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Lei 11 101 Comentada

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LEI No 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005
	
	
        O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
        Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.
1.Âmbito de aplicação da lei. A lei n. 11.101/05 tem aplicação restrita ao empresário e à sociedade empresária. Estão sujeitas à lei as sociedades em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade limitada, a sociedade anônima e a sociedade em comandita por ações. Na sociedade em conta de participação, aplica-se apenas ao sócio ostensivo. A lei não se aplica às sociedades simples.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – súmula 49 “A lei nº 11.101/2005 não se aplica à sociedade simples”
        Art. 2o Esta Lei não se aplica a:
        I – empresa pública e sociedade de economia mista;
        II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
1. Exceção à aplicação da lei. O art. 2º da lei prevê que as exceções à sua aplicação. Assim, alguma sociedades empresárias, embora exerçam atividade econômica, não podem se valer dos instrumentos da lei, como o pedido de recuperação judicial e as regras da falência.
2. Atuação econômica do Estado. As disposições da lei n. 11.101/05 não se aplicam às empresas públicas e sociedades de economia mista. Com relação às empresas públicas, acertada a exclusão tendo em vista que a totalidade das ações da empresa são do Estado, não existindo sentido em sujeita-las ao regime privado de insolvência. Já com relação às sociedades de economia mista, porém, a exclusão não tem sentido. As sociedades não possuem a totalidade do capital estatal e deveriam estar sujeitas ao regime de direito privado, inclusive o regime de insolvência, como determinado pelo inc. II do §1º do art. 173 da Constituição Federal, que estabelece que “a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: II- a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários”.
3. Exceção no que tange às sociedades empresárias. O inciso II do art. 2º da lei cria exceções na aplicação da lei às sociedades empresárias, uma vez que, com exceção das cooperativas, as entidades nele listadas se encaixam neste conceito. E o dispositivo apenas exclui as entidades nele listadas do seu âmbito de aplicação pela possível crise em todo o sistema que pode advir da falência de algumas dessas sociedades.
4. Instituições Financeiras e consórcios. Aplicação da lei n. 6.024/74, que dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras.
5. Cooperativas. O parágrafo único do art. 982 do Código Civil estabelece que as cooperativas, independentemente do seu objeto, serão consideradas sociedades simples. Assim, pela previsão do art. 1º desta lei, as disposições da lei n. 11.101/05 não se aplicam às cooperativas.
6. Seguradoras. O regime de falência das sociedades seguradoras está regulamentado pelo decreto-lei n. 73, de 21 de novembro de 1966.
7. Entidades de previdência complementar. O regime de falência das entidades de previdência complementar está regulamentado pela lei complementar n. 108/2001.
8. Planos de saúde. O regime de falência dos planos de saúde está regulamentado pela lei n. 9.656/1998.
9. Sociedades de capitalização. O regime de falência das sociedades de capitalização está regulamentado pelo decreto-lei n. 261/1967.
        Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
1.Competência e conceito de principal estabelecimento. O artigo 3º da lei fixa de forma expressa a competência para análise e concessão dos seus benefícios. É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência da sociedade empresária o juízo do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. É de se ressaltar, contudo, que o principal estabelecimento do devedor para fins de fixação de competência para análise e concessão dos benefícios da lei deve ser analisado de ponto de vista econômico, não apenas formal. Assim, é competente o estabelecimento mais importante para a empresa do ponto de vista econômico. Não há que se confundir, assim, principal estabelecimento para os fins desta lei, este sim competente, com eventual sede da empresa prevista no contrato ou estatuto social, caso tal sede não seja o principal estabelecimento.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – AI n. 620.554-4/3-00
Superior Tribunal de Justiça – súmula 400 “O juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa”.
Superior Tribunal de Justiça – AgRg no CC 128267 / SP: “1. O SuperiorTribunal de Justiça já decidiu que no caso de deferimento da recuperação judicial a competência de outros juízos se limita à apuração dos respectivos créditos, sendo vedada a prática de qualquer ato que comprometa o patrimônio da empresa em recuperação.”
        Art. 4o (VETADO)
CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA
Seção I
Disposições Gerais
        Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
        I – as obrigações a título gratuito;
        II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
1. Créditos e obrigações não exigíveis do devedor. Não são exigíveis do devedor em recuperação judicial ou falido as obrigações a título gratuito. O dispositivo tem o intuito de proteger os ativos e bens do devedor em prol da coletividade de credores, ainda que eventual negócio seja feito de boa-fé, como eventual doação que tenha sido feita pelo devedor a terceiro. Durante o processo de recuperação judicial, eventuais obrigações assumidas a esse título não são exigíveis.
2. Ônus decorrentes da sucumbência e o litígio do devedor. Também não são exigíveis do devedor as despesas arcadas pelos credores para participação nos processos de recuperação judicial e falência. O dispositivo entendeu ser conveniente e prudente dar tratamento diverso à sucumbência do que o Código de Processo Civil com o claro objetivo de permitir que o devedor possa se reerguer. Contudo, caso haja algum litígio entre o devedor e credor para habilitação do crédito, a regra de sucumbência passa a ser a do Código de Processo Civil. 
        Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
        § 1o Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida.
        § 2o É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
        § 3o O juiz competente para as açõesreferidas nos §§ 1o e 2o deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.
        § 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.
        § 5o Aplica-se o disposto no § 2o deste artigo à recuperação judicial durante o período de suspensão de que trata o § 4o deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no quadro-geral de credores.
        § 6o Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial:
        I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;
        II – pelo devedor, imediatamente após a citação.
        § 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.
        § 8o A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor.
1. Suspensão da prescrição. A decretação da falência ou deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição. É suspensão, não interrupção do prazo, de modo que, cessada a eficácia suspensiva, o prazo recomeça a fluir do momento em que foi suspenso. No caso da falência, a suspensão da prescrição se encerra do trânsito em julgado da sentença de encerramento; já na recuperação judicial, após transcorrido o prazo de suspensão de 180 dias previsto no §4º deste artigo, a prescrição retoma seu curso.
2. Suspensão do curso de todas as ações e execuções. A decretação da falência ou deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso de todas as ações e execuções ajuizadas em face do devedor. A ideia é a de que todos os credores participem do processo de recuperação judicial e falência, de modo que as discussões, em regra, são trazidas para o processo falimentar. Em especial nos processos de recuperação judicial a suspensão dá verdadeiro alívio ao devedor, que pode conduzir sua atividade comercial pelo prazo de 180 dias sem a pressão de eventuais cobranças judiciais e expropriações de seu patrimônio.
3. Exceção à regra de suspensão das ações e execuções. Podem prosseguir mesmo com a decretação da falência ou deferimento do processamento da recuperação judicial as ações nas quais se demandaquantia ilíquida, as reclamações trabalhistas, as execuções fiscais e as relativas a crédito excetuados, como credores com crédito garantido por alienação ou cessão fiduciária ou credores de adiantamento de contrato de câmbio.
