Buscar

aula 8

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1 
SAÚDE COLETIVA I
2 
SAÚDE COLETIVA I 
Este  material  é  parte  integrante  da  disciplina  “Saúde  Coletiva  I”  oferecido  pela 
UNINOVE.  O  acesso  às  atividades,  as  leituras  interativas,  os  exercícios,  chats, 
fóruns  de  discussão  e  a  comunicação  com  o  professor  devem  ser  feitos 
diretamente no ambiente de aprendizagem on­line.
3 
SAÚDE COLETIVA I 
Sumário 
AULA 01 • O PROCESSO SAÚDE­DOENÇA: CONCEITUAÇÃO BÁSICA  EM SAÚDE COLETIVA 
........................................................................................................................................................6 
Introdução ...................................................................................................................................6 
As concepções na história...........................................................................................................8 
Exercícios..................................................................................................................................10 
AULA 02 • MODELOS EXPLICATIVOS DO PROCESSO SAÚDE­DOENÇA (UNICAUSAL, 
MULTICAUSAL E DETERMINAÇÃO SOCIAL DA DOENÇA) .......................................................12 
Introdução .................................................................................................................................12 
Modelo Unicausal ou monocausal .............................................................................................13 
Modelo multicausal....................................................................................................................15 
Modelo da determinação social das doenças ............................................................................17 
Exercícios..................................................................................................................................19 
AULA 03 • A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL ..............................................21 
Introdução .................................................................................................................................21 
Brasil Colônia e Brasil Império...................................................................................................22 
Brasil República.........................................................................................................................22 
Ditadura Civil: “era Vargas” .......................................................................................................24 
A Ditadura Militar .......................................................................................................................25 
A Crise do modelo de assistência à saúde ................................................................................26 
Abertura Política e os reflexos no novo modelo de assistência à saúde ....................................27 
Exercícios..................................................................................................................................27 
AULA 04 • PANORAMA DE SAÚDE NO BRASIL..........................................................................29 
Introdução .................................................................................................................................29 
Desigualdade na transição demográfica e de indicadores sociais .............................................30 
Distribuição desigual dos estabelecimentos de saúde em 2006 ................................................31 
Carga global de doenças no Brasil: a distribuição desigual da mortalidade...............................31 
Nascimento e desigualdade no Brasil........................................................................................32 
Mortalidade infantil no Brasil: determinantes e desigualdades...................................................33 
Desigualdade e determinantes da saúde dos adolescentes ......................................................34 
Desigualdade da mortalidade materna ......................................................................................35 
Exercícios..................................................................................................................................36 
AULA 05 • SERVIÇOS DE SAÚDE E NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE .......................................38 
Introdução .................................................................................................................................38 
Estrutura do Sistema de Serviços de Saúde..............................................................................40 
Atenção Primária à Saúde ou Atenção Básica ..........................................................................42 
Exercícios..................................................................................................................................44 
AULA 06 • PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA – CIDADE SAUDÁVEL................46 
Introdução .................................................................................................................................46 
Evolução do conceito de Promoção à Saúde ............................................................................47 
Como fazer a Promoção da Saúde acontecer de fato?..........................................................50 
A Promoção da Saúde no contexto do Sistema Único de Saúde...............................................51 
Exercícios..................................................................................................................................52 
AULA 07 • REFORMA SANITÁRIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE • SUS..............................54 
Introdução .................................................................................................................................55 
Em busca da cidadania e acesso à saúde.................................................................................55 
Exercícios..................................................................................................................................58
4 
SAÚDE COLETIVA I 
AULA 08 • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: HISTÓRICO, LEGISLAÇÃO E PRINCÍPIOS E 
DIRETRIZES • PARTE 1 ...............................................................................................................60 
Introdução .................................................................................................................................60 
Um pouco de História ................................................................................................................61 
Princípios e diretrizes que norteiam o SUS................................................................................63 
Exercícios..................................................................................................................................64 
AULA 09 • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: DIRETRIZES, OBJETIVOS, ATRIBUIÇÕES E 
COMPETÊNCIAS – PARTE 2 .......................................................................................................66 
Continuação ..............................................................................................................................66 
Objetivos, atribuições e competências do SUS..........................................................................67 
Exercícios..................................................................................................................................70 
AULA 10 • MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE – PARTE 1........................................................71 
Introdução .................................................................................................................................71 
Do sanitarismo campanhista ao modelo liberal­privatista ..........................................................72 
Principais Modelosde Atenção à Saúde ...................................................................................74 
Ação Programática em Saúde ou “Oferta Organizada”..............................................................74 
Exercícios..................................................................................................................................75 
