno, 9 Desprende-se de si próprio, De sua individualidade, De sua vida, De seus problemas, De seus anseios. Em cada um desses momentos, Professor é o que Vive a vida de seu discípulo, Que o educa, Que administra, Que gerencia Seus desejos, sonhos, O futuro, A leitura, A escrita, O entendimento dos números, Aquele que orienta um outro ser A elaborar o seu PROJETO DE VIDA! Estamos, sem dúvida, perante um espelho do que é SER PROFESSOR. Este poema ilustra toda a responsabilidade da actividade do professor. E não é pequena se pensarmos que em várias situações da vida recorremos ao professor, quer seja para aprendermos uma matéria nova, quer para pedirmos um conselho, até mesmo para desabafarmos um problema pessoal. Em suma, o professor é um indivíduo multifacetado, no sentido de que desempenha vários papéis na comunidade em que está inserido. Talvez por isso seja realmente imperioso reflectirmos sobre as várias funções que o professor pode assumir, para que possamos ter consciência da importância da imagem que ele apresenta. Clebsch (2006) afirma mesmo que a profissão de professor é única. Segundo o mesmo autor, o professor não é apenas professor, ele exerce várias profissões ao mesmo tempo: ele é médico, porque diagnostica cada aluno que tem à sua frente; ele é arquitecto porque constrói as suas aulas antes de as aplicar; ele é desportista porque se treina regularmente para o exercício da sua tarefa; é ainda um advogado porque defende 10 os conteúdos que vai leccionar; é também um psicólogo porque está sempre pronto a ouvir e apoiar os seus alunos no que eles precisem; ele é jornalista porque baseia os seus conhecimentos em factos concretos e relevantes que permitam a compreensão por parte dos alunos e finalmente, é um bombeiro pois está sempre pronto a socorrer os alunos quando apresentam dúvidas. Por tudo isto, é realmente uma profissão única. E ela vai englobar três áreas principais de actuação: a científica, a pedagógica e a afectiva. Neste texto vamos falar um pouco de cada uma delas. De acordo com Mialaret (1991), o professor deve ter uma formação científico- académica, que diz respeito ao conjunto de disciplinas teóricas de carácter científico que vão fornecer ao futuro professor a competência de que ele necessita para gerir os conteúdos dos programas de ensino do nível com que irá trabalhar. A formação pedagógica diz respeito aos saberes necessários a uma prática competente de leccionação por parte do professor, pois não lhe basta conhecer todo o material científico que lhe é fornecido para dizer que é um profissional competente. A competência, segundo Rios (2002), equivale a uma boa qualidade. Silva (1999:60) considera que as competências têm uma natureza não só cognitiva como também sócio-afectiva e psico-motora que se reflectem num ensino de qualidade. Na mesma óptica, Fazenda (1998:14-16), defende a existência de 4 tipos diferentes de competências: a intuitiva, a intelectiva, a prática e a emocional. A componente pedagógica, por sua vez, é indispensável a qualquer professor, uma vez que ele tem de conhecer a escola e o seu papel na sociedade, os diferentes métodos e técnicas de ensino, um conjunto de questões psicológicas que irão afectar positiva ou negativamente as suas aulas bem como a didáctica das diferentes disciplinas que os professores irão leccionar. No desempenho das suas funções, o professor necessita de garantir uma prática pedagógica eficaz. Isso só é possível se criar nele o hábito de pensar sobre os seus actos, sobre a sua acção pedagógica, desenvolvendo nele um pensamento reflexivo sobre a acção que ele desenvolve. Um dos maiores defensores do paradigma reflexivo foi Schon 11 (1983). Tal paradigma consiste em partir de uma determinada situação (problema ou não), e criar atitudes de questionar, problematizar, sugerir, elaborar e finalmente construir conhecimento. É algo que exige tempo mas só assim se pode problematizar a prática pedagógica. O pensamento reflexivo pode transformar ideias em atitudes indispensáveis à acção docente. A reflexão sobre a acção é sempre a melhoria da qualidade do ensino pois provoca, sempre que necessário, algumas mudanças de metodologia e estratégias de ensino e aprendizagem. Gomez (1992) referindo-se ao pensamento prático do professor, considera-o de importância vital para compreender os processos de ensino-aprendizagem, para desencadear uma mudança radical dos programas de formação de professores e para promover a qualidade do ensino na escola numa perspectiva inovadora. Defende ainda que a consideração do pensamento prático do professor obriga-nos a repensar sobre o papel do professor como profissional e sobre os princípios, os conteúdos e os métodos da sua formação. É nessa prática reflexiva que o professor se tem de abrir à crítica dos que o rodeiam. Para além das competências teóricas e práticas existe a parte emocional e afectiva que tem uma implicação enorme na tarefa do professor. A afectividade ou a emotividade na tarefa docente é largamente defendida por Freire (2003), apud Ferreira e Oliveira (2006:1), ao afirmar que “…ensinar é uma tarefa profissional que além de exigir amorosidade e criatividade, exige competência científica…” A amorosidade e a afectividade fazem também parte das competências do professor, pois são muito importantes para a construção da identidade docente. Lück (2006:2) defende que o professor precisa de dar a sua “aula com alma e não apenas com a cabeça (...) amar o ato de lecionar, amar o que fazemos representa, em última instância, amar a vida e aproveitá-la ao máximo”. O entusiasmo que o professor mostra à frente dos seus alunos já é uma demonstração de amor para com o trabalho e para com os alunos também. Sabemos que qualquer pessoa gosta de saber que é 12 importante, que gostem dela e sobretudo que faz parte da vida das outras pessoas, sobretudo do professor. A visão actual da formação de professores na UP permite-nos verificar que já se tem em conta a maior parte destes aspectos que aqui fomos apresentando. Os currículos de formação de professores guiavam-se, até há largos anos, por um interesse técnico em que se privilegiava um conhecimento fortemente marcado pelo paradigma positivista, no qual o professor devia resolver os problemas da prática por meio da aplicação de teorias e técnicas científicas. A componente prática dos cursos era relegada para segundo plano e colocada, normalmente, no fim do curso. Assistia-se, nas instituições de formação de professores, a muita recusa em participar nos Estágios Pedagógicos e a diferenciação entre os professores de cadeiras teóricas e de orientadores de estágios. Com a evolução constante da ciência e da técnica, a sociedade e o mercado de trabalho exigem que as Universidades tenham também a tarefa de proporcionar ao estudante uma formação profissionalizante que permita a articulação entre o “saber”, o “saber fazer” e o “saber ser e estar”. Importa reafirmar a necessidade de uma articulação efectiva entre a teoria e a prática em todas as actividades docentes. Temos consciência de que a PEP não é uma parte meramenteprática do curso, mas apenas uma primeira aproximação a ela e que deve sempre ser acompanhada de um suporte teórico adequado. O professor precisa de construir diariamente “saberes teóricos e práticos” que lhe permitam desenvolver a autonomia para gerir as várias situações de ensino e aprendizagem. O professor que pretendemos formar na UP deve ser um profissional com qualidade em todos os aspectos, por isso, investimos na construção de competências, habilidades e atitudes necessárias para a profissão docente, tentando articular adequadamente a teoria adquirida na UP com a prática de ensino nas escolas. 