4. Conceito de credores particulares do sócio solidário. O dispositivo trata da suspensão das ações e execuções ajuizadas em face dos credores particulares do sócio solidário. Não há que se confundir devedor solidário e sócio solidário. É muito comum que sócios da empresa falida ou em recuperação sejam também avalistas das obrigações assumidas pela devedora. Essas ações e execuções têm o seu prosseguimento normal em face dos avalistas. O que se suspende são ações e execuções ajuizadas em face do sócio solidário, que é aquele ilimitadamente responsável de acordo com o regime social estabelecido, como as sociedades em nome coletivo, em comandita simples e comandita por ações.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – súmula 54 “O registro do ajuizamento de falência ou de recuperação de empresa no cartório do distribuidor ou nos cadastros de proteção ao crédito não constitui ato ilegal ou abusivo.” 
5. Prosseguimento das demandas com pedido ilíquido. A lei prevê que as ações que demandem quantias ilíquidas devem prosseguir no juízo em que já estiverem se processando. A ideia é que seja formado o título executivo para que o credor de quantia ilíquida possa participar do concurso de credores, simplesmente habilitando e comprovando a existência do seu crédito liquido quando devidamente constituído no juízo competente.
6. Créditos trabalhistas. A ideia do dispositivo é respeitar a competência da justiça do trabalho para conhecimento e julgamento das demandas trabalhistas. A lei autoriza credores trabalhistas a pleitearem junto ao administrador judicial habilitação, exclusão ou modificação do crédito, mas faz a ressalva de que as ações trabalhistas devem ser processadas na justiça competente até que se liquide o valor, momento no qual será informado ao juízo da falência e inserido no quadro-geral de credores.
7. Reserva do valor da condenação. É situação frequente quando do deferimento do processamento da recuperação judicial ou da decretação da falência o devedor figurar no polo passivo de inúmeras demandas, em especial trabalhistas. Nestes casos, com o intuito de resguardar a efetividade da decisão a ser proferidas nas demandas previstas nos §1º e 2º deste artigo, pode o juiz competente solicitar ao juiz da recuperação judicial ou falência a reserva do valor para que, posteriormente reconhecido o direito e liquidado o valor, seja o credor incluído no quadro geral de credores.
8. O improrrogável prazo de 180 dias. O dispositivo é expresso no sentido de que, deferido o processamento da recuperação judicial, em hipótese alguma poderá o prazo de suspensão das ações e execuções ajuizadas em face do devedor exceder 180 dias. Contudo, a jurisprudência vem mitigando o rigor do texto legal para entender que, nos casos em que a demora no processamento da recuperação judicial não pode ser imputada ao devedor, o prazo pode ser prorrogado pelo princípio da preservação da empresa e em benefício da massa. Findo o prazo, credores poderão ajuizar suas ações e execuções em face do devedor sem que seja necessária qualquer autorização ou decisão do juiz da recuperação judicial. O mesmo vale para as ações e execuções já iniciadas, que retomarão o seu curso.
 
Superior Tribunal de Justiça:
AgRg no Conflito de Competência n. 111.614 – DF
 
9. Créditos trabalhistas. A lei cria uma exceção à regra de suspensão estabelecida no §4º. Os credores trabalhistas poderão durante o prazo de 180 dias habilitar seus respectivos créditos perante à recuperação judicial ou falência ou, caso prefiram, poderão prosseguir com suas ações trabalhistas até que reconhecido e liquidado o direito. A liquidação do crédito no juízo de origem certamente facilita o trabalho do juízo da recuperação judicial.
10. Controle do passivo judicial do devedor. A lei tem como premissa que o devedor, em condição financeira precária, será demandado judicialmente por inúmeros credores, mesmo com o deferimento do processamento de sua recuperação judicial ou da decretação de sua falência. Por conta disso, cria ao juízo competente para o julgamento da demanda ajuizada em face do devedor a obrigação de comunicar a sua existência ao juízo da falência quando do recebimento da petição inicial.
11. Controle do passivo judicial do devedor. A lei tem como premissa que o devedor, em condição financeira precária, será demandado judicialmente por inúmeros credores, mesmo com o deferimento do processamento de sua recuperação judicial ou da decretação de sua falência. Por conta disso, cria ao devedor a obrigação de comunicar a existência ao juízo da falência, logo após citado, das demandas que vierem a serem face dele ajuizadas.
12. Créditos tributários. Não estão sujeitos aos efeitos da recuperação judicial os créditos tributários. Em virtude disso, as execuçõesde natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento do processamento da recuperação judicial, a não ser que o respectivo débito tenha sido objeto de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional ou de lei específica. Convertida a recuperação judicial em falência, os créditos previdenciários e tributários devem apenas ser comunicados ao juízo da recuperação judicial para que sejam inseridos no quadro de credores e posteriormente pagos na ordem legal. Não é necessária habilitação, como estabelece o art. 187 do Código Tributário Nacional (“A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento.”).
13. Prevenção. O dispositivo legal parece inútil no que tange ao pedido de recuperação judicial, na medida em que é absolutamente improvável e inadequado que sejam distribuídos pelo devedor dois pedidos de recuperação judicial. De qualquer forma, a distribuição do pedido de recuperação judicial ou pedido de falência previne o juízo que o tenha recebido, que, a partir daquele momento, será o competente para analisar todos os demais pedidos de falência e recuperação judicial relacionados ao mesmo devedor. 
Seção II
Da Verificação e da Habilitação de Créditos
        Art. 7o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
        § 1o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1o, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.
        § 2o O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1o deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1o deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8o desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.
1. O administrador judicial e a verificação dos créditos. O administrador judicial, dotado das competências que lhe foram outorgadas pelo art. 22 da lei, deve, mediante consulta aos arquivos e contabilidade do devedor e com base nas informações trazidas pelos credores que participam doprocesso de recuperação, apurar todas as dívidas do devedor para fins de elaboração da lista de credores, fase esta prévia à elaboração do quadro geral de credores.
2. A lista de credores do devedor.  Estabelece o §1 do art. 52 da lei que “O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, que conterá: I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial; II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito; III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7º, §1º, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei”. Já o parágrafo único do art. 99 estabelece que “O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e a relação de credores.”. O edital, tanto o do §1º do art. 52 quanto do parágrafo único do art. 99, tem o objetivo de dar ciência aos credores e a quem mais tiver interesse de que o devedor teve o processamento de sua recuperação judicial deferida ou sua falência decretada. Além disso, tem o objetivo de apresentar aos credores a relação para que os respectivos créditos possam ser verificados.
 
3. Divergência ou habilitação do crédito. Caso o crédito não conste da relação de credores ou conste de forma equivocada, seja quanto à classificação ou quanto ao valor, é facultado aos credores apresentar suas respectivas habilitações e divergências no prazo de 15 dias contados da publicação do edital. A divergência deve ser instruída com os documentos que comprovem as alegações do credor e deve explicitar o motivo pelo qual de alguma forma o que foi relacionado na lista está equivocado.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – Súmula 58: “Os prazos previstos na lei n° 11.101/2005 são sempre simples, não se aplicando o artigo 191, do Código de Processo Civil.”.
4. A lista de credores do administrador judicial. Feita a análise pelo administrador judicial de todas as informações do devedor em conjunto com as divergências e habilitações apresentadas pelos credores por força no disposto no §1º deste artigo, deve ele elaborar relação de credores, no prazo de 45 dias, contados do fim do prazo para apresentação das divergências e habilitações pelos credores. Os documentos utilizados como fundamento para a elaboração da lista de credores do administrador judicial deverão ser disponibilizados a todos os interessados. A relação de credores do administrador judicial deve ser publicada em edital para seja dada ciência a todos os interessados.  
