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1 2 PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Si lva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAUÍ José Well ington Barroso de Araújo Dias REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Luiz de Sousa Santos Júnior SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielschowsky COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Costa José da Costa DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI Gildásio Guedes Fernandes DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA Helder Nunes da Cunha COORDENADORA DO CURSO DE QUÍMICA NA MODALIDADE EAD Rosa Lina Gomes Pereira do Nascimento da Si lva COORDENADORA DE MATERIAL DIDÁTICO DO CEAD/UFPI Cleidinalva Maria Barbosa Olivei ra DIAGRAMAÇÃO Roberto Denes Quaresma Rêgo COORDENADOR DE REVISÃO DE TEXTO Naziozênio Antonio Larcerda REVISÃO Francisca Augisiana de Meneses Costa 3 1 O DESENVOLVIMENTO DA MECÂNICA QUÂNTICA .................................... 07 1.1 O espectro da radiação térmica ..................................................................... 07 1.2 O efeito fotoelétrico ........................................................................................ 12 1.3 O modelo atômico de Bohr ............................................................................. 15 1.4 A dualidade onda-partícula............................................................................. 22 1.5 O Princípio da Incerteza ................................................................................. 23 1.6 Problemas ...................................................................................................... 25 2 A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER .................................................................. 31 2.1 A função de onda ........................................................................................... 33 2.2 Números complexo ........................................................................................ 35 2.2 Operadores e valores esperados ................................................................... 36 2.3 A equação dependente do tempo .................................................................. 45 2.4 A equação independente do tempo ................................................................ 46 2.5 Unidades atômicas ......................................................................................... 50 2.6 Problemas ...................................................................................................... 52 3 SISTEMAS SIMPLES ....................................................................................... 55 3.1 A partícula livre ............................................................................................... 57 3.2 A partícula na caixa ........................................................................................ 61 3.3 O oscilador harmônico.................................................................................... 65 3.4 O rotor rígido .................................................................................................. 69 3.5 Problemas ...................................................................................................... 76 4 ÁTOMOS HIDROGENOIDES .......................................................................... 83 4.1 A equação angular ......................................................................................... 83 4.2 A equação radial ............................................................................................ 84 4.3 Orbitais atômicos ............................................................................................ 87 4.4 Problemas ...................................................................................................... 88 4 5 Átomos multieletrônicos........................................................................................ 89 5.1 Spin eletrônico .................................................................................................... 91 5.2 Princípio de Pauli ................................................................................................ 94 5.3 Determinante de Slater ....................................................................................... 97 5.4 Hamiltoniano atômico ....................................................................................... 99 5.5 Métodos de aproximação .................................................................................. 104 5.6 Método Hartree-Fock ......................................................................................... 109 5.7 Problemas .......................................................................................................... 110 6. MOLÉCULAS ....................................................................................................... 115 6.1. Hamiltoniano Molecular .................................................................................... 115 6.2. Aproximação de Born-Oppenheimer ................................................................. 115 6.3. Espectroscopia Molecular .................................................................................. 118 6.4. Teoria dos Orbitais Moleculares ........................................................................ 124 6.5 Problemas ....................................................................................................... 126 7. APÊNDICE ........................................................................................................... 130 REFERENCIAS ........................................................................................................ 133 5 6 1 O DESENVOLVIMENTO DA MECÂNICA QUÂNTICA ....................................... 07 1.1 O espectro da radiação térmica ....................................................................... 07 1.2 O efeito fotoelétrico .......................................................................................... 12 1.3 O modelo atômico de Bohr ............................................................................... 15 1.4 A dualidade onda-partícula ............................................................................... 22 1.5 O Princípio da Incerteza ................................................................................... 23 1.6 Problemas ........................................................................................................ 25 7 1. O DESENVOLVIMENTO DA MECÂNICA QUÂNTICA 1.1. O espectro da radiação térmica De acordo com a visão clássica proposta por James Clerk Maxwell, através das famosas equações de Maxwell, a luz é uma onda eletromagnética, ou seja, é a propagação de campos elétricos e magnéticos , oscilantes e perpendiculares entre si, através do espaço e do tempo. A luz é uma onda transversal, ou seja, a direção de oscilação é perpendicular à direção do deslocamento. Ao contrário das ondas mecânicas, uma onda eletromagnética não necessita de um meio material para se propagar, podendo deslocar-se no vácuo. O valor da velocidade da luz no vácuo é exatamente . O comprimento de onda (lambda1) é a distância entre dois pontos de amplitude máxima na onda. O período da onda é o número de oscilações por unidade de tempo. A frequência da onda (ni) é o inverso do período: . O comprimento de onda e a frequência de uma onda eletromagnética relacionam-seentre si e com a velocidade da luz , através da relação abaixo. Uma equação cuja numeração aparece em negrito e está marcada com um asterisco* é uma equação especialmente importante, que deve ser memorizada. 