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Reforma Sanitária e Psiquiátrica Brasileira

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A REFORMA SANITÁRIA 
O SUS completou 30 anos em 2018, junto com a Constituição Federal. O Sistema Único De Saúde tem muitos problemas, mas antes dele era ainda pior. 
MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA: OS PRINCIPAIS MARCOS HISTÓRICOS
A saúde pública no Brasil é resultante de um conjunto de embates políticos e ideológicos e sua compreensão deve considerar todo o histórico brasileiro. Para melhor entender a situação atual da saúde no Brasil, é importante conhecer como as demandas de saúde eram atendidas. A saúde nem sempre foi um direito social, ao contrário, esteve, durante anos, ligada à condição econômica da população, em outras palavras, o acesso à saúde era para quem poderia pagar.
De forma resumida, o Brasil até a década de 1980 passou por longos períodos ditatoriais, em que a saúde tornava-se secundária no país. Ao se falar em políticas públicas de saúde, nestes períodos, estas se resumiam à manutenção da higiene sanitária e do bem estar dos trabalhadores. O conceito de saúde era compreendido à época como a ausência de doenças, conceito que passou a ser questionado fortemente durante a criação do Sistema Único de Saúde.
Até este período, então, temos dois grandes marcos históricos: o primeiro diz respeito ao modelo anterior ao SUS o INAMPS e sua caracterização da saúde como um benefício aos trabalhadores e o segundo à fortificação do Movimento da RSB. Na luta pelo fim da ditadura, o setor saúde tornou-se protagonista com o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (RSB). As pautas reivindicavam melhorias na atenção à saúde e a efetivação desta como um direito social. O cenário de conquista de direitos básicos e proteção dos cidadãos, fez com que ressurgisse a discussão sobre cidadania, direitos sociais e democracia.
Inicialmente, cabe ressaltar como marco histórico o período até 1986 e compreender em como eram atendidas as demandas de saúde da população antes do Sistema Único de Saúde bem como foi o processo evolutivo do conceito de saúde e sua conformação como um direito social.
1923 – LEI ELOY CHAVES – CAIXAS DE APOSENTADORIA E PENSÕES - CAPS
Neste ano foi promulgada a Lei Eloy Chaves, que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP). As CAPs caracterizavam-se como fundos organizados por empresas, compostos por contribuição dos trabalhadores, empregadores e consumidores dos serviços das empresas. O país encontrava-se em um contexto de rápido processo de industrialização e acelerada urbanização. A lei teve o intuito de assegurar uma assistência mínima aos trabalhadores das fábricas, de modo que pudessem receber pensão em caso de algum acidente ou afastamento do trabalho por doença, e uma futura aposentadoria. Este período tornou-se marcante ainda, por trazer para agenda das discussões a temática de saúde dos trabalhadores (ESCO).
1932 – INSTITUTOS DE APOSENTADORIAS E PENSÕES - IAPS
Este período foi caracterizado pelas lutas e reivindicações dos trabalhadores. Como resposta a tais reivindicações foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs). Estas IAPs passaram a congregar os trabalhadores por profissão, ao invés de ser por empresas. Configurou um primeiro sistema nacional de previdência social gerido pelo Estado.
1965 – DITADURA - INSTITUTO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (INPS).
Após a unificação dos IAPs, no contexto do regime autoritário de 1964, vencendo as resistências a tal unificação por parte das categorias profissionais que tinham institutos mais ricos, foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Com o INPS, a previdência passou a ter função assistencial e redistributiva. A assistência em saúde, limitada ao contingente de trabalhadores com carteira assinada, ficou marcada pela compra de serviços assistenciais do setor privado, concretizando o modelo assistencial hospitalocêntrico, curativista e médico-centrado, que terá uma forte presença no futuro SUS.
1977 – SISTEMA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA SOCIAL (SINPAS), 
Neste ano foi criado o Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social (SINPAS), e, dentro dele, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), que passa a ser o grande órgão governamental prestador da assistência médica – basicamente à custa de compra de serviços médico hospitalares e especializados do setor privado. Neste período a assistência à saúde também esteve ligada aos trabalhadores com carteira assinada.
