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A Prática Vocal: Técnica e Preparo

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A PRÁTICA VOCAL
Um dos comentários mais comuns que os cantores ouvem é: “como você descobriu que tinha esta voz?”. Isso faz parte do mito e de uma visão romântica e idealizada do processo de preparação do músico e mais ainda do cantor. Para a maioria das pessoas o canto é visto como um dom, não percebendo à primeira vista todo o trabalho técnico que está por trás da boa atuação de um cantor. Talvez porque o instrumento do cantor possua características incomparáveis a outros instrumentos: a própria pessoa é o instrumento.
Outra característica peculiar deste instrumento é a extrema individualidade da qual faz parte: não existe uma voz exatamente igual à outra. Mas o certo é que um bom cantor passa por um processo de aprendizado técnico, de estudo diário e manutenção de sua voz assim como em qualquer outra atividade profissional.
Cantar sem esforço, com ausência de qualquer contração deve ser o objetivo de uma apreciável técnica vocal.
É grande o número de iniciantes que se desapontam com o estudo do canto por acharem que em 3 ou 4 meses podem conseguir cantar árias de óperas com facilidade. A ansiedade e o pouco estudo desses candidatos a cantor é que têm colaborado para o declínio da arte lírica e sua fragmentação em diversas escolas formadoras por opiniões pessoais de inexperientes professores, que se nomeiam portadores da “chave de ouro”, e prometem em pouco tempo transformar alunos iniciantes em grandes cantores, levando-os à mediocridade artística e musical e, sobretudo, interrompem uma carreira que parecia promissora.
Será necessário muito estudo, pois todo o talento só é desenvolvido com muito trabalho. Não basta ter o conhecimento de uma boa técnica: o principal é saber aplicá-la com consciência.
A técnica vocal PODE e DEVE ser aprendida, bastando para isso a firme determinação para se alcançar a meta desejada.
Esta apostila está dividida em partes: a primeira parte, teórica, traz conhecimentos básicos da fisiologia da voz e como funcionam seus mecanismos. Faremos um breve resumo sobre as partes do corpo envolvidas para a produção e projeção vocais.
Foram recolhidos alguns exercícios ilustrativos exemplificando respiração, postura e dicção, além de alguns vocalizes e esquema de estudo.
Além disso, encontram-se alguns questionários e ilustrações que irão facilitar a compreensão dos assuntos aqui abordados, essenciais para o entendimento e a boa prática vocal, e ajudarão o aluno a entender a importância de uma boa orientação, seja ela médica e/ou técnica-musical.
PROCESSO DO APRENDIZADO
PREPARO FÍSICO: Pense no seu instrumento como uma musculatura que precisa desenvolver força, flexibilidade e agilidade. A parte técnica envolve o trabalho de condicionamento muscular, ou seja, o desenvolvimento de um controle vocal.
PREPARO EMOCIONAL: Dê a você mesmo esta chance, não tenha medo de se expor. Comece com pessoas que façam você se sentir à vontade para adquirir confiança. LEMBRE-SE: o pior que pode acontecer é você emitir um som não muito bonito, aprender isso e fazer melhor da próxima vez. Além de tudo, cantar é sempre divertido!
PREPARO MUSICAL: Desenvolva uma mentalidade musical. A percepção musical é muito importante para você saber se está cantando afinado, para poder afinar a sua voz com um outro instrumento, que não seja outra voz. Para você desenvolver esta sensibilidade, participe e se envolve nas aulas de percepção pois elas poderão ajudá-lo nesse sentido.
Então, aproveite.
Bom estudo!!!
Silmara Fernandes
Setembro/2004
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PARTE FISIOLÓGICA
A PRODUÇÃO DO SOM – O APARELHO FONADOR
O ser humano não possui nenhum aparelho destinado exclusivamente à produção do som. A produção do som envolve vários órgãos que conjuntamente fazem, como resultado, soar nossa voz. São eles: aparelho respiratório, a laringe, as cavidades de ressonância e os articuladores.
O ar inspirado passa pelas cordas vocais em posição aberta, enchendo os pulmões. Na expiração é que ocorre a fonação: o ar é aspirado pelos pulmões e passa pelas cordas vocais em posição fechada.
Estudaremos mais detalhadamente a respiração posteriormente.
FARINGE
A faringe é um tubo que serve tanto ao sistema respiratório como ao sistema digestivo. Comunica-se com a cavidade do nariz, com a cavidade da boca, com o ouvido médio, com laringe e com o esôfago. É uma estrutura musculosa revestida por uma mucosa que é contínua com a mucosa das partes com as quais se comunica.
Funcionamento: o alimento que é deglutido passa para a parte bucal da faringe e depois para a parte laríngea da faringe. Estas 2 porções da faringe é que servem como uma passagem comum aos sistemas digestivo e respiratório. A principal função da faringe está relacionada com as contrações musculares envolvidas na deglutição. Após deixar a parte laríngea da faringe, o alimento entra no esôfago e prossegue seu percurso pelo aparelho digestivo.
LARINGE
O ar que vai para os pulmões (ou deles sai) passa pela laringe. Qualquer substância sólida que entra na laringe (como alimento, por exemplo) é geralmente expelida por uma tosse violenta. A laringe forma a proeminência laríngea (“pomo de Adão”) na face anterior do pescoço. Esta proeminência é particularmente visível nos homens logo após a puberdade, quando a laringe torna-se maior do que nas mulheres e a região anterior de seu esqueleto forma um ângulo mais agudo.
A laringe é formada por 9 cartilagens que são mantidas juntas e unidas ao osso hióide acima e abaixo, à traquéia, por ligamentos e músculos.
Durante a deglutição, a laringe é puxada para cima, encostando-se na epiglote que tende a desviar sólidos e fluidos para longe da abertura da laringe em direção ao esôfago.
Perto da entrada da laringe são formados 2 pares de pregas horizontais que se estendem uma de cada lado. O par superior é chamado de pregas vestibulares (ou falsas pregas) e o par inferior é chamado de pregas vocais. Somente estas são susceptíveis de vibrações sob a ação do ar expirado; as pregas superiores são meramente protetoras da glote.
Pregas vocais fechadas (fonação)
Pregas vocais abertas (respiração)
Glote é a abertura entre as pregas vocais através da qual o ar entra na laringe. Como resultado das ações dos músculos intrínsecos, a glote pode ser estreitada ou alargada. O ar passando através da glote provoca a vibração das cordas vocais e produz um som. A freqüência das vibrações, e em conseqüência o timbre do som produzido, depende da tensão das cordas vocais.
A mucosa que cobre as cordas vocais torna-se edemaciada (“machucada”) quando fica irritada ou inflamada. Este inchaço interfere na capacidade de as cordas vocais vibrarem, resultando uma voz “rouca” – condição referida como laringite.
TRAQUÉIA
A traquéia é um tubo de aproximadamente 2,5 cm de diâmetro e 11 cm de comprimento. Estende-se desde a laringe até o nível da 6ª vértebra torácica, onde ela se divide em brônquios principais direito e esquerdo.
O caminho do ar da traquéia está rodeado por uma série de anéis de cartilagem em forma de “c” que têm por finalidade impedir que as paredes desse tubo se colapsem (da mesma maneira que em um tubo de um aspirador de pó – este, porém, possui os anéis completos). Quando a passagem do ar pelas partes aéreas superiores é impedida, pode-se criar algumas vezes um caminho direto para o ar na traquéia, cirurgicamente, através da parede anterior do pescoço, entre o 2º e o 3º anéis cartilaginosos (este procedimento é chamado de traqueostomia).
CAVIDADES ou CAIXA DE RESSONÂNCIA – OS RESSOADORES
As cavidades de ressonância têm um papel fundamental na produção do som, pois nelas é que ocorrem as modificações do som fundamental produzido na laringe. Comparando a um instrumento, poderíamos dizer que as cavidades de ressonância da voz funcionam como a caixa de um violão. Nada adiantaria vibrarmos as cordas de um instrumento isoladamente, pois produziria um som “pobre”.Os ressoadores são os agentes modificadores do som descolorido, onde o mesmo ganha melhor qualidade e amplitude. É nas cavidades de ressonância que ocorrem as modificações do som produzido na laringe, diminuindo o esforço de seus músculos, motivo pelo qual devem estar sempre à disposição como principal auxiliar na ampliação dos sons.
