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Materiais de apoio para Fı´sica IV Prof. MSc Antonio Morais 2 Suma´rio 1 Carga ele´trica e induc¸a˜o eletrosta´tica 5 1.1 Carga Ele´trica: Um pouco da Histo´ria do Eletromagnetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.1.1 Uma pequena cronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.1.2 Carga Ele´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.1.3 Princı´pio de conservac¸a˜o da carga ele´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.2 Eletrizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2 Lei de Coulomb 13 2.1 Exercı´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.1.1 Exercı´cios resolvidos Halliday & Resnick . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.1.2 Exercı´cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2 Pintura Eletrosta´tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.3 Se´rie triboele´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 3 Campo Ele´trico 17 3.1 Distribuic¸a˜o discreta de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.1.1 Linhas de campo ele´trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 3.1.2 Exercı´cios resolvidos Halliday & Resnick . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 3.1.3 Exercı´cios campo ele´trico discreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2 Distribuic¸a˜o cont´ınua de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2.1 Campo de um anel carregado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2.2 Campo de um disco uniformemente carregado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.2.3 Campo de duas placas infinitas carregadas com cargas opostas . . . . . . . . . . . . . . 21 3.2.4 Exercı´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.3 Para-raios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 4 Fluxos e integrais de linha 25 4.1 Fluxo de um campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.1.1 Fluxo numa superf´ıcie fechada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.2 Integral de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 4.3 Integral de superf´ıcie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 4.4 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4.4.1 Exemplos de aplicac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4.4.2 Exercı´cios lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 5 Potencial ele´trico 31 5.1 Definic¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 5.1.1 Exercı´cios resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3 4 Capı´tulo 1 Carga ele´trica e induc¸a˜o eletrosta´tica 1.1 Carga Ele´trica: Um pouco da Histo´ria do Eletromagnetismo 1.1.1 Uma pequena cronologia Na antiguidade, encontramos a primeira citac¸a˜o so- bre fenoˆmenos de natureza eletromagne´tica, com Tales de Mileto1 , que realizou algumas observac¸o˜es elementares sobre eletrizac¸a˜o ao friccionar o aˆmbar (uma resina fossilizada de pinheiros pre´-histo´ricos) com uma pele de animal: o aˆmbar (ele`ktron, em grego), adquiria o poder de atrair pequenos objetos pro´ximos, como gra˜os de poeira, por exemplo. Tales tambe´m relata as propriedades de atrac¸a˜o e re- pulsa˜o entre pedac¸os de um o´xido de ferro, chamado de magnetita (Fe3SO4, cujo nome deriva provavel- mente da regia˜o de origem do material - Magne´sia - na A´sia Menor). Aproximadamente no se´culo II ocorre a invenc¸a˜o chinesa da bu´ssola, introduzida na Europa por volta do se´culo XIII. Je´roˆme Cardan (1501-1576), filo´sofo, matema´tico e me´dico italiano, foi o primeiro a tratar dos fenoˆmenos observados por Tales, explicando clara- mente em que diferiam as atrac¸o˜es do aˆmbar e da magnetita. Depois dele, em 1600, surge o traba- lho de William Gilbert (1540-1603), me´dico da rai- 1Tales de Mileto (em grego antigo Jal¨ å Mil svio ) foi o pri- meiro filo´sofo ocidental de que se tem not´ıcia. Ele e´ o marco ini- cial da filosofia ocidental. De ascendeˆncia fenı´cia, nasceu em Mi- leto, antiga coloˆnia grega, na A´sia Menor, atual Turquia, por volta de 624 ou 625 a.C. e faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C.. Tales e´ apontado como um dos sete sa´bios da Gre´cia An- tiga. Ale´m disso, foi o fundador da Escola Joˆnica. Considerava a a´gua como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguido- res, embora discordassem quanto a` “substaˆncia primordial” (que constituı´a a esseˆncia do universo), concordavam com ele no que dizia respeito a` existeˆncia de um “princı´pio u´nico” para essa natu- reza primordial. Entre os principais discı´pulos de Tales de Mileto merecem destaque: Anaxı´menes que dizia ser o ”ar” a substaˆncia prima´ria; e Anaximandro, para quem os mundos eram infinitos em sua perpe´tua inter-relac¸a˜o. nha inglesa Elisabeth I, que publicou um tratado sis- tema´tico e cr´ıtico, De Magnete, sobre o que se sabia, ate´ enta˜o, sobre magnetismo e eletricidade. Figura 1.1.1: Capa da edic¸a˜o de 1628 doDe Magnete Incluindo experimentos seus, em eletricidade rela- tou que outras substaˆncias gozavam da propriedade do aˆmbar depois de friccionadas por peles ou te- cidos, denominando-as de ele´tricas, ou seja, que podiam ser eletrizadas como o aˆmbar. Exemplos: enxoˆfre, vidro, seda, etc.. Observou que metais na˜o podiam ser eletrizados por fricc¸a˜o, chamando- os de na˜o-eletriza´veis. Ale´m disso, diferenciou os fenoˆmenos ele´tricos dos magne´ticos, criando a ex- pressa˜o vis electrica (forc¸a ele´trica). No magnetismo, trac¸ou a forma das linhas de induc¸a˜o magne´tica aproximando uma pequena agu- lha de uma bu´ssola de esferas de ferro magnetiza- das, demonstrando a analogia da ac¸a˜o da terra so- bre a bu´ssola. Ale´m disso, mostrou a impossibilidade de se obter um po´lo magne´tico isolado partindo- se um ima˜ em duas partes. A situac¸a˜o na˜o se al- terou muito com os estudos de Otto von Guericke (1602-1686), f´ısico alema˜o, que notou a repulsa˜o de part´ıculas de mesma carga, e construiu a primeira ma´quina eletrosta´tica para eletrizar um corpo, o ge- 5 rador eletrosta´tico2. Observou tambe´m o poder das pontas nos corpos eletrizados bem como que a chama de uma vela po- dia deseletrizar um corpo meta´lico carregado. Des- cobriu a induc¸a˜o ele´trica, uma maneira de eletri- zar um corpo sem qualquer contato com ele. Uma de suas mais importantes descobertas foi a de que substaˆncias eletrizadas, ale´m da atrac¸a˜o, podiam so- frer repulsa˜o. Entretanto na˜o conseguiu explicar como uma bola carregada podia eletrizar outra por contato, ou seja, a conduc¸a˜o ou transmissa˜o da ele- tricidade. Os investigadores do se´culo XVII e inı´cio do se´culo XVIII tinhamna˜oma˜os uma se´ria bastante cao´tica de observac¸o˜es sobre eletrizac¸a˜o por atrito, formac¸a˜o de centelhas e efeitos da umidade atmosfe´rica, que foram incapazes de explicar devido a faltade con- ceitos eletrosta´ticos fundamentais. Apesar disto, um considera´vel nu´mero de importantes observac¸o˜es qualitativas surgiu neste per´ıodo. Em1731, o ingleˆs StephenGray (1679-1736) demons- trou claramente a conduc¸a˜o ele´trica nos corpos, que classificou de condutores e na˜o-condutores (isolan- tes, ou como chamamos vais frequentemente hoje diele´tricos). Lanc¸ou a ide´ia de associar a eletricidade a um fluı´do ele´trico, universal e impondera´vel, capaz de depositar-se entre os poros e interstı´cios dos corpos materiais. Em 1759 Franz Ulrich Theodor A¨pinus (1724-1802) mostrou a existeˆncia de todos os graus de transic¸a˜o entre os condutores e os na˜o-condutores. Eles fi- zeram as primeiras observac¸o˜es da influeˆncia exer- cida por corpos carregados em condutores iso- lados. Charles Du Fay (1698-1739), tornou-se correspondente de Gray. Realizou suas pro´prias observac¸o˜es de cara´ter cient´ıfico, deixando de lado as interpretac¸o˜es metaf´ısicas e o sensacionalismo das exibic¸o˜es nas cortes. Chegou a` conclusa˜o de que todos os corpos sa˜o eletriza´veis, ou seja, de que toda a mate´ria possui a propriedade que por se´culos ha- 2Sa˜o dispositivos mecaˆnicos que produzem eletricidade esta´tica. Normalmente desenvolvem tenso˜es alt´ıssimas com baixa amperagem. O conhecimento da eletricidade esta´tica, remonta ao inı´cio das civilizac¸o˜es, onde era mistificada e sem explicac¸o˜es para seu comportamento, tambe´m era muitas vezes confundida com o magnetismo. Ate´ o final do se´culo 17, os pes- quisadores tinham desenvolvido meios pra´ticos para a gerac¸a˜o de eletricidade por atrito, mas o desenvolvimento das ma´quinas eletrosta´ticas na˜o teve inı´cio em bom ritmo ate´ o se´culo 18, quando se tornaram instrumentos fundamentais nos estudos sobre a nova cieˆncia da eletricidade. Ma´quinas Eletrosta´ticas operam manualmente (ou de outras formas), e transformam a energia mecaˆnica em energia eletrosta´tica. via sido peculiar ao aˆmbar ou a um pequeno grupo de substaˆncias ditas ele´tricas. Suspendendo a si mesmo por fios de seda, cons- tatou que, quando era eletrizado e outra pessoa se aproximasse bastante, ocorriam pequenas descargas ele´tricas e estalidos e no escuro viam-se centelhas. Notou tambe´m que todos os objetos eletrizados por meio deummesmobasta˜o de vidro, repeliam-semu- tuamente, mas atraiam objetos que haviam sido ele- trizados por meio de aˆmbar. Concluiu, enta˜o, que deveriam haver dois tipos de