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03 - AS RELAÇÕES DO DIREITO COM OS OUTROS RAMOS DO CONHECIMENTO

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AS RELAÇÕES DO DIREITO 
COM OUTROS RAMOS DO CONHECIMENTO
1
 
 
O Direito não é um conhecimento isolado. 
A meu ver, o jurista que se enclausura no mundo jurídico não será capaz, nem de 
apreender e interpretar, em toda sua extensão, o fenômeno jurídico, nem muito menos de 
compreender que o Direito não é uma ilha, mas, pelo contrário, é um saber que se espraia 
por diferentes áreas a fim de dar conta de seu papel na vida social. 
DIREITO E FILOSOFIA 
Filosofia significa, etimologicamente, amor à sabedoria. Seu objeto, como pretende 
Lucien Goldmann, é entender e explicar aquelas verdades, que se inserem nas relações 
de um homem com outro homem e nas relações dos homens com o Universo. 
C. H. Porto Carreiro pensa que a Filosofia 
"busca a essência das coisas e só pode fazê-lo através do fenômeno. Para tanto, 
precisa conhecê-lo, examiná-lo, abstraí-lo, na procura incessante da essência, ou 
seja, trata de desfenomenalizar o fenômeno para essencializar a essência". 
Merleau-Ponty disse que "a verdadeira Filosofia é reaprender a ver o mundo". 
Dermeval Saviani define a Filosofia como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto 
sobre os problemas que a realidade apresenta. 
 Bem ponderam Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins que 
"a Filosofia é um modo de pensar que acompanha o ser humano na tarefa de 
compreender o mundo e agir sobre ele. Mais que postura teórica, é uma atitude 
diante da vida, tanto nas condições corriqueiras como nas situações-limites que 
exigem decisões cruciais". 
O Direito não pode dispensar a Filosofia. Não será acertado também colocar a Filosofia 
como simples adorno, a desempenhar um papel meramente decorativo no mundo do 
Direito. Pensar filosoficamente o Direito é o objetivo da Filosofia do Direito. 
A Filosofia do Direito ocupa-se com a essência do Direito. Pretende "reduzir o Direito a seus 
últimos fundamentos", na colocação de Oswaldo von Nell-Breuning. 
 
1
 Texto da autoria de João Baptista Herkenhoff, Magistrado aposentado, Supervisor Pedagógico e 
Professor Pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha - ES. Escritor e autor de vários livros, 
entre eles, Dilemas de um juiz: a aventura obrigatória. 
DIREITO E ECONOMIA 
A Economia, como definida por Albert L. Meuers, é a ciência cultural que estuda a 
atividade humana relativa à riqueza, com referência ao "valor de utilidade", Abrange o 
estudo da produção, da circulação, da repartição e do consumo. Seja, ou não, adotado o 
posicionamento de considerar o Direito apenas integrando a superestrutura social, será 
sempre evidente a proeminência do econômico, pelo que as relações do Direito com a 
Economia são, em qualquer hipótese, profundas. 
DIREITO E SOCIOLOGIA 
Na visão de Pinto Ferreira, a Sociologia pode ser entendida como a ciência dos fatos 
sociais, indagando o encadeamento mútuo dos fenômenos coletivos, a fim de lhes 
apreender o sistema de causalidade geral. Já João Baptista Aguiar pensa que a Sociologia, 
contemporaneamente, caracteriza-se pelo estudo do social, enquanto social, não enquanto 
cultural, educacional, econômico ou jurídico. Por diversas razões e sob várias perspectivas, 
há íntima relação entre Sociologia e Direito, Direito e Sociologia. 
Para a Escola Clássica o Direito é um fato social. Para a Escola Crítica, o Direito é 
um fenômeno sócio-jurídico. Numa ou noutra perspectiva, é Íntima e relevante a ligação 
entre o Direito e a Sociologia gerando mesmo uma especialização da Sociologia que é a 
Sociologia Jurídica ou Sociologia do Direito. 