13 Capítulo 1 – As Práticas e Estágio Pedagógico na Universidade Pedagógica 1.1. Objectivos, princípios e fases da Prática e Estágio Pedagógico 1. Objectivos gerais A Prática e o Estágio Pedagógico visam: integrar, progressivamente, o estudante em contextos reais de ensino e aprendizagem de uma certa disciplina; contribuir para a formação de um professor que possua saberes teóricos e práticos, um professor que saiba fazer a gestão de um currículo, que saiba diferenciar as aprendizagens e orientar a sua auto-formação; proporcionar a aquisição de habilidades e competências que possibilitem a intervenção, a investigação e a prática de projectos pedagógicos; contribuir com as suas variadas actividades para a formação de um professor que saiba ser autónomo, que saiba diferenciar o ensino da aprendizagem, gerindo de forma adequada as várias situações de ensino e aprendizagem. O estudante praticante deve revelar as seguintes competências, capacidades e habilidades no âmbito do “saber ensinar e aprender”: conhecer conceitos fundamentais da respectiva área científica e dos métodos de trabalho apropriados; saber estruturar o raciocínio de forma lógica e coerente; saber utilizar a sua criatividade de forma autónoma, tentando alcançar novas soluções no contexto em que cada problema se insere, sabendo recorrer às fontes de informação disponíveis para a resolução dos problemas encontrados; 14 usar os instrumentos psicopedagógicos e didácticos para o exercício da sua função de docente; ser capaz de desenvolver a autonomia dos alunos e a sua plena inclusão na sociedade, tendo em conta o carácter complexo e diferenciado das aprendizagens escolares; ser capaz de utilizar de forma integrada, os saberes próprios da sua especialidade e os saberes transversais e multidisciplinares adequados ao respectivo nível e ciclo de ensino; saber utilizar correctamente as técnicas de comunicação e a língua de ensino na sua vertente oral e escrita; ter capacidade de apresentar, de forma oral ou escrita, os seus estudos, conclusões ou propostas; ser capaz de desenvolver estratégias pedagógicas diferenciadas, conducentes ao sucesso e realização de cada aluno no quadro da diversidade cultural e da heterogeneidade dos sujeitos, mobilizando valores, saberes, experiências culturais e sociais dos alunos. O estudante praticante deve revelar as seguintes capacidades e atitudes no âmbito do “saber ser e conviver profissionalmente”: ser assíduo, pontual e ter responsabilidade profissional; integrar-se nos grupos de trabalho da escola de práticas; praticar relações de respeito mútuo entre alunos e professores da escola integrada, bem como entre colegas e supervisores da UP; identificar-se de forma ponderada e respeitar as diferenças culturais e pessoais dos alunos e demais membros da comunidade educativa, valorizando os diferentes saberes e culturas e combatendo os processos de exclusão e de discriminação; valorizar a escola enquanto pólo de desenvolvimento sócio-cultural, participando nos seus projectos; 15 integrar no “projecto educativo” saberes e práticas sociais da comunidade, conferindo-lhes a necessária relevância educativa; comportar-se de forma a respeitar os aspectos éticos e deontológicos inerentes à profissão docente. 1.1.2. Princípios orientadores gerais A análise teórica da prática escolar deve ser o impulsionador das actividades da PEP. Deve ser iniciado o exercício da interdisciplinaridade e o trabalho de reflexão sobre o ensino de uma disciplina a partir de um modelo sistémico, em que as reflexões sobre a disciplina sejam feitas a partir da complexidade que a caracteriza. Os estudantes devem começar a tomar consciência das relações e interpenetrações multidimensionais existentes entre as várias áreas de estudo, de ensino e de aprendizagem das disciplinas para as quais se estão a formar. Os estudantes praticantes devem ser capazes de “mobilizar”, para a observação e reflexão sobre a realidade escolar, conhecimentos adquiridos nas várias disciplinas do curso. A unidade entre a teoria e a prática é imperiosa e deve ser, permanentemente, praticada. As actividades exercidas durante as PEP devem desenvolver a competência de trabalhar na complexidade, na dúvida, no incerto, o treino de agir rapidamente e de associar conhecimentos. A PEP tem de ser um momento de treino do trabalho na totalidade e na complexidade que permita caminhar para a superação de algumas dicotomias que se mantêm na formação inicial de professores como, por exemplo, entre a teoria e a prática e entre o ensino e a pesquisa. 1.1.3. Fases da Prática e Estágio Pedagógico As Práticas Profissionalizantes (Prática e Estágio Pedagógico), na formação de professores, estão organizadas em quatro fases e acompanham todo o percurso da formação inicial de professores na UP, respectivamente: 16 1. Prática Pedagógica Geral (com 80 horas, sendo 48 horas de contacto e 32 horas de estudo); 2. Prática Pedagógica de (uma certa disciplina) I (com 80 horas, sendo 48 horas de contacto e 32 horas de estudo); 3. Prática Pedagógica de (uma certa disciplina) II (com 100 horas, sendo 48 horas de contacto e 52 horas de estudo); 4. Estágio Pedagógico (com 150 horas, sendo 48 de contacto e 102 horas de estudo). No 1º ano, a Prática Pedagógica Geral (PPG) visa preparar os estudantes para observar e analisar criticamente situações escolares nos aspectos organizacionais, pedagógicos e administrativos. Esta disciplina possibilita ainda uma vivência (real ou virtual) no meio escolar em contacto com os alunos, professores e funcionários de modo a criar no estudante da UP hábitos de trabalho, de colaboração e de convivência próprios desse meio. A PPG visa desenvolver as seguintes competências: a. saber viver no meio escolar através do contacto com alunos, professores, pais e encarregados de educação, funcionários e