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A Linguística Aplicada na Grande Área da Linguagem - Almeida Filho

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A Linguística Aplicada na Grande Área da Linguagem
Escrito por José Carlos Paes de Almeida Filho
Ouvi o termo Linguística Aplicada pela primeira vez na disciplina Prática de Ensino de Língua quando ainda cursava o quarto ano da universidade no Curso de Letras da PUC-SP em 1971. Não prestei muita atenção ao que o conceito poderia significar de novo para alguém que estudava língua com vistas a ensiná-la na escola. No quarto ano de Letras, todos os meus colegas faziam planos de iniciar ou continuar a carreira de professor(a) de língua e eu mesmo pensei que para continuar estudando precisava abraçar algo mais acadêmico e na minha tosca visão isso deveria ser Literatura ou Literatura Brasileira. Já tinha percebido que na área de Letras as literaturas tinham uma tradição de força que extravasava para a pós-graduação. Uma professora com liderança no curso me explicou no corredor um dia que eu não tinha necessariamente de continuar estudando literatura, mas havia agora um curso novo de pós-graduação em Linguística Aplicada naquela mesma universidade e estava voltado para a pesquisa sobre o ensino de línguas. Ora, minha vocação estava definida como magistério desde o final do curso colegial e essa opção de continuar me formando para a pesquisa nesse âmbito pareceu-me providencial.
No curso de Letras que estava concluindo não tinha havido lugar para qualquer disciplina de Linguística Aplicada, mas pareceu-me nesse momento que a Linguística (Geral) que me havia sido apresentada como a descrição científica das línguas deveria oferecer seu promissor potencial para quem quisesse se especializar no ensino de línguas. De fato, nesse início dos anos 70 era bem essa a equação de Linguística Aplicada plasmada nas nossas cabeças quando passei a freqüentar as disciplinas do recém aberto e pioneiro Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada. da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Em 1986 eu já havia concluído estudos pós-graduados ao nível de especialização, mestrado e doutorado nessa área de Linguística Aplicada e ensaiava agora ofertar eu mesmo disciplinas de pós-graduação em Linguística Aplicada na pós-graduação em Linguística da Universidade Estadual de Campinas que se preparava para abrir com a minha colaboração um novo programa independente de Linguística Aplicada. Nesse ano de 1986, firmei consciência e definição propositiva dessa subárea da grande área da Linguagem em discussões que duraram meses de esforços contínuos em diálogo frutífero e afirmativo com a colega Marilda Cavalcanti que depois viria a tornar-se um pilar da Linguística Aplicada brasileira contemporânea. A partir daí senti-me apto a conceber uma definição de LA da qual não mais me separei até hoje, neste momento em que escrevo, maio de 2008, contratado agora em vaga específica de concurso em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília realizado em 2004. O conceito em que me ancoro desde 86 é o de Linguística Aplicada como área (uma de três tradicionalmente ativas nas universidades brasileiras – Literaturas, Linguística e Linguística Aplicada) que se ocupa da pesquisa sobre questões de linguagem situadas na prática social com procedimentos específicos determinados pela natureza aplicada da pesquisa que tipicamente a serve.
