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Anemias congênitas Conceitos iniciais: As anemias se caracterizam por diminuição no número de hemácias circulantes ou na taxa de hemoglobina. Causas de redução efetiva de hemácias: Aumento da degradação Perdas sanguíneas Falha na produção Causas de redução da taxa de hemoglobina: Alterações hereditárias na produção de hemoglobina Quadro clínico de anemia: Fraqueza – pela hipóxia que faz com que o oxigênio não chegue adequadamente para o metabolismo das células. Hipotensão – quando associada a perda sanguínea. Dispneia – pela falta de oxigênio A anemia hereditária está condicionada aos genes, sendo geneticamente determinada. Não necessariamente é herdada, podendo estar relacionada a alterações. A hemácia é produzida na medula óssea, originada a partir do eritroblasto, célula que ainda possui núcleo. A célula sanguínea hemática só consegue se manter com o que já tem, já que não é possível produzir nada sem o material genético. Componentes importantes para entender o processo de hemólise: Hemoglobina É uma proteína globular, tendo forma de globo. Os aminoácidos que formam a proteína vão induzir o dobramento terciário da proteína. O que faz efetivamente esse dobramento é a carga entre os aminoácidos, pela sua atração e repulsão. O externo da molécula proteica é polar e o interno é apolar. A hemoglobina só funciona na conformação de tetrâmero com 4 globulinas (2 alfa e 2 beta). Antígenos de superfície na membrana citoplasmática Proteínas de citoesqueleto G6PD – enzima neutralizadora de radicais livre, para impedir sua morte precoce. Presente na membrana celular, impedindo que os radicais livres interajam com a hemácia, até que haja informação para apoptose. A síntese de hemoglobina acontece durante a fase de eritroblasto. A hemoglobina A é composta por dois tipos de globinas, a globina alfa e a globina beta. De acordo com a faixa etária, a quantidade de globinas que predomina vai variando, ou seja, tem globinas expressas apenas no período embrionária, outras no período fetal e ainda as que são expressas durante toda a vida. Alfa: sempre está em altas concentrações. Sempre será expressa Transitórias: embrionárias Beta: só começa sua expressão após o nascimento. Gama: é alta no período embrionário, atingindo o ápice no período fetal e depois cai no período de lactente. Delta: pouca expressão **A alfa é a de maior expressão, então sempre participará da formação da hemoglobina, independente do tipo. ***Como a hemoglobina A é composta por duas cadeias alfa e duas cadeias beta, ela só é formada após o nascimento. Antes disso, a hemoglobina predominante é a fetal, composta por duas cadeias alfa e duas cadeias gama. Em lactentes jovens, antes dos 4 meses, a hemoglobina A1 predomina, com 98% do total, 2% de A2 e AF. Alterações na hemoglobina Variantes estruturais: Anemia falciforme Anemia falciforme está dentro do grupo de doenças chamadas de variantes estruturais, ou seja, a hemoglobina foi produzida em quantidade adequada, porém a qualidade não é adequada. Definição: Doença autossômica recessiva que causa alteração na estrutura da hemoglobina. Para que a doença se desenvolva deve haver a presença da mutação em dois genes, sendo obrigatório ser SS. É uma mutação no gene que codifica a cadeia beta. É a mais frequente e grande parte da população é portadora do gene. Etiopatogenia: É a substituição da timina pela adenina. Mudança de ácido glutâmico para valina. O ácido glutâmico é polar e tem carga negativa, alterando a configuração tridimensional para característica de bastão. Há uma exposição de parte dos aminoácidos, como um gancho, permitindo a aglomeração de hemoglobinas. Uma mutação no DNA que faz com que haja substituição de um aminoácido polar por um apolar na constituição da