A qualidade da voz está mais em função dos ressoadores do que das pregas vocais. Portanto, independentemente de uma boa técnica, o cantor deve ter boa saúde, ou seja, sem qualquer tipo de patologia danosa (rinite, sinusite, pólipos, amidalite, dentre outras).
O som não deve ser empurrado e sim encostado nos ressoadores. Não empurrar os sons significa descontrair os músculos que participam da emissão, pois toda ação envolvida no canto deve ser livre e espontânea para se conseguir a devida sintonia com os músculos respiratórios.
Toda emissão deve ser para frente e para fora, exatamente da forma como falamos.
A principal caixa de ressonância é a rinofaringe, ou “cavum”, e está situada na parte póstero-superior do véu-palatino, em plano inclinado, por onde passam as mucosidades nasais, para o istmo da garganta (cantar em forma de “arco-íris dentro da cabeça”).
Quando os sons são emitidos em direção ao cavum seu raio de ação expande-se por todas as cavidades de ressonância superiores, tornando a voz cristalina e com alcance. Para que isso aconteça com exatidão, será necessário que o tubo vocal esteja devidamente aberto e descontraído.
A busca por sensações internas na produção dos sons é algo Poe demais interessante e difícil no processo vocal. Geralmente, consiste no conhecimento e na consciência do mecanismo como um todo. O canto é uma atitude mental e, como toda sensação, é originado do sistema nervoso central; admite-se que tudo obedece o comando cerebral. Quando temos consciência do que fazemos encontramos as justas sensações vocais. Seria como se olhássemos para dentro de nós, em um insight, como se fosse uma viagem interna, em busca da trajetória que o mecanismo faz para atingir seu ponto de chegada sem qualquer indecisão. Uma vez encontradas, “apagar” essas sensações, que são registradas no cérebro, é algo quase impossível. Devemos corrigir as errôneas e viciadas emissões em troca das agradáveis sensações da emissão correta que se encontra mediante uma boa orientação técnica do professor. Em música, a persistência é um dos fatores primordiais para conseguir o que desejamos.
PALATO, LÍNGUA E BOCA
A boca é a primeira parte do trato digestivo e estende-se desde os lábios até a bucofaringe.
Ela pode ser dividida em:
- cavidade própria da boca: é o largo espaço interno aos dentes que aloja a língua
- vestíbulo da boca: é o pequeno espaço que separa os lábios e as bochechas dos dentes e gengivas.
Os lábios e bochechas ajudam a movimentar o alimento entre os dentes superiores e inferiores durante a mastigação, além de ajudarem na fala.
O teto da boca é formado pelo palato (na parte anterior, o palato duro e na parte posterior, o palato mole). O palato duro é formado pelos ossos palatinos e maxilas. O palato mole, composto principalmente de músculos, separa a cavidade bucal da nasofaringe. O palato mole é empurrado para cima durante a deglutição, bloqueando a entrada da cavidade do nariz via faringe e servindo para prevenir que alimentos e bebidas possam entrar na cavidade do nariz. A úvula é uma pequena saliência muscular que pende da margem posterior do palato mole. Serve como uma “almofadinha” prevenindo o palato mole de ser empurrado para a cavidade do nariz durante a deglutição.
O palato é a abóbada da cavidade bucal. Sua forma de cúpula ajuda a canalizar os sons para os ressoadores e, quanto mais aguda é a nota, mais arqueado deve estar, porém sem exagerar ou contrair, a fim de não prejudicar a articulação, pelo fato do mesmo pertencer ao grupo dos articuladores.
Entre o véu palatino (palato) e a língua existe uma abertura denominada istmo da garganta.
A língua forma o “assoalho” da boca. É composta por 17 músculos e pertence ao grupo dos articuladores. Sua posição deve ser precisa, seja na pronúncia ou na emissão, mantendo-a na posição da voz falada.
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APARELHO RESPIRATÓRIO
A RESPIRAÇÃO
CAMINHO DO AR DURANTE A INSPIRAÇÃO
- narinas
- boca
- faringe
- traquéia
- brônquios
- pulmões e alvéolos, onde se realiza a troca gasosa e de imediato, a expiração (caminho inverso)
DIAFRAGAMA
O diafragma é o principal músculo da respiração. Atua involuntariamente como êmbolo (alavanca) durante a respiração:
- na inspiração: abaixa-se, contraindo-se, arrastando consigo a base do pulmão;
- na expiração: levanta-se, relaxando-se, comprimindo os pulmões e expulsando o ar.
A grande maioria das pessoas atualmente respira mal:
“Hoje, principalmente nas grandes cidades, somos obrigados, já na idade de seis anos, a ficar horas sentados no colégio, freqüentemente em salas super ocupadas e abafadas. Mais tarde, continuando os estudos, exercendo uma profissão, a nossa vida não muda muito. Desta maneira, não tendo uma compensação, os nossos pulmões vão deixando de inspirar profundamente, e o movimento diafragmático é quase nulo, assim é que usamos mais a respiração torácica e clavicular.”
Manual Prático de Técnica Vocal - Charlotte KAHLE. Porto Alegre, Livraria Sulina Editora, 1966
Existe uma diferença entre a respiração vital e a respiração fônica. A primeira é imprescindível à vida e involuntária, enquanto a outra, que é voluntária, serve para expressão e comunicação.
A intensidade vocal é o resultado da correta utilização da respiração. Aprende-se a respirar com perfeição repetindo-se essa função até se atingir o automatismo.
A respiração usada para o canto deve ser a diafragmática-intercostal (costo-diafragmática ou abdominal-intercostal), sendo a respiração torácica superior danosa para a voz por determinar o enclausuramento do som na laringe. Devemos encher desde a base do pulmão, suas laterais até as costas, sem levantar os ombros. É importante que a clavícula e os ombros não se movam. Deve-se, sempre que possível, realizar a respiração nasal, pois assim o ar é filtrado e aquecido pelas narinas, ainda que façamos de boca aberta. Porém, para uma quantidade maior de ar, na maioria das vezes precisamos inspirar pela boca.
“Quando se pede aos alunos, no início das aulas de fala ou de canto, para inspirarem profundamente, 80% inspiram com uma elevação forçada das costelas e das clavículas, mantendo os músculos abdominais contraídos, erguendo os ombros, ficando vermelhos no rosto e pescoço... Esta respiração forçada tem conseqüências desastrosas, em primeiro lugar para a voz. A laringe fica sob alta pressão, e pior ainda se a pessoa não articula bem, trancando os maxilares. Assim, a pressão é dupla e as nossas cordas vocais não podem vibrar livremente”
Manual Prático de Técnica Vocal. Charlotte KAHLE. Porto Alegre, Livraria Sulina Editora,1966
Não se pode ser um bom cantor sem possuir um perfeito controle de sua respiração. A boa respiração é um dos grandes “segredos” da arte do canto.
Na inspiração, que pode ser bucal ou nasal, procura-se dilatar em todas as direções as costelas inferiores. Ao mesmo tempo, as paredes do abdômen se enchem de ar. Pode se controlar o movimento colocando uma mão no abdômen e outra nas costelas (veja em “Exercícios de Respiração”). É importante que a clavícula e os ombros não se movam. Utilizar o espelho é útil para vigiar e impedir movimentos desnecessários de tensão. Deve-se exercitar a inspiração nasal ainda que seja de boca aberta. Deve-se também praticar a inspiração rápida, quer dizer, inspirar a maior quantidade de ar em menor tempo possível (sem produzir “ruídos”, os quais ressecam o caminho do ar), após ter dominado esses movimentos corretamente.
A respiração é uma função vital que aprendemos a controlar através do estudo do canto.
APOIO VOCAL
Para o cantor é necessário saber administrar a entrada e a saída do ar querespira. A esse controle dá-se o nome de apoio.
A falta de controle do ar expirado é uma das causas da ausência de apoio, o que pode provocar instabilidade na voz (voz que “balança”). A rigidez muscular e da mandíbula causam grande desconforto ao cantor, ocasionando o mesmo efeito sonoro.