 
        Art. 8o No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7o, § 2o, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado.
        Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 15 desta Lei.
1. Impugnação destinada ao juízo da recuperação judicial oufalência. Publicado o edital com a relação de credores elaborada peloadministrador judicial, são legitimados para apresentação de impugnação ao juízo da recuperação judicial ou falência o Comitê de credores, qualquer credor, o devedor, seus sócios ou o Ministério Público. Referida impugnação deve apontar os equívocos das informações constantes dalista de credores elaborada pelo administrador judicial, seja a ausência, legitimidade, valor ou classificação do crédito.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – Súmula 58: “Os prazos previstos na lei n° 11.101/2005 são sempre simples, não se aplicando oartigo 191, do Código de Processo Civil.”.
2. Aspectos processuais da impugnação. A impugnação prevista pelo art. 8º é verdadeiro incidente processual. Justamente por isso, será autuada em apartado aos autos do processo de recuperação judicial ou falimentar e será processado nos termos dos arts. 13 a 15 da lei. É excelente que a lei tenha previsto um procedimento específico para a impugnação, em autos apartados. Não deixa margem para dúvida e ao mesmo tempo tem efeito extremamente positivo para fins de organização do processo, geralmente bastante volumoso. 
        Art. 9o A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7o, § 1o, desta Lei deverá conter:
        I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer ato do processo;
        II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;
        III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem produzidas;
        IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento;
        V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.
        Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo.
1. Requisitos da petição inicial da impugnação de crédito. Como incidente processual que é, a impugnação, para que tenha o mérito devidamente analisado, deve conter alguns requisitos especificadospelos incisos do art. 9º. São eles (i) qualificações do credor, ou seja, a relação do nome, endereço e endereço de comunicação tem o objetivo de facilitar tanto a identificação do credor quanto a comunicação deste com o administrador judicial e o juízo. (ii) o mérito da impugnação, isto é, a impugnação tem por objetivo demonstrar ao juízo o equívoco da relação de credores elaborada pelo administrador judicial, a petição deve conter o valor do crédito atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, a origem do referido crédito e sua classificação dentro do processo falimentar ou de recuperação judicial; (iii) a instrução da impugnação, isto é, como em processo judicial, para que o credor convença o juízo de que a relação de credores elaborada pelo administrador judicial está equivocada, deve instruir sua impugnação com os documentos que comprovam a origem do seu crédito. Além disso, deve na própria petição inicial da impugnação indicar outras provas que precisarão ser produzidas para comprovar a origem do seu crédito; (iv) a verificação de que a garantia do crédito está devidamente constituída é de extrema importância dentro dos processos de recuperação judicial e falimentar, na medida em que pode alterar a classificação do crédito e, consequentemente, a ordem de pagamento. Justamente por isso é que a impugnação de crédito deve indicar a garantia prestada pelo devedor, já apresentando ao juízo o seu respectivo instrumento de constituição; (v) especificar na petição de impugnação a garantia prestada pelo devedor e o objeto da garantia que está em sua posse.
2. Cópias autenticadas. A lei faculta ao credor instruir a impugnação com os originais dos documentos que comprovam seu crédito e a constituição das garantias ou com cópias autenticadas, caso os originais estejam juntados a outro processo. Na realidade, pela magnitude dos processos de recuperação judicial e falência, é comum a instrução da impugnação direcionada ao juízo somente com as cópias autenticadas, colocando-se o credor à disposição para juntar os originais caso o devedor, o administrador judicial, o Ministério Público ou o juízo entendam necessário
        Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7o, § 1o, desta Lei, as habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias.
        § 1o Na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados os titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a voto nas deliberações da assembléia-geral de credores.
        § 2o Aplica-se o disposto no § 1o deste artigo ao processo de falência, salvo se, na data da realização da assembléia-geral, já houver sido homologado o quadro-geral de credores contendo o crédito retardatário.
        § 3o Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação.
        § 4o Na hipótese prevista no § 3o deste artigo, o credor poderá requerer a reserva de valor para satisfação de seu crédito.
        § 5o As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da homologação do quadro-geral de credores, serão recebidas como impugnação e processadas na forma dos arts. 13 a 15 desta Lei.
        § 6o Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do respectivo crédito.
1. Habilitações retardatárias de crédito. Não apresentada pelo credor no prazo de 15 dias a habilitação ou divergência direcionada aoadministrador judicial, ainda resta a possibilidade aos credores de fazê-lo de forma retardatária. As habilitações de crédito apresentadas por tais credores serão, desta forma, consideradas retardatárias, o que tem uma séria de consequências que serão analisadas nos parágrafos subsequentes.
2. Direito a voto e habilitações retardatárias. Uma das graves consequências para a não apresentação pelo credor da habilitação ou divergência direcionada ao administrador judicial no prazo de 15 dias é a impossibilidade de exercício do direito de voto nas deliberações da assembleia geral de credores, na qual, por exemplo, as decisões a respeito do plano de recuperação judicial e o futuro da empresa em recuperação são tomadas. No processo falimentar, contudo, o credor retardatário poderá exercer o seu direito de voto caso, na data de realização da assembleia geral de credores, o quadro geral de credores já tenha sido homologado contendo o seu respectivo crédito. Vale ressalvar de que o dispositivo não se aplica aos credores de créditos trabalhistas, que terão sempre o direito a voto.
3. Outras consequências da habilitação retardatária do crédito. O credor retardatário perderá, além do direito a voto, eventuais rateios realizados, ficarão sujeitos ao pagamento de custas processuais e nos respectivos créditos não serão computados os consectários legais entre o término do prazo de 15 dias para apresentação da habilitação ou divergência e a data do pedido de habilitação.
4. Reserva de valor do crédito. O credor retardatário poderá requerer ao juízo da falência ou recuperação judicial a reserva de valor do seu crédito para ter assegurada a efetividade da tutela jurisdicional que pleiteou com sua habilitação retardatária.
5. Habilitações retardatárias de crédito apresentadas antes da homologação do quadro geral de credores. As habilitações retardatárias de crédito terão o mesmo trâmite das impugnações tempestivas se apresentadas antes da homologação do quadro geral de credores e seguirão, portanto, o procedimento estabelecido nos arts. 13 a 15 da lei.
6. Habilitações retardatárias de crédito apresentadas após a homologação do quadro geral de credores. As habilitações retardatárias de crédito apresentadas após a homologação do quadro geral de credores não seguirão o procedimento estabelecido nos arts. 13 a 15 da lei. O credor deverá se utilizar, no que couber, do procedimento ordinário estabelecido pelo Código de Processo Civil para requerer ao juízo da falência e da recuperação judicial a retificação do quadro geral de credores e inclusão ou alteração do respectivo crédito. É necessário traçar um marco temporalpara que os credores possam se utilizar do procedimento previsto em lei para as habilitações, ou o processo será tumultuado. Assim, homologado o quadro de credores, deve o credor retardatário se utilizar da via do procedimento ordinário. 
        Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para contestar a impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que tiverem e indicando outras provas que reputem necessárias.
1. Prazo para contestação do credor. Caso algum outro legitimado (Comitê de credores, qualquer outro credor, Ministério Público, devedor,administrador judicial) apresente a impugnação ao crédito, o credor será intimado para no prazo de 5 dias apresentar sua resposta à impugnação, instruindo a resposta com as provas e documentos que entenda necessárias. Com o exercício do contraditório pelo credor e abertura da instrução processual, dá-se elemento para os demais participantes doprocesso de recuperação judicial e falência formarem sua convicção. 
        Art. 12. Transcorrido o prazo do art. 11 desta Lei, o devedor e o Comitê, se houver, serão intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela no prazo comum de 5 (cinco) dias.
        Parágrafo único. Findo o prazo a que se refere o caput deste artigo, o administrador judicial será intimado pelo juiz para emitir parecer no prazo de 5 (cinco) dias, devendo juntar à sua manifestação o laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada, se for o caso, e todas as informações existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do crédito,constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação.
1. Participação dos demais envolvidos. Após apresentada a resposta pelocredor ou decorrido o prazo sem qualquer manifestação, o juízo intimará o devedor e eventual Comitê de credores para manifestação a respeito dos elementos trazidos aos autos tanto pelo impugnante quanto pelo impugnado, no prazo de 5 dias. A participação de todos os envolvidos no processo é de extrema importância para que o juiz possa ter todos os elementos para decidir a impugnação de maneira convicta.
2. Participação do administrador judicial. Após manifestação do impugnado, do devedor e do Comitê de credores, se houver, o administrador judicial será intimado para emitir parecer a respeito da situação do crédito, no prazo de 5 dias. O parecer deve ser instruído com laudo elaborado por profissional ou empresa especializada, e todas as informações dos livros fiscais e documentos do devedor a respeito do crédito objeto da impugnação. 
        Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias.
        Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo crédito.
1. Requisitos da petição da impugnação. A lei é expressa quanto aos requisitos da impugnação à relação de credores do administrador judicial. Deve ser endereçada ao juiz do processo falimentar ou de recuperação judicial, ser instruída com todos os documentos que o impugnante tiver a respeito do crédito e deve indicar todas as provas necessárias para comprovação das alegações formuladas, caso os documentos que já instruíram a impugnação não sejam suficientes para comprovação do valor do crédito, sua classificação e respectivas garantias.
2. Aspectos processuais da impugnação. A impugnação à relação de credores apresentada pelo administrador judicial é verdadeiro incidente processual, e como tal deve ser autuado em apartado ao processo de recuperação judicial ou falência. Por óbvio, na existência de mais de uma impugnação a respeito do mesmo crédito, serão todas elas autuadas em conjunto, para facilitação do debate e da futura decisão do juízo a respeito das alegações trazidas por todos os participantes. 
        Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de credores, a relação dos credores constante do edital de que trata o art. 7o, § 2o, desta Lei, dispensada a publicação de que trata o art. 18 desta Lei.
        Art. 15. Transcorridos os prazos previstos nos arts. 11 e 12 desta Lei, os autos de impugnação serão conclusos ao juiz, que:
        I – determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de créditos não impugnadas, no valor constante da relação referida no § 2o do art. 7o desta Lei;
        II – julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas alegações e provas apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crédito, o valor e a classificação;
        III – fixará, em cada uma das restantes impugnações, os aspectos controvertidos e decidirá as questões processuais pendentes;
        IV – determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário.
1. Possíveis resultados das impugnações. O dispositivo prevê que váriaspossíveis soluções para as impugnações de crédito apresentadas após as manifestações de todas as partes. São elas: (i) habilitações de crédito sem impugnação. Caso não haja qualquer impugnação pelos legitimados para tanto às habilitações de crédito apresentadas, o juízo determinará a inclusão do crédito no quadro geral de credores, retificando a relação de credores apresentada pelo administrador judicial; (ii) habilitações em condições de julgamento. Caso o julgamento da impugnação não dependa de produção de provas, o juiz julgará desde logo a impugnação com base nos elementos já constantes dos autos, decidindo, assim, o valor e a classificação do crédito impugnado; (iii) habilitações pendentes de instrução probatória. Caso a impugnação ainda depende da fase de instrução probatória para decisão, o juiz saneará o processo, decidindo as questões processuais pendentes, fixando as questões controvertidas e determinando a produção das provas necessárias para solução das questões controvertidas; (iv) habilitações pendentes de instrução probatória. Caso a impugnação ainda depende da fase de instrução probatória para decisão, o juiz saneará o processo, decidindo as questões processuais pendentes, fixando as questões controvertidas e determinando a produção das provas necessárias para solução das questões controvertidas.
2. Honorários de sucumbência. Em caso de julgamento de improcedência da impugnação de crédito apresentada pelo credor à relação de credores do administrador judicial, o impugnante deve ser condenado ao pagamento de honorários sucumbenciais, fixados com base no §4º do art. 20 do Código de Processo Civil.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:
AI 589.244-4/4-00
AI n. 581.455-4/9-00
 
        Art. 16. O juiz determinará, para fins de rateio, a reserva de valor para satisfação do crédito impugnado.
        Parágrafo único. Sendo parcial, a impugnação não impedirá o pagamento da parte incontroversa.
1. Pedido de reserva do valor do crédito impugnado. O juiz deve determinar a reserva do valor do crédito sempre que houver impugnação. A existência de impugnação não pode prejudicar o credor, que deve receber assim como todos os demais credores participantes do processo de recuperação judicial ou falimentar. O pedido de reserva tem o objetivo justamente de preservar o direito do credor cujo crédito é objeto de impugnação.
2. Impugnação parcial e o valor incontroverso. A impugnação parcial não impede que o valor incontroverso seja pago. Neste caso, o pedido de reserva de que trata o caput do artigo deve ser da parte controversa, discutida na impugnação. 
        Art. 17. Da decisão judicial sobre a impugnação caberá agravo.
        Parágrafo único. Recebido o agravo, o relator poderá conceder efeito suspensivo à decisão que reconhece o crédito ou determinar a inscrição ou modificação do seu valor ou classificação no quadro-geral de credores, para fins de exercício de direito de voto em assembléia-geral.
1. Recurso cabível contra a decisão que julgou a impugnação. É o agravo de instrumento, previsto no Código de Processo Civil, o recurso cabível contra a decisão que julga a impugnação de crédito. O prazo de 10 dias para interposição do recurso se inicia da publicação no Diário Oficial dadecisão que julgou a impugnação.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – Súmula 58: “Os prazos previstos na lei n° 11.101/2005 são sempre simples, não se aplicando oartigo 191, do Código de Processo Civil.”.