hemoglobina resulta numa modificação da dinâmica estrutural dessa proteína. Fisiopatologia: A hemácia alterada fica alongada e com forma de força, que fica retida na microcirculação, principalmente nos rins, pulmões, olhos e extremidades. Como o capilar é pequeno nas regiões de extremidades, é notável a isquemia e processo inflamatório. – síndrome mão-pé (principalmente crianças pequenas). Essa retenção faz com que a hemácia falciforme seja morta, o que causa agregação plaquetária, microtrombos e isquemia locais, deflagrando Quadro clínico: anemia hemolítica + alterações de alguns órgãos e sistemas por eventos secundários de isquemias. Edema quente de mãos e pés. Inflamatório Choro de dor a manipulação Esplenomagalia – para suportar a carga de hemácias mortas que chega até ele. O hiperesplenismo vai piorar a anemia porque além das hemácias lesadas, também destrói hemácias sadias. Icterícia – pelo aumento da bilirrubina indireta gerada pela destruição celular Sintomatologia isquêmica: Dor precordial Isquemia cerebral Osteomielites Priapismo Diagnóstico: Eletroforese de hemoglobina: A hemoglobina da anemia falciforme é diferente de uma hemoglobina saudável (A e A2). É possível diferenciar a hemoglobina normal da facilforme porque a carga elétrica delas são diferentes pela diferença no aminoácido. Hemoglobina falciforme: hemoglobina S Hemoglobina normal: hemoglobina A. Obs.: Não são necessários testes moleculares para diagnosticar anemia falciforme. Padrão genético AS: um gene normal e um alterado. Não há doença, mas o paciente é entendido como portador. Padrão genético: AA: normal, sem traço Padrão genético SS: indivíduo só tem hemoglobina falciforme. Em geral, os pais são portadores. Caso clínico: Paciente negra, de 2 anos e 3 meses de idade, sexo feminino, dá entrada em PS com dor intensa abdominal. Ao exame, se apresenta descorada 3+/4, desidratada, abdômen difusamente doloroso a palpação e descompressão brusca positiva. A paciente ficou em observação em OS, recebendo hidratação IV e colhido o hemograma. Após uma hora de hidratação, houve melhora da dor abdominal e Hb 8.5. A criança foi liberada, mas após 2 dias após o 1º evento, foi ao PS com queixa de dor abdominal intensa, febre, dor e edema em mãos e pés. Ao exame estava descorada, desidratada, abdome rígido, baço palpável a 3 cm do rebordo costal esquerdo. A mãe refere que sempre fez tratamento de anemia, mas nunca precisou de transfusão de sangue. Identificação: Menina 2 anos Negra Falta: Condições de moradia QP: “dor abdominal intensa” HDA: Paciente relata dor abdominal intensa e aguda com início recente (poucas horas). HF: mãe trata para anemia, sem necessidade de transfusão. Pai saudável com duas irmãs tratando para anemia. Exame físico: Descorada 3+/4 Desidratada Abdome doloroso Suspeita de descompressão brusca positiva – indicativo de peritonite. Condutas: Hidratação Coleta de hemograma Hb baixa – 8.5 mg No retorno, há reagudização: HDA: Paciente relata febre, dor abdominal intensa, dor e edema em mão e pés. No retorno, a reagudização: exame físico Febre Esplenomegalia Abdome rígido Hipótese diagnóstica: Anemia falciforme. Variantes de qualidade – talassemiais: Nessas variante, por mais que haja uma hemoglobina eficiente, a quantidade de hemoglobina funcionante é diminuida. Alfa-talassemia Etiopatogenia: É uma mutação no gene que codifica a cadeia alfa da hemoglobina. Uma falha na produção de cadeia alfa causa um aumento da cadeia beta, sem alfa para se ligar. Porém a cadeia beta isolada não consegue se ligar ao oxigênio, garantindo uma hipoxemia. Quadro clínico: Cianose Hipoxemia ***Não causa anemia. Beta-talassemia Etiopatogenia: É um defeito de síntese da cadeia beta, causando um excesso de formação de cadeia alfa. Quando em excesso, a cadeia alfa se agrega dentro