Principais teorias sociológicas

Prévia do material em texto

Lição 04 / 1
Índice
1.Introdução
2.Funcionalismo
2.1.As quatro principais características das teorias funcionalistas
3.Teoria do conflito
3.1.A teoria do conflito possui as seguintes características de análise social
4. Conclusão
5.Notas complementares
6. Referências
Professor Rafael Alves Rezende
Sociologia Geral
Lição 04
Principais teorias sociológicas
Lição 04 / 2
1. Introdução
Esta semana convido você a entender um pouco melhor a sociedade, utilizando para isso algumas teorias
sociológicas. As teorias sociológicas foram desenvolvidas por grandes intelectuais e estudiosos das ciências
humanas, pessoas preocupadas em desvendar todas as verdades que se ocultam nas relaçõe s humanas e
que nos passam despercebidas. Aparentemente, as relações humanas nos parecem bastante claras e sem
mistérios: os trabalhadores trabalham numa empresa justa, que se localiza numa sociedade justa, recebe um
salário justo e o governo existe para manter essa relação justa através de leis e da força física (polícia,
exército). 
Veremos que as relações humanas não são assim tão simples; para Karl Marx [1] , elas são determinadas
pelas condições econômicas de uma época, e havendo desigualdade econômica na sociedade, haverá
contradição e conflito. 
Veremos agora algumas interpretações interessantes sobre a realidade social que nós vivemos e que nos
“parece” tão clara.
Lição 04 / 3
2.Funcionalismo
O sociólogo norte-americano Talcott Parsons(1902-1979) foi um dos pensadores funcionalistas mais
importantes, depois de Émile Durkheim. Uma de suas principais contribuições foi a de identificar como as
várias instituições sociais devem operar a fim de assegurar o funcionamento regular da sociedade.
Fig.01 - Favela da Rocinha
Para Parsons, a sociedade encontra-se bem integrada e em equilíbrio quando as famílias educam bem as
novas gerações, quando os militares defendem satisfatoriamente a sociedade das ameaças externas, quando
as escolas ensinam às crianças as habilidades e os valores de que elas precisam para funcionar como
adultos produtivos, quando as religiões criam um código moral compartilhado entre as pessoas e quando o
governo transforma os impostos pagos pelos cidadãos em benefícios para toda a sociedade, tais como
educação, segurança e saúde.
Ou seja, para Parsons as pessoas agem de maneira extremamente padronizada [2] , quase não fazem
escolhas baseadas em suas próprias ideias, mas agem de acordo com o que a sociedade espera que elas
ajam. Dessa maneira, a análise de Talcott Parsons não deixa espaço nenhum para o desenvolvimento da
personalidade dos indivíduos.
Fig. 02 - Padronização
2.1.As quatro principais características das teorias funcionalistas
1.1.1) Enfatizam que o comportamento humano é governado por padrões estáveis de relações sociais,
ou seja, que o comportamento de cada indivíduo não é fruto de uma escolha livre, mas é uma espécie de
imposição social ao sujeito, em que ele inconscientemente aceita para não se ver excluído do meio social.
Na verdade, a maioria dos indivíduos nem percebe que é governado por um padrão e que suas escolhas não
Lição 04 / 4
são feitas em sua mente; os indivíduos se deixam governar, pois sentem que precisam se conformar ao
padrão social para pertencerem à sociedade.
1.1.2) As teorias funcionalistas mostram como as estruturas sociais mantém ou enfraquecem o equilíbrio
social. É por essa razão que os funcionalistas são, às vezes, chamados de ‘funcionalistas estruturais’: eles
analisam como as partes da sociedade (as estruturas) se encaixam umas nas outras e como cada parte
contribui para a estabilidade do todo (sua função). Por exemplo, se as instituições de ensino (escolas,
faculdades) não formarem bem seus alunos, eles serão jogados no mercado de trabalho (empresas) sem o
conhecimento necessário para exercerem suas funções, afetando o funcionamento do mercado, que será
menos eficiente e menos competitivo; essa má formação do aluno por parte das instituições de ensino,
somada à conseqüente ineficiência do mercado, acarreta um declínio econômico da sociedade (crise
econômica localizada) que formou estes alunos.