eletricidade, que deno- minou vı´trea e resinosa. Isto constituiu a teoria dos dois fluidos ele´tricos. De acordo com Du Fay, os cor- pos neutros continham a mesma quantidade do dois fluidos. A etapa seguintemostra a tentativa de armazenar, de alguma forma, o fluido ele´trico. Em 1745, Em outu- bro de 1745, Ewald Georg von Kleist, descobriu que uma carga poderia ser armazenada, conectando um gerador de alta tensa˜o eletrosta´tica por um fio a uma jarra de vidro com a´gua, que estava em sua ma˜o. A ma˜o de Von Kleist e a a´gua agiram como condutores, e a jarra como um diele´trico (mas os detalhes dome- canismo na˜o forram identificados corretamente no momento). A ide´ia comec¸ou por usar uma garrafa de vidro tapada com uma tampa de cortic¸a com um prego atravessado. Poˆs o prego em contato com um gerador eletrosta´tico e, segurando a garrafa comuma ma˜o e tocando no prego com a outra, levou um cho- que considera´vel, bem mais intenso do que aqueles que se sentia em contato com corpos comuns eletri- zados. Repetindo a experieˆncia com a garrafa cheia de a´gua, Von Kleist descobriu, apo´s a remoc¸a˜o do gerador, ao tocar o fio, o resultado era um doloroso choque. Cunhou, enta˜o, o termo condensador para a garrafa, o primeiro capacitor construı´do. Em uma carta descrevendo o experimento, ele disse: ”Eu na˜o levaria um segundo choque pelo reino de Franc¸a”. No ano seguinte, na Universidade de Lei- den, o f´ısico holandeˆs Pieter van Musschenbroek in- ventou um capacitor similar, que foi nomeado de garrafa de Leyden, e cujo relato da descoberta fora lido na Academia Francesa de Cieˆncias, enquanto as observac¸o˜es de Kleist foram apenas enviadas a um amigo emBerlin. Assim, ome´rito da descoberta aca- bou ficando com o holandeˆs, e o condensador ficou conhecido como garrafa de Leyden. A elucidac¸a˜o do fenoˆmeno da garrafa de Leyden ocupou na˜o so´ A¨pinus, como tambe´m a Benjamin 6 Franklin (1707-1790). Norte-americano, interessou- se pela eletricidade apo´s uma demonstrac¸a˜o pu´blica em Boston, em 1746. Entre 1747 e 1754, Franklin realizou uma se´rie de experimentos, num dos quais descobriu que na garrafa de Leyden, o arame que sai da garrafa possui eletricidade contra´ria a` do vidro da garrafa. Elaborou sua pro´pria teoria para a eletrici- dade, contra´ria a` enta˜o aceita teoria dos dois fluidos ele´tricos de Du Fay. Aproximadamente no se´culo II ocorre a invenc¸a˜o chinesa da bu´ssola, introduzida na Europa por volta do se´culo XIII. Para ele, havia apenas um fluido ele´trico, o qual todo o corpo na˜o-eletrizado conteria em certa quan- tidade, e que era um elemento comum a todos eles. Se um corpo o possuı´sse em excesso, era chamado de positivo. Se o possuı´sse de menos, era negativo, as- sim chamou de positiva para a vı´trea e negativa a re- sinosa. Esta foi a teoria do fluido u´nico, e na˜o foi bem recebida pela comunidade cient´ıfica da da e´poca. Em 1759 foi definitivamente rejeitada, com base ex- perimental, pelo ingleˆs Robert Symmer. Entretanto, a teoria do fluido u´nico teve o me´rito de introduzir o conceito da conservac¸a˜o do fluido ele´trico. Ou- tro me´rito de Franklin foi o de estabelecer a natureza ele´trica dos relaˆmpagos (1752), com a invenc¸a˜o do pa´ra-raios, ao empinar uma pandorga durante uma tempestade. Em conexa˜o com os dois tipos de eletri- cidade estabelecidas por Franklin, em 1758 Johann Carl Wilcke (1732-1796) descobriu a polarizac¸a˜o dos diele´tricos. A forc¸a entre part´ıculas carregadas comec¸ou a ser estabelecida em meados do se´culo XVIII. Comec¸ou com a suspeita de uma relac¸a˜o com a lei da gravitac¸a˜o de Newton. Em 1767 Joseph Priestley (1733-1804) encontrou forte evideˆncia disto na descoberta sua e de seus amigos, entre eles Henry Cavendish (1731-1810), de que a carga de umcondutor fica inteiramente em sua superf´ıcie, ficando seu interior completamente livre das influeˆncias ele´tricas, fato este que na˜o mereceu muita atenc¸a˜o na e´poca. Em 1775, Alessandro Count Volta (1745-1827) de- senvolveu o eletro´foro3 a partir da qual ma´quinas 3O Eletro´foro e´ uma das mais simples ma´quinas de induc¸a˜o eletrosta´tica. Consiste de um prato meta´lico circular munido de um cabo isolante que e´ aplicado sobre um material isolante (ori- ginalmente uma ”torta” resinosa)que foi previamente eletrizado por atrito. A proximidade do disco meta´lico com o material iso- lante provoca uma separac¸a˜o de cargas e o mesmo e´ enta˜o colo- cado em contato com a terra, de forma a compensar o desequili- brio ele´trico em sua superficie. Este contato e´ enta˜o interrompido, ele´tricas foram mais tarde desenvolvidas. Durante o se´culo XVIII, apenas uma descoberta sobre o mag- netismo foi feita. Ta˜o prematura quanto a desco- berta de Wilcke, em 1778 Anton Brugmans(1732- 1789) descobriu o diamagnetismo, quando observou que o bismuto era repelido por um ima˜. Figura 1.1.2: Eletro´foro de Volta Em 1785, Charles Augustin de Coulomb4 realizou ex- perieˆncias com uma balanc¸a de torc¸a˜o e enunciou a famosa lei que hoje leva seu nome: ”a forc¸a entre duas cargas e´ diretamente proporci- onal a carga em cada uma delas e inversamente ao quadrado da distaˆncia queas separa” Em 1786, Coulomb relatou que um condutor tambe´m blinda seu interior (ele desconhecia os relatos de Cavendish), e viu nisto tambe´m uma indicac¸a˜o para a lei de forc¸a enunciada. Entretanto, esta parte do relato foi ta˜o completamente esque- cida, que o efeito de blindagem hoje esta´ ligado ao nome da Faraday. Umme´dico italiano, Luigi Galvani (1737-1798), por volta de 1770 comec¸ou a investi- gar a natureza e os efeitos da eletricidade em tecidos animais e na estimulac¸a˜o da musculatura por meios ele´tricos. Em 1792 foi capaz de contrair os mu´sculos de uma perna de ra˜ pela simples aplicac¸a˜o a eles de uma espira5 constituı´da de dois metais diferentes. e enta˜o o disco meta´lico e´ afastado da ”torta” carregada, atrave´s de seu cabo isolante, permanecendo, destamaneira, carregado de eletricidade. O funcionamento do eletro´foro e´ baseado, portanto, no princı´pio da induc¸a˜o eletrosta´tica. 4Charles Augustin de Coulomb (Angouleˆme, 14 de junho de 1736 — Paris, 23 de agosto de 1806) . Em sua homenagem, deu- se seu nome a` unidade de carga ele´trica, o coulomb. Publicou 7 tratados sobre a Eletricidade e Magnetismo, e outros sobre os fenoˆmenos de torc¸a˜o, e atrito entre so´lidos. Experimentador ge- nial e rigoroso, realizou a experieˆncia com uma balanc¸a de torc¸a˜o para determinar a forc¸a exercida entre duas cargas ele´tricas (Lei de Coulomb). Durante os u´ltimos quatro anos da sua vida, foi inspe- tor geral do Ensino Pu´blico e teve um papel importante no sistema educativo da sua e´poca. 5O termo espira, do grego speira ao latim spira, que significa algo que se enrola, pode ser atribuı´do a diversas aplicac¸o˜es onde esse enrolamento se observa. Em sentido lato designa cada uma das voltas que formam uma helicoidal e que se observam em di- versos objectos como parafusos, roscas, etc. Em eletromagne- 7 Figura 1.1.3: Representac¸a˜o de espiras componentes de um transformador atenuador. Este foi o primeiro elemento galvaˆnico: o mu´sculo era tanto o eletro´lito quanto o indicador de cor- rente. Galvani supoˆs, e na˜o completamente erra- damente, que estas eram manifestac¸o˜es de eletrici- dade animal, ja´ conhecida dos peixes ele´tricos. Volta, em 1796, eliminou completamente a necessidade de um elemento biolo´gico para o fenoˆmeno e estabe- leceu que uma condic¸a˜o essencial para a circulac¸a˜o ele´trica num circuito condutor era que este fosse constituı´do de dois (ou mais) condutores de ”pri- meira” classe e um de ”segunda” classe. Ele criou estas ide´ias, bem como o conceito de cor- rente ele´trica esta´tica, e sobre estas bases construiu, em 1800, a pilha voltaica, a precursora das bate- rias galvaˆnicas, que nos anos seguintes se proliferam abundantemente. A decomposic¸a˜o eletrol´ıtica, agora vista como causa da produc¸a˜o da corrente galvaˆnica, foi descrita em 1797, antes da pilha voltaica, por Alexander von Humboldt (1769-1859), descoberta feita com uma ce´lula constituı´da por eletrodos de zinco e de prata e com a´gua entre eles. Em 1799, Johann Wilhelm Ritter (1776-1810) sepa- rou eletroliticamente o cobre de uma soluc¸a˜o de sul- fato de cobre, sendo o primeiro a dizer que a reac¸a˜o quı´mica na ce´lula galvaˆnica era a causa da produc¸a˜o da corrente. Em seguida, Humphry Davy (1778- 1829), em 1807, com suas pesquisas em eletro´lise descobriu e separou os metais alcalinos. Em 1811, Davy construiu o arco carboˆnico com uma bateria tismo, e´ um tipo de circuito ele´trico que possui diversas func¸o˜es voltadas, principalmente, a` produc¸a˜o de campomagne´tico, eletri- cidade e energia mecaˆnica. E´ componente dos geradores de ener- gia ele´trica, assim como dos motores ele´tricos, dos transformado- res, indutores e de va´rios outros dispositivos. Figura 1.1.4: Pilha de Volta de 2000 elementos, que serviu como fonte de luz ele´trica ate´ que Thomas Alva Edison (1847-1931) in- ventasse a laˆmpada incandescente em 1880. Em 1802, Sir Humphry Davy observou o efeito do arco de luz brilhante que se formava entre duas pec¸as de carbono conectados em alta tensa˜o quando estavam muito pro´ximas uma da outra. Embora ele nunca te- nha usado este fenoˆmeno como