AULA 11 • MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE – PARTE 2........................................................77 
Principais Modelos de Atenção à Saúde ...................................................................................77 
Sistemas Locais de Saúde (Silos) .........................................................................................77 
Vigilância da Saúde...................................................................................................................78 
Modelo de Atenção em Defesa da Vida (MDV)..........................................................................80 
Exercícios..................................................................................................................................82 
AULA 12 • PROGRAMA AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ­ PACS.......................................84 
Introdução .................................................................................................................................84 
Aspectos Legais do PACS.........................................................................................................84 
A equipe do Programa Agente Comunitário de Saúde e suas atribuições .................................86 
Exercícios..................................................................................................................................88 
AULA 13 • ESF OU PSF: HISTÓRICO, DEFINIÇÃO, PRINCÍPIOS E ESTRATÉGIAS • PARTE I.90 
Introdução .................................................................................................................................90 
Um pouco de História da ESF/PSF............................................................................................91 
Conceitos Básicos.....................................................................................................................93 
AULA 14 • ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) OU PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA 
(PSF): HISTÓRICO, DEFINIÇÃO, PRINCÍPIOS E ESTRATÉGIAS – PARTE II ............................95 
Prioridades e planejamento das ações na ESF/PSF: ................................................................98 
Roteiro para planejamento das ações na ESF/PSF:..................................................................99 
Exercícios................................................................................................................................100 
AULA 15 • PACTO PELA SAÚDE ...............................................................................................102 
Introdução ...............................................................................................................................102 
O Pacto pela Vida:...................................................................................................................103 
O Pacto em Defesa do SUS: ...................................................................................................104 
O Pacto de Gestão do SUS.....................................................................................................105 
Exercícios................................................................................................................................106 
AULA 16 • SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE (SIS)......................................................107 
Introdução ...............................................................................................................................107 
Algumas fontes de informação no SUS ...................................................................................108 
Principais problemas para viabilização do Sistema de Informação em Saúde .....................112 
Exercícios................................................................................................................................112 
AULA 17 • PRINCIPAIS ÓRGÃOS DE SAÚDE...........................................................................114 
Organização Mundial da Saúde (OMS) ...................................................................................114 
Organização Pan­Americana da Saúde (OPAS)......................................................................115 
Ministério da Saúde (MS) ........................................................................................................116
5 
SAÚDE COLETIVA I 
Secretarias de Saúde ..............................................................................................................119 
Exercícios................................................................................................................................120 
AULA 18 • ATUALIDADES DO SUS: CARTÃO SUS, ACOLHIMENTO E FARMÁCIA POPULAR 
....................................................................................................................................................122 
Introdução ...............................................................................................................................122 
Cartão Nacional de Saúde ou Cartão SUS..............................................................................122 
Acolhimento.............................................................................................................................124 
Farmácia Popular ....................................................................................................................125 
Exercícios................................................................................................................................126 
AULA 19 • CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO (CRIANÇA, ADOLESCENTE, ADULTO, IDOSO E 
PROFISSIONAIS DE SAÚDE) ....................................................................................................128 
Introdução ...............................................................................................................................128 
Um pouco de História ..............................................................................................................128 
Programa Nacional de Imunização (PNI).................................................................................130 
Exercícios................................................................................................................................131 
AULA 20 • PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.....133 
Introdução ...............................................................................................................................133 
A prática do profissional de saúde...........................................................................................134 
Em busca de uma adequação de conduta...............................................................................136 
Exercícios................................................................................................................................139 
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................141
6 
SAÚDE COLETIVA I 
Quando se fala em doença, identifica­se, de imediato, o seu oposto: a saúde, desejo 
incontestável de todas as pessoas. A doença aparece como o lado sombrio da vida, aquele que 
poderá levar à morte. À resposta dinâmica que as sociedades manifestam, de forma diferenciada, 
essa forma de adoecer e morrer, levando em consideração a dimensão não apenas dos 
sofrimentos físicos, mas também psíquicos, morais e éticos, denominamos Processo Saúde­ 
Doença, ou seja, a síntese da totalidadedas determinações que operam sobre a qualidade de 
vida e está articulado aos processos econômicos, políticos, sociais, de relacionamento familiar e 
de responsabilidade humana. 
AULA  01  •  O  PROCESSO  SAÚDE­DOENÇA:  CONCEITUAÇÃO 
BÁSICA  EM SAÚDE COLETIVA 
Introdução 
Quando  se  fala  em  doença,  identifica­se,  de  imediato,  o  seu  oposto:  a  saúde  –  desejo 
incontestável de todas as pessoas. A doença aparece como o lado sombrio da vida, aquele que 
poderá  levar  à  morte.  À  resposta  dinâmica  que  as  sociedades  manifestam,  de  forma 
diferenciada, essa forma de adoecer e morrer, levando em consideração a dimensão não apenas 
dos sofrimentos físicos, mas também psíquicos, morais e éticos, denominamos Processo Saúde­ 
Doença, ou  seja,  a  síntese da  totalidade das determinações que operam sobre a qualidade de 
vida, e está articulado aos processos econômicos, políticos, sociais, de relacionamento familiar e 
de responsabilidade humana. 