1 Vide alfabeto grego, na Tabela 5 do apêndice. (1.1)* James C. Maxwell (1831-1879) As Equações de Maxwell Onda eletromagnética Para saber mais, siga os links abaixo: http://pt.wikipedia.org/wi ki/Radiação_eletromag nética 8 A faixa do espectro eletromagnético, com comprimentos de onda de 380 a 750 nm, é denominada visível, pois podemos enxergá-la2. Em comprimentos de onda maiores situam-se o infravermelho e as ondas de rádio. Em comprimentos de onda menores estão o ultravioleta, os raios X e os raios gama. Vale lembrar que só podemos enxergar a faixa de comprimentos de onda denominada luz visível. Os elétrons presentes em toda a matéria possuem carga elétrica e estão em constante movimento. Sabe-se do Eletromagnetismo que cargas elétricas aceleradas emitem ondas eletromagnéticas. Por isso, todos os corpos emitem e absorvem radiação eletromagnética com comprimentos de onda que dependem da temperatura do corpo. Essa radiação eletromagnética emitida ou absorvida é denominada radiação térmica. À temperatura ambiente, a maior parte da radiação emitida por um corpo situa-se no infravermelho. Por isso, não podemos ver a radiação térmica emitida pelos corpos frios a nossa volta. Entretanto, ao aquecer um corpo, em temperaturas bastante elevadas ele passará a emitir luz visível, como ocorre com o carvão ou o ferro em brasa. Em temperaturas ainda mais elevadas, os corpos emitirão radiação térmica no ultravioleta. Na maioria das vezes, vemos a luz que é refletida pelas superfícies dos corpos. Em alguns casos, vemos a luz que é emitida como radiação 2 1 nm = 10 –9 m. Espectro eletromagnético Exemplo 1.1. Calcule a frequência da luz, com o seguinte comprimento de onda: . Dados: Solução: Exercício 1.1. Calcule a frequência da luz com o seguinte comprimento de onda: . Resposta: 9 térmica, como no caso do Sol e das lâmpadas incandescentes. Um corpo que absorve toda a radiação que incide sobre a sua superfície é denominado corpo negro. Dessa forma, um corpo negro não refletirá luz, mas apenas emitirá radiação térmica. À temperatura ambiente, não se pode ver o corpo negro, pois ele emite no infravermelho. Só poderíamos vê-lo em temperaturas mais elevadas, quando ele passasse a emitir no visível. Este é o caso do Sol, que pode ser considerado um corpo negro. Um corpo negro emite radiação eletromagnética em uma faixa de frequências denominada espectro do corpo negro, que depende da temperatura do corpo. A intensidade da radiação térmica emitida é medida como a energia emitida por unidade de tempo, por unidade de área do corpo negro, em um determinado intervalo de comprimento de onda. Essa grandeza é denominada radiância espectral, . No espectro do corpo negro, essa grandeza é que fica no eixo vertical. A lei do deslocamento de Wien O comprimento de onda é aquele emitido com maior intensidade, em cada temperatura. A lei do deslocamento de Wien, dada pela relação: (1.2) Espectro do corpo negro Exemplo 1.2. O comprimento de onda emitido com máxima intensidade pelo Sol é . Calcule a temperatura da superfície do Sol. Solução: Exercício 1.2. Sabendo que o comprimento de onda emitido com máxima intensidade pela Estrela do Norte é . Calcule a temperatura da superfície da Estrela do Norte. Resposta: 8.279 K 10 é uma equação empírica que relaciona os valores de (nm) com a temperatura (K) do corpo. Essa equação é utilizada para medir a temperatura de corpos bastante quentes, tais como fornos industriais e corpos celestes luminosos, como o Sol e as estrelas. A equação de Rayleigh e Jeans No início do século XX, Rayleigh e Jeans utilizaram a Física Clássica para derivar a expressão para a radiância espectral, . Eles obtiveram a seguinte expressão: onde é a constante de Boltzmann e é a velocidade da luz no vácuo. A catástrofe do ultravioleta A equação deduzida por Rayleigh e Jeans prevê uma intensidade emitida cada vez maior à medida que o comprimento de onda diminui. Esse comportamento não está de acordo com o espectro experimental, onde a intensidade emitida aumenta, passa por um máximo em e depois diminui. Esse comportamento inesperado é denominado catástrofe do ultravioleta, pois ocorre na região do ultravioleta do espectro. (1.3) Catástrofe do ultravioleta Lord Rayleigh (1842- 1919) Max Planck (1858- 1947) 11 A Equação de Planck Em 1900, Max Planck deduziu a seguinte expressão para a radiância espectral: onde é uma constante, que hoje é denominada constante de Planck. Essa relação reproduz perfeitamente o espectro do corpo negro experimental. A constante de Planck é bastante importante na Mecânica Quântica, aparecendo em diversas equações. Para chegar a essa expressão, Planck assumiu que a energia emitida pelo corpo se dava de maneira discreta, ou seja, em múltiplos de , onde é a frequência da radiação emitida: equação essa que é hoje conhecida como a hipótese de Planck da quantização da energia. De acordo com a hipótese de Planck, a energia dos elétrons no corpo negro só poderia assumir valores discretos . Esse é o conceito da quantização da energia, que não existe na Física Clássica, onde a energia é uma grandeza contínua. Por essa hipótese revolucionária, Planck recebeu o Prêmio Nobel em Física de 1918 e é reconhecido como sendo o pai da Física Quântica. (1.4) (1.5)* Níveis de energia Para saber mais, siga os links abaixo: Biografias de Planck e Rayleigh http://pt.wikipedia.org /wiki/Max_planck http://pt.wikipedia.org /wiki/John_William_St rutt 12 1.2. O efeito fotoelétrico O efeito fotoelétrico consiste na emissão de elétrons de uma superfície metálica, denominada catodo, causada pela incidência de luz na superfície. A luz carrega energia através do espaço. Ao atingir o metal, essa energia é usada para vencer as forças de atração que prendem os elétrons à superfície, causando a sua emissão. O efeito fotoelétrico pode ser aproveitado para a conversão da energia luminosa em energia elétrica de forma utilizável. Os elétrons, emitidos pelo catodo dirigem-se para outra superfície metálica, o anodo, fazendo com que haja uma corrente elétrica. Esse é o princípio de funcionamento das células de energia solar. Para se estudar o efeito fotoelétrico, o catodo e o anodo devem ser colocados em um recipiente previamente evacuado. A superfície metálica do catodo deve ser limpa, removendo-se previamente qualquer camada de óxido. Aplicando-se uma diferença de potencial elétrica entre o catodo e o anodo, existirá um valor , denominado potencial de corte, capaz de cessar o fluxo de elétrons. A corrente fotoelétrica aumenta com o aumento da intensidade da luz incidente. Entretanto, o potencial de corte não depende da intensidade da luz. A energia cinética do fotoelétron mais rápido é proporcional ao potencial de corte, de acordo com a relação (1.6) Célula fotoelétrica:C é o catodo metálico de onde são ejetados os elétrons; A é o anodo; V é o potencial elétrico estabelecido entre as duas placas metálicas. Efeito fotoelétrico. Corrente versus voltagem. 13 onde é o valor da carga elétrica fundamental. Dessa forma, o resultado obtido de não depender da intensidade da luz significa que a energia cinética do elétron ejetado não depende da intensidade da luz incidente. Este resultado está em contradição com a visão clássica da luz. A energia de uma onda é tanto maior quanto maior for a sua amplitude. E a intensidade da luz é proporcional ao quadrado da amplitude da onda. Um segundo resultado que não está de acordo com o que é previsto pela Física Clássica é o fato de depender da frequência da luz incidente e de existir um valor mínimo de frequência , denominado limiar de frequência, necessário para que ocorra o efeito fotoelétrico. Verifica-se experimentalmente que varia de forma linear com a frequência da luz incidente. Um terceiro resultado que está em desacordo com a Física Clássica é o fato de que o efeito fotoelétrico ocorre quase que instantaneamente, a partir do instante da incidência de luz na superfície metálica. De acordo com a Física Clássica, a onda luminosa carrega a energia de forma difusa, através do espaço. Portanto, a superfície deveria aguardar tempo suficiente para chegar energia necessária para arrancar os elétrons. O modelo de Einstein Em 1905, Albert Einstein propôs que a luz seria formada por inúmeras partículas, que hoje são denominadas fótons. Estas carregariam energia de forma concentrada. A energia carregada por um fóton é dada pela relação abaixo. Potencial de corte , em função da frequência de luz incidente. São mostrados os limiares de frequência para três metais: Rb, K e Na. Albert Einstein (1879-1955) Para saber mais, siga os links abaixo: Biografia de Albert Einstein http://pt.wikipedia.org /wiki/Albert_Einstein 14 Durante a interação com a matéria, cada fóton transfere sua energia completamente para um elétron, arrancando-o da superfície metálica. A energia do fóton se converte na soma da energia cinética com a energia potencial (omega) do elétron, de acordo com a relação de conservação de energia abaixo. Para elétron mais fracamente ligado à superfície metálica, a energia potencial é mínima e é denominada função trabalho do metal. Nesse caso, o elétron será emitido com a energia cinética máxima . Substituindo na Equação 1.8, teremos a expressão para o potencial de corte em função da frequência da luz. Esta última expressão explica a dependência linear do potencial de corte com a frequência da luz. O limiar de frequência é encontrado fazendo- se a energia cinética máxima igual a zero na equação anterior. (1.7)* (1.8) (1.9) (1.10) Exemplo 1.3 Calcule a função trabalho , do sódio metálico (Na), em elétrons-volts (eV), sabendo que o limiar de frequência para o efeito fotoelétrico desse metal é igual a . Solução: Exercício 1.3 Calcule a função trabalho, do rubídio metálico (Rb), em elétrons-volts (eV), sabendo que o limiar de frequência para o efeito fotoelétrico desse metal é igual a . Resposta: 2.09 eV 15 Esta última expressão explica a origem do limiar de frequência . De acordo com o modelo de Einstein, a intensidade da luz é proporcional ao número de fótons presentes. Cada fóton arranca um elétron da superfície metálica. Portanto, luz de intensidade maior irá arrancar um número maior de elétrons e a corrente fotoelétrica será maior. E porque os fótons carregam energia de forma concentrada, o elétron será ejetado de forma quase que instantânea, a partir da chegada do fóton na superfície metálica. 