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cApítulo 45
INCONTINÊNCIA URINÁRIA
Luciano Silveira Pinheiro
Lia Pontes de Melo
Foi realizada cistopexia, com correção da 
abertura aumentada do ângulo uretrovesical pos-
terior (cirurgia de Kelly-Kennedy), amputação do 
colo uterino e perineoplastia com rafia e aproxi-
mação dos elevadores do ânus (cirurgia de Man-
chester-Fothergill). Retornou após 10 dias para 
avaliação ambulatorial sem queixas relevantes.
B- OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
1. Definir incontinência urinária e conhecer os 
fatores de risco.
2. Classificar os tipos de incontinência urinária.
3. Realizar a propedêutica da incontinência.
4. Estabelecer as estratégias terapêuticas da 
incontinência urinária.
C- ABORDAGEM TEMÁTICA
1. Introdução
A incontinência urinária é qualquer con-
dição na qual ocorre perda involuntária de uri-
na através do meato uretral, associada ou não 
à urgência miccional (desejo intenso de urinar), 
podendo manifestar-se como sinal, sintoma ou 
representar condição específica, e ser objetiva-
mente demonstrada. Ocorrem duas a três vezes 
mais nas mulheres do que nos homens, sendo 
uma das principais queixas em ambulatórios e 
consultórios de Ginecologia, apresentando cau-
sa multivariada. Essa desagradável situação, em 
um grande número de vezes, afeta significati-
vamente a vida da mulher, causando problema 
higiênico, tornando-se elemento de exclusão 
social e interferindo na saúde física, mental e 
consequentemente na qualidade de vida.
A- PROBLEMA 
L.P., 62 anos, G6, P5(vaginais), A0, tabagista, 
procedente de Fortaleza, procurou um ambulatório 
de Ginecologia com queixa de perda urinária aos 
esforços e exteriorização do útero. Informou que 
muitas vezes se sente incomodada e em situação 
desconfortável, ao perceber perda urinária involun-
tária ao tossir, espirrar, quando ri intensamente e 
até ao por o seu neto menor nos braços. Devido às 
crises de tosse (fumante), também vem perceben-
do a progressiva exteriorização do útero.
Ao exame ginecológico foi observada que-
da da parede vaginal anterior, atingindo o anel hi-
menal ao esforço, acompanhada da descida do 
colo uterino, que ultrapassava esse sítio anatômico, 
apresentando-se epitelizado e com orifício externo 
em fenda transversa (figura 1, sem efetuar esforço). 
À manobra de Valsalva (anatomista italiano, Imola 
1666-1723), não foi percebida perda urinária invo-
luntária. Ao exame vaginal bidigital (toque), confir-
mou-se que se tratava de alongamento do colo ute-
rino, o corpo uterino encontrando-se intra-pélvico.
Hipótese diagnóstica: cistocele grau 2 + 
rotura perineal incompleta + alongamento hi-
pertrófico do colo uterino. 
 
Figura 1. Cistocele grau 2 e alongamento hipertrófico 
do colo uterino. Arquivo do primeiro autor. 
318 Faculdade christus
Capítulo 45
Segundo a Sociedade Internacional de 
Continência (ICS), as modalidades mais encon-
tradiças na mulher são a incontinência urinária 
de esforço (IUE), a bexiga hiperativa idiopática e 
a incontinência urinária mista. Na IUE, observa-
-se perda de urina aos esforços, ao tossir, es-
pirrar, pular, caminhar rapidamente, mudar de 
decúbito e ao rir intensamente. É o tipo mais 
comum no sexo feminino, com prevalência de 
mais de 50%, a depender do grupo populacio-
nal arrolado e dos critérios utilizados para diag-
nóstico. A bexiga hiperativa se caracteriza por 
urgência miccional, acompanhada por vezes 
com polaciúria, nictúria e urge-incontinência. 
São observadas contrações involuntárias não 
inibidas do detrusor quando da fase de enchi-
mento da bexiga, provocando a sensação de 
urgência miccional, desencadeando a abertura 
do esfíncter uretral, resultando saída de urina 
com baixo volume intravesical. Na incontinên-
cia urinária mista, observa-se a combinação dos 
sintomas da IUE com os da bexiga hiperativa.
Os quadros clínicos menos comuns de 
eliminação involuntária de urina compreen-
dem a sobredistensão da bexiga, ocasionando 
transbordamento (útero gravídico encarcerado 
e prolapso uterino total) e as fístulas genituri-
nárias. Nas fístulas geniturinárias, a eliminação 
de urina é feita de maneira contínua. As fístulas 
podem ser congênitas ou surgirem após cirur-
gias pélvicas (histerectomia abdominal, histe-
rectomia vaginal e cistopexia) ou pós-irradiação 
na abordagem de cânceres do endométrio e do 
colo uterino. As fístulas também são determi-
nadas por tocotraumatismos (inadequada as-
sistência ao parto, período expulsivo prolonga-
do, parto a forceps, lesão de bexiga e de ureter 
quando da realização de cesariana e pós-rotura 
uterina).