A Sociologia Jurídica vem merecendo crescente interesse, quer por parte dos 
sociólogos, quer por parte dos juristas. Se o tratamento teórico da Sociologia Jurídica, por 
parte dos juristas, é diferente do tratamento dado a essa ciência pelos sociólogos, essa 
diversidade não parece empobrecer, mas, pelo contrário, alargar o campo de abrangência 
da análise do fenômeno sócio-jurídico. 
Referindo-se à finalidade da Sociologia Jurídica, Sandra Regina Martini Vial 
observa que essa ciência poderá dar suporte à análise do fenômeno sócio-jurídico. 
Cumprirá esse objetivo utilizando, quer o método empírico (da generalidade dos fatos 
concretos para a lei geral), quer o método teórico (da lei geral para o particular). Importante 
especialização da Sociologia é a Sociologia Criminal. Cabe destacar, pela atualidade de seu 
propósito, a Sociologia Criminal como compartimento da Sociologia Jurídica endereçado à 
investigação dos fatores ambientais e sociais da delinquência. 
A Sociologia Criminal debruça-se sobre a criminalidade como fenômeno social, no 
seu grau de constância e extensão num grupo social. A Sociologia Criminal interessa-se 
também pelos efeitos sociais do delito. 
DIREITO E HISTÓRIA 
Gabriel Monod definiu a História como o conjunto das manifestações da atividade e 
do pensamento humanos, considerados em sua sucessão, seu desenvolvimento e suas 
relações de conexão ou dependência. 
Para Henri Pirenne, o que diferencia o historiador é que ele se dá conta da 
mudança das coisas e procura a razão da mudança. A maioria das pessoas não toma 
consciência de tal fato. Importantíssima é a História para o conhecimento das instituições 
sociais. Entretanto, como sublinhou C. H. Porto Carreiro, é fundamental dar à História um 
tratamento dialético. Nessa perspectiva, abandona-se a simples relação cronológica dos 
fatos. Parte-se, em substituição a essa mera visão de cronologia, para um exame 
infraestrutural. Essa metodologia conduzirá à apreensão de uma realidade em movimento. 
Savigny dizia que todo jurista devia ser um historiador, realçando justamente a 
importância da História para o Direito. A relevância da História para a compreensão do 
Direito não se restringe ao campo da História do Direito. Transpõe em muito esse limite. Só 
um mergulho integral na História, nas suas bases, nos seus conflitos, na realidade dos fatos, 
e não na mistificação das histórias oficiais, pode oferecer luz para a exata compreensão do 
Direito de ontem e do Direito de hoje e, com base nessa compreensão, oferecer 
instrumentos para ajudar na construção do Direito de amanhã. 
A meu ver, só a iluminada visão histórica pode permitir que os excluídos de direito se 
situem, na sua luta, para então compreender e interpretar o fundamento das exclusões. 
Conduzidos pela percepção da História, estarão equipados para buscar a afirmação da 
dignidade, na construção de um Direito que não exclua. 
DIREITO E ANTROPOLOGIA 
Antropologia, etimologicamente, deriva do grego e significa "estudo do homem". É a 
ciência do homem como ser portador da cultura (aspectos socioeconômico e ideológico) e 
do homem como ser físico (animal). Daí que a Antropologia divide-se em dois grandes 
ramos: Antropologia Física; Antropologia Cultural ou Etnologia. 
A Antropologia Física trata do estudo da espécie humana, suas origens, evolução e 
diferenciação em tipos raciais. A Antropologia Cultural ou Etnologia estuda as criações 
do espírito humano, que resultam da interação social, como notou Emídio Willens. Essas 
criações desdobram-se em conhecimentos, ideias técnicas, habilidades, normas de 
comportamento, hábitos adquiridos na vida social e por força da vida social. É também 
objetivo da Etnologia o estudo descritivo, classificatório e comparativo da chamada cultura 
material. A cultura material é constituída dos artefatos encontrados nas diversas sociedades 
humanas. 
