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PRODUÇÃO, SELEÇAO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE DA RAÇA NELORE (PARENTE R P P 2015)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARAGUAÍNA 
ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA 
 
 
 
 
 
RANNIERE RODRIGUES PEREIRA PARENTE 
 
 
 
 
 
 
PRODUÇÃO, SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE 
CORTE DA RAÇA NELORE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARAGUAÍNA-TO 
2015 
 
 
RANNIERE RODRIGUES PEREIRA PARENTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRODUÇÃO, SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE DA 
RAÇA NELORE 
 
 
 
 
 
Relatório apresentado ao curso de 
Zootecnia, como requisito parcial para 
obtenção do grau de Bacharel em 
 Zootecnia. 
 
Orientador: Prof. DSc. José Neuman 
 Miranda Neiva 
Supervisor: Ricardo José de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARAGUAÍNA 
2015
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parente, Ranniere Rodrigues Pereira 
 Produção, seleção e melhoramento de bovinos de 
corte da raça Nelore./ Ranniere Rodrigues Pereira 
Parente – Araguaína, 2015. 
112 f.: il 
 Relatório de Estágio (Graduação em Zootecnia) – 
Universidade Federal do Tocantins, Campus de 
Araguaína, 2015. 
1. Gado de corte 2. Pasto 3. Genética 4. Bem-estar 5. 
Produtividade I. Título 
 
RANNIERE RODRIGUES PEREIRA PARENTE 
PRODUÇÃO, SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE DA 
RAÇA NELORE 
 
 
Relatório apresentado ao curso de 
Zootecnia, como requisito parcial para 
obtenção do grau de Bacharel em 
Zootecnia. 
 
Orientador: Prof. Dr. José Neuman 
 Miranda Neiva 
Supervisor: Ricardo José de Andrade 
 
 
 
 
Aprovado em ____ / ____ / ____ 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_____________________________________________ 
Prof. DSc. José Neuman Miranda Neiva 
Orientador 
Universidade Federal do Tocantins 
 
 
_____________________________________________ 
Ricardo José de Andrade 
Zootecnista Supervisor 
 
_____________________________________________ 
DSc. Odislei Fagner Ribeiro Cunha 
Avaliador 
UFT 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha família, base firme que me 
sustenta em toda minha vida e aos 
meus mestres que guiaram nos 
caminhos do conhecimento. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 A Deus, pela vida, saúde, capacidade de trabalho e por guiar meus passos. 
 Ao meu pai Joaquim Parente, meu ídolo, minha referência em caráter meu 
amigo e companheiro e a minha mãe Vandete Lúcia, minha fonte de ternura e 
aconchego. Meus amados pais, lhes serei eternamente grato pela educação e amor 
que sempre dedicaram a mim. 
 Aos meus irmãos Ricciere e Rayssania, por todos os momentos que já 
compartilhamos desde a infância, por todas as alegrias que já me proporcionaram e 
pelo apoio durante a caminhada acadêmica. 
 A todos os meus outros familiares, que independente do grau de parentesco, 
contribuíram com uma palavra de incentivo, com conselhos, com recursos 
financeiros, enfim, me serviram de base para que seguisse firme em busca desse 
objetivo. Essa vitória é nossa. 
 Aos mestres e companheiros de sala de aula da antiga EAFA-TO, onde iniciei 
minha preparação para me tornar um profissional do campo e onde conheci 
pessoas, vivi experiências e obtive conhecimentos dos quais jamais me esquecerei. 
Grande parte do pouco sucesso que já conquistei se deve à tudo que vocês me 
proporcionaram na vida de Agriculino durante o curso de Técnico em Agropecuária. 
 A Universidade Federal do Tocantins, pedra onde construí minha vida 
acadêmica na profissão dos meus sonhos, a Zootecnia. Especialmente pelos 
professores dedicados à nobre tarefa de formar profissionais e cidadãos. 
 Aos meus amigos de faculdade, em especial Odimar Feitosa, Syandra Souza, 
Rhaiza Oliveira, Giulliane Marques e Bruna Gomes com quem convivi durante toda a 
graduação, compartilhando conhecimentos, alegrias e tristezas, trabalhando etc., 
vocês se tornaram minha segunda família. Também aos demais colegas da “Turma 
Sola da Bota”, com os quais tive a satisfação de batalhar pelo tão sonhado diploma 
de Zootecnia, meu muito obrigado. 
 A todos os alunos dos cursos de Zootecnia e Medicina Veterinária da 
EMVZ/UFT, e também do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal Tropical, 
 
por todos os momentos vividos, pelas amizades construídas, pelos projetos 
desenvolvidos. 
 Ao grupo de iniciação científica coordenado pelos professores, José Neuman, 
João Restle, Ana Cláudia, e Fabrícia Rocha onde eu tive o prazer de conviver e 
participar como bolsista de iniciação cientifica, obrigado pelo conhecimento adquirido 
e pela amizade construída. 
 Ao meu orientador, professor Dr. José Neuman Miranda Neiva, pela 
orientação, dedicação, ensinamento e convivência desde o segundo período da 
graduação. 
 Aos médicos veterinários André Carreira (Bos Acessoria e Pecuária) e João 
Batista Rezende (ABCZ) pela oportunidade concedida para trabalhar em parceria e 
por contribuir com este estágio. 
 Ao Sr. Epaminondas de Andrade, proprietário da Fazenda Vale do Boi, pela 
oportunidade concedida para a realização do estágio e por transmitir 
constantemente para mim um pouco da sua filosofia de vida que é fazer pecuária de 
gado de corte com eficiência e competência. 
 Ao meu supervisor de estágio, Sr. Ricardo José de Andrade, zootecnista da 
mais alta qualidade, que me proporcionou uma experiência de trabalho fantástica 
durante o estágio. Obrigado pelos ensinamentos, pelas correções e cobranças para 
que eu evoluísse sempre. Nunca me esquecerei que “ficar atento” “faz parte do 
processo”. 
 Aos funcionários da Fazenda Vale do Boi, pela convivência e contribuição 
para o meu estágio. Agradecimento especial a “mestre” Rubens e Chledio Cardoso 
pela gentileza com que me receberam dando suporte para a realização do estágio. 
A todos meus sinceros agradecimentos. 
 Obrigado! 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “O justo cuida das necessidades do seu gado” 
Salomão (Provérbios 12:10) 
 
 
RESUMO 
 
 
O estágio curricular supervisionado foi realizado na Fazenda Vale do Boi no período 
de 03 de novembro de 2014 a 09 de janeiro de 2015, totalizando 384 horas de 
atividades. Durante o estágio foram acompanhadas e realizadas diversas atividades 
relacionadas à produção, seleção e melhoramento genético de bovinos de corte da 
raça Nelore da Fazenda Vale do Boi que trabalha com ciclo completo (cria, recria e 
terminação). Foram acompanhadas e realizadas atividades como: seleção de 
reprodutores e matrizes, acasalamento dirigido, detecção de cio e inseminação 
artificial, sincronização de cio para inseminação artificial em tempo fixo (IATF), 
diagnóstico de prenhez, manejo de bezerros recém-nascidos, pesagens, 
identificação, controle econômico e zootécnico, manejo do pastejo, suplementação 
alimentar, formação e manejo de pastagens, vacinação, controle de endo e 
ectoparasitas, bem como aspectos relacionados ao bem estar animal e recursos 
humanos voltados a produção animal sustentável. A Fazenda Vale do Boi possui um 
sistema de produção e melhoramento genético eficiente devido à utilização racional 
de tecnologias e tem potencial, devido à capacidade gerencial de seus gestores, 
para atingir níveis de produtividade e retorno econômico superiores aos que atinge 
atualmente. Ademais, a propriedade tem um potencial significativo para contribuir 
com a formação de futuros zootecnistas. No estágio curricular supervisionado foi 
possível colocar em prática parte dos conhecimentosteóricos adquiridos durante a 
graduação. Entretanto, ainda encontraram-se muitas dificuldades. As práticas de 
gerenciamento causaram dúvidas sendo difícil reunir os conhecimentos das 
disciplinas cursadas para solucionar os problemas. 
 
. 
Palavras-chaves: bem-estar, gado de corte, genética , pasto, produtividade 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1. Fluxograma de uma propriedade dedicada à cria, recria e engorda de 
 bovinos de corte........................................................................................18 
Figura 2. Curva de crescimento de diferentes biótipos bovinos................................30 
Figura 3. Apresentação esquemática das diferentes proporções avaliadas para 
atribuir as notas de Estrutura, Precocidade, e Musculosidade .................................36 
Figura 4. Esquema ilustrativo do espaço individual e a distância de fuga nos 
 bovinos .................................................................................................42 
Figura 5. Entendendo a zona de fuga e os ângulos de visão dos bovinos durante o 
 manejo.....................................................................................................45 
Figura 6. Mapa de localização da fazenda................................................................46 
Figura 7. Interpretação dos resultados da análise de solo. ......................................48 
Figura 8. Controle pluviométrico da Fazenda Vale do Boi........................................49 
Figura 9. Participação percentual de gramíneas nas pastagens da fazenda Vale do 
 Boi em 2014..............................................................................................50 
Figura 10. Rebanho bovino da Fazenda Vale do Boi por categoria (dezembro de 
 2014).......................................................................................................51 
Figura 11. Gráficos de tendência genética do rebanho da fazenda Vale do Boi e 
 nacional.....................................................................................................53 
Figura 12. Realização de acasalamentos dirigidos...................................................58 
Figura 13. Rufiões em trabalho de detecção de cio..................................................59 
Figura 14. Registro dos dados da inseminação........................................................60 
Figura 15. Esquema ilustrativo do protocolo de IATF adotado na fazenda...............62 
Figura 16. Higienização do aplicador (A) e colocação do implante de progesterona 
 (B) para inserção na matriz (C)...............................................................63 
Figura 17. Imagens ultrassonográficas de vacas após 30 dias de inseminação......64 
Figura 18. Esquema ilustrativo do manejo das matrizes submetidas à IATF na 
 estação de monta principal adotada na fazenda................................65 
Figura 19. Acompanhamento de parto no pasto maternidade..................................66 
Figura 20. Tatuando (A), aplicando a tinta (B) e esfregando (C) para penetração nos 
furos............................................................................................................................67 
Figura 21. Pesando bezerro recém nascido..............................................................68 
 
