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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARAGUAÍNA ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA RANNIERE RODRIGUES PEREIRA PARENTE PRODUÇÃO, SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE DA RAÇA NELORE ARAGUAÍNA-TO 2015 RANNIERE RODRIGUES PEREIRA PARENTE PRODUÇÃO, SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE DA RAÇA NELORE Relatório apresentado ao curso de Zootecnia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Zootecnia. Orientador: Prof. DSc. José Neuman Miranda Neiva Supervisor: Ricardo José de Andrade ARAGUAÍNA 2015 Parente, Ranniere Rodrigues Pereira Produção, seleção e melhoramento de bovinos de corte da raça Nelore./ Ranniere Rodrigues Pereira Parente – Araguaína, 2015. 112 f.: il Relatório de Estágio (Graduação em Zootecnia) – Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína, 2015. 1. Gado de corte 2. Pasto 3. Genética 4. Bem-estar 5. Produtividade I. Título RANNIERE RODRIGUES PEREIRA PARENTE PRODUÇÃO, SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE DA RAÇA NELORE Relatório apresentado ao curso de Zootecnia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Zootecnia. Orientador: Prof. Dr. José Neuman Miranda Neiva Supervisor: Ricardo José de Andrade Aprovado em ____ / ____ / ____ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. DSc. José Neuman Miranda Neiva Orientador Universidade Federal do Tocantins _____________________________________________ Ricardo José de Andrade Zootecnista Supervisor _____________________________________________ DSc. Odislei Fagner Ribeiro Cunha Avaliador UFT À minha família, base firme que me sustenta em toda minha vida e aos meus mestres que guiaram nos caminhos do conhecimento. AGRADECIMENTOS A Deus, pela vida, saúde, capacidade de trabalho e por guiar meus passos. Ao meu pai Joaquim Parente, meu ídolo, minha referência em caráter meu amigo e companheiro e a minha mãe Vandete Lúcia, minha fonte de ternura e aconchego. Meus amados pais, lhes serei eternamente grato pela educação e amor que sempre dedicaram a mim. Aos meus irmãos Ricciere e Rayssania, por todos os momentos que já compartilhamos desde a infância, por todas as alegrias que já me proporcionaram e pelo apoio durante a caminhada acadêmica. A todos os meus outros familiares, que independente do grau de parentesco, contribuíram com uma palavra de incentivo, com conselhos, com recursos financeiros, enfim, me serviram de base para que seguisse firme em busca desse objetivo. Essa vitória é nossa. Aos mestres e companheiros de sala de aula da antiga EAFA-TO, onde iniciei minha preparação para me tornar um profissional do campo e onde conheci pessoas, vivi experiências e obtive conhecimentos dos quais jamais me esquecerei. Grande parte do pouco sucesso que já conquistei se deve à tudo que vocês me proporcionaram na vida de Agriculino durante o curso de Técnico em Agropecuária. A Universidade Federal do Tocantins, pedra onde construí minha vida acadêmica na profissão dos meus sonhos, a Zootecnia. Especialmente pelos professores dedicados à nobre tarefa de formar profissionais e cidadãos. Aos meus amigos de faculdade, em especial Odimar Feitosa, Syandra Souza, Rhaiza Oliveira, Giulliane Marques e Bruna Gomes com quem convivi durante toda a graduação, compartilhando conhecimentos, alegrias e tristezas, trabalhando etc., vocês se tornaram minha segunda família. Também aos demais colegas da “Turma Sola da Bota”, com os quais tive a satisfação de batalhar pelo tão sonhado diploma de Zootecnia, meu muito obrigado. A todos os alunos dos cursos de Zootecnia e Medicina Veterinária da EMVZ/UFT, e também do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal Tropical, por todos os momentos vividos, pelas amizades construídas, pelos projetos desenvolvidos. Ao grupo de iniciação científica coordenado pelos professores, José Neuman, João Restle, Ana Cláudia, e Fabrícia Rocha onde eu tive o prazer de conviver e participar como bolsista de iniciação cientifica, obrigado pelo conhecimento adquirido e pela amizade construída. Ao meu orientador, professor Dr. José Neuman Miranda Neiva, pela orientação, dedicação, ensinamento e convivência desde o segundo período da graduação. Aos médicos veterinários André Carreira (Bos Acessoria e Pecuária) e João Batista Rezende (ABCZ) pela oportunidade concedida para trabalhar em parceria e por contribuir com este estágio. Ao Sr. Epaminondas de Andrade, proprietário da Fazenda Vale do Boi, pela oportunidade concedida para a realização do estágio e por transmitir constantemente para mim um pouco da sua filosofia de vida que é fazer pecuária de gado de corte com eficiência e competência. Ao meu supervisor de estágio, Sr. Ricardo José de Andrade, zootecnista da mais alta qualidade, que me proporcionou uma experiência de trabalho fantástica durante o estágio. Obrigado pelos ensinamentos, pelas correções e cobranças para que eu evoluísse sempre. Nunca me esquecerei que “ficar atento” “faz parte do processo”. Aos funcionários da Fazenda Vale do Boi, pela convivência e contribuição para o meu estágio. Agradecimento especial a “mestre” Rubens e Chledio Cardoso pela gentileza com que me receberam dando suporte para a realização do estágio. A todos meus sinceros agradecimentos. Obrigado! . “O justo cuida das necessidades do seu gado” Salomão (Provérbios 12:10) RESUMO O estágio curricular supervisionado foi realizado na Fazenda Vale do Boi no período de 03 de novembro de 2014 a 09 de janeiro de 2015, totalizando 384 horas de atividades. Durante o estágio foram acompanhadas e realizadas diversas atividades relacionadas à produção, seleção e melhoramento genético de bovinos de corte da raça Nelore da Fazenda Vale do Boi que trabalha com ciclo completo (cria, recria e terminação). Foram acompanhadas e realizadas atividades como: seleção de reprodutores e matrizes, acasalamento dirigido, detecção de cio e inseminação artificial, sincronização de cio para inseminação artificial em tempo fixo (IATF), diagnóstico de prenhez, manejo de bezerros recém-nascidos, pesagens, identificação, controle econômico e zootécnico, manejo do pastejo, suplementação alimentar, formação e manejo de pastagens, vacinação, controle de endo e ectoparasitas, bem como aspectos relacionados ao bem estar animal e recursos humanos voltados a produção animal sustentável. A Fazenda Vale do Boi possui um sistema de produção e melhoramento genético eficiente devido à utilização racional de tecnologias e tem potencial, devido à capacidade gerencial de seus gestores, para atingir níveis de produtividade e retorno econômico superiores aos que atinge atualmente. Ademais, a propriedade tem um potencial significativo para contribuir com a formação de futuros zootecnistas. No estágio curricular supervisionado foi possível colocar em prática parte dos conhecimentosteóricos adquiridos durante a graduação. Entretanto, ainda encontraram-se muitas dificuldades. As práticas de gerenciamento causaram dúvidas sendo difícil reunir os conhecimentos das disciplinas cursadas para solucionar os problemas. . Palavras-chaves: bem-estar, gado de corte, genética , pasto, produtividade LISTA DE FIGURAS Figura 1. Fluxograma de uma propriedade dedicada à cria, recria e engorda de bovinos de corte........................................................................................18 Figura 2. Curva de crescimento de diferentes biótipos bovinos................................30 Figura 3. Apresentação esquemática das diferentes proporções avaliadas para atribuir as notas de Estrutura, Precocidade, e Musculosidade .................................36 Figura 4. Esquema ilustrativo do espaço individual e a distância de fuga nos bovinos .................................................................................................42 Figura 5. Entendendo a zona de fuga e os ângulos de visão dos bovinos durante o manejo.....................................................................................................45 Figura 6. Mapa de localização da fazenda................................................................46 Figura 7. Interpretação dos resultados da análise de solo. ......................................48 Figura 8. Controle pluviométrico da Fazenda Vale do Boi........................................49 Figura 9. Participação percentual de gramíneas nas pastagens da fazenda Vale do Boi em 2014..............................................................................................50 Figura 10. Rebanho bovino da Fazenda Vale do Boi por categoria (dezembro de 2014).......................................................................................................51 Figura 11. Gráficos de tendência genética do rebanho da fazenda Vale do Boi e nacional.....................................................................................................53 Figura 12. Realização de acasalamentos dirigidos...................................................58 Figura 13. Rufiões em trabalho de detecção de cio..................................................59 Figura 14. Registro dos dados da inseminação........................................................60 Figura 15. Esquema ilustrativo do protocolo de IATF adotado na fazenda...............62 Figura 