colegas, criando assim, hábitos de colaboração e de convivência próprios desse meio; b. integrar os saberes teóricos das disciplinas com os da prática de ensino observada; c. trabalhar em equipe desenvolvendo o principio de interdisciplinaridade; d. questionar a realidade educativa para nela saber intervir; e. utilizar adequadamente as técnicas e os instrumentos de observação. f. recolher, processar e analisar dados; Os objectivos gerais da PPG são: a. dominar o conceito de escola, suas características, actividades que se desenvolvem e seus intervenientes; 17 b. conhecer a instituição escolar e a comunidade envolvente; c. desenvolver capacidades de análise crítica e criativa, para uma melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem; d. realizar trabalho de campo na instituição escolar nos aspectos organizacionais, pedagógicos e administrativos. No 2º ano, o estudante tem uma Prática Pedagógica relacionada com a disciplina que irá leccionar no futuro (por ex: PP de Português, de Química, de Geografia, etc.). O praticante acompanha os professores da escola nas reuniões pedagógicas e participa na dinâmica da escola e da sala de aula (prepara algum material didáctico, ajuda o professor- orientador a corrigir exercícios de aplicação, observa e pode fazer o acompanhamento da aprendizagem de alguns alunos). Na ausênciade condições de trabalho real nas escolas, a PPd pode ser feita por meio do uso de videos com gravações de aulas. Durante a Prática Pedagógica de ... (PPd), o estudante pode trabalhar em Oficinas Pedagógicas, Laboratórios de Ensino, Estações ou espaços de aprendizagem que poderão ser criados na UP ou na própria Escola Integrada. As competências da PPd são: 1. mobilizar saberes e conhecimentos relacionados com os fundamentos teóricos da Didáctica Específica e do processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina; 2. reflectir, criticamente, sobre os Programas de uma certa disciplina nos diferentes níveis de ensino; 3. produzir materiais didácticos para o ensino da disciplina em que se está a formar; 4. saber trabalhar em equipe, respeitando a individualidade de cada um. Os objectivos da PPd podem ser, de entre vários, os seguintes: 1. observar aspectos gerais de uma aula, em contexto real ou virtual; 18 2. compreender as transformações e as inovações curriculares introduzidas numa certa disciplina; 3. desenvolver capacidades de análise crítica do ensino de uma disciplina; 4. propor e usar materiais didácticos para apoio às aulas. No 3º ano, o estudante começa a planificar e a leccionar micro-aulas e actividades interdisciplinares e transversais. Sob tutoria do professor orientador da escola e do supervisor da UP. As competências a desenvolver são: 1 integrar saberes e conhecimentos relacionados com o processo de ensino- aprendizagem de uma disciplina; 2 organizar o ensino com base em simulações; 3 reflectir, auto-avaliar e reformular o processo de ensino e aprendizagem. Os objectivos da PPd II são: 1. planificar actividades de ensino e aprendizagem considerando as perspectivas interdisciplinares e transversais; 2. realizar situações de ensino, recorrendo a simulações em micro-aulas; 3. utilizar de forma adequada os métodos e procedimentos de ensino; 4. usar várias técnicas e instrumentos de avaliação. No 4º ano, no Estágio Pedagógico (EP), o estudante continua, sob supervisão, a fazer regência e intervenção na escola através da orientação de pequenos Projectos Pedagógicos. Com o Estágio Pedagógico pretende-se que o estudante, desenvolva as seguintes competências: a) planificar e organizar as complexas situações do ensino aprendizagem; b) trabalhar em equipa desenvolvendo o princípio da interdisciplinaridade e construindo projectos educativos comuns; 19 c) desenvolver acções de pesquisa, usando meios tecnológicos actualizados em busca de respostas às questões problemáticas constatadas ao longo do processo de ensino e aprendizagem; d) colaborar na formulação do projecto da escola, nas adaptações curriculares e administração de recursos da escola; e) ser um agente de transmissão de valores cívicos e morais a partir das suas próprias atitudes. O Estágio Pedagógico tem como objectivos gerais: a) desenvolver conhecimentos, habilidades, competências organizacionais, pedagógicas e profissionais gerais bem como atitudes no estudante, futuro professor, no domínio do processo de ensino e aprendizagem da disciplina específica; b) conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e traduzi-los em objectivos de aprendizagem; c) implementar o processo de ensino-aprendizagem de forma criativa e interessante de acordo com as condições reais da escola; d) trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem; e) trabalhar a partir das representações dos alunos; f) utilizar de forma adequada as técnicas e instrumentos de observação e avaliação; g) reflectir, auto-avaliar e reformular o processo desenvolvido, sempre que necessário; 1.2. A noção e o lugar da Prática e Estágio Pedagógico no currículo Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em nichos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam 20 possíveis e – quem sabe? - necessárias. Destruído esse habitat, a vida vai se encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para o fundo da terra, até sumir” (Alves - 1981) Como diz o texto em epígrafe, “profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em nichos ecológicos…”. Na UP, temos de saber criar “nichos ecológicos” favoráveis para que a profissão e a vocação de professor “vicejem e floresçam”. Uma das formas que definimos como florescimento dos conhecimentos, saberes e gosto pela profissão docente foi introduzindo ao longo dos cursos actividades de Práticas e Estágio Pedagógico. Por meio delas, o estudante entra em contacto com a realidade escolar e pode logo no início do curso repensar sobre a vocação que julga ter. Os cursos de formação de professores da UP têm dois eixos fundamentais de formação: as Práticas e Estágio Pedagógico e o desenvolvimento de Pesquisas Educacionais. As PEP devem ser desenvolvidos como experiências verdadeiras de ensino, pesquisa, gestão e avaliação da aprendizagem e avaliação institucional. A Prática e Estágio Pedagógico são actividades que fazem parte da componente educacional dos cursos de formação de professores da UP. Por exemplo, no curso de formação de professores de Português esta actividade está incluída na área científica da Didáctica e é leccionada paralelamente a outras disciplinas da mesma área como, a Didáctica Geral (DG) a Didáctica do Português (DP) e a Metodologia de Investigação (MIC). Muitos estudantes querem saber as razões das PEP não serem desenvolvidas no último ano do curso, depois de terem adquirido todos os conhecimentos teóricos. A UP já teve um sistema curricular sequencial em que o Estágio Pedagógico (hoje denominado Prática Pedagógica) era feito apenas no fim do Bacharelato ou da Licenciatura. O que nos motivou a mudar foi que era grande a separação entre a reflexão teórica e o contacto com a realidade das escolas. Tal facto provocava dissonância e desarticulação entre a teoria e a prática. O tempo de Estágio era muito reduzido (apenas 1 semestre) e não era suficiente para reflectir e relacionar os conhecimentos teóricos com os saberes da prática. 