FIM DA DITADURA 1982 – PROGRAMA DE AÇÕES INTEGRADAS DE SAÚDE (PAIS)
Este período foi marcado pelo fim do período militar (1985) e trouxe um contexto de reivindicação de retomada dos direitos sociais. Dentre essas reivindicações, o direito à saúde tornou-se protagonista. Em 1982, foi implementado o Programa de Ações Integradas de Saúde (PAIS). O PAIS trouxe ênfase à atenção primária, sendo a rede ambulatorial pensada como a “porta de entrada” do sistema.
A REFORMA SANITÁRIA
1986 – VIII Conferência Nacional de Saúde 
Após o fim da ditadura militar, consolidou-se, na 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) em 1986, o movimento da reforma sanitário brasileiro. Pela primeira vez, mais de cinco mil representantes de todos os seguimentos da sociedade civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil, que culminou com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Assembleia Nacional Constituinte, em 1988 
A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, com intensa participação social, deu-se logo após o fim da ditadura militar iniciada em 1984, e consagrou uma concepção ampliada de saúde e o princípio da saúde como direito universal e como dever do Estado; princípios estes que seriam plenamente incorporados na Constituição de 1988 
Aqui temos o terceiro grande marco da RBS, a 8ª Conferencia Nacional de Saúde (CNS) diz respeito à mudança no modelo até então estabelecido para tomada de decisões na saúde. As conferencias possuíam como padrão uma discussão realizada entre os governantes em saúde, de forma horizontal e sem participação da comunidade (embora a 3ª Conferencia Nacional de Saúde tenha apresentado um modelo participativo, não fora suficiente para estabelecer uma discussão participativa com a magnitude da 8ª CNS), além de não ter diretrizes e periodicidade definida. Esta CNS aconteceu em Brasília e reuniu 5.000 participantes, incluindo a comunidade em geral, além de profissionais de saúde, ONG’s, academia e governantes. Este marco é imprescindível ao acervo dos sanistaristas objeto de contratação deste termo de referência, pois, os sanitaristas Gilson Carvalho e Guido Carvalho são um dos protagonistas do movimento da RBS e se fizeram presentes na 8ª CNS.
1987 – SISTEMAS UNIFICADOS DE SAÚDE – SUDS
Nesse ano foram criados Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde (SUDS) que tinham como principais diretrizes: universalização e equidade no acesso aos serviços de saúde; integralidade dos cuidados assistenciais; descentralização das ações de saúde; implementação de distritos sanitários. Podemos localizar no SUDS os antecedentes mais imediatos da criação do SUS (GIOVANELLA, 2009).
1988 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
Foi aprovada a “Constituição Cidadã” ou Constituição Federal de 1988, que estabelece a saúde como “Direito de todos e dever do Estado” e apresenta, na sua Seção II, como pontos básicos: “as necessidades individuais e coletivas são consideradas de interesse público e o atendimento um dever do Estado; a assistência médico-sanitária integral passa a ter caráter universal e destina-se a assegurar a todos o acesso aos serviços; estes serviços devem ser hierarquizados segundo parâmetros técnicos e a sua gestão deve ser descentralizada.” Estabelece, ainda, que o custeio do Sistema deverá ser essencialmente de recursos governamentais da União, estados e municípios, e as ações governamentais submetidas a órgãos colegiados oficiais, os Conselhos de Saúde, com representação paritária entre usuários e prestadores de serviços 
A CF de 1988 trata-se de outro marco imprescindível ao movimento da RBS, pois, trata-se do principal marco normativoem que se estabeleceu, legalmente, a nova conformação do modelo de saúde brasileiro e trouxe à saúde como direito. Portanto, na Constituição Federal (CF/88) foram definidos os princípios do SUS, onde se destacam os artigos de 196 a 200, a saber: universalidade no acesso, integralidade da assistência e equidade na distribuição dos serviços, ampliando a saúde como um direito de todos e dever do Estado, garantindo políticas sociais e econômicas que visam a redução do risco de doença e de outros agravos, bem como o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde 
A criação do SUS – Lei nº 8.080 Lei nº 8.142
O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, promulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o processo desenvolvido ao longo dessas duas décadas, criando o Sistema Único de Saúde (SUS) e determinando que "a saúde é direito de todos e dever do Estado" (art. 196). 
Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, com regionalização e hierarquização, descentralização com direção única em cada esfera de governo, participação da comunidade e atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. 
A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposições constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de governo, além de outras, "ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde" (CF, art. 200, inciso III).Apesar de previsto na constituição de 88, só foi implementado em 1990 a partir da lei 8.080
Lei nº 8.080 19 de setembro de 1990 
Cria o Sistema Único de Saúde (SUS). “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”.
A lei orgânica do SUS detalha os objetivos e atribuições; os princípios e diretrizes; a organização, direção e gestão, a competência e atribuições de cada nível (federal, estadual e municipal); a participação complementar do sistema privado; recursos humanos; financiamento e gestão financeira e planejamento e orçamento. 
Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, 
Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros. Institui os Conselhos de Saúde e confere legitimidade aos organismos de representação de governos estaduais e municipais:
CONASS – Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde.
CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde 
SUS : PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS (Art 7º, LEI N° 8.080, de 19 setembro de 1990) 
universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; 
preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; 
igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; 
direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; 
divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; 
utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; 
participação da comunidade; 
descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; 
regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; 
integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; 
conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; 
capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; 
organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.
Os princípios mencionados acima trazem para o contexto da saúde pública a centralização do sujeito (usuário) no sistema e a não focalização na doença. 
O sistema de saúde incorporou o conceito de integralidade que, como citado coloca o indivíduo no centro da atenção. Ou seja, o termo integralidade está voltado para o olhar do indivíduo como um sujeito completo, como um ‘todo’ e não de forma fragmentada, compreendendo o usuário como um ser inteiro, inserido em um contexto social e que apresenta necessidades em saúde e, não apenas uma demanda de saúde. Nessa perspectiva cabe ressaltar outro marco de destaque: a atenção básica e suas contribuições positivas na efetivação da universalização da atenção à saúde, um dos princípios estruturantes do SUS. Atentando-se, a partir daqui, aos avanços nesta área, que constituem-se como marcos históricos do movimento da RBS e trata-se de uma área cujo protagonismo dá destaque para os sanitaristas Gilson Carvalho e Guido Carvalho que contribuíram grandemente para a consolidação da Atenção Básica, movimento de municipalização brasileira e participação da comunidade na saúde. 
A atenção básica surgiu como estratégia para a transformação do modelo hospitalocêntrico e médico assistencial, em um modelo que realmente atendesse à nova proposta do sistema de saúde fundamentado nos princípios da integralidade, equidade e universalidade e em um conceito de saúde ampliado, não mais voltado apenas à ausência de doenças. Em sua essência a atenção básica volta-se ao cuidado em saúde considerando o âmbito individual, familiar e da comunidade, em seus contextos socioeconômicos e culturais com o propósito de promover a saúde, prevenir doenças e agravos, e também ofertar serviços de diagnóstico e recuperação da saúde dos indivíduos.
A AB pode ser definida como um conjunto de ações individuais e coletivas, situadas no primeiro nível de atenção, para promover e proteger a saúde, prevenir doenças e agravos, efetuar tratamento de acordo com as necessidades da família e da comunidade (SOUSA, 2014, p. 45). Em resposta, surge então a ideologia de um modelo de atenção capaz de dar respostas ao hiato existente entre direitos sociais garantidos em lei e a capacidade efetiva de oferta dos serviços públicos pelo Estado. Apresenta-se então o modelo de atenção à saúde, reorientado pela Atenção Primária em Saúde (APS), ou, aqui no Brasil, Atenção Básica (AB) (PRADO, 2016).