da célula, induzindo a sua morte, resultando numa anemia hemolítica. A anemia hemolítica crônica induz a produção de hemácias por outras vias que não a regular, sendo feitas em locais não usuais, como calota craniana, em fronte, região malar, costelas.Quadro clínico Anemia crônica Crises de hemólise – não é comum Expressão de face: Proeminência da gengiva Face de roedor Alterações craniana Alargamento em epífeses ósseas Diagnóstico: Esfregaço de sangue – depósitos de cadeia alfa, levando a alteração da configuração da célula, caracterizando uma variedade de tipos celulares numa mesma lâmina. Presença de poiquilócitos Células em alvo Micrócitos Diagnóstico diferencial com formações osteóides nas costelas, com tumor de costela. Deficiência de G6PD Definição: Das anemias hemolíticas enzimáticas é a mais frequente na população. É uma doença farmacogenética. Acomete meninos, principalmente, por estar ligada ao X recessiva. Para acometer meninas, a mãe precisa ser portadora e o pai doente. Etiopatogenia: É uma deficiência enzimática por conta de uma mutação. A G6PD é a enzima que faz com que a hemácia se proteja de lesão por radicais livres que causariam a sua morte. Qualquer situação que envolva roubo de H+ numa pessoa com a mutação genética, vai provocar hemólise dessa célula. Uso de medicamentos AAS Dipirona Anti-maláricos Feijão de fava – favismo Vinho tinto Agua tônica Henna A célula passa a ter dano celular. Quadro clínico Hemólise Esplenomegalia Icterícia precoce Conduta: Atividade enzimática de G6PD Dosagem de enzima Restrição dos fatores deflagrantes. Obs.: Algumas mães portadoras, podem manifestar algumas peculiaridades de anemia hemolítica. Anormalidades no citoesqueleto São situações raras, relacionadas a manutenção das proteínas de membrana. Eliptocitose Definiçao: A hemácia assume forma elíptica pelo erro na proteína transmembrana. Etiopatogenia: A membrana não consegue manter a conformação concava convexa pela transcrição errônea de proteínas de membrana de sustentação. Ao passar pelos capilares, vão ficar impactadas e serão conduzidas a morte. Esferocitose Definição Frequencia de 1:2000 É uma doença autossômica dominante. Não é frequente ter mais de um caso na família. Etiopatogenia: A célula não tem a forma bicôncava importante para o seu trânsito pela circulação. A hemácia esférica não consegue passar pelo capilar, o que causa sua retenção e consequente hemólise, então anemia hemolítica. Diagnóstico: Esfregaço sanguíneo. Distúrbios de coagulação Diminuição da coagulação Hemofilia Definição: é uma falha na coagulação por falta de fatores da coagulação. Ligada ao X recessiva. Fator VIII – hemofilia A < 1% - grave <5% - moderada É quando começa a aparecer a sintomatologia Até 5% - leve Fator IX – hemofilia B Quadro clínico Meninos Baixa idade Sangramento Incompatíveis com o trauma Em regiões que não costumam sangrar Diagnóstico diferencial com abuso/agressão. Púrpura – grandes sangramentos Diagnóstico: Dosagem dos fatores VIII e IX. Relacionada aos níveis de atividade. Tratamento Reposição do fator toda semana Terapia gênica – reposição do gene Aumento da coagulação – Trombofilia São situações em que há mais coagulação. Podem ser adquiridas ou congênitas (há uma mutação que predispõe a trombose). Principais: Mutações para protrombina Mutações para fator V de Leidein Outras: Deficiencia de anti-trombina Deficiência de proteína C e S Devem ser pequisadas em caso de história familiar de trombose associada a outro fator ambiental (associação potencializa o risco de evento trombótico). Predisposição Fator ambiental Idosos Acamados Cirurgia ACO ou AC injetável Doenças mieloproliferativas Diagnóstico Proteína C e S Anti-trombina Mutação para fator V e para fator VIII
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