21 Ao colocarmos a Prática Pedagógica no 1º ano, pretendemos que o estudante tenha um contacto directo com a escola logo neste ano. A extensão da PP ao longo do curso visa integrar melhor os conhecimentos teóricos (preceitos, leis, princípios, teorias, modelos e abordagens) com as práticas de ensino desenvolvidas nas escolas pelos professores. No sistema curricular da UP, o aluno deve aprender a desenvolver pesquisas educacionais desde o 1º ano do curso. O seu supervisor irá, progressivamente, iniciá-lo na pesquisa educacional. Vejamos a representação esquemática do sistema integrado entre teoria e prática adoptado pela UP a partir de 2003: Curso Teoria-Prática Ensino-Pesquisa O Sistema Integrado de formação de professores, ao colocar em paralelo as disciplinas teóricas e as actividades práticas, visa formar um profissional que seja capaz 22 de perceber a escola como um sistema de organização complexo, composto por várias redes de relações e estruturas internas e externas. Consideramos que a integração entre as disciplinas teóricas e as actividades práticas vai permitir formar um professor melhor capacitado para trabalhar na complexidade e na incerteza, formando-o também para situações imprevistas ao longo da vida. A reflexão que os estudantes vão começar a fazer, ao observarem a escola na PPG, irá desenvolver neles capacidades de reflexão que lhes permitirão compreender a pertinência do que estão a aprender ao nível teórico bem como, ao se confrontarem com a realidade escolar, poderão pensar em alternativas factíveis para os problemas que estão a observar na escola. A integração entre a teoria e a prática pretende contribuir para a formação de um professor reflexivo que aprende a exercer a sua autonomia, a sua criatividade e que aprende a pesquisar e a gerir as várias situações de ensino e aprendizagemvisto que estas situações de ensino e aprendizagem são imprevisíveis e a formação de professores não se pode contentar em formar professores meramente técnicos, capazes apenas de implementar um certo currículo. Defendemos, na UP, que não chega o professor possuir um saber técnico, ele deve durante a sua formação e desde o 1º ano, possuir um saber prático, um saber empírico, um saber procedimental. Tal saber prático implica, em primeiro lugar, um auto- conhecimento por parte do próprio praticante. Ele deve ter consciência das suas competências, capacidades, habilidades e atitudes para que saiba lidar com os outros (professores da escola-tutores, alunos, direcção da escola e funcionários). O saber prático implica também um conhecimento da escola, dos conteúdos escolares; das formas de planificação e desenvolvimento curricular. A formação de professores na UP visa desenvolver em simultâneo conhecimentos racionais, práticos, instrumentais e formalizados. Pretendemos com o sistema integrado de PEP que os conhecimentos não sejam adquiridos apenas por intermédio das disciplinas, mas que brotem também da acção prática vivida e experimentada. Desejamos que os futuros professores percebam que no processo de ensino e aprendizagem (PEA) 23 não se deve trabalhar apenas ao nível cognitivo (do saber e conhecimento), mas que a construção dos “saberes docentes” deve englobar também saberes ligados ao “saber fazer” e ao “saber ser” que ele aprende na vivência escolar quotidiana. É necessário ter a consciência de que as PEP não são constituídas por actividades meramente práticas (do fazer), elas implicam sobretudo actividades teórico-práticas de reflexão e compreensão dos fenómenos escolares, a fim de formar um professor autónomo e preparado para os desafios do futuro. 1.3. Actividades das Práticas Pedagógicas Durante as PEP serão desenvolvidas duas actividades principais: Trabalho de Campo e Seminários. Regra geral, o Trabalho de Campo será desenvolvido na/s Escola/s Integrada/s e os Seminários serão realizados na UP, mas também poderão, de vez em quando, ser realizados na Escola Integrada, contando com a participação dos respectivos professores. Sempre que as condições não permitirem, ou quando o supervisor quiser fazer uso de outros meios, o Trabalho de Campo será realizado de forma virtual ou indirecta por meio do trabalho de vídeos de ambientes escolares. Em todas as actividades das PP´s, os estudantes devem trabalhar em grupo (de dois, três, quatro, etc.) e devem ser sempre orientados, quer seja nos seminários, tal como no trabalho de campo, pelo supervisor da UP. A supervisão e o trabalho entre os praticantes devem ser marcados por relações de diálogo, de colaboração, de cooperação e de respeito mútuo. 1.3.1. Trabalho de Campo O Trabalho de Campo nas Práticas Pedagógicas pode ser realizado de forma real ou virtual (simulada). Na forma real, o praticante desloca-se a Escola Integrada e trabalha em ambiente escolar verdadeiro. Na forma virtual ou simulada, o praticante permanece na 24 UP e trabalha com vídeos de escolas, de aulas, com entrevistas aos vários actores intervenientes no ambiente escolar. As actividades de Campo estão distribuídas da seguinte forma pelos 4 anos da Licenciatura em Ensino de: Ano Actividades do Trabalho de Campo 1º Ano Actividades da área organizacional (organização da escola; documentação básica da escola: planos, regulamentos, instruções e despachos; circulares, estatutos, livro de turma). Actividades da área pedagógica (documentos pedagógicos: planos de estudo dos ciclos e classes mapas estatísticos de aproveitamentos e de efectivos escolares e docentes; horários, organização das turmas; registo de notas (pautas, livros de exame, cadernetas, etc.); exames; biblioteca). Actividades da área administrativa (documentos da secretaria: processos de funcionários; dos alunos e dos professores; organização do arquivo (pastas de entrada e saída de expediente); inventário de bens móveis e imóveis; organização do processo de contas; organização dos processos de matrículas. Outras actividades (produção escolar; cantina; clube escolar, centro de saúde; núcleos de interesse: HIV/SIDA, Meio ambiente; ligação escola-comunidade. 2º Ano Observação de aulas. Participação em reuniões de planificação. Trabalho em Oficinas Pedagógicas ou Laboratórios de Ensino. Análise e correcção dos cadernos diários. Análise e correcção dos TPC’s. Assistência de reuniões de turma e de encarregados de educação. 