2. Anatomia 
A bexiga é um órgão músculo-elástico 
capaz de apresentar grande distensão, desem-
penhando função de reservatório passivo ao 
acumular urina (400 a 500mL) e órgão ativo 
ao expelí-la através de contrações do comple-
xo de fibras musculares lisas, conhecido como 
músculo detrussor. É dividida em corpo e base, 
que são separados pelos orifícios ureterais. Na 
base, localiza-se o trígono vesical, constituído 
de musculatura lisa diferente do músculo de-
trussor, cujos limites superiores são os orifícios 
ureterais e um inferior, a uretra proximal. Essa 
região anatômica é também conhecida por 
triângulo de Lieutaud, constituindo o espaço 
triangular da face interna da bexiga, limitado 
pelos dois orifícios ureterais e o colo vesical. 
O mecanismo de continência urinária é 
centrado na uretra proximal e na junção ure-
trovesical, através de agentes que regulam o 
fechamento da uretra, suportam a bexiga e a 
junção uretrovesical. Esses agentes ou fatores 
podem ser agrupados em extrínsecos: os mús-
culos levantadores do ânus, a fascia endopélvi-
ca e suas fixações às paredes laterais da pelve e 
à uretra. E os intrínsecos, que são os músculos 
estriados e lisos da parede uretral (esfíncteres 
interno e externo da uretra), a congestão vascu-
lar do plexo venoso da submucosa, a coaptação 
epitelial das pregas do revestimento uretral, a 
elasticidade uretral e o tônus da uretra mediado 
pelo sistema nervoso simpático.
Outro aspecto importante a ser consi-
derado é a posição da bexiga em mulheres 
continentes na situação de repouso, sua base 
situando-se acima dos ramos inferiores da sínfi-
se púbica. Assim, pode-se considerar a medida 
dos ângulos uretrovesical posterior e de incli-
nação uretral, na avaliação da paciente com in-
continência. Esses ângulos relacionam a posição 
da uretra com a parede posterior da bexiga e 
com o bordo inferior do púbis, respectivamen-
te. O ângulo uretrovesical posterior mede na 
mulher continente 90 a 100 graus e na mu-
lher com incontinência urinária, valores muito 
maiores, ou até mesmo chegando a desapare-
cer. O ângulo de inclinação uretral tem abertu-
ra póstero-superior, sendo na prática avaliado 
como constituído por duas linhas: a primeira 
acompanhando a direção do terço proximal da 
uretra e a segunda, perpendicular, tangencian-
do o bordo inferior do púbis, considerando-se 
a paciente em posição ortostática. Na mulher 
continente, os valores do ângulo de inclinação 
uretral variam de 10 a 30 graus. Na mulher com 
incontinência urinária, os valores superam de 
muito esses limites.
A inervação do trato urinário inferior é 
proveniente do sistema nervoso autônomo 
simpático, parassimpático e dos neurônios do 
sistema nervoso somático. O sistema nervoso 
simpático tem origem na medula espinhal tó-
raco-lombar (T1-L2 ou L3) e possui a adrenalina 
como principal neurotransmissor, agindo sobre 
os receptores alfa e beta-adrenérgicos, permi-
 319 Faculdade christus
 Capítulo 45
tindo assim o enchimento vesical. Os recepto-
res alfa estão presentes na musculatura lisa da 
uretra e no colo vesical, aumentando o tônus 
muscular e os betarreceptores se localizando no 
corpo vesical, promovendo o relaxamento.O sistema nervoso parassimpático se ori-
gina da medula espinhal sacral (S2-S4), tendo 
como neurotransmissor a acetilcolina, sendo 
responsável pela ativação do músculo detrusor 
e consequentemente pelo esvaziamento vesical. 
O sistema nervoso somático possui a mesma 
origem do sistema parassimpático, inervando o 
assoalho pélvico e o esfíncter externo da uretra, 
desempenhando apenas função periférica no 
controle neurológico do trato urinário inferior.
3. Fisiologia 
Durante a fase de enchimento vesical, me-
diada pelo sistema nervoso simpático, o músculo 
detrusor permanece inativo, permitindo a disten-
são da bexiga sem grande alteração de pressão 
e concomitantemente ocorrendo o aumento do 
tônus uretral, facilitando o fechamento uretral e 
o mecanismo de continência (figura 2). Quando 
o volume de urina contido na bexiga atinge de-
terminado valor, os receptores de estiramento-
-volume localizados na parede vesical são sensi-
bilizados e enviam sinais ao cérebro para o início 
da micção. O mecanismo de micção é mediado 
pelo sistema nervoso parassimpático, ativando o 
músculo detrusor e pelo relaxamento voluntário 
do assoalho pélvico e da uretra. É importante 
ressaltar que o volume limiar para sensibilizar 
os receptores de estiramento-volume é variável, 
dependendo das vias aferentes sensoriais e dos 
centros superiores do sistema nervoso. Assim, o 
limiar de micção pode ser alterado ou reajustado 
por várias influências. 
