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WA2 Pedagogia - Fundamentos do Processo Educativo no Contexto Histórico-filosófico 2

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WEBAULA 1
Unidade 2 – “Conhecendo a Filosofia”
Apresentação do Professor
Olá, tudo bem? Sou o professora Márcia Bastos, graduada em Filosofia  com mestrado em Educação e um dos seus professores neste módulo I de Pedagogia. Estarei ministrando a disciplina de Teoria Geral do Conhecimento e  buscando com você uma reflexão sobre a importância desta na formação do Pedagogo. Por isso, buscando um maior aprofundamento, além das teleaulas, quero desenvolver algumas discussões com você neste espaço de interatividade. Neste sentido, desafie-se, ouse e busque ir além do trivial, do exigido.
É fundamental sua dedicação e busca por novos conhecimentos e pela complementação dos estudos. Não se acomode no discurso que existe por aí de que a "aula é só uma vez por semana". É preciso fazer mais, se você quer realmente ser um bom profissional. Portanto, estude muito, busque ampliar suas fontes de pesquisa e não espere que as coisas venham prontas. Você está num curso superior, de formação superior e, deste modo, deve agir como um estudante de ensino superior. Logicamente, isto não implica que você está sozinho. Há uma estrutura proposta para auxiliá-lo.
De minha parte, farei o que estiver ao meu alcance. Mas, evidentemente, você deve estudar muito. Você só tem a ganhar com isso. 
Bem, antes de iniciarmos, quero dar um panorama geral do trabalho que será desenvolvido. Acompanhe-me.
Inicialmente, tratarei da questão do pensamento mítico, seus fundamentos e a perspectiva deste como uma das formas de expressão humana. Na seqüência, ainda na primeira unidade, falaremos da passagem do mito para a Filosofia e do contexto que proporcionou o nascimento da mesma na Grécia. Fechamos assim a primeira unidade. Procurando aprofundar nossa discussão, veremos dois pré-socráticos interessantes, Heráclito e Parmênides. Suas teorias discutem a questão da permanência e do movimento, levando-nos a um exercício de elaboração de conceitos. Isto nos ajudará a compreender nossa última webaula, que trata de Sócrates, considerado um divisor de águas na Filosofia. A partir dele, a Filosofia apresenta sua grande perspectiva conceitual.
No intuito de firmarmos bem os nossos estudos, você desenvolverá algumas atividades durante os mesmos e fará uma avaliação específica ao final das unidades, que nos permitirá um feed-back do trabalho desenvolvido. Esta avaliação final é obrigatória e será considerada para conceito final e carga horária da disciplina. Para o fórum, fica aberta a proposta de debates e comentários sobre as webaulas aqui apresentadas, unidades I e II, e dos capítulos do livro "Teoria Geral do Conhecimento", que você recebeu como texto base da disciplina. Portanto, mãos à obra e bons estudos!
O PENSAMENTO MÍTICO E O MITO NA GRÉCIA
Para melhor compreendermos como nasce a Filosofia, é fundamental entendermos primeiro como se dá e o que representa um tipo de pensamento tão antigo quanto o próprio homem: o mito. Compreender a questão do mito não implica em estabelecer um olhar negativo, condenatório, mas na realidade, buscar as bases desta forma quase natural, ou imediata, do homem dar respostas aos problemas que o afligem. Na Filosofia não entenderemos o mito de forma pejorativa ou completamente negativa. Para nós, o mito é a primeira forma de explicação que o homem encontra para aquilo que ele desconhece. Todos os povos, todas as culturas possuem seus mitos: egípcios, babilônios, caldeus, romanos, gregos... Hoje ainda transmitimos nossos mitos de geração em geração, tornando plausíveis explicações que poderiam ser no mínimo constrangedoras para os nossos filhos se recorrêssemos apenas à racionalidade. Por exemplo, quando os pais recorrem ao mito da cegonha, buscam dar a explicação para a indagação da criança supondo que o interesse dela é o mesmo que eles pensam como resposta: o sexo. O que a criança espera é uma reposta à sua pergunta sobre a sua origem, se ela é filha deles na verdade e não um tratado de sexologia. Recorremos a vários tipos de mitos, como o Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, ou a mitos de “heróis”, buscando tranqüilizar nossa realidade, nossos sentimentos. Num determinado momento, contudo, o mito não satisfará mais como resposta à criança que amadureceu e, nem tampouco será coerente com a realidade que ela observa. Neste sentido, ela buscará uma explicação mais racional. Assim acontece com o homem na história do pensamento. No início, tudo era explicado através dos mitos, mas em determinado momento, é preciso uma racionalidade maior, a necessidade de uma explicação mais coerente e científica para os fenômenos.
PARA SABER MAIS sobre a mitologia grega, acesse: http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u33.jhtm
O mito, portanto, pode ser compreendido já de início, como a primeira forma de explicação que o homem tem para os fenômenos que contempla e para as realidades em que se encontra e, cujas respostas, ele desconhece. Mas, qual a definição de mito? Um olhar apressado pode levar-nos ao “olhar negativo” sobre o mesmo, e o mito aparece-nos apenas como sendo algo fabuloso, alegórico, sem realidade. Podemos ver, por exemplo, no mini-dicionário Silveira Bueno a seguinte explicação: fato, passagem dos tempos fabulosos, tradição que, sob forma de alegoria, deixa entrever um fato natural histórico ou filosófico; (fig.) coisa inacreditável, sem realidade (BUENO, 199-, p. 435). A definição não está errada, mas, dentro da concepção filosófica, porém, interessa-nos aprofundar um pouco mais esta questão.