Por isso a importância de cada parte da sociedade cumprir bem sua função. Cada um dos componentes do
sistema, suas partes, tal como uma peça qualquer em relação a uma máquina, desempenha papéis que visam
contribuir para a estabilidade e ordem social, por isso, mais uma vez, tal abordagem ou teoria é chamada de
funcionalismo-estrutural.
A partir dessa visão totalizadora da sociedade, o passo seguinte é determinar os seus componentes básicos,
formados pela economia, o sistema político, a família e o sistema educativo em geral, com seus valores e
crenças bem definidos. Elas todas são interdependentes (ou seja, dependem umas das outras) e agem no
sentido de preservar a sobrevivência do todo, não havendo necessariamente uma hierarquia entre elas (para
os marxistas, por exemplo, o fator econômico é predominante). Para os funcionalistas estes componentes
atuam por interação, tendo capacidade de adaptação para enfrentar os imprevistos e as exigências de
mudanças que surgem por toda parte dentro de uma sociedade. Se por uma razão qualquer o sistema não
apresentar a elasticidade ou adaptação necessária, a qualidade de adaptar-se ao movimento, o sistema
tornar-se disfuncional (expressão criada por Robert Merton), do mesmo modo que uma peça desgastada ou
defeituosa põe em perigo o desempenho de um motor.
1.1.3) As teorias funcionalistas enfatizam que as estruturas sociais baseiam-se, principalmente, em
valores compartilhados, pois são estes valores que mantém as pessoas unidas, são essas crenças que as
aproximam. Numa igreja, por exemplo, os fiéis se reúnem porque compartilham a crença num deus e em
certas regras morais (fidelidade, honestidade, integridade). As faculdades existem porque os alunos acreditam
que o conhecimento adquirido servirá para inseri-los no mercado de trabalho. Caso não compartilhassem esta
crença, não gastariam seu dinheiro com mensalidade, assim como os fiéis não iriam à igreja se não
acreditassem num mesmo deus.
1.1.4) O funcionalismo sugere que o restabelecimento do equilíbrio social é a melhor solução para os
problemas da sociedade. Durkheim escreveu que a estabilidade social poderia ser restaurada na Europa do
fim do século XIX (que sofria com as desgraças da Revolução Industrial) por meio da criação de novas
associações de patrões e empregados que poderiam, por sua vez, diminuir as expectativas dos trabalhadores
em relação ao que poderiam esperar da vida. Para Durkheim, se as pessoas desejassem menos, então a
solidariedade social aumentaria e haveria menos greves e taxas de suicídio menores.
O Funcionalismo representou, portanto, uma resposta conservadora para o mal-estar generalizado na França
do fim do século XIX.
Lição 04 / 5
3.Teoria do conflito
A segunda grande tradição teórica da sociologia enfatiza a centralidade do conflito na vida social. A teoria
do conflito teve origem na obra do pensador social alemão Karl Marx. Membro da geração imediatamente
anterior à de Durkheim, Karl Marx observou a pobreza e o descontentamento produzidos pela Revolução
Industrial e desenvolveu um argumento generalizado acerca da maneira como as sociedades se desenvolvem.
A teoria de Marx era radicalmente diferente da de Durkheim: em vez de enfatizar a importância do equilíbrio
social, o cerne de suas ideias é a luta de classes, isto é, os conflitos entre as classes no sentido de resistir e
superar a oposição de outras classes.
