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22 Leishmaníase tegumentar difusaLeishmaníase tegumentar difusa Forma clínica de leishmaní- ase, atribuída à Leishmania pifanoi, caracterizada por seu acentuado dermotropismo e tendência à disseminação das lesões cutâneas, que, em geral, não se ulceram. Como pode ocorrer também com L. amazonensis e com L. mexicana, pensa-se que esteja relacionada com as condições imunológicos do hospedeiro. A sorologia mostra reduzida produção de anticorpos e a imunidade celular está ausente. Mas, para outras infecções, a resposta imunológica é normal. 23 Leishmaníase tegumentar difusaLeishmaníase tegumentar difusa No rosto, as lesões infiltrativas são disseminadas e encontram-se sobretudo nas orelhas, lembrando a lepra lepromatosa. Isso tem levado muitos pacien- tes a serem encaminhados para os serviços de hanseníase. Mas o diagnóstico é fácil, desde que suspeitado, em vista da abundância de leishmânias nas lesões. A evolução é crônica e muito lenta. Há grande proliferação de histiócitos, abarrotados de para- sitos, que seguem aumentando ao longo dos anos. O tratamento dá bons resultados nas formas incipientes. Os casos têm sido descritos na Venezuela e em outros países da América. No Brasil, foram vistos na Amazônia, no Nordeste e na Bahia. 24 Leituras complementares MARTINS, A.V. – American Sand Flies (Diptera: Psicodidae, Phlebotominae). Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Ciências, 1978 [195 páginas]. PESSOA, S. B. – Endemias Parasitárias da Zona Rural Brasileira. São Paulo, Fundo Editorial Procienx, 1963 [780 páginas]. PESSOA, S. B. & MARTINS, A. V. – Parasitologia Médica. 9a ed. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1974. REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2002 [380 páginas]. REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Guanabara- -Koogan, 2001 [856 páginas]. WORLD HEALTH ORGANIZATION – Basic Laboratory Methods in Medical Parasitology. Geneva, WHO, 1991. 1 PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA 4a. LEISHMANÍASE VISCERAL4a. LEISHMANÍASE VISCERAL Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro 2 LEISHMANÍASE VISCERAL O calazar no Brasil 3 Leishmaníase visceral no Brasil A leishmaníase visceral, também denominada calazar, é endêmica em várias partes do mundo e pode dar lugar a epidemias. O quadro clínico carac- teriza-se por febre irregular, hépato-esplenomegalia e anemia. Na fase terminal, se não for tratada, produz caquexia e mortalidade elevada. Ela tem por causa flage- lados do complexo “L. donovani”, cuja nomencla- tura varia segundo diferen- tes autores. A Leishmania donovani e a Leishmania infantum, ambas do Velho Mundo, são espécies bem caracterizadas. No Brasil, costuma-se dar o nome de Leishmania chagasi ao agente do calazar local, ainda que seja sabidamente importado da Europa. Os flagelados do complexo L. donovani estão adaptados para viver a 37oC, o que lhes permite infectar as vísceras e estruturas profundas. Esse tropismo explica a patologia da doença e sua gravidade. 4 Leishmaníase visceralLeishmaníase visceral Sob a forma de amas- tigotas, os parasitos crescem sobretudo nas células de Kupffer do fígado e nas do sistema fagocítico mononuclear do baço, da medula óssea e dos linfonodos. Também crescem nos pulmões, nos rins, nas supra-renais, nos intesti- nos e na pele. As células hospedeiras destruídas permitem a disseminação dos para- sitos, que podem ser vis- tos circulando no sangue, inclusive no interior de monócitos. Macrófago abarrotado de leishmânias em multiplicação. 