3º Ano Observação de aulas dos tutores e de colegas praticantes. Leccionação de micro-aulas Análise de programas e manuais escolares. Acompanhamento e auxílio ao Director de Turma. Planificação de actividades criativas: interdisciplinares e transversais. Concepção e elaboração de recursos didácticos Recolha, classificação e elaboração de instrumentos de avaliação 4º Ano Observação de aulas dos tutores e de colegas praticantes. Leccionação de aulas. Participação em reuniões pedagógicas. Acompanhamento e auxílio ao Director de Turma. Participação em actividades não lectivas (reuniões com encarregados de educação, núcleos de interesse, programas de ligação escola-comunidade) Execução de projectos pedagógicos. 25 1.3.1.1. Trabalho de Campo real O Trabalho de Campo, a ser realizado na Escola Integrada, é orientado pelos supervisores (docentes da UP) auxiliados pelos tutores (professores da Escola). Durante o Trabalho de Campo o estudante-praticante observará a escola e as aulas e participará nas actividades lectivas e não-lectivas (planificação e leccionação das aulas, trabalho dos núcleos de interesse (HIV/SIDA, preservação do meio ambiente), actividades com a comunidade, etc.). A observação da escola contribuirá para o estudante conhecer e compreender a organização administrativa e pedagógica de uma escola. A observação das aulas vai permitir ao praticante conhecer situações concretas de ensino e aprendizagem, verificando, por exemplo, como é que os professores fazem a gestão do tempo de aula, como se controla a disciplina na sala de aula, como se usa o material didáctico, etc.. Ao observar a escola e as aulas, é tarefa do praticante, com o auxílio do supervisor, não só limitar-se a preencher fichas de observação, formulários, diários, etc; ele deve reflectir, questionar, compreender e interpretar a informação sobre o quotidiano escolar. Esse é o momento privilegiado para aplicar os princípios norteadores definidos no programa de PEP como, por exemplo, articular a teoria e à prática; exercer a interdisciplinaridade; associar o ensino à pesquisa, criar projectos pedagógicos e formar professores reflexivos e profissionais. Durante a observação das aulas, o praticante não se pode limitar a observar os professores e a imitar os modelos observados, ele deve também, para além de toda a dimensão técnica necessária para a preparação para o magistério que se efectua através da aprendizagem e uso de métodos e técnicas de ensino (como fazer) a serem usadas na sala de aula, do desenvolvimento de habilidades de manejo da classe, do preenchimento de fichas de observação, da elaboração de questionários e entrevistas, da participação em Oficinas Pedagógicas, Laboratórios de Ensino e em actividades de micro-ensino, o estudante praticante, auxiliado pelo supervisor, deve avançar para a análise crítica e reflexiva da realidade escolar. 26 É necessário alertar que a análise crítica não visa procurar problemas, desvios e falhas da escola, optando por um “criticismo” enorme pois esta atitude pode gerar conflitos e distanciamentos entre a Escola Integrada e a Universidade. A análise crítica visa compreender e interpretar os fenómenos educacionais observados, focalizando a atenção nos factores externos (sócio-culturais, políticos, ideológicos) que rodeiam o currículo, bem como nos elementos internos da organização da própria escola. Tal análise críticavisa também verificar a adequabilidade e o sentido de teorias e preceitos aprendidos nas disciplinas teóricas (Linguística, Literatura, Didáctica e Língua) de forma a articular melhor a teoria com a prática de ensino real. Para além de observar e reflectir sobre a escola e as aulas, o praticante participará em reuniões de planificação de aulas, planificará e leccionará aulas; ajudará o professor- tutor em todas as tarefas práticas por ele desenvolvidas como, por exemplo, correcção de cadernos diários, de TPC’s, de exercícios de aplicação, de composições, etc. O praticante participará também em reuniões de turma e em reuniões com os encarregados de educação. O praticante será também integrado nas actividades de ligação escola- comunidade. Durante o trabalho de campo, os praticantes e os supervisores da UP devem respeitar as normas vigentes na Escola Integrada. No primeiro contacto com a escola, o supervisor deve tomar conhecimento dos Regulamentos e Normas da escola para que os praticantes tenham uma melhor integração na escola. Por exemplo, os praticantes e os supervisores devem: (i) respeitar os horários da escola; (ii) participar nos rituais da escola como, por exemplo, cantar o hino e respeitar o içar da bandeira; (iii) usar a bata dentro da escola; (iv) seguir a dosificação feita pelo grupo de disciplina, etc. Em síntese, poderíamos dizer que ao realizar o Trabalho de Campo o praticante deve ser capaz de conhecer o “mundo concreto” da escola e deve saber valorizar e perceber o sentido das actividades escolares. A apreensão e percepção da realidade escolar acontecerão através da observação, leccionação e participação nas actividades lectivas e não-lectivas. A PEP pretende que o praticante, futuro professor, “aprenda a fazer, fazendo”. Ao contactar com a realidade e o mundo concreto da escola, o praticante 27 vai também aprender que, para ensinar, ele tem de ter em consideração as várias dimensões do ser humano. Tem de considerar a dimensão cognitiva, tão valorizada entre os docentes, mas também tem de perceber que os estudantes devem ser considerados no seu todo, i.e., mente, corpo, espírito, inteligência, emoções, desejos, sentimentos, etc. 1.3.1.2. Trabalho de Campo virtual Um dos maiores problemas, enfrentados durante os primeiros anos (2004 a 2009) em que se implementaram as Práticas Pedagógicas na UP, foi a presença massiva de estudantes-praticantes nas escolas. A referida concentração foi causada pelo aumento inesperado de estudantes na UP e devido a inexistência de um protocolo de cooperação com o Ministério da Educação. Os diferentes cursos da UP iam de forma individual contactando as escolas e colocando os seus estudantes a fazer Práticas sem haver um acordo oficial com essas escolas. O que acontecia é que algumas escolas registavam uma grande enchente e as Direcções das mesmas começaram a não autorizar a realização de PP´s nas suas escolas. De modo a resolver este problema, sugerimos que seria conveniente pensar em formas inovadoras de realizar as práticas sem haver necessidade de deslocação às escolas. Foi nesse âmbito que resolvemos usar novas tecnologias, respectivamente o uso de CDROM interactivo. Produzimos um CDROM em que colocamos filmagens de escolas, fotos de ambientes escolares, documentos escolares vários, manuais, fichas, relatórios, etc.. O CD pode ser usado tanto no Ensino Presencial, Semi-Presencial ou a Distância. Pretendemos com a produção do CD caminhar para uma flexibilização curricular maior em que seja possível usar novas tecnologias, novas metodologias em que professor e estudante assumam novos papéis e novas formas de ensinar e de aprender. O CD pode funcionar como um apoio ao Trabalho de Campo real, como também pode ser usado como o principal recurso didáctico em situações em que o estudante não tem possibilidade de viver no mundo escolar concreto. 