Figura 22. Armazenando suplemento próximo ao cocho (A) e fornecendo 
 suplementação alimentar para um lote de tourinhos (B)....................71 
Figura 23. Fornecimento de água de qualidade aos animais....................................72 
Figura 24. Manejo sanitário contra ectoparasitas......................................................73 
Figura 25. Sequência das atividades desenvolvidas no controle zootécnico............79 
Figura 26. Pesos médios às idades-padrão dos animais da raça Nelore avaliados 
 pelo PMGZ e dos animais do rebanho da fazenda.................................87 
Figura 27. Gráfico de distribuição dos animais pesados durante o estágio, de acordo 
 com a categoria de classificação............................................................88 
Figura 28. Gráfico de desempenho dos touros para o peso calculado aos 205 dias 
 de sua progênie.......................................................................................91 
Figura 29. Uso da bandeira para condução e apartação de animais........................94 
Figura 30. Semeadura e cobertura das sementes....................................................96 
Figura 31. Plântulas de B. humidicola em diferentes estágios de desenvolvimento.96 
Figura 32. Aplicação de fertilizantes em cobertura....................................................98 
Figura 33. Pulverização de herbicida para controle de plantas invasoras................99 
Figura 34. Detecção de lagartas e ninfas de cigarrinhas das pastagens................100 
Figura 35. Mapa mental do fluxo de informações para formação do controle 
 zootécnico e econômico da Fazenda Vale do boi...............................102 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1. Rebanho bovino brasileiro (em milhares de cabeças)...............................20 
Tabela 2. Abate mundial de gado bovino (milhares de cabeças)..............................21 
Tabela 3. Produção de carne bovina no Brasil (tonelada equivalente carcaça*)......21 
Tabela 4. Médias e desvios-padrão dos pesos calculados à fase materna (PM), à 
 desmama (PD) e ao sobreano (PS), e do ganho em peso pós desmama 
 (GPD)........................................................................................................39 
Tabela 5. Médias e desvios-padrão do perímetro escrotal ao sobreano (PES) e da 
 idade ao primeiro parto (IPP)..................................................................39 
Tabela 6. Médias desvios-padrão de estrutura corporal (E), precocidade (P) e 
 musculosidade (M)..................................................................................40 
Tabela 7. Desvios-padrão e medianas das DEPs.....................................................40 
Tabela 8. Herdabilidade aditivas diretas (h²d) e maternas (h²m)...............................41 
Tabela 9. Resultado da análise de solo de um piquete da Fazenda Vale do Boi....48 
Tabela 10. Resumo quantificado das atividades realizadas durante o Estágio 
 Curricular Supervisionado realizado na Fazenda Vale do Boi..............54 
Tabela 11. Níveis de garantia dos produtos utilizados para a suplementação das 
 categorias de recria e terminação Fazenda Vale do Boi.........................73 
Tabela 12. Níveis de garantia dos produtos utilizados para a suplementação das 
 matrizes da Fazenda Vale do Boi...........................................................74 
Tabela 13. Médias e desvios-padrão para os parâmetros de desempenho produtivo 
 em função da idade-padrão e sexo.........................................................86 
Tabela 14. Médias e desvios para os parâmetros de desempenho reprodutivo e 
 produtivo das matrizes avaliadas durante o estágio...............................90 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
°C – Graus Celsius 
ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu 
AC – Acurácia 
ACNB – Associação dos Criadores de Nelore do Brasil 
Al – Alumínio 
ASBIA – Associação Brasileira de Inseminação Artificial 
B – Boro 
BEA – Bem-estar Animal 
BHT – Hidroxitolueno butilado 
BLUP – Best Linear Unbiased Predictor 
Ca – Cálcio 
CDP – Controle de Desenvolvimento Ponderal 
CE – Circunferência Escrotal 
CLT – Consolidação das leis do Trabalho 
CTC – Capacidade de troca catiônica 
Cu – Cobre 
DEP – Diferença esperada na progênie 
DP – Desvio-padrão 
DPP - dias para o partoE – Estrutura corporal 
eCG – Gonadotrofina Coriônica Equina 
ECS – Estágio Curricular Supervisionado 
ER – Eficiência Reprodutiva 
F – Coeficiente de endogamia 
Fe – Ferro 
g – Gramas 
 
GABA – Ácido gama-aminobutírico 
GC – Grupos de contemporâneos 
GM - Grupo de manejo 
GMD = ganho de peso médio diário 
GnRH – Hormônio Liberador de Gonadotrofina 
GPD – ganho de peso diário 
GPD – Ganho de peso pós-desmama 
H – Hidrogênio 
h²d – Herdabilidade direta 
h²m – Herdabilidade materna 
ha – Hectare 
HMMP – Habilidade materna mais provável 
IA – Inseminação artificial 
IATF – Inseminação Artificial em Tempo Fixo 
iBACZ – Índice ABCZ 
IDUP – idade em dias na data do último parto 
IEP – intervalo entre partos 
IPGCC - índice de peso calculado no grupo de contemporâneos 
IPP – Idade ao primeiro parto 
IPT = índice de produtividade total. 
K – Potássio 
kg – Kilogramas 
LA – Livro Aberto 
LH – Hormônio Luteinizante 
M – Musculosidade 
mcg – Microgramas 
Mg – Manésio 
mg – Miligramas 
MHz – Megahertz 
 
ml – Mililitros 
mm – Milímetros 
Mn – Manganês 
MO – Matéria Orgânica 
MS – Matéria Seca 
N – Nitrogênio 
Na – Sódio 
NDE – número de desmames efetivos 
P – Fósforo 
P – Precocidade 
P4 – Progesterona 
PC – Peso Calculado 
PC – Peso Calculado 
PC205 – Peso calculado aos 205 dias 
PC365 – Peso calculado aos 365 dias 
PC550 – Peso calculado aos 550 dias 
PD-ED – Peso à desmama - efeito direto 
PES – Perímetro escrotal ao sobreano 
pH – Potencial Hidrogeniônico 
PM-EM – Peso à fase materna - efeito materno 
PMGZ – Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos 
PN – Peso ao Nascimento 
PNAT - Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens 
PO – Puro de Origem 
PRS – Precocidade-rusticidade-sobrevivência 
PS-ED – Peso ao sobreano - efeito diret 
PV – Peso Vivo 
R – repetibilidade 
RA – regime alimentar 
 
RC – rendimento de carcaça 
rg – correlação genética 
RGD – Registro Genealógico Definitivo 
RGN – Registro Genealógico de Nascimento 
S – Enxofre 
SB – Soma de Bases 
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
SPV – Sementes puras viáveis 
SRGRZ – Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas 
TF – Taxa de fertilidade 
TMD – Total materno do peso à desmama 
TMM – Total materno do peso à fase materna: 
TOP% – Percentil 
UA – Unidade Animal 
UFT – Universidade Federal do Tocantins 
UI – Unidades internacionais 
UNESP – Universidade Estadual Paulista 
V – Saturação por bases 
VC – Valor Cultural 
Zn – Zinco 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................17 
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................20 
2.1 ESTATÍSTICAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE..........................................20 
2.2 ASPECTOS IMPORTANTES DA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM 
PASTAGENS..............................................................................................................22 
2.3 MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE................................26 
2.4 BEM ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM 
PASTAGENS..............................................................................................................41 
3. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO...................................................46 
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..........................................................................54 
4.1 MANEJO REPRODUTIVO...................................................................................55 
4.2 MANEJO NUTRICIONAL.....................................................................................68 
4.3 MANEJO SANITÁRIO..........................................................................................75 
4.4 CONTROLE ZOOTÉCNICO E MELHORAMENTO GENÉTICO..........................78 
4.5 BEM-ESTAR E MANEJO RACIONAL DE BOVINOS..........................................92 
4.6 FORMAÇÃO E MANEJO DE PASTAGENS........................................................94 
4.7 CONTROLE ECONÔMICO................................................................................100 
4.8 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS..............................................................102 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................105 
6. REFERÊNCIAS....................................................................................................106 
 