Note-se que essa é uma visão renovadora da antiga idéia de aplicação de teoria lingüística a questões de ensino de língua, particularmente ao ensino de línguas estrangeiras e ainda residualmente encontrável nos departamentos dedicados aos estudos da linguagem no país. Essa concepção de LA está explícita num artigo inicial publicado sob o título de Linguística Aplicada, Aplicação de Linguística e Ensino de Línguas (Almeida Filho, 1987), artigo esse expandido em outro denominado Maneiras de Compreender Linguística Aplicada (Almeida Filho, 1991). Ambos os artigos foram depois reimpressos com acréscimos no livro Linguística Aplicada, Ensino de Línguas e Comunicação (Almeida Filho, 2005). Neste livro, fica explicitada também a idéia de que Linguística Aplicada é área autônoma da Linguagem, caracterizada por pesquisa de tipo aplicado (não restritivamente de aplicação), possui metodologia própria, nem sempre ensinada explicitamente em programas nacionais de LA no país, manifesta-se em estudos ou investigação sistemática a partir de tópicos constituídos de fenômenos definidos a partir do seu objeto de direito (os fenômenos de uso da linguagem em ações da vida social) em subáreas reconhecidas hoje como a da Tradução, Ensino-Aprendizagm de Línguas, Usos da Lexicografia e Terminologia (dicionários, por exemplo), além de Relações Sociais Mediadas pela Linguagem (empresariais, familiares, de gênero –homem/mulher-, profissional-paciente/cliente/pessoa do público). È patente que a LA se firmou nas especificidades que a sua pesquisa de natureza aplicada abriu, livrou-se das limitações definitórias dos seus primórdios ganhando preciosa consciência dos seus domínios teóricos, dos seus limites e potencialiades no trato de importantes pontos da sua sempre crescente agenda de pesquisa balizada pela percepção de questões limite da nossa sociedade e época.
Tomemos agora um excerto de Martin Bygate (2004), lingüista aplicado inglês contemporâneo, sobre os objetivos da atual LA com o propósito de aquilatarmos nossa distância ou proximidade com visões da LA em outras artes do mundo acadêmico. A tradução do excerto para o Português é nossa.
“Três interesses temáticos (são) observados nas subáreas do campo da LA: (1) o de trabalhar a partir de fenômenos aplicados de superfície, (2) o de relacionar as especificidades dos praticantes da área às generalizações necessárias à compreensão do grande público e, (3) o de encontrar respostas aos problemas do mundo real.”
O trabalho (de pesquisa, porque a LA é uma área de pesquisa envolvendo centralmente linguagem) a partir da superfície no texto do autor inglês significa ocupar-se das questões manifestas da linguagem na prática social da forma como ela se apresenta a nós no teor de complexidade que possui sempre. Essa é a marca definidora da área teórica de pesquisa aplicada no âmbito da linguagem humana (a LA) há algum tempo também para vários autores da LA brasileira (vide Cavalcanti, 1986, Almeida Filho, 1991, e Moita Lopes, 2003, por exemplo). Fenômenos aplicados são aqueles que envolvem justamente o uso real da língua no cotidiano de circulação em que está posta.
Especificidades dos praticantes equivalem ao interesse científico e à temática específicos das subáreas a que estão filiados os pesquisadores lingüistas aplicados. Se a interpretação que sugerimos aqui forem aceitáveis, poderemos afirmar que a definição que ofereci no início para LA é perfeitamente compatível com a visão expressa pelo lingüista aplicado inglês Bygate, membro ativo da BAAL, a Associação Britânica de Lingüistica Aplicada.
Na figura abaixo incluo uma representação do percurso típico de pesquisa em Linguística Aplicada nessa acepção promovida no texto que a precede.
Na figura são mostradas três situações indicadas pelos numerais 1, 2 e 3. Na situação 1, uma questão envolvendo linguagem colocada na prática é definida ou construída, busca-se respaldo teórico já produzido em esforços anteriores na LA, discutem-se as questões levantadas, gera-se conhecimento novo para a teoria da LA e volta-se ao problema inicial para sugerir novos encaminhamentos em direção a uma equação das questões inicialmente formuladas. Na situação 2, toma-se algum conhecimento teórico de alguma ciência de contato e faz-se um esforço (de pesquisa) por estabelecer o impacto que tal conhecimento ocasionaria quando aplicado a uma situação prática. Estuda-se, discutem-se observações e volta-se a recompor/confirmar o quadro teórico de onde se partiu. Este é o caso típico de aplicação de teoria como na aplicação clássica de teoria linguística. Embora seja lícito entender a aplicação como uma das formas de se fazer LA, a área nunca poderia se circunscrever a esse procedimento, dado que o esforço de aplicação é freqüentemente insuficientepara cobrir situações complexas como as referentes ao ensino-aprendizagem de línguas, tradução etc.