16. Higienização do aplicador (A) e colocação do implante de progesterona (B) para inserção na matriz (C)...............................................................63 Figura 17. Imagens ultrassonográficas de vacas após 30 dias de inseminação......64 Figura 18. Esquema ilustrativo do manejo das matrizes submetidas à IATF na estação de monta principal adotada na fazenda................................65 Figura 19. Acompanhamento de parto no pasto maternidade..................................66 Figura 20. Tatuando (A), aplicando a tinta (B) e esfregando (C) para penetração nos furos............................................................................................................................67 Figura 21. Pesando bezerro recém nascido..............................................................68 Figura 22. Armazenando suplemento próximo ao cocho (A) e fornecendo suplementação alimentar para um lote de tourinhos (B)....................71 Figura 23. Fornecimento de água de qualidade aos animais....................................72 Figura 24. Manejo sanitário contra ectoparasitas......................................................73 Figura 25. Sequência das atividades desenvolvidas no controle zootécnico............79 Figura 26. Pesos médios às idades-padrão dos animais da raça Nelore avaliados pelo PMGZ e dos animais do rebanho da fazenda.................................87 Figura 27. Gráfico de distribuição dos animais pesados durante o estágio, de acordo com a categoria de classificação............................................................88 Figura 28. Gráfico de desempenho dos touros para o peso calculado aos 205 dias de sua progênie.......................................................................................91 Figura 29. Uso da bandeira para condução e apartação de animais........................94 Figura 30. Semeadura e cobertura das sementes....................................................96 Figura 31. Plântulas de B. humidicola em diferentes estágios de desenvolvimento.96 Figura 32. Aplicação de fertilizantes em cobertura....................................................98 Figura 33. Pulverização de herbicida para controle de plantas invasoras................99 Figura 34. Detecção de lagartas e ninfas de cigarrinhas das pastagens................100 Figura 35. Mapa mental do fluxo de informações para formação do controle zootécnico e econômico da Fazenda Vale do boi...............................102 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Rebanho bovino brasileiro (em milhares de cabeças)...............................20 Tabela 2. Abate mundial de gado bovino (milhares de cabeças)..............................21 Tabela 3. Produção de carne bovina no Brasil (tonelada equivalente carcaça*)......21 Tabela 4. Médias e desvios-padrão dos pesos calculados à fase materna (PM), à desmama (PD) e ao sobreano (PS), e do ganho em peso pós desmama (GPD)........................................................................................................39 Tabela 5. Médias e desvios-padrão do perímetro escrotal ao sobreano (PES) e da idade ao primeiro parto (IPP)..................................................................39 Tabela 6. Médias desvios-padrão de estrutura corporal (E), precocidade (P) e musculosidade (M)..................................................................................40 Tabela 7. Desvios-padrão e medianas das DEPs.....................................................40 Tabela 8. Herdabilidade aditivas diretas (h²d) e maternas (h²m)...............................41 Tabela 9. Resultado da análise de solo de um piquete da Fazenda Vale do Boi....48 Tabela 10. Resumo quantificado das atividades realizadas durante o Estágio Curricular Supervisionado realizado na Fazenda Vale do Boi..............54 Tabela 11. Níveis de garantia dos produtos utilizados para a suplementação das categorias de recria e terminação Fazenda Vale do Boi.........................73 Tabela 12. Níveis de garantia dos produtos utilizados para a suplementação das matrizes da Fazenda Vale do Boi...........................................................74 Tabela 13. Médias e desvios-padrão para os parâmetros de desempenho produtivo em função da idade-padrão e sexo.........................................................86 Tabela 14. Médias e desvios para os parâmetros de desempenho reprodutivo e produtivo das matrizes avaliadas durante o estágio...............................90 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS °C – Graus Celsius ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu AC – Acurácia ACNB – Associação dos Criadores de Nelore do Brasil Al – Alumínio ASBIA – Associação Brasileira de Inseminação Artificial B – Boro BEA – Bem-estar Animal BHT – Hidroxitolueno butilado BLUP – Best Linear Unbiased Predictor Ca – Cálcio CDP – Controle de Desenvolvimento Ponderal CE – Circunferência Escrotal CLT – Consolidação das leis do Trabalho CTC – Capacidade de troca catiônica Cu – Cobre DEP – Diferença esperada na progênie DP – Desvio-padrão DPP - dias para o partoE – Estrutura corporal eCG – Gonadotrofina Coriônica Equina ECS – Estágio Curricular Supervisionado ER – Eficiência Reprodutiva F – Coeficiente de endogamia Fe – Ferro g – Gramas GABA – Ácido gama-aminobutírico GC – Grupos de contemporâneos GM - Grupo de manejo GMD = ganho de peso médio diário GnRH – Hormônio Liberador de Gonadotrofina GPD – ganho de peso diário GPD – Ganho de peso pós-desmama H – Hidrogênio h²d – Herdabilidade direta h²m – Herdabilidade materna ha – Hectare HMMP – Habilidade materna mais provável IA – Inseminação artificial IATF – Inseminação Artificial em Tempo Fixo iBACZ – Índice ABCZ IDUP – idade em dias na data do último parto IEP – intervalo entre partos IPGCC - índice de peso calculado no grupo de contemporâneos IPP – Idade ao primeiro parto IPT = índice de produtividade total. K – Potássio kg – Kilogramas LA – Livro Aberto LH – Hormônio Luteinizante M – Musculosidade mcg – Microgramas Mg – Manésio mg – Miligramas MHz – Megahertz ml – Mililitros mm – Milímetros Mn – Manganês MO – Matéria Orgânica MS – Matéria Seca N – Nitrogênio Na – Sódio NDE – número de desmames efetivos P – Fósforo P – Precocidade P4 – Progesterona PC – Peso Calculado PC – Peso Calculado PC205 – Peso calculado aos 205 dias PC365 – Peso calculado aos 365 dias PC550 – Peso calculado aos 550 dias PD-ED – Peso à desmama - efeito direto PES – Perímetro escrotal ao sobreano pH – Potencial Hidrogeniônico PM-EM – Peso à fase materna - efeito materno PMGZ – Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos PN – Peso ao Nascimento PNAT - Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens PO – Puro de Origem PRS – Precocidade-rusticidade-sobrevivência PS-ED – Peso ao sobreano - efeito diret PV – Peso Vivo R – repetibilidade RA – regime alimentar RC – rendimento de carcaça rg – correlação genética RGD – Registro Genealógico Definitivo RGN – Registro Genealógico de Nascimento S – Enxofre SB – Soma de Bases SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SPV – Sementes puras viáveis SRGRZ – Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas TF – Taxa de fertilidade TMD – Total materno do peso à desmama TMM – Total materno do peso à fase materna: TOP% – Percentil UA – Unidade Animal UFT – Universidade Federal do Tocantins UI – Unidades internacionais UNESP – Universidade Estadual Paulista V – Saturação por bases VC – Valor Cultural Zn – Zinco SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................17 2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................20 2.1 ESTATÍSTICAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE..........................................20 2.2 ASPECTOS IMPORTANTES DA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGENS..............................................................................................................22 2.3 MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE................................26 2.4 BEM ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGENS..............................................................................................................41 3. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO...................................................46 4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..........................................................................54 4.1 MANEJO REPRODUTIVO...................................................................................55 4.2 MANEJO NUTRICIONAL.....................................................................................68 4.3 MANEJO SANITÁRIO..........................................................................................75 4.4 CONTROLE ZOOTÉCNICO E MELHORAMENTO GENÉTICO..........................78 4.5 BEM-ESTAR E MANEJO RACIONAL DE BOVINOS..........................................92 4.6 FORMAÇÃO E MANEJO DE PASTAGENS........................................................94 4.7 CONTROLE ECONÔMICO................................................................................100 4.8 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS..............................................................102 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................105 6. REFERÊNCIAS....................................................................................................106 17 1. INTRODUÇÃO A pecuária de corte, graças a sua enorme flexibilidade se distribui em praticamente todo o território nacional. Os bovinos de corte têm ao longo dos anos se estabelecido nos mais variados ecossistemas do mundo e no Brasil não tem sido diferente (NEIVA, 2003). Os sistemas de produção a pasto existem em todo o país e predominam na maioria das regiões. Nesse caso, a maioria dos solos é ácida e de baixa a média fertilidade, tendo as forrageiras originárias da África, das espécies Brachiaria spp. e Panicum spp. apresentado excelente adaptação e crescimento sob as condições Brasileiras (FERRAZ e ELER, 2010). A raça Nelore, originária da Índia, tem como principal característica a rusticidade, apresentando alta adaptabilidade às condições tropicais que predominam no Brasil. Com isso, cerca de 80% dos bovinos de corte criados em sistemas de produção brasileiros são da raça Nelore ou oriundos de cruzamentos com a mesma (JOSAHKIAN et al., 2003). A raça tem expressiva participação no mercado nacional de comercialização de sêmen, sendo comercializadas 2,9 milhões de doses de sêmen (ASBIA, 2013), o que representou 38,16% de todo o sêmen comercializado no país. O trabalho de seleção e melhoramento aplicado à raça Nelore tem incrementado características produtivas que aliadas à rusticidade compõem um animal excelente para produção de carne, principalmente em sistemas de produção a pasto. Porém, características como precocidade sexual e de acabamento ainda precisam ser melhoradas, pois como utilizou-se muito o peso como critério de seleção os animais acabaram ficando mais tardios, especialmente os puros de origem. Atualmente, os trabalhos de seleção e melhoramento têm dado enfoque também as características de precocidade. No Brasil a entidade oficial que representa a raça Nelore é a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). Até meados dos anos 80, o setor de bovinocultura de corte apresentava um cenário extrativista lucrativo, e nos dias de hoje mudou para um cenário competitivo, com menores taxas de retorno do capital investido. Dessa maneira, tornou-se imperativa para os produtores de carne bovina a busca de tecnologias e alternativas que permitam sua sobrevivência e lucratividade. Nesse novo cenário, a fazenda 18 passa a ser vista como uma empresa que deve ser administrada com foco sempre nos resultados eficientes do ponto de vista bioeconômico e sustentável. Neste panorama o emprego de mão-de-obra qualificada, ou seja, a atuação de profissionais como o Zootecnista é fundamental para a devida orientação ao bovinocultor que, evidentemente, deseja sucesso em seu empreendimento (OLIVEIRA et al., 2008). Por muito tempo, entendeu-se a atuação do Zootecnista no sistema de produção de gado de corte somente confinada às fases descritas na Figura 1. Nela está a representação gráfica de uma propriedade clássica de bovinocultura de corte, na qual se trabalha com todas as categorias de produção. Contudo, o Zootecnista do século 21 tem formação,habilidade e competência para trabalhar tanto para fornecer condições (insumos, planejamento, ensino, pesquisa e desenvolvimento, etc.) para a atividade se iniciar, quanto durante a fase produtiva (com inclusão do bem estar animal), quanto em uma fase posterior relacionada, principalmente, com o escoamento e comercialização dos produtos in vivo, in natura e, ou, transformados (embalados, processados etc.) gerados na atividade. Figura 1. Fluxograma de uma propriedade dedicada à cria, recria e engorda de bovinos de corte. Fonte: Oliveira et al., (2008). O estágio curricular constitui um momento de obtenção e aprimoramento de conhecimentos e de habilidades essenciais ao exercício do profissional da zootecnia, que tem como função integrar e confrontar teoria e prática; inserir o aluno 19 no mercado de trabalho para conhecimento da realidade; estimular a solução de problemas técnicos reais; proporcionar segurança ao aluno no início de suas atividades profissionais e agregar valores junto ao processo de avaliação institucional, a partir do resultado de desempenho do aluno no mercado de trabalho. O objetivo do presente relatório foi a descrição, discutida com apoio bibliográfico, das atividades acompanhadas e realizadas durante o estágio curricular supervisionado na área de bovinocultura de corte, realizado na Fazenda Vale do Boi. 20 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ESTATÍSTICAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE O rebanho brasileiro aumentou em aproximadamente 26,7 milhões de cabeças entre 2007 e 2013, atingindo um total de 194,8 milhões de cabeças (tabela 6). Os crescimentos expressivos ocorreram nas regiões Norte e Nordeste. A região Norte que apresentava 32,2 milhões de cabeças em 2007, em 2013 apresenta 41,4 milhões de cabeças. O estado do Tocantins, cujo rebanho ultrapassou os 7 milhões de cabeças em 2013, contribuiu para o aumento do efetivo da região Norte com 1,58 milhões de cabeças, o que representa 17,33% do crescimento (tabela 6). Tabela 6. Rebanho bovino brasileiro (em milhares de cabeças). (Regiões) 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014* NORTE 32.266 33.647 35.606 36.496 38.495 40.164 41.417 42.386 RO 8.710 8.978 9.363 9.548 10.109 10.513 10.878 11.356 AC 1.912 2.047 2.214 2.329 2.521 2.717 2.822 2.923 AM 1.367 1.493 1.627 1.623 1.670 1.693 1.729 1.752 RR 602 636 675 681 755 802 826 843 PA 13.438 14.073 15.036 15.361 16.166 16.892 17.319 17.477 AP 63 66 70 71 77 80 82 83 TO 6.175 6.354 6.622 6.883 7.199 7.467 7.761 7.952 NORDESTE 26.564 27.126 27.861 27.788 29.774 31.014 32.062 33.073 SUDESTE 34.115 33.669 33.767 33.182 33.430 33.587 34.291 34.355 SUL 23.926 24.165 24.575 24.720 24.850 25.241 25.675 25.639 C.OESTE 51.459 51.290 51.459 51.904 55.695 58.541 61.399 63.242 BRASIL 168.330 169.897 173.269 174.091 182.244 188.548 194.844 198.696 Fonte: Adaptado de ANUALPEC, 2014. *Projeção; Já o número de animais abatidos no Brasil decresceu de 42,3 milhões de cabeças em 2007 para mais de 41 milhões de cabeças em 2013 (tabela 7). Quanto à produção de carne observou-se aumento, tendo sido produzidas 7,43 milhões de equivalentes carcaças em 2007 e 8,3 milhões em 2013 (tabela 8). Isto pode ser indicativo de melhoria na eficiência da pecuária de corte nacional. 21 Tabela 7. Abate mundial de gado bovino (milhares de cabeças). Países 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014* Brasil 42.345 40.438 39.466 39.400 39.100 40.205 41.060 42.142 China 43.595 44.461 42.382 41.170 40.850 40.680 41.250 42.000 Índia 23.750 25.600 25.500 28.710 32.800 35.225 37.825 40.000 Estados Unidos 35.209 35.508 34.468 35.324 35.076 33.844 33.205 31.267 União Européia 29.249 29.221 28.712 28.748 28.541 27.384 27.300 27.600 Argentina 15.200 14.800 16.100 11.900 11.060 11.600 12.500 12.800 Austrália 8.900 8.652 8.411 8.273 7.943 7.989 8.600 8.400 Rússia 7.494 7.653 7.337 7.221 6.720 6.840 6.890 6.770 México 5.690 5.815 5.897 6.050 6.347 6.375 6.200 6.250 Colômbia 3.982 4.181 4.375 4.200 4.300 4.325 4.300 4.300 Nova Zelândia 3.562 3.907 3.825 3.991 3.939 3.957 4.164 4.110 Canadá 3.820 3.849 3.705 3.746 3.391 3.132 3.000 2.990 Ucrânia 3.715 3.256 2.944 2.906 2.591 2.336 2.416 2.510 Uruguai 2.300 2.250 2.325 2.280 2.096 2.150 2.230 2.380 Venezuela 1.615 1.350 1.275 1.560 1.570 1.665 1.575 1.570 Outros 99.117 96.805 90.357 85.291 84.552 85.454 87.155 88.907 TOTAL 243.503 242.847 235.231 230.200 230.926 232.265 237.360 239.854 Fonte: Adaptado de ANUALPEC, 2014. *Projeção; Tabela 8. Produção de carne bovina no Brasil (tonelada equivalente carcaça*) Regiões 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014** NORTE 1.148.324 1.220.705 1.306.603 1.328.566 1.493.450 1.531.395 1.526.534 RO 339.652 362.934 395.031 384.751 424.294 443.999 455.400 AC 53.815 57.563 59.904 73.333 80.360 85.540 82.249 AM 66.350 77.054 95.875 88.277 93.701 100.703 102.229 RR 18.275 19.822 24.393 23.356 27.009 26.857 26.765 PA 451.591 471.982 491.865 489.083 560.611 562.256 547.780 AP 4.141 4.152 4.332 5.098 5.457 4.931 3.399 TO 214.500 227.198 235.203 264.668 302.018 307.110 308.711 NORDESTE 1.038.400 1.093.021 1.223.774 1.106.852 1.211.591 1.212.532 1.246.758 SUDESTE 1.945.886 1.894.110 1.900.854 1.707.844 1.706.724 1.761.165 1.769.744 SUL 1.204.708 1.237.681 1.225.902 1.209.786 1.252.847 1.287.998 1.252.416 C.OESTE 2.093.644 2.172.258 2.120.373 2.073.488 2.350.514 2.529.626 2.725.199 BRASIL 7.430.962 7.617.775 7.777.505 7.426.537 8.015.125 8.322.717 8.520.651 * Estimativa referente aos abates de cada estado **Projeção; Fonte: Adaptado de ANUALPEC, 2014. 