Ao contrário de qualquer esforço muscular, quando a voz está bem apoiada a resposta ao canto descontraído é um convite ao bem-estar.
Não se pode ser um bom cantor sem possuir um perfeito controle de sua respiração. A boa respiração é um dos grandes “segredos” da arte do canto.
“Apoio é o controle elástico e consciente da força retrátil passiva e espontânea do movimento de elevação do diafragma ao promover a expiração. O apoio é conseguido pelo domínio de seus antagônicos - os músculos abdominais e intercostais - com a finalidade de manter o equilíbrio da coluna de ar e aplicá-la à fonação”.
Resumindo: apoio é o ato de sustentação do som através da administração correta da entrada e da saída do ar que se respira, sendo alcançado com a retração progressiva das paredes abdominais.
Para uma boa realização no canto e na fala é preciso ter controle da respiração. A respiração e a postura estão intimamente interligadas. Para realizar uma respiração correta é preciso estar numa postura adequada.
O ATAQUE EM RELAÇÃO AO APOIO
O ataque é o início do som que, quando apoiado, facilita o começo da frase. Deve ser o resultado da intenção formada primeiramente na mente, aliada ao apoio dos músculos correspondentes (no caso, os abdominais).
No ataque, a preparação do respiro com uma apnéia e a abertura da boca asseguram a fôrma interna sendo responsável pela descontração do tubo vocal. O início do som deve ser justo e concomitante com a expiração, evitando, assim, o excesso de ar na voz. Portanto, sem apoio não existe um ataque perfeito.
Atacar por cima do som evita o golpe de glote, muito perigoso por favorecer a emissão gutural por causa, sobretudo, da acentuada tensão nas pregas vocais, envolvendo os músculos da laringe.
A pressão exagerada do ar causa fadiga vocal, processos catarrais e, muitas vezes, nódulos nas pregas vocais. O ataque deve ser leve e macio e a qualidade do som inicial e das frases subseqüentes dependerá dessa ação.
Não se permite dissociação entre fala e canto, sendo indispensável a relação entre a voz falada e a cantada. Notamos, entre as duas ações, que os mesmos músculos trabalham para sua emissão, porém de maneiras diferentes. Na voz cantada exige-se mais energia, mais amplitude e sobretudo mais alcance em virtude da diferenciação de tonalidade e tessitura.
Uma voz falada defeituosa pode conter o desenvolvimento da voz cantada.
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EXERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO
Quando você estiver cantando, sua atenção estará voltada para a letra, melodia e sua interpretação, e por isso você não poderá ficar pensando na respiração o tempo todo. Então, nosso objetivo é que a respiração correta passe a ser tão natural que você continue automaticamente, sem precisar pensar e se concentrar nela o tempo todo. É claro que este condicionamento não acontece da noite para o dia. O seu corpo precisa de um tempo para se acostumar com este novo conceito. O que você pode fazer para alcançar este objetivo é praticar os exercícios sempre que puder, e quando for cantar lembrar-se de colocar a respiração no lugar certo a cada início de frase.
Algumas observações importantes para o bom aproveitamento dos exercícios:
procure usar os exercícios para prender um pouco mais sobre você e seu corpo. Fique atento aos movimentos dos músculos respiratórios (abdominais/intercostais)
mantenha sempre a postura adequada para a prática dos exercícios
sempre que você inspirar e/ou expirar, dê uma pausa para que você possa memorizar as sensações e a movimentação e posição da musculatura. A retenção do ar deve ser de 2 a 3 segundos. Não é aconselhado ir além de 5 segundos para não forçar as cordas vocais
a expiração deve ser tão prolongada quanto possível
Deitado (prolongar bem a coluna sem forçar a lombar e alongando a parte posterior do pescoço), coloque as mãos no ventre, abaixo do umbigo, e pressione para dentro enquanto os músculos do abdômen empurram para fora. Procure equilibrar o movimento do diafragma e memorizar essa sensação.
De pé, inspira profunda e silenciosamente, sem elevar o peito, abrindo as costelas flutuantes e abaixando o diafragma (inspiração costal-diafragmática); faça uma pausa de 2 segundos; expire bem lentamente, procurando relaxar as costelas quando terminar o movimento.
De pé, inspire; pausa; expire pela boca, muito suavemente com os lábios em posição de assobio, tentando controlar a saída do ar, fazendo com que seja o mais constante possível.
Deitado ou em pé (faça das 2 formas!): inspirar; pausa; expirar com energia soando um SS como se fosse apagar uma vela ao longe, usando um impulso vindo do centro do corpo. Não deixe que o ar saia todo de uma vez. Não se esqueça de apoiar (controle o movimento do diafragma).
Faça o exercício anterior expirando em F e CH.
Agora, faça o mesmo exercício expirando em Z, V e J.
Repare, também, que na emissão das consoantes V, Z e J as cordas vocais estão sendo usadas para a produção do som, ao contrário de S, F, e CH.
EXERCÍCIOS COM FUNÇÕES ESPECÍFICAS
PARA A PERCEPÇÃO DA INSPIRAÇÃO INVOLUNTÁRIA
Muitas pessoas fazem muito barulho ou forçam a inspiração numa tentativa de encher mais o pulmão de ar. Muitas vezes a musculatura está muito tensa e impede uma livre circulação de ar. Solte todo o ar murchando a barriga. Fique alguns instantes sem ar. Relaxe a musculatura deixando então o ar entrar, mas sem forçar sua entrada. Faça isso algumas vezes e você vai perceber que não há necessidade de fazer esforço para que o ar entre. Ele entrará sozinho, pois a entrada do ar é algo que acontece naturalmente quando sentimos necessidade de inspirar. Esse exercício serve também para exercitarmos a elasticidade da musculatura abdominal para dentro e para fora.
PARA A ATIVAÇÃO E EXPANSÃO DA MUSCULATURA DIAFRAGMÁTICA E INTERCOSTAL
Inspirar enchendo primeiramente a região abdominal e depois as costelas, lateralmente. Expirar primeiramente o ar do abdômen e depois na parte lateral das costelas. Fazer isso num movimento contínuo: Inspiração: parte baixa depois lateral; expiração: parte baixa e lateral.
PARA TREINAR A SAÍDA DO AR COM CONTROLE (APOIO)
Precisamos, no canto, dominar o tempo da entrada e da saída do ar. Precisamos dosar a saída do ar conforme o tamanho de uma frase musical e a inspiração também deve estar de acordo com o tempo hábil para fazê-lo entre uma frase e outra.
Inspirar abrindo as costelas e na expiração soltar o ar firmando o abdômen tentando não fechar as costelas. À medida que o ar vai acabando, aumentar a pressão da musculatura abdominal. (esse exercício pode ser feito contando o tempo da saída do ar para ir aos poucos dominando maior tempo na saída. Ex: soltar o ar em dez tempos depois em quinze, vinte, etc). Podemos também acrescentar a este exercício o controle do tempo da entrada do ar, que muitas vezes deve ser rápida, dependendo da frase musical. Então, além de contar a entrada do ar, fazemos uma contagem para a inspiração e vamos a cada vez diminuindo o tempo para a inspiração.
PARA TREINAR A PRESSÃO DA SAÍDA DO AR
Quando temos uma nota mais aguda de repente, ou precisamos fazer um som com uma intensidade mais forte, precisamos utilizar mais o apoio respiratório para não sobrecarregar as cordas vocais. Tomando como base o exercício anterior, vamos, na saída do ar, fazendo movimento abdominais com pressão alternada. Na saída do ar com um “sssss” prolongado, vamos fazer ora uma pressão no abdômen e ora diminuindo essa pressão. Isso num mesmo sopro, sem interrupção. Você vai observar que quando aumenta a pressão do abdômen aumenta a pressão do ar. Não esqueça de manter as costelas abertas.