Iluminando o conhecimento do homem, a Antropologia, especialmente a 
Antropologia Cultural, pode ser de grande valia para alargar a visão do Direito. Como 
observa Naylor Salles Gontijo, a Antropologia, por encerrar umsentido de totalidade, é 
capaz de: 
"transmitir à Ciência do Direito as informações completas das características 
biológicas, culturais e sociais do homem, não deixando de focalizar, de um 
ponto de vista comparativo, as semelhanças e as diferenças existentes 
entre os próprios homens". 
A inter-relação Antropologia-Direito vem sendo sentida, como necessária, de 
maneira veemente, dentro da atualidade brasileira, no campo do Direito das Populações 
Indígenas. A compreensão de que o Brasil, efetivamente, inclui diversas nações, 
caracterizando-se como plurinacional e multiétnico, é aceita ainda de forma restrita pelos 
setores político-jurídicos da sociedade dominante, como bem notou Sílvio Coelho dos 
Santos. A Constituição de 1988 determina, no seu artigo 231, que "são reconhecidos aos 
Índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos 
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, 
proteger e fazer respeitar todos os seus bens". 
Só uma visão antropológica do Direito e uma visão jurídica da Antropologia 
permitirão que juristas e antropólogos desempenhem o papel histórico, de profundo sentido 
humano, que a realidade brasileira contemporânea exige. Esse papel não pode ser outro 
senão o de colocar-se, com eficiência, do lado das populações indígenas, na luta que os 
povos indígenas travam para não serem dizimadas pela fúria dos interesses econômicos. 
DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA 
A Ciência Política tem por objeto a consideração do fenômeno político e do 
funcionamento do poder, em sua máxima amplitude, seja nas regiões oficiais ou do direito 
legislado, seja no âmbito dos grupos de pressão, lideranças políticas, organizações 
partidárias, organizações populares, grupos de ação ostensiva ou grupos de ação 
clandestina. 
A Ciência Política mantém íntima relação com o Direito. Isto acontece, em primeiro 
lugar, porque o Direito estatal é o que predomina na atualidade. Em segundo lugar, por ser o 
Direito Constitucional aquele que dá o contorno das instituições do Estado e as balizas do 
funcionamento do poder, nos países onde o poder funcione dentro de quadros 
constitucionais organizados. Finalmente, a relação Ciência Política-Direito decorre da 
circunstância de que a Ciência Política oferece perspectivas que alargam em muito a 
compreensão do fenômeno jurídico. 
Se o fator político é essencial na criação do Direito e se, reciprocamente, o fator 
jurídico é também importante nas esferas da conquista, da manutenção e do exercício do 
poder (a tríplice ação da Política), conclui-se da íntima relação que existe entre as Ciências 
que se debruçam sobre o fenômeno jurídico (Direito) e sobre o fenômeno político (Ciência 
Política). 
DIREITO E PSICOLOGIA 
A Psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento. O Direito 
pode receber uma grande contribuição da Psicologia: - na área do Direito Penal, 
para uma melhor compreensão da personalidade do réu, da vítima, dos demais 
atores do crime, bem como dos motivos e motores da conduta criminosa; na área do 
Direito Processual, quando a contribuição da Psicologia é relevante para que se investigue a 
psicologia do testemunho; na área do Direito de Família, do Direito da Criança e do 
Adolescente, do Direito Penitenciário, para uma perfeita apreensão das realidades 
psicológicas que entremeiam as pessoas e circunstâncias presentes nesses ramos do 
Direito, tão marcados pelo traço do humano. 
Jacob Pinheiro Goldebert advoga, com veemência, uma revisão do entendimento 
do homem na área legal, o que só é possível com a contribuição da Psicologia. As 
especializações da Psicologia, de mais larga tradição, endereçadas ao Direito, são a 
Psicologia Judiciária e a Psicologia Criminal. 