fonte de iluminac¸a˜o, nos setenta anos seguintes, muito engenheiros usa- ram o arco para criar laˆmpadas ele´tricas. Na Inglaterra, muitas laˆmpadas apareceram durante os anos de 1850 e de 1870. Entretanto, nenhuma laˆmpada a arco produzida neste per´ıodo poderia ser um sucesso econoˆmico visto que as baterias enta˜o disponı´veis para fonte de eletricidade eram muito caras. Excec¸o˜es aconteceram com as laˆmpadas de Dubosq (1858) e de Serrin (1857), mostrada abaixo. Esta, em particular, teve ta˜o grande sucesso que, quando iniciou-se a indu´stria da iluminac¸a˜o ele´trica, as laˆmpadas produzidas estavam baseada na laˆmpada de Serrin. Tambe´m em 1811, Sime´on Denis Poisson (1781- 1849) fez progressos com a lei de Coulomb, traba- lhando na teoria do potencial, que tinha sido inici- almente desenvolvida para a gravitac¸a˜o. Ele mos- trou que toda a eletrosta´tica, na˜o considerando a presenc¸a dos diele´tricos, pode ser explicada pela lei de Coulomb ou, equivalentemente, pela equac¸a˜o di- ferencial de Laplace-Poisson. No magnetismo, Hans Christian Oersted (1777- 8 Figura 1.1.5: Laˆmpada de Serrin 1851), nascido numa pequena ilha do Ba´ltico, em 1820 publicou um panfleto de 4 pa´ginas com suas descobertas sobre a deflexa˜o da agulha de uma bu´ssola por uma corrente ele´trica. Ale´m disso, des- cobriu a correspondente forc¸a de um ima˜ sobre um circuito ele´trico girante. Concorrentemente, em 1820, Jean Baptiste Biot (1774-1862) e Fe´lix Savart (1791-1841) formularam, a partir de observac¸o˜es ex- perimentais, a lei que leva seus nomes e que permite o ca´lculo de camposmagne´ticos produzidos por cor- rentes ele´tricas. O primeiro eletroima˜ foi descoberto em1822 porDo- minique Franc¸ois Jean Arago (1786-1853) e por Jo- seph Louis Gay-Lussac (1778-1850) quando verifica- ram que uma barra de ferro fica magnetizada se en- rolada por um fio conduzindo uma corrente ele´trica. Nestemesmo ano, Andre´ Marie Ampe`re (1775-1836), sabendo das descobertas de Oersted, dedicou-se ao assunto e formulou a regra para indicar a direc¸a˜o do campo magne´tico criado por um circuito ele´trico. Ale´m disso, descobriu que circuitos paralelos com correntes na mesma direc¸a˜o se atraem, e se repelem quando as correntes sa˜o contra´rias, e que soleno´ides atuam com ima˜s em barra. Os efeitos magne´ticos das correntes ele´tricas agora forneciam meios para se medir suas intensidade. Em 1826, Goerg Simon Ohm (1789-1854) usou estes fatos para separar os conceito de forc¸a eletromotriz, gradiente de poten- cial e de intensidade de corrente ele´trica e derivou a lei que leva seu nome e que estabelece a proporcio- nalidade entre a diferenc¸a de potencial em um con- dutor e a corrente ele´trica produzida. O fator de pro- porcionalidade representa a resisteˆncia do material. Provou tambe´m que a resisteˆncia de um fio e´ direta- mente proporcional ao seu comprimento e inversa- mente proporcional a sua sec¸a˜o reta, criando assim a base para o conceito de condutividade dos materi- ais. George Green (1793-1841) publicou, em 1828 ”Um ensaio sobre a aplicac¸a˜o de ana´lise matema´tica a`s te- orias da eletricidade e do magnetismo”, onde exten- deu o trabalho de Poisson para obter um me´todo de soluc¸a˜o geral para o potencial. A complementac¸a˜o deste trabalho foi obra de Karl FriedrichGauss (1777- 1855), que publicou seu famoso trabalho em 1839. Sua teoria tornou-se mais abrangente, pois serviu de modelo para muitos outros campos da f´ısica- matema´tica.A contribuic¸a˜o de Gauss deu-se na˜o apenas na definic¸a˜o de quantidade de eletricidade a partir da lei de Coulomb, como tambe´m forneceu a primeira medida absoluta do momento magne´tico de ima˜s e da intensidade do campo magne´tico ter- restre, dando continuidade ao trabalho de Gilbert. Ele criou o primeiro sistema de unidades eletro- magne´ticas racional, no qual ”uma unidade de quan- tidade de eletricidade e´ a quantidade que, a uma distaˆncia de um cent´ımetro, repele uma quantidade igual comuma forc¸a de umadina”. Trabalhando com Gauss, Wilhelm Eduard Weber (1804-1891), f´ısico alema˜o, investigou o magnetismo terrestre em 1833. Uma de suas maiores contribuic¸o˜es foi o desenvol- vimento do tele´grafo eletromagne´tico. Joseph Henry (1799-1878)foi o primeiro americano depois de Fran- klin a realizar experimentos cient´ıficos. Em 1830 ele observou o fenoˆmeno da induc¸a˜o eletromagne´tica, mas como na˜o publicou seus resultados, na˜o rece- beu o me´rito por isto. Entretanto, recebeu distinc¸a˜o pela descoberta do fenoˆmeno da autoinduc¸a˜o. Em 1831 auxiliou a Samuel Finley Breese Morse (1791- 1872) a construir o tele´grafo. Surge, enta˜o, aquele que se tornaria omaior f´ısico ex- perimental em eletricidade e magnetismo do se´culo XIX: Michael Faraday (1791-1867). Em 1831 Faraday enrolou duas espiras de fio em torno de um anel de ferro e observou que a corrente exercia uma ac¸a˜o para tra´s que correspondia a sua ac¸a˜o magne´tica. 9 Quando ele criou uma corrente ele´trica na primeira espira, um pulso de corrente surgiu na segunda es- pira no instante em que o circuito foi fechado, e no- vamente quando o circuito foi aberto, pore´m no sen- tido contra´rio. Assim ele descobriu a induc¸a˜o. Al- guns problemas com a direc¸a˜o da corrente induzida foram esclarecidos em 1833 por Heinrich Friedrich Emil Lenz (1804-1865), com sua conhecida lei (de Lenz). Em 1837, Faraday descobriu a influeˆncia dos diele´tricos nos fenoˆmenos eletrosta´ticos, e a partir de 1846 dedicou-se a descrever a distribuic¸a˜o geral das propriedades diamagne´ticas em todos os mate- riais para os quais, em contraste, o paramagnetismo aparece comouma excec¸a˜o. Em1845, comapenas 21 anos, Gustav Robert Kirchhof (1824-1887) enunciou as leis que permitiam o ca´lculo de correntes, tenso˜es e resisteˆncias para circuitos ramificados. Em 1846, Weber criou um segundo sistema de unidades abso- luto e consistente para a eletricidade independente da Lei de Coulomb. Os dois sistemas relacionam-se por uma constante com dimensa˜o de velocidade. Weber, em 1852, calculou este valor chegando a um resultado fanta´stico: era igual a da velocidade da luz, 3 x 1010 cm/s. Num trabalho de 1855-1856, Ja- mes Clerk Maxwell (1831-1879) forneceu a base ma- tema´tica adequada para as linhas de forc¸a idealiza- das por Faraday. Em 1862 ele adicionou a corrente de deslocamento a` corrente de conduc¸a˜o na Lei de Ampe`re, que ocorre em todos os diele´tricos com campos ele´tricos varia´veis, completanto o trabalho de Ampe`re. Em 1873 publicou seu ”Tratado sobre eletricidade e magnetismo” . Em 1865 mostrou que as ondas eletromagne´ticas possuem a velocidade da luz, a qual ele recalculou comprecisa˜o, concordando com o resultado deWeber. Em 1884, Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894) rederivou as equac¸o˜es de Maxwell por um novo me´todo, colocando-as na forma atual. Ale´m disso, foi o primeiro a emitir e receber ondas de ra´dio. 1.1.2 Carga Ele´trica Um corpo esta´ carregado eletricamente quando pos- sui uma pequena quantidade de carga desequili- brada ou carga l´ıquida. Objetos carregados eletrica- mente interagem exercendo forc¸as, de atrac¸a˜o ou re- pulsa˜o, uns sobre os outros. A unidade demedida da grandeza carga ele´trica no Sistema Internacional de Unidades e´ o coulomb, representado por C, que re- Figura 1.1.6: Balanc¸a de Torc¸a˜o de Coulomb cebeu este nome em homenagem ao f´ısico franceˆs Charles Augustin de Coulomb. Mas o que e´ carga ele´trica? a carga ele´trica e´ uma propriedade fı´sica da mate´ria Tanto quanto a massa, a carga ele´trica e´ uma propri- edade intrı´nseca da mate´ria. E as observac¸o˜es expe- rimentais permitiram a descoberta de importantes propriedades que a carga ele´trica possui (em comum com amassa): • cargas ele´tricas criam e sa˜o sujeitas a` forc¸as ele´tricas, o que facilmente se observa dos expe- rimentos de eletrizac¸a˜o; • cargas ele´tricas na˜o podem ser criadas nem des- truı´das. 1.1.3 Princı´pio de conservac¸a˜o da carga ele´trica Em relac¸a˜o a segunda das assertivas acima, quando um corpo e´ eletrizado por fricc¸a˜o, por exemplo, o es- tado de eletrizac¸a˜o final se deve a` transfereˆncia de cargas de um objeto para o outro. Na˜o ha´ criac¸a˜o de cargas no processo. Portanto, se um dos obje- tos cede uma certa carga negativa ao outro, ele ficara´ carregado positivamente, com a mesma quantidade de carga cedida ao outro. Esta observac¸a˜o e´ coerente com a observac¸a˜o de que a mate´ria neutra, isto e´, sem excesso de cargas, conte´momesmonu´merode cargas positivas (nu´cleo atoˆmico) e negativas (ele´trons). Estabelecemos as- sim o princı´pio de conservac¸a˜o da carga ele´trica. 