O processo saúde­doença vem apresentando diferentes significados conforme a época. O 
conceito que se  tem de saúde depende do entendimento que há do organismo vivo e de  suas 
relações com o meio ambiente. Como essa compreensão muda de uma cultura para outra e de 
um momento histórico para outro, as noções de saúde  e de doença também se modificam. Desse 
“Saúde  é  o  resultado  do  equilíbrio  entre  o  indivíduo  e  o  seu meio  ambiente”.  (OMS, 
1949)
7 
SAÚDE COLETIVA I 
modo, a conceituação do processo saúde­doença é considerada intelectiva do homem em cada 
contexto histórico e pelas condições concretas de existência em cada sociedade 
Sociedade pode ser definida como sendo o  complexo integrado por homens diferenciados 
ocupando determinado espaço geopolítico. Os homens interagem entre si a partir da inserção no 
trabalho, no qual eles se  relacionam, e  também com a natureza, na produção da vida material. 
Esse  trabalho  está  estruturado  pela  base  econômico­social.  Toda  essa  estruturação  está 
assentada no modo de produção, síntese concreta  , histórica e dinâmica das  relações sociais e 
das  forças  produtivas.  Tal  modo  de  produção  conforma  e  é  conformado  pela  superestrutura 
jurídico­político­ideológica. Essa sociedade encontra­se em permanente  transformação,  criando­ 
se e  recriando­se pela ação humana em um processo de criação, no qual o homem é  também 
transformado. 
A sociedade brasileira assenta­se num modo de produção capitalista periférico, existindo, 
portanto, em seu interior, agrupamentos humanos que se inscrevem em diferentes classes sociais 
conflitantes.  Diferentes  classes  sociais  têm  distintas  condições  de  vida  e,  portanto,  diferentes 
condições de saúde­doença, ou seja, diferentes condições de adoecer e morrer. 
O conceito de saúde foi definido pela Organização Mundial de Saúde – OMS – em 1948, 
como  sendo  “ um  estado  de  completo  bem­estar  físico,  mental  e  social,  e  não  a  mera 
ausência  da  doença” .  Doença  (do  latim  dolencia  =  padecimento)  é  o  estado  resultante  da 
consciência  da  perda  da  homeostasia  de  um  organismo  vivo,  total  ou  parcial.  Desse modo,  a 
saúde deve ser entendida,  em sentido mais amplo,  como componente da qualidade de  vida e, 
assim, não é um "bem de troca", mas um "bem comum", um bem e um direito social, no sentido 
de que a cada um e a todos possam ter assegurados o exercício e a prática desse direito à saúde, 
a partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia que a 
sociedade desenvolveu e vem desenvolvendo nesse campo, adequados às suas necessidades, 
envolvendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de 
doenças. Ou seja, considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, 
compreensão esta que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público, 
para o balizamento e a orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações. 
A noção de que a saúde é um processo continuado e interdependente de preservação da 
vida,  criou  uma  nova  dimensão  social.  A  saúde  passou  a  ser  também  um  processo  de 
cidadania.  Assim,  todos  cidadãos  têm  direitos,  mas  são  igualmente  responsáveis  pela  sua 
manutenção. A saúde, dentro desse enfoque, ocorre e é conseqüência de ações  realizadas em 
toda a sociedade.  Isso não exime o Estado,  o médico e outros profissionais de  saúde de  suas 
responsabilidades,  mas  agrega  uma  variável  fundamental  de  respeito  ao  indivíduo,  doente  ou
8 
SAÚDE COLETIVA I 
sadio,  através  do  compromisso  social  solidário  na  consecução  do  objeto  maior  de  garantir 
condições dignas de vida a cada ser humano. Esse modo de entender a saúde abrange aspectos 
individuais e coletivos, envolvendo questões ambientais e sociais. 
As concepções na história 
Os  povos  antigos  explicavam  a  doença  dentro  de  uma  visão  mágica  do  mundo.  Os 
demônios e espíritos malignos, motivados por um castigo, vitimavam o doente, podendo levá­lo à 
morte.  A  cura  do  doente  caberia  ao  feiticeiro  ou  xamã,  o  único  com  poderes  de  convocar  os 
espíritos  capazes  de  erradicar  o  mal.  Essas  concepções    estavam  mais  presentes    entre  os 
assírios, caldeus e hebreus, detentores de uma visão religiosa do mundo e capazes de atribuir o 
caráter  religioso  ao  surgimento  e  à  cura  das  doenças,  advinda  das  plantas  e  dos  recursos 
naturais. 
Para os hindus e chineses, a doença era causada pelo desequilíbrio entre os elementos do 
organismo  humano,  ocasionado  pelas  influências  do  ambiente  físico  –  astros,  clima,  etc.  Os 
chineses  alegavam  que  as  doenças  eram  determinadas  por  causas  externas,  as  quais, 
supostamente,  provocariam  o desequilíbrio  entre  os  princípios  Yin  e  Yang. Argumentavam  que 
para  o  restabelecimento  da  saúde,  que  se  daria  através  do  reequilíbrio  da  energia  interna,  a 
pessoa deveria ser sujeita às terapêuticas da acupuntura e do­in. Nesse entendimento, o homem 
atua  ativamente  no  processo  de  doença  e  cura,  e  o  caráter mágico/religioso,  predominante na 
idéia anterior, perde influência. 