28 Os meios de comunicação audiovisuais (video, TV e cinema) e as novas tecnologias de informação e comunicação (computador e internet) são meios muito importantes na educação e formação de professores. Normalmente os estudantes e os professores olham para os meios de comunicação de massas e para as novas tecnologias como meios acessórios nas suas aulas e não os exploram de forma eficaz como conteúdos de ensino. Pretendemos com a nova proposta de Práticas Pedagógicas usar tais recursos e tecnologias como recursos para o ensino e aprendizagem, mas também numa abordagem mais sistémica como conteúdos do ensino. Se os estudantes têm a possibilidade de fazer as PP´s numa Escola Integrada, o supervisor pode usar os CDs como um instrumento que irá complementar o trabalho de Campo e os seminários, modernizando e optimizando o que já vinha sendo realizado anteriormente. Por exemplo, perante a dificuldade de entrevistar os vários actores de uma escola (Directores, Delegado, Director de Classe, etc.) ou de recolher documentos escolares (regulamentos, circulares, livro de turma, etc.) o supervisor pode fazer uso do CD de PPG para ter acesso a tais depoimentos e documentos. No caso de os estudantes não terem possibilidades de se deslocarem a Escola Integrada, o supervisor pode usar o CD como instrumento de conhecimento dos conteúdos principais da PP. O vídeo tem sido usado na vertente de video-formação no micro-ensino como um recurso valioso na formação de professores. Tem sido prática em várias instituições pelo mundo fora o uso de videos para auxiliar na tarefa de supervisão dos estudantes estagiários. Registam-se em video as aulas dadas pelos estagiários e posteriormente fazem-se comentários e reflexões sobre tais aulas com vista a melhoria do ensino. O vídeo tem-se mostrado como uma grande auxiliar na correcção de atitudes e acções incorrectas, como também é útil no desenvolvimento de processos metacognitivos nos futuros professores. No capítulo 2 sobre os “métodos, técnicas e estratégias de formação das PEP” trataremos do uso do video no micro-ensino e no Capítulo 3 “Técnicas de recolha e análise de dados na PEP” trataremos da análise de videos e da leitura de imagens. 29 Para além do uso do vídeo em filmagens de aulas e no micro-ensino (nas Práticas Pedagógicas de...), pretendemos usá-lo também na observação e conhecimento da escola na Pática Pedagógica Geral (PPG). Pretendemos por meio dos videos, fotos e documentos que apresentamos no CD trabalhar de forma interactiva com esta nova tecnologia educativa. O Trabalho de Campo virtual por meio do uso do CD-ROM e de outras ferramentas tecnológicas, na PEP visa adicionar a linguagem digital à linguagem oral e escrita que são comuns até ao presente momento. O estudante vai realizar a observação da escola por meio da leitura de imagens, de fotos, de documentos e de depoimentos registados nos 3 tipos de linguagem, respectivamente oral, escrita e digital. Consideramos que o trabalho campo é virtual na medida em que a actividade decorre em espaços e tempos diferenciados em relação à realidade. É possível fazer actualizações constantes, trabalhar em rede e fora da realidade em que as acções ocorrem. O espaço virtual também se caracteriza pela cibercultura (imagens, iconicidade e sons), pela hipertextualidade do texto e por conter base de dados (documentos, fotos, etc.). Uma das características do espaço virtual é a virtualização dos sentidos (auditivo, táctil e visual); os estudantes não estão nas escolas, mas podem usar os seus sentidos de forma simulada para perceber a realidade que foi filmada. As imagens captadas permitem criar ambientes e realismos de grande valor que serão trabalhadas de forma simulada e virtual. O CD-ROM é um recurso didáctico que devido ao seu carácter multi e hipermediático torna-se um facilitador da aprendizagem visto que ele integra, imagem, luz, som, textos escritos e orais e permite que o estudante faça buscas, pesquisas e estabeleça links quando estão ligados à internet. Apesar de toda a riquezade informações presentes no CD ele não irá substituir o papel do professor. Este deve planificar actividades de ensino e aprendizagem que permitam o uso efectivo das informações. Conforme Kenski (2003), a linguagem digital provoca o aparecimento de “novos comportamentos de aprendizagem, novas racionalidades, novos estímulos perceptivos” (p.33). O mesmo autor afirma que “a tecnologia digital rompe com a narrativa contínua e sequenciada dos textos escritos e se 30 apresenta como um fenômeno descontínuo. Sua temporalidade e sua espacialidade, expressas em imagens e textos nas telas, estão directamente relacionadas ao momento da sua apresentação”. Com o uso do CD-ROM os docentes terão de mudar o seu papel e serem mediadores da aprendizagem. Segundo Laurillard (1995), apud Kenski (2003:46), as novas tecnologias fazem com o professor assuma 4 papéis diferentes: 1. contador de histórias, podendo ser substituído por um video ou uma teleconferência; 2. negociador, fazendo o ensino por meio da discussão, da leitura de textos, de livros ou assistir um filme; 3. ordenador de conhecimentos dos estudantes que ficam a pesquisar e a aprender por descoberta por meio dos recursos mulmidiáticos; 4. colaborador, trabalhando e interagindo com os estudantes na busca e troca de informações. Na aprendizagem interactiva não há desordem, apesar de se privilegiar um ensino que não é sequencial e fixo e em que o estudante pode buscar as informações por si próprio. A educação e a formação efectuam-se por meio da comunicação e interacção entre a Universidade e outras instituições escolares, convivendo com elas de forma integrada através do uso de novas tecnologias. A Universidade deve, assim, criar condições para que os docentes e estudantes aprendam a usar as novas tecnologias educativas e que para além do saber científico e pedagógico possa “ser agente, produtor, operador e crítico dessas novas educações mediadas pelas tecnologias electrônicas de comunicação e informação” (Kenski - 2003:49-50). Os novos recursos digitais obrigam-nos a mudar a nossa maneira de ensinar e abrem a possibilidade de trazer a escola integrada para a tela do computador e permitir que o professor e o estudante, mesmo estando longe um do outro, possam dialogar e desenvolver a sua autonomia. 