A inervação parassimpática, como relata-
do acima, está concentrada em grande parte da 
bexiga, o neurotransmissor acetilcolina sendo 
responsável pela contração do detrusor. As fibras 
simpáticas estão distribuídas na musculatura lisa 
da bexiga e da uretra. O sistema alfa-adrenérgico 
encontra-se predominantemente na uretra, os 
seus impulsos produzindo contração. O sistema 
beta-adrenérgico inerva a bexiga e a uretra, en-
contrando-se predominantemente na bexiga, os 
seus impulsos produzindo relaxamento.
O elemento fundamental no mecanismo 
de micção e continência é a perfeita interação 
entre o sistema nervoso e as estruturas anatô-
micas íntegras relacionadas à bexiga e à ure-
tra. Dois importantes fatores contribuem para 
a continência uretral: a pressão de fechamen-
to uretral e o papel desempenhado pelos ele-
mentos anatômicos da região uretro-trigonal. 
A pressão de fechamento uretral depende da 
integridade da mucosa uretral, do plexo vascu-
lar submucoso e das camadas de musculatura 
lisa e estriada que envolvem a uretra. O aumen-
to compensatório da pressão uretral, quando 
ocorre incremento da pressão intra-abdominal, 
constitui a base do mecanismo de continência. 
Portanto, qualquer situação ou enfermidade 
que altere esse equilíbrio de interação poderá 
ocasionar incontinência urinária.
Figura 2. Funcionamento harmônico uretrovesical, com 
ação das musculaturas lisa e estriada.
Modificado de Bastos, A.C. Ginecologia, 1998.
4. Tipos de incontinência 
Dentre as diversas causas de incontinên-
cia, estão incluídas alterações de funcionamen-
to uretral e vesical, malformações congênitas 
e fístulas urinárias. É possível identificar clini-
camente algumas situações e agrupar a incon-
tinência urinária em cinco tipos: incontinência 
urinária de esforço, incontinência urinária de 
urgência, incontinência mista, funcional, transi-
tória e extra-uretral.
A incontinência urinária de esforço é a 
forma mais frequente de incontinência e bastan-
te comum em mulheres jovens. A hipermotilida-
de da uretra após partos transvaginais constitui 
a causa mais comum da incontinência urinária 
de esforço genuína (IUEG). Normalmente a va-
gina encontra-se fixada bilateralmente ao dia-
fragma pélvico, o que condiciona base estável 
onde o colo vesical e a uretra repousam. Essa 
disposição anatômica permite que incrementos 
na pressão intra-abdominal sejam transmitidos 
igualmente para a bexiga e para a uretra, man-
tendo o fechamento uretral e consequentemen-
320 Faculdade christus
Capítulo 45
te a continência. Nas mulheres, principalmente 
multíparas, com hipermotilidade uretral, existe 
descida da uretra proximal e do colo vesical, de 
forma que essas estruturas não são mais com-
primidas contra a vagina durante o aumento da 
pressão intra-abdominal, ocorrendo perda in-
voluntária de urina (figura 3).
 
Figura 3. Uretrocele + prolapso uterino pós-histerecto-
mia grau 4. Arquivo do primeiro autor. 
Em um subgrupo de pacientes portado-
ras de IUEG, existe debilidade do esfíncter in-
terno da uretra, resultando deficiência esfinc-
teriana intrínseca. Nesse grupo, a incontinência 
urinária ocorre com mínimos exercícios físicos 
ou mesmo até em repouso. As causas comuns 
são a idade avançada, a cirurgia prévia do colo 
vesical e o tratamento radioterápico. Os efeitos 
da incontinência de esforço não são os mesmos 
para todas as mulheres, dependendo do meca-
nismo esfincteriano, do nível de estresse físico 
imposto e do controle urinário da paciente.
A incontinência urinária de urgência 
é consequência da hiperatividade do detrusor, 
quando a pressão de contração vesical supera 
a pressão de fechamento uretral, levando à in-
continência e à urgência miccional. Essa forma 
é bastante comum em pessoas idosas e está 
frequentemente associada com polaciúria e nic-
túria (o mesmo que noctúria, que são micções 
frequentes durante a noite, o volume urinário 
noturno superando ao ocorrido durante o dia). 
Dentre as possíveis causas dessa forma de in-
continência, podemos citar os distúrbios neuro-
lógicos, as infecções e as de origem idiopática. 
Pacientes que possuem insuficiência ure-
tral ou alteração de sustentação dos órgãos pél-
vicos, juntamente com hiperatividade do detru-
sor apresentam incontinência urinária mista.
A incontinência funcional se caracteriza 
por não estar relacionada a mecanismos miccio-
nais fisiológicos e sim a fatores que impedem 
a mulher de chegar rápido ao banheiro, como 
incapacidade ou dificuldade de deambulação.
Outra forma de incontinência é a transi-
tória, na qual as causas dos distúrbios são cli-
nicamente reversíveis. As principais causas são: 
uretrites, cistites, psicopatias, farmacológicas, 
excessiva produção de urina, restrição da mobi-
lidade e fecaloma.