 
17 
 
1. INTRODUÇÃO 
 A pecuária de corte, graças a sua enorme flexibilidade se distribui em 
praticamente todo o território nacional. Os bovinos de corte têm ao longo dos anos 
se estabelecido nos mais variados ecossistemas do mundo e no Brasil não tem sido 
diferente (NEIVA, 2003). 
 Os sistemas de produção a pasto existem em todo o país e predominam na 
maioria das regiões. Nesse caso, a maioria dos solos é ácida e de baixa a média 
fertilidade, tendo as forrageiras originárias da África, das espécies Brachiaria spp. e 
Panicum spp. apresentado excelente adaptação e crescimento sob as condições 
Brasileiras (FERRAZ e ELER, 2010). 
 A raça Nelore, originária da Índia, tem como principal característica a 
rusticidade, apresentando alta adaptabilidade às condições tropicais que 
predominam no Brasil. Com isso, cerca de 80% dos bovinos de corte criados em 
sistemas de produção brasileiros são da raça Nelore ou oriundos de cruzamentos 
com a mesma (JOSAHKIAN et al., 2003). A raça tem expressiva participação no 
mercado nacional de comercialização de sêmen, sendo comercializadas 2,9 milhões 
de doses de sêmen (ASBIA, 2013), o que representou 38,16% de todo o sêmen 
comercializado no país. 
 O trabalho de seleção e melhoramento aplicado à raça Nelore tem 
incrementado características produtivas que aliadas à rusticidade compõem um 
animal excelente para produção de carne, principalmente em sistemas de produção 
a pasto. Porém, características como precocidade sexual e de acabamento ainda 
precisam ser melhoradas, pois como utilizou-se muito o peso como critério de 
seleção os animais acabaram ficando mais tardios, especialmente os puros de 
origem. Atualmente, os trabalhos de seleção e melhoramento têm dado enfoque 
também as características de precocidade. No Brasil a entidade oficial que 
representa a raça Nelore é a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). 
 Até meados dos anos 80, o setor de bovinocultura de corte apresentava um 
cenário extrativista lucrativo, e nos dias de hoje mudou para um cenário competitivo, 
com menores taxas de retorno do capital investido. Dessa maneira, tornou-se 
imperativa para os produtores de carne bovina a busca de tecnologias e alternativas 
que permitam sua sobrevivência e lucratividade. Nesse novo cenário, a fazenda 
18 
 
passa a ser vista como uma empresa que deve ser administrada com foco sempre 
nos resultados eficientes do ponto de vista bioeconômico e sustentável. Neste 
panorama o emprego de mão-de-obra qualificada, ou seja, a atuação de 
profissionais como o Zootecnista é fundamental para a devida orientação ao 
bovinocultor que, evidentemente, deseja sucesso em seu empreendimento 
(OLIVEIRA et al., 2008). 
 Por muito tempo, entendeu-se a atuação do Zootecnista no sistema de 
produção de gado de corte somente confinada às fases descritas na Figura 1. Nela 
está a representação gráfica de uma propriedade clássica de bovinocultura de corte, 
na qual se trabalha com todas as categorias de produção. Contudo, o Zootecnista do 
século 21 tem formação,habilidade e competência para trabalhar tanto para 
fornecer condições (insumos, planejamento, ensino, pesquisa e desenvolvimento, 
etc.) para a atividade se iniciar, quanto durante a fase produtiva (com inclusão do 
bem estar animal), quanto em uma fase posterior relacionada, principalmente, com o 
escoamento e comercialização dos produtos in vivo, in natura e, ou, transformados 
(embalados, processados etc.) gerados na atividade. 
 
Figura 1. Fluxograma de uma propriedade dedicada à cria, recria e engorda de bovinos de corte. 
 Fonte: Oliveira et al., (2008). 
 O estágio curricular constitui um momento de obtenção e aprimoramento de 
conhecimentos e de habilidades essenciais ao exercício do profissional da 
zootecnia, que tem como função integrar e confrontar teoria e prática; inserir o aluno 
19 
 
no mercado de trabalho para conhecimento da realidade; estimular a solução de 
problemas técnicos reais; proporcionar segurança ao aluno no início de suas 
atividades profissionais e agregar valores junto ao processo de avaliação 
institucional, a partir do resultado de desempenho do aluno no mercado de trabalho. 
 O objetivo do presente relatório foi a descrição, discutida com apoio 
bibliográfico, das atividades acompanhadas e realizadas durante o estágio curricular 
supervisionado na área de bovinocultura de corte, realizado na Fazenda Vale do Boi. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
2. REVISÃO DE LITERATURA 
 
2.1 ESTATÍSTICAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE 
 O rebanho brasileiro aumentou em aproximadamente 26,7 milhões de 
cabeças entre 2007 e 2013, atingindo um total de 194,8 milhões de cabeças (tabela 
6). Os crescimentos expressivos ocorreram nas regiões Norte e Nordeste. A região 
Norte que apresentava 32,2 milhões de cabeças em 2007, em 2013 apresenta 41,4 
milhões de cabeças. O estado do Tocantins, cujo rebanho ultrapassou os 7 milhões 
de cabeças em 2013, contribuiu para o aumento do efetivo da região Norte com 1,58 
milhões de cabeças, o que representa 17,33% do crescimento (tabela 6). 
 
Tabela 6. Rebanho bovino brasileiro (em milhares de cabeças). 
(Regiões) 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014* 
NORTE 32.266 33.647 35.606 36.496 38.495 40.164 41.417 42.386 
RO 8.710 8.978 9.363 9.548 10.109 10.513 10.878 11.356 
AC 1.912 2.047 2.214 2.329 2.521 2.717 2.822 2.923 
AM 1.367 1.493 1.627 1.623 1.670 1.693 1.729 1.752 
RR 602 636 675 681 755 802 826 843 
PA 13.438 14.073 15.036 15.361 16.166 16.892 17.319 17.477 
AP 63 66 70 71 77 80 82 83 
TO 6.175 6.354 6.622 6.883 7.199 7.467 7.761 7.952 
NORDESTE 26.564 27.126 27.861 27.788 29.774 31.014 32.062 33.073 
SUDESTE 34.115 33.669 33.767 33.182 33.430 33.587 34.291 34.355 
SUL 23.926 24.165 24.575 24.720 24.850 25.241 25.675 25.639 
C.OESTE 51.459 51.290 51.459 51.904 55.695 58.541 61.399 63.242 
BRASIL 168.330 169.897 173.269 174.091 182.244 188.548 194.844 198.696 
Fonte: Adaptado de ANUALPEC, 2014. *Projeção; 
 
 Já o número de animais abatidos no Brasil decresceu de 42,3 milhões de 
cabeças em 2007 para mais de 41 milhões de cabeças em 2013 (tabela 7). Quanto 
à produção de carne observou-se aumento, tendo sido produzidas 7,43 milhões de 
equivalentes carcaças em 2007 e 8,3 milhões em 2013 (tabela 8). Isto pode ser 
indicativo de melhoria na eficiência da pecuária de corte nacional. 
21 
 
Tabela 7. Abate mundial de gado bovino (milhares de cabeças). 
Países 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014* 
Brasil 42.345 40.438 39.466 39.400 39.100 40.205 41.060 42.142 
China 43.595 44.461 42.382 41.170 40.850 40.680 41.250 42.000 
Índia 23.750 25.600 25.500 28.710 32.800 35.225 37.825 40.000 
Estados Unidos 35.209 35.508 34.468 35.324 35.076 33.844 33.205 31.267 
União Européia 29.249 29.221 28.712 28.748 28.541 27.384 27.300 27.600 
Argentina 15.200 14.800 16.100 11.900 11.060 11.600 12.500 12.800 
Austrália 8.900 8.652 8.411 8.273 7.943 7.989 8.600 8.400 
Rússia 7.494 7.653 7.337 7.221 6.720 6.840 6.890 6.770 
México 5.690 5.815 5.897 6.050 6.347 6.375 6.200 6.250 
Colômbia 3.982 4.181 4.375 4.200 4.300 4.325 4.300 4.300 
Nova Zelândia 3.562 3.907 3.825 3.991 3.939 3.957 4.164 4.110 
Canadá 3.820 3.849 3.705 3.746 3.391 3.132 3.000 2.990 
Ucrânia 3.715 3.256 2.944 2.906 2.591 2.336 2.416 2.510 
Uruguai 2.300 2.250 2.325 2.280 2.096 2.150 2.230 2.380 
Venezuela 1.615 1.350 1.275 1.560 1.570 1.665 1.575 1.570 
Outros 99.117 96.805 90.357 85.291 84.552 85.454 87.155 88.907 
TOTAL 243.503 242.847 235.231 230.200 230.926 232.265 237.360 239.854 
Fonte: Adaptado de ANUALPEC, 2014. *Projeção; 
 
Tabela 8. Produção de carne bovina no Brasil (tonelada equivalente carcaça*) 
Regiões 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014** 
NORTE 1.148.324 1.220.705 1.306.603 1.328.566 1.493.450 1.531.395 1.526.534 
RO 339.652 362.934 395.031 384.751 424.294 443.999 455.400 
AC 53.815 57.563 59.904 73.333 80.360 85.540 82.249 
AM 66.350 77.054 95.875 88.277 93.701 100.703 102.229 
RR 18.275 19.822 24.393 23.356 27.009 26.857 26.765 
PA 451.591 471.982 491.865 489.083 560.611 562.256 547.780 
AP 4.141 4.152 4.332 5.098 5.457 4.931 3.399 
TO 214.500 227.198 235.203 264.668 302.018 307.110 308.711 
NORDESTE 1.038.400 1.093.021 1.223.774 1.106.852 1.211.591 1.212.532 1.246.758 
SUDESTE 1.945.886 1.894.110 1.900.854 1.707.844 1.706.724 1.761.165 1.769.744 
SUL 1.204.708 1.237.681 1.225.902 1.209.786 1.252.847 1.287.998 1.252.416 
C.OESTE 2.093.644 2.172.258 2.120.373 2.073.488 2.350.514 2.529.626 2.725.199 
BRASIL 7.430.962 7.617.775 7.777.505 7.426.537 8.015.125 8.322.717 8.520.651 
* Estimativa referente aos abates de cada estado **Projeção; 
Fonte: Adaptado de ANUALPEC, 2014. 
 
