Uma Bússola Sociológica

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Índice
1.Introdução
2. Uma Bússola Sociológica
3. Sociologia – O Conceito
4.A Perspectiva Sociológica
4.1. A explicação sociológica do suicídio
5. De Problemas Pessoais a Estruturas Sociais
6. Três Níveis de Estruturas Sociais
7. Conclusão
8.Notas complementares
9. Referências
Professor Rafael Alves Rezende
Sociologia Geral
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Uma Bússola Sociológica
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1. Introdução
Você sabe há bastante tempo que vive em sociedade, que divide o mesmo espaço geográfico com muitas
outras pessoas e que fala a mesma língua e divide o mesmo gosto por futebol; no entanto, pode ser que, até o
momento, não se tenha dado conta plenamente de como a sociedade também vive em você.
A Sociologia surgiu com a intenção de entender essa dinâmica, de compreender os elementos que nos
tornam parte de uma sociedade e como essa convivência com tantas outras pessoas nos afeta como
indivíduos.
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2. Uma Bússola Sociológica
Para iniciar o estudo da sociedade, a sociologia se coloca algumas questões primordiais, ou seja, questiona
o funcionamento de nosso cotidiano:
Por que as coisas acontecem no mundo? Fatores físicos ou emocionais? As coisas sempre foram como são
hoje, ou poderiam ser diferentes? :
Se somos indivíduos únicos, por que compartilhamos com tantas pessoas os mesmos gostos musicais (funk,
axé, rock, pop, etc.), os mesmos hábitos alimentares (arroz e feijão, pizza, hambúrguer, etc.), a mesma
religião (cristianismo), entre outras coisas?
O que faz com que as pessoas obedeçam às regras ao invés de fazerem sempre o que quiserem? Podemos
mudar a sociedade?
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3. Sociologia – O Conceito
De maneira geral, para a sociologia as causas do comportamento humano baseiam-se principalmente nos
padrões de relações sociais que nos rodeiam e permeiam.
As ações humanas não são fruto de simples escolhas individuais; existe uma ordem social influenciando as
ações de cada indivíduo. Ou seja, suas escolhas diárias são fruto de um condicionamento social, uma
espécie de adestramento social [1] para que possamos viver em sociedade.
Para compreendermos melhor estas e outras questões sobre o comportamento humano, precisamos buscar
respostas na Sociologia.
A Sociologia oferece uma perspectiva única para analisar os problemas
Sociologia é o estudo sistemático do comportamento humano em seu contexto
social. Ou seja, é o estudo que investiga as razões de nos comportarmos de uma
maneira específica dentro de um contexto.
A sociologia propõe um olhar além de nossas experiências pessoais [2]
Os sociólogos examinam a conexão [3] existente entre os problemas e atitudes pessoais e as relações
sociais.
Se a Sociologia diz que temos comportamentos padronizados, então surge a seguinte pergunta:
Somos livres para fazer o que quisermos?
Fig.01 - Relação entre Igreja e Bar
As organizações sociais das quais fazemos parte, abrem determinadas oportunidades e fecham outras,
restringindo nossa liberdade de ação. Assim, se você frequenta uma igreja ou compartilha a crença cristã, sua
conduta deve estar de acordo com um padrão esperado (não beber, não fumar, não freqüentar certos
ambientes como bares e boates, etc.), com o risco de ser excluído pelo grupo caso sua conduta seja
classificada como indesejável. Mas se você, ao invés disso, for freqüentador de algum bar, beber e fumar
serão atividades classificadas como normais em tais ambientes. Porém, se chegando num bar você pedir um
café com leite ao invés de uma cerveja, por exemplo, sua conduta será classificada como inadequada para o
ambiente.
Examinando forças sociais poderosas (religião, cultura, tradições...) a Sociologia nos permite perceber como
nossas vidas se estruturam e quais são os fatores que influenciam nossas escolhas.
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A vida em sociedade nos impõe [4] certas circunstâncias econômicas, sociais, lingüísticas, políticas, entre
tantas outras, das quais não podemos fugir.
Com as constantes mudanças (aumento da violência/ destruição do meio ambiente/ popularização do
computador e da internet/ comunicação de massa) , a função do sociólogo, através do estudo do
comportamento humano, é tentar entender os processos que causam tais fenômenos, suas consequências e
propor melhorias para a sociedade.
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4.A Perspectiva Sociológica
Para demonstrar como a Sociologia interpreta a realidade, ou seja, como a vida em sociedade influencia
nossas escolhas individuais, Émile Durkheim (1858 - 1917), famoso sociólogo francês e um dos pioneiros da
Sociologia, demonstrou que o suicídio é mais do que um simples ato individual de desespero ou resultante de
uma desordem psíquica.