Vinda do grego mythos, a palavra mito é derivada de dois verbos especificamente: mytheyo (que significa contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e mytheo (que apresenta a idéia de conversar, contar, anunciar, nomear, designar). A importância disto é que os gregos entendiam o mito como sendo um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem a narrativa como verdadeira porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador (CHAUÍ, 2002, p. 35). Este narrador ou presenciou os fatos narrados, testemunhou-os pessoalmente ou conheceu quem o fez e recebeu dele a narrativa. Na tradição grega, quem detinha esta autoridade eram os poetas, ou os chamados aedos e rapsodos. Eram cantores ambulantes que apresentavam de forma poética os relatos populares, recitando-os de cor em praça pública (ARANHA & MARTINS, 2003, p. 79). Sua narrativa era respeitada porque se acreditava que o poeta era um escolhido dos deuses. Estes, ao escolherem-no, mostravam-lhe os acontecimentos passados e permitiam que eles vissem a origem de todos os seres e de todas as coisas para que pudessem transmiti-las aos ouvintes (CHAUÍ, 2003, p. 35). Portanto, sua palavra – o mito – é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável (CHAUÍ, 2002, p. 35).
Apesar de o mito pertencer à cultura dos mais diversos povos, dedicaremos nossa atenção de forma especial aos gregos. O motivo disto está em que, a Filosofia, no entendimento que nos interessa abordar, é grega e fundamentou todo o pensamento Ocidental a partir do pensamento grego. Veremos que a Filosofia nasce na Grécia e que, somente lá houve uma sistematização do pensamento de tal forma a propiciar a passagem deste pensamento mítico para o que os gregos chamaram de logos, ou seja, a razão, a palavra, o discurso racional.
A preocupação do mito não está na veracidade, no provar a realidade, mas, apenas e tão somente em explicá-la. Sem respostas para os sentimentos, fatos e fenômenos que contempla, o homem recorre a mitos e encontra respostas que lhe dão segurança. Saber o que é o amor, por que o universo está estruturado como está, por que a colheita foi boa ou não, são algumas das indagações que tomam conta do homem antigo. Procurando respostas, os gregos apresentaram seus mitos relacionados às genealogias. Tais genealogias são compreendidas como teogonias e cosmogonias. A palavra gonia, do verbo grego gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e crescer) e do substantivogenos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie), unida à palavra theos (deuses, coisas divinas ou seres divinos), representa a idéia do nascimento, da origem dos deuses, ou seja, teogonia. No caso da cosmogonia, a mesma palavra gonia aparece unida à palavra cosmos (mundo ordenado e organizado, o contrário de caos), o que nos remete à idéia do nascimento e a organização do mundo a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas (CHAUÍ, 2002, p. 36).
Para apresentar estas origens, do mundo e das coisas, os mitos narram-nas de três maneiras: relatam o nascimento de tudo a partir da relação sexual entre os seres divinos que governam o mundo e os homens (mitos sobre o nascimento dos titãs, dos heróis, dos humanos, dos animais, dos materiais da natureza e das qualidades, como bem e mal, justo e injusto, o nascimento do amor através do mito de Eros...), da luta entre estes deuses que afeta o mundo humano (o ciúme das deusas na origem da Guerra de Tróia, por exemplo) e das alianças destes com os homens (o mito de Prometeu, que protegia os homens e lhes dá a “luz divina” como presente). Os deuses gregos, neste sentido, eram antropomórficos (do grego antropós = homem e morfo = forma), ou seja, criados à imagem e semelhança dos homens, diferentemente da concepção judaico-cristã, em que Deus nos fez a sua imagem e semelhança. Criando e crendo em vários deuses – era uma cultura politeísta -, a relação que estabeleciam com o divino era uma relação com a natureza. Por isso o antropomorfismo, no qual estes seres divinos não se diferenciavam muito dos homens em seus sentimentos e atitudes (eram bons ou maus, invejosos, ciumentos, apaixonavam-se por humanos ou humanas e protegiam os homens ou faziam deles seus joguetes...) e representavam a própria natureza (a beleza, o amor, a colheita, a fertilidade...).
Toda esta tradição mítica dos gregos foi construída, como já apontamos, a partir da autoridade dos poetas. Os dois grandes representantes desta tradição foram Homero e Hesíodo. Ao primeiro atribuem-se duas grandes obras clássicas: a Ilíada e a Odisséia. A Ilíada trata da Guerra de Tróia (Ílion é o original grego de Tróia) e a Odisséia refere-se ao retorno de Ulisses (cujo nome em grego é Odisseu) para casa após a guerra. É bem verdade que não temos a confirmação histórica de que Homero realmente as tenha escrito. O mais provável é que tenha sido o compilador dos mitos e tradições que se mantinham por gerações. O fato é que sua importância é fundamental na construção desta tradição. E é exatamente esta tradição, a chamada “tradição homérica” que Platão criticará quando “expulsa” os poetas da sua “cidade perfeita”. Homero representa o ápice e a vitalidade de todo um impulso cultural dos gregos. É considerado o “pai” da cultura helênica, pois dele deriva a idéia marcante da mitologia grega: o destino, que comanda a vida dos homens e dos deuses. E esta força, atrelada ao mito é a pergunta básica na formação do bpensamento ocidental: o que é essa força do destino que domina tudo? Por isso, a originalidade de Homero consiste no fato de ter legado à posteridade uma visão clara do espírito grego, em que a existência humana é profundamente permeada da presença do divino: cada momento da vida, nenhum detalhe da vida parece ter sentido sem referência à divindade. O ser divino não representa explicação, interrupção ou suspensão do curso natural do mundo: é o próprio mundo natural (PAIM; PROTA & RODRIGUEZ, 1999, p. 45) Durante os séculos homéricos a narração se organiza em torno dos personagens divinos, sendo os humanos reduzidos a essências com o estatuto da quase-dependência. Por isso tudo se explica pelas cosmogonias e teogonias, conforme já foi relatado.