1.3. O modelo atômico de Bohr Quando se faz passar uma descarga elétrica através de um gás monoatômico, à pressão baixa, as colisões entre os elétrons e os átomos do gás fazem com que alguns dos átomos fiquem com energia mais alta. Ao retornar ao estado de menor energia, os átomos emitem radiação eletromagnética. A questão que intrigava os físicos, até o início do século XX, era que o espectro de luz emitida pelos átomos era um espectro de linhas. Ao contrário do espectro da radiação térmica dos corpos, que é um espectro contínuo. Postulados de Bohr Em 1913, Niels Bohr propôs um modelo atômico que explicava o espectro de emissão atômico como sendo um espectro de linhas. Bohr estruturou seu modelo através de quatro postulados. Este modelo vale para os denominados átomos hidrogenoides, que são átomos que contém apenas um elétron, tal como o hidrogênio H, e os íons He+, Niels Bohr (1885- 1962) Para saber mais, siga os links abaixo: Biografia de Niels Bohr http://pt.wikipedia.or g/wiki/Niels_Bohr Átomos hidrogenoides são átomos que contém apenas um elétron, tal como o hidrogênio, H e os íons He+, Li+2, Be+3, etc. 16 Li+2, Be+3, etc. 1º Postulado. O elétron no átomo move-se em uma órbita circular ao redor do núcleo, devido à força de atração elétrica (lei de Coulomb, Equação 1.11), com aceleração centrípeta dada pela Equação 1.12 e obedecendo às leis de Newton da Mecânica Clássica (Equação 1.13). Combinando as Equações 1.11 e 1.12 na segunda lei de Newton (Equação 1.13), obtém-se a seguinte relação: (1.11)* (1.12)* (1.13)* (1.14) Charles Augustin de Coulomb (1736-1806) Para saber mais, siga os links abaixo: Biografia de Coulomb http://pt.wikipedia.org /wiki/Charles_de_Co ulomb Lei de Coulomb http://pt.wikipedia.org /wiki/Lei_de_Coulom b Momento Angular http://pt.wikipedia.org /wiki/Momento_angul ar 17 Nas Equações acima, foi utilizada a constante da lei de Coulomb , a massa do elétron e a carga elétrica fundamental . Nas equações, é o número atômico, ou seja, o número de prótons no núcleo do átomo. 2º Postulado. O elétron no átomo só pode assumir valores quantizados de momento angular L, de acordo com a relação: onde se utiliza a constante de Planck reduzida, definida como . Vale lembrar que no caso do movimento circular de raio r, de uma partícula de massa , com velocidade escalar , o momento angular é dado pela seguinte relação: 3º Postulado. O elétron em uma órbita, apesar de eletricamente carregado e acelerado, não emitirá radiação eletromagnética e sua energia permanecerá constante. 4º Postulado. Durante uma transição eletrônica para um nível de menor energia, o átomo emitirá um fóton de energia igual à diferença de energia entre os níveis. Durante uma transição eletrônica para um (1.15)* (1.16)* Exemplo 1.4 Calcule o comprimento de onda , do fóton absorvido na transição entre níveis de energia e . Solução: Exercício 1.4 Repita o cálculo acima para e . Resposta: 102,5 nm 18 nível de maior energia, o átomo absorverá um fóton de energia igual à diferença de energia entre os níveis. (1.17)* Multiplicando a Equação 1.14 por , chega-se ao seguinte resultado: Rearranjando esta última relação, chega-se ao seguinte: A grandeza , entre parênteses, na última equação, é o momentoangular do elétron que é quantizado de acordo com o 2º postulado. Fazendo essa consideração, chega-se à seguinte expressão: Rearranjando a expressão acima, chega-se à equação para o raio da órbita do elétron no átomo, onde se verifica que o raio da órbita é quantizado: (1.18) 19 Substituindo os valores das constantes na última equação, encontra-se o valor da constante ao denominada raio de Bohr: Para o átomo de hidrogênio ( ), o valor do raio de Bohr corresponde ao raio da primeira órbita, ou seja , correspondente a . A energia total do elétron no átomo é dada pela soma das respectivas energias cinética , e potencial : (1.20)* (1.21)* (1.22)* A partir da Equação 1.14, verifica-se que a energia cinética do elétron, é metade do negativo da energia potencial : Este resultado decorre de um importante teorema da Física denominado teorema do virial, que pode ser enunciado da seguinte forma: Para um sistema de duas partículas em que a média temporal da energia potencial total varie com uma potência da distância entre as partículas, ou (1.19) Para saber mais, siga os links abaixo: Teorema do virial http://pt.wikipedia.or g/wiki/Teorema_do_ virial 20 seja, , a média temporal da energia cinética total será dada pela seguinte expressão: (1.23)* No caso do potencial de Coulomb, a potência da distância é , ou seja, . Portanto, chega-se ao seguinte resultado: . Aplicando este resultado na Equação 1.20, chega-se à seguinte relação: (1.24) Usando a energia potencial de Coulomb, dada na Equação 1.22, na expressão acima, obtém-se o seguinte: (1.25) Substituindo o raio da órbita, dada na Equação 1.18, no resultado acima, obtém-se o seguinte: Rearranjado esta última expressão, obtém-se a equação para a energia total do elétron no átomo: (1.26) 21 Verifica-se, na última expressão, que a energia do elétron em um átomo hidrogenoide é quantizada. As constantes podem ser calculadas na equação acima, de forma a se obter o seguinte resultado: (1.27)* onde foi usada a relação entre o elétron-volt (eV) e o joule (J): (1.28)* Para o átomo de hidrogênio ( ), o valor da energia total do elétron que ocupa a primeira órbita é igual a . Esta energia é a chamada energia do estado fundamental do átomo de hidrogênio. Para saber mais, siga os links abaixo: Elétron-Volt http://pt.wikipedia.or g/wiki/Elétron-volt 22 1.4. A dualidade onda-partícula De acordo com o modelo de Einstein para explicar o efeito fotoelétrico, a luz se comporta como partícula durante sua interação com a superfície metálica. Entretanto, a luz também apresenta propriedades de onda, tais como interferência e difração. Por isso, dizemos que a luz apresenta um caráter dual, ou seja, a luz apresenta dualidade onda-partícula. Em 1924, Louis de Broglie defendeu sua tese de doutorado, na qual introduzia a hipótese revolucionária de que toda a matéria, e não apenas a luz, apresentaria dualidade onda-partícula. Essa hipótese inovadora pode ser expressa na denominada relação de De Broglie: Na relação de De Broglie, é o momento linear da partícula, é o comprimento de onda associado, e é a constante de Planck. Assim, pode-se calcular o comprimento de onda da onda material associada a uma partícula. Para uma partícula que possua massa m e que tenha uma velocidade bem inferior à velocidade da luz o momento linear é dado pelo produto da massa pela velocidade: (1.30)* (1.29)* Louis de Broglie (1892-1987) Para saber mais, siga os links abaixo: Biografia de Louis de Broglie http://pt.wikipedia.or g/wiki/Louis_de_bro glie 23 A energia cinética , de uma partícula de massa m e velocidade bem inferior à velocidade da luz , é dada pela seguinte expressão: Devido à constante de Planck ter um valor muito pequeno, objetos macroscópicos terão um comprimento de onda bem abaixo do limite de detecção. Por isso, a dualidade onda-partícula não é evidente na nossa experiência cotidiana. Já com partículas microscópicas, como elétrons, os comprimentos de onda associados são mensuráveis e a característica dual é evidente. Para comparar os dois casos, veja o quadro com o Exemplo 1.2 e o Exercício 1.2. A dualidade onda-partícula da matéria foi comprovada, experimentalmente, pelo experimento da difração de elétrons por um monocristal de níquel, realizado em 1927 por Davisson e Germer. Hoje, a difração de elétrons é utilizada na Química para estudar a estrutura cristalina de sólidos. 