2. Tutela antecipada recursal. Recebido o agravo de instrumento pelo relator, poderá ele conceder efeito suspensivo ao recurso, no caso de recurso interposto contra decisão que reconheceu o crédito ou conceder efeito ativo ao recurso, determinando a inscrição ou modificação do valor ou classificação do crédito no quadro geral de credores, para que reste assegurado o direito de voto do credor na assembleia geral de credores. Apesar da previsão específica da lei, essa antecipação de tutela recursal é a mesma prevista no art. 527, inc. III, do Código de Processo Civil. De qualquer forma, o relator tem função vital e tem em suas mãos o poder de causar dano irreparável ao credor, na medida em que as decisões da assembleia não são passíveis de invalidação por modificação posterior de qualquer das peculiaridades do crédito por decisão judicial (art. 39, §2º). Assim, o deferimento ou não da antecipação dos efeitos da tutela recursal deve ser feito com total seriedade e parcimônia. 
        Art. 18. O administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-geral de credores, a ser homologado pelo juiz, com base na relaçãodos credores a que se refere o art. 7o, § 2o, desta Lei e nas decisões proferidas nas impugnações oferecidas.
        Parágrafo único. O quadro-geral, assinado pelo juiz e pelo administrador judicial, mencionará a importância e a classificação de cada crédito na data do requerimento da recuperação judicial ou da decretação da falência, será juntado aos autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data da sentença que houver julgado as impugnações.
1. Consolidação dos créditos e o quadro geral de credores. Decididas todas as impugnações de forma definitiva, isto é, transitadas em julgado as decisões das impugnações apresentadas, cabe ao administrador judicial consolidar as informações existentes em sua relação e nas decisões das impugnações apresentadas para formação do quadro geral de credores. Elaborado o quadro geral, o juiz deve homologá-lo, para posterior publicação do quadro no Diário Oficial.
2. Quadro geral de credores. O quadro geral de credores deve mencionar o valor e a classificação de cada crédito na data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência. Ele será juntado aos autos doprocesso de recuperação judicial ou falimentar e publicado no Diário Oficial, no prazo de 5 dias, contados da sentença que houver julgado as impugnações. Tendo em vista a complexidade dos processos de recuperação judicial e falimentar, na prática dificilmente o exíguo prazo estabelecido pelo dispositivo será obedecido. Mas o quadro geral de credores é de extrema importância para os processos de recuperação judicial e falência na medida em quem representam o passivo completo da devedora ou da massa falida. 
        Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores.
        § 1o A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art. 6o, §§ 1o e 2o, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito.
        § 2o Proposta a ação de que trata este artigo, o pagamento ao titular do crédito por ela atingido somente poderá ser realizado mediante a prestação de caução no mesmo valor do crédito questionado.
1. Ação rescisória. O dispositivo legal prevê espécie de ação rescisória diferente da regulamentada pelo Código de Processo Civil, na medida em que autoriza o administrador judicial, o Comitê de Credores, qualquer credor ou representante do Ministério Público, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, caso seja descoberta falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou caso se descubram documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro geral de credores. A demanda seguirá o procedimento ordinário previsto pelo Código de Processo Civil.
2. Requisitos para o ajuizamento. Para que a ação rescisória seja ajuizada, é necessário que o caso concreto se encaixe em uma das hipóteses expressas prevista no dispositivo, isto é, que haja comprovação de que há fraude, dolo, simulação, erro essencial ou documentos ignorados na época do julgamento do crédito. 
3. Competência. É o juízo da falência ou da recuperação judicial a competência para o julgamento da ação rescisória prevista no art. 19 da lei 11.101/05. Há, contudo, duas exceções. Nos casos em que se demanda quantia ilíquida (art. 6º, §1º) e nas ações de natureza trabalhista (art. 6º, §2º), hipóteses em que a demanda será de competência do juízo que originariamente tenha reconhecido o crédito.
4. A caução do valor do crédito questionado. O demandado na açãorescisória só poderá receber o valor do seu crédito que é objeto da demanda se prestar caução no mesmo valor. A prestação de caução tem o objetivo de resguardas a efetividade da tutela jurisdicional e proteger a coletividade de credores. 
        Art. 20. As habilitações dos credores particulares do sócio ilimitadamente responsável processar-se-ão de acordo com as disposições desta Seção.
1. O sócio ilimitadamente responsável e as habilitações dos credores. Odispositivo legal se aplica para os casos de falência ou recuperação judicial de tipos societários que possuem sócios ilimitadamente responsáveis, como as sociedades em nome coletivo, comandita simples e comandita por ações. Nestes casos, os credores particulares do sócio também deverão habilitar seus respectivos créditos nos autos do processo falimentar ou de recuperação judicial.
2. Responsabilidade Subsidiária do sócio ilimitadamente responsável. Apesar do silêncio da lei n. 11.101/05 a este respeito, aplica-se ao caso o disposto no art. 1.024 do Código Civil, que prevê que “os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.”. Ou seja, devem ser expropriados os bens sociais antes dos bens particulares do sócio ilimitadamente responsável. 
Seção III
Do Administrador Judicial e do Comitê de Credores
        Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.
        Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.
1. A figura do administrador judicial. O administrador judicial deve ser de confiança do juízo no qual tramita a falência ou a recuperação judicial. Deve ser profissional idôneo, já que figura central em um processo de extrema complexidade como o processo de recuperação judicial ou falimentar, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador. Não há necessidade de que seja uma pessoa física. A lei autoriza que seja pessoa jurídica, desde que se indique o nome do profissional responsável nos termos do parágrafo único deste artigo.
2. Administrador judicial pessoa jurídica. A lei autoriza que o administrador judicial seja pessoa jurídica especializada no trabalho, desde que o nome do profissional responsável pela condução do processo de falência ou recuperação judicial conste do termo de compromisso previsto no art. 33 da lei n. 11.101/05. A substituição do nome do profissional responsável pelo acompanhamento do processo dentro da pessoa jurídica nomeada como administrador judicial deve ser autorizada pelo juiz competente. 
        Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
1. As funções do administrador judicial. O dispositivo prevê em seus incisos as obrigações assumidas pelo administrador judicial nomeado pelo juízo da recuperação judicial ou do processo de falência. A função do administrador judicial é essencial para o bom andamento do processo. Consequentemente, o cumprimento dos deveres impostos por este dispositivo legal é fiscalizado pelo juiz e pelo Comitê de Credores, se houver.
        I – na recuperação judicial e na falência:
2. Deveres do administrador judicial comuns à falência e à recuperação judicial. O inciso I do art. 22 prevê deveres que são assumidos pelo administrador judicial tanto no processo de recuperação judicial quanto no processo falimentar.
        a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caputdo art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;
3. A comunicação dos credores. O administrador judicial é o responsável por comunicar todos os credores que constam da relação de credores apresentada pelo próprio devedor em conjunto com a petição inicial do processo de recuperação (lei n. 11.101/05, art. 51, caput, inc. III), que constam da relação de credores apresentada pelo falido quando da decretação da falência (lei n. 11.101/05, art. 99, caput, inc. III) e que constam da relação de credores apresentada no pedido de falênciarequerido pelo próprio devedor (lei n. 11.101/05, art. 105, caput, II) para que tenha ciência e participem do processo de recuperação judicial ou falimentar. Na comunicação deve constar a data do pedido de recuperação judicial ou decretação da falência, a natureza como declarado o crédito, o valor e a classificação apresentada pelo devedor.