Na  Grécia,  as  concepções  recepcionaram  as  idéias  dos  hindus  e  chineses    através  de 
explicações  que  davam  à  saúde  o  significado  de  harmonia  entre  os  quatro  elementos  que 
compõem o corpo humano – água, terra, ar e fogo. 
Hipócrates, o criador da Medicina moderna, que negou a concepção de doença causada 
por  demônios  ou  forças  sobrenaturais,  já  apontava  em  seu  livro  Dos  Ares,  das  Águas  e  dos 
Lugares  (480  a.C),  enfatizando  ser  a  base  da  arte médica  a  compreensão  da  interação  entre 
mente, corpo e ambiente. Ele considerava que os fatores culturais – como modos de vida – e os 
fatores  psicológicos  ou  “componentes  da  natureza  humana”  –  como  humores  e  paixões  – 
somavam­se aos fatores ambientais na influência sobre o bem­estar dos indivíduos. No entanto, a 
história das ciências médicas não foi sempre linear, ou  constante, mas conflituosa e antagônica, e 
os  aspectos  da  medicina  hipocrática  foram  negligenciados  com  o  predomínio  da  ciência 
cartesiana. Porém, nas últimas décadas, a relação entre fatores sócio­ambientais e o organismo
9 
SAÚDE COLETIVA I 
biológico  vem  sendo  bastante  pesquisada,  e  há  a  necessidade  da  compreensão  de  que  a 
pobreza,  condições  de  trabalho, moradia,  alimentação,  costumes e  práticas  de  saúde,  etc,  são 
fatores intervenientes no estado de bem­estar. 
Na  Idade Média  ­  conhecida  como a Era  das  Trevas  ­  sob  influência  do  cristianismo,  a 
doença volta a ser explicada como purificação,uma forma de atingir a graça divina, que incluía a 
cura,  quando  merecida.  A  Peste  Negra  assolava  o  continente  europeu  e,  acusados  de  haver 
provocado a doença, numerosos judeus foram jogados à fogueira. Surgiram os hospitais ou asilos 
no intuito de segregar as pessoas portadoras de doenças infecciosas. 
A  Renascença  (século  XVIII),  considerada  um  período  de  transição,  convive  com  a 
dicotomia  entre  as  práticas  esotéricas  e  a  ciência.  A  percepção  hipocrática  de  organicidade 
continua relegada em favor dos elementos externos que penetram no organismo. Surge a teoria 
do contágio e, mais uma vez, prevalece  a compreensão das alterações anatômicas decorrentes 
da doença, centrando  as atenções nos sinais e sintomas, consolidando as práticas de saúde na 
abordagem particular e do indivíduo. 
No final do século XVIII, após a Revolução Francesa, com o aumento da população urbana 
nos países europeus e a ascensão   do sistema fabril,  surge a explicação social na causalidade 
das  doenças,  relacionando­as  com  as  condições  de  vida  e  trabalho  das  populações.  Desse 
cenário, emergiu a idéia de Medicina Social, e o termo data de 1848. Dentre os defensores dessa 
abordagem, temos  Rudolph Virchow, considerado o “pai” da Patologia moderna, que se dedicou 
aos  estudos da Patologia  porque  a medicina  social mostrou­se  inócua  com  as descobertas do 
microorganismo por Robert Koch e Louis Pasteur, na metade do século XIX . 
Com  as  descobertas  da  Bacteriologia,  volta  prevalecer  a  idéia  das  partículas  externas 
provocando  o  aparecimento da doença.  As  concepções  sociais  dão  lugar  ao agente etiológico. 
Assim,  essa  relação  orgânica,  como  proposto  por  Hipócrates,  na  Antiguidade  clássica,  entre  o 
biológico e o social no processo saúde­doença, ficou completamente esquecida. 
Dessa  forma,  o objeto do  sistema  de  saúde  deve  ser  entendido  como  as  condições  de 
saúde das populações e seus determinantes, ou seja, o seu processo de saúde/doença, tendo em 
vista  produzir,  progressivamente,  melhores  estados  e  níveis  de  saúde  dos  indivíduos  e  das 
coletividades, atuando articulado e integralmente nas prevenções primária, secundária e terciária, 
com redução dos riscos de doença, seqüelas e óbito.
10 
SAÚDE COLETIVA I 
Exercícios 
1. Hipócrates, o criador da Medicina moderna, que negou a concepção de doença causada por 
demônios ou forças sobrenaturais, já apontava em seu livro Ares, Água e Alimento, enfatizando 
ser  a base  da  arte médica a  compreensão da  interação  entre mente,  corpo  e ambiente. Ele 
considerava  que  os  fatores  culturais  –  como  modos  de  vida  –  e  os  fatores  psicológicos  ou 
“componentes  da  natureza  humana”  –  como  humores  e  paixões  –  somavam­se  aos  fatores 
ambientais na influência sobre o bem­estar dos indivíduos. 