10 Entre part´ıculas ele´tricas existem forc¸as gravitaci- onais de atrac¸a˜o devido a`s suas massas e forc¸as ele´tricas devido a`s suas cargas ele´tricas. Nesse caso, as forc¸as gravitacionais podemser desprezadas, visto que a massa de uma carga ele´trica e´ ı´nfima. A forc¸a gravitacional so´ e´ percept´ıvel quando ha´ a interac¸a˜o entre corpo de massas de grandes proporc¸o˜es. A massa do ele´tron e´me= 9,109×10−31kg A massa do pro´ton e´mp= 1,673×10−27kg A massa do neˆutron e´mn= 1,675×10−31kg Os ele´trons apresentam uma carga ele´trica muito pequena e seu movimento gera corrente ele´trica. Visto que os ele´trons das camadas mais externas de um a´tomo definem as atrac¸o˜es com outros a´tomos, estas part´ıculas possuem um papel importante na quı´mica. O ele´tron tem uma carga ele´trica negativa de e−= −1,6 × 10−19 C e o pro´ton tem um valor de carga sime´trico 1,6 × 10−19 C . A eletricidade esta´tica na˜o e´ um fluxo de ele´trons. E´ mais correto denomina´-la de ”carga esta´tica”. Esta carga e´ causada por um corpo cujos a´tomos apresentam mais ou menos ele´trons que o necessa´rio para equilibrar as cargas positivas dos nu´cleos dos seus a´tomos. Quando existe um ex- cesso de ele´trons, diz-se que o corpo esta´ carregado negativamente. Quando existemmenos ele´trons que pro´tons, o corpo esta´ carregado positivamente. Se o nu´mero total de pro´tons e ele´trons e´ equivalente, o corpo esta´ num estado eletricamente neutro. Robert Millikan (1868-1953) descobriu que que a carga ele´trica era constituı´da por ummu´ltiplo inteiro de uma carga fundamental e, ou seja a cargaQ de um certo objeto pode ser escrita como Q = ne− assim, sabendo o nu´mero de ele´tron livres, ou em falta, podemos determinar a carga de um corpo. 1.2 Eletrizac¸a˜o Eletrizac¸a˜o por atrito e´ o processo bem simples de gerac¸a˜o de cargas eletrosta´ticas, ele pode ocorrer sempre que dois corpos de materiais diferentes sa˜o esfregados um no outro. A eletrizac¸a˜o por atrito na˜o acontece entre metais porque eles sa˜o bons condu- tores e a descarga e´ muito ra´pida, na˜o conseguindo manteˆ-los eletrificado. O processo de induc¸a˜o eletrosta´tica ocorre quando um corpo eletrizado redistribui cargas de um condu- tor neutro. O corpo eletrizado, o indutor, e´ colocado pro´ximo ao corpo neutro, o induzido, e isso permite as cargas do indutor atrair ou repelir as cargas nega- tivas do corpo neutro, devido a Lei de Atrac¸a˜oe Re- pulsa˜o entre as cargas ele´tricas. A distribuic¸a˜o de cargas no corpo induzidomanteˆm- se apenas na presenc¸a do corpo indutor. Para ele- trizar o induzido deve-se coloca´-lo em contato com outro corpo neutro e de dimenso˜esmaiores, antes de afasta´-lo do indutor. Deste modo, podemos sintetizar o seguinte; os me´todos de eletrizac¸a˜o mais conhecidos e utiliza- dos sa˜o os de eletrizac¸a˜o por conduc¸a˜o (ou por ”fricc¸a˜o”) e eletrizac¸a˜o por induc¸a˜o. A eletrizac¸a˜o por conduc¸a˜o se da´ quando friccionamos entre si doismateriais isolantes (ou condutores isolados) ini- cialmente descarregados, ou quando tocamos um material isolante (ou condutor isolado) inicialmente descarregado com outro carregado. Durante o contato, ocorre uma transfereˆncia de ele´trons entre os dois objetos. Suponhamos que car- reguemos desta forma um basta˜o de borracha atri- tado com pele de animal e uma barra de vidro atri- tada com seda. Se suspendermos o basta˜o de borra- cha por um fio isolante e dele aproximarmos outro basta˜o de borracha carregado damesmamaneira, os basto˜es repelir-se-a˜o. O mesmo acontece para dois basto˜es de vidro, nesta situac¸a˜o. Por outro lado, se aproximarmos a barra de vidro ao basta˜o de borra- cha, ocorrera´ uma atrac¸a˜o entre eles. Evidentemente constatamos que a borracha e o vidro teˆm estados de eletrizac¸a˜o diferentes, e pela experieˆncia concluı´mos que; • cargas iguais se repelem; • cargas diferentes se atraem. Franklin convencionou que a carga da barra de vi- dro e´ positiva e a do basta˜o de borracha e´ nega- tiva. Assim, todo o corpo que for atraı´do pelo basta˜o de borracha (ou repelido pelo basta˜o de vidro) deve ter carga positiva. Da mesma forma, todo o corpo que for repelido pelo basta˜o de borracha (ou atraı´do pela barra de vidro) deve ter carga negativa. No pro- cesso de eletrizac¸a˜o por induc¸a˜o na˜o ha´ contato en- tre os objetos. Atrave´s da induc¸a˜o podemos carre- gar os materiais condutores mais facilmente. Veja- 11 mos como isto e´ possı´vel. Suponhamos que aproxi- memosobasta˜o de borracha (carga negativa) deuma barra meta´lica isolada e inicialmente neutra. As cargas negativas (ele´trons) da barrameta´lica sera˜o repelidas para regio˜es mais afastadas e a regia˜o mais pro´xima ao basta˜o ficara´ com um excesso de cargas positivas. Se agora ligarmos um fio condutor en- tre a barra meta´lica e a terra (o que chamamos de aterramento), os ele´trons repelidos pelo basta˜o esca- para˜o por este fio, deixando a barra carregada posi- tivamente ta˜o logo o fio seja removido. Se, por ou- tro lado, fosse a barra de vidro (carga positiva) apro- ximada da barra meta´lica, esta u´ltima ficaria carre- gada negativamente, pois pelo fio condutor aterrado seriam atraı´dos ele´trons da terra. Observe que, em ambos os processos, os basto˜es carregados (indutores) na˜o perderam carga alguma. Situac¸a˜o parecida ocorre quando aproximamos ob- jetos carregados dos isolantes. Novamente as car- gas sera˜o separadas no material isolante e, uma vez afastado o basta˜o indutor, as cargas na˜o retornam a`s suas posic¸o˜es iniciais devido a` pouca mobilidade que possuem no isolante. Dizemos enta˜o que o iso- lante ficou polarizado. Figura 1.2.1: Eletrizac¸a˜o por atrito Figura 1.2.2: Eletrizac¸a˜o por contato Figura 1.2.3: Eletrizac¸a˜o por induc¸a˜o 12 Capı´tulo 2 Lei de Coulomb Como vimos, a lei de forc¸a para cargas ele´tricas foi pensada como sendo semelhante a lei de Newton da gravitac¸a˜o. Vimos tambe´m que Coulomb atrave´s de seu experimento com uma balanc¸a de torc¸a˜o, ob- servou que essa forc¸a era efetivamente de mesma natureza: diminuı´a com o inverso do quadrado da distaˆncia. Forc¸as sa˜o grandezas vetoriais, representadas por ~F , ou F . O mo´dulo ou intensidade dessas grandezas e´ indicado por ∣∣∣~F ∣∣∣ou simplesmente F. A intensidade da forc¸a gravitacional e´ dada por: F1,2 = GM1M2 r2 onde: M1≡massa do corpo 1; M2≡massa do corpo 2; F1,2≡intensidade da forc¸a que o corpo 1 exerce sobre o corpo 2; r≡distaˆncia entre os centros dos corpos 1 e 2; G ≡constante da gravitac¸a˜o universal, cujo valor e´ 6,67×10−11N.m2/kg2. No caso da lei de Coulomb: F1,2 = k0Q1Q2 r2 onde: Q1≡carga do corpo 1; Q2≡carga do corpo 2; F1,2≡intensidade da forc¸a que o corpo 1 exerce sobre o corpo 2; r≡distaˆncia entre os centros dos corpos 1 e 2; k0 ≡constante eletrosta´tica, cujo valor e´ 8,988×109N.m2/C2. Essa constante e´ definida em termos de outra cons- tante, a permissividade ele´trica do va´cuo (ε0), da se- guinte maneira: k0 = 1 4πε0 A permissividade e´ uma constante f´ısica que des- creve como um campo ele´trico afeta, e e´ afetado por um meio. A permissividade do va´cuo (ε0) vale 8,8541878176× 10−12 F/m. Vetorialmente, a lei de Coulomb pode ser escrita da seguinte forma: ~F1,2 = k0Q1Q2 r2 ~ur onde ~ure´ o versor radial, na direc¸a˜o dos centros de carga. Se a carga 1 estiver na posic¸a˜o ~r1 e a carga 2 no ponto ~r ambos com origem no ponto (0,0,0) de um sistema de coordenadas cartesianas (x,y,z) a lei de Coulomb toma a forma: ~F1,2 = 1 4πε0 Q1Q2 |~rj − ~ri|3/2 (~rj − ~ri) Figura 2.0.1: Lei de Coulomb utilizando um sistema de coordenadas cartesiano Para a lei de Coulomb, vale o princı´pio da superposic¸a˜o de forc¸as: dada uma distribuic¸a˜o discreta de cargas, a forc¸a resultante sobre uma carga i de um sistema de cargas com ı´ndices 1,2,3,..., j e´: ~Fi = ∑ j 6=i ~Fji = Qi 4πε0 ∑ j 6=i Qj |~rj − ~ri|3/2 (~rj − ~ri) 13 2.1 Exercı´cios 2.1.1 Exercı´cios resolvidos Halliday & Resnick Q23.1 - Sendo dadas duas esferas de metal monta- das em suporte porta´til de material isolante, invente um modo de carrega´-las com quantidades de cargas iguais e de sinais opostos. Voceˆ pode usar uma barra de vidro ativada com seda, mas ela na˜o pode tocar as esferas. E´ necessa´rio que as esferas sejam do mesmo tamanho, para o me´todo funcionar? Resposta: Um me´todo simples e´ usar induc¸a˜o eletrosta´tica: ao aproximarmos a barra de vidro de qualquer uma das esferas quando ambas estiverem em contato iremos induzir (i) na esfera mais pro´xima, uma mesma carga igual e oposta a` carga da barra e, (ii) na esfera mais afastada, uma carga igual e de mesmo sinal que a da barra. Se separarmos enta˜o as duas esferas, cada uma delas ir´a ficar com car- gas de mesma magnitude por´em com sinais opos- tos. Este processo na˜o depende do raio das esferas. Note, entretanto, que a densidade de cargas sobre a superf´ıcie de cada esfera apo´s a separac¸a˜o obvia- mente depende do raio das esferas. Q23.2 Na questa˜o anterior, descubra um modo de carregar as esferas com quantidades de carga iguais e de mesmo sinal. Novamente, ´e necess´ario que as esferas tenham o mesmo tamanho para o me´todo a ser usado? Resposta: O enunciado do problema anterior na˜o permite que toquemos com o basta˜o nas esferas. Por- tanto, repetimos a induc¸a˜o eletrosta´tica descrita no exercı´cio anterior. Pore´m, mantendo sempre a barra pro´xima de uma das esferas, removemos a outra, tra- tando de neutralizar a carga sobre ela (por exemplo, aterrando-a). Se afastarmos o basta˜o da esfera e a co- locarmos novamente em contato com a esfera cuja carga foi neutralizada, iremos permitir que a carga possa redistribuir-se homogeneamente sobre ambas as esferas. Deste modo garantimos que o sinal das cargas em ambas esferas e´ omesmo. Para que amag- nitude das cargas seja tambe´m ideˆntica e´ necessa´rio que as esferas tenham o mesmo raio. E´ que a densi- dade superficial comum a`s duas esferas quando em contatoir´a sofrer alterac¸o˜es¸ diferentes em cada es- fera, apo´s elas serem separadas, caso os raios sejam diferentes. Q23.2 Uma barra carregada atrai fragmentos de cortic¸a que, assim que a tocam, sa˜o violentamente repelidos. Explique a causa disto. Resposta: Como os dois corpos atraem-se inicialmente, dedu- zimos que eles possuem quantidades de cargas com sinais diferentes. Ao tocarem-se a quantidade de car- gas menor e´ equilibrada pelas cargas de sinal oposto. Como a carga que sobra reparte-se entre os dois cor- pos, estes passam a repelir-se por possuı´rem, enta˜o, cargas de mesmo sinal. Note que afirmar existir repulsa˜o apo´s os corpos tocarem-se equivale a afirmar ser diferente a quanti- dade de cargas existente inicialmente emcada corpo. Q23.6 Um isolante carregado pode ser descarregado passando-o logo acima de uma chama. Explique por queˆ? Resposta: E´ que a alta temperatura acima da chama ioniza o ar, tornando-o condutor, permitindo o fluxo de cargas. 