A Psicologia Judiciária, na definição de Paulo Dourado de Gusmão, é "a técnica 
psicológica a serviço do processo judicial, com o objetivo de descobrir a verdade, falsidade 
ou simulação de atos, confissões, depoimentos, condutas etc." A Psicologia Criminal é a 
ciência psicológica dedicada ao estudo do criminoso e dos motivos que o levaram a 
delinquir. Pinatel defende a ideia de que a Psicologia Criminal encontra-se com a 
Psicanálise quando mergulha no estudo profundo do delinquente indagando, nas suas 
motivações inconscientes, a gênese de suas motivações aparentes e imediatas. O mesmo 
Pinatel vê também um encontro da Psicologia Criminal com a Psiquiatria quando a 
Psicologia Criminal aborda os aspectos psicopatológicos da conduta delituosa. 
Finalmente, Pinatel vê a Psicologia Criminal apresentando-se como Psicologia 
Social ao investigar os aspectos interpessoais do delito. Numa abordagem generalizante 
temos a Psicologia Legal, que abarcaria toda a dimensão de aplicabilidade da Psicologia ao 
Direito. 
DIREITO E CRIMINOLOGIA 
A Criminologia é a ciência que se ocupa do fenômeno criminal, sua gênese, suas 
características, suas formas, sua prevenção, seu tratamento. Procura interpretar, 
compreender e explicar o fenômeno criminoso. 
Ivone Senise Ferreira traça a evolução da Criminologia, desde o antropologismo de 
Lombroso, passando pela Sociologia Criminal de Ferri, até nossos dias. Observa, então, 
que a Criminologia alargou seu campo, suscitando novos interesses e respondendo a novas 
indagações. Modernamente, nota essa autora que a Criminologia não pode prescindir da 
Sociologia Criminal. As pesquisas da Sociologia Criminal procuram determinar de que 
maneira "a sociedade contribui para moldar a mentalidade de um indivíduo que talvez não 
possua nenhuma disposição pessoal para o crime". 
A Criminologia mantém íntima relação com o Direito Penal e com o Direito 
Penitenciário. Enquanto o Direito Penal vê o crime, sobretudo como fato jurídico, a 
Criminologia trata-o como fenômeno humano e social. Quanto ao Direito Penitenciário, que 
organiza a vida das prisões, assegura os direitos dos presos e delimita as restrições que 
esses direitos podem ter, também se relaciona com a Criminologia, por ser propósito desta 
última ciência a prevenção e o tratamento do crime. O ângulo de análise da Criminologia 
muito poderá ajudar na compreensão e no dimensionamento de toda a problemática que 
envolve o fenômeno criminal. 
DIREITO E MEDICINA LEGAL 
A Medicina Legal, segundo Perrando, é a parte da Ciência Médica que trata dos 
problemas biológicos e médico-cirúrgicos, relacionados com as ciências jurídicas, bem como 
fornece, de forma sistemática, noções especiais necessárias à solução das questões de 
índole técnica, nos procedimentos judiciários. A Medicina Legal não constitui uma ciência 
autônoma; é o conjunto de conhecimentos da Medicina aplicados ao Direito. 
A Medicina Legal oferece contribuição valiosa, nos mais diversos campos do Direito 
(no Direito Civil, no Direito Penal, no Direito do Trabalho, no Direito Previdenciário), quer 
fornecendo diretrizes para a elaboração de leis quer através das perícias médico-legais, de 
que se vale o administrador e o juiz. 
No Direito Civil, são exemplos de contribuição da Medicina Legal as perícias que se 
realizam nos seguintes casos, dentre muitos outros: 
a) anulação de casamento, por erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, na hipótese 
de ignorância, anterior ao casamento: 
- de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou 
herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência (art. 
1.557, inciso III, do Código Civil); 
- de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao 
cônjuge enganado; 
b) separação judicial, por doença mental grave, manifestada após o casamento, que tome 
impossível a continuaçãoda vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a 
enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável (art. 1.572, § 2°, do Código Civil) 
c) prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, com o fim de ilidir a 
presunção da paternidade (art. 1.599, do Código Civil); 
d) decreto de interdição por doença mental grave (art. 1.771, do Código Civil). 
O defloramento da mulher, anterior ao casamento e desconhecido pelo marido, 
permitia anulação, segundo o antigo Código Civil. Isto porque o antigo Código considerava o 
defloramento, nessas circunstâncias, como erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge. 