1991 – 1994: Inicialmente a atenção básica teve como marco o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) em 1991 com caráter inovador em que equipes multiprofissionais atuavam em um território definido, três anos mais tarde o programa foi ampliado e em 1994, foi instituído como Programa Saúde da Família. Porém, mesmo dada sua importância e êxito da proposta, esta ainda fora encarada por alguns como um programa de governo, de caráter pontual (SOUSA, 2007). Muitos foram os esforços para que esta estratégia se consolidasse efetivamente como uma política pública.
O marco expresso com o surgimento do PACS foi que, pela primeira vez, tinha-se um profissional atuando próximo à comunidade e os profissionais da AB focavam no tratamento ao individuo considerando sua família e contextos locais, atuando nos territórios, o avanço está em ultrapassar as paredes dos consultórios e aproximar-se da comunidade.
1998 – 2006: O PSF trouxe muitos avanços e melhoria nos indicares de saúde das famílias por ele assistidas. Dados estes êxitos, o PSF saiu de do âmbito de um programa e passou a ser visto como uma estratégia de reorientação da APS no Brasil, em termos normativos, configurando a chamada Estratégia de Saúde da Família (ESF) instituída por meio da Política Nacional de Atenção Básica em 2006 e reformulada em 2011 – Portaria n° 2.488 de 21 de outubro de 2011 (BRASIL, 2011).
A LUTA ANTIMANICOMIAL A EUROPA - Somente no período pós-guerra despontaum cenário propício para o surgimento dos movimentos reformistas da psiquiatria na contemporaneidade. Começam a surgir, em vários países, questionamentos quanto ao modelo hospitalocêntrico, apontando para a necessidade de reformulação.
Uma importante questão nessa concepção de reforma diz respeito ao conceito de “doença mental”, o qual passa a ser desconstruído para dar lugar a nova forma de perceber a loucura enquanto “existência-sofrimento” do sujeito em relação com o corpo social. 
O MODELO ITALIANO
FRANCO BASAGLIA E A REFORMA NO SISTEMA DE SAÚDE MENTAL
Franco Basaglia foi um psiquiatra, reformulador do modelo de tratamento aplicado em instituições psiquiátricas até então, e referência global na luta antimanicomial. Basaglia nasceu em Veneza em 1924 e faleceu em 1980 na mesma cidade. Durante os anos sessenta, dirigiu o Hospital Psiquiátrico de Gorizia e ali testemunhou uma série de abusos e negligências no tratamento dos enfermos. E que, por esse motivo, promoveu junto a um corpo de psiquiatras, mudanças práticas e teóricas no tratamento de seus pacientes, conhecidas como Psiquiatria Democrática, ou o movimento de “negação à psiquiatria”, que deu origem à luta antimanicomial.
Basaglia concluiu que a psiquiatria não era suficiente para tratar o paciente e que o isolamento e a internação em manicômios poderiam até mesmo agravar a condição dos pacientes. Portanto, seria necessário remodelar a estrutura psiquiátrica tal como era conhecida. O tratamento manicomial deveria ser substituído por atendimentos terapêuticos através de centros comunitários, centros de convivências e tratamento ambulatorial. Basaglia negou a prática da cultura médica que toma o paciente como objeto de observação, destituído de direitos enquanto cidadão e ser humano. Em 1968, ele publicou “A Instituição Negada”, onde expôs parte de suas práticas realizadas no Hospital Psiquiátrico de Gorizia.
No ano de 1973, após a reformulação no tratamento psiquiátrico, Basaglia dirigiu o Hospital Psiquiátrico de Trieste; este viria a ser a principal referência mundial para a reformulação da assistência em saúde mental, credenciado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em 1978, foi aprovada na Itália a Lei 180, ou Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana, que veio a influenciar o modelo de tratamento e a luta pelo fim de instituições manicomiais ao redor do mundo. Ela serviu como referência para a Reformulação do Sistema Psiquiátrico no Brasil, que ainda hoje se encontra em formas de adequação.
POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL E A LUTA ANTIMANICOMIAL NO BRASIL
No fim da década de 70, muitos movimentos ligados à saúde denunciaram abusos cometidos em instituições psiquiátricas, além da precarização das condições de trabalho, reflexo do caráter autoritário do governo no interior de tais instituições. A partir daí, surgiram movimentos de trabalhadores de saúde mental, que colocaram em evidência a necessidade de uma reforma psiquiátrica no Brasil. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) – que contou com a participação popular, inclusive de familiares de pacientes – e o Movimento Sanitário foram dois dos maiores responsáveis por essa iniciativa.
Em 18 de Maio em 1987, foi realizado um encontro de grupos favoráveis a políticas antimanicomiais. Nesse encontro, surgiu a proposta de reformar o sistema psiquiátrico brasileiro. Pela relevância daquele encontro, a data de 18 de maio tornou-se o dia de Luta Antimanicomial.
O CONTEXTO HISTÓRICO DO TRATAMENTO PSIQUIATRICO NO BRASIL 
A atenção específica ao doente mental no Brasil teve início com a chegada da Família Real. 
Foi necessário o uso de medidas de controle por causa do aumento populacional como a criação de um espaço que recolhesse das ruas aqueles que ameaçavam a paz e a ordem sociais. 
Palácio dos loucos: Em 18 de julho de 1841, foi assinado o decreto de fundação do primeiro hospício brasileiro, denominado Hospício de Pedro II, em homenagem ao príncipe regente que nesse mesmo dia foi sagrado e coroado como Imperador do Brasil. 
Em 1852, na Praia Vermelha, em uma chácara afastada do centro da cidade, foram inaugurados o hospício e a magnífica estátua em mármore de Carrara do Imperador. Um aparato cerimonial marcou a solenidade, que se transformou em importante acontecimento no cenário político e social da época. O edifício, construído com o dinheiro de subscrições públicas, planejado aos moldes de hospitais franceses, em estilo neoclássico, provido de espaços suntuosos e decoração de luxo, fica popularmente conhecido como o “Palácio dos Loucos”.
A amplidão dos espaços, a disciplina, o rigor moral, os passeios supervisionados, a separação por classes sociais e diagnósticos, e a constante vigilância do alienado, materializada arquitetonicamente como um panóptico (torre em forma de anel com um vigia), representam o nascedouro da psiquiatria no Brasil. A inauguração do suntuoso Hospício de Pedro II, em 1852, retirou os pacientes da Santa Casa de Misericórdia, que se encontrava em condições insalubres, e acenou com a possibilidade do tratamento moral.
Com a instauração da República o hospício foi rebatizado como Hospício Nacional de Alienados.
Em 1890, foi criada a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras visando sistematizar a formação de enfermeiros para atuarem no espaço asilar. Num país subdesenvolvido, com um modelo de assistência à saúde centrado na prática curativa e assistencialista, foi fácil transformar a doença mental em mercadoria rentável. Ao se associar a lógica do capital (lucro) à lógica do modelo manicomial (poder disciplinar), não fica difícil perceber que a “assistência” se limitava ao mínimo que fosse preciso para manter os loucos sob dominação, sem precisar gastar muito. 
Em 1893, dentro do hospício, foi criado o Pavilhão de Observação, que era um local destinado a assistência dos pacientes e estudos de psicopatologia. Este pavilhão era destinado a atividades acadêmicas e eram administradas aulas de psiquiatria para os alunos da faculdade de medicina. Em 1938, o Instituto de Psicopatologia e Assistência a Psicopatas foi transferido para a Universidade do Brasil, e hoje em dia é o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB).
O Pavilhão de Neurossífilis, local destinado ao atendimento de pacientes com essa patologia dentro do Hospício Nacional dos Alienados, tornou-se o Instituto de Neurossífilis em 1927, através de decreto oficial. Atualmente esse instituto é um hospital psiquiátrico municipal denominado Instituto Philippe Pinel.
