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o brasil e a seguranca no seu entorno estrategico america do sul e atlantico sul
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ras para o Brasil. Tal sistema criaria verdadeiras “muralhas” nas fronteiras tanto terrestres como marítimas. Contudo, em razão da multiplicidade de fluxos e atores presentes em regiões de fronteira, é fundamental que o referido sistema possua capacidade de articular as ações de diversos órgãos de Estado. O autor ainda explora os possíveis custos financeiros deste sistema, destacando seu montante reduzido frente aos possíveis benefícios advindos de sua implementação. A pesquisadora Anna Ayuso aborda, no capítulo 4, assunto ainda pouco explorado, a cooperação na área de segurança entre América Latina e Europa. Se, por um lado, esta tem encontrado dificuldades para avançar, deve-se destacar, por outro, a existência de um elemento comum nas perspectivas dos países de ambas as regiões, isto é, a importância atribuída à chamada “agenda de segurança ampliada”, com ênfase na segurança humana. Tal perspectiva pode ser referência importante para a cooperação e o diálogo inter-regional, além de possibilitar a adoção de posições comuns no âmbito multilateral. Muito embora a paz interestatal seja uma característica marcante do subcon- tinente, há um grau elevado de violência em diversos países da América do Sul. E, ainda que esta seja fruto de diversos fatores, a criminalidade transnacional é, sem dúvida, um dos mais importantes. Neste sentido, três capítulos neste livro abordam a questão. 14 O Brasil e a Segurança no seu Entorno Estratégico Ao examinarem algumas das tendências e desafios advindos da criminalidade organizada transnacional na América Latina, Marcelo Fabián Sain e Nicolás Rodriguez Games, no capítulo 5, introduzem avaliações críticas sobre as formas de enfrenta- mento de tal ameaça, bem como propostas para aprimorá-las. Os autores destacam que o crime organizado é, primordialmente, uma atividade econômica, ressaltando, ainda, os tipos de relações que este estabelece com o poder público e a sociedade civil. Compreender a forma pela qual os Estados Unidos lidam com os temas de segurança no entorno brasileiro é fundamental para o entendimento das principais dinâmicas políticas do subcontinente e para se pensar as formas mais adequadas de enfrentamento do problema. Neste sentido, Reginaldo Nasser explora, no capítulo 6, os principais aspectos da política norte-americana de enfrentamento da crimina- lidade organizada na América do Sul, particularmente de grupos narcotraficantes. O autor destaca a expansão dos recursos públicos nos Estados Unidos alocados para o combate ao problema das drogas, particularmente por meio do Plano Colômbia, ao mesmo tempo em que discute a militarização e o alcance limitado destas ações. O capítulo 7, de autoria de Almir de Oliveira Junior e Edison Benedito da Silva Filho, apresenta alguns dos principais desafios para a promoção da segurança regional na América do Sul, destacando o papel da cooperação internacional no combate ao tráfico de drogas e armas, bem como de outros ilícitos transfronteiriços. A partir da literatura sobre os mecanismos de provimento de bens públicos globais e regionais, os autores discutem a efetividade da cooperação brasileira com os países vizinhos no campo da segurança pública e os obstáculos para a coordenação das ações de instituições civis e militares engajadas nas regiões de fronteira do país. Em seguida, três capítulos examinam o Atlântico Sul e a costa ocidental africana. Este espaço tem ganhado crescente projeção na política externa e de defesa do Brasil em período recente, no bojo da expansão das atividades de instituições brasileiras na África e das descobertas das reservas de hidrocarbonetos do pré-sal. Torna-se essencial, portanto, refletir sobre as formas pelas quais o Brasil influencia – e é influenciado por – este espaço O capitulo 8, de Antonio Ruy de Almeida Silva, faz uma síntese dos principais aspectos estratégicos relativos ao Atlântico Sul, destacando o papel das relações Brasil-Argentina como elemento de estabilidade deste espaço. O autor aponta, ainda, a percepção do governo brasileiro de que a manutenção do Atlântico Sul como uma área pacífica e de cooperação requer que disputas extrarregionais não se manifestem neste espaço. Contudo, tal perspectiva implica que os países do Atlântico Sul devam ser efetivamente capazes de garantir, por seus próprios meios, tal condição. 15Introdução No capítulo 9, Adriana Abdenur e Danilo Marcondes analisam tema impe- rioso para a manutenção da paz e da segurança no Atlântico Sul, qual seja, o da cooperação em defesa entre Brasil e África. Os autores destacam, inicialmente, como o governo brasileiro tem buscado desenvolver uma identidade atlântica comum com os demais países do Atlântico Sul, para, em seguida, explorarem as conexões entre política de defesa e política externa que emergem neste processo. Examinam, por fim, a “prática” da cooperação em defesa Brasil-África. O último capítulo, de Rodrigo Fracalossi de Moraes, examina as formas pelas quais diversos Estados têm buscado, desde o final da Segunda Guerra Mundial, estender suas jurisdições sobre extensas áreas marítimas: o antigo princípio do mare liberum parece ceder espaço, progressivamente, ao do mare clausum. Analisam-se, ainda, as vantagens que possuem os países com ilhas oceânicas e/ou territórios ultramarinos, particularmente as possibilidades em termos de exploração de recursos naturais. Agradecemos os autores pelas valiosas contribuições para este livro, bem como o apoio de André de Mello e Souza, Edison Benedito da Silva Filho, João Diogo Ramos Soub de Seixas Brites, Marcelo Colus Sumi e Renato Baumann, por meio de críticas, sugestões e revisões, tanto da estrutura do livro como dos textos nele contidos. Espera-se que o trabalho possa ser útil para militares, servidores civis, parlamentares, acadêmicos, estudantes, empresários, integrantes de organizações da sociedade civil e outros interessados no tema. Em razão de a estabilidade da América do Sul e do Atlântico Sul ser de grande interesse para o Brasil, cabe ao Estado e à sociedade civil debater as suas principais tendências e as formas pelas quais o Brasil pode – e deve – contribuir para a consolidação destes espaços como áreas de paz e cooperação. Reginaldo Mattar Nasser Rodrigo Fracalossi de Moraes Organizadores PARTE 1 O BRASIL E A SEGURANÇA SUL-AMERICANA Seção 1 Defesa e Segurança na América do Sul CAPÍTULO 1 BREVE PANORAMA DE SEGURANÇA NA AMÉRICA DO SUL Oscar Medeiros Filho*1 1 INTRODUÇÃO Este capítulo apresenta um panorama de defesa e segurança na América do Sul. Partindo de uma abordagem teórica que privilegia o nível regional dos estudos sobre segurança internacional, buscar-se-á situar o subcontinente como um peculiar complexo regional de segurança, marcado por um paradoxo central: a ausência de guerras formais, de um lado, e o elevado nível de violência social, de outro. Serão analisados, na segunda seção, os aspectos teóricos que envolvem a temática, com destaque para os conceitos de complexo regional de segurança – CRS (Escola de Copenhague) e comunidade de segurança (perspectiva construtivista). Para tanto, serão considerados fatores estruturais e aspectos históricos que têm contribuído para moldar o comportamento dos Estados na região. Na terceira seção, serão descritas as principais características da geografia política sul-americana, sugerindo um modelo de divisão regional com base no grau de integração e cooperação entre os países. Além disso, será brevemente abordada a estrutura de defesa dos países da América do Sul. Na quarta seção, serão analisados os aspectos geopolíticos, em especial o processo de integração regional, desde a “contenção” dos anos 1970 até o período de institucionalização observado na década atual. Ademais, serão consideradas algumas agendas de defesa