Num determinado momento, contudo, o pensamento mítico começará a ser questionado. Não perderão suas crenças, mas buscando respostas de forma mais racional, os gregos darão nascimento ao pensamento filosófico. Por que isto acontece na Grécia e não nos demais povos? No Egito e na China, entre os Caldeus e Babilônios, saberes também se construíram, mas nada como a Filosofia grega. O que permitiu à Grécia desenvolver tal condição? É o que tentaremos entender na próxima web aula. Antes disto, leia um fragmento de um dos grandes mitos gregos.
FRAGMENTOS: UM PAI CRUEL
No alto da luminosa montanha grega do Olimpo, na qual o ar era claro e transparente e onde reinava uma eterna primavera, habitava Cronos, o rei do Universo, num magnífico palácio.
Cronos, chamado Saturno pelos romanos, era filho de Géia (a Terra) e de Urano (o Céu), os quais haviam tido, antes, muitos filhos, chamados os Urânidas: doze Titãs, seis varões e seis mulheres; três Ciclopes (Brontes, Esteropes e Arges) e três Centímanos (Briareu, Cotos e Gias), que haviam sido todos precipitados pelo pai no Tártaro, para que não pudessem destroná-lo.
Cronos tomou por esposa a Réia, que se sentia muito infeliz porque tinha tido muitos filhos formosos e o cruel marido os havia devorado. Um oráculo anunciara ao feroz pai que seria destronado por um dos filhos e ele tratava de evitar essa desdita, engolindo-os quando nasciam.
A pobre mãe estava desesperada. Ao nascer-lhe um novo filho, ao qual pôs o nome de Zeus, saiu do Olimpo com o menino nos braços envolto no manto da Noite. Levou-o a uma gruta escondida na ilha de Creta e confiou-o ao cuidado das Ninfas. Depois, tranqüila quanto à sorte de seu último rebento, voltou aos altos cimos de sua régia morada e apresentou ao marido uma pedra envolta em paninhos, que ele engoliu, pensando que era o novo recém-nascido.
Titãs, Ciclopes e Centímanos.
Zeus, a quem os romanos, mais tarde, chamaram Júpiter, cresceu belo, forte e bom. Quando se tornou adulto, obedeceu ao que o Fado havia estabelecido: subiu ao Olimpo, destronou o pai e reinou em seu lugar. Mas os primeiros tempos do seu reinado foram turbulentos: ele era jovem e, portanto, inexperiente. Num momento de generosidade, pôs em liberdade os Titãs, monstros gigantescos, que, desde, muitos séculos, haviam sido encarcerados nas entranhas da Terra por Saturno. Eles, porém, em vez de ficarem agradecidos ao generoso soberano, saíram de sua morada subterrânea e, julgando-se com mais direito a reinar do que o próprio Zeus, assaltaram o Olimpo.
A luta contra os Titãs durou dez anos. Foi terrível e sem tréguas. Ao ver que não conseguia dominá-los, Zeus recorreu ao auxílio dos Ciclopes, irmãos dos Titãs, enormes gigantes de um olho só, no meio da testa e, para assegurar a vitória, pôs igualmente em liberdade os Centímanos (por ter cem mãos cada um). Desencadeou-se, então, uma espantosa luta: os Centímanos atiravam enormes penhascos contra os Titãs e os Ciclopes feriam-nos e queimavam-nos com raios de fogo. O ardor e a cólera dos combatentes sacudiam toda a terra, desde os seus alicerces, e seus gritos raivosos rasgavam o céu. Zeus, no meio da peleja, resplandecente no seu carro doirado, animava os seus defensores e lançava contra os inimigos poderosos raios, acompanhados de relâmpagos e trovões.
Por fim, decidiu-se a vitória e os Titãs foram precipitados no tenebroso Tártaro, por toda a eternidade.
Apenas vencidos os Titãs, Zeus teve de lutar novamente contra cem gigantes, nascidos do sangue de Urano, aos quais sua mãe, a Terra, incitou contra Zeus, para vingar aqueles; mas foram também derrotados. Depois desta nova e dura luta, chamada a Gigantomaquia, todos os deuses do Olimpo se submeteram a Zeus, que pode, então, reinar em paz sobre o Universo.
MADEIRA, Marcos Almir (coord.). O livro dos nossos filhos: enciclopédia para adolescentes. Volume primeiro. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Alfa S. A., 1961.
No link abaixo, você pode ver um vídeo que ilustra um pouco o fragmento apresentado, em que a mãe de Zeus engana Cronos, dando-lhe uma pedra como se fosse o filho para ser devorado. O vídeo está em inglês, mas a imagem é suficiente para entender, se comparada com o texto anterior. O vídeo é do You Tube e é um fragmento do game chamado “Deus da Guerra 2 (God of War 2)”. Confira:
http://medievalx.blogspot.com/2008/03/greek-gods-series-zeus-sire-deuses.htmlWEBAULA 2
Unidade 2 – “Conhecendo a Filosofia”
NASCE A FILOSOFIA
Filha dos gregos, a Filosofia tem data e local de nascimento específicos e, também, um “pai”, considerado o primeiro filósofo datado historicamente: Tales. Mileto, a cidade de Tales, ficava na Jônia, atual Turquia, uma das colônias micênicas desenvolvidas após a invasão dos dóricos. É exatamente aí, portanto, na Jônia, no século VI a. C. que surge a primeira proposta filosófica. Neste sentido, vamos entender o contexto de formação do povo grego e o processo que levou ao nascimento do pensamento filosófico.