Ao  ler  o  texto,  podemos  afirmar  que  Hipócrates  valorizava  os  determinantes 
espirituais/religiosos na gênese do processo saúde­doença. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
2.  À  resposta  dinâmica  que as    sociedades manifestam,  de  forma diferenciada,  essa  forma  de 
adoecer e morrer,  levando em consideração a dimensão não apenas dos sofrimentos físicos, 
mas  também  psíquicos  morais  e  éticos,  denominamos  Processo  Saúde­Doença,  ou  seja,  a 
síntese  da  totalidade  das  determinações  que  operam  sobre  a  qualidade  de  vida,  e  está 
articulado  aos  processos  econômicos,  políticos,  sociais,  de  relacionamento  familiar  e  de 
responsabilidade humana. 
Ao  ler o  texto,  podemos  afirmar  que o  processo  saúde­doença  vem  apresentando diferentes 
significados conforme a época. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
3.  Com  as  descobertas da Bacteriologia,  volta  a  prevalecer  as  concepções sociais  e  a  relação 
orgânica,  conforme  proposto  por  Hipócrates,  na  Antiguidade  clássica,  entre  o  biológico  e  o 
social no processo saúde­doença. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
Respostas dos Exercícios 
1. Hipócrates, o criador da Medicina moderna, que negou a concepção de doença causada por demônios ou forças sobrenaturais, já 
apontava  em  seu  livro Ares, Água  e Alimento,  enfatizando  ser  a  base  da  arte médica  a  compreensão  da  interação  entre mente, 
corpo e ambiente. Ele considerava que os fatores culturais – como modos de vida – e os fatores psicológicos ou “componentes da 
natureza humana” – como humores e paixões – somavam­se aos fatores ambientais na influência sobre o bem­estar dos indivíduos. 
Ao  ler  o  texto,  podemos  afirmar  que Hipócrates  valorizava  os  determinantes  espirituais/religiosos  na  gênese  do  processo  saúde­ 
doença. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
Hipócrates considerava que os fatores culturais  e os fatores psicológicos somavam­se aos fatores ambientais na  influência para a 
determinação do processo saúde doença. 
2.  À  resposta  dinâmica  que  as    sociedades  manifestam,  de  forma  diferenciada,  essa  forma  de  adoecer  e  morrer,  levando  em 
consideração  a  dimensão  não  apenas  dos  sofrimentos  físicos,  mas  também  psíquicos  morais  e  éticos,  denominamos  Processo 
Saúde­Doença,  ou seja,  a síntese  da  totalidade das determinações que  operam sobre  a  qualidade de  vida,  e  está  articulado  aos 
processos econômicos, políticos, sociais, de relacionamento familiar e de responsabilidade humana. 
Ao ler o texto, podemos afirmar que o processo saúde­doença vem apresentando diferentes significados conforme a época. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: A 
Realmente o processo saúde­doença vem apresentando diferentes significados conforme a época.
11 
SAÚDE COLETIVA I 
3.  Com  as  descobertas  da  Bacteriologia,  volta  a  prevalecer  as  concepções  sociais  e  a  relação  orgânica,  conforme  proposto  por 
Hipócrates, na Antiguidade clássica, entre o biológico e o social no processo saúde­doença. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
Com as descobertas da Bacteriologia, volta a prevalecer a idéia das partículas externas provocando o aparecimento da doença. As 
concepções sociais dão  lugar  ao  agente  etiológico. Assim,  essa  relação  orgânica, como proposto por Hipócrates,  na Antiguidade 
clássica, entre o biológico e o social no processo saúde­doença, ficou completamente esquecida
12 
SAÚDE COLETIVA I 
O homem sempre buscou uma maneira de explicar a origem das doenças. Assim, houve a 
teoria mística sobre a doença, superada, posteriormente, pela teoria de que a doença era um fato 
decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto em que o homem vivia, 
envolvendo as teorias dos miasmas e do contágio. Com os estudos de Louis Pasteur (na França), 
entre outros, veio a prevalecer a Teoria da Unicausalidade, com a descoberta dos micróbios (vírus 
e bactérias) e, portanto, do Agente Etiológico. Posteriormente, surgindo a explicação da 
multicausalidade na determinação da doença, e não apenas a presença exclusiva de um agente 
e, finalmente, uma série de outros estudos e conhecimentos provindos principalmente da 
epidemiologia social. 
AULA 02 • MODELOS EXPLICATIVOS DO PROCESSO SAÚDE­ 
DOENÇA  (UNICAUSAL,  MULTICAUSAL  E  DETERMINAÇÃO 
SOCIAL DA DOENÇA) 
Introdução 
O homem sempre buscou uma maneira de explicar a origem das doenças. Assim, houve a 
teoria  mística  sobre  a  doença,  que  os  antepassados  a  julgavam  como  um  fenômeno 
"sobrenatural",  ou  seja,  além  da  sua  compreensão  do  mundo,  superada,  posteriormente,  pela 
teoria  de  que  a  doença  era  um  fato  decorrente  das  alterações  ambientais  no  meio  físico  e 
concreto que o homem vivia,envolvendo as teorias dos miasmas e do contágio. Com os estudos 
de Louis Pasteur (na França), entre outros, veio a prevalecer a Teoria da Unicausalidade, com a 
descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do Agente Etiológico, ou seja, aquele 
que  causa  a  doença.  Teoria  esta  que,  pela  sua  incapacidade  e  insuficiência  de  explicar  a 
ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do homem, veio a ser complementada como 
uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que evidencia a multicausalidade na 
determinação da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente e,  finalmente,  uma 
série de outros estudos e conhecimentos provindos, principalmente, da epidemiologia social nos 
meados  deste  século,  veio  esclarecer melhor a  determinação e  a  ocorrência  das  doenças nos 
indivíduos e, especialmente, das populações, do coletivo e entre as classes sociais.