Fig. 03 - Desigualdades socio-econômicas
Karl Marx argumentou que os proprietários de indústrias estavam ansiosos por melhorar a maneira como o
trabalho estava organizado e por adotar novas ferramentas, máquinas e métodos de produção. Tais inovações
lhes possibilitariam produzir mais eficientemente, obter mais lucros e eliminar concorrentes ineficientes do
mercado. No entanto, o impulsopara o lucro também faz com que os capitalistas concentrem os trabalhadores
em estabelecimentos cada vez maiores, mantenham os salários o mais baixo que puderem e invistam o
mínimo possível na melhoria das condições de trabalho. Assim, Marx argumentou, uma classe de
trabalhadores pobres cada vez maior se opõe a uma classe cada vez menor de proprietários dos meios de
produção
Segundo Karl Marx, a própria sobrevivência dos trabalhadores era determinada pelos patrões, que ele
chamava de capitalistas, ou seja, os detentores do Capital. para demonstrar melhor suas ideias, cito um
trecho da obra de Marx “A ideologia alemã”:
O primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é
que todos os homens devem estar em condições de viver para poder 'fazer história'.
Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter moradia, vestir-se e
algumas coisas mais. O primeiro fato histórico é, portanto, a produção dos meios que
permitam que haja a satisfação dessas necessidades, a produção da própria vida
material.
Levando em consideração que os trabalhadores não possuem esses meios de sobrevivência, e que esses
meios estão nas mãos dos Capitalistas, naturalmente haverá um conflito entre as partes envolvidas nessa
configuração social. Marx sabia que as condições materiais do homem (pobreza ou riqueza) determinam
sua relação com a realidade e com a sociedade. Nas palavras do próprio Marx:
Um modo de produção ou uma determinada fase industrial estão sempre ligados a
uma determinada forma de cooperação e a uma fase social determinada, e que essa
Lição 04 / 6
forma de cooperação é, em si própria, uma 'força produtiva'; decorre disso que o
conjunto das forças produtivas acessíveis aos homens condiciona o estado social e
que, assim, a 'história dos homens' deve ser estudada e elaborada sempre
em conexão com a história da indústria e do intercâmbio.
Sendo assim, Marx conclui que:
“A produção de ideias, de representações e da consciência está, no princípio,
diretamente vinculada à atividade material e ao intercâmbio material dos homens,
como a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio
espiritual entre os homens, aparecem aqui como emanação direta do seu
comportamento material. O mesmo ocorre com a produção espiritual, tal como
aparece na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica, etc,
de um povo”.
Disso ele conclui que: Não é a consciência que determina a vida, mas a vida é que determina a
consciência
Por isso as pessoas acreditam que vivem numa realidade e numa sociedade justas e que as coisas são
assim porque deveriam ser e não há outro modo de ser. Elas simplesmente possuem uma ideia formada por
essa sociedade, que a educa para acreditar naquilo que lhe é conveniente; os governos criam leis que
protegem essa desigualdade e as religiões criam regras que legitimam essa sociedade.
Hélio Luz, ex-chefe da polícia civil no Rio de Janeiro, tem uma concepção da sociedade que se adequa à
teoria do conflito. Segundo ele, no documentário Notícias de uma guerra particular (2001, João Moreira
Salles e Kátia Lund), a polícia existe para defender a elite e seus interesses econômicos. Para ele, o governo
usa a polícia para manter os favelados longe da classe dominante e rica, sem incomodá-los. No entanto, se
não houver (e não há) a preocupação em construir uma sociedade justa, a única coisa que veremos é favelado
sendo morto aos montes pela polícia, para manter essa sociedade injusta.
Para assistir ao depoimento de Hélio Luz, acesse: //www.youtube.com/watch?v=ktCr-YnwzuU&feature=related
Se você tiver interesse no assunto, assista ao documentário inteiro pelo Youtube.
3.1.A teoria do conflito possui as seguintes características de
análise social
1. Concentra sua atenção no estudo das grandes estruturas macrossociais, tais como “relações de
classe” ou padrões de dominação, submissão e luta entre indivíduos de posições sociais altas e baixas. Para
a teoria do conflito, os ricos lutam para permanecer ricos e para isso exploram injustamente a mão-de-obra da
grande maioria de trabalhadores, dando-lhes baixos salários e más condições de trabalho. Os pobres lutam
para manter um padrão de vida que beira a mera sobrevivência e lutam por seus interesses, gerando uma
relação conflituosa com seus patrões.