31 Ao trabalharmos com registo de imagens (videos) trazemos para a escola um novo tipo de leitura a que não estávamos habituados: a leitura de imagens. O registo das imagens em video permite que o estudante observe a escola de vários ângulos, podendo ver a imagem quantas vezes forem necessárias para descrevê-la, interpretá-la e criticá-la. Como nos diz Kenski (2003: 62), as novas tecnologias modificam a leitura a que estavamos habituados. Em vez de textos de compêndios, usam-se “textos curtos, cartazes, intercalados com imagens, desenhos, filmes, literatura” depoimentos, entrevistas, fotografias e textos clássicos. A escola tem a missão de formar leitores para outras concepções de linguagem e de escrita em que há uma “mediação entre o oral, o escrito, o imagético e o digital, o hipertexto” (ibidem). O texto digital ou hipertexto é um caminho para se ter uma dada informação em que se usam vários recursos tais como: “animação, desenho, som, filmes, caminhos de navegação por uma página da internet, vídeo e teleconferência em tempo real, simulações, jogos, separados ou mixados ao mesmo tempo” (Kenski – 2003:62 e 63). Os estudantes ao realizarem o Trabalho de Campo com as informações dos CD´s podem associar as informações presentes em vários campos. Por exemplo, para descrever uma escola um estudante pode, em primeiro lugar, assistir a um video e depois ver as fotos e ler um relatório de PP´s; no entanto, um outro estudante pode seguir um caminho diferente, começando por ver as fotos, ouvir um depoimento, analisar uma ficha de observação, começar a escrever o relatório e depois ver um video de uma escola filmada; um terceiro estudante pode, em vez de descrever uma única escola, observar três escolas e compará-las. É do nosso interesse colocar o CD na rede da Internet e colocar Links com outros sites sobre Práticas Pedagógicas, dando assim a possibilidade do estudante buscar, pesquisar e criar outras ligações entre várias informações. Como diz Kenski (2003: 63), o “browser (programa por meio do qual se entra e navega nas páginas da Internet) interage com o texto e com o leitor. Torna possível relacionar o bloco de informações de um documento com outros textos que o navegador já leu e que estão arquivados na memória do computador. 32 Pode encaminhar também para novos textos nas redes, para outras explicações sobre o mesmo tema, ou para outros temas.” Os estudantes passam a ter maior autonomia e liberdade para aprender noutros ambientes. O estudante pode, com a ajuda do professor traçar os seus caminhos para o conhecimento da realidade escolar. Os estudantes podem buscar informações que ultrapassam os limites da sala de aulas convencional. Para que seja possível conhecer a realidade escolar na PEP, é necessário, para além da produção de videos, fotos, links, textos clássicos, entrevistas, etc., tal como afirma Kenski (2003:70-90), que se tenham em consideração os seguintes factores: 1. criação de infra-estrutura tecnológica (computadores, softwares e redes); 2. nova lógica para o ensino (alteração dos papéis dos professores e estudantes, análise crítca de informações, uso de manipulação táctil, intuição, emoção, abordagens inter e transdisciplinares); 3. impactos na concretização do projecto pedagógico (novos princípios pedagógicos, nova organização escolar, novas práticas educativas); 4. formação adequada de professores (conhecimento de novas tecnologias, aproveitamento criativo de recursos dos computadores e das redes); 5. nova gestão das instituições educacionais (reorganização dos estudantes, turmas, reformulação do espaço físico de ensino e aprendizagem, i.e., criação de salas ambientes, laboratórios, mediatecas, etc.; novas formas mais rápidas de decisão pedagógica; nova administração do tempo docentes, contabilização do trabalho virtual). O Trabalho de Campo Virtual obriga-nos a pensar sobre as etapas necessárias para a implementação de novas tecnologias de informação e comunicação na educação. Souza (2002) sugere que o uso das TIC´s em educação deve passar por 6 fases: 1. sensibilização para a informática educacional; 2. capacitação técnica; 33 3. capacitação em recursos informáticos; 4. workshops disciplinares e interdisciplinares; 5. grupo de implementação; 6. implementação institucional. Achamos que a UP encontra-se no caminho certo, pois tem envidado esforços para introduzir e implementar as TIC´s em todas as suas Delegações, apesar de ainda enfrentar problemas ao nível da capacitação técnica e em recursos informáticos. Esta fragilidade não nos pode impedir de implementar o uso das TIC´s nas PP´s e no EP. Para além da capacitação técnica temos de enfrentar o desafio de passar de um “ensino da informática para o ensino pela informática”1. Como se pode ver é um grande desafio para a UP realizar o Trabalho de Campo nas PP´s, usando Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC’s). Nos capítulos posteriores explicaremos com mais pormenores como trabalhar com os CD´s. 1.3.2. Seminários Os seminários são encontros de reflexão, discussão e problematização de vários assuntos, com vista a estabelecer uma melhor articulação entre a teoria e a prática. Nas PP´s distinguimos dois tipos de seminários: Seminários Práticos e Seminários Pedagógicos. Os Seminários Práticos destinam-se a: 1) planificar e organizar o Trabalho de Campo; 2) promover a análise crítica e discussão do Trabalho de Campo em desenvolvimento na escola relativo à observação da escola, das aulas e de todas outras situações pedagógicas que exijam reflexão e intervenção. 1 Expressão usada por Souza,Sérgio A. F.. “Educação e Informática: temas transversais e uma proposta de implementação” . Conect@. www.revistaconecta.com 2002, p.10, extraído em 3 de Junho de 2010. 34 Os Seminários Pedagógicos têm o objectivo de: 1) aprofundar e consolidar conhecimentos adquiridos nas disciplinas psicopedagógicas e didácticas; 2) reavivar e reflectir sobre alguns assuntos teóricos necessários para a compreensão e interpretação dos fenómenos, dos factos e das ocorrências da prática de ensino. 1.3.2.1. Orientações gerais, temas e actividades dos seminários Durante os seminários, os estudantes devem trabalhar em grupo. Os supervisores devem apresentar no início do ano a programação dos seminários para todo o semestre e atribuir tarefas específicas para cada grupo. Os supervisores deverão, com a colaboração dos estudantes, indicar os temas básicos para cada PEP e fornecer aos estudantes a bibliografia básica necessária para a orientação de cada seminário. O Programa de PEP contém os temas principais que devem ser abordados em cada ano, nomeadamente: Ano Temas e actividades dos seminários 1º Ano 1) Seminários Práticos - Planificação e análise crítica do Trabalho de Campo; - Redacção de memórias descritivas/ narrativas autobiográficas sobre a organização e administração escolar (estudantes com experiência de ensino). 