5 Leishmaníase visceralLeishmaníase visceral Inseto flebotomíneo do gênero Lutzomyia Os transmissores são insetos dípteros da subfamília Phlebo- tominae e do gênero Lutzomyia. Os flebotomíneos infectam-se quando sugam o sangue de pessoas ou animais parasita- dos. No intestino do inseto, a multiplicação sob a forma promastigota é intensa; mor- mente se, depois, esse inseto fizer um repasto com sucos de plantas. Dias depois, ao picar novamente, esses flebotomíneos inoculam seus parasitos (as formas promastigotas metacíclicas) nas pessoas, que, se forem suscetíveis, contraem a leishmaníase visceral. 6 Patologia da leishmaníase visceral A resposta inicial do organismo à inoculação dos parasitos é um processo inflamatório local com produ- ção de pápula ou nódulo de base endurecida. Esse processo pode evoluir para a cura, assegurando certa imunidade ao paciente, ou regredir localmente depois da disseminação da infecção. Nesse caso, a imunidade humoral tende a produzir uma hipergamaglobulinemia de IgG, indicando haver distúrbio do sistema imunológico. A reação de Montenegro positiva indica que há, também, imunidade celular. A esplenomegalia, a hepato- megalia e as alterações da medula óssea são devidas à hiperplasia e hipertrofia do sistema macrofágico, que vão comprimindo e substituindo as estruturas normais. Anemia, leucopenia e pla- quetopenia são os resultados desse processo. Os histiócitos, em lugar de protegerem o organismo do hospedeiro, passam a servir de meio de cultura para as leishmânias. Em conseqüência, a enorme produção de antígenos parasi- tários irá provocar tolerância imunológica. 7 Variedades de leishmaníase visceral Paciente com acentuada hepatoesplenomegalia e emagrecimento. Clínica e epidemiologicamente há certas diferenças a registrar: A leishmaníase visceral ou calazar indiano, devido à Leishmania dono- vani, afeta quase sempre adultos (5 a 6%, apenas, são crianças ou adolescentes). Suas lesões são riquíssimas em parasitos, facilitando a infecção dos flebótomos. Não há reservatórios animais, mas costuma haver epidemias. O calazar infantil do Mediterrâneo e do Brasil, causado por L. infantum (= L. chagasi), só afeta adultos em 1 ou 2% dos casos, tendo como reser- vatórios o cão doméstico e outros canídeos. Ocorre também na África Oriental, China e Sudeste da Ásia. 8 Leishmaníase visceral no Brasil Crianças de Sobral, CE, com calazar por Leishmania infantum O período de incubação é de 2 a 4 meses, após o que forma-se uma pápula no local da picada (em geral no rosto) que desaparece antes de surgirem os demais sintomas. O início clínico pode ser lento e progressivo, com adinamia, anorexia e palidez, e, mais tarde, febre. Mas pode começar de forma abrupta, com febre alta, contínua ou não. A anemia e a desnutrição aumentam com o tempo. Podem ocorrer hemorragias. A esplenomegalia é a 2a manifestação em importância. O baço endurecido chega a ultrapassar a cicatriz umbilical. O fígado também aumenta de tamanho. A desnutrição progressiva leva à caquexia, com morte em curto ou em médio prazo nos casos não-tratados. 9 Diagnóstico e tratamento do calazarDiagnóstico e tratamento do calazar A pesquisa de parasitos é o método básico para fazer o diagnóstico. As leishmânias podem ser encontradas em aspirado de medula óssea, do baço ou de linfonodos, sendo a punção esternal (ou a punção da crista ilíaca, em crianças) as preferidas. Fazer um esfregaço em lâmina adequada, fixá-lo e corá-lo. Examinar ao micros- cópio. Os métodos sorológicos (ELISA, a imunoeletroforese ou a imunofluorescência indi- reta, servem para inquéritos ou para quando não forem encontrados os parasitos. Os tratamentos de primeira linha são feitos com antimo- niais pentavalentes, de uso prolongado e administração parenteral: Antimoniato de meglumine (ou antimoniato de N-metil- glucamina). Estibogluconato