22 2.2 ASPECTOS IMPORTANTES DA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGENS No Brasil, os sistemas de produção de carne bovina caracterizam-se pela dependência quase que exclusiva de pastagens, o que apesar de fornecer vantagem comparativa no mercado internacional, uma vez que viabiliza custos de produção relativamente mais baixos e possibilita a capitalização de uma produção integrada de forma harmônica com o ambiente, requer maior inversão em manejo do rebanho e das pastagens e uso mais intenso de tecnologias. Isso porque ocorre o uso exclusivo dessa fonte de alimentação tem, nesse momento em que as competitividades por preço e por qualidade de produto impõem mudanças no setor, apresentando-se bioeconomicamente inviável em muitas situações. Isso é agravado, principalmente pela forma como essas pastagens são manejadas (EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 2010). Ainda de acordo com esses autores, as conquistas observadas nesse campo são decorrentes da combinação do lançamento de cultivares adaptadas e muito mais produtivas com a melhor compreensão das relações solo-planta-animal, resultando na melhoria do manejo das pastagens. 2.2.1 Fatores que influenciam na produção forrageira A produção dos animais a pasto é influenciada pela massa e pela qualidade da forragem que, por sua vez, são influenciadas pela espécie ou cultivar, pelas propriedades químicas e físicas do solo, pelo nível de utilização de fertilizantes, pelas condições climáticas, pela idade fisiológica e pelo manejo a que a forragem é submetida. A eficiência da utilização de forragens só é alcançada aliando-se o montante dispnível e estrutura da pastagem (ALEXANDRINO, et al., 2013), ou seja, pelo entendimento desses fatores e pela sua manipulação adequada, de modo a possibilitar tomadas de decisões objetivas de manejo de maneira a maximizar a produção animal. Assim, o conhecimento do potencial produtivo, em termos quantitativos e qualitativos das diversas espécies forrageiras,o estabelecimento do manejo adequado para cada uma delas e a busca de novas alternativas de utilização constituíram-se nos principais pilares geradores das novas tecnologias responsáveis por incrementos significativos na produção de bovinos em pastagens (EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 2010). 23 2.2.2 Sazonalidade da produção forrageira tropical O que se busca em uma forrageira é a capacidade de atender, pelo maior período possível, às demandas do animais. No entanto, se por um lado vaiam em qualidade (NUSSIO e SCHMIDT, 2010), por outro, os requerimentos nutricionais do animal também não são constantes durante sua vida, ou mesmo no decorrer do ano. Estes variam em razão de diversos fatores, como idade, estado fisiológico, sexo, grupo genético, peso e escore corporais (VALADARES FILHO e CHIZZOTTI, 2010). Assim, considerando-se sistemas de produção nos quais se buscam índices elevados de eficiência, somente em situações particulares, e por pouco tempo, essas forrageiras seriam capazes de possibilitar que animais de bom potencial genético tivessem suas exigências atendidas (CORRÊA et al., 2003; THIAGO et al., 2000; EUCLIDES et al., 2008). A estacionalidade de produção de forragem, comum nas pastagens, especialmente naquelas de regiões tropicais, talvez seja uma das maiores limitações da sustentabilidade e da produção ao longo do ano. É caracterizada por marcante redução na produção de forragem e, consequentemente, na produção animal durante o período seco do ano (CORRÊA et al., 2003; THIAGO et al., 2000; EUCLIDES et al., 2008). A intensificação da produção, eliminando ou diminuindo seu efeito, tem sido um desafio. Dentre as tecnologias que se dispõem para resolver para resolver o problema, podem-se citar: o manejo do pasto em sua capacidade de suporte (SILVA, 2010); o uso de irrigação nas condições em que essa prática for recomendável (MENDONÇA et al. 2010); o uso de alimentação suplementar (REIS et al., 2010; SANTOS e PEDROSO, 2010; BERCHIELLI e BERTIPAGLIA, 2010) e as combinações dessas estratégias. 2.2.3 Principais gramíneas utilizadas e importância da diversificação A análise dos dados de potencial produtivo, apresentados na literatura para os capins mais utilizados no Brasil, permite que esses sejam classificados em três grupos distintos: o de alto potencial, composto por gramíneas do gênero Panicum (Tanzânia, Mombaça, Tobiatã, Vencedor), Cynodon (Estrela, Coast-cross e Tiftons) 24 e Pennisetum (Cameroon, Napier e Anão); o de médio potencial, formado pelas gramíneas do gênero Brachiaria (ruziziensis, decumbens, Marandu, Xaraés e Piatã) e Andropogon (planaltina e baeti); e o de baixo potencial, constituído pelas gramíneas do gênero Brachiaria (humidicola, tupi e dictyoneura cv. lanero). Vale ressaltar, no entanto, que os capins de maior potencial são mais exigentes em fertilidade e em manejo. Além disso, essas plantas têm plasticidade fenotípica diferente de maneira a assegurar adaptação ao processo de colheita, gerando, dessa forma, flexibilidades de uso diferenciados(EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 2010). Assim, além dos efeitos positivos de se evitar a monocultura, o planejamento forrageiro, que consiste em adequar a produção de forragem às exigências dos animais ao longo do ano, pode ser facilitado pelo uso de variedades diferentes de gramíneas. Segundo Euclides Filho e Euclides (2010), a diversificação de pastagens pode ser uma maneira simples de mudar os níveis de produção da fazenda, uma vez que a maioria das propriedades possui áreas que, por suas características, são indicadas para diferentes espécies forrageiras. Recomenda-se que aquelas áreas que apresentam alta produtividade tenham seu uso concentrado na época de crescimento forrageiro mais intensivo, quer seja pelo pastejo direto, quer pela conservação de forragem (NUSSIO e SCHMIDT, 2010), para permitir melhor aproveitamento da forragem produzida. Por outro lado, as forragerias de potencial produtivo menor poderiam ser utilizadas estrategicamente durante as águas, para ajustar o manejo das áreas mais produtivas, e ainda aquelas apropriadas para diferimento (SANTOS e CAVALCANTE, 2010), poderiam ser vedadas no fim do verão para serem pastejadas durante a seca. 2.2.4 Estratégias de utilização racional das pastagens Embora o pasto colhido seja a fonte mais barata de alimento para os ruminantes, é importante destacar que, na maioria das regiões do Brasil, esse alimento somente se encontra adequado ao bom desempenho animal, em quantidade e qualidade nutricional, por cerca de seis meses do ano. Como consequência, torna-se difícil projetar sistemas sustentáveis apenas baseados em pastejo da forragem acumulada durante esse período. Dessa maneira, a 25 conservação do excedente de pasto ou uso da suplementação concentrada devem fazer parte do sistema (EUCLIDES FILHO e EUCLIDES, 2010). Isso implica em manipulação da taxa de lotação nas áreas pastejadas, aumentando, assim, a flexibilidade de controle do pasto e do processo de pastejo. A quantidade de forragem para o pastejo e para conservação depende da natureza do empreendimento (CORRÊA et al., 2001; EUCLIDES et al., 2003). O diferimento de pastagens pode se conduzido dentro do sistema intensivo, como evidenciado por Euclides et al. (2003). Outra alternativa que pode ser adotada para manter as taxas de lotação mais elevadas e mais estáveis, durante o ano, é a conservação de forragem produzida durante o verão. Como exemplo, pode-se citar o sistema integrado de pastejo com o uso de silagem utilizado por Corrêa et al. (2001). Uma alternativa utilizada com sucesso na região Amazônica é o sistema integrado de pastagens, utilizando-se o grande potencial produtivo das forrageiras da várzea, na época seca, e as pastagens cultivadas de gramíneas do gênero Brachiaria na terra firme. Segundo Lourenço Jr. e Garcia (2006), esse sistema além de não provocar danos significativos ao meio ambiente, permite a terminação de bovinos de corte ente 400 a 450 kg de PV, com idade inferior a dois anos. Ao considerar o sistema de ciclo completo, ou seja, cria, recria e engorda, o manejo intensificado das pastagens possibilita incrementos substanciais na produção de carne/hectare, conforme constatado por Vieira et al. (2005), que obtiveram a produção economicamente viável de 101 quilos de equivalente carcaça/hectare/ano em sistema de ciclo completo com pastagens de B. brizantha, B. decumbens e Tanzânia adubadas aliadas ao uso de suplementação alimentar na recria e terminação em confinamento. Euclides Filho e Euclides (2010) ressaltam que, quando se objetivam altos níveis de produção por animal, tem-se como consequência a redução na flexibilidade do sistema de pastejo e o aumento na necessidade de suplementos e/ou a redução da taxa de lotação como forma de equilibrar a demanda anual com a produção das pastagens. Sistemas de pastejo podem adaptar-se aos padrões e produção sazonal de forragem, mas as variações existentes entre os anos são mais difíceis de serem ajustadas. À medida que aumentam as variações entre anos, há que se reduzir a intensificação do sistema de pastejo ou a dependência das 26 pastagens como fonte principal de alimentos. Em situações em que a produção sazonal dos pastos não se ajusta aos requerimentos dos animais, alternativas têm de ser usadas. 