        b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;
4. Dever de informação. Por ser o condutor do processo, o administrador judicial deve sempre ter ciência de todas as informações relacionadas ao devedor e, ao mesmo tempo, estar disposto e fornecê-las a todos os credores que as solicitem
        c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos;
5. Os extratos contábeis. Os extratos contábeis do devedor deverão ser juntados aos autos pelo administrador judicial quando dos pareceres a respeito das habilitações e impugnações de crédito apresentadas. A fé de ofício dos extratos juntados pelo administrador judicial decorre da função ser de auxiliar da justiça.
        d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;
6. Informações de todos os envolvidos. É facultado ao administrador judicial exigir dos credores, do devedor e de seus administradores quaisquer informações relevantes para o bom andamento do processo de recuperação judicial ou falimentar. Essa faculdade decorre da função precípua do administrador judicial de zelar pelo bom andamento do processo e tomar as medidas necessárias em prol da preservação da empresa e da coletividade de credores.
        e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei;
7. Elaboração da relação de credores. Estabelece o §2º do art. 7º “o administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do §1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do §1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.”. Feita a análise pelo administrador judicial de todas as informações do devedor em conjunto com as divergências e habilitações apresentadas pelos credores, deve ele elaborar relação de credores, no prazo de 45 dias, contados do fim do prazo para apresentação das divergências e habilitações pelos credores.
        f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;
8. A consolidação do quadro geral de credores. O art. 18 prevê que “o administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-geral de credores, a ser homologado pelo juiz, com base na relação dos credores a que se refere o art. 7º, § 2º, desta Lei e nas decisões proferidas nas impugnações oferecidas”. Assim decididas todas as impugnações de forma definitiva, isto é, transitadas em julgado as decisões das impugnações apresentadas, cabe ao administrador judicial consolidar as informações existentes em sua relação e nas decisões das impugnações apresentadas para formação do quadro geral de credores.
        g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões;
9. A convocação da assembleia geral de credores. A lei faculta ao administrador judicial o pedido de convocação de assembleia geral de credores para as deliberações previstas no art. 35 desta lei ou quando ele entender ser necessária uma assembleia para tomada de decisões outras que não as expressamente previstas neste dispositivo.
        h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções;
10. Os auxiliares do administrador judicial. O administrador judicial pode requerer ao juiz que autorize a contratação de profissionais ou empresas especializadas para auxiliá-lo no exercício de suas funções, já que extremamente complexas. A necessidade de autorização judicial se deve ao fato de que o custo das contratações será arcado pela empresa em recuperação ou pela massa falida, de forma que é necessária a fiscalização da necessidade da contratação pelo juízo.
        i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;
11. Participação do administrador judicial. Pela importância da função desenvolvida pelo administrador judicial, a lei de falências e recuperação judicial exige em diversas passagens sua atuação em qualquer forma. As ponderações do administrador judicial são sempre importantes para a solução de quaisquer questões pendentes nos processos de recuperação judicial e falência.
        II – na recuperação judicial:
12. Deveres do administrador judicial no processo de recuperação judicial. O inciso II do art. 22 prevê deveres específicos relacionados exclusivamente ao processo de recuperação judicial.
        a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;
13. Cumprimento do plano de recuperação judicial. O administrador judicial deve acompanhar a rotina do devedor para verificar se a empresa em recuperação está em plena atividade e, consequentemente, tem capacidade de cumprir o que foi determinado pelo plano de recuperação judicial. Obviamente, a fiscalização das atividades do devedor tem por objetivo a certeza de que o plano será cumprido.
        b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação;
14. Fiscalização e descumprimento do plano de recuperação judicial. Do dever de fiscalização decorrer o de requerer a falência do devedor caso as obrigações assumidas no plano de recuperação judicial sejam descumpridas. O descumprimento do plano é caso expresso de convolação da recuperação judicial em falência, como prevê o inc. IV do art. 73 da lei (“o juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial: por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do §1º do art. 61 desta Lei.”).
        c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor;
15. Relatório mensal de atividades do devedor. Também do dever de fiscalização das atividades do devedor decorre o dever de elaboração do relatório mensal de atividades, para que todos no processo de recuperação judicial, inclusive o juízo, tenha ciência do que está sendo fiscalizado, da situação do devedor e do cumprimento do plano de recuperação judicial.
        d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei;
16. Relatório circunstanciado. Estabelece o inc. III do art. 63 da lei que “cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará: III – a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo devedor”. O prazo previsto no caput do art. 61 é o de 2 anos, contados da concessão da recuperação judicial ao devedor. Basicamente, também do dever de fiscalização decorre a obrigaçãode apresentar o relatório sobre o cumprimento do plano de recuperação após o encerramento do processo de recuperação judicial.
        III – na falência:
17. Deveres do administrador judicial no processo falimentar. O inciso III do art. 22 prevê deveres específicos relacionados exclusivamente ao processo falimentar.
        a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido;
18. Os livros e documentos do falido e o processo falimentar. É obrigação do administrador judicial dar ciência a todos os credores do local, lugar e hora em que os livros e documentos do devedor falido estarão à disposição para consulta. A ideia é de total transparência, tendo em vista a situação do devedor.
        b) examinar a escrituração do devedor;
19. Exame da escrituração do devedor. É obrigação do administrador judicial examinar a escrituração do devedor para apurar todos os créditos existentes e verificar a exata situação de todas relações da empresa falida, em especial os acontecimentos anteriores à decretação da falência. Esse exame será essencial para a elaboração do relatório descrito na alínea e deste mesmo inciso.
        c) relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida;
20. Representação judicial da massa falida. Estipula o art. 103 da lei que “desde a decretação da falência ou do sequestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.”. Decorre disso a necessidade de representação da massa falida pelo administrador judicial, que deve relacionar todos os processos da massa falida e representar a massa em todos eles. Vale ressaltar, contudo, que por força do parágrafo único do mesmo artigo 103, o falido pode intervir nos processos em que a massa falida for parte ou interessada (“o falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis”.).
21. Contratação de advogados pela massa falida. Caso o administrador judicial entenda que há necessidade de contratação de advogado para representação judicial da massa, referida autorização deve ser dada pelo Comitê de Credores, como previsto na alínea m deste inciso.
        d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa;
22. Correspondências ao devedor. O administrador judicial deve ter extremo cuidado para receber e abri somente as correspondências profissionais do devedor, relacionadas estritamente ao exercício da atividade comercial da empresa falida, para que não haja violação ao direito constitucional de sigilo da correspondência. O dispositivo é expresso ao prever que devem ser devolvidas ao falido as correspondências que não forem relacionados a assuntos de interesse da massa.
        e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei;
23. Relatório sobre as causas da falência. No exíguo prazo de 40 dias, com a possibilidade de prorrogação somente uma vez, o administrador judicial, após a análise de toda a escrituração do devedor, deverá elaborar relatório sobre as causas que levaram a empresa à falência. Referido relatório deve apontar as responsabilidades civis e criminais de todos os envolvidos e observar o disposto no art. 186 da lei, que estabelece que “no relatório previsto na alínea e do inciso III do caput do art. 22 desta Lei, o administrador judicial apresentará ao juiz da falência exposição circunstanciada, considerando as causas da falência, o procedimento do devedor, antes e depois da sentença, e outras informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e de outros responsáveis, se houver, por atos que possam constituir crime relacionado com a recuperação judicial ou com a falência, ou outro delito conexo a estes.”.