PARA TREINAR A ABERTURA DAS COSTELAS
Uma das formaspara sentir a abertura lateral das costelas no canto é da seguinte maneira: Vá inspirando lentamente e ao mesmo tempo levantando os braços na lateral até que ele chegue à altura dos ombros. Mantenha alguns segundos a inspiração e observe que suas costelas estarão mais abertas na lateral. Solte o ar e tente manter as costelas abertas. Faça uma vez a expiração com os braços ainda na lateral e depois tente fazê-la soltando os braços, mas mantendo as costelas abertas.
Obs.: Cuidado para não tensionar os ombros enquanto faz o exercício e também cuidado para não direcionar o ar para a parte alta do pulmão.
Outro exercício para sentir a abertura das costelas, mas na sua região costal: sente na ponta de uma cadeira, deixe seu corpo cair todo para frente, inclusive sua cabeça. Inspire nesta posição e vai perceber que o ar se direciona para a lateral e para as costas.
PARA TREINAR A RESPIRAÇÃO NA PARTE BAIXA DO ABDÔMEN
Muitas pessoas quando tentam fazer a respiração intercostal a fazem de forma muito “alta”, ou seja, utilizando pouco os músculos abdominais. Existem diversas técnica de respiração. Acredito que se deve inspirar desde a base do abdômen abrindo em seguida as costelas. Em alguns momentos ou para algumas pessoas torna-se difícil fazer a respiração mais baixa, principalmente para indivíduos com tendência a ansiedade e vida muito agitada. Quando a respiração “não desce” e mantém-se muito no tórax, a melhor maneira de fazê-la “abaixar” é através da contração e relaxamento dos músculos glúteos. Experimente expirar o ar lentamente e, ao mesmo tempo, fazer uma contração nestes músculos. Quando estiver sem ar relaxe o abdômen e vai perceber como a respiração se torna plena. Repita o exercício algumas vezes.
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FORMAÇÃO DOS SONS
Durante a fonação, as pregas vocais aproximam-se e a fenda glótica (glote) aumenta, sendo esse espaço por onde passa o ar. Nos sons graves, as pregas vocais ficam mais espessas, comprimidas e menos tensas e com a fenda glótica mais aberta. Nos sons agudos, elas estão mais finas e mais tensas e com a fenda glótica mais estreita.
A laringe se posiciona “sutilmente” na posição alta dos sons agudos e igualmente baixa dos sons graves. É um movimento relacionado com a abertura da garganta que incide na formação dos sons. A abertura da garganta é um assunto de suma importância, que consiste na abertura da parte posterior da boca e não da parte anterior, muito embora uma ação seja relacionada com a outra. A maneira mais natural e fisiológica de conseguirmos a abertura ideal do tubo vocal é a ação simulada do bocejo, que deixa a mandíbula descontraída, o véu palatino arqueado e a língua em sua justa posição, distendendo a região pertencente à orofaringe exigida na emissão livre e espontânea.
A boca constitui um dos aspectos mais interessantes do canto porque, de certo modo, regula e embeleza os sons de acordo com sua abertura.
VOGAIS E CONSOANTES
Na pronúncia das vogais “a”, “o” e “u” deve permanecer naturalmente plana, enquanto nas vogais “ê” e “í”, se levanta ligeiramente, com os bordos de encontro aos molares superiores, ficando o ápice encostado nos incisivos inferiores.
A posição da boca atende a suas naturais exigências, ou seja, um sutil alargamento nas vogais “ê” e “i”, assim como na posição oval nas vogais “o” e “u”. A vogal “a” requer uma posição intermediária entre “a” e “o”. Quando emitida sem essa combinação, o som torna-se “aberto”, e perde suas homogeneidade em relação às demais vogais. Nas vogais “o” e “u”, a posição da boca deve ser a acima mencionada, que facilita a cobertura dos sons. Porém, temos de estar atentos par salvaguardar a “identidade” de cada vogal, mesmo quando as mesmas são mescladas para se adquirir um colorido mais agradável quando se canta. O controle por meio do ouvido e das sensações internas ajudam a administrar esse ajuste, sem contudo alterar a “fisionomia” das vogais durante a sonorização.
Os órgãos vocais, apesar de parecerem anatomicamente idênticos, não são iguais entre os indivíduos, são variados entre si, pois existem pessoas que, em virtude de sua condição morfológica, dispõem de mais facilidade para emissão de determinadas vogais e dificuldade para outras. Um cantor que é portador de uma caixa de ressonância privilegiada e morfologia do véu palatino arqueado naturalmente encontra certamente mais facilidade para emitir sons orais do que aqueles que não dispõem desse predicado. É relativo, cada corpo se comporta de uma maneira de acordo com sua formação.
Cantamos com as vogais e articulamos com as consoantes e por isso, devemos ter cuidado especial com estas. As consoantes se dividem em surdas e sonoras.
Segundo alguns autores, as consoantes surdas apresentam-se como ruídos formados pelo choque da corrente aérea respiratória e as sonoras são acompanhadas das vibrações das pregas vocais. Veja a tabela abaixo:
	CLASSIFICAÇÃO
DA CONSOANTE
	
	surdas e oclusivas
	p – t
	sonoras e oclusivas
	b – d
	labiais
	p – b – m
	lábio-dentais
	f – v
	línguo-dentais
	d – t – l – n – r – s – z
	palatais e velais
	c – q
	rinófonas (ressoam na faringe nasal)
	m – n
As consoantes devem ser exercitadas por meio de seu ponto de articulação para evitar vícios de dicção.
TIMBRE
O timbre é o resultado de vários sons harmônicos que, unidos entre si, concorrem para o embelezamento e a formação da voz. Para que isso aconteça será preciso o uso das cavidades de ressonância que reforçam e selecionam o próprio som. A riqueza sonora depende, em grande parte, da quantidade de sons harmônicos,e estes se encontram na caixa de ressonância superior e, quanto mais a explorarmos, melhor seremos favorecidos com uma bela voz. É evidente que algumas pessoas possuem um belo timbre de voz naturalmente e outras não. O estudo, contudo, pode modificar o timbre de feio e desagradável para bonito e admirável (e vice-versa caso não tenha uma boa orientação – ou nenhuma orientação). Como já vimos, a qualidade de uma voz depende, também, da conformação da caixa de ressonância e da saúde desta. Qualquer impedimento, como rinites alérgicas, sinusites, amidalites, pólipos e outras patologias das vias aéreas superiores compromete a conformação do som, deixando-o por vezes velado e sem o brilho exigido para o embelezamento da voz. As pregas vocais também influenciam na formação da voz, uma vez que devem estar descomprometidas de qualquer tipo de patologias como nódulos, edemas e mesmo as “costumeiras” fendas.
Os sons devem ser emitidos com clareza e naturalidade para garantir a saúde e longevidade da voz, como poderemos observar nos grandes cantores que, mesmo sexagenários, conservam a emissão jovial e agradável aos ouvintes.
O timbre de cada um deve ser conservado com suas características naturais, não se admitindo artifícios. Não se modifica a cor dos olhos, como não se deve modificar o timbre vocal. A natureza precisa ser respeitada.
TESSITURA
Tessitura é o conjunto de notas que mais convém a uma voz. A extensão que a voz percorre varia conforme o indivíduo. É indispensável ser exercitada pelo menos 2 oitavas, condição exigida para se abraçar a carreira lírica.
As notas que aparecem com mais freqüência em um trecho musical e que constituem a extensão média, cômoda e natural para a voz é o que podemos chamar de tessitura, também. O registro médio é a parte central da tessitura e que pode ser emitida mais comodamente.
Devemos cantar sempre em uma tessitura cômoda a fim de não danificar nosso instrumento, a voz.
Quando se canta em uma tessitura errada, a voz responde com grande dificuldade. Nas notas de passagem o problema se acentua.... “Acrobacias vocais”, com o tempo, danificam o instrumento porque “a natureza vinga-se com um tributo sem retorno contra aqueles que insistem em cantar ou fazer experiências na tessitura que não seja a sua” (“Voz e Arte Lírica – Técnica Vocal ao alcance de todos” – Edilson Costa, Ed. Lovise, 2001).
Não devemos confundir extensão fisiológica com artística. Nesta, requer-semuito estudo, conhecimento e sobretudo, consciência. É preciso saber o que estamos fazendo para sentir aquilo que fizemos, porque o canto é, em sua totalidade, o resultado das agradáveis sensações adquiridas com a técnica.