2.1.2 Exercı´cios propostos I - Duas cargas puntiformes encontram-se no va´cuo a uma distaˆncia de 10,0 cm uma da outra. As cargas valemQ1 = 3,0 × 10 −8C eQ2 = 3,0 × 10 −9C.Determine a intensidade da forc¸a de interac¸a˜o entre elas. II - Treˆs cargas puntiformes esta˜o no eixo x: q1 = - 6,0 µC esta´ em x = -3,0 m, q2 = +4,0 µC esta´ na origem e q3 =- 6,0µC esta´ em x = +3,0 m. Determine a forc¸a ele´trica em q1. Halliday & Resnick 23.12 Duas esferas condutoras ideˆnticas, manti- das fixas, atraem-se com uma forc¸a eletrosta´tica de mo´dulo igual a 0,108 N quando separadas por uma distaˆncia de 50 cm. As esferas sa˜o enta˜o ligadas por um fio condutor fino. Quando o fio e´ removido, as esferas se repelem com uma forc¸a eletrosta´tica de mo´dulo igual a 0,036 N. Quais eram as cargas inici- ais das esferas? 23.27 Duas pequenas gotas esfe´ricas de a´gua pos- suem cargas ideˆnticas de - 1,0 ×10−16C, e esta˜o se- paradas, centro a centro, de1,0 cm. (a) Qual e´ o mo´dulo da forc¸a eletrosta´tica que atua entre elas? (b) Quantos ele´trons em excesso existem em cada gota? 14 23.34 Na estrutura cristalina do composto CℓCe(cloreto de ce´sio), os ı´ons Cs+ formam os ve´rtices de um cubo e um ı´on de Cl−esta´ no centro do cubo . O comprimento das arestas do cubo e´ de 0,40 nm. Em cada ı´on Cs+ falta um ele´tron (e assim cada um tem uma carga de +e), e o ı´on Cl−tem um ele´tron em excesso (e assim uma carga−e ). (a) Qual e´ o mo´dulo da forc¸a eletrosta´tica l´ıquida exercida sobre o ı´on Cl− pelos oito ı´ons Cs+ nos ve´rtices do cubo? (b) Quando esta´ faltando um dos ı´ons Cs+ , dizemos que o cristal apresenta um defeito; neste caso, qual ser´a a forc¸a eletrosta´tica l´ıquida exercida sobre o ı´on Cl− pelos sete ı´ons Cs+ remanescentes? Tipler, Volume 2 Sexta Edic¸a˜o Pa´gina 29 : Exercı´cios 21 a` 25 21-Um basta˜o pla´stico e´ esfregado contra uma blusa de la˜, adquirindo uma carga de -0,80µC . Quan- tos ele´trons sa˜o transferidos do blusa˜o de la˜ para o basta˜o de pla´stico? 22-Uma carga igual a´ carga do nu´mero de Avogadro de pro´tons (NA = 6,02 x 10 23 ) e´ denominada um fara- day. Calcule o nu´mero de coulombs em um faraday. 23-Qual e´ a carga total de todos os pro´tons de 1,00 kg de carbono? 24- Considere que um cubo de alumı´nio com aresta de 1,00 cm acumule uma carga resultante de 2,50 pC. (a) Que porcentagem dos ele´trons originalmente presente no cubo foi removida? 25- Durante o processo descrito pelo efeito fo- toele´trico , luz ultra violeta pode ser usada para car- regar eletricamente um pedac¸o de metal. (a) Se esta luz incide em uma barra de material con- dutor e ele´trons sa˜o ejetados com energia sufici- ente para escapar da superf´ıcie do material, quanto tempo depois o metal tera´ uma carga resultante de +1,50 nC se 1,00 x 106 ele´trons sa˜o ejetados por se- gundo? (b) Se 1,30 eV e´ necessa´rio para ejetar um ele´tron da superf´ıcie , qual e´ a poteˆncia do feixe de luz? ( Consi- dere que o processo seja 100 por cento eficiente.) Pa´gina 29: Exercı´cios 30 e 31: 30-Treˆs cargas puntiformes , cada uma com magni- tude igual a 3,00 nC , esta˜o em 3 dos ve´rtices de um quadrado de aresta igual a 5,00 cm. As duas cargas puntiformes nos ve´rtices opostos sa˜o positivas e a terceira carga e´ negativa. Determine a forc¸a exercida por estas cargas puntiformes em uma quarta carga puntiforme q4 = + 3,0 µC , que esta´ no quarto ve´rtice. 31- Uma carga puntiforme de 5,00 µC esta´ no eixo y, em y = 3,00 cm , e uma segunda carga puntiforme de -5,00 µC esta´ no eixo y, em y = -3,00 cm. Determine a forc¸a ele´trica em uma carga puntiforme de 2,00 µC que esta´ no eixo x, em x = 8,00 cm. 2.2 Pintura Eletrosta´tica Extraı´do de “Fı´sica para cientistas e engenheiros”, Paul A. Tipler & Gene Mosca; Vol.2, 6ª Edic¸a˜o, LTC, pa´gina 25. Pintura Esta´tica a Po´ - Industrial Crianc¸as em qualquer lugar do mundo aproveitam as propriedades triboele´tricas1. A companhia Ohio Art introduziu um brinquedo baseado nestas pro- priedades por volta de 1960. Bolinhas de estireno, quando sacudidas fornecem carga para um po´ de alumı´nio muito fino. O po´ carregado eletricamente e´ atraı´do para a tela translu´cida do brinquedo. Uma pequena ponteira e´, enta˜o, usada para desenhar li- nhas no po´. O brinquedo baseia-se no fato de que o alumı´nio e a tela se atraem com cargas opostas. Em- bora um po´ carregado eletricamente possa ser usado em um brinquedo, ele representa um assunto se´rio para muitas indu´strias. Metais desprotegidos ten- dema sofrer corrosa˜o e para prevenir a corrosa˜o, par- tes meta´licas de automo´veis, utensı´lios e outros ob- jetos meta´licos, sa˜o recobertas. No passado, o recobrimento incluı´a tintas, laquea- duras, vernizes e esmaltes que eram aplicados como l´ıquidos e, depois, secos. Estes l´ıquidos apresentam desvantagens. Os solventes levammuito tempo para secar ou liberam componentes vola´teis indesejados. Superf´ıcies com aˆngulos diferentes podem ser reber- tas de maneira na˜o-homogeˆnea. Lı´quidos pulverizados geram desperdı´cio e na˜o po- dem ser reciclados de forma simples. O recobri- mento com po´ eletrosta´tico reduz muito destes pro- blemas. Este processo de recobrimento foi introdu- zido pela primeira vez na de´cada de 1950 e, atual- mente, e´ popular dentre os fabricantes que aderi- 1A se´rie triboele´trica e´ nada mais que uma lista de materiais, que mostra quais sa˜o aqueles que teˆm uma maior tendeˆncia de se tornarem positivamente eletrizados (+) e quais os que apre- sentam maior tendeˆncia de se tornarem negativamente eletriza- dos (-). Essa lista torna-se, assim, uma ferramenta indispensa´vel para se determinar que combinac¸a˜o de materiais (que pares de substaˆncias devem ser atritadas) podemos usar para um eficiente processo de eletrizac¸a˜o por atrito. 15 ram a` regulamentac¸a˜o: protec¸a˜o do meio ambiente atrave´s da reduc¸a˜o do uso de vola´teis quı´micos. A pintura a po´ e´ aplicada fornecendo carga ele´trica ao item a ser recoberto. Para fazer isso de forma confia´vel, e´ melhor que o objeto a ser recoberto seja condutor. Neste caso, part´ıculas muito pequenas (de 1 µm a 100 µm) em um po´ recebem cargas com si- nal oposto ao do objeto. As part´ıculas da cobertura sa˜o fortemente atraı´das para o objeto a ser recoberto. Part´ıculas soltas podem ser recicladas e utilizadas novamente. Quando as part´ıculas esta˜o no objeto, o recobrimento passa, enta˜o, pelo processo de cura atrave´s do aumento da temperatura ou por luz ultra- violeta. O processo de cura fixa as mole´culas do re- cobrimento umas as outras, e as part´ıculas e o objeto perdem suascargas. As part´ıculas do recobrimento recebem carga por descarga corona ou por carregamento triboele´trico. Na descarga corona, as part´ıculas passam atrave´s de um plasma de ele´trons, recebendo carga negativa. No carregamento triboele´trico, as part´ıculas passam atrave´s de um tubo feito de um material que esta´ na extremidade oposta do espectro triboele´trico, geral- mente Teflon. As part´ıculas do recobrimento recebem uma carga positiva neste ra´pido contato. O item a ser recoberto recebe uma carga que depende do me´todo de reco- brimento usado. Dependendo da cobertura e dos aditivos, as cargas do recobrimento variam de 500 a 1000 µC /kg. O processo de cura difere de acordo com os materiais de recobrimento e dos itens a se- rem recobertos. O de tempo de cura pode variar de 1 a 30 minutos. Apesar de o recobrimento com po´ ser econoˆmico e ambientalmente correto, ele apresenta suas dificuldades. A capacidade das part´ıculas do recobrimento de manterem sua carga pode variar com a umidade, a qual deve ser precisamente controlada. Se o campo ele´trico da descarga corona for muito intenso, o po´ pulveriza muito rapidamente em direc¸a˜o ao item a ser recoberto, deixando um ponto descoberto no centro de um anel, o que conduz a um acabamento irregular do tipo ”casca de laranja”. Po´s eletrosta´ticos podem ser brinquedo de crianc¸a, mas o recobri- mento com po´ eletrosta´tico e´ um processo com- plexo, u´til e em desenvolvimento. 2.3 Se´rie triboele´trica A se´rie triboele´trica e´ apresentada como uma u´nica lista que goza das seguintes propriedades: 1) Qualquer material atritado com qualquer ou- tro que o precede, fica eletrizado negativamente e, quando atritado com qualquer outro que o segue, fica eletrizado positivamente. 