1.5. O Princípio da Incerteza Em 1925, Werner Heisenberg criou a Mecânica Quântica na forma matricial. Nesse processo, um princípio importante da natureza descoberto por Heisenberg foi o Princípio da Incerteza. Esse princípio estabelece que determinados pares de grandezas físicas, tais como a posição e o momento de uma partícula, não podem ser determinados, simultaneamente, com qualquer precisão. Mais ainda, (1.31)* Exemplo 1.5 Calcule o comprimento de onda associado a um elétron de energia cinética igual a 54 eV. Primeiro, convertemos a unidade de energia de elétron-volt (eV) para joule (J): Depois, calculamos o momento linear do elétron, usando a Equação 1.34: Por fim, calculamos o comprimento de onda associado: Exercício 1.5 Calcule o comprimento de onda associado a uma partícula macroscópica, de massa 1 kg e velocidade 10 m/s. Resposta: 6,6 x 10–25 m 24 esse princípio determina que a precisão com que se mede uma das grandezas, limita a precisão com que se pode medir a outra grandeza. Dessa forma, podemos saber muito bem onde está uma partícula (posição), mas não podemos saber ao mesmo tempo sua velocidade (momento) e vice-versa. Devido ao Princípio da Incerteza, a noção de trajetória de uma partícula, tão comum na Mecânica Clássica, torna-se sem significado na Mecânica Quântica. Isto ocorre porque a trajetória de uma partícula presume a medida simultânea da posição e do momento da partícula, a cada instante. O Princípio da Incerteza é dado pela seguinte expressão: onde . Não é possível determinar o momento linear e a posição de uma partícula, simultaneamente, com precisão maior do que a expressa pelo princípio da incerteza. (1.32)* Exemplo 1.3. Calcule a incerteza na posição de um elétron de velocidade cuja incerteza na velocidade é de 0,01%. Primeiro, calculamos o momento do elétron: Depois, calculamos a incerteza no momento do elétron: Por fim, calculamos a incerteza na posição do elétron: Exercício 1.2. Repita o cálculo para um projétil de massa . Resposta: . 25 1.6. Problemas 01. Escreva os símbolos, os valores e as unidades no Sistema Internacional (SI), das constantes físicas dadas a seguir: (a) velocidade da luz no vácuo. (b) constante de Boltzmann. (c) constante de Planck. (d) constante de Planck reduzida. (e) constante da lei de Coulomb. (f) carga elétrica fundamental. (g) massa do elétron. (h) massa do próton. (i) massa do nêutron. 02. Calcule a frequência, em Hertz (1 Hz = 1 s–1), para radiação eletromagnética em cada comprimento de onda abaixo. (1 nm = 10–9 m; 1 µm = 10–6 m; 1 cm = 10–2 m)(a) 0,01 nm (raios gama) (a) 1,00 nm (raios X) (b) 100 nm (ultravioleta). (c) 380 nm (visível, violeta). (d) 500 nm (visível, verde). (e) 750 nm (visível, vermelho). (f) 10,0 µm (infravermelho). (g) 1,00 cm (microondas). (h) 1,00 m (radiofrequência). 03. O que é radiação térmica? Dê exemplos de corpos que emitem radiação térmica no infravermelho e no visível. 26 04. O que é corpo negro? Apresente exemplos de corpos reais que se comportem como corpos negros. 05. Explique de que forma a medida da radiação térmica emitida por um corpo permite determinar a temperatura do corpo. 06. Em uma explosão nuclear, a temperatura pode chegar a 107 K. Nesse caso, calcule o comprimento de onda máximo da radiação térmica emitida. 07. O valor médio da temperatura normal do corpo humano é 36,8 oC. Calcule o comprimento de onda máximo da radiação térmica emitida pelo corpo humano. Não se esqueça de converter a temperatura para kelvin. 08. Calcule a temperatura de um corpo negro que esteja emitindo radiação térmica de comprimento de onda , ou seja, luz de cor verde. Apresente o resultado em kelvin e em graus Celsius. 09. Explique o que vem a ser a catástrofe do ultravioleta. 10. Explique a hipótese de Planck da quantização da energia. 11. O que é efeito fotoelétrico? Existe alguma utilidade prática para ele? 12. Que metais e que região do espectro eletromagnético são normalmente utilizados no estudo do efeito fotoelétrico? 13. Esquematize a montagem utilizada no estudo do efeito fotoelétrico, explicando a função de cada parte. Que cuidados devem ser tomados para assegurar medidas confiáveis? 27 14. Como se explica o efeito fotoelétrico classicamente? Qual é o significado da função trabalho de uma superfície metálica? O que são fotoelétrons? 15. Com relação ao gráfico da variação da corrente fotoelétrica em função da diferença de potencial V aplicada entre as placas metálicas, responda: (a) Por que a corrente não cai para zero quando V=0? (b) O que acontece com os elétrons, quando se aplica o potencial de corte Vo? (c) Como se calcula a energia cinética Kmax do mais rápido elétron emitido? (d) Explique como a corrente fotoelétrica depende da intensidade da luz incidente. (e) Em que ponto os resultados mostrados nesse gráfico estão em desacordo com a Física Clássica? 16. Com relação ao gráfico do potencial de corte Vo, em função da frequência da luz incidente, responda: (a) O que significa limiar de frequência, νo? (b) Qual é a função matemática que melhor descreve esse gráfico? (c) Em que ponto os resultados mostrados nesse gráfico estão em desacordo com a Física Clássica? 17. Observa-se, experimentalmente, que não há um intervalo de tempo mensurável entre o instante da incidência da luz e a emissão dos elétrons. Explique por que esse resultado está em desacordo com a Física Clássica. 18. Explique a teoria de Einstein sobre o efeito fotoelétrico. O que são fótons? 19. De acordo com a teoria de Einstein, como se explica a intensidade da luz? 20. Mostre que a teoria de Einstein explica os resultados que estão em desacordo com a Física Clássica. Em 28 particular, deduza a equação que descreve corretamente o gráfico do potencial de corte Vo, em função da frequência da luz incidente. 21. Como se pode medir a constante de Planck através do efeito fotoelétrico? Por que essa medida, em particular, é tão importante para a Teoria Quântica? 22. Converta as energias para elétrons-volt eV: (a) 1 kJ; (b) 1 J; (c) 10–13 J; (d) 10–16 J; (e) 10–19 J; (f) 10–22 J. 23. Calcule a energia de um fóton, considerando os comprimentos de ondas dados no problema 02. Repita os cálculos, considerando um mol de fótons. Constante de Avogadro: . 24. O comprimento de onda limite para a emissão de fotoelétrons de uma superfície de lítio é λmax=520 nm, calcule: (a) a função trabalho da superfície metálica; (b) a velocidade máxima com que um elétron é emitido, quando luz de comprimento de onda λ=360 nm incide sobre a superfície. 25. Discuta a evolução do conceito de átomo, desde à Antiguidade até os modelos modernos. 26. O que são átomos hidrogenoides? Exemplifique. 27. Enuncie os postulados de Bohr. 28. Faça a dedução da expressão para a energia eletrônica de átomos hidrogenoides, segundo o modelo de Bohr. 29. Escreva alguns comprimentos de onda das séries de Balmer, Paschen e Lyman. Diga em que região do espectro eletromagnético elas se encontram e atribua as emissões de luz de cada comprimento de onda às transições eletrônicas correspondentes. 29 30. O que significa espectro contínuo? E espectro de linhas? Exemplifique. 31. Calcule os comprimentos de onda das cinco primeiras linhas de emissão do átomo de hidrogênio, utilizando a fórmula de Balmer. 32. Calcule os raios, as velocidades, os momentos angulares e as energias (cinética, potencial e total) dos elétrons, para as cinco primeiras órbitas do átomo de hidrogênio, usando o modelo de Bohr. 33. Explique o conceito de transição eletrônica e a sua conexão com a emissão e a absorção de luz pelos átomos. 34. Calcule as diferenças de energia e as frequências dos fótons absorvidos durante as seguintes transições eletrônicas do átomo de hidrogênio (ni→nf): (a) 1→2; (b) 1→3; (c) 1→4; (d) 2→3; (e) 3→4. 35. Explique por que o espectro de emissão do átomo de deutério (2H) é diferente do espectro de seu isótopo, o átomo de hidrogênio (1H). 36. Explique se podemos usar o modelo atômico de Bohr para prever o espectro de emissão de átomos multieletrônicos (p.ex. He, Li, Na, etc)? 37. Explique as diferenças entre os conceitos de onda e de partícula. 38. Discuta o experimento da difração de elétrons de Davisson e Germer. Qual é a importância deste experimento? 39. Discuta a dualidade onda-partícula. Explique porque a natureza ondulatória da matéria não é evidente para objetos macroscópicos. 30 40. A partir da relação de de Broglie, calcule o comprimento de onda associado a um feixe de elétrons acelerado a uma energia cinética de: a) 1 eV; b) 1 keV; c) 1 Mev; d)1 Gev. 41. Calcule o comprimento de onda associado ao movimento de um projétil de 100 g, arremessado com uma velocidade de 100 km/h. 42. Considere um feixe de elétrons de comprimento de onda λ=0,45 nm. Calcule o momento linear e a velocidade dos elétrons. 43. Discuta o Princípio da Incerteza de Heisenberg. 44. Explique porque o microscópio eletrônico permite visualizar objetos que não são visíveis ao microscópio ótico comum? 45. Pesquise as biografias de: Max Planck, Albert Einstein, Niels Bohr e Louis de Broglie. Sugestão no link abaixo: http://nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/ 31 32 2 A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER ...................................................................... 