A meu ver, esse artigo do Código Civil antigo, mesmo antes do advento do novo 
Código, não podia prevalecer, em face da Constituição Federal de 1988. Esta, no art. 5°, 
inciso I, estatui: 
"homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição". 
Ao estabelecer que o marido pudesse anular o casamento, se sua mulher não fosse 
virgem, o Código Civil estabelecia uma diferença entre homens e mulheres. O que 
justificaria a anulação do casamento, por erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, 
seria a quebra da confiança recíproca. Se a virgindade fosse requisito integrante do universo 
de confiança entre os cônjuges, essa virgindade também teria de abranger o homem. Num 
caso particular, em que houvesse essa expectativa de virgindade, seja por fatores religiosos 
ou culturais, qualquer dos cônjuges poderia invocar a ruptura da confiança, na ocorrência de 
relação sexual estranha, para alegar o "erro essencial". Exigir virgindade apenas da mulher, 
como pretendia o antigo Código, violentava a Constituição Federal. 
No Direito do Trabalho, são exemplos de casos, onde se faz necessária a 
contribuição da Medicina Legal, os seguintes: 
a) a caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, nas atividades do 
trabalho (art. 195, da Consolidação das Leis do Trabalho); 
b) a inspeção de estabelecimentos, para resguardar condições exigidas pela medicina do 
trabalho (art. 160, da CLT); 
c) a licença da mulher, ou a mudança de função, ou o rompimento do contrato de trabalho, a 
pedido seu, por motivo de gravidez, parto ou aborto (art. 392 eparágrafos 394 e 395, da 
CLT). 
No Direito Penal, entre várias outras hipóteses, podem ser enumeradas as 
seguintes, nas quais o concurso da Medicina Legal é fundamental: 
a) fixação da irresponsabilidade penal, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto. ou retardado (art. 22, do Código Penal); 
b) perícias para a tipificação de crimes contra a pessoa, contra os costumes e outros 
(homicídio, lesões corporais, perigo de contágio venéreo ou de moléstia grave, atentado 
violento ao pudor, estupro etc.). 
DIREITO E PSIQUIATRIA 
A Psiquiatria é à parte da Medicina que trata do estudo das doenças mentais. O 
Direito encontra-se com a Psiquiatria quando aborda os aspectos psicopatológicos da 
conduta humana, quer no crime (Direito Penal), quer no cível (Direito Civil, Direito 
Comercial, etc.). 
DIREITO E CRIMINALÍSTICA 
Criminalística é a ciência que tem por objeto a descoberta dos crimes e a 
identificação dos respectivos autores. No cumprimento desse desiderato, lança mão de 
provas periciais (médica, antrométrica, datiloscópica etc.), exame científico do testemunho e 
de muitas outras técnicas. A Criminalística é uma ciência auxiliar do Direito Penal, de muita 
importância no campo da prova. 
DIREITO E PSICANÁLISE 
A relação entre Direito e Psicanálise é muito profunda e vem sendo objeto de grande 
interesse, tanto entre psicanalistas, quanto entre juristas. Vejo o fenômeno como 
extremamente positivo. Mas um aspecto não me contenta. Na mente dos profissionais do 
Direito, parece preponderar a ideia de que o Direito se esgota nele mesmo. Ainda são 
limitados a círculos estreitos os esforços para se ter do fenômeno jurídico uma compreensão 
multidisciplinar. 
Parece-me que, com mais constância, profissionais não jurídicos buscam os canais 
de comunicação de suas ciências com o Direito, do que o contrário. Se fizermos um paralelo 
entre a lei, para a ordem jurídica, e a lei, para a Psicanálise, creio que estaremos numa rota 
de aproximação palmilhando as reflexões que se seguem. A lei para a ordem jurídica é 
externa, racional, contemporânea aos fatos. Emanada de uma autoridade legítima, 
endereçada ao bem de todos, pode ser definida como geral, abstrata e neutra. 