A localização de um tópico na prática complexa em que as questões se aninham pode não encontrar, por sua novidade e pioneirismo, corpo teórico pré-existente na teoria de LA. Nesse caso, a situação 3, seria natural buscar-se, a partir do reconhecimento da natureza da questão construída e colocada para a pesquisa, uma ciência de contato que pudesse apontar recursos parciais adequados ao estudo aplicado que se quer iniciar. A discussão do tópico gera conhecimentos teóricos novos para a teoria de LA que então já poderá oferecer recursos teóricos assimilados antes a próximos trabalhos voltados para o mesmo tipo de questão ou similar a ela. Nessa perspectiva, podemos ver um exemplo, aí sim, de interdisciplinaridade contingencial suscitada pela natureza da questão posta para a pesquisa aplicada. Interdisciplinaridade constitutiva não é a nossa perspectiva e isso já se vê nesse nosso posicionamento.
É nas acepções 1 e 3 que se reconhecem no esforço de pesquisa verdadeiramente aplicada características de engenharia, de desenvolvimento de idéias-solução e de suas práticas implementadoras em relação direta com reclamos da sociedade. Mas ainda não basta produzir um material de alfabetização ou programa de leitura emergente pós-alfabetização com características inovadoras resultantes de pesquisa aplicada. É preciso ainda conhecer as condições culturais das populações a serem servidas para facilitar a absorção do que se lhes será oferecido alternativamente. Essa permeabilidade ou porosidade para absorver o “novo” é igualmente um pré¬requisito que se prevê nos projetos de pesquisa aplicada como condição constituidora básica.
Vemos assim que uma universidade pode avançar no plano de ciência básica mas permanecer lenta na conversão de parte dessa ciência em tecnologia. Pode estar avançando em ciência e tecnologia (esforços de aplicação) e carecer da dimensão crucial do conhecimento diferenciado de ciência aplicada nos termos que delineamos acima. Nesse último caso, estariam fora do esforço sistemático da universidade, através de seus programas de pós-graduação, as considerações de fatores sócio-culturais de absorção dos resultados de pesquisa aplicada (a permeabilidade).
Essa relação da pesquisa com os contextos de onde se originam questões e eventualmente problemas é, portanto, crucial para constituir a natureza aplicada do conhecimento científico sensível aos contextos nacionais que se deseja gerar. É preciso prever uma agenda de prioridades nacionais e regionais e nela ir buscando constituir os projetos individuais e projetos integrados coletivos (os laboratórios de equipes de pesquisadores e seus alunos-formandos). A escolha da qualidade distintiva da pesquisa aplicada, promissora na nossa longa história brasileira de ciência desaplicada, já é um acerto inicial num programa nacional de pós-graduação em Linguística Aplicada.
Para compreender a natureza teórica da disciplina Linguística Aplicada e suas subdivisões como ramo científico integrado às ciências humanas e à Linguagem ou Ciências da Linguagem como a grande área a que ela se filia, apresento abaixo a seguinte gravura ilustrativa:
Essas maneiras de definir LA e de representá-la depois no conjunto das ciências da Linguagem não são neutras e inofensivas. Todo recorte de domínio científico é de natureza política e nunca, portanto, isento de interesses. Por que nos interessa representar assim a LA e filiá-la dessa forma a uma grande área da Linguagem e não à Linguística, às Ciências Sociais diretamente e a Letras na diacronia mais longeva nos estudos da linguagem? Propomos essa distribuição do esforço sistemático de pesquisa aplicada por reconhecer que as questões de linguagem colocadas na prática social são um elo forte de religação da teoria de LA com a sociedade que cobra ou necessita de resultados do investimento em pesquisa feitos com fundos públicos dos impostos dos contribuintes. É claro que nem toda pesquisa terá de ser de natureza aplicada ou de aplicação de teoria (lingüística, principalmente). Pesquisa básica para a descrição da composição e do funcionamento da língua produzida tradicionalmente pela Linguística é de alta relevância para a área da Linguagem como um todo e obviamente deve disputar uma parcela dos fundos com a Linguística Aplicada e com a Estética da Linguagem, esta última de maior longevidade nos estudos da linguagem e freqüentemente conhecida como Literatura e Letras propriamente dita.