31 2.1 A função de onda ............................................................................................... 33 2.2 Números complexo ............................................................................................. 35 2.2 Operadores e valores esperados ....................................................................... 36 2.3 A equação dependente do tempo ....................................................................... 45 2.4 A equação independente do tempo .................................................................... 46 2.5 Unidades atômicas ............................................................................................. 50 2.6 Problemas .......................................................................................................... 5233 2 A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER A Mecânica Quântica é a teoria que descreve corretamente o comportamento de sistemas submicroscópicos como, átomos e moléculas. Por isso a sua grande importância na Química. O estado de um sistema é completamente descrito por uma função da posição das partículas e do tempo, denominada função de onda. A equação de Schrödinger permite encontrar a função de onda de um sistema físico. 2.1. A função de onda Na Mecânica Clássica, o estado de um sistema é definido pelas posições e pelos momentos das partículas que o constituem. Na Mecânica Quântica, postula-se a existência de uma função matemática Ψ das posições das partículas e do tempo denominada função de onda, ou função de estado, ou ainda, autofunção do sistema. Essa função descreve completamente o estado de um sistema. Para um sistema contendo partículas, as posições de cada uma podem ser dadas pelas respectivas coordenadas cartesianas . Sendo o tempo, a função de onda Ψ (psi) do sistema pode ser escrita na seguinte forma3: Se o sistema for uma molécula como, por exemplo, a molécula de água (H2O), a respectiva função de onda será função das posições dos três núcleos e dos dez elétrons, além do tempo . 3 Vide alfabeto grego, na Tabela 5 do apêndice. (2.1)* Max Born (1882-1970) Para saber mais, siga os links abaixo: Biografia de Heisenberg http://pt.wikipedia.org /wiki/Heisenberg Biografia de Schrödinger http://pt.wikipedia.org /wiki/Schrödinger Biografia de Paul Dirac http://pt.wikipedia.org /wiki/Paul_Dirac Biografia de Max Born http://pt.wikipedia.org /wiki/Max_Born 34 A função de onda, em si, não possui significado físico, mas guarda informação sobre o estado do sistema. Entretanto, Max Born deu uma interpretação estatística para a função de onda. Supondo uma partícula pontual que se mova em uma única direção x, o quadrado do módulo da função de onda da partícula é a função densidade de probabilidade. Considerando um sistema com n partículas idênticas, sendo que dnx delas estão no intervalo infinitesimal de a , então é a probabilidade de uma partícula qualquer estar nesse intervalo, a qual é dada pela Equação 2.2: (2.2) Assim, a probabilidade de a partícula estar no intervalo finito é dada pela seguinte integral: (2.3)* Suponha que uma partícula possa se deslocar na direção x, em todo o intervalo . Como a partícula certamente está em algum lugar desse intervalo, a probabilidade de encontrá-la será 1, ou seja, 100%. Essa condição é chamada de normalização da função de onda e é dada pela equação seguinte: (2.4)* 35 Vamos considerar agora o caso tridimensional. Considere uma partícula pontual que possa se deslocar ao longo das três direções espaciais: . A função de onda dessa partícula será escrita na forma . Assim, a probabilidade de encontrar a partícula em um volume infinitesimal dV=dxdydz é dada por . Assim, a probabilidade P de encontrar a partícula em um volume finito V, com , e é da pela integral tripla da equação seguinte: (2.5) A função de onda deve ser bem comportada. Isto significa, basicamente, que ela seja contínua e derivável. Que o seu valor caia para zero nos valores extremos das variáveis, e que o quadrado de seu módulo seja integrável, isto é, que a integral dada pela Equação 2.4 seja convergente, ou seja, tenha um valor finito. 2.2. Números Complexos A função de onda de um sistema é, em geral, uma função complexa. Isso significa que será importante fazer uma pequena revisão dos conceitos básicos que envolvem números complexos. A motivação mais básica para se estudar os números complexos vem da necessidade de se encontrar uma solução para a equação x2+1=0. Essa equação não possui solução dentro do conjunto dos números reais, já que não é um número real. Entretanto, se for definido outro conjunto numérico do qual faça parte, o problema 36 está resolvido. Assim, define-se o conjunto dos números complexos. Considere dois números reais x e y e um número imaginário i definido da seguinte forma. Um número complexo z pode ser escrito na forma seguinte: O conjugado complexo z* do número z é dado por: O quadrado do módulo de um número complexo z, representado por |z|2, é um número real, calculado pelo produto do número z pelo seu conjugado complexo, como mostrado na equação seguinte: Acima, foi empregada a notação cartesiana para números complexos. Pode-se escrever um número complexo em notação polar , onde é o módulo de , ou seja, e é denominado fase, ou argumento de : (2.6)* (2.7)* (2.8)* (2.9)* Leonhard Paul Euler (1707-1783) Para saber mais, siga os links abaixo: Fórmula de Euler http://pt.wikipedia.org /wiki/Fórmula_de_Eul er Biografia de Euler http://pt.wikipedia.org /wiki/Leonhard_Euler 37 (2.10)* As duas notações podem ser interconvertidas, através do uso da fórmula de Euler, dada por: (2.11)* onde e são o cosseno e o seno de , respectivamente. Combinando as Equações 2.7 e 2.10 na fórmula de Euler, obtêm-se as relações abaixo, que permitem fazer a conversão entre os dois sistemas de notação considerados, : (2.12) (2.13) (2.14) (2.15) Pode-se calcular a soma de dois números complexos, através da Equação 2.16: (2.16)* O produto e a razão de dois números complexos podem ser encontrados através das Equações 2.17 e 2.18, respectivamente: (2.17)* (2.18)* René Descartes (1596-1650) Para saber mais, siga os links abaixo: Coordenadas Cartesianas http://pt.wikipedia.o rg/wiki/Sistema_de _coordenadas_cart esiano Coordenadas Polares http://pt.wikipedia.o rg/wiki/Coordenada s_polares Biografia de René Descartes http://pt.wikipedia.o rg/wiki/Descartes 38 Veja que a notação cartesiana é mais conveniente para expressar a soma, enquanto que a notação polar é melhor para representar o produto e o quociente de dois números complexos. 2.3. Operadores e valores esperados Um operador é uma regra matemática que transforma uma dada função em outra função : (2.19)* Para ilustrar a ideia, consideremos que o operador seja a regra matemática que diz, encontre a derivada de uma função . Dessa forma, podemos escrever , ou seja, é o operador de derivada. Então, podemos aplicar o operador a qualquer função , que encontraremos outra função que é a derivada de . Matematicamente fica: (2.20) Exemplificando, fica assim: (2.21) (2.22) (2.23) (2.24) 39 (2.25) Álgebra de Operadores Podem-se definir as operações de adição e de multiplicação de operadores, de acordo com as Equações 2.26 e 2.27, respectivamente: (2.26)* (2.27)* Na adição de operadores, cada operador é aplicado individualmente na função e depois a soma é encontrada adicionado os resultados encontrados. Na multiplicação de operadores, o operador que está mais próximo à função, ou seja, mais à direita, é aplicado primeiro. O produto é então encontrado, aplicando o outro operador ao resultado anterior. Para exemplificar essas duas operações, considere os seguintes operadores: e . O primeiro operador diz para derivar a função em relaçãoà variável , enquanto que o segundo diz para multiplicar a função pela variável . Considerando a função , teremos o seguinte: 40 Observe que a adição de operadores é sempre comutativa, o que está indicado na Equação 2.28: (2.28)* O mesmo não vale para a multiplicação, ou seja, a multiplicação de operadores em geral não é comutativa. Isto é mostrado na Equação 2.29: (2.29)* Podemos usar o exemplo anterior para ilustrar a não comutatividade da multiplicação de operadores: Verifique que este último resultado é diferente do resultado obtido para . Isto mostra que nem sempre a multiplicação será comutativa. Ocorre, porém, que para alguns pares de operadores, a multiplicação pode ser comutativa. Nesse caso, diz-se que os operadores comutam. Por exemplo, considerando os seguintes operadores e . O primeiro continua sendo o operador de derivada. Mas, o segundo diz para multiplicar a função pela constante c. Nesse caso, pode-se verificar que , graças à propriedade das derivadas que diz que a derivada de uma constante é zero (vide Exemplo 2.1). 