22 
 
2.2 ASPECTOS IMPORTANTES DA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM 
PASTAGENS 
 No Brasil, os sistemas de produção de carne bovina caracterizam-se pela 
dependência quase que exclusiva de pastagens, o que apesar de fornecer vantagem 
comparativa no mercado internacional, uma vez que viabiliza custos de produção 
relativamente mais baixos e possibilita a capitalização de uma produção integrada 
de forma harmônica com o ambiente, requer maior inversão em manejo do rebanho 
e das pastagens e uso mais intenso de tecnologias. Isso porque ocorre o uso 
exclusivo dessa fonte de alimentação tem, nesse momento em que as 
competitividades por preço e por qualidade de produto impõem mudanças no setor, 
apresentando-se bioeconomicamente inviável em muitas situações. Isso é agravado, 
principalmente pela forma como essas pastagens são manejadas (EUCLIDES 
FILHO e EUCLIDES, 2010). 
 Ainda de acordo com esses autores, as conquistas observadas nesse campo 
são decorrentes da combinação do lançamento de cultivares adaptadas e muito 
mais produtivas com a melhor compreensão das relações solo-planta-animal, 
resultando na melhoria do manejo das pastagens. 
2.2.1 Fatores que influenciam na produção forrageira 
 A produção dos animais a pasto é influenciada pela massa e pela qualidade 
da forragem que, por sua vez, são influenciadas pela espécie ou cultivar, pelas 
propriedades químicas e físicas do solo, pelo nível de utilização de fertilizantes, 
pelas condições climáticas, pela idade fisiológica e pelo manejo a que a forragem é 
submetida. A eficiência da utilização de forragens só é alcançada aliando-se o 
montante dispnível e estrutura da pastagem (ALEXANDRINO, et al., 2013), ou seja, 
pelo entendimento desses fatores e pela sua manipulação adequada, de modo a 
possibilitar tomadas de decisões objetivas de manejo de maneira a maximizar a 
produção animal. Assim, o conhecimento do potencial produtivo, em termos 
quantitativos e qualitativos das diversas espécies forrageiras,o estabelecimento do 
manejo adequado para cada uma delas e a busca de novas alternativas de 
utilização constituíram-se nos principais pilares geradores das novas tecnologias 
responsáveis por incrementos significativos na produção de bovinos em pastagens 
(EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 2010). 
23 
 
 
2.2.2 Sazonalidade da produção forrageira tropical 
 O que se busca em uma forrageira é a capacidade de atender, pelo maior 
período possível, às demandas do animais. No entanto, se por um lado vaiam em 
qualidade (NUSSIO e SCHMIDT, 2010), por outro, os requerimentos nutricionais do 
animal também não são constantes durante sua vida, ou mesmo no decorrer do ano. 
Estes variam em razão de diversos fatores, como idade, estado fisiológico, sexo, 
grupo genético, peso e escore corporais (VALADARES FILHO e CHIZZOTTI, 2010). 
Assim, considerando-se sistemas de produção nos quais se buscam índices 
elevados de eficiência, somente em situações particulares, e por pouco tempo, 
essas forrageiras seriam capazes de possibilitar que animais de bom potencial 
genético tivessem suas exigências atendidas (CORRÊA et al., 2003; THIAGO et al., 
2000; EUCLIDES et al., 2008). 
 A estacionalidade de produção de forragem, comum nas pastagens, 
especialmente naquelas de regiões tropicais, talvez seja uma das maiores limitações 
da sustentabilidade e da produção ao longo do ano. É caracterizada por marcante 
redução na produção de forragem e, consequentemente, na produção animal 
durante o período seco do ano (CORRÊA et al., 2003; THIAGO et al., 2000; 
EUCLIDES et al., 2008). A intensificação da produção, eliminando ou diminuindo seu 
efeito, tem sido um desafio. Dentre as tecnologias que se dispõem para resolver 
para resolver o problema, podem-se citar: o manejo do pasto em sua capacidade de 
suporte (SILVA, 2010); o uso de irrigação nas condições em que essa prática for 
recomendável (MENDONÇA et al. 2010); o uso de alimentação suplementar (REIS 
et al., 2010; SANTOS e PEDROSO, 2010; BERCHIELLI e BERTIPAGLIA, 2010) e 
as combinações dessas estratégias. 
 
2.2.3 Principais gramíneas utilizadas e importância da diversificação 
 A análise dos dados de potencial produtivo, apresentados na literatura para 
os capins mais utilizados no Brasil, permite que esses sejam classificados em três 
grupos distintos: o de alto potencial, composto por gramíneas do gênero Panicum 
(Tanzânia, Mombaça, Tobiatã, Vencedor), Cynodon (Estrela, Coast-cross e Tiftons) 
24 
 
e Pennisetum (Cameroon, Napier e Anão); o de médio potencial, formado pelas 
gramíneas do gênero Brachiaria (ruziziensis, decumbens, Marandu, Xaraés e Piatã) 
e Andropogon (planaltina e baeti); e o de baixo potencial, constituído pelas 
gramíneas do gênero Brachiaria (humidicola, tupi e dictyoneura cv. lanero). Vale 
ressaltar, no entanto, que os capins de maior potencial são mais exigentes em 
fertilidade e em manejo. Além disso, essas plantas têm plasticidade fenotípica 
diferente de maneira a assegurar adaptação ao processo de colheita, gerando, 
dessa forma, flexibilidades de uso diferenciados(EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 
2010). 
 Assim, além dos efeitos positivos de se evitar a monocultura, o planejamento 
forrageiro, que consiste em adequar a produção de forragem às exigências dos 
animais ao longo do ano, pode ser facilitado pelo uso de variedades diferentes de 
gramíneas. Segundo Euclides Filho e Euclides (2010), a diversificação de pastagens 
pode ser uma maneira simples de mudar os níveis de produção da fazenda, uma 
vez que a maioria das propriedades possui áreas que, por suas características, são 
indicadas para diferentes espécies forrageiras. 
 Recomenda-se que aquelas áreas que apresentam alta produtividade tenham 
seu uso concentrado na época de crescimento forrageiro mais intensivo, quer seja 
pelo pastejo direto, quer pela conservação de forragem (NUSSIO e SCHMIDT, 
2010), para permitir melhor aproveitamento da forragem produzida. Por outro lado, 
as forragerias de potencial produtivo menor poderiam ser utilizadas 
estrategicamente durante as águas, para ajustar o manejo das áreas mais 
produtivas, e ainda aquelas apropriadas para diferimento (SANTOS e 
CAVALCANTE, 2010), poderiam ser vedadas no fim do verão para serem 
pastejadas durante a seca. 
2.2.4 Estratégias de utilização racional das pastagens 
 Embora o pasto colhido seja a fonte mais barata de alimento para os 
ruminantes, é importante destacar que, na maioria das regiões do Brasil, esse 
alimento somente se encontra adequado ao bom desempenho animal, em 
quantidade e qualidade nutricional, por cerca de seis meses do ano. Como 
consequência, torna-se difícil projetar sistemas sustentáveis apenas baseados em 
pastejo da forragem acumulada durante esse período. Dessa maneira, a 
25 
 
conservação do excedente de pasto ou uso da suplementação concentrada devem 
fazer parte do sistema (EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 2010). 
 Isso implica em manipulação da taxa de lotação nas áreas pastejadas, 
aumentando, assim, a flexibilidade de controle do pasto e do processo de pastejo. A 
quantidade de forragem para o pastejo e para conservação depende da natureza do 
empreendimento (CORRÊA et al., 2001; EUCLIDES et al., 2003). 
 O diferimento de pastagens pode se conduzido dentro do sistema intensivo, 
como evidenciado por Euclides et al. (2003). Outra alternativa que pode ser adotada 
para manter as taxas de lotação mais elevadas e mais estáveis, durante o ano, é a 
conservação de forragem produzida durante o verão. Como exemplo, pode-se citar o 
sistema integrado de pastejo com o uso de silagem utilizado por Corrêa et al. (2001). 
Uma alternativa utilizada com sucesso na região Amazônica é o sistema integrado 
de pastagens, utilizando-se o grande potencial produtivo das forrageiras da várzea, 
na época seca, e as pastagens cultivadas de gramíneas do gênero Brachiaria na 
terra firme. Segundo Lourenço Jr. e Garcia (2006), esse sistema além de não 
provocar danos significativos ao meio ambiente, permite a terminação de bovinos de 
corte ente 400 a 450 kg de PV, com idade inferior a dois anos. 
 Ao considerar o sistema de ciclo completo, ou seja, cria, recria e engorda, o 
manejo intensificado das pastagens possibilita incrementos substanciais na 
produção de carne/hectare, conforme constatado por Vieira et al. (2005), que 
obtiveram a produção economicamente viável de 101 quilos de equivalente 
carcaça/hectare/ano em sistema de ciclo completo com pastagens de B. brizantha, 
B. decumbens e Tanzânia adubadas aliadas ao uso de suplementação alimentar na 
recria e terminação em confinamento. 
 Euclides Filho e Euclides (2010) ressaltam que, quando se objetivam altos 
níveis de produção por animal, tem-se como consequência a redução na 
flexibilidade do sistema de pastejo e o aumento na necessidade de suplementos 
e/ou a redução da taxa de lotação como forma de equilibrar a demanda anual com a 
produção das pastagens. Sistemas de pastejo podem adaptar-se aos padrões e 
produção sazonal de forragem, mas as variações existentes entre os anos são mais 
difíceis de serem ajustadas. À medida que aumentam as variações entre anos, há 
que se reduzir a intensificação do sistema de pastejo ou a dependência das 
26 
 
pastagens como fonte principal de alimentos. Em situações em que a produção 
sazonal dos pastos não se ajusta aos requerimentos dos animais, alternativas têm 
de ser usadas. 
 