Geograficamente dispersa, a Grécia Antiga constituía-se por um grande número de pequenas comunidades independentes, no mar Mediterrâneo, desde a Jônia – atual Turquia -, na Ásia Menor até o sul da Itália. Apesar desta dispersão, havia uma certa unidade cultural, expressa por uma língua comum, formas de organização política semelhantes e mesmas crenças religiosas. A dispersão destas comunidades deveu-se, em grande parte, às invasões em busca de terras para cultivo mas, também, devido aos conflitos entre dois povos que praticamente formaram a  cultura grega. Vindos da Europa, os micênicos, um povo mais avançado culturalmente, chega à Grécia por volta do ano 2.000 a. C. e, encontrando um povo mais atrasado na região, logo se estabelece como a cultura dominante. Os micênicos – ou aqueus, como também ficam conhecidos – encontravam-se na idade do bronze e tornam-se uma grande civilização, representada pela punjância da cidade de Micenas. Isto prevalece até que, por volta do séc. XII a. C., os dóricos – povo guerreiro que já dominava o ferro – invade a região e obriga o êxodo dos micênicos em busca de novas terras. Emigrando para a Ásia Menor - chamada Jônia na época -, os gregos fundaram novas colônias para fugir ao domínio dórico e preservar suas tradições. Desta colonização surgem duas cidades que se tornaram grandes centros culturais e econômicos: Mileto e Éfeso. Portanto, é nesse conjunto de comunidades independentes que, no século VI antes de Cristo, vai se formando um dos elementos que marcaram o surgimento do pensamento ocidental: a racionalidade (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 45).
Para conhecer um pouco mais sobre a Grécia Antiga, ver um mapa da região e um pouco da história deste povo, acesse o link abaixo:
http://www.suapesquisa.com/grecia/
Como já podemos perceber a filosofia não nasce na Grécia propriamente dita, mas na Jônia e na Magna Grécia, colônias desta no Oriente e no Ocidente. Mas, por que nasce na Grécia e não nas culturas orientais antigas como Egito, Babilônia, China, Índia ou entre os Hebreus? Sofreu influência destas pelo menos ou, terá sido apenas um "milagre" o que aconteceu na Grécia? Este é um ponto que nos interessa discutir. Durante algum tempo duas teses foram defendidas para o fato de a Filosofia ter tido seu início na Grécia. Uma considerava o fato um “milagre”, ou seja, algo “a-histórico”, desconsiderando as condições sócio-econômico-culturais e políticas que faziam parte da cultura grega. A outra considerava o nascimento da Filosofia como sendo devida a “ensinamentos esotéricos que os gregos adquiriram em suas viagens pelo Oriente, ou seja, a Filosofia nasceu por influência dos povos orientais, sem mérito algum dos gregos e não, novamente, por um contexto sócio-cultural próprio que existia na Grécia. Estas duas correntes, portanto, “milagre grego” versus influência oriental, estão desacreditadas academicamente. A tese aceita atualmente defende o nascimento da Filosofia devido a uma série de fatores sócio-político-econômico-culturais que aconteceram somente na Grécia. Por isso, neste entendimento não foi possível o mesmo acontecer em outras culturas, não da forma como se dá no Ocidente. Com isto esclarecemos que, no entendimento acadêmico estamos falando da Filosofia Ocidental e não das “filosofias orientais”, que apresentam sua sabedoria e importância mas, num olhar mais depurado, não desenvolveram uma sistematização do pensamento de tal forma que permitisse o nascimento do que viria a ser conhecido posteriormente como ciência. 
REVISANDO: você sabe explicar por que as teses do “milagre grego” e da perspectiva da “influência oriental” como possibilidades do surgimento da Filosofia não são aceitas academicamente?
Retomando a questão da formação da Grécia, alguns contextos então contribuirão para uma construção diferente da cultura grega com relação às outras culturas. No mesmo período, as outras civilizações existentes apresentavam algumas características que, contrapostas à cultura grega, podem nos ajudar a esclarecer porque estes últimos apresentaram um terreno fértil para o surgimento da ciência filosófica. Nas demais culturas geralmente existia uma casta sacerdotal dominante, responsável pela interpretação dos livros sagrados e de verdades reveladas, o que determinava o comportamento moral, político e econômico do povo. A escrita era restrita aos escribas – tratada como segredo e, portanto, acessível apenas a iniciados -, proibida aos homens comuns, o que impedia a ampla difusão e discussão de idéias. Religiões com dogmas e uma certa teologia elaborada eram outros fatores que impediam o livre desenvolvimento do pensamento, tornando a religião um instrumento de poder. Aliado a isto ainda, a cultura do poder vitalício do Rei e a figura do súdito, o que impedia qualquer manifestação política ou reflexão sobre a questão do poder. Pois bem, o contexto grego era contrário a este modo de ser.
Com o fim do domínio dórico, nós vemos a reconstrução da sociedade grega. Há um renascimento do comércio em torno do século VIII a.C. e a tendência à formação de centros maiores ao redor da ágora, - a praça pública - local das transações comerciais e das discussões sobre a vida da cidade. É o nascimento da política. Esclarece-nos Paim, Prota & Rodriguez (1999):
Vencendo o princípio de que todos são iguais diante da lei, a discussão torna-se a forma normal de tratar-se não só a política mas os acontecimentos em geral; prevalece a opinião de quem expõe suas idéias corretamente e com argumentos válidos, quer dizer há a supremacia do logos (que significa "palavra", "razão"). Assim que, enquanto antes os fenômenos  divinos, naturais e humanos confundiam-se e eram vivenciados sem necessidades de explicação, com a pólis, esses fenômenos tornam-se problemas, à procura de explicação (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 47).