CLASSIFICAÇÕES DAS VOZES E GRUPOS VOCAIS
A classificação de uma voz é assunto a ser tratado com muito critério porque uma boa ou má classificação pode ajudar ou arruinar uma carreira. Em muitos casos, requer-se uma demorada e paciente observação, o que leva algum tempo. Muitos insistem em cantar com o timbre que lhe é mais simpático e os resultados são os mais pesarosos e lamentáveis, com a ruína de uma voz que parecia promissora.
Pode-se admirar determinado timbre mas nunca renunciar ao próprio. A classificação é um tema de real importância no estudo do canto e da técnica vocal. O professor deve ter considerável experiência e nada deve ser apressadamente, principalmente nos casos de vozes intermediárias ou de timbres duvidosos.
Para se classificar uma voz, geralmente toma-se como base o timbre e a tessitura que lhe seja mais conveniente e sobretudo cômoda, de acordo com os caracteres físicos e morfológicos de cada um. Os fatores relativos definem-se pela constituição do indivíduo, levando-se em consideração sua estrutura física, país de procedência, dentre outras condições. A laringoscopia também se fundamenta nas distintas formas anatômicas da laringe e na espessura das cordas vocais, o que pode auxiliar na classificação vocal. Alguns autores aconselham a classificação pela voz falada, por existir estreita semelhança com a voz cantada. Pedro Bloch (1963) assegura que a extensão por si só classifica e por se prestar demasiada atenção a mesma é que se tem cometido erros irreparáveis.(...) Importa o biotipo, o comprimento e a espessura das cordas vocais e o volume das cavidades de ressonância.
As vozes humanas são classificadas em infantis e adultas (as adultas são dividias em femininas e masculinas).
Vozes infantis: meninos ou meninas, também chamadas de vozes brancas. Possuem a extensão equivalente às vozes femininas (geralmente, Soprano e Mezzo-Soprano)
Vozes adultas: são classificadas de acordo com o timbre e a tessitura. Veja a classificação abaixo:
Femininas
Soprano			Mezzo-Soprano	 Contralto
Masculinas
Tenor			 Barítono		 Baixo
Obs.: ainda que raramente, podemos encontrar o Contratenor – voz masculina aguda que se desenvolve na mesma tessitura do Contralto. Era muito comum nos períodos renascentista e barroco.
Os grupos vocais recebem denominações de acordo com o número de integrantes, gênero e tipo de vozes. Um grupo com 2 cantores é chamado de dueto, com 3 cantores, trio, etc...
Até 16 cantores, com vozes trabalhadas, chama-se Madrigal. Normalmente, este agrupamento dedica-se à execução de obras do período medieval, renascentista e contemporâneo. Acima de 16, com as vozes divididas em naipes temos o Coral, que poderá ser feminino, masculino ou misto. Denominamos “a capella” quando este se apresenta sem acompanhamento instrumental.
Quando existe dúvida para determinar a classificação vocal, o bom-senso induz a se trabalhar na tessitura média, por ser mais natural e espontânea, e ir aos poucos buscando os extremos com o devido cuidado com a unificação dos registros, na caracterização do timbre e da tessitura.
O cantor precisa dominar seus impulsos, não se atendo só à extensão fisiológica, e cantar com seus requisitos naturais. A pluralidade vocal, com o passar do tempo, danifica o órgão. A prudência é o requisito primordial par aa classificação de uma voz.
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POSTURA
Uma boa postura é fundamental para uma boa produção vocal. O que consiste ter boa postura? Bem, cuidar da postura é fazer com que a sustentação e o equilíbrio do nosso corpo esteja de acordo com as leis da gravidade. Postura não significa “rigidez” (cuidado principalmente com os ombros!).
É importante observarmos que os desequilíbrios posturais variam de pessoa para pessoa. Algumas possuem um exagero postural, mantendo-se com os ombros extremamente abertos, o peito empinado para frente e a cabeça muito erguida, tensionando o pescoço. Se olharmos essas pessoas de lado, possuem uma lordose nas costas como se fossem envergar para trás. Essas pessoas tendem a respirar mais na parte alta do pulmão.
Já outras pessoas possuem desequilíbrio inverso. Ombros muito caídos, peito fechado, como se fossem envergar para frente.
Ambas as posturas são incorretas. Devemos procurar manter um equilíbrio de forma a sentir o peso do nosso corpo entre os dois pés, observando em seguida um encaixe perfeito da cintura pélvica (quadril), em equilíbrio com a cintura escapular (ombro) e mantendo um ângulo de 90% para o queixo, podemos aproximar-nos de uma figura em equilíbrio.
Segundo PERELLÒ, os ombros devem estar relaxados, a cabeça reta, a fisionomia natural sem rigidez nem contração, a boca moderadamente aberta, os lábios apoiados diante dos dentes. A mandíbula não deve estar rígida. Todo o instrumento vocal deve dar a sensação de flexibilidade muscular. Não deve haver nenhuma contração dos músculos vocais no tórax, colo, laringe, garganta e boca. A ressonância correta e plena da voz se produzirá com a diminuição e equilíbrio dos esforços musculares. O corpo deve estar ereto, mas sem rigidez, com a sensação de calma. Deve-se evitar o movimento do corpo, buscando apoio em ambas as pernas alternadamente. Evitar o movimento nervoso das mãos e dos dedos, assim como os gestos exagerados ou muito forçados.
A atitude normal do rosto deve ser sorridente. O sorriso, por um efeito reflexo, permite uma ampliação das cavidades de ressonância. Para isso pode ser útil fazer os vocalizes diante de um espelho para observar e controlar as tensões desnecessárias.
A atitude básica para o equilíbrio do corpo e, conseqüentemente, para a emissão da voz, é a seguinte:
Pés: confortavelmente apoiados ( o peso do corpo deverá estar igualmente distribuído pela borda externa dos pés pelo metatarso. Os pés devem ficar paralelos (evite colocá-los muito juntos), podendo ficar um pouco à frente um do outro a fim de dividir igualmente o peso do corpo entre eles.
Músculos: relaxados (cuidado para tensionar, principalmente e região do pescoço e da nuca)
Cintura pélvica (quadris): encaixados, para não forçar a coluna lombar e suspensa sobre o diafragma para manter a energia do som
Pescoço e Cabeça: o pescoço deve ser mantido relaxado e a cabeça com o olhar par aferente e para cima, bem equilibrada na cintura escapular. A parte posterior do pescoço deve ser mantida alongada.
Linha da cabeça: a cabeça deve manter uma linha de como se estivesse suspensa por um “fio de cabelo” na parte do redemoinho, isto é, no centro, como se fosse a continuação das vértebras cervicais
Cintura escapular (pescoço-ombro): deve permanecer descontraída
Ombros: deixe-os relaxados para baixo e para trás
Tronco: ereto, sem levantar o tórax
Após a adoção dessa atitude básica, quando sentir que está equilibrado, experimente mudar o alinhamento para fazer com que o corpo mude a linha de gravidade, para frente, para trás, para o lado e circularmente.
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RELAXAMENTO
“Na luta que travamos no dia-a-dia para sobreviver numa cidade, desenvolvemos tensões musculares as mais variadas e em regiões muito específicas, fortalecidas pela constante repetição de uso. Essas tensões em muito podem afetar o desempenho vocal”.(...) “Um indivíduo tenso está muito próximo dos problemas da voz e da fala. As tensões musculares são responsáveis por dificuldades respiratórias, articulatórias e demais envolvimentos da produção da voz e da fala”.(...) “A energia psíquica flui melhor por um corpo relaxado. As tensões funcionam como impedimento da passagem energética”.
Estética da Voz - Uma voz para o Ator. Eudósia Acuña Quinteiro. Summus Editorial, São Paulo, 1989.
Respiração, postura e relaxamento estão interligados. Uma pessoa com uma má postura, provavelmente terá dificuldade para respirarcorretamente e é bem provável que possua tensões em algumas áreas do corpo. Ou seja, qualquer um desses aspectos pode afetar o outro direta ou indiretamente.
