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Lição 05 / 1 Índice 1.Introdução 2.Interacionismo 3.Construtivismo Social 4.Teoria Feminista 5. Conclusão 6. Referências Professor Rafael Alves Rezende Sociologia Geral Lição 05 Principais teorias sociológicas Lição 05 / 2 1. Introdução Na última semana falamos a respeito do funcionalismo e da teoria do conflito, duas importantes concepções da sociedade, duas interpretações dos acontecimentos sociais que nos ajudam a perceber a vida em sociedade de maneira um pouco mais complexa, menos simplificadora, diferente do senso comum. Isso é o que há de mais interessante na Sociologia, pois nos afasta das interpretações óbvias da realidade e nos insere numa visão privilegiada a respeito dos acontecimentos que nos afetam diariamente de maneira decisiva. Estamos engatinhando nessa jornada de conhecimento social, que nos levará às entranhas desse “monstro” que chamamos de sociedade, mas que na verdade não sabemos quase nada a respeito; estudaremos a influência da indústria cultural nas consciências individuais, o papel determinante da televisão na formação das massas, a produção padronizada de um ser humano ignorante e consumista, entre outros temas que tornarão mais claras nossa percepção da realidade. No entanto, precisamos de uma base teórica para apoiarmos nossas ideias, e por isso estamos estudando as teorias sociológicas, formuladas por grandes pensadores ocidentais, que gastaram suas vidas tentando compreender nosso objeto de estudo: a sociedade. Continuemos então nossa jornada. Lição 05 / 3 2. Interacionismo Max Weber (1864-1920), foi o mais importante sociólogo alemão, influenciando profundamente o desenvolvimento da sociologia no mundo todo. Em muitas de suas obras, Weber enfatizou a importância de se compreender os motivos e significados que as pessoas atribuem às coisas para entender mais claramente o significado de suas ações. Ele denominou esse aspecto de sua abordagem relacionada à pesquisa sociológica de método Verstehen (que significa “compreensão” em alemão). Ou seja, para Max Weber, compreender o significado que as pessoas davam para suas ações e as motivações que as levavam a praticá-las, era de extrema importância para compreender a sociedade. Assim, por exemplo, se Max Weber estivesse vivo e morasse no Brasil atualmente, talvez questionasse: o que leva as pessoas no Brasil a se apaixonarem pela prática de um esporte? Por que esse esporte é o futebol, e não qualquer outro? O que as motiva a se envolverem emocionalmente com um time, como Flamengo ou Corinthians, a ponto de chorarem quando essas equipes perdem um campeonato, ou de se emocionarem e explodirem de alegria quando essas equipes ganham um campeonato? Por que algumas pessoas criam torcidas organizadas para torcerem por essas equipes esportivas e acabam matando pessoas das torcidas organizadas de outros times, ou morrendo por suas equipes? Weber queria saber o que as motivava a fazer o que faziam. A ideia de que significados e motivos individuais devem ser levados em consideração em qualquer análise sociológica que se pretenda completa, foi uma das contribuições de Weber à teoria sociológica clássica. Sua ênfase em significados subjetivos encontrou solo fértil nos Estados Unidos no final do século XIX e início do século XX porque suas ideias ressoaram no profundo individualismo da cultura norte- americana. Naquela época, os americanos acreditavam amplamente que o talento e a iniciativa individual tornavam possível que as pessoas conseguissem praticamente qualquer coisa naquela terra de, oportunidades. Neste caso, o talento e a iniciativa individual são muito valorizados como fatores de transformação social. Se analisarmos as teorias funcionalistas e do conflito, veremos que ambas pressupõem que a filiação de grupo das pessoas – sejam elas ricas, pobres, mulheres, homens, brancas ou negras – determina seu comportamento. Tal visão pode, às vezes, fazer as pessoas parecerem bolas em uma mesa de bilhar: elas são jogadas de um lado para outro e não podem escolher seus próprios destinos. Mas sabemos, a partir de nossas experiências cotidianas, que as pessoas não são assim. Às vezes fazemos escolhas, algumas difíceis; às vezes mudamos de ideia. Além disso, duas pessoas pertencentes ao mesmo grupo podem reagir de formas diferentes a situações sociais similares. Isso porque elas interpretam tais circunstâncias de maneira diferente. Ao reconhecer essas questões, alguns sociólogos se concentram no aspecto subjetivo