13 
SAÚDE COLETIVA I 
Desse modo, surgiram vários modelos – entende­se modelos como sínteses provisórias de 
debates  sobre  a  idéia  de  doença  e  seus  determinantes  –  expressando  a  explicação  e 
compreensão da saúde, da doença e do processo saúde/doença, como o modelo epidemiológico 
baseado  nos  três  componentes  ­  agente,  hospedeiro  e  meio,  considerados  como  "fatores 
causais",  evoluindo para modelos mais abrangentes,  como o do  "campo de saúde" de Lalonde 
(este modelo será estudado na disciplina Epidemiologia), envolvendo ambiente (não apenas o 
ambiente físico), estilo de vida, biologia humana e sistema/serviços de saúde, numa permanente 
inter­relação  e  interdependência.  Assim,  os  conceitos  de  contágio,  transmissão,  constituição 
epidêmica, miasma,  risco e vulnerabilidade fundamentaram as explicações sobre os fenômenos 
de adoecimento das populações. 
De  qualquer  modo,  e  em  última  instância,  o  importante  é  saber  e  reconhecer  essa 
abrangência e complexidade causal, que saúde e doença não são estados estanques,  isolados, 
de causação aleatória, não se está com saúde ou doença por um acaso. Há uma determinação 
permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. Daí 
se dizer que há uma produção social da saúde e ou da doença. Em última instância, "o processo 
saúde­doença constitui uma expressão particular do processo geral da vida social". 
Modelo Unicausal ou monocausal 
O  conceito  de  constituição  epidêmica  vem dos escritos  de Hipócrates,  que  atribuiu  a 
uma série   de  condições  climáticas  locais um estado da atmosfera produtor de  certas doenças 
capazes  de  se  espalharem,  creditando­se  ,  portanto,  no  meio  circulante,  a  predisposição  ao 
adoecimento  de  vários  corpos  ao  mesmo  tempo.  Essa  concepção  desenvolveu­se  durante  os 
séculos  XVI  e  XVII,  período  denominado  de  epidemiologia  medieval,  e  foi  a  primeira  idéia  a 
influenciar o conhecimento médico sobre as epidemias (aumento no número de doenças acima do 
esperado, em uma população, em determinado tempo e espaço) no Ocidente. 
A teoria dos miasmas influenciou o pensamento médico até o início do século XX. Vinda 
da concepção de Aristóteles, que atribuía às entidades materiais alguns atributos inerentes à sua 
“natureza”, os “vapores” emanados dos pântanos propiciariam o aparecimento de doenças, como 
a malária, as prisões provocavam a “febre das prisões” (Tifo Exantemático), e assim por diante. 
Esse atributo dos lugares serviu por séculos como explicação para o surgimento das doenças. 
Até  o  começo  do  século  XX,  a  manutenção  de  um  fluxo  contínuo  de  mercadorias  e 
pessoas entre os  continentes exigiu  um controle dessas mercadorias,  de navios estrangeiros e
14 
SAÚDE COLETIVA I 
áreas portuárias. As florescentes cidades comerciais eram as mais vulneráveis às epidemias de 
doenças,  principalmente  aquelas  ligadas  aos  portos  (Peste  Bubônica,  Tifo,  Febre  Amarela, 
Tuberculose, Cólera, Varíola). 
Medidas foram instituídas, como quarentena e o  isolamento das áreas (cordão sanitário) 
para proteger as  cidades do  contágio de doenças  vindas do exterior. Essas medidas, por mais 
drásticas que fossem, eram as únicas possíveis, já que pouco se sabia efetivamente da etiologia 
(causa) das doenças e seus mecanismos de  transmissão. De fato, até o  início do século XX, a 
teoria dos “miasmas” era o modelo médico/sanitário dominante. 
A  teoria  do  contágio,  sistematizada  por    Hieronymus  Fracastororius  (1478  –  1548), 
também  teve  grande  influência  nas  idéias  sobre  doenças.  Segundo  essa  teoria,  seriam  os 
diminutos agentes  infecciosos,  transmissíveis e que  reproduzem por  si mesmos os  causadores 
das doenças. Essas  “sementes” da moléstia ou “seminária prima” seriam específicas para cada 
doença. A doença instalar­se­ia quando as “sementes”, transmitidas de um indivíduo a outro por 
contato direto ou por meio de  roupas e objetos,   alterassem os humores, os princípios vitais do 
corpo.  A  partir  dessa  idéia  constituiu­se  a  teoria  do  contágio,  que  concorreu  com  a  doutrina 
atmosférico­miasmática até finais do século XIX e propiciou a busca por causas específicas das 
doenças. 