Anomalias congênitas e traumatismos são 
as principais formas de incontinência extra-ure-
tral, a perda involuntária de urina não se dando 
através da uretra. As principais causas congêni-
tas são a extrofia vesical e o ureter ectópico. De 
causas traumáticas, a fístula vésico-vaginal é a 
principal, ocorrendo frequentemente na síndro-
me do parto obstruído, com período expulsivo 
prolongado, que poderá culminar com a rotura 
uterina complicada. Outras causas comuns de 
fístulas geniturinárias são o câncer do corpo e 
do colo uterino, a radioterapia e procedimen-
tos cirúrgicos, como histerectomia vaginal ou 
abdominal simples ou radical, na qual a bexiga 
pode ser aprisionada ou sofrer lesão acidental, 
sem a adequada correção cirúrgica ou ser trans-
fixada por sutura. 
Também deve ser mencionada a existên-
cia do úraco, que é um canal do feto que liga 
a bexiga com a alantoide. Após o nascimento, 
transforma-se num cordão fibroso que vai do 
umbigo ao vértice da bexiga (ligamento me-
diano vesical). O úraco pode permanecer per-
meável, a anomalia se manifestando pela saída 
de urina pelo umbigo intermitentemente e em 
quantidades variáveis. O normal é que inicial-
mente no feto a bexiga se distenda até a região 
umbilical; com a maturação, a porção superior 
tornando-se delgada, dá lugar a formação tu-
bular que se oblitera, constituindo o úraco ou 
ligamento mediano umbilical. Se esse tubo não 
se fecha, comunica-se a bexiga com o exterior 
através do umbigo, como relatado anteriormen-
te. Em alguns casos, o úraco permeável pode 
ser encontrado associadoà obstrução uretral. 
5. Fatores de risco
Considerando que a incontinência uriná-
ria tem grande impacto na qualidade de vida 
da mulher, é importante familiarizar-se com os 
diversos fatores de risco relacionados com essa 
entidade uroginecológica. 
 321 Faculdade christus
 Capítulo 45
 ƒ Idade. É considerada como um dos principais 
fatores de risco, a incontinência urinária acome-
tendo significativamente as mulheres mais ido-
sas, principalmente a partir da menopausa. Esse 
fato pode estar relacionado ao baixo nível de 
estrogênio, à prevalência de doenças crônicas e 
ao aumento do índice de massa corpórea.
 ƒ Obesidade. A obesidade é um fator que con-
tribui ou agrava a incontinência urinária, prova-
velmente por alterar a pressão intra-abdominal. 
 ƒ Paridade e parto. A gravidez e o parto predis-
põem à incontinência urinária. O tipo de parto, 
especialmente o parto vaginal, não é a causa 
em si de incontinência. Porém, quando asso-
ciado a lesões ou causadores de lesões do as-
soalho pélvico, constitui fator de risco impor-
tante. Após o parto vaginal, a força contratural 
dos músculos levantadores do ânus que sofre-
ram lesões diminui, o colo da bexiga desce e 
os músculos pélvicos sofrem desnervação par-
cial com neuropatia do pudendo, contribuindo 
para surgimento do quadro da eliminação in-
voluntária de urina aos esforços físicos.
 ƒ Anestesia do parto. Fator não esclarecido e 
controvertido. Alguns autores afirmam que a 
anestesia peridural contribui para a lesão do 
assoalho pélvico pelo prolongamento do se-
gundo estágio do trabalho de parto, aumen-
tando a indicação de aplicação de fórceps. Por 
outro lado, autores opinam que esse tipo de 
analgesia promove o relaxamento da muscu-
latura, prevenindo lesões durante os procedi-
mentos do parto.
 ƒ Peso do recém-nascido. Devido a possíveis 
traumas do assoalho pélvico durante o parto e 
também por aumentar a pressão intra-abdomi-
nal. A experiência sanciona que parto normal é 
o parto fácil e que mesmo não se evidenciando 
que houve laceração perineal externa, a inserção 
das porções terminais do pubococcígeo que 
confluem para o centro tendinoso do períneo 
podem ser danificadas, desfazendo o equilíbrio 
do assoalho pélvico, da estática pélvica. 
 ƒ Menopausa. Em decorrência de ocasionar 
mudanças dos níveis hormonais, com o surgi-
mento de hipoestrogenismo.
 ƒ Cirurgias ginecológicas. Além de traumas, po-
dem ocasionar lesões no suporte pélvico, como 
no caso da histerectomia abdominal extra ou 
intrafascial ou na radical (Wertheim-Meigs).
 ƒ Constipação intestinal. A constipação pode 
ocasionar dilatação do reto, comprimindo a 
bexiga e contribuindo para retenção urinária e 
infecções, além de promover e agravar lesões 
antigas traumáticas da musculatura pélvica 
durante o esforço físico continuado para eva-
cuar, que se acentuam com o decorrer etário.
 ƒ Doenças crônicas. Diabetes e doenças neu-
rológicas são importantes fatores de risco. 
No caso do diabetes mellitus, ocorre aumento 
da frequência e do volume urinário devido à 
hiperglicemia, associando-se a alterações dos 
tecidos e da inervação da musculatura pélvi-
ca. Os principais fatores relacionados a pro-
blemas neurológicos são as contrações vesi-
cais que não são inibidas. 
 ƒ Exercícios físicos. A intensa atividade física pro-
porciona aumento da pressão intra-abdominal.