2) Quanto mais afastados estiverem na lista, maior sera´ a eficieˆncia na eletrizac¸a˜o. Figura 2.3.1: Se´rie Triboele´trica Va´rios pares demateriais quando colocados em con- tato (o ato de friccionar e´ uma boa te´cnica para se conseguir isso) e a seguir sa˜o separados, ficam eletri- zados, isto e´, exibem fenoˆmenos relativos aos corpos dotados de carga ele´trica positiva (falta de ele´trons) ou negativa (excesso de ele´trons). A se´rie triboele´trica e´ uma lista de materiais que mostra a tendeˆncia relativa de ceder ou receber ele´trons nesse processo de eletrizac¸a˜o. Esta lista pode ser usada para determinar quais combinac¸o˜es demateriais sa˜o asmais eficientes para gerar a deno- minada (impropriamente) “eletricidade esta´tica”. 16 Capı´tulo 3 Campo Ele´trico 3.1 Distribuic¸a˜o discreta de carga Ao contra´rio doque se pensava ate´ fins do se´culo XIX, as cargas ele´tricas sa˜o quantizadas. Na˜o assumem valores discretos, mas sim sa˜o mu´ltiplos inteiros de uma carga elementar. A primeira prova experimen- tal de tal carga foi feita por Helmholtz em 1881 uti- lizando as leis da eletro´lise de Faraday, que diz que a passagem de uma certa quantidade de eletricidade atrave´s de um eletro´lito sempre causa o depo´sito, no eletrodo, de uma quantidade estritamente definida de um dado elemento. Mais tarde, Millikan (1910- 16) fez o famoso experimento da gota de o´leo num campo ele´trico. Em 1912 Ioffe, na Ru´ssia, fez um experimento semelhante ao de Millikan, pore´m uti- lizando a irradiac¸a˜o de part´ıculas de metal em po´ (suspensas no ar) por luz ultravioleta. Todos os ex- perimentos chegaram a mesma conclusa˜o, de que a carga e´ um mu´ltiplo inteiro de uma carga elemen- tar, e seu valor foi determinado com maior ou me- nor precisa˜o em cada um deles. O valor aceito atu- almente desta carga elementar e´ 1, 6× 10−19C. Este e´ o valor da carga do ele´tron (negativo) e da carga do pro´ton (positivo) como ja´ vimos. Existem cargas menores como a dos quarks, pore´m os quarks na˜o ”sobrevivem” isoladamente por muito tempo. Logo eles se combinam com outros quarks formando pro´tons e neˆutrons, ou formam pares de quark-antiquark que sa˜o chamadosme´sons. Pro´tons e neˆutrons sa˜o formados de 3 quarks cada. O pro´ton e´ formado por 2 quarks tipo u e umquark tipo d ( uud ) . E o neˆutron por 2 quarks tipo d e um quark tipo u ( udd ) . A carga do quark tipo u vale 2/3 e a do quark tipo d - 1/3e . Para estudarmos portanto o campo ele´trico gerado por uma carga Qj qualquer utilizaremos uma se- gunda carga qi muito menor que a primeira. Uma carga elementar. Assim estudaremos os efeitos cau- sados em qi pela cargaQj . Desta forma, dizemos que o campo ele´trico e´ dado pela forc¸a sentida pela carga qi por unidade de carga. Ou seja: ~Ei= ~Fi qi para um sistema discreto de cargas, e´ fa´cil ver que (basta substituir ~Fi pela expressa˜o da lei de Cou- lomb): ~Ei = 1 4π0 ∑ j 6=i Qj (rji) 2 rˆji A unidade de campo ele´trico e´ o N/C (new- ton/coulomb) que e´ equivalente ao V/m (volt/metro). O que aprendemos em Fı´sica IV e´ o campo eletrosta´tico (invaria´vel no tempo) no espac¸o livre (va´cuo). Um campo eletrosta´tico e´ gerado por uma distribuic¸a˜o de cargas esta´ticas, por exemplo o campo encontrado no interior de tubos de raios cato´dicos.1 Definido desta forma, o campo sera´ determinado inequivocamente, seja em escala macrosco´pica ou microsco´pica. Naturalmente, se uma carga de prova for introduzidano espac¸o, umanova configurac¸a˜o de cargas surgira´ e sera´ necessa´rio recalcular o valor do campo. Na˜o ha´ outra maneira... Contudo, em nosso curso na˜o iremos nos deter diante disso, pois iremos estudar apenas casos em que envolvam cargas fixas 1Os raios cato´dicos sa˜o radiac¸o˜es onde os ele´trons emergem do polo negativo de um eletrodo, chamado aˆnodo, e se propa- gam na forma de um feixe de part´ıculas negativas ou feixe de ele´trons acelerados. Isto ocorre devido a` diferenc¸a de potencial elevada entre os polos no interior de um tubo contendo ga´s ra- refeito e tambe´m devido ao efeito termioˆnico, ocasionado pelo aquecimento do metal que constitui o catodo. O dispositivo des- tinado para a produc¸a˜o de raios cato´dicos chama-se tubo de Cro- okes. Quando a pressa˜o interna no tubo chega a um de´cimo da pressa˜o ambiente, o ga´s que existe entre os eletrodos passa a emi- tir uma luminosidade. Quando a pressa˜o diminui ainda mais (100 mil vezes menor que a pressa˜o ambiente) a luminosidade desapa- rece, restando uma ”mancha” luminosa atra´s do polo positivo. 17 ou casos onde as cargas sejammuito maiores do que a carga elementar e. Uma u´ltima questa˜o se refere a` necessidade de se definir o campo. Uma primeira “vantagem” e´ que se conhecemos o campo em um certo ponto e em suas redondezas iremos conhecer o comportamento de qualquer carga que seja colocada nessa regia˜o, independente de seu valor ou sinal. Se o campo e´ conhecido em todo o espac¸o, o compor- tamento de qualquer carga sera´ conhecido em todo o espac¸o tambe´m. Para isso basta multiplicar o valor da carga em questa˜o pelo valor do campo e teremos a forc¸a - e portanto a equac¸a˜o demovimento – e o es- tado f´ısico do sistema sera´ conhecido. A introduc¸a˜o do campo serve tambe´m para se evitar o conceito da ac¸a˜o a` distaˆncia. O formalismo apresentado pela lei de Coulomb contempla apenas a interac¸a˜o entre as cargas e apenas nos pontos onde elas se localizam. Ademais na˜o contempla a importante questa˜o de como a informac¸a˜o e´ transmitida, pressupondo in- clusive que a troca de informac¸a˜o e´ realizada instan- taneamente. Ora, sabemos que, ao contra´rio disso, qualquer informac¸a˜o e´ transmitida com velocidade finita e a troca de informac¸o˜es entre as cargas se da´ a velocidade da luz. Assim, se uma carga semovebrus- camente, o efeito dessemovimento em outrascargas na˜o e´ sentido instantaneamente, mas sim so´ se dara´ depois de decorridos alguns instantes, ou seja, apo´s o tempo em que essa informac¸a˜o e´ transmitida e re- cebida por outras cargas. O agente que realiza essa tarefa e´ o campo ele´trico. 3.1.1 Linhas de campo ele´trico Uma visualizac¸a˜o qualitativa do campo ele´trico pode ser feita introduzindo-se as chamadas linhas de campo. Na figura 3.1.1 foram desenhadas algumas destas linhas, possuindo as seguintes propriedades: Figura 3.1.1: Linhas de campo Ele´trico • As linhas sa˜o tangentes, em cada ponto, a` direc¸a˜o do campo ele´trico neste ponto. • A intensidade do campo e´ proporcional ao nu´mero de linhas por unidade de a´rea de uma superf´ıcie per- pendicular a`s linhas. Na figura 3.1.2 esta˜o representadas as linhas as li- nhas de campo de uma carga puntiforme positiva e de uma carga puntiforme negativa e negativa. Figura 3.1.2: Linhas de campo de uma carga punti- forme As linhas do campo de um dipolo esta˜o representa- das na figura 3.1.3. Figura 3.1.3: Linhas de campo de um dipolo Figura 3.1.4: Outras representac¸o˜es de campo ele´trico Essas linhas de Campo Ele´trico fornecem uma forma de visualizac¸a˜o da direc¸a˜o e da intensidade de cam- pos ele´tricos. O vetor campo ele´trico em qualquer ponto e´ tangente a uma linha de campo que passa por esse ponto. A densidade de linhas de campo em qualquer regia˜o e´ proporcional a` intensidade do campo ele´trico nessa regia˜o. Linhas de campo se ori- ginam em cargas positivas e terminam em cargas ne- gativas. 3.1.2 Exercı´cios resolvidos Halliday & Resnick Q24.2 As linhas de forc¸a de umcampo ele´trico nunca se cruzam. Por queˆ? 18 Resposta: Se as linhas de forc¸a pudessem se cruzar, nos pontos de cruzamento ter´ıamos duas tangentes diferentes, uma para cada linha que se cruza. Em ou- tras palavras, em tal ponto do espac¸o ter´ıamos dois valores diferentes do campo ele´trico. Q24.5 Uma carga puntiforme q de massa m e´ colo- cada em repouso num campo na˜o uniforme. Sera´ que ela seguira´, necessariamente, a linha de forc¸a que passa pelo ponto em que foi abandonada? Resposta: Na˜o. A forc¸a ele´trica sempre coincidira´ com a direc¸a˜o tangente a` linha de forc¸a. A forc¸a ele´trica, em cada ponto onde se encontra a carga, e´ dada por , q ~Eonde ~E e´ o vetor campo ele´trico no ponto onde se encontra a carga. Como a carga parte do repouso, a direc¸a˜o de sua acelerac¸a˜o inicial e´ dada pela direc¸a˜o do campo ele´trico no ponto inicial. Se o campo ele´trico for uniforme (ou radial), a trajeto´ria da carga deve coincidir com a direc¸a˜o da linha de forc¸a. Entretanto, para um campo ele´trico na˜o uni- forme (nem radial), a trajeto´ria da carga na˜o precisa coincidir necessariamente com a direc¸a˜o da linha de forc¸a. Sempre coincidira´, pore´m, com a direc¸a˜o o tangente a` linha de forc¸a. 3.1.3 Exercı´cios campo ele´trico discreto Tipler, Volume 2 Sexta Edic¸a˜o Pa´gina 30 : Exercı´cios : 38 , 39 e 40 38- Duas cargas puntiformes, cada uma com+4.0 µC, esta˜o no eixo x; uma das cargas esta´ na origem e a outra esta´ em x = 8,0 m. Determine o campo ele´trico no eixo x em (a) x = -2,0 m; (b) x = 2,0 m; (c) x = 6,0 m ; (d) x = 10m. (e) Em que ponto o eixo x o campo ele´trico e nulo? (f) Esboce um gra´fico de E , versus x para -3,0 < x <11 m. 39 - Quando uma carga de puntiforme de 2,0 nC e´ co- locada na origem, ela experimenta uma forc¸a ele´trica de 8,0 x 10−4 na direc¸a˜o de + y . (a) Qual e´ o campo ele´trico na origem? (b)Qual seria a carga ele´trica de uma carga punti- forme -4,0 nC colocada na origem? (c)Se esta forc¸a e´ devida a um campo ele´trico de uma carga puntiforme no eixo y, y = 3,0 cm , qual e´ o valor desta carga? 