O instrumento do cantor, seu aparelho fonador, não age isoladamente de outras partes de seu corpo. Muitas vezes, quando temos dificuldade em emitir algum som, pensamos somente na região da garganta como responsável. Mas o certo é que o funcionamento de todo nosso corpo interfere na produção vocal e conseqüentemente em nossa saúde vocal.
Cada um de nós tem a tendência a desenvolver tensões em áreas diferentes. Isso vai depender de como aprendemos a lidar com nosso corpo durante a vida. O importante é eliminar através do autoconhecimento de nosso corpo, todo e qualquer esforço desnecessário à produção vocal. Desenvolver um trabalho corporal regularmente pode ser muito benéfico. 
Existem muitas técnicas corporais que beneficiam ao canto. Entre elas: Yoga, massagem, RPG (Reeducação Postural Global), Técnica de Alexander, entre outras. Ou até mesmo qualquer atividade física de baixo impacto que proporcione bem estar, aliviando as tensões diárias pode ser benéfico.
As áreas de tensão mais importantes a serem observadas no cantor são: os ombros, a nuca, o pescoço e o maxilar. Para um trabalho diário de relaxamento, antes de começar os estudos vocais (vocalizes), ou antes de uma apresentação, seria interessante criar uma seqüência, conforme as necessidades (com o tempo você vai perceber aonde se localiza sua maior área de tensão).
ALGUNS EXERCÍCIOS
Antes de começar o relaxamento, procure respirar profundamente e não tenha pressa. Um dos maiores motivos de tanta tensão é o stress. Se possível, coloque uma música bem suave ao fundo.
1) RELAXAMENTO DOS OMBROS: sentado ou em pé (observar a postura correta), inspirar levantando os ombros para cima o mais que puder. Soltar o ar deixando os ombros caírem. Fazer isso como num suspiro de alívio, deixando toda tensão sair quando soltar o ar. Pode-se soltar o ar com um “AAAHHH!!!” bem sonoro. repetir o exercício algumas vezes.
2) RELAXAMENTO DOS OMBROS: girar os ombros lentamente para frente numa rotação completa, como se estivesse desenhando um círculo sem mover o tronco. Fazer o mesmo para trás. Não se esqueça de manter a respiração, pois há uma tendência de prendermos a respiração quando sentimos alguma tensão ou dor. Respire bastante pois isso vai ajudar a “deixar a tensão sair”.
3) RELAXAMENTO DO PESCOÇO: movimentar a cabeça em todas as direções. Primeiro para frente depois para trás; movimentar a cabeça para um lado e depois para o outro. Por fim, fazer uma rotação completa com a cabeça deixando-a bem relaxada como se fosse uma “bola solta”, girando-a para um lado e para o outro. Observe se seu maxilar está relaxado. O ideal é manter a mandíbula entreaberta e a língua encostada nos dentes inferiores.
4) RELAXAMENTO OS MÚSCULOS FACIAS, DO PESCOÇO e MEMBROS SUPERIORES: dê uma espreguiçada e boceje tentando abrir a garganta ao máximo.
5) MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES: de pé, solte braços e pernas.
6) MÃOS E PÉS: abra e feche as mãos. Depois, mexa bem os dedos das mãos e dos pés.
7) GERAL: com os alhos fechados, inspire profundamente e expire suspirando até soltar todo o ar, relaxando ao máximo.
Obs.: Crie sua seqüência de relaxamento, mas é importante manter por um tempo a mesma seqüência para que se possa comparar seu estado de progresso. O cantor precisa “saber” como está seu corpo na hora em que for cantar e a eliminar tensões desnecessárias. Isso se consegue à medida em que aprendemos a lidar com nosso corpo, adquirindo maior consciência corporal.
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VOCALIZES E EXERCÍCIOS VOCAIS
Os vocalizes são exercícios que desenvolvem a voz. Cantados com as vogais, todas as escalas ascendentes e descendentes, quer sejam cromáticas ou não, acordes e intervalos, exercitam o canto com objetivos artísticos.
Os vocalizes por si só não impostam a voz. O que importa é saber como fazê-los, e isso se consegue por meios técnicos com a orientação de um profissional. Não interessa a quantidade e sim qualidade.
Veja o primeiro deles, “A Grande Escala”:
Lili Lehmann, famosa soprano, dedicava-se apenas a este vocalize, substituindo-o pela quantidade de tantos outros vocalizes.
Para quem quer seguir a carreira de cantor, deve-se exercitar os vocalizes durante 20 minutos diariamente (quando iniciante, deve-se fracionar o estudo para 10 minutos pela manhã e 10 minutos à tarde).
Os vocalizes não devem ser testes de resistência ou de virtuosidade. Pelo contrário, deve-se evitar ao máximo as regiões extremas (graves e agudos), principalmente no início dos estudos. É na região média que encontraremos o caminho para a impostação. A voz se constrói como uma casa: “tijolo por tijolo”...
Evite imitar a voz de quem está ensinando. Decore seu modo de fazer, suas sensações, sua própria voz.
Exercícios com consoantes para projetar as vogais:
1.
2.
Outros vocalizes:
1.
	mei mei mei mei mei mei mei mei mei mei mei mei mei
2.
 ni__________________ e___________________ o___________________ o
3.
 ni__________________ e___________________ o___________________ o
4.
 ni______________ i i____ o________________________ o
5.
 no___________________________________ o no___________________________________ o
6.
 ni__________________________________________________________ o__________________________
 _________________________________________________ o
	Todos os vocalizes devem continuar a cada meio-tom e condizentes com a tessitura de cada voz
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EXERCÍCIOS DE RESSONÂNCIA
Quando estiver fazendo os exercícios, procure esquecer conceitos que você tenhaestabelecido sobre o que “cantar bonito”, “emitir um som agradável”. O objetivo, aqui, é a percepção e desenvolvimento das áreas de ressonância. Procure lembrar-se dos conceitos vistos anteriormente em “Postura”, “Respiração” e “Apoio”.
Ao executá-los, procure imaginar que o som está vibrando dentre de seu corpo, preenchendo os espaços, e finalmente saindo pelo topo da cabeça. Nunca pense que o som está saindo da “garganta” e indo direto para a boca pois, assim, você não estará usando uma boa parte das áreas de ressonância.
Tenha em mente que o som deve “viajar” pelo seu corpo,principalmente na máscara, antes de ser projetado para fora, dando assim maior volume e intensidade a sua voz.
de pé ou deitado: inspirar; pausa; expirar soltando o ar apenas pelo nariz (fazendo hum, “mastigando” o som). Escolha uma nota que seja confortável (nem grave nem aguda) e tente manter a emissão de ar constante. Usando as 2 mãos, com as pontas dos dedos toque o nariz e as maçãs do rosto de leve e sinta a vibração.
faça o exercício anterior, mas na expiração comece com pouco volume e aumente procurando elevar a ressonância (vibração) e ainda dentro da mesma expiração diminua o volume, terminando, assim, no mesmo volume que começou (crescendo e decrescendo).
inspirar; pausa; expirar em mi – mi – mi – mi – mi, procurando manter a vibração nasal.
varie o exercício anterior com as outras vogais
ma – ma - ma – ma – ma
me – me – me – me – me
mo – mo – mo – mo – mo
mu – mu – mu – mu – mu
ma – me – mi – mo – um
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SEQUÊNCIA PARA ESTUDO VOCAL
É importante alertar que todo estudo vocal deve ser acompanhado de um orientador: o professor de técnica vocal. Principalmente no início, pois é difícil num instrumento tão peculiar e interno, distinguirmos o certo do errado. Quando se trata de voz, todo cuidado é pouco. É muito fácil adquirirmos maus hábitos vocais e para "consertá-los" muitas vezes se "paga" muito caro. O abuso vocal constante, seja pelo excesso ou mau uso pode acarretar em problemascomo: rouquidão, edema, nódulo, ou até mesmo calo nas cordas vocais. Portanto, todo cuidado é pouco!