Nas décadas de 30 e 40 o então Hospital da Praia Vermelha estava superlotado e decadente, e os pacientes foram gradualmente transferidos para a Colônia Juliano Moreira e o Hospital do Engenho de Dentro. Em setembro de 1944 concluiu-se a tranferência de todos os pacientes e o hospital foi desativado e entregue à Universidade do Brasil. Atualmente esse local é o campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O Hospital do Engenho de Dentro passou a se chamar Hospital Pedro II, novamente rebatizado como Centro Psiquiátrico Pedro II e hoje em dia tem o nome de Instituto Municipal Nise da Silveira, em homenagem a renomada psiquiatra alagoana Nise da Silveira.
Tendo o hospital psiquiátrico como cenário e o isolamento como principal técnica, o psiquiatra passou a necessitar de um profissional que servisse de vigilante e, ao mesmo tempo, seguisse suas instruções quanto ao tratamento: “o ‘enfermeiro’.
 
Na década de 70, não suportando a busca desenfreada pelo lucro dos empresários da saúde, a previdência social entra em crise, mostrando a ineficiência desse modelo e apontando para a necessidade de reformulação. Vale ressaltar que esses questionamentos vieram à tona em meio a um quadro político e econômico específico, caracterizado pelo fim do “milagre econômico”. Ocorre abertura gradual após anos de ditadura, permitindo a entrada em cena de novos atores, dando vez à manifestação das críticas e denúncias dos trabalhadores de saúde mental e outros setoresda sociedade civil contra a precária assistência prestada aos doentes mentais.
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL: PRINCIPAIS PONTOS
Em continuidade e paralelamente ao processo reforma sanitária, foram realizadas em 1987, 1992 e 2001, as Conferências Nacionais de Saúde Mental, que possibilitaram a delimitação dos objetivos da reforma psiquiátrica brasileira atual e a proposição de serviços substitutivos ao modelo hospitalar. Dentre os marcos conceituais desse processo destacam-se o respeito à cidadania e a ênfase na atenção integral, onde o processo saúde/doença mental é entendido dentro de uma relação com a qualidade de vida.
“Desconstruir o manicômio não é só implodir o edifício, é desconstruir as práticas teóricas, os conceitos, as teorias que fundam o manicômio, que fundam a ideia de doente mental, a ideia de diferença, de inferioridade e de tudo o mais.”
(Paulo Amarante)
A reforma psiquiátrica brasileira foi um movimento social, político e institucional pela extinção da maneira como pessoas com sofrimento mental eram tratadas nos manicômios. As práticas desumanas exercidos dentro deles foram substituídos por políticas de saúde mental inclusivas, em que o objetivo é promover saúde, cidadania e inclusão às pessoas com sofrimento mental. No entanto, ainda se faz necessário resgatar este pedaço da história manicomial brasileira, para acabarmos não somente com os prédios, mas com as concepções e práticas que ainda excluem pessoas no contexto da saúde mental, bem como, evitar retrocessos. 
A reforma psiquiátrica brasileira encontra seus principais fundamentos teóricos nessa concepção, propondo-se a seguir a visão teórica adotada na reforma italiana. Entretanto, vale ressaltar que o processo histórico do lidar com a loucura no Brasil teve peculiaridades que o distinguem bastante daquele observado na Europa. 
A LUTA-ANTIMANICOMIAL
Com o intuito de acabar com os manicômios, o projeto de reforma psiquiátrica no Brasil visava substituir, aos poucos, o tratamento dado até então por serviços comunitários. O paciente seria encorajado a um exercício maior de cidadania, fortalecendo seus vínculos familiares e sociais, e nunca sendo isolado destes. A partir da reforma, o Estado não poderia construir e nem mesmo contratar serviços de hospitais psiquiátricos. Em substituição às internações, os pacientes teriam acesso a atendimentos psicológicos, atividades alternativas de lazer, e tratamentos menos invasivos do que aqueles que eram dados. A família, aqui, teria papel fundamental na recuperação do paciente, sendo a principal responsável por ele.