2.3 MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE 
 O processo do melhoramento genético é uma arte milenar. Acompanha a 
humanidade desde as suas primeiras incursões na domesticação dos animais de 
interesse econômico na busca de alimentos básicos para seu próprio sustento 
(JOSAHKIAN et al. 2003).A seleção de reprodutores nada mais é do que a escolha 
dos animais que devem ser os pais das próximas gerações e seu acasalamento de 
forma mais privilegiada que os demais individuos da população. Esse processo 
permite que esses animais deixem mais descendentes do que outros e, 
consequentemente, contribuam de forma diferenciada para o patrimônio genético da 
próxima geração, deixando mais cópias dos seus genes e alterando a frequencia 
gênica (FERRAZ e ELER, 2010). 
 O melhoramento genético animal é a ciência que estuda as ações da genética 
do indivíduo e do ambiente na determinação de suas características de interesse 
econôminco. Essa ciência divide-se basicamente em duas ações: a seleção e os 
sistemas de acasalamento (FERRAZ e ELER, 2010). 
 O desempenho animal animal, também denominado fenótipo é o resultado do 
patrimônio genético que o animal possui, o chamado genótipo e, ainda dos efeitos 
de meio ambiente, existindo ainda uma interação entre os efeitos de genótipo e meio 
ambiente. Dessa forma o desempenho dos animais, pode ser descrito numa 
equação muito simples: 
F = G + E + GE 
 Esta equação mostra que o fenótipo (F) que é medido nos animais, não 
demonstra o verdadeiro potencial genético (G). O fenótipo está sempre influenciado 
pelo meio ambiente (E) e pela interação genótipo-ambiente (GE). 
 A fração G pode ainda ser dividida em três componentes: o valor aditivo dos 
genes (A), que todo gene tem, o desvio da ação individual dos genes, o desvio 
27 
 
causados pelos efeitos de dominância (D), que dependem do efeito conjunto dos 
genes contidos nos gametas que vêm do pai e da mãe, e dos efeitos de interação 
dos genes de loci diferentes (I). Assim a equação ficaria: 
F = (A + D + I) + E + GE 
 No entanto, o único termo previsível dessa equação é o A. A evolução nas 
metodologias de análise visando estimar esse valor de A exige o uso de modelos 
estatísticos bastante complexos para, dado um conjunto de informações de pedigree 
dos animais, poder fazer esta estimativa. Quando se estima o valor de A, e i utiliza 
para escolha dos animais que deixarão descendentes, estar-se-á perto de obter o 
ganho máximo que a seleção pode oferecer (FERRAZ e ELER, 2010). 
 
Diferença Esperada na Progênie (DEP) 
 As DEPs são, por definição, a fração de uma superioridade de progênie 
devida aos efeitos dos genes do reprodutor e correspondem à metade do valor 
genético aditivo. As DEPs são estimadas com base nas informações do próprio 
indivíduo e/ou de seus parentes e indicam a diferença esperada na produção média 
da progênie de um determinado animal em relação à produção média das progênies 
de todos os animais que participaram da mesma avaliação. 
 A DEP é uma medida relativa, sempre. Se determinado touro possui DEP 
para peso ao sobreano de +20 kg, isso significa que se espera que, em média, a 
progênie deste touro pese 20 kg a mais que a média do peso ao sobreano das 
progênies dos outros touros avaliados.Também permite, da mesma forma, que se 
compare o provável desempenho da progênie de dois touros em uma mesma 
avaliação. Por exemplo, havendo dois touros, o touro A com DEP + 35 kg para peso 
ao sobreano e o touro B com DEP +20 kg também para peso ao sobreano, espera-
se que, em média, a progênie do touro A pese 15 kg a mais que a progênie do Touro 
B, se todos os outros fatores forem mantidos inalterados. É relevante lembrar que a 
DEP é uma expectativa e, portanto, deve sempre vir acompanhada da acurácia 
(AC). 
 
28 
 
Acurácia (AC) 
 É uma medida do grau de confiança da estimativa da DEP. Quanto maior o 
número de informações utilizadas na avaliação genética de determinado animal, 
sejam dele ou de parentes, maior será a acurácia de suas DEPs. O valor da 
acurácia varia de 1 a 99%. É importante lembrar que é a DEP quem indica o uso ou 
não de determinado animal como reprodutor. A acurácia deve ser utilizada como 
uma medida de risco e irá determinar a intensidade de uso deste animal. Do ponto 
de vista prático, isso significa que animais de boas DEP’s e baixa acurácia podem e 
devem ser utilizados, mas em um número relativamente pequeno de acasalamentos. 
 
Estimação de parâmetros genéticos 
 Segundo Ferraz e Eler (2010) a estimação dos valores genéticos é 
diretamente dependente da estimação dos componentes de variância e covariância 
das características, os quais são essenciais em programas de melhoramento animal. 
O melhoramento genético das espécies zootécnicas é baseado em razões de 
componentes de variância, como os coeficientes de herdabilidade (h²), correlação 
genética (rg) e repetibilidade (R). 
 Nesse contexto, o coeficiente de herdabilidade é um parâmetro indispensável 
na predição do mérito genético dos animais e na predição da resposta à seleção. O 
coeficiente de correlação também é um parâmetro genético importante, pois 
estabelece a força de relacionamento de uma característica em relação à outra, 
informando se determinada característica pode ou não ser influenciada pelas 
decisões de seleção em outra. 
 Os componentes de variância são estiamdos por métodos que evoluíram à 
medida que novas técnicas computacionais e novas teorias foram desenvolvidas. 
Com o desenvolvimento das metodologias de estimação dos valores genéticos 
aditivos, chegou-se aos modelos animais, a ferramenta mais utilizada nos 
programas de seleção ao redor do mundo. O ojetivo principal dos modelos animais é 
chegar a um modelo que descreva, da melhor forma possível, a real situação 
biológica para predição de valores genéticos aditivos e estimação dos componentes 
de variância (FERRAZ e ELER, 2010). Recentemente, vêm sendo utilizadas outras 
29 
 
metodologias para obtenção de componentes de (co)variância e, 
consequentemente, de parâmetros genéticos, como o método R e análises por 
metodologias Bayesianas. 
 A avaliação genética sob modelo animal tem como base estatística as 
equações de modelos mistos. A melhor predição linear não enviesada – BLUP (Best 
Linear Unbiased Predictor), utilizando modelos mistos sob o modelo animal, tornou-
se rapidamente o método preferido pelos geneticistas para estimar os parâmetros 
genéticos (HENDERSON, 1988). 
 No entanto, o uso intensivo dos modelos animais tende a privilegiar famílias 
que têm valor genético aditivos superiores, podendo, no médio prazo, levar ao 
acasalamento entre parentes, a chamada endogamia (erroneamente conhecida 
como consanguinidade). Como parentes têm cópias dos genes dos acestrais 
comuns, é de se esperar que filhos desse tipo de acasalamento tenham maior grau 
de homozigose, o que favorece a expressão de genes deletérios, usualmente 
recessivos. A expressão desses genes pode levar ao aparecimento de doenças, 
diminuição do vigor dos animais e importantes perdas de produtividade, no que 
Gordon Dickerson, um dos pais do moderno melhoramento genético animal, 
denominou, em 1965, depressão pela endogamia. Essas perdas são evidentes já 
quando o coeficiente de endogamia ultrapassa os 5 ou 6% (FERRAZ e ELER, 2010). 
 
Seleção para crescimento 
 Além de determinante da quantidade de carne produzida para mercado e, 
portanto, economicamente fundamental para a bovinocultura de corte, o crescimento 
é fácil de ser medido ou avaliado e registrado, expressa-se em ambos os sexos e 
em todas as idades, pode ser avaliado por uma gama muito ampla de modelos, 
inclusive modelos muito simples, e ainda apresenta resposta rápida e consistente à 
seleção. Por essas razões, todos os programas de melhoramento de bovinos de 
corte enfatizam de algum modo, às vezes como critério de seleção exclusivo, 
características que representam o crescimento dos animais.Elas são as primeiras a 
serem mensuradase avaliadas e, quase todos os índices de seleção empíricos dos 
30 
 
programas de melhoramento do Brasil apresentam ponderações muito altas para 
essas características (ALBUQUERQUE et al. 2010). 
 O crescimento pode ser avaliado pelo peso, altura, comprimento, ou outras 
medidas tomadas em diferentes idades no animal. Qualquer que seja a medida, o 
tamanho do animal, ao longo do tempo de vida, pode ser representado por uma 
curva sigmóide (figura 32), dividida em duas fases, uma em que a taxa de 
crescimento aumenta em cada dia; e outra em que ocorre uma desaceleração dessa 
taxa (ALBUQUERQUE et al. 2010). 
 A seleção exclusivamente para peso nas diferentes idades, ao longo do 
tempo, conduz a animais de maiores pesos a idade adulta, conseqüentemente mais 
exigentes quanto aos requerimentos nutricionais que, quando não atendidos, 
aumentam o período de permanência de machos e fêmeas na propriedade 
destinados ao abate, pois, animais de maior porte, via de regra, são mais tardios em 
deposição de gordura subcutânea (figura 32). Mas o maior prejuízo para o produtor 
devido a maior exigência nutricional, quando estas não são plenamente atendidas, 
pode se dar pelo comprometimento do desempenho reprodutivo das matrizes, pois a 
reprodução é um acontecimento que só ocorre quando as fêmeas estão em bom 
estado de condição corporal (JOSAHKIAN et al. 2003). 
 
Figura 2. Curva de crescimento de diferentes biótipos bovinos. 
 A figura 32 representa de maneira bastante rudimentar, curvas de 
crescimento de dois diferentes biótipos, tardio e precoce. Nota-se que a curva de 
crescimento que representa o tipo morfológico tardio atinge seu platô no ponto A, 
onde se inicia a desaceleração do crescimento muscular, e, conseqüentemente uma 
31 
 
maior aceleração na deposição de gordura de acabamento. Esse processo ocorre 
no animal tardio de forma bem distinta quando comparado com o animal precoce, 
tanto na idade, que é mais avançada, quanto no peso vivo, que é também maior. 
Vale ressaltar que existem relatos na literatura que afirmam que a precocidade em 
deposição de gordura coincide fisiologicamente com a precocidade em maturação 
sexual. 
 A estrela em destaque na figura 32 simboliza o ponto em que as curvas 
distintas se cruzam. Nesse ponto os animais estão com o mesmo peso, e a balança 
diria que esses indivíduos são iguais, quando na realidade são tipos morfológicos 
completamente diferentes. Essa situação pode evar a conclusões não 
necessariamente corretas. 
 Com isso pode-se concluir que a seleção em bovinos de corte não deve ser 
pensada exclusivamente na balança, mas sim na composição do peso, que é a 
resultante de músculos, vísceras, ossos e tecido adiposo, e neste sentido as 
avaliações visuais por escores são uma grande ferramenta de trabalho para se 
chegar a melhores proporções dos diferentes tecidos (JOSAHKIAN et al. 2003). 
 