Como seqüência para um estudo diário a sugestão é que se faça na seguinte ordem:
Relaxamento e Postura
Respiração
Vocalizes (exercícios vocais)
Estudo de Repertório
Preparar o corpo para o canto é muito importante, seja para o estudo vocal ou antes de uma apresentação. É preciso observar e diferenciar o aquecimento vocal do estudo diário. No aquecimento vocal que se faz, por exemplo, nos corais antes de uma apresentação, a preocupação maior é de preparar o aparelho, aquecendo sua musculatura para realização do trabalho vocal. Já o estudo de canto é uma pesquisa. Um aprendizado que se faz através do conhecimento do funcionamento correto de seu aparelho fonador, aliado à uma técnica vocal. Portanto, deve ser feito com consciência e com muito critério e cuidado. O tempo de estudo não deve se exceder ao cansaço. É muito mais produtivo, principalmente no início, fazermos poucos minutos de exercícios, algumas vezes por dia, ao invés de estudarmos horas seguidas. A resistência da musculatura vocal vem com o tempo e à medida que exercitarmos corretamente nosso aparelho vocal. Alguns cantores têm a tendência a forçar a voz, por exemplo, em exercícios no agudo, para "acostumar" seu aparelho a emitir esses sons. Isso muitas vezes é feito pela força, causando danos graves futuros. No canto nada deve ser feito através da força e se isso acontece é porque estamos fazendo algo errado, por falta de uma respiração correta, etc. A técnica é exatamente para não forçarmos nossa voz.
Os exercícios de respiração devem ser feitos todos os dias. Assim como um atleta treina seus músculos, o cantor precisa fazê-lo de forma a manter sua musculatura abdominal e intercostal sempre preparada para o apoio vocal, deixando assim de sobrecarregar os músculos da laringe. Só então deve partir para os exercícios vocais propriamente ditos, os chamados vocalizes. Se você fizer uma boa base de relaxamento e respiração antes de cantar, vai perceber o quanto isso já é um grande auxiliar na boa emissão da voz.
O uso do espelho durante os estudos é levado em consideração porque reflete nossa imagem, reações e corrige os defeitos, mostrando as áreas que devem ser modificadas, principalmente no que se refere às posturas bucofacial e corporal.
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SAÚDE E HIGIENE VOCAL
Desde o início do século já existia uma preocupação com a Saúde e Higiene da Voz. O primeiro livro onde encontramos ouvir falar deste assunto no Brasil foi “Higiene na Arte - Estudo da Voz no Canto e na Oratória”, escrito pelo Dr. Francisco Eiras em 1901.
O Que é Higiene Vocal?
Mara Behlau, em seu livro Higiene Vocal, define o termo como sendo “algumas normas básicas que auxiliam a preservar a saúde vocal e a prevenir o aparecimento de alterações e doenças”.
A quem é dirigido este assunto?
Mara Behlau alerta em seu livro que as normas de Higiene Vocal devem ser seguidas por todos, particularmente por aqueles que se utilizam mais da voz ou que apresentam tendência a alterações vocais. Esses são chamados os profissionais da voz. Silvia Rebelo Pinho em seu livro “Manual de Higiene Vocal para Profissionais da Voz” explica que professores, atores, cantores, locutores, advogados, telefonistas dentre tantos outros são considerados profissionais da voz. Entretanto, muitas das atividades verbais utilizadas por eles são incompatíveis com a Saúde Vocal, podendo danificar os delicados tecidos da laringe e produzir um distúrbio vocal decorrente do abuso ou mau uso da voz. É alarmante o fato de quase não haver, nas universidades, uma preocupação em preparar estes profissionais para lidar com a voz no seu dia à dia, já que ela é parte fundamental como instrumento de trabalho.
Quais as conseqüências dos abusos vocais?
“Dentre as alterações orgânicas mais freqüentemente observadas nestes profissionais, encontramos os nódulos vocais (nodulações semelhantes a calos) e edemas (inchaço das pregas vocais)”. (Silvia Rebelo Pinho, “Manual de Higiene Vocal para Profissionais da Voz”)
Quem pode tratar dos problemas da voz?
O médico otorrinolaringologista é quem pode diagnosticar possíveis problemas no aparelho fonador. A partir de seu diagnóstico se necessário, o fonoaudiólogo, que trabalha juntamente com o otorrinolaringologista, fará a correção de possíveis problemas através de exercícios.
Algumas formas de abuso vocal:
Gritar sem suporte respiratório;
Falar com golpes de glote;
Tossir ou pigarrear excessivamente;
Falar em ambientes ruidosos ou abertos;
Utilizar tom grave ou agudo demais;
Falar excessivamente durante quadros gripais ou crises alérgicas;
Praticar exercícios físicos falando;
Fumar ou falar muito em ambientes de fumantes;
Utilizar álcool em excesso;
Falar abusivamente em período pré-menstrual;
Falar demasiadamente;
Rir alto;
Falar muito após ingerir grandes quantidades de aspirinas, calmantes ou diuréticos;
Discutir com freqüência;
Cantar inadequada ou abusivamente ou, ainda, participar de corais e cantar em vários estilos musicais;
Presença de refluxo gastresofágico, altamente irritante às pregas vocais (o refluxo gastresofágico é decorrente de disfunções estomacais, responsáveis pela liberação de ácido péptico, que em algumas situações pode banhar as pregas vocais, agredindo-as).
Isso é para todos?
“A voz deve ser sempre pensada em relação à saúde geral do paciente, em relação ao seu corpo todo, ao seu estado de saúde geral. Segundo Sataloff (1991), todo o sistema corporal afeta a voz; Souza Mello (1988) afirma que todo o corpo colabora na produção da voz; Pedro Bloch (1979) refere que as condições ideais para uma boa produção vocal adequada correspondem a um estado de saúde geral dentro das melhores condições possíveis. Portanto, deve-se pensar não apenas nos aspectos que prejudicam as pregas vocais, mas sim no trato vocal integrado na saúde geral de cada paciente. Desta forma, podemos pensar que, apesar de as orientações serem gerais, as necessidades, assimilações e repercussões são absolutamente singulares. Por exemplo: o gelado, geralmente, prejudica a voz, mas a quantidade e a forma deste prejuízo se manifestam diferentemente em cada pessoa, dependendo do momento e da maneira em que este abuso foi cometido. As reações do corpo humano são únicas e dependem de cada indivíduo em cada momento”.
Extraído do artigo “Saúde Vocal” de Marta Assumpção de Andrada e Silva do livro Fundamentos em Fonoaudiologia - Tratando os Distúrbios da Voz. Sílvia M. Rebelo Pinho. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1998
MITOS SOBRE A VOZ
TOMAR CONHAQUE É BOM PARA AQUECER A VOZ
O álcool relaxa a musculatura, atrapalhando o funcionamento das cordas vocais, além de trazer outros problemas. O que acontece é que quando a pessoa está nervosa, isso dificulta o seu desempenho; o álcool seria uma “tentativa” de o cantor se acalmar. Lembres-se que a segurança na hora de uma apresentação, de uma aula ou mesmo para cantar com os amigos vem com o tempo, experiência e treino.
A MANEIRA CERTA DE CANTAR É COM O DIAFRAGMA
A voz não é produzida no diafragma e sim, nas cordas vocais. O diafragma é usado no controle da saída de ar, regulando a pressão do ar que passa pelo trato vocal, poupando as cordas vocais não deixando o ar sair todo de uma vez.
NUNCA SE DEVE RESPIRAR PELA BOCA
De maneira geral, a respiração bucal é extremamente nociva às cordas vocais e todos o funcionamento do trato vocal. Por exemplo: se você, ao dormir, respira pela boca, provavelmente acorda um pouco mais rouco do que uma pessoa que tem a respiração noturna nasal (em casos de alergias ou problemas na arcada dentária é aconselhável um tratamento específico). Por outro lado, quando estamos cantando, não há tempo suficiente para que a respiração seja somente nasal; por esse motivo usamos a respiração buço-nasal, pelo fato de ser possível direcionar uma quantidade maiso de ar paradentro dos pulmões em menos tempo.