40 - O campo ele´trico na vizinhanc¸a da superf´ıcie da terra aponta para baixo e tem omo´dulo de 150 N /C. (a) Compare amagnitude da forc¸a ele´trica para cima de um ele´tron com a magnitude da forc¸a gravitacio- nal no ele´tron. (b) Que carga deveria ser colocada em uma bola de pingue-pongue de massa 2,70 g para que a forc¸a ele´trica equilibrasse o peso da bola pro´ximo a su- perf´ıcie da Terra? 3.2 Distribuic¸a˜o cont´ınua de carga Ocampo ele´trico devidoa umadistribuic¸a˜o cont´ınua de cargas e´ determinado tratando elementos de carga como cargas pontuais e depois somando, por meiode integrac¸a˜o, os vetores de campo ele´tricopro- duzidos por todos os elementos de carga. O campo ele´trico para uma distribuic¸a˜o cont´ınua de cargas e´ tambe´m determinado a partir do princı´pio de superposic¸a˜o. Suponha que Q seja a carga de um objeto e que dq seja a carga contida no interior de um volume infinitesimal dV localizado no interior deste objeto. O campo ele´trico produzido por este elemento de carga em um ponto P, localizado a uma distaˆncia r do elemento, sera´: d ~E = 1 4πε0 dq r2 ~ur Desta forma, o campo produzido pela carga total Q sera´ a soma (integral) vetorial destes campos infini- tesimais, isto e´: ~E = ∫ d ~E = 1 4πε0 ∫ dq r2 ~ur 3.2.1 Campo de um anel carregado Figura 3.2.1: Anel carregado 19 Considere um condutor na forma de um anel, com raio a e que possui uma carga Q, distribuı´da unifor- memente ao longo dele (veja a figura 3.2.1). Vamos determinar o campo ele´trico num ponto no eixo de simetria do anel, que escolhemos por comodidade ser o eixo z (poderia ser, o x ou o y) observe que o diferencial de campo ele´trico d ~E, resultante no eixo z, pode ser escrito como d ~E = d ~E‖ + d ~E⊥ onde dE‖ e´ a componente paralela ao eixo z no ponto P e, dE⊥e´ a componente perpendicular do campo no ponto P. E´ fa´cil perceber que a componente perpendicular se anula, pois simetricamente a dq existe um dq’ que ira´ produzir uma componente perpendicular sime´trica a componente produzida por dq. Desta forma, a componente paralela a z, pode ser escrita como d ~E‖ = d ~E cos (θ)~k Tomando o mo´dulo e, por simplificac¸a˜o, escrevendo dE‖ = dEz temos: dEz = 1 4πε0 dq r2 cos (θ) da figura, cos (α) = zr = z√ z2 + a2 e a equac¸a˜o acima fica dEz = 1 4πε0 zdq (z2 + a2) 3 2 Integrando, e observando que o integral e´ em dq ∫ dEz = ∫ 1 4piε0 zdq (z2+a2) 3 2 Ez = 1 4piε0 z (z2+a2) 3 2 ∫ dq Ez = 1 4piε0 zQ (z2+a2) 3 2 Portanto ~E = Ez~k = 1 4πε0 zQ (z2 + a2) 3 2 ~k Note que se z >> a, o campo deve tender ano campo de uma carga puntiforme. para verificar isso, proce- demos da seguinte maneira: 1. Colocamos z em evideˆncia no denominador: ~E = 1 4πε0 zQ( z2 ( 1 + a 2 z2 )) 3 2 ~k 2. Sabendo que (ab) n = anbn, no denominador fica ~E = 1 4πε0 zQ (z2) 3 2 ( 1 + a 2 z2 ) 3 2 ~k 3. Como (an) m = anm, enta˜o ( z2 )3/2 = z 2×3 2 = z3. Portanto ~E = 1 4πε0 zQ z3 ( 1 + a 2 z2 ) 3 2 ~k 4. Simplificando z ~E = 1 4πε0 Q z2 ( 1 + a 2 z2 ) 3 2 ~k 5. Se z >> a, enta˜o a frac¸a˜o a z → 0 e finalmente obtemos ~E = 1 4πε0 Q z2 ~k que e´ o campo de uma carga puntiforme. 3.2.2 Campo de um disco uniforme- mente carregado Figura 3.2.2: Disco uniformemente carregado Consideremos um disco de raio R, uniformemente carregado com uma densidade superficial de carga σv C/m2 .O campo dE produzido por um anel de raio 20 a e de largura da, que conte´m uma carga dq e´ σ = dqdA ⇔ dq = σdA A = πa2 → dAda = 2πa⇔ dA = 2πada dq = σ2πada portanto dEz = 1 4πε0 zdq (z2 + a2) 3 2 = 1 4πε0 zσ2πada (z2 + a2) 32 Integrando a = 0 ate´ a = R Ez = R∫ 0 1 4πε0 zσ2πada (z2 + a2) 3 2 simplificando 2π com 4π, e tendo em conta que o in- tegral e´ em a: Ez = zσ 2ε0 R∫ 0 ada (z2 + a2) 3 2 Vamos calcular o integral em separado. Fazemos a seguintemudanc¸a de varia´vel: u = z2 + a2 du = 2ada o integral fica enta˜o: 1 2 ∫ 2ada (z2 + a2) 3 2 = 1 2 ∫ du u 3/2 = 1 2 ∫ u− 3/2du enta˜o 1 2 ∫ u− 3/2du = 1 2 u− 1/2( −1/2 ) = 1 2 ×−2 1 u− 1/2 = −u−1/2+C retomando a varia´vel inicial e lembrando que nosso integral e´ definido: Ez = zσ 2ε0 [ −1√ z2 + a2 ]R 0 Ez = zσ 2ε0 [ −1√ z2 +R2 − ( − 1√ z2 )] finalmente: Ez = zσ 2ε0 [ 1 z − 1√ z2 +R2 ] O que acontece com o campo do disco se fizermos a → ∞ ? Se o raio for a infinito, teremos um plano infinito de carga. Vamos ver como fazemos esse pro- cedimentomatematicamente. 1. Passemos z para dentro da expressa˜o: Ez = σ 2ε0 [ z z − z√ z2 +R2 ] 2. simplificamos z na primeira frac¸a˜o dentro do parenteses reto, e colocamos z em evideˆncia dentro do radical: Ez = σ 2ε0 1− z√ z2 ( 1 + R 2 z2 ) 3. procedendo a simplificac¸a˜o chegamos a: Ez = σ 2ε0 1− 1√( 1 + R 2 z2 ) 4. fazemosR→∞ obtendo enta˜o: lim R→∞ Ez = σ 2ε0 1− 1√( 1 + ∞ 2 z2 ) Portanto, para um plano infinito de carga, obtemos que seu campo e´ independente da distaˆncia ao plano. Ez = σ 2ε0 3.2.3 Campo de duas placas infinitas car- regadas com cargas opostas Figura 3.2.3: Duas placas infinitas carregadas com cargas opostas ~E = 0 se z > d σ ε0 se 0 < z < d 0 se z < d 21 3.2.4 Exercı´cios 1 - Dois ane´is finos e conceˆntricos, de raios R1 = 5,0 cm e R2 = 10 cm, esta˜o uniformemente carregados com cargas Q1 = 4,0 nC e Q2 = -8,0 nC, respectiva- mente. Determine a intensidade do campo ele´trico resultante no eixo comum aos dois ane´is, a uma distaˆncia de 8,0 cm do plano que conte´m os ane´is e a intensidade da forc¸a ele´trica que seria verificada so- bre um pro´ton colocado no ponto em questa˜o. 2 - Umanel fino de raio r = 5,0 cm esta´ carregado uni- formemente comcarga de 4,0 µC.Determine a inten- sidade do campo ele´trico: (a) No centro do anel; (b) No eixo do anel, a uma distaˆncia de 12 cm do seu centro. Tipler, Volume 2 Sexta Edic¸a˜o, pa´gina 65 3 - Duas laˆminas carregadas, infinitas e na˜o condu- toras, sa˜o paralelas entre si, estando a laˆmina A no plano x = - 2,0 m e a laˆmina B no plano x = + 2,0 m. Determine o campo ele´trico na regia˜o x< - 2,0 m, na regia˜o x > + 2,0 m, e entre as laˆminas para as seguin- tes situac¸o˜es. (a) Quando cada laˆmina temuma densidade superfi- cial uniforme de carga igual a + 3,0 μC/m2 e (b) quando a laˆmina A tem uma densidade super- ficial uniforme a de carga igual a + 3,0 μC/m2 e a laˆmina B tem uma densidade uniforme e igual a - 3,0 μC/m2. (c) Esboce o padra˜o de linhas de campo ele´trico para cada caso. 4 - Uma carga de 2,75 μC e´ distribuı´da uniforme- mente em um anel do raio 8,5 cm. Determine a in- tensidade do campo ele´trico no eixo a distaˆncias de (a) de 1,2 cm; (b) 3,6 cm, e (c) 4,0 m do centro do anel. (d) Determine a intensidade do campo a 4,0 m usando a aproximac¸a˜o que o anel equivale a uma carga puntiforme na origem, e compare seus resul- tados com as al´ıneas (c) e (d). O resultado de sua aproximac¸a˜o e´ bom? Explique sua resposta. Sears e Zemansky, Volume III 12ªEdic¸a˜o pa´gina 39 5 - Duas placas horizontais muito grandes esta˜o a uma distaˆncia de 4,25 cm uma da outra e possuem densidade de cargas iguais, pore´m contra´rias, de mo´dulo σ. Voceˆ quer usar essas placas para manter fixa na a´rea entre elas uma gota de o´leo demassa 324 µg que carrega 5 ele´trons em excesso. Supondo que a gota esta´ num va´cuo, (a) para que lado deve apontar o campo ele´trico entre as placas e (b) qual seria o valor de σ? 3.3 Para-raios Chama-se tambe´m para-raios, ou descarregador, o aparelho destinado a proteger instalac¸o˜es ele´tricas contra o efeito de cargas excessivas (sobretenso˜es) e descarrega´-las na terra. Os mais utilizados no Brasil sa˜o o de Franklin e de Melsens, tambe´m conhecido como Gaiola de Faraday. Ale´m deles ha´ o modelo ra- dioativo, que tem seu uso proibido no paı´s devido a` radioatividade que emite. O para-raios foi inventado no se´culo XVIII, por Ben- jamin Franklin, e e´ o equipamento mais indicado para proteger edificac¸o˜es das descargas ele´tricas vin- das da atmosfera - os raios. Ele e´ formado por treˆs elementos principais: os captadores (uma haste de metal pontiaguda), um cabo de ligac¸a˜o preso a iso- ladores e uma grande placa meta´lica enterrada no solo. Os materiais mais utilizados em para-raios sa˜o o cobre e o alumı´nio. Deve ser instalado no ponto mais alto da a´rea a ser protegida, ja´ que este e´ o lo- cal mais atingido por raios. O equipamento funci- ona de acordo com um princı´pio f´ısico conhecido como “o poder das pontas”, segundo o qual as pon- tasmeta´licas finas do para-raios atraem os raios para si, ja´ que nelas se concentrammais cargas ele´tricas. A descarga ele´trica e´ enta˜o conduzida pelo cabo de ligac¸a˜o ate´ o solo, onde um cabo aterrado dissipa a energia capturada. Dizer que o para-raios atrai o raio e´ apenas uma expressa˜o, na realidade, ele oferece ao raio um caminho para chegar a` terra com pouca re- sistividade. Quando uma nuvem com carga negativa passa por cima da ponta do equipamento, part´ıculas positivas sa˜o induzidas ali, ionizando o ar atmosfe´rico. Isso transforma o ar em um bom condutor de eletrici- dade. A nuvem, enta˜o, se descarrega por meio de uma faı´sca, liberando ele´trons que sera˜o dissipados no solo por meio da placa aterrada. A a´rea protegida pelo para-raios tem o formato de um cone, sendo a ponta da antena o seu ve´rtice. Sua altura vai da ponta da antena ao cha˜o e seu raio no solo mede cerca do dobro da altura em que esta´ a ponta do dispositivo. O aˆngulo entre o ve´rtice e a ge- 22 ratriz do cone costuma ser de 55º. Para descobrir o raio da a´rea protegidapelo equipamento, usa-se a se- guinte fo´rmula: R = Htg (A) , em que R e´ o raio, H a altura emmetros e A o aˆngulo em graus. A Associac¸a˜o Brasileira de Normas Te´cnicas (ABNT) tem uma norma especı´fica para a protec¸a˜o de estru- turas contra descargas ele´tricas, a ABNT-NBR-5419. Segundo ela, o cabo do para-raios, que vai da an- tena ao solo, deve ser isolado para na˜o entrar em contato com as paredes da edificac¸a˜o. E´ indicado tambe´m utilizar parafusos de alumı´nio ou ac¸o ino- xida´vel, para que na˜o haja ferrugem. Figura 3.3.1: Captor Franklin da empresa TERMO- TECNICA. Para-raios de protec¸a˜o atmosfe´rica O princı´pio de para-raios de Franklin e´ o poder das pontas2, sendo o modelo mais utilizado, composto por uma haste meta´lica onde ficam os captadores e um cabo de conduc¸a˜o que vai ate´ o solo e a energia da descarga ele´trica e´ dissipada por meio do aterra- mento. O cabo condutor, que vai da antena ao solo, deve ser isolado para na˜o entrar em contato com as paredes da edificac¸a˜o. As chances de o raio ser atraı´do por esse tipo de equipamento sa˜o de 90%. 