Seleção para precocidade sexual 
 Inicialmente o melhoramento da precocidade sexual e da fertilidade na 
pecuária de corte brasileira foi buscado quase que exclusivamente na seleção para 
perímetro escrotal (PE). Uma outra característica usual é a idade ao primeiro parto 
(IPP). 
 A IPP apresenta-se como característica promissora, sendo medida na própria 
fêmea. Em zebuínos, é uma característica dependente da idade em que as fêmeas 
entram em reprodução pela primeira vez, o que interfere na herdabilidade da 
característica (PEREIRA et al., 2001), sendo necessário portanto, que as fêmeas 
jovens sejam desafiadas em reprodução para evidenciar as diferenças genéticas e 
detectar efetivamente as mais precoces. 
 O perímetro escrotal é uma característica indicadora da idade na puberdade 
e, consequentemente, indicadora da precocidade sexual. Não se seleciona PE com 
32 
 
o objetivo de aumentar o perímetro escrotal em si, mas sim de diminuir a idade na 
puberdade. Portanto, perímetro escrotal não é o objetivo de seleção, mas 
simplesmente um critério de seleção visando atingir o verdadeiro objetivo que é 
aumentar a taxa de prenhez de fêmeas jovens na população. O ganho genético 
obtido para precocidade sexual, quando a seleção é baseada no PE, é o que é 
chamado ganho genético correlacionado, ou seja, depende da correlação entre a 
característica de precocidade sexual e o perímetro escrotal. É uma característica 
com herdabilidade alta. A correlação genética entre CE e IPP é favorável, mas baixa 
(ELER et al., 2010). Pereira et al. (2001) estimaram essa correlação e obtiveram 
valor igual a -0,19 para um conjunto de dados em que as novilhas para reprodução 
com idade em torno de 24 meses, e -0,39 para outro conjunto da mesma população, 
mas considerando apenas as novilhas que entraram na reprodução aos 14 meses. 
 Resultados práticos observados ao longo dos anos mostraram que houve 
progresso genético. Houve aumento de precocidade sexual nas populações que 
basearam a seleção em perímetro escrotal. Os resultados dos trabalhos científicos 
realizados com populações zebuínas nacionais têm mostrado, no entanto, que o 
progresso genético poderia ter sido muito maior. Melhor ainda, têm mostrado que é 
possível alcançar progresso genético muito maior substituindo-se o perímetro 
escrotal por uma característica medida diretamente na fêmea (ELER et al., 2010). 
 Outras características foram sugeridas e utilizadas para selecionar para 
precocidade sexual e fertilidade. Entre essas estão a característica dias para o parto 
(JOHNSON, et al., 1996), a capacidade de permanência no rebanho ou stayability e 
a produtividade acumulada (SCHEWENGBER et al., 2001) ou produtividade média 
anual (ELER et al., 2008). 
 A característica dias para o parto (DPP) refere-se ao número de dias entre o 
primeiro dia da estação de monta e o dia efetivo para o parto. A princípio, a 
característica leva em consideração a própria concepção mais cedo ou mais tarde 
na estação de monta e também a duração da gestação. 
 A stayability ou capacidade de permanência no rebanho indica o potencial dos 
reprodutores em produzir filhas que permanecem no rebanho, no mínimo, até um 
número de anos que as tornem econômicas. A análise dessa característica exige 
que as vacas tenham tido oportunidade de atingir a idade de permanência. Por essa 
33 
 
razão, as vacas jovens não são avaliadas e, consequentemente, os touros jovens 
também não são avaliados (ELER et al., 2010). 
 A produtividade acumulada (SCHEWENGBER et al., 2001) ou produtividade 
média anual, como é denominada em Eler et al. (2008), considera a produtividade 
média em kg de bezerros desmamados por vaca/ ano, sendo, assim uma 
característica de interesse econômico que leva em conta a precocidade sexual, a 
fertilidade e também o desempenho produtivo da vaca. Segundo Eler et al. (2010), 
essa é uma característica que depende ainda de mais pesquisas, principalmente 
para avaliar a correlação genética com a própria stayability. 
 Independente da característica ou critério de seleção adotado, está claro que 
a seleção para precocidade traz grandes impactos sobre o sistema de produção de 
bovinos de corte. Resultados de simulação publicados por Eler et al. (2010) 
demonstram que a redução da idade ao primeiro parto de 3 para 2 anos conduziria a 
um aumento de 16% no retorno econômico do sistema. 
 
2.3.1 O PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE ZEBUÍNOS (PMGZ) 
 O Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) é desenvolvido 
pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e contempla as raças: 
Brahman, Gir, Guzerá, Nelore, Indubrasil, Sindi e Tabapuã. O programa é conduzido 
em várias etapas: coleta de dados, processamento das avaliações genéticas 
divulgação e orientação sobre o uso dos resultados.As avaliações genéticas das raças zebuínas de corte são atualizadas 
semestralmente pela ABCZ, tendo como base as informações provenientes, 
principalmente, do Controle do Desenvolvimento Poderal. Toda a população 
avaliada é composta somente por animais inscritos no Serviço de Registro 
Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ). 
 A coleta de dados, sejam eles de genealogia ou desempenho, é 
supervisionada por técnicos de campo. Anualmente, são incorporados novos 
animais e novas informações ao banco de dados geral do PMGZ. Atualmente, a 
base de dados geral da ABCZ acumula mais de 13 milhões de pesagens, o que a 
34 
 
configura como a maior do mundo no que diz respeito aos zebuínos. Neste ano de 
2014, participaram do processo de avaliação genética mais de 10 milhões de 
animais das diferentes raças zebuínas.Todo esse processo permite disponibilizar 
aos criadores e pecuaristas em geral, as avaliações genéticas de animais zebuínos, 
sejam eles touros, matrizes ou animais jovens. 
 As avaliações genéticas nacionais das raças zebuínas foi publicada em 1984, 
como resultado do convênio entre ABCZ e Embrapa. Atualmente, as avaliações são 
realizadas por uma equipe interna com auxílio de de consutores da área de 
melhoramento genético animal. 
 
2.3.1.1 Características avaliadas pelo PMGZ 
PM-ED: Peso à fase materna – efeito direto (kg): indica potencial do animal para 
gerar filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos 
dos outros animais aos 120 dias de idade. 
 
PD-ED: Peso a desmama – efeito direto (kg): indica potencial do animal para gerar 
filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos 
outros animais no período da desmama (205 dias de idade dos filhos). 
 
PS-ED: Peso ao sobreano – efeito direto (kg): indica potencial do animal para gerar 
filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos 
outros animais no período do sobreano (450 dias de idade dos filhos). 
 
GPD: Ganho em peso pós desmama (g/dia): indica potencial do animal para gerar 
filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos 
outros animais para ganho em peso da desmama ao sobreano. 
 
PM-EM: Peso à fase materna – efeito materno (kg): indica o potencial genético do 
animal em gerar filhas com habilidade materna superior (ou inferior), expressa em kg 
de bezerros. Esta característica é avaliada na fase dos 120 dias de idade do animal. 
 
35 
 
TMM: Total materno do peso à fase materna: indica a habilidade total das filhas do 
animal para produzir bezerros mais (ou menos) pesados aos 120 dias de idade. O 
Total Materno é o resultado da soma da ½ DEP direta + toda a DEP materna da 
característica. 
 
TMD: Total materno do peso a desmama: indica a habilidade total das filhas do 
animal para produzir bezerros mais (ou menos) pesados a desmama. O Total 
Materno é o resultado da soma da ½ DEP direta + toda a DEP materna da 
característica. 
 
IPP: Idade ao primeiro parto (dias): indica potencial do animal para gerar filhas cujo 
primeiro parto seja mais (ou menos) precoce em relação à média das filhas dos 
outros animais. Neste caso, quanto mais negativa for a DEP melhor, ou seja, menor 
será a idade ao primeiro parto de suas filhas. 
 
PES: perímetro escrotal ao sobreano (cm): indica o potencial do animal para gerar 
filhos com maior (ou menor) perímetro escrotal aos 450 dias de idade. Esta é uma 
característica correlacionada à precocidade sexual de machos e fêmeas de modo 
que, de uma maneira geral, quanto maior o perímetro escrotal maior a precocidade 
sexual. 
 
E: Estrutura corporal: indica o potencial do animal para gerar filhos com maior (ou 
menor) estrutura corporal. A estrutura corporal é avaliada como a área (abrangência 
visual) do animal observado de lado, olhando-se basicamente para o comprimento 
corporal e a profundidade de costelas. São atribuídas notas que variam de 1 (menor 
estrutura corporal) a 6 (maior estrutura corporal). 
P: Precociade: indica o potencial do animal para gerar filhos mais (ou menos) 
precoces. A precocidade é avaliada como a relação entre a profundidade de costela 
e altura dos membros. São atribuídas notas que variam de 1 (menos precoce) a 6 
(mais precoce). Animais com maior profundidade de costelas em relação aos seus 
membros recebem as maiores notas. 
36 
 
M: Musculosidade: indica o potencial do animal para gerar filhos com maior (ou 
menor) cobertura muscular. A musculosidade é avaliada através da evidência das 
massas musculares. São atribuídas notas que variam de 1 (menor musculosidade) a 
6 (maior musculosidade). 
 
Figura 3. Apresentação esquemática das diferentes proporções que devem ser avaliadas para 
 atribuir as notas de Estrutura (setas vermelhas), Precocidade (setas amarelas) e 
 Musculosidade (setas verdes). 
 