41 O comutador de dois operadores e , aplicados em uma função , é a operação matemática definida pela Equação 2.30: (2.30)* Pode-se verificar que, o comutador de dois operadores e que comutam é zero. Caso contrário, será diferente de zero. As Equações 2.31 e 2.32 resumem esses resultados: e comutem (2.31)* e não comutem (2.32)* Com relação aos operadores e , o comutador é calculado da forma dada abaixo: No caso acima, o operador é a identidade, ou seja, o operador de preservar a função na forma como ela é, sem modificá-la. Como se vê, os operadores e não comutam. Saber se dois operadores comutam ou não, é de extrema importância em Mecânica Quântica. Este assunto será discutido mais adiante. Considere duas funções, e , e duas constantes e . Um operador será denominado operador linear se obedecer à Equação 2.33: 42 (2.33)* Pode-se mostrar que nem todo operador é linear. Por exemplo, o operador , que significa tirar a raiz quadrada da função, não é linear, como mostra a Equação 2.34: (2.34) Já o operador de derivada é linear, como mostra a Equação 2.35: (2.35) Considere uma função complexa, cujo conjugado seja . Um operador linear será denominado operador hermitiano se obedecer à Equação 2.36, onde significam as variáveis da função, por exemplo, . Mais à frente, vamos esclarecer melhor, o significado e a importância desta definição: (2.36)* Em Mecânica Quântica, cada grandeza física observável de um sistema, por exemplo, posição, momento, energia, etc, possui um operador linear e hermitiano associado. A Tabela 2.1 mostra a forma de alguns operadores quânticos e as respectivas grandezas físicas observáveis a 43 que estão associados. O porquê de esses operadores terem essas formas, em particular, pode ser discutido. Entretanto, para os propósitos da aplicação da Mecânica Quântica na Química, a Tabela 2.1 pode ser assumida simplesmente como um postulado, não sendo, portanto, necessário demonstrá-la. Tabela 2.1 Grandezas físicas observáveis e seus respectivos operadores quânticos associados. Grandeza física observável Expressão clássica Operador quântico Posição Tempo Momento linear (componente na direção ) Energia cinética (componente na direção ) Energia potencial (uma dimensão) Energia total (uma dimensão) ; . O operador de energia total mostrado na Tabela 2.1 é particularmente importante para a Química Quântica. Ele é denominado operador hamiltoniano do sistema e é usualmente representado por . A expressão para o operador hamiltoniano em uma dimensão é dada na Equação 2.37: 44 (2.37)* Valor esperado Se a função de onda do sistema for conhecida, então, é possível calcular o valor esperado de uma grandeza física, utilizando o respectivo operador quântico na seguinte equação: (2.38)* O significado do valor esperado, calculado pela equação acima é o seguinte: imagine uma coleção contendo um número muito grande de sistemas idênticos. Em um dado instante de tempo, cada sistema apresentará um determinado valor para a propriedade física em questão. Se calcularmos a média das propriedades para todos os sistemas, então, obteremos o valor esperado da propriedade. 45 2.3. A Equação dependente do tempo Como foi dito na Seção 2.1, o estado de um sistema é descrito na Mecânica Quântica pela respectiva função de onda . A questão que surge é a seguinte: como se encontra a função de onda de um sistema? A resposta é: resolvendo a equação de Schrödinger. A equação proposta, em 1927, pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, e que leva o seu nome, permite, em princípio, encontrar a função de onda de um sistema físico. Nesse sentido, a Equação de Schrödinger desempenha, na Mecânica Quântica, papel análogo ao da segunda lei de Newton na Mecânica Clássica. A Equação 2.39 apresenta a forma da equação de Schrödinger dependente do tempo, para uma partícula pontual, de massa , deslocando-se em uma única direção . Na Equação 2.39, e . A solução dessa equação é a função de onda da partícula. Utilizando o conceito de operador, a Equação 2.39 pode ser escrita na forma da Equação 2.40: Comparando-se as Equações 2.37 e 2.40, verifica-se (2.39) (2.40) Equação de onda A equação de Schrödinger é muitas vezes chamada de equação de onda. Entretanto, rigorosamente falando, ela não é uma equação de onda. A equação de onda descreve a variação da amplitude de uma onda, no tempo e no espaço. Abaixo está apresentada a equação de onda, para uma onda unidimensional de amplitude e velocidade c. Compare com a equação de Schrödinger (Equação 2.39). A equação de onda e a equação de Schrödinger guardam certa semelhança entre si. Contudo, a última, representa a variação da função de onda de um sistema, e não da amplitude de uma onda real. 46 que se pode escrever a Equação de Schrödinger dependente do tempo, utilizando o operador hamiltoniano. Assim, ela assume a forma bastante compacta, dada na Equação 2.41. Nessa forma, a Equação de Schrödinger assume uma generalidade muito grande, tendo em vista que pode ser utilizada para qualquer sistema, não só para uma partícula movendo-se em uma única direção: (2.41)* A Equação 2.41 sugere que o operador hamiltoniano também pode ser escrito na forma alternativa dada pela Equação 2.42: (2.42)* 2.4. A Equação independente do tempo Considere a função de onda de uma única partícula pontual, de massa , que se move ao longo de uma única direção . Vamos agora considerar que a função de onda possa ser escrita como o produto de duas funções, e , de acordo com a Equação 2.43: (2.43)* Vamos agora substituir a Equação 2.43 na Equação 2.39. E vamos considerar também que a energia potencial não varie com o tempo, ou seja, V= . Com isso, obtemos a Equação 2.44: 47 (2.4 4) Na Equação 2.44, a função sai da derivada e a função sai da derivada , resultando na forma apresentada na equação 2.45: (2.45 ) Vamos agora dividir a Equação 2.45, em ambos os lados da igualdade, pelo produto : Após efetuar as simplificaçõesindicadas acima, a equação assume a forma dada na Equação 2.46: (2.46) Na Equação 2.46 nota-se que o lado esquerdo da igualdade só depende da variável , enquanto que o lado direito só depende da variável . Essa situação só pode ser verdadeira se ambos os lados da igualdade forem independentes de e , ou seja, se forem ambos iguais a uma constante E: (2.47) 48 Assim, ficamos na verdade com duas equações, uma somente com a variável e outra com a variável . Dessa forma, rearranjando a Equação 2.47, obtemos as Equações 2.48 e 2.49: (2.48) (2.49) A Equação 2.49 é bastante simples de ser resolvida, uma vez que só temos que pensar qual é a função que, derivada uma vez, resulta nela mesma multiplicada por uma constante. Recorrendo à Equação 2.22, verificamos que tal função só pode ser a exponencial, dada abaixo: (2.50)* Assim, observando a Equação 2.42, chegamos à conclusão que a função de onda deve ter a forma dada na equação 2.50: (2.50)* Usando o conceito de operador, podemos reescrever a Equação 2.47 na forma da equação 2.51: (2.51) Comparando as Equações 2.36 e 2.51, verificamos que podemos escrever esta última, utilizando o operador hamiltoniano , na forma da Equação 2.52: 49 (2.52)* A Equação 2.52 é denominada equação de Schrödinger independente do tempo e talvez seja a equação mais importante da Mecânica Quântica com aplicação na Química. Como o operador hamiltoniano é o operador quântico associado à energia total do sistema, a Equação 2.52 indica que a constante E seja a energia total do sistema. Nessa forma compacta a equação de Schrödinger assume uma generalidade muito grande, tendo em vista que pode ser utilizada para qualquer sistema. Sua resolução fornece como solução a função de onda independente do tempo , também denominada estado estacionário do sistema e a energia total E do sistema. A função de onda tem esse nome porque representa estados de energia E constantes. Podemos demonstrar um resultado importante, para a função densidade de probabilidade: Em outras palavras, o resultado obtido acima mostra que a densidade de probabilidade é independente do tempo. Esse resultado é resumido na Equação 2.53: (2.53)* Assim, a condição de normalização dada pela Equação 2.4 pode também ser expressa pela Equação 2.54: 50 (2.54)* Utilizando a Equação 2.37 com o operador hamiltoniano e considerando a equação 2.52, obtemos o importante resultado, dado na Equação 2.55, de que o valor esperado para o operador hamiltoniano é igual à energia total E do sistema: (2.55 ) Na Equação 2.55, foi considerada a condição de normalização dada pela Equação 2.54. 