Depois de analisar dados estatísticos dos governos europeus e prontuários hospitalares na França, Durkheim
percebeu que onde havia altas taxas de desordem psicológica, não havia altas taxas de suicídio.
Mais mulheres eram internadas em hospitais psiquiátricos, no entanto os homens se suicidavam quatro vezes
mais. Os judeus eram a etnia com maior taxa de desordem psicológica, no entanto era a que menos se
suicidava.
Sendo assim, Durkheim perguntou-se:
as pessoas se suicidam por motivos particulares ou sociais? Depressão ou crise social?
4.1. A explicação sociológica do suicídio
O suicídio é mais do que um simples ato individual de desespero.
As taxas de suicídio são fortemente influenciadas por forças sociais.
O suicídio é provocado pelo grau de solidariedade social num grupo:
Isso significa que quanto maior o grau de compartilhamento de crenças e valores entre os membros de uma
sociedade ou grupo (ex: povo americano ou chileno / punks ou os gays, ou a família / os amigos da igreja ou
da faculdade), e quanto mais freqüente e intensamente eles interagem, maior o grau de solidariedade desse
grupo. Além disso, quanto maior o grau de solidariedade social, mais firmemente ancorados no mundo social
estão os indivíduos e menos probabilidade haverá de cometerem suicídio se algum problema se abater sobre
eles.
O suicídio decorre devido a laços sociais fracos / ou devido a laços muito estreitos (suicídio
fatalista e altruísta).
“O suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais de que o indivíduo faz
parte”.
Para entender os tipos de suicídio, estude atentamente o gráfico da Teoria do Suicidio [5]
Para entendermos melhor como as relações sociais afetam nosso ser individual e nossas escolhas, passemos
agora para a análise das estruturas sociais e como nós nos encaixamos nelas.
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5. De Problemas Pessoais a Estruturas
Sociais
Padrões de relações sociais afetam seus pensamentos e sentimentos individuais mais íntimos, influenciando
suas ações, ajudando a definir quem você é.
Os sociólogos chamam de estruturas sociais os padrões estáveis de relações sociais. A Sociologia explica
a relação (conexão) entre os problemas pessoais dos indivíduos e as estruturas sociais nas quais estão
inseridos.
Níveis de estruturas sociais
O cidadão comum normalmente não consegue enxergar as estruturas sociais, pois suas percepções são muito
limitadas; acreditam que as coisas são exatamente como deveriam ser e não questionam o significado e a
origem dos costumes, dos hábitos e das relações.
Um passo importante no sentido de expandir a consciência sociológica de alguém, envolve reconhecer que
existem três níveis de relações sociais que nos rodeiam e permeiam. Pense nessas estruturas como círculos
concêntricos que irradiam a partir de você:
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6. Três Níveis de Estruturas Sociais
Microestruturas
Padrões de relações íntimas formadas a partir do contato pessoal (ex:
família, círculos de amizade, colegas de trabalho).
Exemplo [6]
Exemplo
A família é a primeira estrutura social da qual fazemos parte. Seus pais,
quando você nasceu, já eram cidadãos brasileiros, conhecedores das
regras sociais e participantes dessa sociedade.
Sendoassim, quando o educaram se preocuparam em lhe ensinar as regras
e os costumes da sociedade (falar português, estudar para ter um emprego,
gostar de futebol, comer arroz e feijão, etc.), transformando você num
cidadão aceito pela sociedade.
Macroestruturas
Padrões de relações sociais que se encontram “fora” ou “acima” do círculo
de pessoas íntimas ou conhecidas (classes sociais – ricos, pobres, classe
média).
Exemplo [7]
Exemplo
Os ricos fazem parte de uma mesma classe social, apesar de não
conhecerem a todos os participantes desta classe. Sendo assim, frequentam
lugares onde vão pessoas da mesma classe social mesmo não conhecendo
a todos os frequentadores, pois se identificam com sua classe
É comum ver nas cidades os bares, boates e restaurantes divididos por
classes sociais; os ambientes frequentados por ricos não são os mesmos
frequentados por pobres.
Estruturas Globais
Organizações internacionais, padrões de comunicação, relações econômicas
entre países. Permitem que o mundo se torne interconectado cultural,
econômica e politicamente (ONU, ONG’s).
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7. Conclusão
Espero que nesse primeiro contato com a Sociologia, você tenha percebido como as estruturas sociais fazem
parte de nossas vidas, como elas se encadeiam em estruturas micro, macro e globais, ou seja, como a
sociedade está ao nosso redor e dentro de nós.