Na estruturação política, cada comunidade grega era uma cidade-Estado – as chamadas polis -, autônoma, com a dimensão de pequeno município. Na Pólis é que se efetua a conquista política do estatuto cívico, da ordem da cidadania, na qual o destino de cada um é definido não pela obrigação de lealdade à um chefe, mas pela relação ao princípio abstrato que é a lei - primeira etapa. Num segundo momento. A democracia se instaura em Atenas. Apresenta-se a idéia de governo do povo ou, governo no "meio" do povo e não governo do "povinho". O grego tem consciência de sua cidadania porque participa da vida pública da cidade. Os destinos da pólis são de responsabilidade comum de todos os cidadãos, acima dos quais nada a não ser as leis que eles mesmos elaboraram. Escreve HOWART (1984):
Pode parecer exagero, porém acredito que seja justo afirmar que as realizações políticas e as experiências práticas de governo dos gregos, nas quais se basearam todas as formas modernas de política da Europa ocidental, pelo menos até a aparição do marxismo, não poderiam ter acontecido em outro ambiente que não fosse o da pólis. Conceitos tão familiares como, por exemplo, governo constitucional, império da lei, democracia e, acima de tudo, cidadania, eram completamente desconhecidos até que os gregos começaram a experimentá-los (HOWART, 1984, p. 170-171).
O modelo de governo da pólis como esforço coletivo e exclusivo dos cidadãos, até então desconhecida em outras civilizações tem por fundamento a idéia de que os deuses abandonaram os homens. E a idéia do Destino, como força superior aos próprios deuses, sugere a visão democráticade que a lei está acima dos indivíduos. É nesse quadro que surge a reflexão filosófica, que busca uma lei universal, acima de todas as coisas, que possa explicar o homem e o mundo sem recorrer a forças divinas.
Outras condições histórico-sociais também foram proporcionando o questionamento do mito. O renascimento comercial citado exigiu do homem grego o “lançar-se ao mar” para encontrar novos mercados. Com o desenvolvimento das viagens marítimas, os gregos começam a confrontar os fatos reais com as tradições míticas. Chegando às ilhas e regiões que constituem o pano de fundo das epopéias e dos relatos poéticos, o grego não encontra as “divindades” e as “criaturas” citadas pela tradição. Singrando os mares não encontra as sereias e nem tampouco é confrontado com Posseidon1. Em Creta não depara-se com o Minotauro2 mas sim, com um povo que está disposto a comercializar também, como nas demais regiões. Questionamentos surgem sobre a veracidade do mito e a possibilidade ou não de encontrar novas explicações para os fatos e fenômenos antes entendidos apenas de forma mítica. Concomitante a isto, há a invenção da moeda e um desenvolvimento da escrita e do calendário. Criada pelos sumérios, a escrita ganha novo sentido com os gregos que se descobrem capazes de expressar seu pensamento não mais de forma verbal apenas, mas, a partir da concepção do alfabeto e da construção fonética, de forma mais elaborada, por escrito. Estes fatos exigem uma abstração do pensamento, um maior rigor na formulação das idéias e, conseqüentemente, uma mudança cultural. O grego descobre que não precisa trocar as mercadorias através de coisas concretas (um cavalo por um boi, por exemplo), mas sim, que é possível uma troca abstrata (um cavalo por 20 moedas, por exemplo). É o desenvolvimento da capacidade de elaboração do pensamento de forma diferente. O calendário produz condições semelhantes ao permitir uma observação sobre os dias e as estações do ano e, desta forma a percepção da natureza em seu curso, desmistificando a ação divina sobre os fenômenos da natureza (como no caso de a colheita ter sido boa ou ruim devido ao “deus” e não às condições climáticas ou época do ano). Por fim, o surgimento da vida urbana, que impulsiona este renascimento comercial e diminui o prestígio da classe aristocrática, proprietária de terras, faz nascer a política, que exige a construção de uma nova relação social, como já foi explicado anteriormente.
Por todos estes fatores, portanto, e não por um “milagre” ou por “influência do oriente” como já esclarecemos, é que, no século VI a.C. Tales inicia a jornada que se tornará a grande aventura na História do Ocidente: o pensamento filosófico.
As mudanças começam a acontecer. Em torno do século V a.C. o homem, como cidadão-guerreiro, que fala e que combate, aparece como assumindo o seu destino. Nesta época, os gêneros culturais mudam de sentido e de estilo. A tragédia, antes fundamentalmente religiosa, torna-se cerimônia política. A história-geografia se afirma. As descrições lendárias e as genealogias míticas dão lugar a paisagens e costumes analisados e descritos com precisão. No campo da medicina surge um apelo pela investigação das causas das enfermidades e não mais aos recursos ambíguos da adivinhação. Na física o grego passa pouco a pouco das especulações mágicas para o estudo das relações fenomenais. A “arte da palavra” por sua vez deixa de ser privilégio das famílias nobres para ser o meio pelo qual todo cidadão dispõe, pelo menos em direito, para fazer valer suas opiniões e interesses.
O mito, contudo, não perdeu sua beleza, seu sentido que propiciou todo este progresso. É uma forma diferente de olhar a realidade. Hesíodo fala em suas obras do "abandono dos deuses" com relação aos homens. Há um princípio de "secularização" do pensamento. O homem não precisa mais recorrer aos deuses para explicar o mundo. Na Teogonia – de Hesíodo - o homem encontra-se sem deuses, abandonado, mas livre para agir e pensar. Entre os séculos VIII e V a.C., portanto, desenvolve-se o esforço para a construção de uma sociedade justa, propiciada pelas condições históricas próprias do mundo grego. É neste contexto que nasce a filosofia e aparecem os primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos.
PARA SABER MAIS: veja um rápido panorama dos pré-socráticos ao helenismo para enriquecer nossa discussão sobre o nascimento da Filosofia. Acesse: http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u22.jhtm
 
1. Posseidon: na mitologia grega é o nome do “deus do mar”, irmão de Zeus. Teria, de acordo com o relato da  Odisséia, sido o mentor dos problemas de Ulisses (do grego Odisseu) no seu retorno para casa. Para os romanos chamava-se Netuno.