 ƒ Tabagismo. O fumante geralmente desen-
volve pneumopatia crônica, enfisema pulmo-
nar, apresentando tosse crônica, frequente, 
desencadeando aumento da pressão intra-
-abdominal e consequentemente influindo na 
pressão vesical. 
 ƒ Consumo de cafeína. A cafeína tem ação 
diurética, aumentando o volume urinário e 
efeito excitante sobre o detrusor, podendo 
ocasionar instabilidade do músculo e conse-
quentemente perda involuntária de urina.
 ƒ Medicamentos. O uso de medicamentos é 
uma das causas de incontinência transitória. 
Alguns medicamentos aumentam a urgência 
e a frequência urinária, alterando a função ve-
sical, favorecendo a incontinência de esforço.
 ƒ Fatores hereditários. Ocorre predominân-
cia da hiperatividade vesical. É comum o en-
contro simultâneo de hérnias inguinais, um-
bilicais, diástase dos retos abdominais com 
distopias dos órgãos pélvicos e IUE. O fator 
constitucional é relevante.
6. Propedêutica da incontinência 
A avaliação correta de pacientes com 
suspeita de incontinência urinária consiste em 
abordagem inicial, anamnese, exame físico, com 
inspeção estática e dinâmica, seguida de prope-
dêutica complementar.
 
6.1. Anamnese
Durante a anamnese devemos avaliar di-
versos aspectos, como o início dos sintomas, a 
condição da perda (esforço ou urgência), dura-
ção e frequência, gravidade (impacto na qua-
lidade de vida), condições associadas (fatores 
agravantes), necessidade de utilizar absorven-
tes ou fraldas, associação a medicamentos (diu-
322 Faculdade christus
Capítulo 45
réticos), a ingestão hídrica, hábitos miccionais, 
cirurgias anteriores, número e tipo de partos, 
complicações ginecológicas e possíveis infec-
ções. Assim, além da avaliação completa da 
paciente, dos seus sintomas e possíveis fatores 
causais, a anamnese permite a identificação de 
causas reversíveis (como uso de medicamentos) 
e de doenças sistêmicas que tenham relação di-
reta com a incontinência, tais como o diabetes 
mellitus, insuficiência vascular, doença pulmo-
nar crônica e possíveis distúrbios neurológicos.
Mesmo diante de completa história clíni-
ca, é frequente não se obter diagnóstico conclu-
sivo, em virtude de muitos sintomas urinários 
poderem ser similares e possuírem diferentes 
etiologias. Isso destaca a importância do exame 
físico na avaliação uroginecológica da paciente. 
6.2. Exame físico
O exame físico deve ser direcionado a 
afecções clínicas que possam afetar o trato uri-
nário inferior e também a problemas relaciona-
dos à incontinência urinária, atentando-se para a 
presença ou não de insuficiência cardiovascular, 
doença pulmonar, massas abdominais, imobili-
dade e distúrbios neurológicos, como esclerose 
múltipla, acidente vascular cerebral, doença de 
Parkinson e anomalias da coluna vertebral e da 
região lombar. É importante a avaliação da pre-
sença de distopias de órgãos pélvicos, atrofia va-
ginal e tonicidade da musculatura pélvica (eleva-
dor do ânus), mobilidade uretral e lesão perineal.
Alguns exames podem ser realizados de 
imediato, fornecendo informações importantes 
na avaliação da paciente. Dentre esses exames, 
pode-se destacar o diário miccional, exame de 
urina, teste de esforço com tosse, teste do coto-
nete e teste do absorvente.
 ƒ Diário miccional. É um registro da frequência 
e do volume miccional da paciente durante 
alguns dias, juntamente com a perda urinária, 
atividades específicas à perda de urina e, se 
desejado, à ingesta de líquidos. É um ques-
tionamento útil que poderá fornecer as infor-
mações sobre o débito urinário, número de 
micções diárias e noturnas, volume médio eli-
minado e capacidade vesical funcional.
 ƒ Exame de urina. Importante para exclusão de 
infecção, hematúria, glicosúria e outras anor-
malidades metabólicas.
 ƒ Teste de esforço (tosse). As pacientes devem 
ser examinadas com a bexiga cheia. Durante 
a tosse ou ao esforço, é verificado se ocorre 
saída de urina pelo meato uretral, avaliando-
-se a incontinência urinária.
 ƒ Teste do cotonete (Q-tip test). Tem por ob-
jetivo verificar a mobilidade uretral. Uma das 
extremidades do cotonete estéril é lubrifica-
da com gel anestésico e introduzida cerca de 
3cm na uretra para avaliar o ângulo uretro-
vesical posterior (figura 4). Nas mulheres com 
teste positivo, o ângulo de inclinação muda 
mais de 35 graus quando se utiliza a manobra 
de Valsalva. Considera-se então como evidên-
cia decolo vesical com suporte deficiente. No 
entanto, não é um teste definitivo. Nem todas 
as pacientes com IUEG apresentam esse teste 
positivo. Mesmo algumas mulheres sem in-
continência urinária poderão mostrar o teste 
com resultado positivo.