Percebemos também como nossas escolhas são limitadas e determinadas pelo ambiente social; a partir da
análise do suicídio, feita por Durkheim, pudemos analisar o papel das relações sociais numa escolha
aparentemente tão íntima quanto o suicídio. Nas próximas semanas, estudaremos de maneira mais
aprofundada os vários elementos que compõe uma vida em sociedade.
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8.Notas complementares
1.
A escola te ensinou a entrar em sala de aula, sentar-se de frente para o professor, permanecer em silêncio
durante a aula, respeitar a autoridade do professor e a conviver com seus colegas de sala. É claro que esses
itens não ocorrem de maneira perfeita numa sala de aula, mas todos sabem que é assim que devem se
comportar; e mesmo não acontecendo de maneira perfeita, as pessoas obedecem minimamente a essas
regras, permitindo que haja uma certa ordem e a aula possa ser ministrada. Nós não pensamos racionalmente
ou conscientemente nessas regras quando entramos em sala de aula, mas tentamos nos comportar de acordo
com tal padrão para que a aula não se torne tumultuada.
2.
Ao invés de interpretar o comportamento em sala de aula como sendo algo comum ou normal, a Sociologia
se pergunta: por que, numa sala com sessenta alunos, pequena e apertada, estes alunos permanecem em
silêncio e mantém a ordem, quando poderiam criar uma situação de tumulto? Ou ainda, por exemplo, por que
os pobres e miseráveis, sendo a maioria da população, não fazem uma revolução buscando melhores
condições de vida? Por que, ao invés disso, permanecem conformados?
3.
Em outras palavras, os sociólogos querem saber como somos afetados pela padronização que a sociedade
impõe aos indivíduos, para que nos adequemos a um tipo ou modelo social esperado.
4.
Exemplo
Se você tivesse nascido na Índia, você provavelmente não saberia quem foi Jesus, não falaria português, não
gostaria de futebol e não comeria arroz e feijão. Isso porque as condições impostas aos indianos por sua
sociedade são outras, por isso o estilo de vida é tão diferente; cada indivíduo é o resultado das condições
impostas pelo meio em que vive.
5.
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Fig.4 - A teoria do suicídio de Durkheim
Durkheim argumentou que, à medida que o nível de solidariedade social (regulação e integração) aumenta, a
taxa de suicídio declin. Depois de um certo ponto, a taxa começa a subir. Daí as curvas em forma de U do
gráfico. Durkheim chamou o suicídio que ocorre em ambientes de baixa regulação social de "suicídio
anômico". O suicídio anômico ocorre quando as normas que governam o comportamento dos indivíduos são
definidas de maneira vaga. Na situação oposta, ou seja, em ambientes de alta regualação social, tendem a
ocorrer suicídios que Durkheim denominou "suicídio fatalista". O fatalismo decorre de uma regulação ou
normatização excessivas da vida social e que deixa pouco espaço para que os indivíduos manifestem suas
paixões e ncessidades. Já em contextos de baixa integração social, isto é, em contextos nos quais a
freqüência e intensidade das interações sociais são baixas, ocorre o "suicídio egoísta". O suicídio egoísta
decorre de uma falta de integração do indivíduo à sociedade devido a laços sociais fracos com outros
indivíduos. Finalmente, o "suicídio altruísta" ocorre quando existe um grau muito alto de integração social, de
forma que as ações individuais dizem respeitos aos interesses do grupo.
6.
Exemplo
A família é a primeira estrutura social da qual fazemos parte. Seus pais, quando você nasceu, já eram
cidadãos brasileiros, conhecedores das regras sociais e participantes dessa sociedade.
Sendo assim, quando o educaram se preocuparam em lhe ensinar as regras e os costumes da sociedade
(falar português, estudar para ter um emprego, gostar de futebol, comer arroz e feijão, etc.), transformando
você num cidadão aceito pela sociedade.
7.
Exemplo
Os ricos fazem parte de uma mesma classe social, apesar de não conhecerem a todos os participantes desta
classe. Sendo assim, frequentam lugares onde vão pessoas da mesma classe social mesmo não conhecendo
a todos os frequentadores, pois se identificam com sua classe.
É comum ver nas cidades os bares, boates e restaurantes divididos por classes sociais; os ambientes
frequentados por ricos não são os mesmos frequentados por pobres.
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9. Referências
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva 2004. (Capítulos I, III
e IV).
SECCO, Orlando de Almeida. Introdução ao Estudo do Direito. 9ª ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2004. (Capítulos II e III).