2. Minotauro: criatura que habitava o labirinto em Cretas, onde Minos, rei da ilha colocava seus inimigos para serem mortos pelo monstro. Teseu, o herói grego, vence a criatura e consegue sair do labirinto utilizando-se de um novelo de linha para reencontrar o caminho.
WEBAULA 3
Unidade 2 – “Filosofia: a Busca pelo Conceito”
HERÁCLITO E PARMÊNIDES: SOBRE O SER E O DEVIR
Heráclito (544-484 a. C.)
Nascido em Éfeso, na Jônia (atual Turquia), Heráclito é aquele que trata do devir. É a idéia do movimento, de que tudo flui, nada é imóvel e os contrários formam uma unidade. Neste entendimento, para Heráclito, a unidade do mundo resulta da contínua tensão da oposição das coisas: a harmonia nasce da própria oposição. Aliás, a contradição não só produz a unidade do mundo, mas também a sua transformação. O mundo é como um rio que flui continuamente. É impossível banhar-se duas vezes na mesma água (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 48).
Buscando compreender a multiplicidade do real, mas contrariando os pré-socráticos anteriores, Heráclito não rejeita as contradições e quer aprender a realidade na sua mudança, no seu devir. Conforme o esclarecimento de ARANHA & MARTINS (2003), todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119). Por isso é impossível nos banharmos duas vezes no mesmo rio, pois, na segunda vez nós já mudamos e o rio também. Portanto, no entendimento heraclitiano não há ser estático e, o dinamismo de tudo pode ser representado pela metáfora do fogo, forma visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir, ‘o fogo eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga’ (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119).
O ser em Heráclito é múltiplo. Esta multiplicidade não se refere à idéia da existência de múltiplas coisas apenas, mas ao entendimento que o ser é composto de oposições internas, por isso múltiplo em si mesmo. Para este pré-socrático, o que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois ‘a guerra é pai de todos, rei de todos’. E é  da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119). Heráclito intui, com muita antecedência, a lógica dialética, uma das grandes contribuições do pensamento hegeliano - e depois marxista, no século XIX -, para a filosofia.
QUESTÃO: você concorda com Heráclito que todas as coisas estão em constante movimento? O que ele quis dizer com isto? Justifique sua resposta.
Parmênides (540-470 a. C.)
Tendo vivido em Eléia, sul da Magna Grécia (que é configurada na atual Itália), Parmênides é o principal expoente da escola eleática. Defendendo a imobilidade do ser, afirmará que os contrários jamais podem coexistir. Elaborou importantíssima teoria filosófica na medida em que influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental. Ocupou-se longamente em criticar a filosofia heraclitiana opondo ao "tudo flui" (panta rei) de Heráclito, a imobilidade do ser. Na sua teoria entende como absurdo e impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. À contradição opõe o princípio segundo o qual ‘o ser é’ e o ‘não-ser não é’. Mais tarde, os lógicos chamarão a isto de princípio de identidade, base de toda construção metafísica posterior (ARANHA eMARTINS, 2003, p. 119). Considerando que só o ser existe, isto deve ser para sempre, de forma única, permanente, imóvel, imutável e eterna. Ou seja, não pode mudar a todo instante. Por isso ele pode concluir que o ser é único, imutável, infinito e imóvel.
Para explicar a questão do movimento (as coisas nascem, morrem, mudam de lugar...), Parmênides afirmará que as mudanças, as contradições e os aspectos diferentes que o mundo apresenta são simples ilusões, aparências, fruto de opiniões e não de conhecimento do verdadeiro ser (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 49). Tudo isto existe apenas no mundo sensível e, este, é o mundo da ilusão. Desta forma, só o ‘mundo inteligível’ é verdadeiro, pois está submetido ao princípio que hoje chamamos de identidade e de não-contradição (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119). Em consenso com ARANHA & MARTINS (2003), afirmamos que a teoria parmenídea produz como conseqüência a identidade entre o ser e o pensar, ou seja, a idéia de que o que eu não posso pensar equivale a dizer que não existe. O que está fora de mim deve ser idêntico ao meu pensar e, deste modo, o ser é pensável e por isso existe. Assim, ser e pensável se equivalem (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 49). Parmênides estaria aqui inaugurando a lógica com esta teoria, que se encontra no seu poema Sobre a Natureza. Dividido em três partes – introdução, “via da verdade” e “via da opinião” -, o poema parmenídeo permite deduzir que ele inaugura ao mesmo tempo a lógica e a metafísica. Enquanto a lógica se coloca contra a “via da opinião”, a metafísica investiga o que está por trás das coisas naturais e físicas; procura algum princípio ou essência das coisas. Em Parmênides, a idéia abstrata de Ser indica precisamente o conjunto de toda realidade como a sua essência (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 49). Por isso a identidade entre o ser e o pensar.
QUESTÃO: em que se baseia a tese de Parmênides para afirmar que não há o movimento, como afirmava Heráclito?
FRAGMENTOS:
Veja a seguir algumas partes que foram conservadas dos textos de Heráclito e Parmênides.