2.3 MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE O processo do melhoramento genético é uma arte milenar. Acompanha a humanidade desde as suas primeiras incursões na domesticação dos animais de interesse econômico na busca de alimentos básicos para seu próprio sustento (JOSAHKIAN et al. 2003).A seleção de reprodutores nada mais é do que a escolha dos animais que devem ser os pais das próximas gerações e seu acasalamento de forma mais privilegiada que os demais individuos da população. Esse processo permite que esses animais deixem mais descendentes do que outros e, consequentemente, contribuam de forma diferenciada para o patrimônio genético da próxima geração, deixando mais cópias dos seus genes e alterando a frequencia gênica (FERRAZ e ELER, 2010). O melhoramento genético animal é a ciência que estuda as ações da genética do indivíduo e do ambiente na determinação de suas características de interesse econôminco. Essa ciência divide-se basicamente em duas ações: a seleção e os sistemas de acasalamento (FERRAZ e ELER, 2010). O desempenho animal animal, também denominado fenótipo é o resultado do patrimônio genético que o animal possui, o chamado genótipo e, ainda dos efeitos de meio ambiente, existindo ainda uma interação entre os efeitos de genótipo e meio ambiente. Dessa forma o desempenho dos animais, pode ser descrito numa equação muito simples: F = G + E + GE Esta equação mostra que o fenótipo (F) que é medido nos animais, não demonstra o verdadeiro potencial genético (G). O fenótipo está sempre influenciado pelo meio ambiente (E) e pela interação genótipo-ambiente (GE). A fração G pode ainda ser dividida em três componentes: o valor aditivo dos genes (A), que todo gene tem, o desvio da ação individual dos genes, o desvio 27 causados pelos efeitos de dominância (D), que dependem do efeito conjunto dos genes contidos nos gametas que vêm do pai e da mãe, e dos efeitos de interação dos genes de loci diferentes (I). Assim a equação ficaria: F = (A + D + I) + E + GE No entanto, o único termo previsível dessa equação é o A. A evolução nas metodologias de análise visando estimar esse valor de A exige o uso de modelos estatísticos bastante complexos para, dado um conjunto de informações de pedigree dos animais, poder fazer esta estimativa. Quando se estima o valor de A, e i utiliza para escolha dos animais que deixarão descendentes, estar-se-á perto de obter o ganho máximo que a seleção pode oferecer (FERRAZ e ELER, 2010). Diferença Esperada na Progênie (DEP) As DEPs são, por definição, a fração de uma superioridade de progênie devida aos efeitos dos genes do reprodutor e correspondem à metade do valor genético aditivo. As DEPs são estimadas com base nas informações do próprio indivíduo e/ou de seus parentes e indicam a diferença esperada na produção média da progênie de um determinado animal em relação à produção média das progênies de todos os animais que participaram da mesma avaliação. A DEP é uma medida relativa, sempre. Se determinado touro possui DEP para peso ao sobreano de +20 kg, isso significa que se espera que, em média, a progênie deste touro pese 20 kg a mais que a média do peso ao sobreano das progênies dos outros touros avaliados.Também permite, da mesma forma, que se compare o provável desempenho da progênie de dois touros em uma mesma avaliação. Por exemplo, havendo dois touros, o touro A com DEP + 35 kg para peso ao sobreano e o touro B com DEP +20 kg também para peso ao sobreano, espera- se que, em média, a progênie do touro A pese 15 kg a mais que a progênie do Touro B, se todos os outros fatores forem mantidos inalterados. É relevante lembrar que a DEP é uma expectativa e, portanto, deve sempre vir acompanhada da acurácia (AC). 28 Acurácia (AC) É uma medida do grau de confiança da estimativa da DEP. Quanto maior o número de informações utilizadas na avaliação genética de determinado animal, sejam dele ou de parentes, maior será a acurácia de suas DEPs. O valor da acurácia varia de 1 a 99%. É importante lembrar que é a DEP quem indica o uso ou não de determinado animal como reprodutor. A acurácia deve ser utilizada como uma medida de risco e irá determinar a intensidade de uso deste animal. Do ponto de vista prático, isso significa que animais de boas DEP’s e baixa acurácia podem e devem ser utilizados, mas em um número relativamente pequeno de acasalamentos. Estimação de parâmetros genéticos Segundo Ferraz e Eler (2010) a estimação dos valores genéticos é diretamente dependente da estimação dos componentes de variância e covariância das características, os quais são essenciais em programas de melhoramento animal. O melhoramento genético das espécies zootécnicas é baseado em razões de componentes de variância, como os coeficientes de herdabilidade (h²), correlação genética (rg) e repetibilidade (R). Nesse contexto, o coeficiente de herdabilidade é um parâmetro indispensável na predição do mérito genético dos animais e na predição da resposta à seleção. O coeficiente de correlação também é um parâmetro genético importante, pois estabelece a força de relacionamento de uma característica em relação à outra, informando se determinada característica pode ou não ser influenciada pelas decisões de seleção em outra. Os componentes de variância são estiamdos por métodos que evoluíram à medida que novas técnicas computacionais e novas teorias foram desenvolvidas. Com o desenvolvimento das metodologias de estimação dos valores genéticos aditivos, chegou-se aos modelos animais, a ferramenta mais utilizada nos programas de seleção ao redor do mundo. O ojetivo principal dos modelos animais é chegar a um modelo que descreva, da melhor forma possível, a real situação biológica para predição de valores genéticos aditivos e estimação dos componentes de variância (FERRAZ e ELER, 2010). Recentemente, vêm sendo utilizadas outras 29 metodologias para obtenção de componentes de (co)variância e, consequentemente, de parâmetros genéticos, como o método R e análises por metodologias Bayesianas. A avaliação genética sob modelo animal tem como base estatística as equações de modelos mistos. A melhor predição linear não enviesada – BLUP (Best Linear Unbiased Predictor), utilizando modelos mistos sob o modelo animal, tornou- se rapidamente o método preferido pelos geneticistas para estimar os parâmetros genéticos (HENDERSON, 1988). No entanto, o uso intensivo dos modelos animais tende a privilegiar famílias que têm valor genético aditivos superiores, podendo, no médio prazo, levar ao acasalamento entre parentes, a chamada endogamia (erroneamente conhecida como consanguinidade). Como parentes têm cópias dos genes dos acestrais comuns, é de se esperar que filhos desse tipo de acasalamento tenham maior grau de homozigose, o que favorece a expressão de genes deletérios, usualmente recessivos. A expressão desses genes pode levar ao aparecimento de doenças, diminuição do vigor dos animais e importantes perdas de produtividade, no que Gordon Dickerson, um dos pais do moderno melhoramento genético animal, denominou, em 1965, depressão pela endogamia. Essas perdas são evidentes já quando o coeficiente de endogamia ultrapassa os 5 ou 6% (FERRAZ e ELER, 2010). Seleção para crescimento Além de determinante da quantidade de carne produzida para mercado e, portanto, economicamente fundamental para a bovinocultura de corte, o crescimento é fácil de ser medido ou avaliado e registrado, expressa-se em ambos os sexos e em todas as idades, pode ser avaliado por uma gama muito ampla de modelos, inclusive modelos muito simples, e ainda apresenta resposta rápida e consistente à seleção. Por essas razões, todos os programas de melhoramento de bovinos de corte enfatizam de algum modo, às vezes como critério de seleção exclusivo, características que representam o crescimento dos animais.Elas são as primeiras a serem mensuradase avaliadas e, quase todos os índices de seleção empíricos dos 30 programas de melhoramento do Brasil apresentam ponderações muito altas para essas características (ALBUQUERQUE et al. 2010). O crescimento pode ser avaliado pelo peso, altura, comprimento, ou outras medidas tomadas em diferentes idades no animal. Qualquer que seja a medida, o tamanho do animal, ao longo do tempo de vida, pode ser representado por uma curva sigmóide (figura 32), dividida em duas fases, uma em que a taxa de crescimento aumenta em cada dia; e outra em que ocorre uma desaceleração dessa taxa (ALBUQUERQUE et al. 2010). A seleção exclusivamente para peso nas diferentes idades, ao longo do tempo, conduz a animais de maiores pesos a idade adulta, conseqüentemente mais exigentes quanto aos requerimentos nutricionais que, quando não atendidos, aumentam o período de permanência de machos e fêmeas na propriedade destinados ao abate, pois, animais de maior porte, via de regra, são mais tardios em deposição de gordura subcutânea (figura 32). Mas o maior prejuízo para o produtor devido a maior exigência nutricional, quando estas não são plenamente atendidas, pode se dar pelo comprometimento do desempenho reprodutivo das matrizes, pois a reprodução é um acontecimento que só ocorre quando as fêmeas estão em bom estado de condição corporal (JOSAHKIAN et al. 2003). Figura 2. Curva de crescimento de diferentes biótipos bovinos. A figura 32 representa de maneira bastante rudimentar, curvas de crescimento de dois diferentes biótipos, tardio e precoce. Nota-se que a curva de crescimento que representa o tipo morfológico tardio atinge seu platô no ponto A, onde se inicia a desaceleração do crescimento muscular, e, conseqüentemente uma 31 maior aceleração na deposição de gordura de acabamento. Esse processo ocorre no animal tardio de forma bem distinta quando comparado com o animal precoce, tanto na idade, que é mais avançada, quanto no peso vivo, que é também maior. Vale ressaltar