 
 
 
Figura 4. Teste do cotonete (Q-tip-test). A) Ângulo em 
repouso. B) Com manobra de Valsalva ou tosse. Modifi-
cado de DECHERNEY, A.H. et al., 2007.
 ƒ Teste do absorvente. É realizado em pacientes 
com a bexiga cheia e mede a quantidade de 
urina perdida durante algumas atividades, pe-
sando-se o absorvente antes e após essas ati-
vidades. O aumento de 1g ou mais no peso do 
absorvente é considerado como teste positivo, 
indicando provável incontinência de esforço.
 ƒ Teste de Bonney. Avalia a perda de urina em 
uma bexiga cheia naturalmente ou com intro-
dução de 250ml de água estéril, antes e após 
a elevação da uretra com os dedos indicador 
e médio (toque vaginal), verificando-se a alte-
ração do ângulo uretrovesical posterior.
6.3. Exames complementares
 ƒ Avaliação urodinâmica. O estudo da função 
da urodinâmica permite avaliar o funciona-
mento do trato urinário inferior através das 
relações entre a pressão abdominal, vesical e 
uretral nas diversas fases de enchimento ve-
sical. Os testes urodinâmicos podem incluir a 
 323 Faculdade christus
 Capítulo 45
urofluxometria, a cistometria, o estudo mic-
cional, o pressórico uretral, o videourodinâ-
mico e a eletromiografia.
 ƒ Urofluxometria. Permite avaliar a função de 
esvaziamento vesical, verificando a presença 
de volume residual pós-miccional e relacio-
nando o volume de urina eliminado em rela-
ção ao tempo.
 ƒ Cistometria. A cistometria avalia a função ve-
sical e uretral durante o enchimento vesical, 
detectando contrações não inibidas do detru-
sor ou alterações na complacência, capacidade 
e sensibilidade vesical. A cistometria constitui 
no enchimento vesical, para se medir a rela-
ção volume-pressão. À medida que a bexiga é 
preenchida com líquido e vai alcançando a sua 
capacidade normal de 300 a 500mL a pressão 
interna deve permanecer baixa. A mulher tem 
o primeiro desejo miccional com 150 a 200mL. 
As pacientes com instabilidade do detrussor 
(ID) apresentam capacidade vesical reduzida 
(menos de 300mL), demonstrando incontinên-
cia urinária, que se encontra associada a con-
trações involuntárias da bexiga, com aumento 
da pressão acima da linha de base. Nas pacien-
tes com IUEG, a incontinência é demonstrada 
quando da realização da manobra de Valsalva 
(tosse ou efetuando esforço). A pressão intra-
vesical na qual se observa a eliminação de uri-
na (perda sob esforço) é geralmente menor do 
que 60cm de água no caso de se fazer presente 
a deficiência esfincteriana. 
 ƒ A cistoscopia deve ser realizada principal-
mente nas pacientes com sintomatologia de 
bexiga irritável (urgência urinária, frequência 
e hematúria), para se descartar processo in-
flamatório crônico, tumores ou deformidades 
anatômicas. 
 ƒ Estudo miccional. É realizado através de me-
didas simultâneas da pressão vesical, uretral 
e abdominal durante o esvaziamento vesical. 
É bastante utilizado para verificar a retenção 
urinária no pós-operátorio.
 ƒ Estudo pressórico uretral. Serve para avaliar o 
fechamento uretral e consequentemente a me-
nor pressão em que ocorre incontinência (limite 
de 60cm H2O), permitindo avaliar o funciona-
mento do esfíncter intrínseco uretral. A medida 
da pressão de fechamento uretral é a diferença 
entre a pressão uretral e a pressão vesical.
 ƒ Exame video-urodinâmico. Permite ava-
liar a posição do colo vesical e a abertura 
da uretra proximal em repouso e ao esfor-
ço, correlacionando-as com a intensidade da 
perda urinária. É um exame considerado de 
importância na propedêutica da incontinên-
cia urinária de esforço.
 ƒ Eletromiografia. Permite registrar a contrati-
lidade da musculatura estriada da uretra, ava-
liando a função esfincteriana externa.
 ƒ Exames por imagem. Estudos ultrassono-
gráfico, fluoroscópico, neuroimagem fun-
cional e ressonância magnética também têm 
sido realizados.
 ƒ Exames neurofisiológicos. Consistem na in-
vestigação dos reflexos sacros, do potencial 
evocado somatossensorial e da latência mo-
tora dos nervos pudendos terminais.
Mesmo diante desse armamentário pro-
pedêutico diverso, os exames complementares 
mais simples e associados à completa anamne-
se e a cuidadoso exame físico, são fundamentais 
no correto diagnóstico e consequentemente 
numa abordagem terapêutica adequada, evi-
tando cirurgias inapropriadas e diversas com-
plicações.
 
7. Diagnósticos diferenciais 
Dentre os diagnósticos diferenciais da in-
continência urinária, podemos citar as diversas 
patologias que podem ocasionar esse quadro, 
a incontinência se manifestando como sinal ou 
sintoma. As causas de incontinência podem ser 
extrauretrais ou transuretrais, como citado no 
início do capítulo. Podemos citar como diagnós-
ticos diferenciais: efeitos farmacológicos, ano-
malias congênitas, lesões do assoalho pélvico, 
infecções, obstrução infra-vesical, fístulas uriná-
rias, acidente vascular cerebral, poliomielite, es-
clerose múltipla e lesões da coluna espinhal. 