2. A teoria do conflito mostra como os principais padrões de desigualdade na sociedade produzem
estabilidade social em certas circunstâncias e mudança social em outras, ou seja, dependendo do contexto
histórico, a desigualdade entre os membros da sociedade pode causar estabilidade (ideia defendida por
Thomas Hobbes, que acreditava que a igualdade traria disputas entre todos os homens; para Hobbes, o
homem está em constante estado de guerra, e a igualdade aumentaria a disputa; já a desigualdade manteria
uma espécie de hierarquia na sociedade, evitando rebeliões ou guerras), ou mudança social (tal como na
Revolução Francesa ou na Revolução Russa).
3. A teoria do conflito enfatiza como os membros de grupos privilegiados tentam manter suas vantagens,
enquanto grupos subordinados lutam para aumentar as suas. Desse ponto de vista, as condições
sociais em um dado período de tempo são a expressão de uma luta de poder contínua entre grupos
Lição 04 / 7
privilegiados e grupos subordinados. (Basta olharmos para nossa realidade e constataremos que as regras de
nossa sociedade são as regras criadas pelos detentores do poder, visando beneficiá-los em muitas esferas
da sociedade).
4. A teoria do conflito tipicamente sugere que a eliminação dos privilégios diminuirá o grau de conflito e
aumentará o bem-estar humano total.
Fig.00 - Conflito versus bem estar
Se você analisar sua rotina diária, perceberá que seus relacionamentos (amigos, namorado(a), irmãos, pais,
patrão, etc) tendem a ser conflituosos, já que você desenvolve interesses que nem sempre são compartilhados
pelos outros; por exemplo: os adolescentes e jovens acreditam já possuir maturidade suficiente para fazer as
próprias escolhas; sendo assim, decidem ir a uma boate no sábado à noite, pois seus interesses são o
divertimento, a socialização e a liberdade de voltar pra casa quando quiser. Geralmente os pais entram em
conflito com seus filhos jovens pois o interesse dos pais é proteger os filhos da violência urbana, das “más
companhias” e da imprudência alheia. Com interesses tão divergentes, é claro que essa relação é permeada
pelo conflito, e não é diferente com as outras relações que possuímos. Se a manutenção de uma relação
pacífica com as pessoas que amamos já é difícil, imagine tentar conciliar tantos interesses conflitantes numa
sociedade formada por milhões de pessoas.
A sociologia desenvolvida por Karl Marx, foi uma sociologia que teve como objeto de estudo os conflitos da
sociedade ocidental em decorrência da Revolução Industrial; uma sociologia que buscou identificar e
resolver os conflitos de uma sociedade extremamente complexa.
Lição 04 / 8
4. Conclusão
Espero que você tenha percebido as diferentes maneiras de interpretar a realidade social e as dificuldades
encontradas nessa realidade, que precisam de um estudo mais refinado. Diferente da maioria das pessoas,
minha esperança é que você passe a ter uma visão menos simplista do meio social em que vive e das
relações que se estabelecem ao seu redor. Na próxima semana apresentaremos mais algumas teorias
sociológicas bastante interessantes e que nos ajudarão a interpretar nossa realidade social.
Lição 04 / 9
5.Notas complementares
1.
Karl Marx
Idealizador de uma sociedade com uma distribuição de renda justa e equilibrada, o economista, cientista
social e revolucionário socialista alemão Karl Heinrich Marx, nasceu na data de 05 de maio de 1818, cursou
Filosofia, Direito e História nas Universidades de Bonn e Berlim e foi um dos seguidores e críticos das idéias
de Hegel.
2.
Parsons foialvo de crítica por exagerar o grau segundo o qual os membros da sociedade compartilham
valores, ou seja, o quão padronizado é o comportamento dos indivíduos em relação a um modelo social; foi
criticado também por exagerar na contribuição das instituições sociais para a manutenção da harmonia social.
Com essa estrutura de organização social em mente, os funcionalistas foram a campo realizar suas
pesquisas.
Lição 04 / 10
6. Referências
MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2005.
Robert Brym... [et al.]. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson
Learning, 2006. .