2) Seminários Pedagógicos - Observação (métodos, técnicas, instrumentos); - Sistema Nacional de Educação; - Planificação do PEA; - Organização e administração de uma escola; - Funções das várias estruturas administrativas e pedagógicas da escola; - Actividades não-lectivas (extracurriculares). 2º Ano 1) Seminários Práticos - Planificação e análise crítica do Trabalho de Campo; 35 - Concepção de pequenos Projectos pedagógicos; - Redacção de memórias descritivas/ narrativas autobiográficas sobre a planificação de aulas e o PEA em geral (estudantes com experiência de ensino); - Trabalho em Oficinas Pedagógicas e Laboratórios de Ensino. 2) Seminários Pedagógicos - Estudo dos Programas e dos manuais escolares; - Análise do trabalho docente ; - Elaboração de material didáctico; - Métodos de ensino e aprendizagem; - Avaliação do PEA. 3º Ano 1) Seminários práticos - Planificação e análise crítica do Trabalho de Campo; - Estudo dos programas escolares; - Análise dos livros e manuais escolares; - Planificação de unidades didácticas e de aulas; - Discussão e análise de planos de lição; - Reflexão e análise crítica das micro-aulas leccionadas; - Elaboração de material didáctico para as aulas (textos de apoio, resumos, apontamentos, fichas, modelos, materiais audiovisuais, etc.). 2) Seminários Pedagógicos - Planificação do PEA; - Planificação de micro-aulas; - Avaliação da aprendizagem; - Métodos de ensino; - Trabalho de Projecto. 4º ano 1) Seminários Práticos - Planificação e análise crítica do Trabalho de Campo; - Estudo dos programas escolares; - Análise dos livros e manuais escolares; - Planificação de unidades didácticas e de aulas; - Discussão e análise de planos de lição; - Reflexão e análise crítica das aulas leccionadas; - Elaboração de material didáctico para as aulas (textos de apoio, resumos, apontamentos, fichas, modelos, materiais audiovisuais, etc.); - Concepção de Projectos Pedagógicos. 2) Seminários Pedagógicos - Planificação do PEA; - Planificação de aulas; - Avaliação da aprendizagem; - Métodos de ensino de L2; - Trabalho de Projecto. 36 1.3.2.2. Orientação de Seminários Pedagógicos Uma das maiores preocupações, sobretudo dos estudantes do 1º ano é a realização de um seminário subordinado a temas científicos. Interrogam-nos amiúde: Como fazer um seminário? Qual é o meu papel? Como preparar e apresentar o seminário? Que material devo levar para o seminário? Como organizar o seminário? Vejamos, de seguida, algumas normas que poderão auxiliar o estudante na orientação de um seminário de reflexão sobre um dado tema. 1.3.2.2.1. Definição O seminário é um método de estudo e actividade didáctica específica de cursos universitários. Os seminários pedagógicos são actividades planificadas, de intercâmbio, nas quais o estudante praticante apresenta, individualmente ou em grupo, estudos efectuados sobre determinado tema, com carácter psico- pedagógico e didáctico. O seminário pedagógico é agendado pelo supervisor e decorre na UP ou na Escola Integrada. Podem participar nos seminários pedagógicos os intervenientes (supervisores, estudantes e tutores) das Práticas Pedagógicas de uma determinada disciplina. (U.P. Regulamento Académico, Artigo 57). 1.3.2.2.2. Objectivos O objectivo dos seminários pedagógicos é levar os participantes a uma reflexão aprofundada de determinado problema científico, do E-A de uma disciplina ou da Educação, a partir de textos e em equipa. Para se alcançar esse objectivo, o seminário deve levar todos os participantes: a um contacto com o texto básico, criando condições para uma análise rigorosa e radical do seu conteúdo; 37 a compreensão da mensagem central do texto, do seu conteúdo temático; a interpretação desse conteúdo, ou seja, a uma compreensão da mensagem de uma perspectiva de situação de julgamento e de crítica da mensagem; a discussão da problemática presente explícita ou implícita no texto. 1.3.2.2.3. Preparação do seminário Em conformidade com Severino (2002:69), a preparação é feita em três abordagens que se complementam: (a) a leitura da documentação do texto básico e do texto complementar; (b) a leitura analítica do texto básico; (c) a leitura da documentação do texto-roteiro do seminário. Para facilitar a participação de todos, o coordenador do seminário fornece, dias antes do seminário, um texto-roteiro que poderá assumir uma das seguintes formas: a) Texto-roteiro didáctico Severino (2002:64) considera que o texto-roteiro tem o seguinte conteúdo: apresentação temática do seminário; breve visão de conjunto da unidade e esquema geral do texto. O mesmo autor afirma também o seguinte: Quanto à apresentação temática do seminário, observe-se que não se trata da análise temática como um todo, mas tal qual é apresentado pelo texto, o responsável recorre à primeira etapa dessa análise; A visão de conjunto refere-se às várias etapas do texto estudado. Não se trata de um resumo, uma síntese lógica do raciocínio, mas simplesmente são enunciados os vários assuntos abordados na unidade. O esquema geral do texto, o seu plano arquitectónico, toma a forma de um índice dos vários tópicos abordados. Para isso, divide-se o texto como se 38 intitulassem os vários temas tratados, o que facilitará aos demais participantes a sua posição diante do mesmo quando da preparação da leitura. Contextualização: situação da unidade estudada no texto de onde é retirada, na obra do autor, assim como no seu pensamento geral e no contexto histórico- cultural em que o autor do texto se encontrava. O responsável pelo seminário recorre a técnicas de análise textual e à análise interpretativa (a compreensão do pensamento geral do autor favorece a compreensão do texto estudado). Elaboração dos principais conceitos, ideias e doutrinas que tenham relevância no texto de acordo com a técnica de documentação. Note-se que a pesquisa é feita sobre outras fontes que visam tornar a compreensão do texto acessível. Se o conceito já se encontra suficientemente esclarecido no texto, é desnecessário redefini-lo, excepto se isso representa maior explicitação. Roteiro de leitura com síntese dos momentos lógicos essenciais do texto. Essa etapa é feita de acordo com a análise temática e compõe-se fundamentalmente da exposição sintetizada do raciocínio do autor. A exposição será resumida, mais indicativa do que explicativa: não substitui a leitura do texto básico, pelo contrário, exige-a. A finalidade do roteiro é permitir a comparação das várias compreensões
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