        f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei;
24. Arrecadação de bens e documentos. Cabe ao administrador judicial arrecadar todos os bens e documentos do devedor falido. A arrecadação deve ser formalizada por meio da elaboração do auto de arrecadação. Essa função é essencial para o bom andamento do processo falimentar e para que se resguardem os bens que compõe o ativo do devedor.
        g) avaliar os bens arrecadados;
25. Avaliação dos bens arrecadados. Uma vez arrecadados, os bens do devedor falido devem ser avaliados para futura alienação. A avaliação pode ser feita por profissional contratado, desde que autorizado pelo juízo, como determina a alínea h deste mesmo inciso.
        h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa;
26. Contratação de avaliadores. A avaliação pode ser feita por profissional contratado, desde que autorizado pelo juízo, caso o administrador entenda que não tem capacidade técnica para fazê-lo. A avaliação é de extrema importância e deve ser feita com o máximo cuidado, já que é da realização do ativo que sairá do dinheiro para pagamento dos credores, como trata a alínea i deste inciso.
        i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores;
27. Realização do ativo e pagamento dos credores. Arrecadados e avaliados os bens, deve o administrador judicial tomar todas as providência para alienação do ativo da empresa falida. O produto da alienação deve ser utilizado para pagamento dos credores na ordem estabelecida pela lei.
        j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa, nos termos do art. 113 desta Lei;
28. Venda antecipada. Com o intuito de zelar pelo patrimônio do falido e resguardar o valor dos bens quer compõe o ativo, o administrador pode requerer ao juiz a venda antecipada, isto é, antes do momento previsto em lei para tanto, de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos à considerável desvalorização. Também pode requerer a venda antecipada de bens de conservação arriscada ou dispendiosa, para racionalizar as contas da massa falida e buscar sempre o melhor resultado financeiro que possibilite o pagamento de todos os credores.
        l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação;
29. Prática de atos conservatórios e cobrança de dívidas. Ainda como representante da massa falida, compete ainda ao administrador judicial praticar todos os atos para conservação dos direitos e ações da empresa falida, bem como tomar as providências para eventuais cobranças de dívidas existentes e dar quitação quando necessário.
        m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos;
30. Remição de bens. O administrador judicial, administrando os bens da massa falida, pode remir bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos desde que em benefício da massa e com autorização judicial. Isto é, pagar a obrigação para ver bem livre, sem qualquer gravame. Vale, nesse sentido, citar o disposto no art. 1.483 do Código Civil, que prevê que “no caso de falência, ou insolvência, do devedor hipotecário, o direito de remição defere-se à massa, ou aos credores em concurso, não podendo o credor recusar o preço da avaliação do imóvel.”.
        n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores;
31. Representaçãojudicial da massa falida. Estipula o art. 103 da lei que “desde a decretação da falência ou do sequestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.”. Decorre disso a necessidade de representação da massa falida pelo administrador judicial, que deve relacionar todos os processos da massa falida e representar a massa em todos eles. Vale ressaltar, contudo, que por força do parágrafo único do mesmo artigo 103, o falido pode intervir nos processos em que a massa falida for parte ou interessada (“o falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis”.).
32. Contratação de advogados pela massa falida. Caso o administrador judicial entenda que há necessidade de contratação de advogado para representação judicial da massa, referida autorização deve ser dada pelo Comitê de Credores.
        o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração;
33. A função do administrador judicial. O dispositivo legal tem por objetivo enfatizar que cabe ao administrador judicial tomar todas as providências necessárias para que a lei seja fielmente cumprida, com a devida proteção da massa falida, respeitando os direitos do falido e em prol da coletividade de credores.
        p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10o (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa;
34. Contas da administração. Como administrador dos bens, direitos e obrigações de terceiro – o falido – o administrador judicial deve apresentar de forma clara ao juiz, até o décimo dia do mês seguinte ao vencido, as contas demonstrativas das receitas e despesas que teve.
        q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de responsabilidade;
35. Entrega ao substituto de todos os bens e documentos. O administrador judicial deve, nos casos em que for substituído ou destituído, entregar a seu substituto todos os bens e documentos que estejam em sua posse, sob pena de responsabilização. A obrigação de devolução do administrador substituído ou destituído é óbvia, na medida em que deixou de exercer a função e deve entregar ao novo administrador tudo o que for necessário ao bom exercício do cargo pelo substituto.
        r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo.
36. Prestação de contas. O administrador judicial deve, ao final do processo, momento que a sua função estará encerrada, ou quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo, prestar contas ao juízo. A prestação de contas é essencial para que seja o trabalho como um todo seja fiscalizado e aprovado. Caso as contas apresentadas sejam rejeitadas, o administrador judicial não terá direito à remuneração, termos do §4º do art. 24 da lei.
        § 1o As remunerações dos auxiliares do administrador judicial serão fixadas pelo juiz, que considerará a complexidade dos trabalhos a serem executados e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.
37. Remuneração dos auxiliares do administrador judicial. O juiz deve fixar em valor de mercado a remuneração dos auxiliares que tenham sido contratados para auxiliar o administrador judicial nas funções exercidas. A análise do valor da remuneração deve levar em consideração a complexidade dos trabalhos executados para que seja justa.
        § 2o Na hipótese da alínea d do inciso I do caput deste artigo, se houver recusa, o juiz, a requerimento do administrador judicial, intimará aquelas pessoas para que compareçam à sede do juízo, sob pena de desobediência, oportunidade em que as interrogará na presença do administrador judicial, tomando seus depoimentos por escrito.
38. Recusa de informação. A alínea d do inciso I do caput deste artigo faculta ao administrador judicial exigir dos credores, do devedor e de seus administradores quaisquer informações relevantes para o bom andamento do processo de recuperação judicial ou falimentar. Caso haja recusa, o juiz, a requerimento do administrador judicial, determinará a intimação dos que se recusaram para que compareçam à sede do juízo para que sejam interrogados na presença do administrador judicial, sob pena de desobediência. Os depoimentos devem ser tomados por escrito.
        § 3o Na falência, o administrador judicial não poderá, sem autorização judicial, após ouvidos o Comitê e o devedor no prazo comum de 2 (dois) dias, transigir sobre obrigações e direitos da massa falida e conceder abatimento de dívidas, ainda que sejam consideradas de difícil recebimento.
39. Transações e o administrador judicial. Para que o administrador judicial possa transigir a respeito de obrigações e direitos da massa falida e conceder abatimento no pagamento de dívidas, é necessário que haja autorização judicial, após a oitiva do Comitê de Credores e do devedor no prazo de 2 dias. Sem a oitiva de ambos e sem a devida autorização judicial, o administrador está proibido de transigir, ainda que as dívidas sejam consideradas de difícil recebimento.
        § 4o Se o relatório de que trata a alínea e do inciso III do caput deste artigo apontar responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será intimado para tomar conhecimento de seu teor.