que existem relatos na literatura que afirmam que a precocidade em deposição de gordura coincide fisiologicamente com a precocidade em maturação sexual. A estrela em destaque na figura 32 simboliza o ponto em que as curvas distintas se cruzam. Nesse ponto os animais estão com o mesmo peso, e a balança diria que esses indivíduos são iguais, quando na realidade são tipos morfológicos completamente diferentes. Essa situação pode evar a conclusões não necessariamente corretas. Com isso pode-se concluir que a seleção em bovinos de corte não deve ser pensada exclusivamente na balança, mas sim na composição do peso, que é a resultante de músculos, vísceras, ossos e tecido adiposo, e neste sentido as avaliações visuais por escores são uma grande ferramenta de trabalho para se chegar a melhores proporções dos diferentes tecidos (JOSAHKIAN et al. 2003). Seleção para precocidade sexual Inicialmente o melhoramento da precocidade sexual e da fertilidade na pecuária de corte brasileira foi buscado quase que exclusivamente na seleção para perímetro escrotal (PE). Uma outra característica usual é a idade ao primeiro parto (IPP). A IPP apresenta-se como característica promissora, sendo medida na própria fêmea. Em zebuínos, é uma característica dependente da idade em que as fêmeas entram em reprodução pela primeira vez, o que interfere na herdabilidade da característica (PEREIRA et al., 2001), sendo necessário portanto, que as fêmeas jovens sejam desafiadas em reprodução para evidenciar as diferenças genéticas e detectar efetivamente as mais precoces. O perímetro escrotal é uma característica indicadora da idade na puberdade e, consequentemente, indicadora da precocidade sexual. Não se seleciona PE com 32 o objetivo de aumentar o perímetro escrotal em si, mas sim de diminuir a idade na puberdade. Portanto, perímetro escrotal não é o objetivo de seleção, mas simplesmente um critério de seleção visando atingir o verdadeiro objetivo que é aumentar a taxa de prenhez de fêmeas jovens na população. O ganho genético obtido para precocidade sexual, quando a seleção é baseada no PE, é o que é chamado ganho genético correlacionado, ou seja, depende da correlação entre a característica de precocidade sexual e o perímetro escrotal. É uma característica com herdabilidade alta. A correlação genética entre CE e IPP é favorável, mas baixa (ELER et al., 2010). Pereira et al. (2001) estimaram essa correlação e obtiveram valor igual a -0,19 para um conjunto de dados em que as novilhas para reprodução com idade em torno de 24 meses, e -0,39 para outro conjunto da mesma população, mas considerando apenas as novilhas que entraram na reprodução aos 14 meses. Resultados práticos observados ao longo dos anos mostraram que houve progresso genético. Houve aumento de precocidade sexual nas populações que basearam a seleção em perímetro escrotal. Os resultados dos trabalhos científicos realizados com populações zebuínas nacionais têm mostrado, no entanto, que o progresso genético poderia ter sido muito maior. Melhor ainda, têm mostrado que é possível alcançar progresso genético muito maior substituindo-se o perímetro escrotal por uma característica medida diretamente na fêmea (ELER et al., 2010). Outras características foram sugeridas e utilizadas para selecionar para precocidade sexual e fertilidade. Entre essas estão a característica dias para o parto (JOHNSON, et al., 1996), a capacidade de permanência no rebanho ou stayability e a produtividade acumulada (SCHEWENGBER et al., 2001) ou produtividade média anual (ELER et al., 2008). A característica dias para o parto (DPP) refere-se ao número de dias entre o primeiro dia da estação de monta e o dia efetivo para o parto. A princípio, a característica leva em consideração a própria concepção mais cedo ou mais tarde na estação de monta e também a duração da gestação. A stayability ou capacidade de permanência no rebanho indica o potencial dos reprodutores em produzir filhas que permanecem no rebanho, no mínimo, até um número de anos que as tornem econômicas. A análise dessa característica exige que as vacas tenham tido oportunidade de atingir a idade de permanência. Por essa 33 razão, as vacas jovens não são avaliadas e, consequentemente, os touros jovens também não são avaliados (ELER et al., 2010). A produtividade acumulada (SCHEWENGBER et al., 2001) ou produtividade média anual, como é denominada em Eler et al. (2008), considera a produtividade média em kg de bezerros desmamados por vaca/ ano, sendo, assim uma característica de interesse econômico que leva em conta a precocidade sexual, a fertilidade e também o desempenho produtivo da vaca. Segundo Eler et al. (2010), essa é uma característica que depende ainda de mais pesquisas, principalmente para avaliar a correlação genética com a própria stayability. Independente da característica ou critério de seleção adotado, está claro que a seleção para precocidade traz grandes impactos sobre o sistema de produção de bovinos de corte. Resultados de simulação publicados por Eler et al. (2010) demonstram que a redução da idade ao primeiro parto de 3 para 2 anos conduziria a um aumento de 16% no retorno econômico do sistema. 2.3.1 O PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE ZEBUÍNOS (PMGZ) O Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) é desenvolvido pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e contempla as raças: Brahman, Gir, Guzerá, Nelore, Indubrasil, Sindi e Tabapuã. O programa é conduzido em várias etapas: coleta de dados, processamento das avaliações genéticas divulgação e orientação sobre o uso dos resultados.As avaliações genéticas das raças zebuínas de corte são atualizadas semestralmente pela ABCZ, tendo como base as informações provenientes, principalmente, do Controle do Desenvolvimento Poderal. Toda a população avaliada é composta somente por animais inscritos no Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ). A coleta de dados, sejam eles de genealogia ou desempenho, é supervisionada por técnicos de campo. Anualmente, são incorporados novos animais e novas informações ao banco de dados geral do PMGZ. Atualmente, a base de dados geral da ABCZ acumula mais de 13 milhões de pesagens, o que a 34 configura como a maior do mundo no que diz respeito aos zebuínos. Neste ano de 2014, participaram do processo de avaliação genética mais de 10 milhões de animais das diferentes raças zebuínas.Todo esse processo permite disponibilizar aos criadores e pecuaristas em geral, as avaliações genéticas de animais zebuínos, sejam eles touros, matrizes ou animais jovens. As avaliações genéticas nacionais das raças zebuínas foi publicada em 1984, como resultado do convênio entre ABCZ e Embrapa. Atualmente, as avaliações são realizadas por uma equipe interna com auxílio de de consutores da área de melhoramento genético animal. 2.3.1.1 Características avaliadas pelo PMGZ PM-ED: Peso à fase materna – efeito direto (kg): indica potencial do animal para gerar filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos outros animais aos 120 dias de idade. PD-ED: Peso a desmama – efeito direto (kg): indica potencial do animal para gerar filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos outros animais no período da desmama (205 dias de idade dos filhos). PS-ED: Peso ao sobreano – efeito direto (kg): indica potencial do animal para gerar filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos outros animais no período do sobreano (450 dias de idade dos filhos). GPD: Ganho em peso pós desmama (g/dia): indica potencial do animal para gerar filhos com desempenho superior (ou inferior) em relação à média dos filhos dos outros animais para ganho em peso da desmama ao sobreano. PM-EM: Peso à fase materna – efeito materno (kg): indica o potencial genético do animal em gerar filhas com habilidade materna superior (ou inferior), expressa em kg de bezerros. Esta característica é avaliada na fase dos 120 dias de idade do animal. 35 TMM: Total materno do peso à fase materna: indica a habilidade total das filhas do animal para produzir bezerros mais (ou menos) pesados aos 120 dias de idade. O Total Materno é o resultado da soma da ½ DEP direta + toda a DEP materna da característica. TMD: Total materno do peso a desmama: indica a habilidade total das filhas do animal para produzir bezerros mais (ou menos) pesados a desmama. O Total Materno é o resultado da soma da ½ DEP direta + toda a DEP materna da característica. IPP: Idade ao primeiro parto (dias): indica potencial do animal para gerar filhas cujo primeiro parto seja mais (ou menos) precoce em relação à média das filhas dos outros animais. Neste caso, quanto mais negativa for a DEP melhor, ou seja, menor será a idade ao primeiro parto de suas filhas. PES: perímetro escrotal ao sobreano (cm): indica o potencial do animal para gerar filhos com maior (ou menor) perímetro escrotal aos 450 dias de idade. Esta é uma característica correlacionada à precocidade sexual de machos e fêmeas de modo que, de uma maneira geral, quanto maior o perímetro escrotal maior a precocidade sexual. E: Estrutura corporal: indica o potencial do animal para gerar filhos com maior (ou menor) estrutura corporal. A estrutura corporal é avaliada como a área (abrangência visual) do animal observado de lado, olhando-se basicamente para o comprimento corporal e a profundidade de costelas. São atribuídas notas que variam de 1 (menor estrutura corporal) a 6 (maior estrutura corporal). P: Precociade: indica o potencial do animal para gerar filhos mais (ou menos) precoces. A precocidade é avaliada como a relação entre a profundidade de costela e altura dos membros. São atribuídas notas que variam de 1 (menos precoce) a 6 (mais precoce). Animais com maior profundidade de costelas em relação aos seus membros recebem as maiores notas. 