PATILHAS E SPRAYS AJUDAM A LIMPAR A VOZ
Medicamentos só devem ser usados com a indicação de um médico que o consultou e não à toa...! normalmente esses medicamentos vêm com um componente analgésico e/ou anestésico, o que pode dar certo alívio, mas não resolve o problema, com o agravante de dar uma sensação falsa de que o incômodo se foi, podendo haver, por esse motivo, o abuso vocal. Se você acha que deve fazer alguma coisa para que sua voz fique melhor, opte pelo aquecimento vocal antes de cantar, pois desta forma estará fazendo um enorme bem à sua voz.
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AS REGRAS DE OURO DA BOA VOZ
“Higiene Vocal Para o Canto Coral” - Mara Behlau & Inês Rehder. Editora REVINTER,1997
1 - Nunca cante quando não estiver em boas condições de saúde; cantar é um ato de esforço e de enorme gasto energético. Manter a saúde auxilia a produção da voz, quer seja cantada ou falada. São raros os indivíduos doentes que mantém boa emissão vocal.
2 - Use roupas confortáveis, não apertadas, principalmente na garganta, no peito, na cintura ou no abdômen.
3 - Mantenha-se sempre hidratado, bebendo, pelo menos, dois litros de água por dia; suas pregas vocais estarão em ótima condição de vibração quando sua urina estiver transparente.
4 - Aqueça e desaqueça a voz antes e depois da apresentação, respectivamente. Aqueça a voz através de exercícios de flexibilidade muscular, antes de usá-la para o canto; vocalize com variação de tons, começando pelos médios e depois indo a direção aos extremos da tessitura vocal. Após o término das apresentações ou ensaio, desaqueça a voz através de exercícios para retornar à sua voz falada natural; use bocejos, fala mais grave e mais baixo, para não ficar usando o esquema vocal cantado além do tempo do canto. Um cantor que fala do mesmo jeito que canta submete seu aparelho vocal a um desgaste muito maior.
5 - Ensaie o suficiente para ficar seguro quanto ao texto, melodia e controle de voz; assim fazendo, você vai reduzir a interferência de aspectos emocionais negativos, como o medo e ansiedade ante o público. Não ensaie por mais de uma hora sem descanso.
6 - Monitore sua voz durante os ensaios e apresentações: aprenda a ouvir sua qualidade vocal e a reconhecer suas sensações de esforço vocal e tensões desnecessárias, a fim de evitá-las.
7 - Lembre-se de que um certo nervosismo mobiliza positivamente a energia para uma apresentação mais rica e envolvente; a adrenalina é positiva e confere emoção ao canto. Além disso, o público espera o sucesso do cantor, confie nesta química!
8 - Evite as festas ruidosas, lugares enfumaçados e barulhentos, tanto antes como depois das apresentações. Antes das apresentações, os abusos em questão podem limitar seu resultado vocal; após as apresentações seu aparelho fonador foi intensivamente solicitado e está mais sensível para responder a tais agressões.
9 - Mantenha uma dieta balanceada, pois o canto é uma função especial e requer grande porte energético. Evite o excesso de gordura e alimentos condimentados, o que torna lento o processo digestivo, limita a excursão respiratória e reduz a energia disponível para o canto. Além disso, se voltar muito tarde para casa e ainda não tiver se alimentado, ingira apenas alimentos leves e de fácil digestão, para evitar o refluxo gastresofágico.
10 - Nunca se automedique; não tome remédios sugeridos por leigos, nem chás e infusões de efeito desconhecido (geralmente irritantes, ressecantes e estimulantes de refluxo gastresofágico). Também não repita receitas médicas utilizadas numa certa ocasião, mesmo que tenham dado resultado positivo. Procure ajuda especializada quando necessário.
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QUESTIONÁRIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DE VOZ
“Higiene Vocal Para o Canto Coral” - Mara Behlau & Inês Rehder. Editora REVINTER 1997
Você acha que sua voz é rouca?
Alguém já comentou que sua voz é rouca?
Você fica rouco por mais de dois dias?
Sua voz fica rouca após os ensaios?
Você tem ou já teve algum problema de voz?
Sua voz piorou depois que você começou a cantar em um grupo?
Ultimamente você tem demorado mais tempo para aquecer sua voz?
No dia seguinte a um ensaio ou a uma apresentação você fica sem voz ou com a voz rouca?
Durante o canto sua voz quebra ou some?
Você desafina ou perde o controle da emissão?
Você sente dificuldade no pianíssimo?
Você sente dificuldade no fortíssimo?
Você sente que sua voz é fraca demais para o coral?
Você sente que sua voz é forte para o coral?
Você tem dificuldade para atingir as notas agudas?
Você tem dificuldade para cantar as notas graves?
Quando você canta “sai ar” na voz?
Você tem algum desses sintomas na laringe: coceira, ardor, dor, sensação de garganta seca, sensação de queimação, sensação de aperto ou bola na garganta?
Falta ar para você terminar as frases musicais?
Ao final do dia sua voz está mais fraca?
Você canta em diversos naipes?
Você mudou de naipe recentemente?
Você procura cantar mais forte que os demais componentes do coral?
Você simplesmente articula, sem voz, certos trechos da música que não consegue cantar?
Quando você canta suas veias ou músculos do pescoço saltam?
Você sente dores na região do pescoço?
Você sente dores de cabeça após o canto?
Você consegue controlar sua emissão cantada no coral, ou não se ouve e segue a voz do grupo?
Seu coral costuma interpretar diversos estilos musicais?
Além do coral, você canta em outras situações?
Você canta durante muitas horas seguidas?
Você pigarreia constantemente?
Você tem alergia nas vias respiratórias?
Você tem resfriados freqüentes?
Você tem amidalites, laringites ou faringites freqüentes?
Você tem dificuldades digestivas, azia ou refluxo gastro-esofágico?
Você fuma?
Você se automedica quando tem problemas de voz?
Além da atividade do coral, você usa a voz de modo intensivo em outras situações?
Se você marcou:
( até 4 itens: sua voz está em boas condições. Continue cuidando de sua saúde vocal!
( mais do que 4 itens: fique atento e veja o que pode ser feito para modificar esses aspectos e se tais modificações surtem efeito positivo.
( acima de 6 itens: procure um especialista, sua saúde vocal pode estar correndo um sério risco!!!
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 MEDO DE CANTAR: POR QUÊ?
Há muitas pessoas que gostam muito de cantar nas não conseguem. De onde vem esse medo? Vários podem ser os fatores para que alguém se sinta desconfortável para cantar:
não ter desenvolvido o hábito quando criança, talvez por vir de uma família ou grupo que não tem o costume de cantar.
Ter pessoas dizendo que você não sabe cantar; com o tempo, acaba fazendo dessa afirmação sua realidade.
A insegurança causada pela mudança de voz quando chega a puberdade e pelo fato de querer ser aceito pelo grupo; por isso ficamos receosos de usar a nossa voz cantada.
Cantar junto com uma gravação. Muitas pessoas ligam o som e soltam a voz, seja em casa, no carro, no trabalho, onde estiverem, sem a menor vergonha.o perigo é quando este é o único momento em que essa pessoa canta. Se este for o seu caso, você corre o risco de ficar condicionado a ouvir a sua junto com a do cantor, não tendo a noção do som da sua própria voz. Lembre-se: a SUA percepção da voz é essencial para o desenvolvimento do canto.
Alguns equipamentos de som vêm com a tecla “videokê”. Se você prestar atenção, perceberá que a voz do cantor não some completamente, mas fica ao fundo com um efeito de um aparelho eletrônico (reverber) que faz o som se espalhar. Se você tem dificuldade com o ritmo, as entradas das músicas, o karaokê ou cantar com o som mecânico não poderão dar-lhe a verdadeira dimensão da sua voz, e você terá a falsa impressão de que está entrando no tempo certo, quando, na verdade, ouve a voz do cantor e entre logo em seguida. Este hábito pode deixar vocÊ ainda mais inseguro quando for cantar sozinho...
Algumas pessoas pensam que cantar bem ou mal é algo já definido antes de nascer. Mas, graças a uma correta orientação,aliada à sua própria determinação e experiência, é possível aprender e desenvolver as habilidades necessárias para o canto. Se você estiver disposto a conhecer a sua voz e se dedicar, você começará a se sentir mais seguro e isso certamente irá se refletir na sua voz.
Portanto, não há razão para não cantar! ♫
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