40. Relatório sobre as causas da falência. A alínea e do inciso III do artigo estipula que é dever do administrador judicial, após a análise de toda a escrituração do devedor, elaborar relatório sobre as causas que levaram a empresa à falência, apurando as responsabilidades civis e criminais de todos os envolvidos. Assim, tendo sido apurada qualquer responsabilidade criminal, o Ministério Público deverá ser intimado para que tome conhecimento do apurado e tome as devidas providências no âmbito criminal. 
        Art. 23. O administrador judicial que não apresentar, no prazo estabelecido, suas contas ou qualquer dos relatórios previstos nesta Lei será intimado pessoalmente a fazê-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desobediência.
        Parágrafo único. Decorrido o prazo do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador judicial e nomeará substituto para elaborar relatórios ou organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor.
1. Deveres do administrador judicial. A lei, em especial o art. 22 e seus incisos, prevê expressamente alguns dos deveres do administrador judicial na condução do processo falimentar e de recuperação judicial, tendo emvista que a função exercida é, precipuamente, de administração dos bens, direito e deveres de um terceiro. Entre tais deveres está o de apresentar nos prazos estipulados a prestação de contas e os relatórios. Caso descumpridos os prazos estabelecidos pela lei, o juiz deverá determinar a intimação pessoal do administrador judicial para que, no prazo de 5 dias, apresente o que deixou de apresentar, sob pena de desobediência.
2. Destituição do administrador judicial. Decorrido o prazo do caput deste artigo sem que o administrador judicial tenha atendido o quanto determinado pelo juízo, ele será destituído, nomeando-se substituto, que deve elaborar os relatórios determinados pela lei e organizar a prestação das contas. Como substituto de administrador judicial destituído, o novo administrador judicial deve apontar no relatório as falhas e responsabilidades do antecessor. 
        Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.
        § 1o Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicialnão excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência.
        § 2o Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei.
        § 3o O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração.
        § 4o Também não terá direito a remuneração o administrador que tiver suas contas desaprovadas.
        § 5o  A remuneração do administrador judicial fica reduzida ao limite de 2% (dois por cento), no caso de microempresas e empresas de pequeno porte.        (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
1. Remuneração do administrador judicial. O valor da remuneração do administrador judicial e a forma de pagamento pelo devedor devem ser fixados de forma justa e razoável. O dispositivo legal dá alguns critérios que devem ser levados em consideração pelo juízo, como a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho desenvolvido e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.
2. Limitação à remuneração do administrador judicial. Ao mesmo tempo em que o caput do art. 24 da lei estabelece critérios para fixação da remuneração do administrador judicial e a forma de pagamento, o dispositivo ora comentado estabelece um limite para a remuneração, que não poderá exceder 5% do valor devido aos credores cujos créditos estejam submetidos aos efeitos da recuperação judicial ou do valor da venda dos bens na falência.
3. A conclusão do trabalho de administrador judicial. O art. 154 desta lei estipula que “concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 (trinta) dias.”. Da mesma forma, o art. 155 da lei prevê que “julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de 10 (dez) dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o falido.”. A ideia do dispositivo é reservar 40% da remuneração devida ao administrador judicial assim que tomadas as últimas providências que lei impõe, para que se tenha garantia da realização de um bom trabalho até o encerramento do processo.
4. Substituição do administrador judicial e a remuneração proporcional. Caso o administrador judicial seja substituído por motivo razoável, fará jus à remuneração proporcional do serviço que realizou. Caso, contudo, tenha renuncia de forma não fundamentada ou sido destituído da função por desídia, culpa, dolo ou descumprimento de obrigações previstas na lei, não fará jus a qualquer remuneração.
Descumprimento das obrigações e a remuneração. É obrigação do administrador judicial prestar contas ao devedor, ao juízo e a todos os credores no decorrer do processo de recuperação judicial e processo falimentar. Caso a prestação de contas não seja adequada, e justamente por isso seja desaprovada de forma fundamentada pelo juiz, o administrador judicial não fará jus à remuneração pelo trabalho que desenvolveu.
        Art. 25. Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração do administrador judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo.
1. A responsabilidade pelo pagamento da remuneração do administrador judicial e auxiliares. É do devedor ou da massa falida a responsabilidade pelo pagamento da remuneração do administrador judicial e dos auxiliares contratados para auxiliá-lo no exercício de sua função. A previsão parece óbvia, na medida em que os profissionais estão exercendo atividade por causa do devedor e em seu benefício. 
        Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de credores na assembléia-geral e terá a seguinte composição:
        I – 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes;
        II – 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;
        III – 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes.
        IV - 1 (um) representante indicado pela classe de credores representantes de microempresas e empresas de pequeno porte, com 2 (dois) suplentes.        (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
        § 1o A falta de indicação de representante por quaisquer das classes não prejudicará a constituição do Comitê, que poderá funcionar com número inferior ao previsto no caput deste artigo.
        § 2o O juiz determinará, mediante requerimento subscrito por credores que representem a maioria dos créditos de uma classe, independentemente da realização de assembléia:
        I – a nomeação do representante e dos suplentes da respectiva classe ainda não representada no Comitê; ou
        II – a substituição do representante ou dos suplentes da respectiva classe.
        § 3o Caberá aos próprios membros do Comitê indicar, entre eles, quem irá presidi-lo.
1. Comitê de Credores. A instalação do Comitê de Credores dentro dosprocessos de recuperação judicial e falência é facultativa. A previsão de sua constituição, por outro lado, demonstra a preocupação da lei com a atuação decisiva dos credores dentro dos processos de recuperação judicial e de falência. O art. 26 da lei prevê, em seus incisos, como será a composição do comitê para que seja a mais democrática possível e tenha a participação de credores de todas as classes. Geralmente as recuperações judiciais e falências de maior volume e expressão são as quais há constituição de Comitê de Credores. Falências e recuperações judiciais de menor porte não justificam a burocracia e gastos gerados pela constituição do comitê, já que as funções por ele exercidas podem ser assumidas pelos demais participantes dos processos de recuperação judicial e falência.
2. O equívoco cometido pela lei. Há evidente contradição entre os incisos do art. 26, que prevê a composição do Comitê de Credores, e o art. 41 da lei, que descreve a composição das classes de credores na assembleia de credores. Isto porque o art. 41 agrupa na mesma classe os titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados, enquanto que o art. 26, inc. II, prevê a indicação de um representante para os credores com direitos reais de garantia e privilégios especiais e o inc. III prevê outro representante para os credores quirografários e com privilégios gerais. A interpretação de ambos os artigos deve ser conjunta, devendo prevalecer a do art. 41 pelo agrupamento fazer mais sentido se considerada a natureza dos créditos.
3. Composição do Comitê de Credores. O Comitê de Credores deve ser composto (i) credores trabalhistas. O Comitê de Credores deve ter um representante indicado pela classe de credores trabalhistas. Este representante deverá ter dois suplentes também indicados pela classe; (ii) credores com direitos reais de garantia e privilégios especiais. O Comitê de Credores deve ter um representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais. Este representante deverá ter dois suplentes também indicados pela classe; (iii) credores quirografários e com privilégios gerais. O Comitê de Credores deve ter um representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios gerais. Este representante deverá ter dois suplentes também indicados pela classe.
4. Não indicação de representantes. A não indicação de representantes por quaisquer das classes

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