36 M: Musculosidade: indica o potencial do animal para gerar filhos com maior (ou menor) cobertura muscular. A musculosidade é avaliada através da evidência das massas musculares. São atribuídas notas que variam de 1 (menor musculosidade) a 6 (maior musculosidade). Figura 3. Apresentação esquemática das diferentes proporções que devem ser avaliadas para atribuir as notas de Estrutura (setas vermelhas), Precocidade (setas amarelas) e Musculosidade (setas verdes). 2.3.1.2 Índices utilizados no programa Índice ABCZ (iABCZ) É o índice de seleção que contempla características de importância econômica, sugerido como critério de seleção dos animais dentro do PMGZ – Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos. O iABCZ considera e pondera as seguintes DEP’s: iABCZ = 10% PM-EM + 15% PD-ED + 20% TMD + 15% GPD + 15% PS-ED + 20% IPP + 5% PES Onde: 37 PM-EM = peso à fase materna – efeito materno (120 dias); PD-ED = peso a desmama; TMD = total materno do peso a desmama; GPD = ganho de peso pós desmama; PS-ED = peso ao sobreano; IPP = idade ao primeiro parto, e PES = perímetro escrotal ao sobreano. É importante lembrar que este é um índice sugerido. Para cada rebanho que participa do PMGZ da ABCZ é possível, nos relatórios eletrônicos com as avaliações genéticas e nos Sumários de Touros, compor o índice mais adequado às necessidades seletivas do plantel. Sendo assim, é possível identificar animais com melhor genética em características de crescimento (pesos e ganho), reprodutivas ou naquelas relacionadas à habilidade materna, ou ainda combiná-las em um único índice de forma diferente e personalizada. Uma das propriedades dos índices é permitir que animais ligeiramente inferiores em uma característica possam ser resgatados para a população selecionada pelo fato de serem muito superiores em outra característica. Por exemplo, suponhamos um animal que tenha uma ligeira inferioridade no peso a desmama. Caso ele tenha uma grande superioridade em outras características, essa inferioridade será compensada. Claro que isso depende do nível de inferioridade da característica, do nível de superioridade das outras e da ponderação que foi dada a estas características. Essa condição, aliada à decisão de que peso atribuir a cada característica, é que torna a construção dos índices um processo complexo. De qualquer forma, ele sempre funciona melhor do que uma seleção focada em apenas uma característica o que, seguramente, provoca desequilíbrios no processo produtivo. Percentil (TOP%) Indica a posição (classe) do animal para determinada DEP e para o iABCZ, em relação ao total de animais avaliados. Sendo assim se um animal tem percentil igual a 2% para DEP PS-ED, significa que, para a DEP de peso ao sobreano, ele está entre os 2% melhores animais para esta característica. O percentil varia de 0,1 a 100%, ou seja, quanto menor, melhor classificado está o animal. 38 2.3.2 AVALIAÇÃO GENÉTICA DA RAÇA NELORE 2.3.2.1 Dados utilizados Para a avaliação genética da raça Nelore de julho de 2014 foram utilizados dados de animais nascidos entre 1991 e 2014. Após análise crítica, totalizaram 5.088.847 registros válidos relacionados a uma população de 9.949.792 animais, sendo 3.872.471registros das características de crescimento, 757.699 registros de idade ao primeiro parto, 236.980 registros de perímetro escrotal ao sobreano e 221.697 registros de avaliação visual (estrutura, precocidade, musculosidade). 2.3.2.2 Metodologia e recursos computacionais Os dados de genealogia e desempenho zootécnico foram submetidos a detalhada análise crítica com uso de rotinas escritas em ambiente SAS para Windows versão 9.4 (2013). Para as análises genéticas foi utilizada a Metodologia de Modelos Mistos (Henderson, 1953) com o modelo animal, o qual possibilita a predição de valores genéticos considerando toda a informação genealógica disponível dos animais. As estimativas dos componentes de variância foram obtidas via inferência bayesiana. Os modelos utilizados nas análises genéticas incluíram o sefeitos aleatórios genéticos direto e materno, o efeito aleatório de ambiente permanente materno, os efeitos fixos de grupo de contemporâneos e de classe de idade da mãe/sexo do produto, e a covariável idade do animal no dia da obtenção do registro zootécnico (efeito linear e quadrático). 2.3.2.3 Resultados Na tabela 9 estão apresentadas as médias e desvios-padrão dos pesos calculados à fase materna (PM), à desmama (PD) e ao sobreano (PS) e ganho em peso pós desmama (GPD). 39 Na tabela 10 encontram-se as médias e desvios-padrão do perímetro escrotal ao sobreano (PES) e da idade ao primeiro parto (IPP). Na tabela 11 estão as médias desvios-padrão de estrutura corporal (E), precocidade (P) e musculosidade (M). Tabela 4. Médias e desvios-padrão dos pesos calculados à fase materna (PM), à desmama (PD) e ao sobreano (PS), e do ganho em peso pós desmama (GPD). Característica Machos Fêmeas Geral PM¹ (kg) RA1 128,38 ± 22,01 120,43 ± 20,53 124,47 ± 21,66 RA2 137,69 ± 24,55 130,46 ± 22,86 134,16 ± 24,01 RA3 150,17 ± 28,42 145,05 ± 25,87 147,10 ± 27,04 PD² (kg) RA1 187,75 ± 31,52 174,39 ± 28,79 181,19 ± 30,94 RA2 207,92 ± 37,47 194,91 ± 34,64 201,71 ± 36,72 RA3 232,49 ± 45,95 228,92 ± 40,24 230,53 ± 42,95 PS³ (kg) RA1 279,90 ± 49,67 248,36 ± 42,60 263,51 ± 48,75 RA2 349,30 ± 64,33 310,11 ± 63,08 335,37 ± 66,59 RA3 395,86 ± 75,40 379,85 ± 79,81 390,46 ± 77,29 GPD (g/dia) RA1 376,38 ± 163,92 300,51 ± 139,22 336,95 ± 156,25 RA2 607,28 ± 211,91 491,62 ± 203,37 566,17 ± 216,12 RA3 782,38 ± 230,88 695,75 ± 220,17 753,28 ± 230,98 RA1=Regime alimentar a pasto; RA2=Regime alimentar semi-estabuado; RA3=Regime alimentar estabulado; PM¹=Peso calculado aos 120 dias; PD²=Peso calculado aos 205 dias; PS³=Peso calculdado aos 450 dias. Fonte: ABCZ (2014). Tabela 5. Médias e desvios-padrão do perímetro escrotal ao sobreano (PES) e da idade ao primeiro parto (IPP). Característica Regime Alimentar Pasto Semi-estabulado Estabulado PES(cm)¹ 22,70 ± 3,36 24,81 ± 3,56 26,12 ± 3,52 IPP(dias)² 1164 (38 meses) ± 167 (5 meses) PES(cm)¹=Medida ajustada aos 450 dias; IPP(dias)²=Sem distinção entre regimes alimentares. Fonte: ABCZ (2014). 40 Tabela 6. Médias e desvios-padrão para estrutura corporal (E), precocidade (P) e musculosidade (M). Característica Geral E 4,27 ± 0,92 P 3,96 ± 0,93 M 3,79 ± 0,97 Na tabela 12 estão apresentados os desvios-padrão e as medianas das DEPs de crescimento (PD-ED, PS-ED, e GPD), habilidade materna (PM-EM, e TMD), reprodução (IPP e PES) e de avaliação visual (E, P e M). Tabela 7. Desvios-padrão e medianas das DEPs. DEP Desvio-padrão Mediana PD-ED (kg) 2,31 0,13 PS-ED (kg) 3,91 0,07 GPD (g/dia) 9,87 4,30 PM-EM (kg) 1,12 0,01 TMD (kg) 2,23 0,16 PES (cm) 9,08 1,55 IPP (dias) 0,26 -0,01 E 0,18 0,01 P 0,19 0,01 M 0,18 0,01 PD-ED: Peso à desmama – efeito direto; PS-ED: Peso ao sobreano – efeito direto; GPD: Ganho de peso pós-desmama; PM-EM: Peso à fase materna – efeito materno; TMD: Total materno do peso à desmama; IPP: Idade ao primeiro parto; PES: Perímetro escrotal ao sobreano; E: Estrutura corporal; P: Precocidade; M: Musculosidade. Na tabela 13 estão as herdabilidades aditivas diretas (h²d) e maternas (h²m) para peso à fase materna (PM), peso à desmama (PD), peso ao sobreano (OS), ganho em peso pós-desmama (GPD), idade ao primeiro parto (IPP), perímetro escrotal ao sobreano (PES), estrutura corporal (E), precocidade (P) e musculosidade (M). 41 Tabela 8. Herdabilidades aditivas diretas (h²d) e maternas (h²m). Característica h²d h²m PM 0,17 0,11 PD 0,18 0,07 PS 0,24 GPD 0,32 IPP 0,11 PES 0,25 E 0,45 P 0,45 M 0,46 PM: Peso à fase materna; PD: Peso à desmama; PS: Peso ao sobreano; GPD: Ganho de peso pós- desmama; IPP: Idade ao primeiro parto; PES: Perímetro escrotal ao sobreano; E: Estrutura corporal; P: Precocidade; M: Musculosidade. 