2.5. Unidades atômicas É bastante comum fazer algumas considerações com relação às unidades, para simplificar a forma das equações usadas na Mecânica Quântica. Uma consideração que simplifica bastante as equações é com relação ao valor da carga fundamental. Define-se a carga fundamental de acordo com a relação abaixo: (2.56)* Esta definição simplifica as expressões que são baseadas na Lei de Coulomb, pois o potencial de atração elétron-núcleo pode ser escrito na seguinte forma, dispensando o termo : 51 (2.57)* Outra consideração que se costuma fazer em Mecânica Quântica é utilizar o denominado sistema de unidades atômicas. Nesse sistema, os valores de algumas constantes físicas são assumidos como sendo iguais à unidade, a saber: Massa do elétron, . Carga fundamental, . Constante de Planck reduzida, Fazendo as considerações acima, as Equações 1.18 e 1.26, obtidas com o modelo de Bohr para o raio da órbita e para a energia total do elétron no átomo, assumem as formas abaixo: (2.58) (2.59) Considerando o átomo de hidrogênio , obtêm- se os seguintes valores para o raio e para a energia total do elétron, na primeira órbita : (2.60)* (2.61)* onde significa unidade atômica. 52 Comparando esses resultados com aqueles obtidos na seção 1.3, verificam-se as seguintes relações de conversão de unidades4: (2.62) (2.63) 2.6 Problemas 01. O que é função de onda? Qual é a sua interpretação física? 02. Explique a condição de normalização de uma função de onda. 03. Quais são os requisitos para uma função de onda ser bem comportada? 04. O que são operadores? Dê exemplos. 05. O que são observáveis? Dê exemplos. 06. O que são números complexos? Para que servem? Dê exemplos. 07. O que significa conjugado complexo de uma função de onda? Dê exemplos. 08. Dê a definição e exemplos de: (a) operador linear; (b) operador hermitiano. 09. Quais são os requisitos para um operador representar um observável? 10. Escreva os operadores correspondentes a: (a) posição; (b) tempo; (c) momento linear; (d) energia cinética; (e) energia potencial; (f) energia total. 4 Vide Tabela 2, no apêndice; = 1 bohr (raio de Bohr). 53 11. Escreva o operador Hamiltoniano e explique o seu significado físico. 12. Como podemos calcular o valor médio de um observável, através de seu operador? Discuta seu significado físico. 13. Escreva a condição de normalização de uma função de onda e a expressão para o valor médio de um observável, utilizando a notação de Dirac. 14. O que é uma equação diferencial? Dê exemplos. 15. Escreva a Equação de Schrödinger: (a) dependente do tempo; (b) independente do tempo. Comente sua importância. 16. Como podemos encontrar a função de onda de um sistema físico? 17. Pesquise as biografias de: Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger, Paul Dirac e Wolfgang Pauli. Sugestão: http://nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureate s/ 54 55 56 3 SISTEMAS SIMPLES ........................................................................................... 55 3.1 A partícula livre ................................................................................................... 57 3.2 A partícula na caixa ............................................................................................ 61 3.3 O oscilador harmônico ........................................................................................ 65 3.4 O rotor rígido ...................................................................................................... 69 3.5 Problemas .......................................................................................................... 76 57 3 SISTEMAS SIMPLES 3.1. A partícula livre O sistema físico mais simples é o de uma partícula pontual, de massa , que se movimenta ao longo de apenas uma direção , com uma força resultante nula, , atuando sobre si. Esse caso é chamado de partícula livre. Na Mecânica Clássica, usando a segunda lei de Newton, , obtemos que a aceleração da partícula livre é nula ( ), ou seja, sua velocidade é constante. Esse é o caso conhecido do movimento retilíneo uniforme. Na Mecânica Quântica não podemos falar em movimento retilíneo uniforme, devido ao Princípio da Incerteza que impede o conhecimento da trajetória da partícula. No entanto, podemos encontrar a função de onda para a partícula livre unidimensional, resolvendo a equação de Schrödinger independente do tempo, Equação 2.52. Para resolver a equação deSchrödinger, precisamos saber a energia potencial do sistema. A Equação 3.1 apresenta a relação entre a força que atua sobre a uma partícula e a energia potencial da partícula: (3.1)* Se a força que atua sobre a partícula for zero, ou seja, , então a energia potencial assumirá um valor constante . Por isso, o problema da partícula livre pode, também, ser denominado como problema do potencial constante. A primeira etapa para resolver um problema em Mecânica Quântica é escrever o operador hamiltoniano para o sistema, 58 de acordo com a Equação 2.36. Neste caso, com , chega-se à Equação 3.2: (3.2) A segunda etapa é escrever a equação de Schrödinger independente do tempo. Observando a Equação 2.52, chegamos à seguinte equação: (3.3) que pode ser reescrita na forma abaixo, definindo , somente por questão de simplicidade: (3.4) A terceira etapa consiste em resolver a equação de Schrödinger independente do tempo, no sentido de encontrar a função de onda . Assim, devemos encontrar a função que, derivada duas vezes, resulta nela mesma, multiplicada por uma constante. Nesse caso, pode- se verificar que essa função é a exponencial dada abaixo, onde e são constantes arbitrárias complexas: (3.5) Observe que a função de onda é complexa, pois contém o número imaginário . Com o sinal positivo, temos a denominada solução positiva. Com o sinal negativo, temos a denominada solução negativa. A solução geral é a combinação linear dessas duas. 59 De acordo com a fórmula de Euler, dada na Equação 2.11, a função de onda encontrada pode ser convertida em uma combinação linear de seno e cosseno. Isto mostra que a função de onda para uma partícula livre é periódica, (3.6) onde e são constantes arbitrárias complexas e . No caso da partícula livre, para a função de onda ser bem comportada, no sentido que foi discutido na Seção 2.1, ela deve permanecer como uma função complexa. Isso somente ocorrerá caso o termo dentro da raiz quadrada na Equação 3.5 seja positivo, ou seja, . Ocorre que essa diferença entre e é a energia cinética da partícula, . Portanto, o resultado da Mecânica Quântica para a partícula livre é o mesmo da Mecânica Clássica, no sentido de que a energia cinética da partícula seja positiva, . Podemos encontrar o valor esperado do momento linear da partícula livre, através da equação 2.38, usando o respectivo operador quântico, dado na Tabela 2.1. Vamos considerar a solução positiva apenas: 60 Se tivéssemos usado a solução negativa, teríamos encontrado o negativo do resultado acima. Então, o valor esperado para o momento linear de uma partícula livre é dado pela equação abaixo, onde é a energia cinética da partícula: (3.7)* O resultado positivo está relacionado com a partícula movendo-se no sentido de crescente. O resultado negativo está relacionado com a partícula movendo-se no sentido de decrescente. Assim, conclui-se que as soluções, positiva e negativa, da função de onda, descrevem a partícula livre movendo-se no sentido crescente e decrescente de , respectivamente. Da última equação, também se conclui que a energia cinética da partícula deve ser positiva, pois, o valor esperado do momento deve assumir um valor real. Como a energia da partícula livre é apenas cinética, então encontramos a expressão clássica para o momento linear, como o produto da massa pela velocidade, dada pela Equação 3.8: (3.8) 61 É importante notar que, a única restrição que se faz à energia total da partícula livre é que ela seja positiva. Nesse sentido, a energia de uma partícula livre é contínua, da mesma forma que ocorre na Mecânica Clássica, não havendo quantização. 