2.3.1.2 Índices utilizados no programa 
 
Índice ABCZ (iABCZ) 
 É o índice de seleção que contempla características de importância 
econômica, sugerido como critério de seleção dos animais dentro do PMGZ – 
Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos. O iABCZ considera e pondera 
as seguintes DEP’s: 
iABCZ = 10% PM-EM + 15% PD-ED + 20% TMD + 15% GPD + 15% PS-ED + 20% IPP + 5% PES 
Onde: 
37 
 
PM-EM = peso à fase materna – efeito materno (120 dias); PD-ED = peso a 
desmama; TMD = total materno do peso a desmama; GPD = ganho de peso pós 
desmama; PS-ED = peso ao sobreano; IPP = idade ao primeiro parto, e PES = 
perímetro escrotal ao sobreano. 
 É importante lembrar que este é um índice sugerido. Para cada rebanho que 
participa do PMGZ da ABCZ é possível, nos relatórios eletrônicos com as avaliações 
genéticas e nos Sumários de Touros, compor o índice mais adequado às 
necessidades seletivas do plantel. Sendo assim, é possível identificar animais com 
melhor genética em características de crescimento (pesos e ganho), reprodutivas ou 
naquelas relacionadas à habilidade materna, ou ainda combiná-las em um único 
índice de forma diferente e personalizada. 
 Uma das propriedades dos índices é permitir que animais ligeiramente 
inferiores em uma característica possam ser resgatados para a população 
selecionada pelo fato de serem muito superiores em outra característica. Por 
exemplo, suponhamos um animal que tenha uma ligeira inferioridade no peso a 
desmama. Caso ele tenha uma grande superioridade em outras características, essa 
inferioridade será compensada. Claro que isso depende do nível de inferioridade da 
característica, do nível de superioridade das outras e da ponderação que foi dada a 
estas características. Essa condição, aliada à decisão de que peso atribuir a cada 
característica, é que torna a construção dos índices um processo complexo. De 
qualquer forma, ele sempre funciona melhor do que uma seleção focada em apenas 
uma característica o que, seguramente, provoca desequilíbrios no processo 
produtivo. 
 
Percentil (TOP%) 
Indica a posição (classe) do animal para determinada DEP e para o iABCZ, em 
relação ao total de animais avaliados. Sendo assim se um animal tem percentil igual 
a 2% para DEP PS-ED, significa que, para a DEP de peso ao sobreano, ele está 
entre os 2% melhores animais para esta característica. O percentil varia de 0,1 a 
100%, ou seja, quanto menor, melhor classificado está o animal. 
 
38 
 
2.3.2 AVALIAÇÃO GENÉTICA DA RAÇA NELORE 
2.3.2.1 Dados utilizados 
 Para a avaliação genética da raça Nelore de julho de 2014 foram utilizados 
dados de animais nascidos entre 1991 e 2014. Após análise crítica, totalizaram 
5.088.847 registros válidos relacionados a uma população de 9.949.792 animais, 
sendo 3.872.471registros das características de crescimento, 757.699 registros de 
idade ao primeiro parto, 236.980 registros de perímetro escrotal ao sobreano e 
221.697 registros de avaliação visual (estrutura, precocidade, musculosidade). 
 
2.3.2.2 Metodologia e recursos computacionais 
 Os dados de genealogia e desempenho zootécnico foram submetidos a 
detalhada análise crítica com uso de rotinas escritas em ambiente SAS para 
Windows versão 9.4 (2013). 
 Para as análises genéticas foi utilizada a Metodologia de Modelos Mistos 
(Henderson, 1953) com o modelo animal, o qual possibilita a predição de valores 
genéticos considerando toda a informação genealógica disponível dos animais. As 
estimativas dos componentes de variância foram obtidas via inferência bayesiana. 
 Os modelos utilizados nas análises genéticas incluíram o sefeitos aleatórios 
genéticos direto e materno, o efeito aleatório de ambiente permanente materno, os 
efeitos fixos de grupo de contemporâneos e de classe de idade da mãe/sexo do 
produto, e a covariável idade do animal no dia da obtenção do registro zootécnico 
(efeito linear e quadrático). 
 
2.3.2.3 Resultados 
 Na tabela 9 estão apresentadas as médias e desvios-padrão dos pesos 
calculados à fase materna (PM), à desmama (PD) e ao sobreano (PS) e ganho em 
peso pós desmama (GPD). 
39 
 
 Na tabela 10 encontram-se as médias e desvios-padrão do perímetro escrotal 
ao sobreano (PES) e da idade ao primeiro parto (IPP). Na tabela 11 estão as 
médias desvios-padrão de estrutura corporal (E), precocidade (P) e musculosidade 
(M). 
 
Tabela 4. Médias e desvios-padrão dos pesos calculados à fase materna (PM), à 
 desmama (PD) e ao sobreano (PS), e do ganho em peso pós desmama 
 (GPD). 
Característica Machos Fêmeas Geral 
PM¹ (kg) 
RA1 128,38 ± 22,01 120,43 ± 20,53 124,47 ± 21,66 
RA2 137,69 ± 24,55 130,46 ± 22,86 134,16 ± 24,01 
RA3 150,17 ± 28,42 145,05 ± 25,87 147,10 ± 27,04 
PD² (kg) 
RA1 187,75 ± 31,52 174,39 ± 28,79 181,19 ± 30,94 
RA2 207,92 ± 37,47 194,91 ± 34,64 201,71 ± 36,72 
RA3 232,49 ± 45,95 228,92 ± 40,24 230,53 ± 42,95 
PS³ (kg) 
RA1 279,90 ± 49,67 248,36 ± 42,60 263,51 ± 48,75 
RA2 349,30 ± 64,33 310,11 ± 63,08 335,37 ± 66,59 
RA3 395,86 ± 75,40 379,85 ± 79,81 390,46 ± 77,29 
GPD (g/dia) 
RA1 376,38 ± 163,92 300,51 ± 139,22 336,95 ± 156,25 
RA2 607,28 ± 211,91 491,62 ± 203,37 566,17 ± 216,12 
RA3 782,38 ± 230,88 695,75 ± 220,17 753,28 ± 230,98 
RA1=Regime alimentar a pasto; RA2=Regime alimentar semi-estabuado; RA3=Regime alimentar 
estabulado; PM¹=Peso calculado aos 120 dias; PD²=Peso calculado aos 205 dias; PS³=Peso 
calculdado aos 450 dias. Fonte: ABCZ (2014). 
 
 
Tabela 5. Médias e desvios-padrão do perímetro escrotal ao sobreano (PES) e da 
 idade ao primeiro parto (IPP). 
Característica 
Regime Alimentar 
Pasto Semi-estabulado Estabulado 
PES(cm)¹ 
 
22,70 ± 3,36 24,81 ± 3,56 26,12 ± 3,52 
IPP(dias)² 
 
 
1164 (38 meses) ± 167 (5 meses) 
 PES(cm)¹=Medida ajustada aos 450 dias; IPP(dias)²=Sem distinção entre regimes alimentares. 
Fonte: ABCZ (2014). 
 
 
40 
 
Tabela 6. Médias e desvios-padrão para estrutura corporal (E), precocidade (P) e 
 musculosidade (M). 
Característica Geral 
E 4,27 ± 0,92 
P 3,96 ± 0,93 
M 3,79 ± 0,97 
 
 Na tabela 12 estão apresentados os desvios-padrão e as medianas das DEPs 
de crescimento (PD-ED, PS-ED, e GPD), habilidade materna (PM-EM, e TMD), 
reprodução (IPP e PES) e de avaliação visual (E, P e M). 
 
Tabela 7. Desvios-padrão e medianas das DEPs. 
DEP Desvio-padrão Mediana 
PD-ED (kg) 2,31 0,13 
PS-ED (kg) 3,91 0,07 
GPD (g/dia) 9,87 4,30 
PM-EM (kg) 1,12 0,01 
TMD (kg) 2,23 0,16 
PES (cm) 9,08 1,55 
IPP (dias) 0,26 -0,01 
E 0,18 0,01 
P 0,19 0,01 
M 0,18 0,01 
PD-ED: Peso à desmama – efeito direto; PS-ED: Peso ao sobreano – efeito direto; GPD: Ganho de 
peso pós-desmama; PM-EM: Peso à fase materna – efeito materno; TMD: Total materno do peso à 
desmama; IPP: Idade ao primeiro parto; PES: Perímetro escrotal ao sobreano; E: Estrutura corporal; 
P: Precocidade; M: Musculosidade. 
 
 Na tabela 13 estão as herdabilidades aditivas diretas (h²d) e maternas (h²m) 
para peso à fase materna (PM), peso à desmama (PD), peso ao sobreano (OS), 
ganho em peso pós-desmama (GPD), idade ao primeiro parto (IPP), perímetro 
escrotal ao sobreano (PES), estrutura corporal (E), precocidade (P) e musculosidade 
(M). 
 
 
 
41 
 
Tabela 8. Herdabilidades aditivas diretas (h²d) e maternas (h²m). 
Característica h²d h²m 
PM 0,17 0,11 
PD 0,18 0,07 
PS 0,24 
 
GPD 0,32 
 
IPP 0,11 
 
PES 0,25 
 
E 0,45 
 
P 0,45 
 
M 0,46 
PM: Peso à fase materna; PD: Peso à desmama; PS: Peso ao sobreano; GPD: Ganho de peso pós-
desmama; IPP: Idade ao primeiro parto; PES: Perímetro escrotal ao sobreano; E: Estrutura corporal; 
P: Precocidade; M: Musculosidade. 
 