A  confirmação definitiva  da  teoria  do  contágio  viria  em  1876,  graças  aos  estudiosos  de 
Louis Pasteur (1822­1895) e Robert Koch (1843­1910), que estabeleceram a teoria dos germes 
ou teoria bacteriana, que modificou profundamente as representações sobre o corpo e sobre as 
relações homem­ambiente. Segundo esta teoria, todo germe é considerado ofensivo ou perigoso 
para a saúde e causadores de diversos agravos. 
Quarentena 
Isolamento  imposto  a  um  navio  que  transporta  pessoas,  animais  ou  mercadorias 
provenientes  de  país  em  que  grassa  moléstia  contagiosa.  /  Isolamento  de  certas 
pessoas, lugares e animais que podem acarretar perigo de infecção. 
O  período  de  quarentena  depende  do  tempo  necessário  como  proteção  contra  a 
propagação  de  uma  doença  determinada.  O  nome  quarentena  provém  do  fato  de 
outrora, quando as autoridades de um porto suspeitavam que houvesse portadores de 
infecção entre os passageiros ou  tripulantes de um navio, este  ter de  ficar 40 dias ao 
largo do porto, sem atracar.
15 
SAÚDE COLETIVA I 
Até o aparecimento da teoria dos germes, a relação  saúde e ambiente era vista sob uma 
perspectiva predominantemente determinista, estabelecendo  relações  lineares de causa e efeito 
com o meio físico. Como pode ser observado, o tratado de Hipócrates, Dos Ares, das Águas e dos 
Lugares – 480 a . C – e os escritos sobre medicina nas civilizações egípcias de Heródoto – 500 a . 
C  são  considerados  as  primeiras  abordagens  da  temática  das  relações  entre  a  saúde  e  os 
“lugares”.
O  desenvolvimento  da  Microbiologia  e  o  descobrimento  das  bactérias  e  parasitas,  por 
Pastuer  e  Koch,  levaram  a  uma  série  de  transformações  nos  conhecimentos  da  Medicina, 
instituindo  a  hegemonia  da  “teoria  bacteriana”  ou  “teoria  dos  germes”  sobre  a  “teoria  dos 
miasmas”. Esse evento levou a uma reformulação na concepção do processo saúde/doença que 
se refletia no ensino da medicina e no campo de atuação da saúde. 
Nesse processo, o campo de saber dos profissionais de saúde foi se restringindo ao corpo 
humano e à biologia humana,  tornando  irrelevante o conhecimento sobre o ambiente. Devido à 
crença na unicausalidade das doenças secundárias aos processos biológicos, ficaram conhecidas 
como  correntes  “biologicistas”,  pois asseguravam  a  primazia  do biológico  na  determinação das 
doenças. Esse modelo centra a explicação num único fator: o agente biológico, e  impõe que as 
causas sociais da doença são secundárias,não importando para o processo de cura. 
Como modelo organizador do pensamento epidemiológico, a teoria microbiana do contágio 
permaneceu incontestada até 1912, quando Casimir Funk enunciou a teoria das “deficiências” que 
se tornou base da explicação para as doenças nutricionais. Dessa forma, a observação científica, 
no  decorrer  do  tempo,  demonstrou  que  tais  teorias,  embora  apresentassem  fenômenos 
concorrentes, não eram suficientes para justificar amplamente a ocorrência de doenças; somente 
a  presença  do  agente  etiológico,  em  muitas  situações,  não    determina  o  aparecimento  de 
doenças. Portanto, a teoria unicausal foi comprovada como inconsistente. 
Modelo multicausal 
Há um avanço relativo em relação ao modelo anterior, pois ele incorpora os fatores sócio­ 
econômicos, culturais, físicos, químicos, estabelecendo nexos entre os modos de adoecer (tipos 
de doença,  freqüência, gravidade, etc) e as  condições de  trabalho e as  condições materiais de 
vida (moradia, salário, alimentação, educação, saneamento, etc) , embora procure traçar, entre os 
mesmos, relações de natureza apenas quantitativa.
16 
SAÚDE COLETIVA I 
O  modelo  multicausal  coloca  grande  ênfase  na  avaliação  estatística  e  quantitativa  das 
variáveis do processo saúde­doença, fazendo com que os  indivíduos e fatores de doença sejam 
agrupados e  organizados,  ignorando­se,  contudo,  o  peso  e  a hierarquia  dos  fatores  de  origem 
social e de origem biológica.  Não obstante, definiu um propósito prático para a descoberta das 
relações que oferecem possibilidades para prevenção de doenças. 
O  complexo  processo  de  estruturação  de  saúde  é,  na  verdade,  resultado de  interações 
multicausais, não se admitindo mais o  conceito de  singularidade  ,  de unicausalidade, que  ficou 
estrito às possíveis ações bacteriológicas dos postulados de Pasteur e Koch, mas resultantes de 
interações de ordem sócio­econômicas, culturais,  nutricionais, psicológicas, imunológicas, etc. 