3.2. A partícula na caixa Depois da partícula livre, a partícula na caixa talvez seja o segundo problema mais simples. Este problema também é denominado como problema do poço de potencial infinito. No caso unidimensional, o problema consiste de uma partícula de massa que pode se deslocar ao longo de apenas uma direção , de tal forma que a sua energia potencial seja constante na região e infinito fora dessa região, ou seja: a) (3.9) a) (3.10) Assim, dentro da caixa, ou seja, na região o operador hamiltoniano é o mesmo da partícula livre, dado pela Equação 3.2 e a solução será a mesma obtida na Equação 3.6, ou seja: 62 Fora da caixa, a energia potencial é infinita. O operador hamiltoniano e a equação de Schrödinger independente do tempo, para essa região, são dados nas Equações 3.11 e 3.12, respectivamente: (3.11) (3.12) A única solução possível para a Equação 3.12 é . Isso significa que a probabilidade de encontrar a partícula fora da caixa é nula. Dessa forma, a partícula permanece confinada na caixa. Para que a função de onda seja bem comportada, ela deve ser contínua. Por isso, devemos forçar as condições de contorno dadas na Equação 3.13: (3.13) Vamos aplicar cada condição de contorno à função de onda dada na Equação 3.6: Como e , chegamos ao valor da constante , que deve ser nulo: (3.14) 63 Assim, a função de onda, dentro da caixa, reduz-se à forma dada na Equação 3.15: (3.15) Aplicando a condição de contorno , chegamos ao seguinte resultado: Como , então: O seno de um número só é zero quando esse número for um múltiplo inteiro de . Logo, teremos o seguinte resultado: Considerando, arbitrariamente, que o potencial dentro da caixa seja nulo, , obtemos que . Com isso, chega-se à expressão abaixo para a energia total da partícula na caixa: (3.16)* Verifica-se que a energia depende de um número inteiro , denominado número quântico. Por isso, ela não 64 pode assumir qualquer valor, mas apenas múltiplos inteiros de certa unidade. Em outras palavras, a energia total da partícula na caixa é quantizada. Substituindo a última expressão na função de onda, dada na Equação 3.15, e lembrando que consideramos , obtemos o seguinte resultado: (3.17) Normalização da função de onda A constante é denominada constante de normalização. Ela é determinada de forma que a condição de normalização abaixo seja satisfeita: A área total abaixo da curva de é igual à soma das áreas nas três regiões consideradas: Ou seja, teremos o seguinte resultado: Substituindo a expressão para a função de onda, na condição de normalização, obtém-se o seguinte: Exemplo 3.1 Utilize as Equações 3.18 e 3.19 para chegar à constante de normalização dada na Equação 3.20. Lembre-se: Solução Primeiro, resolve-se a integral definida abaixo, utilizando o resultado da Equação 3.19. Consideramos . Por fim, aplica-se a Equação 3.18, para encontrar a constante de normalização. 65 (3.18) Utilizando a integral I2, dada na tabela 3 do apêndice, verifica-se a seguinte igualdade: (3.19) Aplicando o resultado acima na Equação 3.18, obtém- se a constante de normalização: (3.20) Dessa forma, a função de onda normalizada para a partícula na caixa é dada pela seguinte equação: (3.21)* A figura ao lado mostra a representação gráfica da função de onda da partículana caixa, para quatro valores do número quântico . 3.3. O oscilador harmônico O oscilador harmônico unidimensional é constituído por uma partícula pontual de massa , fixada por uma mola de constante de mola , e que se desloca ao longo de uma única direção . Ao ser comprimida ou Gráficos da função de onda para uma partícula na caixa de tamanho . n=1 n=2 n=3 n=4 66 distendida por um agente externo, a mola executa na partícula uma força restauradora , proporcional à distensão . Esse fato é resumido na equação seguinte, denominada Lei de Hooke: (3.22)* Tratamento clássico O tratamento teórico clássico é feito utilizando a segunda lei de Newton: (3.23)* Considerando , obtém-se que . Substituindo a lei de Hooke na segunda lei de Newton, obtém-se o resultado abaixo: A última equação pode ser rearranjada na forma da equação diferencial do oscilador harmônico, dada abaixo: (3.24) A solução da última equação consiste no movimento do oscilador harmônico. Verifica-se que se trata de um movimento periódico, dado por uma função seno, conforme a equação abaixo: (3.25)* Lei de Hooke. 67 onde é a frequência de oscilação, ou seja, o número de ciclos por unidade de tempo, e é dada pela equação abaixo. A constante é a amplitude da oscilação. (3.26)* A energia potencial pode ser encontrada a partir da relação dada na Equação 3.1, ou seja, (3.27)* (3.28) Pode-se mostrar que a energia total é dada pela equação abaixo, ou seja, a energia total clássica do oscilador harmônico depende do quadrado da amplitude da oscilação: (3.29) Tratamento quântico Primeiramente, escreve-se o operador hamiltoniano para o oscilador harmônico: (3.30) Funções de onda do oscilador harmônico. Fatorial O fatorial de um número inteiro n é definido da seguinte forma. 68 A seguir, escreve-se a equação de Schrödinger independente do tempo: (3.31) A solução desta equação diferencial é dada abaixo, onde se verifica que a energia total do oscilador harmônico é quantizada: (3.32) (3.33)* onde se define , é o número quântico vibracional e é o fatorial de . Atenção: não confunda os símbolos e , pois são muito parecidos. O primeiro é a letra vê do nosso alfabeto, que representa o número quântico. O segundo é a letra grega ni, que representa a frequência da vibração. é um polinômio denominado polinômio de Hermite, que pode ser encontrado pela equação abaixo, denominada relação de Rodrigues: (3.34) 69 A Tabela abaixo apresenta os seis primeiros polinômios de Hermite: Estado fundamental e energia de ponto zero A função de onda correspondente ao estado fundamental do oscilador harmônico, ou seja, o estado de menor energia correspondente a é dada pela expressão abaixo: (3.35) A menor energia possível para o oscilador harmônico é a denominada energia de ponto zero , correspondente a e dada pela expressão abaixo: (3.36)* 3.3. O rotor rígido O rotor rígido é um sistema de duas partículas pontuais, com massas e , separadas por uma distância fixa R. Colocado em um sistema de coordenadas, o movimento de rotação do rotor rígido pode ser expresso pela variação dos ângulos e com o tempo. O Modelo do Rotor rígido. 70 A energia cinética do rotor rígido é dada pela soma dos termos relativos a cada partícula: (3.37)* onde cada termo de velocidade ao quadrado é dado em termos das respectivas coordenadas cartesianas , através da expressão abaixo: (3.38) O conjunto de coordenadas espaciais de cada partícula pode ser convertido em outro conjunto de coordenadas espaciais da seguinte forma: (3.39) (3.40) (3.41) são as coordenadas do centro de massa do rotor rígido e estão associadas ao movimento de translação 71 do sistema. Pode-se colocar arbitrariamente o centro de massa do sistema na origem, ou seja: . O movimento de translação não é de interesse aqui, mas apenas a rotação. Por isso, as coordenadas do centro de massa não precisam ser levadas em consideração. Com isso, o problema se simplifica, pois teremos de lidar apenas com as outras três coordenadas espaciais , denominadas coordenadas internas: (3.42) (3.43) (3.44) Substituindo as coordenadas do centro de massa e as coordenadas internas na Equação 3.37 para a energia cinética do rotor rígido, obtém-se o seguinte: (3.45) onde é a massa total do sistema e é a denominada massa reduzida do sistema, dadas pelas expressões abaixo: (3.46) (3.47) (3.48) (3.49) 72 Desprezando o movimento de translação, obtém-se a expressão para a energia cinética rotacional : (3.50) Tratamento quântico Primeiramente, escreve-se o operador hamiltoniano para o movimento rotacional do rotor rígido. A energia potencial é constante, podendo ser arbitrariamente considerada como nula, . Dessa forma, o operador hamiltoniano do sistema pode ser escrito na forma: (3.51) onde é o denominando operador laplaciano, dado em coordenadas cartesianas, pela expressão abaixo: (3.52)* O problema do rotor rígido é bem mais simples de ser resolvido no sistema de coordenadas esféricas . Neste caso, a distância é uma constante, devendo ser levada em conta apenas a variação dos ângulos . (3.53) (3.54) Texto Sistemas de coordenadas. 73 (3.55) O operador laplaciano pode ser escrito em coordenadas esféricas. No caso de constante, a expressão assume a forma abaixo: (3.56) A seguir, escreve-se a equação de Schrödinger independente do tempo, onde : (3.57 ) Considerando as soluções que possam ser escritas na forma do produto: (3.58) a equação de Schrödinger pode ser separada nas duas equações a seguir, onde é uma constante: (3.59) (3.60 ) A solução da Equação 3.59 é dada abaixo: (3.61) 74 onde , e é a constante de normalização. A solução da Equação 3.60 é dada abaixo: (3.62) onde é a constante de normalização da função e . As funções são os polinômios associados de Legendre de grau e ordem , dados na Tabela abaixo: Harmônicas esféricas O produto fornece as funções de onda para o rotor rígido. Essas funções são denominadas harmônicas esféricas, : (3.63) onde a constante de normalização é dada por: (3.64) As harmônicas esféricas reais são utilizadas na parte angular dos orbitais atômicos. 75 Abaixo, as Harmônicas esféricas : Combinando as harmônicas esféricas complexas e usando a fórmula de Euler (Equação 2.11), obtêm-se as harmônicas esféricas reais, dadas na Tabela abaixo: 76 A energia do rotor rígido é quantizada. Ela depende do número quântico e do momento de inércia do rotor rígido: (3.65)*
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