2.4 BEM ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM 
PASTAGENS 
 O tema bem-estar animal (BEA), bastante presente quando se discute a 
criação de animais para consumo, pode ser tratado de diversas formas. Fora do 
meio acadêmico ele é geralmente tratado do ponto de vista ético, com grupos que 
atuam em defesa dos animais (e seus direitos) pressionando para definição de 
normas legais que limitem a ação do homem no trato com os animais. Não por 
acaso, quando abordamos o tema cientificamente encontramos uma convergência 
de interesses. Ou seja, ao conhecer e respeitar a biologia dos animais que criamos, 
melhorando seu bem-estar, também obtemos melhores resultados econômicos, quer 
aumentando a eficiência do sistema de criação quer obtendo produtos de melhor 
qualidade (PARANHOS DA COSTA, 2000). 
 O Brasil é um país que tem maior parte do seu território na zona inter-tropical, 
o que implica em radiação solar intensa e altas temperaturas o ano todo. Essas 
características favorecem a ocorrência de problemas de bem-estar como: estresse 
por calor; intensa carga de endo e ecto-parasitas; e estacionalidade na produção de 
forragens, sendo comum encontrar animais passando fome durante a estação seca. 
Um outro problema enfrentado pela bovinocultura brasileira é a disponibilidade de 
trabalhadores qualificados para a realização do manejo dos animais. É cada vez 
mais escasso o número de trabalhadores experientes no campo. Um outro ponto 
que surge devido ao um fator cultural, é o fato da lida com os bovinos ser vista como 
42 
 
uma prática rústica e muitas vezes realizada com violência, como decorrência desta 
mentalidade. Frente a esses e outros problemas de bem-estar animal, é formado um 
cenário desafiador para produtores, técnicos e pesquisadores, que devem buscar o 
desenvolvimento de sistemas de produção e de práticas de manejo que sejam 
economicamente viáveis e que, além disso, respeitem a biologia e as necessidades 
dos bovinos, de forma a assegurar que seu bem-estar é bom. (SANT’ANNA e 
PARANHOS DA COSTA, 2009). 
 
2.4.1 Padrões comportamentais dos bovinos importantes no BEA 
 Os bovinos são animais gregários e apresentam uma série de padrões 
comportamentais que definem suas interações sociais e com fatores externos. Os 
padrões de comportamento mais relevantes para o manejo racional são os que 
estão ligados à utilização do espaço pelos bovinos. Segundo Paranhos da Costa 
(2000), para cada um dos indivíduos do grupo há a caracterização de um espaço 
individual, representado pela área onde o animal se encontra ou se encontrará e, 
portanto, se desloca com ele. Esse espaço compreende, aditivamente ao espaço 
físico que o animal necessita para realizar os movimentos básicos, um espaço 
social, que caracteriza a distânciamínima que se estabelece entre um animal e os 
demais membros do grupo. Além disso, existe também a distância de fuga, que é o 
máximo de aproximação que um animal tolera a presença de um estranho ou do 
predador, antes de iniciar a fuga. Tais comportamentos de espaçamento são 
ilustrados na figura 34. 
 
Figura 4. Esquema ilustrativo do espaço individual e a distância de fuga nos bovinos (as diferenças 
 apresentadas no desenho representam a existência de diferenças individuais). Fonte: 
 Paranhos da Costa (2000). 
43 
 
 Todavia, tais padrões de espaçamento não são suficientes para a 
neutralização ou diminuição da agressividade entre animais que estão competindo 
por algum recurso, como é o caso da maioria dos rebanhos atuais. Há outro 
mecanismo de controle social, que têm origem na familiaridade e na competição 
entre os animais, resultando na definição da liderança e da hierarquia de 
dominância, respectivamente. 
 A dominância se estabelece nesses grupos pela competição, ou seja, ela é 
produto de interações agressivas entre os animais de um mesmo grupo ao 
competirem por um determinado recurso, definindo quem terá prioridade no acesso 
a comida, água, sombra, etc. Os fatores que normalmente determinam a posição na 
hierarquia são o peso, idade e raça. 
 Outro aspecto do comportamento social dos bovinos é a liderança, que 
muitas vezes resulta na atividade sincronizada dos bovinos. Um rebanho de vacas 
se comporta como uma unidade, na qual a maioria dos membros apresenta o 
mesmo comportamento ao mesmo tempo. Há sempre um animal que inicia o 
deslocamento ou as mudanças de atividade, quando ele é seguido pelos outros, 
trata-se do líder. Geralmente são as vacas mais velhas que lideram os rebanhos, 
que não estão no topo da ordem de dominância. Tal comportamento não envolve 
atividades agressivas, mas sua compreensão pode ser muito útil para o manejo do 
gado nas pastagens, particularmente durante a condução do rebanho para áreas de 
manejo. 
 O tamanho e composição dos grupos é outro aspecto importante do 
comportamento social dos bovinos. É recomendável evitar a formação de lotes muito 
grandes e promover alteração, principalmente com a entrada de outros animais, o 
que pode alterar a hierarquia social previamente estabelecida, com influências na 
produção e bem-estar. 
 O temperamento, definido como o conjunto de comportamentos dos animais 
em relação ao homem, tem sido objeto de estudo devido sua importância para o 
bem estar animal e sua influência sobre a eficiência (RUEDA, 2012) do sistema de 
produção. Nesse sentido, diversas metodologias têm sido desenvolvidas a fim de 
avaliar o temperamento. Sabe-se que é possível melhorar o temperamento através 
dos processos de habituação e de aprendizado associativo (condicionamento) 
44 
 
(RUEDA et al., 2011; RUEDA, 2012) e há indícios de que é possível modificar essa 
característica também através da seleção (MATSUNAGA et al., 2002; SANT’ANNA 
et al. 2013). 
. 
2.4.2 Interferência do manejo no comportamento dos bovinos 
 Quando manejamos os bovinos, conduzindo-os geralmente para os currais, 
produzimos uma desorganização em suas atividades sociais, dificultando a 
manutenção do espaço individual e provocando a quebra do equilíbrio na hierarquia 
de dominância, sendo difícil minimizar esses efeitos dado os equipamentos e as 
estratégias que usamos rotineiramente (PARANHOS DA COSTA, 2000). 
 Segundo Paranhos da Costa (2002) os bovinos possuem uma forma de 
aprendizado chamada de condicionamento (ou aprendizado associativo), pelo qual 
os animais estabelecem ligações entre determinadas situações (envolvendo lugares, 
pessoas, etc.) e sensações. Se as sensações forem negativas o gado procura evitar 
as situações associadas a elas, fugindo, lutando, enfim dificultando o manejo; já no 
caso delas serem positivas, o manejo pode ser facilitado. Assim, uma estratégia 
interessante para melhorar as “relações” entre os vaqueiros e gado é aumentar as 
interações “positivas” entre eles; ou seja, o vaqueiro deve se tornar íntimo dos 
animais, passando mais tempo com eles, tanto a pé como a cavalo, e fornecendo 
rações e suplementos. Com isto o gado se habituará a presença do homem e 
estabelecerá uma relação positiva com ele. 
 A forma e dimensionamento de currais de manejo também interferem nesse 
processo. Grandin (1993a, 1993b) realizou estudos que levaram ao desenvolvimento 
de instalações que levam em conta aspectos do comportamento e da estrutura 
biológica dos bovinos, por exemplo: dado o posicionamento de seus olhos, os 
bovinos tem um ângulo de visão muito amplo, mas também têm alguns pontos 
cegos. O manejo de condução do gado será facilitado se considerarmos esta 
característica, caso contrário poderemos dificultá-lo, como ilustrado na figura 35. 
45 
 
 
Figura 5. Entendendo a zona de fuga e os ângulos de visão dos bovinos durante o manejo. Fonte: 
 adaptado de Grandin, (1993a). 
 Do ponto de vista prático as conseqüências do manejo agressivo são 
dificuldades no trabalho com o gado (retardando-o), lesões nos animais (fraturas, 
cortes, hematomas, etc.), danos nas instalações e riscos de acidentes para os 
trabalhadores. A intensidade dependerá das circunstâncias. Os prejuízos advindos 
do manejo incorreto podem ser decorrentes da ação direta do homem, ao bater ou 
acuar os animais contra cercas, porteiras, etc., ou indireta, com a formação de lotes 
novos, desrespeitando os seus padrões de organização social e aumentando as 
interações agressivas entre os animais (SANT’ANNA e PARANHOS DA COSTA, 
2009). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 
3.1 Denominação e Localização 
 O estágio curricular supervisionado (ECS) foi desenvolvido na Fazenda Vale 
do Boi, que tem como proprietário o Sr. Epaminondas de Andrade, localizada na 
Rodovia TO-164, Km 14 município de Carmolândia no norte do estado do Tocantins, 
próximo ao sul dos estados do Pará e Maranhão. A fazenda tem sede situada a 
7°04’57.50’’ de latitude sul e 48°22’51.75’’ de longitude oeste a 236m de altitude. 
 
Figura 6. Mapa de localização da fazenda. Fonte:www.valedoboi.com.br 
 
3.2 Histórico 
 O trabalho de seleção de bovinos da raça Nelore começou na Fazenda São 
Judas Tadeu (Conquista-MG) e Fazenda Ipanema (Água Comprida-MG), no ano de 
1975, sendo o produto de RGN n° 001 nascido em 01/08/1976, com o nome de 
Cherife. A partir de 09/10/1983 o rebanho foi transferido para a Fazenda Vale do Boi 
no município de Araguaína, antigo norte de Goiás e atualmente norte do estado do 
Tocantins, município de Carmolândia (TO). 
 A Fazenda possui animais inscritos no Controle de Desenvolvimento Ponderal 
(CPD) da ABCZ há mais de 20 anos, participando também do Programa de 
Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ), onde posteriormente deu 
início na avaliação de Tipo EPMU (Estrutura, Precocidade, Musculatura e Umbigo). 
Na última edição do Sumário de Avaliação de Touros do PMGZ a fazenda ranqueou 
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sete entre os cem primeiros touros, incluindo o terceiro colocado, além de totalizar 
cem indicações ao Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens (PNAT). 
 A Vale do Boi foi a primeira a ofertar no mercado do Tocantins tourinhos com 
exame andrológico, produzindo e comercializando mais de 2.000 touros nos últimos 
10 anos, principalmente nos estados do Tocantins, Pará e Maranhão, consolidando-
se como pioneira na venda de animais com avaliação genética em leilões no Estado 
do Tocantins. Atualmente a fazenda possui um evento próprio de comercialização de 
animais geneticamente superiores denominado “Shopping Vale do Boi”, a principal 
vitrine da propriedade, que

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