2Poder das pontas e´ a capacidade de os corpos eletrizados se descarregarem pelas pontas. A carga ele´trica em excesso num corpo condutor distribui-se apenas pela superf´ıcie exterior do corpo e concentra-se nas zonas mais pontiagudas (ou de menor raio), rarefazendo-se nas restantes. Na proximidade doscorpos existem sempre no ar a´tomos e mole´culas ionizadas. Havendo grande concentrac¸a˜o de cargas ele´tricas numa ponta (zona pon- tiaguda) dum corpo, havera´ atrac¸a˜o para a ponta dos io˜es de sinal contra´rio a`s cargas na ponta e repulsa˜o dos io˜es com o mesmo si- nal. Os io˜es que sa˜o atraı´dos provocam a descarga da ponta. Por sua vez, os movimentos de part´ıculas junto da ponta originamno- vas ionizac¸o˜es no ar e o fenoˆmeno de descarga da ponta aumenta. Com a mesma finalidade do para-raios de Franklin, o para-raios de Melsens adota o princı´pio da gaiola de Faraday3. O edif´ıcio e´ envolvido por uma arma- dura meta´lica, daı´ o nome gaiola. No telhado, e´ ins- talada uma malha de fios meta´licos com hastes de cerca de 50 cm. Elas sa˜o as receptoras das descar- gas ele´tricas e devem ser conectadas a cada oito me- tros. A malha e´ divida em mo´dulos, que devem ter dimensa˜o ma´xima de 10 x 15 m. Sua conexa˜o com o solo, onde a energia dos raios e´ dissipada pelas has- tes de aterramento, e´ feita por um cabo de descida. Esse cabo pode ser projetado usando a pro´pria es- trutura do edif´ıcio. As ferragens de suas colunas po- demestar conectadas a`malha do telhado e funcionar como ligac¸a˜o com o solo. Ospara-raios radioativos podemser distinguidos dos outros, pois seus captadores costumam ter o for- mato de discos sobrepostos em vez de hastes pon- tiagudas. O material radioativo mais utilizado para sua fabricac¸a˜o e´ o radioiso´topo Amer´ıcio-2414. Esses para-raios tiveram sua fabricac¸a˜o autorizada no Bra- sil entre 1970 e 1989. Nessa e´poca, acreditava-se que os captadores radioativos eram mais eficientes do que os outrosmodelos. Pore´m, estudos feitos no paı´s e no exterior mostraram que os para-raios radioati- vos na˜o tinham desempenho superior ao dos para- raios convencionais na protec¸a˜o de edif´ıcios, o que na˜o justificaria o uso de fontes radioativas para esta func¸a˜o. Sendo assim, em 1989, a Comissa˜o Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio da Resoluc¸a˜o Nº 4/89 suspendeu a produc¸a˜o e instalac¸a˜o desse modelo de captador. O Brasil e´ o paı´s com maior incideˆncia de raios no mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Pes- quisas Espaciais (Inpe), cerca de 70 milho˜es de raios atingem o paı´s todos os anos, uma me´dia de duas 3Gaiola de Faraday foi um experimento conduzido porMichael Faradaypara demonstrar que uma superf´ıcie condutora eletrizada possui campo ele´trico nulo em seu interior dado que as cargas se distribuem de forma homogeˆnea na parte mais externa da su- perf´ıcie condutora (o que e´ fa´cil de provar com a Lei de Gauss), como exemplo podemos citar o Gerador de Van de Graaf. No ex- perimento de Faraday foi utilizada uma gaiola meta´lica, que era eletrificada e um corpo dentro da gaiola poderia permanecer la´, isolado e sem levar nenhuma descarga ele´trica. 4O americio ( nome dado em homenagem ao Continente Ame- ricano ) e´ um elemento quı´mico, sı´mbolo Am, nu´mero atoˆmico 95 ( 95 pro´tons e 95 ele´trons ) commassa atoˆmica [243] u, situado no grupo dos actinı´deos na tabela perio´dica dos elementos. Todos os seus iso´topos sa˜o radioativos. A` temperatura ambiente, o amerı´cio encontra-se no estado so´lido. Foi descoberto em1944 por GlennT. Seaborg, Leon O.Morgan,Ralph A. James e Albert Ghiorso, sinteti- zado a partir do plutoˆnio. O Am-241 e´ empregado em alguns tipos detectores de fumac¸a, e como fonte de raios gama e neˆutrons que podem ser usados em radiografia. 23 ou treˆs descargas ele´tricas por segundo. Ale´m de causar inceˆndios e grandes prejuı´zos econoˆmicos, esse fenoˆmeno representa tambe´m uma ameac¸a a` populac¸a˜o. Anualmente cerca 300 pessoas sa˜o atin- gidas por raios no Brasil, cerca de 100 acabam fale- cendo. Isso representa 10% dos o´bitos relacionados a des- cargas ele´tricas em todo o mundo. Entre os anos 2000 e 2010, ocorreram 1321 mortes relacionadas ao fenoˆmeno. Esses nu´meros na˜o sa˜o exatos, ja´ quemuitasmortes provocadas por raios sa˜o registra- das como o´bitos por parada cardı´aca, fazendo a es- tat´ıstica parecer mais baixa. Os raios sa˜o um fenoˆmeno comum em regio˜es tro- picais, e sendo o Brasil o maior dos paı´ses tropi- cais, e´ normal que ele seja o mais atingido. A regia˜o centro-sul e´ a que apresenta maior incideˆncia, prin- cipalmente o sul do Mato Grosso do Sul, onde ocor- rem 20 raios por quiloˆmetro quadrado ao ano. En- tre 2005 e 2008, houve um aumento de 102,7% na in- cideˆncia de raios no paı´s. Uma hipo´tese para o au- mento constante desses nu´meros esta´ sendo estu- dada pelos cientistas do Inpe emparceria comaNasa e Universidades norte-americanas. Segundo eles, o aquecimento global pode estar contribuindo para o fenoˆmeno. Isso ocorreria porque, com mais raios, mais florestas sa˜o incendiadas, aumentando o efeito estufa. Esses inceˆndios liberariam mais dio´xido de carbono, aumentando o nu´mero de raios e alimentando o ci- clo. Os cientistas acreditamque, a cada grau de aque- cimento da temperatura terrestre, a incideˆncia de raios aumente de 10% a 20%. NoBrasil, amaior parte dos acidentes com vı´timas ocorre em zonas rurais, quando os raios atingem pessoas que esta˜o em a´reas descampadas. Outro local que costuma ser alvo de raios sa˜o os cam- pos de futebol, mesmo em grandes cidades. Fre- quentemente, escutamos not´ıcias de jogadores que foram atingidos por descargas ele´tricas durante uma partida. Por isso, em caso de tempestade, e´ recomen- dado procurar um abrigo seguro, ja´ que no campo seu corpo funciona como um para-raios, atraindo para si as descargas ele´tricas vindas da atmosfera. 24 Capı´tulo 4 Fluxos e integrais de linha 4.1 Fluxo de um campo vetorial Suponha inicialmente uma superf´ıcie plana de a´rea A dentro de um campo de velocidades~v . Este campo pode ser, por exemplo, um co´rrego, o fluxo de ga´s dentro de uma tubulac¸a˜o, etc. De qualquer forma, havera´ nesse campo umfluido onde a cada ponto as- sociaremos um vetor velocidade ~v . Vamos supor inicialmente que o campo e´ uniforme (ou seja, a velocidade e´ a mesma para todos os pon- tos desse espac¸o e a direc¸a˜o e sentido se mantem constante) e que a superf´ıcie esteja perpendicular ao campo. Definimos enta˜o Φ = Quantidade de fluido que atravessa a superf ı´cieA tempo Figura 4.1.1: Superf´ıcie aberta perpendicular ao fluxo Podemos expressar esta definic¸a˜o em termos de v e de A com a seguinte considerac¸a˜o: num tempo Δt, cada part´ıcula do fluido percorre uma distaˆncia v Δt. Assim, se construirmos um paralelepı´pedo de base A e comprimento v Δt, notaremos que toda a part´ıcula que estiver dentro desta ”caixa” atravessa a superf´ıcie A no tempo Δt. As part´ıculas que estive- rem fora na˜o conseguira˜o, neste tempo, atravessar a superf´ıcie. Assim, a quantidade de fluido que atra- vessa a superf´ıcie A no tempoΔ t sera´ simplesmente o volume dessa ”caixa” , ou seja v Δt A. O fluxo sera´ enta˜o: Φ = v∆tA ∆t =vA Suponha agora que a superf´ıcieA esteja inclinada de um aˆngulo θ, como mostra a figura 4.1.2. Observe que a quantidade de fluidoque atravessaAno tempo Δt e´ a mesma que atravessa A’ (que e´ a projec¸a˜o de A em um plano perpendicular a`s linhas de campo) . Assim ΦA = ΦA′ = v A’ . Figura 4.1.2: Superf´ıcie inclinada relativamente ao fluxo comoA’ =Acos (θ), enta˜o ΦA = vAcos (θ) ⇒ΦA = ~v · ~A, onde ~A = A~n e ~n um vetor unita´rio normal a superf´ıcie. 4.1.1 Fluxo numa superf´ıcie fechada Considere a figura a seguir: Figura 4.1.3: Superf´ıcie fechada O fluxo atrave´s da superf´ıcie e´: Φ = Φsai − Φentra 25 observando localmente a superf´ıcie (figura 5.1.4), observamos que igualdade acima pode
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