2.4 BEM ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGENS O tema bem-estar animal (BEA), bastante presente quando se discute a criação de animais para consumo, pode ser tratado de diversas formas. Fora do meio acadêmico ele é geralmente tratado do ponto de vista ético, com grupos que atuam em defesa dos animais (e seus direitos) pressionando para definição de normas legais que limitem a ação do homem no trato com os animais. Não por acaso, quando abordamos o tema cientificamente encontramos uma convergência de interesses. Ou seja, ao conhecer e respeitar a biologia dos animais que criamos, melhorando seu bem-estar, também obtemos melhores resultados econômicos, quer aumentando a eficiência do sistema de criação quer obtendo produtos de melhor qualidade (PARANHOS DA COSTA, 2000). O Brasil é um país que tem maior parte do seu território na zona inter-tropical, o que implica em radiação solar intensa e altas temperaturas o ano todo. Essas características favorecem a ocorrência de problemas de bem-estar como: estresse por calor; intensa carga de endo e ecto-parasitas; e estacionalidade na produção de forragens, sendo comum encontrar animais passando fome durante a estação seca. Um outro problema enfrentado pela bovinocultura brasileira é a disponibilidade de trabalhadores qualificados para a realização do manejo dos animais. É cada vez mais escasso o número de trabalhadores experientes no campo. Um outro ponto que surge devido ao um fator cultural, é o fato da lida com os bovinos ser vista como 42 uma prática rústica e muitas vezes realizada com violência, como decorrência desta mentalidade. Frente a esses e outros problemas de bem-estar animal, é formado um cenário desafiador para produtores, técnicos e pesquisadores, que devem buscar o desenvolvimento de sistemas de produção e de práticas de manejo que sejam economicamente viáveis e que, além disso, respeitem a biologia e as necessidades dos bovinos, de forma a assegurar que seu bem-estar é bom. (SANT’ANNA e PARANHOS DA COSTA, 2009). 2.4.1 Padrões comportamentais dos bovinos importantes no BEA Os bovinos são animais gregários e apresentam uma série de padrões comportamentais que definem suas interações sociais e com fatores externos. Os padrões de comportamento mais relevantes para o manejo racional são os que estão ligados à utilização do espaço pelos bovinos. Segundo Paranhos da Costa (2000), para cada um dos indivíduos do grupo há a caracterização de um espaço individual, representado pela área onde o animal se encontra ou se encontrará e, portanto, se desloca com ele. Esse espaço compreende, aditivamente ao espaço físico que o animal necessita para realizar os movimentos básicos, um espaço social, que caracteriza a distânciamínima que se estabelece entre um animal e os demais membros do grupo. Além disso, existe também a distância de fuga, que é o máximo de aproximação que um animal tolera a presença de um estranho ou do predador, antes de iniciar a fuga. Tais comportamentos de espaçamento são ilustrados na figura 34. Figura 4. Esquema ilustrativo do espaço individual e a distância de fuga nos bovinos (as diferenças apresentadas no desenho representam a existência de diferenças individuais). Fonte: Paranhos da Costa (2000). 43 Todavia, tais padrões de espaçamento não são suficientes para a neutralização ou diminuição da agressividade entre animais que estão competindo por algum recurso, como é o caso da maioria dos rebanhos atuais. Há outro mecanismo de controle social, que têm origem na familiaridade e na competição entre os animais, resultando na definição da liderança e da hierarquia de dominância, respectivamente. A dominância se estabelece nesses grupos pela competição, ou seja, ela é produto de interações agressivas entre os animais de um mesmo grupo ao competirem por um determinado recurso, definindo quem terá prioridade no acesso a comida, água, sombra, etc. Os fatores que normalmente determinam a posição na hierarquia são o peso, idade e raça. Outro aspecto do comportamento social dos bovinos é a liderança, que muitas vezes resulta na atividade sincronizada dos bovinos. Um rebanho de vacas se comporta como uma unidade, na qual a maioria dos membros apresenta o mesmo comportamento ao mesmo tempo. Há sempre um animal que inicia o deslocamento ou as mudanças de atividade, quando ele é seguido pelos outros, trata-se do líder. Geralmente são as vacas mais velhas que lideram os rebanhos, que não estão no topo da ordem de dominância. Tal comportamento não envolve atividades agressivas, mas sua compreensão pode ser muito útil para o manejo do gado nas pastagens, particularmente durante a condução do rebanho para áreas de manejo. O tamanho e composição dos grupos é outro aspecto importante do comportamento social dos bovinos. É recomendável evitar a formação de lotes muito grandes e promover alteração, principalmente com a entrada de outros animais, o que pode alterar a hierarquia social previamente estabelecida, com influências na produção e bem-estar. O temperamento, definido como o conjunto de comportamentos dos animais em relação ao homem, tem sido objeto de estudo devido sua importância para o bem estar animal e sua influência sobre a eficiência (RUEDA, 2012) do sistema de produção. Nesse sentido, diversas metodologias têm sido desenvolvidas a fim de avaliar o temperamento. Sabe-se que é possível melhorar o temperamento através dos processos de habituação e de aprendizado associativo (condicionamento) 44 (RUEDA et al., 2011; RUEDA, 2012) e há indícios de que é possível modificar essa característica também através da seleção (MATSUNAGA et al., 2002; SANT’ANNA et al. 2013). . 2.4.2 Interferência do manejo no comportamento dos bovinos Quando manejamos os bovinos, conduzindo-os geralmente para os currais, produzimos uma desorganização em suas atividades sociais, dificultando a manutenção do espaço individual e provocando a quebra do equilíbrio na hierarquia de dominância, sendo difícil minimizar esses efeitos dado os equipamentos e as estratégias que usamos rotineiramente (PARANHOS DA COSTA, 2000). Segundo Paranhos da Costa (2002) os bovinos possuem uma forma de aprendizado chamada de condicionamento (ou aprendizado associativo), pelo qual os animais estabelecem ligações entre determinadas situações (envolvendo lugares, pessoas, etc.) e sensações. Se as sensações forem negativas o gado procura evitar as situações associadas a elas, fugindo, lutando, enfim dificultando o manejo; já no caso delas serem positivas, o manejo pode ser facilitado. Assim, uma estratégia interessante para melhorar as “relações” entre os vaqueiros e gado é aumentar as interações “positivas” entre eles; ou seja, o vaqueiro deve se tornar íntimo dos animais, passando mais tempo com eles, tanto a pé como a cavalo, e fornecendo rações e suplementos. Com isto o gado se habituará a presença do homem e estabelecerá uma relação positiva com ele. A forma e dimensionamento de currais de manejo também interferem nesse processo. Grandin (1993a, 1993b) realizou estudos que levaram ao desenvolvimento de instalações que levam em conta aspectos do comportamento e da estrutura biológica dos bovinos, por exemplo: dado o posicionamento de seus olhos, os bovinos tem um ângulo de visão muito amplo, mas também têm alguns pontos cegos. O manejo de condução do gado será facilitado se considerarmos esta característica, caso contrário poderemos dificultá-lo, como ilustrado na figura 35. 45 Figura 5. Entendendo a zona de fuga e os ângulos de visão dos bovinos durante o manejo. Fonte: adaptado de Grandin, (1993a). Do ponto de vista prático as conseqüências do manejo agressivo são dificuldades no trabalho com o gado (retardando-o), lesões nos animais (fraturas, cortes, hematomas, etc.), danos nas instalações e riscos de acidentes para os trabalhadores. A intensidade dependerá das circunstâncias. Os prejuízos advindos do manejo incorreto podem ser decorrentes da ação direta do homem, ao bater ou acuar os animais contra cercas, porteiras, etc., ou indireta, com a formação de lotes novos, desrespeitando os seus padrões de organização social e aumentando as interações agressivas entre os animais (SANT’ANNA e PARANHOS DA COSTA, 2009). 46 3. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 3.1 Denominação e Localização O estágio curricular supervisionado (ECS) foi desenvolvido na Fazenda Vale do Boi, que tem como proprietário o Sr. Epaminondas de Andrade, localizada na Rodovia TO-164, Km 14 município de Carmolândia no norte do estado do Tocantins, próximo ao sul dos estados do Pará e Maranhão. A fazenda tem sede situada a 7°04’57.50’’ de latitude sul e 48°22’51.75’’ de longitude oeste a 236m de altitude. Figura 6. Mapa de localização da fazenda. Fonte:www.valedoboi.com.br 3.2 Histórico O trabalho de seleção de bovinos da raça Nelore começou na Fazenda São Judas Tadeu (Conquista-MG) e Fazenda Ipanema (Água Comprida-MG), no ano de 1975, sendo o produto de RGN n° 001 nascido em 01/08/1976, com o nome de Cherife. A partir de 09/10/1983 o rebanho foi transferido para a Fazenda Vale do Boi no município de Araguaína, antigo norte de Goiás e atualmente norte do estado do Tocantins, município de Carmolândia (TO). A Fazenda possui animais inscritos no Controle de Desenvolvimento Ponderal (CPD) da ABCZ há mais de 20 anos, participando também do Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ), onde posteriormente deu início na avaliação de Tipo EPMU (Estrutura, Precocidade, Musculatura e Umbigo). Na última edição do Sumário de Avaliação de Touros do PMGZ a fazenda ranqueou 47 sete entre os cem primeiros touros, incluindo o terceiro colocado, além de totalizar cem indicações ao Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens (PNAT). A Vale do Boi foi a primeira a ofertar no mercado do Tocantins tourinhos com exame andrológico, produzindo e comercializando mais de 2.000 touros nos últimos 10 anos, principalmente nos estados do Tocantins, Pará e Maranhão, consolidando- se como pioneira na venda de animais com avaliação genética em leilões no Estado do Tocantins. Atualmente a fazenda possui um evento próprio de comercialização de animais geneticamente superiores denominado “Shopping Vale do Boi”, a principal vitrine da propriedade, que
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