8. Tratamento 
A abordagem terapêutica da incontinên-
cia urinária pode ser clínica ou cirúrgica, os re-
sultados dependendo fundamentalmente do 
diagnóstico etiológico correto. 
8.1. Tratamento não cirúrgico
 ƒ Alterações no estilo de vida. Emagrecimen-
to, alterações posturais, redução do consumo 
de cafeína e abandono do hábito de fumar.
 ƒ Fisioterapia. A fisioterapia pode ser indicada 
nos casos de bexiga hiperativa, na reabilita-
324 Faculdade christus
Capítulo 45
ção pós-parto e nas pacientes com IUE por 
hipermobilidade do colo vesical sem disto-
pias severas (grau I). Também no condiciona-
mento muscular do assoalho pélvico pode ser 
empregada a eletroestimulação (age por estí-
mulo elétrico vaginal ou retal, de comprovada 
eficácia no tratamento da hiperatividade do 
detrusor - bexiga hiperativa, com a vantagem 
de apresentar baixos paraefeitos e indicada 
para pacientes que mostram dificuldade de 
contração da musculatura do assoalho pélvi-
co (figura 5). Tem-se também o biofeedback 
(que atua por estímulo sonoro ou visual, a pa-
ciente aprendendo a inibir a contração vesical 
de forma consciente), os exercícios perineais 
e o uso de cones vaginais. 
Figura 5. Eletroestimulador com eletrodo vaginal.
 ƒ Terapia comportamental e treinamento 
vesical. É realizada através da micção pro-
gramada da paciente, juntamente com o con-
dicionamento do assoalho pélvico, a fim de 
inibir a urgência miccional.
 ƒ Exercícios de Kegel. Evidências de ensaios 
clínicos têm mostrado que o treinamento 
supervisionado da musculatura do assoalho 
pélvico (exercícios de Kegel) constitui opção 
eficaz para alguns casos de incontinência 
urinária de esforço. Os exercícios de Kegel 
foram idealizados na década de 40 para o 
fortalecimento da musculatura do assoalho 
pélvico, com o intuito de tratar mulheres 
com incontinência urinária de esforço mani-
festadas após os partos transvaginais. Con-
sistem na contração voluntária dos mús-
culos elevadores do ânus, realizada várias 
vezes ao dia. Atualmente eles podem ser 
também utilizados na abordagem da incon-
tinência fecal não cirúrgica e para melhorar 
o desempenho sexual (homens e mulheres) 
e condicionar a pélvis para o parto normal. 
Tem sido relatado que esses exercícios po-
dem fazer com que os homens apresentem 
significativa melhora na ereção peniana e na 
ejaculação, beneficiando também a fase or-
gásmica feminina.
 ƒ Primeiramente deve-se ensinar às mulheres 
como identificar osmúsculos pélvicos envol-
vidos tanto na micção como na defecação. A 
forma preconizada e fácil é quando da mic-
ção, a paciente procurar tentar parar o jato 
de urina, intercalando etapas de relaxamento. 
Quando a paciente for praticar nos dias se-
guintes os exercícios de Kegel, a bexiga deve-
rá estar vazia, contraindo e relaxando a mus-
culatura perineal rapidamente durante cinco 
vezes. Realizar permanentemente os exercí-
cios de Kegel com a bexiga cheia de urina, 
cortando o jato, a mulher correrá o risco de 
desenvolver infecção urinária. Em seguida, a 
paciente contrai a musculatura do assoalho 
pélvico e mantém-na assim, contando de 1 
até 5, passando a relaxá-la. O ginecologista 
quando da realização do exame vaginal (to-
que) procurará identificar os músculos pubo-
coccígeos. Para isso, afastará o dedo indicador 
do dedo médio, que estão repousando sobre 
a parede vaginal posterior, posicionando-os 
como se fosse uma tesoura aberta, orientan-
do a paciente para contrair os músculos pu-
bococcígeos. Chegará a um ponto em que 
os dois dedos afastados serão comprimidos 
e aproximados um do outro. Só se consegui-
rá resultado satisfatório com o procedimento 
de Kegel, se esses exercícios forem continu-
amente praticados e sob supervisão de pro-
fissional com eles familiarizados. A literatura 
especializada tem demonstrado o efeito be-
néfico desses exercícios nas portadoras de 
IUE leve (grau I), com 72% de cura a longo 
prazo, após conclusão do programa; as mu-
lheres com graus mais severos, classificados 
como II e III, deverão ser encaminhadas para 
resolução cirúrgica.
 ƒ Medicamentos. Podem ser utilizados os anti-
colinérgicos, antidepressivos inibidores da re-
captação de serotonina e norepinefrina. O uso 
de estrogênio oral ou creme por via vaginal 
pode ocasionar algum benefício, limitado às 
mulheres pós-menopáusicas ou com incon-
tinência mista. Atentar para os riscos do uso 
prolongado de estrogênio sem a proteção 
progesterônica.