O Movimento de Luta Antimanicomial consistiu em um diálogo de conscientização com as instituições legais e com os cidadãos ao elaborar o discurso de que os portadores de transtornos mentais não representam ameaça ou risco ao círculo social. Ao contrário, este seria um grande componente para sua recuperação. Por outro lado, seria necessário uma reeducação no modo de compreender os transtornos mentais, não como um estigma, mas um modo alternativo de ver e estar no mundo. O respeito e a conscientização seriam armas necessárias para reformular o modo como os pacientes eram tratados até aquele momento, dentro e fora de instituições responsáveis pelo tratamento.
É importante ressaltar que a reforma psiquiátrica teve início nos anos 80 e ainda hoje não foi completada. A luta pela reforma e a garantia de que a nova legislação (mais abaixo falamos dela) seja aplicada ainda é uma questão a ser discutida e constantemente relembrada, uma vez que ainda existem muitos hospitais psiquiátricos no Brasil, acumulando relatos de abusos, e inúmeros casos de mortes por negligência. Entre os anos de 2006 e 2009 foram notificadas 233 mortes em lugares como esse apenas em Sorocaba (SP). 102 delas ocorreram no Hospital Vera Cruz, cujo fechamento está previsto para o fim de 2016.
REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL E OS CENTROS DE AÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS)
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Na década de 90, novas soluções foram aplicadas para a saúde mental. Aos poucos, o Ministério da Saúde substituiu o tratamento em hospitais por atendimentos comunitários.
Através das Leis Federais 8.080/1990 e 8.142/90, foi instituída a rede de atenção à saúde mental, junto com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde). As leis atribuíram ao Estado a responsabilidade de promover um tratamento em comunidade, possibilitando a livre circulação dos pacientes e não mais a internação e o isolamento, contando com os serviços de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura, as Unidade de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III).
Os CAPS, que foram criados em 1992, são serviços públicos oferecidos em unidades regionais, que oferecem tratamentos intensivos, semi-intensivos e não intensivos. No tratamento intensivo, são oferecidos atendimentos diários com objetivo de reinserir o paciente na sociedade. Havendo necessidade de internação, é o próprio CAPS que encaminha o paciente para leitos de saúde mental em hospitais que oferecem internação de curto prazo. Esses serviços de internação fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que têm como função substituir a internação em asilos, priorizando um tratamento que visa a autonomia do paciente e o respeito à cidadania.
Fruto do movimento pelo fim das internações compulsórias, o CAPS tem como ferramentas o atendimento individualizado, com rodas de conversa, oficinas artísticas e o tratamento terapêutico individual e em grupo. Busca-se oferecer um tratamento ambulatorial mais humanizado, no lugar de hospitais psiquiátricos e longas internações.
LEI PAULO DELGADO (10.216/2001)
A Lei Paulo Delgado faz parte da Reforma iniciada na década de 70. Ela foi promulgada apenas em 2001, com o intuito de garantir os direitos de pacientes portadores de transtornos mentais a receberem atendimentos menos invasivos e priorizando o tratamento através da reinserção na família, no trabalho e na comunidade. Os pacientes passam a ter direito a informações a respeito de sua condição e sobre os tratamentos possíveis, além de estar protegidos contra qualquer abuso e exploração.
A lei também impede que sejam feitas internações compulsórias, ou seja, feitas sem o consentimento do paciente ou de terceiros (familiares e responsáveis). Estas devem feitas apenas após laudo médico, em casos de extrema urgência, quando o paciente é tido como uma ameaça para si e para terceiros. Nesses casos, o médico é obrigado a notificar o Ministério Público sobre a internação e depois sobre a alta do paciente.
A reforma psiquiátrica tem como objetivo dar voz ao paciente no que concerne aos seus interesses e o tratamento que pode ser mais adequado para ele. Todo diagnóstico e terapia devem depender de seu consentimento ou de sua família. O paciente deixaria então de ser um objeto, para se tornar protagonista da busca pelo seu próprio bem estar. No entanto, ainda existem em torno de 160 hospitais psiquiátricos no Brasil, com mais de 20.000 leitos. E não há previsão para serem fechados.

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