A lei para a ordem jurídica é externa no seguinte sentido. Pretende impor uma pauta 
de comportamento individual e social para todas as pessoas indistintamente. Mesmo as 
exceções que se admitem a essa pretendida generalidade são também exceções 
generalizadoras. No Direito Penal, por exemplo, as condutas são tipificadas: reunidos os 
elementos objetivos que integram o tipo criminal, tem-se como realizada a ação ou omissão 
criminosa. 
No esquema mental do jurista, a lei é racional porque fundada no pretenso objetivo 
de organizar direitos e deveres, dentro de uma sociedade civilizada. A lei jurídica é 
contemporânea aos fatos. Baseada no presente, as remissões ao passado, à história 
individual são tímidas. A lei sempre se define como emanação de uma autoridade legítima. 
Mesmo os regimes ditatoriais invocam legitimidade. 
A lei, na ótica estrita do jurista, define-se como endereçada ao bem de todos. É 
geral, abstrata e neutra. Advém, como que por encanto, de uma sociedade civil submetida 
ao império da lei. Num arremate final, a lei, na visão rígida do jurista, é uma realidade 
autônoma, parte integrante de um mundo conceitual organizado em categorias intelectuais. 
Que visão extremamente diversa advém do tratamento dado ao tema pela 
Psicanálise. A lei para a Psicanálise é interna. Cada indivíduo é um universo. Na visão 
psicanalítica, a lei é irracional porque o comportamento humano é ditado pelas pulsões, pelo 
desejo, pelo inconsciente, não pela racionalidade. 
Ainda na perspectiva do psicanalista, a lei baseia-se fundamentalmente no passado, 
no inconsciente, na ancestralidade. Para a Psicanálise, a lei emana de uma autoridade que 
é, por ser, não porque tenha o direito de ser. Essa autoridade é aceita pelo sujeito passivo 
da relação, ou pela imposição de poder da própria autoridade, ou pela busca de paternidade 
do ser humano, reclamada pela orfandade em que se encontra. 
 
A lei, no universo da Psicanálise, nunca é geral, abstrata e neutra, mas plantada no 
subjetivismo. A lei, segundo a Psicanálise, não é uma realidade autônoma, mas realidade 
íntima que encontra seu fundamento último na linguagem do simbólico. 
No divã do psicanalista, nós descobrimos as misérias e as grandezas de nossa 
condição humana. A lei é a busca desesperada da sobrevivência de cada um, a clareira no 
abismo, a paz na guerra íntima, o acolhimento no abandono, o chão no exílio existencial, a 
resposta no conflito dilacerante. Há imensa utilidade numa troca de perspectivas entre juris-
tas e psicanalistas. 
Para a Psicanálise, a meu ver, será certamente útil debruçar-me sobre essa 
realidade que é a lei jurídica. Refletir o quanto a lei jurídica está introjetada no inconsciente, 
na história individual e na história social, o quanto representa, como ideologia, de força 
fundante do comportamento. Refletir sobre os conflitos e dramas que a lei jurídica provoca 
no universo dos seres humanos, justamente pela sua inflexibilidade e consequente 
incapacidade de compreender e apreender o que ela própria define como desarmonioso, 
desencontrado, desconforme. 
Para o jurista o confronto com a Psicanálise é a chave de uma nova compreensão do 
jurídico. Na minha vida profissional de juiz, tive como queuma premonição a respeito da 
relação entre Psicanálise e Direito. Mesmo antes de meu encontro com a Psicanálise, 
rompi com a visão de lei jurídica aprendida nos livros e escolas de Direito. 
CONSEQÜÊNCIAS DO RELACIONAMENTO DO DIREITO COM TANTOS RAMOS DO 
CONHECIMENTO 
Duas consequências práticas advêm do relacionamento existente entre o Direito e 
tantos ramos do conhecimento: 
a) a necessidade de abrir-se o jurista a outros conhecimentos, alargar seu mundo, buscar 
uma visão multidisciplinar dos fenômenos; 
b) a necessidade da cooperação entre os juristas e os especialistas das diversas ciências, 
para o estudo e a solução dos problemas que se apresentam.

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