da vida social; acreditam que o indivíduo é influenciado pelo ambiente social em que vive, mas que isso não o determina completamente, não molda completamente sua consciência. Para o Interacionismo, não podemos ignorar que o indivíduo, mesmo pressionado pelas instituições sociais (igreja, empresa, governo, mercado de trabalho), que o cercam interpreta de maneira individual os acontecimentos de sua vida. Lição 05 / 4 Sendo assim, o Interacionismo incorpora as seguintes características: 1. Concentra-se na comunicação interpessoal em ambientes microssociais, nos significados subjetivos criados em pequenos ambientes, o que o distingue tanto do funcionalismo quanto das teorias do conflito. Ou seja, o interacionismo abre mão de estudar a sociedade a partir das grandes estruturas que organizam a sociedade, preferindo olhar para aquilo que a sociedade tem de subjetivo, para a decisão do indivíduo num ambiente social Fig. 01 - Três obras do artista Andy Wahrol, um ícone da pop art americana, que retratam bem a massificação da cultura americana. Mesmo com tanta homogeneização cultural, os interacionistas acreditam na autonomia do indivíduo e do pequeno grupo em relação à sociedade “opressora”. 2. Enfatiza que a vida social só é possível na medida em que as pessoas, individualmente, atribuem significado às coisas. Uma explicação adequada do comportamento social requer a compreensão dos significados subjetivos que as pessoas associam às suas circunstâncias sociais. Não podemos, de acordo com os interacionistas, supor que as pessoas pensem de maneira idêntica; sabemos que temos nossas particularidades, que de alguma maneira somos seres únicos, e por isso as interpretações individuais e microssociais fazem parte do comportamento social. 3. O Interacionismo insiste no fato de que as pessoas ajudam a criar circunstâncias sociais e não simplesmente reagem a elas. Goffman, por exemplo, analisou as diversas maneiras como as pessoas se apresentavam umas às outras na vida cotidiana, de forma a aparecerem da melhor maneira possível. Goffman comparava a interação social a uma peça cuidadosamente encenada, completa, com um palco, um cenário, papéis definidos e diversos adereços. Nessa peça, a idade, o gênero, a raça e outras características de uma pessoa podem ajudar a determinar suas ações, mas também existe muito espaço para a criatividade individual. 4. Ao se concentrar nos significados subjetivos que as pessoas criam em pequenos ambientes sociais, os interacionistas às vezes acabam por validar pontos de vista não-oficiais ou impopulares, o que pode aumentar nossa compreensão e tolerância em relação a pessoas que podem ser diferentes de nós. Se analisarmos, por exemplo, o cotidiano miserável e violento da periferia de São Paulo, compreenderemos a indignação expressa nas letras de hip hop; a partir delas, conseguimos visualizar a maneira como esse grupo de pessoas interpreta a realidade. Um grupo musical como o Racionais MC’s acredita que a função do outdoor na cidade é a de enganar as pessoas, transformando-as em meras consumidoras de objetos sem importância, esquecendo da condição de pobreza da maioria das pessoas do Brasil Lição 05 / 5 Observe um trecho de sua letra: Ei mano o demônio fode tudo ao seu redor, Pelo rádio, jornal, revista e outdoor, Te oferece dinheiro, conversa com calma, Contamina seu caráter, rouba sua alma Depois te joga na merdasozinho Transforma um preto tipo A num neguinho Enquanto a maioria das pessoas na sociedade interpreta os outdoors de maneira positiva, vendo seu consumismo ser estimulado através de imagens que foram produzidas para causar fascínio, o Racionais MC’s os interpreta de modo negativo, vendo-os como instrumentos do engano. Entendendo os significados que essas pessoas dão às circunstâncias sociais que vivem, podemos compreender seu comportamento. Lição 05 / 6 3.Construtivismo Social Uma variante do interacionismo que tem se tornado particularmente popular nos últimos anos é o construtivismo social. Os construtivistas sociais argumentam que quando as pessoas interagem, elas quase sempre pressupõem que as coisas são, natural ou biologicamente, o que deveriam ser, ou seja, não se questionam sobre a origem e a natureza dos fatos. No entanto, características aparentemente naturais ou inatas da vida são muitas vezes sustentadas por processos sociais que variam histórica e culturalmente. Por exemplo, muitas pessoas pressupõem que as diferenças nas maneiras como homens e mulheres se comportam, são resultado de