O não reconhecimento de que a grande área é a Linguagem e não Letras interessa a quem? Seria aos praticantes da pesquisa literária ou estética e aos pesquisadores lingüistas que já se acomodaram a uma distribuição do bolo de recursos para a pesquisa, disciplinas e vagas para contratação de professores via concursos favorável aos seus interesses? O menor investimento de recursos no ensino e na pesquisa em LA também distorce a qualidade dos profissionais das áreas aplicadas fazendo parecer que essa categoria é meramente prestadora de serviços na casa universitária e por isso seus praticantes não são bem iguais aos outros. Nessa perspectiva, eles produzem bens menores, devem ser menos representados e merecer menor quinhão na distribuição dos recursos e postos simbólicos da hierarquia científico-administrativa das universidades.
No quadro abaixo, apresento um diagrama para representar uma distribuição mais coerente com a argumentação que venho desenvolvendo em favor de uma reformulação das áreas da linguagem na universidade para a sua redepartamentalização.
Numa situação de reforma, o Instituto ou Faculdade de Letras seria renomeado Instituto da Linguagem conforme já implementado na Universidade Estadual de Campinas. O Instituto da Linguagem assim denominado indicaria o lócus de uma formação completa no âmbito da linguagem com ancoragem nas suas três grandes disciplinas, a Literatura, a Linguística e a Linguística Aplicada organizadas em três departamentos ou seções distintas cada qual com seu curso de pós-graduação e todas conjuntamente responsáveis pelo curso de graduação em Letras. Um departamento de Estética da Linguagem poderia expandir o escopo tradicionalmente reservado à teoria literária marcada pela ficção no grande romance enraizado no século 19 abrindo-se para linguagens midiáticas e seus gêneros, publicitários ou ficcionais. Em torno da Linguística se concentrariam os estudos sobre a estrutura e o funcionamento da linguagem humana, incluindo o discurso e a descrição de línguas. À LA se reservariam os esforços por formar professores de línguas, tradutores, lexicógrafos aplicados e especialistas em relações sociais mediadas pela linguagem. Dessa forma, ficaria atenuada a simplificação da área em Letras e Linguística conforme parecia querer nuclear-se ainda nos anos 60 do século passado e perpetuada na classificação incômoda e atrasada do CNPq que hoje serve apenas aos grupos e personalidades dos pesquisadores de gerações pioneiras e os formados por elas.
Referências
ALMEIDA FILHO, JCP Linguística Aplicada, Aplicação de Linguística e Ensino de Línguas. In Anais do III Seminário Integrado de Línguas e Literatura. Porto
Alegre: PUC-RS & Centro Yazigi de Educação e Cultura, 1987.
___________ Maneiras de compreender Linguística Aplicada. In Revista Letras, vol.02. Santa Maria: Editora da UFSM, 1991.
___________ Linguística Aplicada, Ensino de Línguas e Comunicação. Campinas: Pontes Editores, 2005.
CAVALCANTI, MC A propósito de Linguística Aplicada. In Trabalhos de Linguística Aplicada. Campinas:Unicamp, vol. 07, 1986.
MOITA LOPES, LP Oficina de Linguística Aplicada. São Paulo: Mercado de Letras, 1996.
BYGATE, M. Some current trends in Applied Linguistics. Towards a genericview. AILA Review, vol. 17. Amsterdam: John Benjamins, 2004.

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