• Anticolinérgicos. São utilizadas a oxibutinina 
 325 Faculdade christus
 Capítulo 45
e a tolterodina, cujos principais efeitos cola-
terais são boca seca, aumento da frequência 
cardíaca, constipação instestinal, turvação 
visual, tontura e hipotensão ortostática. Po-
dem ser utilizados no tratamento da incon-
tinência de urgência.
• Antidepressivos tricíclicos. A imipramina 
apresenta vantagem na abordagem tera-
pêutica da incontinência de esforço mista 
e na instabilidade do detrusor, por combi-
nar propriedades alfa-adrenérgicas e anti-
colinérgicas. 
• Inibidores da recaptação de serotonina e 
norepinefrina. A duloxetina é a droga de 
escolha. Pode ser utilizada tanto na incon-
tinência de urgência, como na incontinência 
de esforço, em virtude de apresentar ação 
nos receptores 5-HT e a-1 adrenérgico, au-
mentando a capacidade vesical e a pressão 
no esfíncter uretral estriado.
8.2. Tratamento cirúrgico
 ƒ Colporrafia vaginal anterior (cirurgia de 
Kelly-Kennedy). A abordagem cirúrgica re-
presenta o procedimento mais comumente 
empregado, na dependência do tipo de IUE, 
baseando-se na reconstituição do ângulo 
uretrovesical posterior. Um dos procedimen-
tos cirúrgicos muito utilizados foi a operação 
de Kelly-Kennedy, que consiste no preguea-
mento horizontal através de sutura objetivan-
do o reforço da fáscia pubocervical, tendo 
como ponto de abordagem cirúrgica a parede 
vaginal. A parede vaginal anterior é apoiada 
principalmente pela aponeurose pubocervi-
cal. Essa aponeurose situada por baixo e ao 
redor da uretra é mais espessa e mais densa 
do que na área inferior da bexiga.
 ƒ Uretropexia retropúbica. Consiste na sus-
pensão retropúbica do colo vesical, realizada 
por via abdominal extraperitonial, com aces-
so ao espaço de Retzius, estribando-se na 
fixação da fascia endopélvica periuretral ou 
perivesical aos ligamentos iliopectíneos de 
Cooper (operação de Burch) e na suspensão 
e fixação da fáscia endopélvica à face pos-
terior do púbis – periósteo – (operação de 
Marshall-Marchetti-Krantz). Todos esses pro-
cedimentos cirúrgicos visam evitar a hiper-
mobilidade uretral e a consequente incon-
tinência urinária de esforço. Essas cirurgias 
têm demonstrado bons resultados na cura 
da IUE causada por hipermobilidade anatô-
mica da saída vesical, sendo aconselhado no 
entanto, fazer parte do procedimento a cor-
reção por via vaginal de qualquer alteração 
do equilíbrio do assoalho pélvico. Apresen-
tam menos eficácia quando ocorre disfunção 
intrínseca do esfíncter. 
 ƒ Não obstante o sucesso conseguido com 
a colposuspensão extraperitonial (espa-
ço de Retzius) atingir percentuais de 71 a 
95%, deve ser alertado, que em relação à 
técnica de Burch, tem sido comprovado que 
a simples elevação da parede vaginal ante-
rior pode alterar o eixo da parede posterior, 
expondo-a a uma maior pressão oriunda do 
interior do abdome. Uma cistocele poderia 
tender a adquirir mobilidade, como resul-
tado da elevação da parede anterior, o que 
condicionaria maior tendência para o des-
garro do suporte de sustentação do ápice 
e da parede posterior, associado à falta de 
reparo do relaxamento do assoalho pélvico, 
condicionando o aparecimento mais adiante 
de enterocele e retocele. Retenção urinária 
pós-operatória e instabilidade do detrusor 
também têm sido relatadas.
 ƒ Alça (sling) pubovaginal tradicional. Nas 
pacientes com insuficiência esfincteriana, as 
técnicas de sling são mais indicadas. O mate-
rial utilizado pode ser autólogo (aponeurose 
dos retos abdominais e fáscia lata) ou hete-
rólogo (fáscia liofilizada de cadáver). Outra 
opção é a aplicação de uma faixa de poli-
propileno por via vaginal sem tensão (ten-
sion free vaginal tape- TVT), passando sob a 
uretra como se fosse uma tipoia, o processo 
de cicatrização e fibrose elevando a uretra e 
reduzindo o ângulo uretrovesical posterior. 
Deve ser salientado, que nas técnicas de alça 
(sling) ou de fita (TVT), existe necessidade 
da realização de cistoscopia intraoperatória 
para maior segurança do procedimento uro-
ginecológico. 
 ƒ Neuromodulação. É a implantação de esti-
muladores na raiz do nervo sacro em pacien-
tes com hiperatividade detrussora.
 ƒ Injeções de botox. Ultimamente tem sido 
preconizado o emprego de injeções de botox, 
baseado no princípio de liberação de acetilco-
lina, com atuação nas terminações nervosas 
colinérgicas periféricas.

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