suas constituições biológicas distintas. Em comparação, os construtivistas sociais demonstram que muitas das diferenças tidas como naturais entre homens e mulheres, dependem da maneira como o poder é distribuído entre eles; isto é, as diferenças são “produzidas” ou construídas pela cultura e pela relação de poder entre os sexos. Fig.02 - Foto de cidadão ruandês, da etnia tutsi, vítima da violência acontecida em seu país. Ruanda é um exemplo real de diferença construída pela relação de poder., que acabou culminando num massacre dos tutsis pelos hutus (grupos étnicos rivais). Para mais informações, assista aos filmes “Hotel Ruanda” e “Tiros em Ruanda”. As pessoas, de maneira geral, são tão bem sucedidas em construir realidades sociais de aparência natural em suas interações na vida cotidiana, que não notam os materiais utilizados no processo dessa construção. Em resumo, o estudo do lado subjetivo da vida social nos ajuda a ir além da imagem oficial, aprofundando nossa compreensão de como a sociedade funciona e complementando as intuições adquiridas a partir da análise de grandes estruturas. Lição 05 / 7 4.Teoria Feminista Poucas mulheres tiveram destaque na historiam inicial da sociologia. As obrigações colocadas sobre elas pela família do século XIX e a falta de oportunidades na sociedade como um todo impediram que a maioria das mulheres tivesse formação superior e contribuísse de maneira efetiva para a sociologia. As mulheres que deixaram sua marca na sociologia em seus primórdios, normalmente tinham biografias pouco comuns. Algumas dessas mulheres excepcionais trouxeram à tona questões de gênero ignoradas por Marx, Durkheim, Weber e outros sociólogos clássicos. O reconhecimento das contribuições sociológicas de mulheres pioneiras tem aumentado nos últimos anos porque a preocupação com questões de gênero tem se tornado parte substancial da sociologia contemporânea. Harriet Martineau (1802-1876) foi a primeira socióloga, sendo uma defensora importante dos direitos das mulheres de votar, de ter acesso à educação superior e da igualdade de gênero na família. Apesar da agitação inicial, o pensamento feminista teve pouco impacto na sociologia, até que em meados de 1960 o surgimento do movimento feminista moderno chamou a atenção para muitas das desigualdades que ainda existiam entre homens e mulheres. Em virtude da grande influência que a teoria feminista vem exercendo sobre a sociologia desde então, é possível considerá-la como a quarta grande tradição teórica da sociologia nos dias de hoje. O feminismo possui as seguintes características: 1) A teoria feminista se concentra nos diversos aspectos do patriarcalismo, isto é, o sistema de dominação masculina na sociedade. O patriarcalismo, conforme argumentam as feministas, é tão ou mais importante do que as desigualdades de classe na determinação das oportunidades que uma pessoa tem na vida. 2) A teoria feminista sustenta que a dominação masculina e a subordinação feminina não são determinadas biologicamente, mas decorrem de estruturas de poder e de convenções sociais. A partir desse ponto de vista, as mulheres são subordinadas aos homens apenas porque os homens desfrutam de mais direitos legais, econômicos, políticos e culturais. 3) A teoria feminista examina como o patriarcalismo funciona nos níveis micro e macrossociais, isto é, examina como a dominação masculina acontece nas grandes estruturas, tais como igrejas, empresas, política e na própria cultura de um país, mas também nas pequenas estruturas, como nas famílias. 4) A teoria feminista argumenta que os padrões existentes de desigualdade de gênero podem e devem ser mudados para o benefício de todos os membros da sociedade. As principais fontes de desigualdade de gênero incluem as maneiras como meninos e meninas são educados, barreiras em relação a oportunidades iguais de educação, trabalho remunerado e política, assim como uma divisão desigual de responsabilidades domésticas entre homens e mulheres. Lição 05 / 8 5. Conclusão Estas teorias encerram o primeiro módulo, que teve como finalidade introduzir o aluno à lógica de análise sociológica. No próximo módulo estudaremos a cultura, que é a maneira como damos significado à existência, através de hábitos costumes, crenças e visão de mundo. Lição 05 / 9 6. Referências Robert Brym... [et al.]. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson Learning, 2006. WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1995..
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