Heráclito:
“Este mundo, que é o mesmo para todos, não foi feito nem pelos deuses nem pelos homens; mas sempre foi, é e será um Fogo eterno, com unidades que se acendem e unidades que se apagam. [...] As transformações do Fogo são, antes de tudo, os mares; e o mar é metade terra, metade turbilhão. [...] Os homens não sabem – diz êle [sic!] – de que maneira o que não concorda está de acôrdo [sic!] consigo mesmo. É uma harmonia de tensões opostas, como a do arco e a lira. [...] As coisas pares são inteiras e não inteiras, o unido e o separado, o harmonioso e o discordante. O uno é feito de tôdas [sic!] as coisas, e tôdas [sic!] as coisas provém do uno. [...] Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome; mas Êle [sic!] adota várias formas, como o fogo, que, quando é misturado a especiarias, é chamado segundo o sabor de cada uma delas. [...] O fogo vive a morte do ar, e o ar vive a morte do Fogo; a água vive a morte da terra, a terra a da água. [...] Devemos saber que a guerra é comum a tudo, e que a luta é justiça. [...] Não se pode pisar duas vêzes [sic!] nos mesmos rios, pois as águas novas estão sempre fluindo sôbre [sic!] ti (in.: RUSSEL, 1967, p. 50-51).”
Parmênides.
“Não podes saber o que não é – isso é impossível – nem manifestá-lo; porque é a mesma coisa que pode ser pensada e existir. [...] Como pode, então, o que é vir a ser no futuro? Ou como poderia vir a ser? Se vem a ser, então não é; tampouco o é, se vai ser no futuro. Assim, o tornar-se desaparece, e o passar não se percebe. [...] A coisa que pode ser pensada, e aquilo pelo qual existe o pensamento, é o mesmo; porque não podes encontrar uma idéia sem algo que é, e a respeito do qual ela se manifesta (in.: RUSSEL, 1967, p. 56).”
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Unidade 2 – “Filosofia: a Busca pelo Conceito”
SÓCRATES E A BUSCA DO CONCEITO
Sócrates (469 ou 470 - 399 a.C.)
Considerado um marco na filosofia, nunca escreveu nada. Filho de um escultor – Sofronisco - e de uma parteira – Fenareta - nasceu em Atenas, onde viveu o apogeu e a crise da democracia. Levando a filosofia para a ágora, criticando os sofistas e atraindo a admiração dos jovens, Sócrates provoca também o desafeto de outros que o combatem por considerá-lo um perigo para as tradições da pólis e uma má influência para a juventude. Admirado e criticado, Sócrates foi figura controversa e causou problemas à sociedade da época. O que sabemos de Sócrates foi-nos legado por seus discípulos ou detratores. Dentre os discípulos, os principais são Platão e Xenofonte. Platão é o grande divulgador do mestre, colocando-o como o principal interlocutor de seus diálogos e enaltecendo sua sabedoria. Na crítica, o principal desafeto socrático era Aristófanes, um comediante. Valoroso, virtuoso e destemido, Sócrates foi levado a julgamento acusado de “não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude”. O julgamento, relatado por Platão no texto Apologia de Sócrates, apresenta-nos o pensador enfrentando seus opositores – o poeta Meleto, o político Anitos e Licão, um personagem de pouca importância – e mantendo sua integridade, suas convicções. Condenado por uma pequena margem de votos, Sócrates beberá cicuta e morrerá entre os seus amigos de forma serena e confiante. Poderia ter evitado a morte – ele podia fixar outra pena para si – mas não abriu mão de sua consciência, pois, escapar à morte seria admitir a culpa no processo. Que ela recaísse sobre seus algozes. Ele cumpriria a lei.
Mas, por que Sócrates incomodou tanto? Conversando com todos, discutindo e instigando seus interlocutores, o filho do escultor buscava a essência dos conceitos, a definição destes para fugir ao relativismo sofístico, tão comum naquele momento. A crítica socrática aos sofistas está tanto na cobrança pelos ensinamentos que eles dão quanto na “manipulação” que eles fazem dos conceitos para atender aos interesses de quem os contrata. Tal atitude mantém os homens na ignorância, sem desenvolverem o verdadeiro conhecimento. Aqui Sócrates entende sua missão: “libertar” os homens desta ignorância.
Sobre esta “missão”, ela teria tido início praticamente depois da visita de um amigo seu, Querofonte, ao oráculo de Delfos. Este, querendo saber se havia homem mais sábio do que Sócrates, obtém uma resposta negativa dos deuses, ou seja, Sócrates é o mais sábio. Recebendo o relato do amigo, e não se considerando sábio, Sócrates fica pensativo e resolve descobrir por que é considerado sábio. Intrigado, aborda um político considerado sábio e, na discussão descobre que este na realidade se considera sábio, sem saber de nada. Entende então que ele – Sócrates - é mais sábio por saber que nada sabe, ou seja, tem consciência de sua ignorância. Lembrando-se da inscrição na entrada do Templo de Delfos, o “conhece-te a ti mesmo”, e afirmando que “de tudo quanto sabe só sabe que nada sabe”, Sócrates entende que o conhecimento está dentro do homem e que este o desconhece por não buscá-lo. Para encontrá-lo, ele entende que é necessário produzir-se um “parto”, um “parto de idéias.” Neste sentido Sócrates cria um método que, em homenagem a sua mãe, que era maieuta – parteira em grego -, chama-se maiêutico. “Parir idéias” é a proposta para o “conhecer-se a si mesmo”, encontrar a essência dos conceitos e compreender do que se está falando. É deixar o mundo da opinião e alcançar a ciência.
QUESTÃO: o que significa, na perspectiva socrática, “deixar o mundo da opinião e alcançar a ciência”?
Como funciona este método? Pautado na ironia, o grande mérito dele é a busca do conceito. A ironia tem um duplo aspecto: a refutação e a maiêutica. A primeira significa não responder à pergunta formulada, mas retomar a resposta do interlocutor e demonstrar as contradições nela contidas. A função da refutação portanto, é a libertação do espírito, preparando-o para encontrar a solução. Esta será encontrada pelo próprio interlocutor, já que Sócrates finge ser capaz de atuar unicamentecomo parteiro, porém incapaz de conceber por conta própria; quer dizer, capaz de interrogar e não de ensinar, porque o conhecimento já está dentro de nós. Trata-se tão somente de extraí-lo do nosso interior. Aqui temos a maiêutica propriamente dita. Um claro exemplo da aplicabilidade do método está na obra chamada Laqués, de Platão. Laqués e Nícias são dois famosos generais que travam uma discussão com dois cidadãos sobre o exercício militar. A questão levantada é se “é útil ou não este exercício, se ele serve ou não para formar homens corajosos”. Convidado a participar da discussão, Sócrates muda o rumo da conversa: para sabermos se a arte militar é útil para formar homens corajosos, deve-se saber em primeiro lugar, o que é coragem. É a busca pela essência do conceito, aquilo que é o verdadeiro ponto da discussão. Conforme nos indicam PAIM, PROTA & RODRIGUEZ (1999), as questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral. Por exemplo: o que é a coragem? O que é a justiça? O que é a virtude? Quer saber o que é a "coragem em si", o universal que representa, ou seja, um conceito que seja o mesmo para todos e não apenas construído conforme o interesse de quem o expõe. Dando novo sentido ao termo logos - que na linguagem comum significava conversa, palavra -, Sócrates desenvolve a idéia do mesmo com o sentido de “a razão que se dá de algo”, o conceito. Por isso, buscando a essência das coisas nunca vai diretamente a pergunta o que é. Antes, ouve e apresenta objeções aos argumentos dos outros. A pergunta remonta ao tempo dos jônios. Enquanto estes buscavam resolver o problema da natureza - physis –, Sócrates pretende indagar o problema dos valores. Acompanhando a decadência da democracia ateniense, momento em que os valores políticos e morais aparecem sempre mais conflitantes, Sócrates procura algo que constitua a essência de todas as virtudes particulares como a coragem, a sabedoria, a justiça. Ele identifica a virtude com o Bem que, por sua vez, é identificado com a própria Razão. Conhecer a virtude, portanto, é o objetivo da ciência, do verdadeiro conhecimento. No entendimento socrático só pratica o mal quem desconhece o que seja a Virtude. Quem tem o verdadeiro conhecimento só pode praticar o bem. A ciência para Sócrates é, desta forma, a ciência do universal, do permanente. Do indivíduo mutável só se dá opinião. Desta forma Sócrates prepara a doutrina de Platão: se com efeito, somente o conhecimento dos conceitos é verdadeiro conhecimento, será verdadeira realidade, unicamente, o objeto destes conceitos, isto é, o mundo das Idéias eternas (MONDOLFO, in.: PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 51). Este é outro assunto.
FRAGMENTOS: discurso Socrático.
“Enquanto viver, não deixarei jamais de filosofar. E, de instruir quem quer que eu encontre, dizendo-lhe à minha maneira habitual: Querido amigo, és um ateniense, um cidadão da maior e mais famosa cidade do mundo, pela sua sabedoria e pelo seu poder; e não te envergonhas de velar pela tua fortuna e pelo seu aumento constante, pelo teu prestígio e pela tua honra, sem em contrapartida te preocupares em nada conheceres o bem, e a verdade, e com tornares a tua alma o melhor possível? E se algum de vós duvidar disto e asseverar que com tal se preocupa, não o deixarei em paz; nem seguirei tranqüilamente o meu caminho, mas interrogá-lo-ei, examiná-lo-ei e refutá-lo-ei; e se me parecer que não tem qualquer arete, mas que apenas a aparenta, investigá-lo-ei, dizendo-lhe que sente o menor respeito pelo que há de mais respeitável, e o respeito mais profundo pelo que menos respeito merece. E farei isto com os jovens e com os anciãos, com todos os que encontrar, com os de fora e com os de dentro; mas sobretudo com os homens desta cidade, pois são por origem os mais próximos de mim. Pois ficai sabendo que Deus assim me ordenou, e julgo que até agora não houve na nossa cidade nenhum bem maior para vós do que este serviço que eu presto a Deus. É que todos os meus passos se reduzem a andar por aí, persuadindo novos e velhos, a não se preocuparem nem tanto, nem em primeiro lugar, com o seu corpo e com a sua fortuna, mas antes com a perfeição da sua alma”.
Sócrates, Livro Paidéia.
UM MOMENTO IMPORTANTE: A AVALIAÇÃO.
Ao término desta segunda unidade, retomamos este momento importantíssimo do processo: a avaliação.
É o momento de ter um feedback dos seus estudos. Bom trabalho!
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. da 1.ª ed. bras.: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ARANHA, M. L. de Arruda; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. rev.. São Paulo: Moderna, 2003.
BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. Ed. rev. e atual. por: Helena Bonito C. Pereira; Rena Signer. São Paulo: Ed. FTD, 199-.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12.ª ed. 7.ª impr.  São Paulo: Ática, 2002.
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Coleção a obra-prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2002.
MACDONALD, Fiona. Como seria sua vida na Grécia Antiga? Coleção como seria sua vida? Trad.: Maria de Fátima S. M. Marques. São Paulo: Scipione, 1996.
MADEIRA, Marcos Almir (coord.). O livro dos nossos filhos: enciclopédia para adolescentes. Volume primeiro. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Alfa S. A., 1961.
PAIM, Antônio; PROTA, Leonardo; RODRÍGUEZ, Ricardo Velez. Curso de Humanidades 5 – Filosofia: guia de estudos Londrina: Ed. UEL: Instituto de Humanidades, 1999.
PESSANHA, José Américo Mota (Coord.). História das grandes idéias do mundo ocidental - vol. I. Coleção "Os Pensadores". São Paulo: Abril Cultural, 1972.
RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. Livro primeiro. Trad.: Breno Silveira. 2.ª ed.. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. Tradução de Haiganuch Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. P. 375-81.

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