Assim, o homem foi construindo os modelos de explicação causal para o processo saúde­ 
doença. Avançando cronologicamente, surge,     no  início do século XX, o modelo multicausal de 
Leavel & Clarck,  que se  caracteriza por  ser uma variante mais dinâmica e desenvolvida desse 
modelo  multicausal,  e  se  torna  o  pensamento  hegemônico,  apoiado  na  teoria  ecológica  de 
causação de doenças. 
Modelo da História Natural da Doença,  desenvolvido por  Leavel & Clarck,  em 1965, 
diferencia­se dos seus antecessores pelo dinamismo dos processos de saúde doença, expressos 
na relação dos seus três elementos: o homem­hospedeiro, o agente patogênico e o meio. O meio 
ambiente  diz  respeito  a  uma  combinação  homogênea  dos  fatores  físico­químicos,  biológicos  e 
sociais, sendo caracterizado como “o que está em redor” ou “environmente” . 
Baseando­se  na  dinâmica  do  equilíbrio  ou  desequilíbrio  dos  três  fatores  considerados 
(hospedeiro, agente e meio), propõe três níveis de intervenção: prevenção primária, através da 
promoção  à  saúde  e  da  proteção  específica  em  relação  a  um  agravo  determinado  –  a  ser 
desencadeada ainda na  fase pré­patogênica da doença  (na qual surge a doença); prevenção 
secundária,  constante  de  diagnóstico  e  tratamento;  e  prevenção  terciária,  que  supõe  ações 
destinadas à recuperação do dano e à reabilitação. Essas duas últimas intervenções aplicam­se à 
fase patogênica (depois do aparecimento da doença). 
Surge aí a idéia de risco, definido como possibilidade de perda ou responsável pelo dano. 
A  idéia  de  risco  envolve  uma  relação  de  probabilidade  entre  eventos  e  interações  causais 
(fonte/exposição).  Esse  modelo  tornou­se  hegemônico  e  permeia  todo  o  conhecimento  das 
doenças nas populações até os dias atuais, não estando, no entanto, livre de críticas por ignorar a 
categoria  social  do  homem,  satisfazendo­se  com  correlações  biológico­ecológicas, 
independentemente  da  necessidade  de  transformações  estruturais  que  alterem  o  equilíbrio  do 
sistema, o que afasta a questão da determinação social da doença.
17 
SAÚDE COLETIVA I 
Modelo da determinação social das doenças 
Neste modelo,  supera­se  a  concepção  da mera  relação  de  causa­efeito  para  explicar  o 
adoecimento e a morte. Aponta­se, ao contrário, para o modo de adoecer, como um processo que 
tem  como  elemento  modelador  a  estrutura  social.  Tais  abordagens  apareceram  na  literatura, 
especialmente na América Latina, nos anos de 1970, e se tornaram referência para a constituição 
de um  novo  campo científico,  o  da  chamada Epidemiologia  Social  (baseada  na  determinação), 
como uma contraposição à Epidemiologia Clínica tradicional, baseada na casualidade. 
A  relação  entre  o  biológico  e  o  social  no  processo  saúde­doença  é  explicado  mais 
claramente pela pesquisadora Asa Cristina Laurell, da Universidade Autônoma Metropolitana de 
Causa Direta e Indireta 
Causa Direta: picada de um  mosquito infectado. 
Causa  Indireta:  a  cegada  das  chuvas  (estações  chuvosas)  favorece  a  formação  de 
charcos  temporários  e  a  recuperação  dos  níveis  de  lagoas  e  pântanos.  Esses 
reservatórios  de  água  se  convertem  em  criadouros  de  mosquitos  adultos,  os  quais 
trazem  um  aumento  na  densidade  de  anofelinos,  e,  portanto,  um  aumento  do  IPH 
(número de picadas pessoa/noite).
18 
SAÚDE COLETIVA I 
Xochimilco, da Cidade do México. Ao enunciar a concepção saúde­doença da coletividade como 
sendo o “modo específico pelo qual ocorre, no grupo, o processo biológico de desgaste e 
reprodução” . Mesmo em se tratando do processo saúde­doença de um grupo, a sua expressão é 
social na medida em que não é possível focalizar a normalidade biológica do homem desvinculado 
do momento histórico por ele vivido. 
Dessa forma, a saúde­doença ganha objetividade: é uma realidade concreta, expressa em 
grupos  sociais  marcados  por  traços  sócio­econômicos  particulares,  que  evidenciam  as  suas 
similaridades em termos de condições materiais de vida e condições materiais de trabalho. Nesse 
caso,  o  processo  saúde­doença  é  a  síntese  do  conjunto  de  determinações  que  operam  numa 
sociedade  concreta,  produzindo,  nos  diferentes  grupos  sociais,  o  aparecimento  de  riscos  ou 
potencialidades característicos, por sua vez manifestos na forma de perfis ou padrões de doença 
ou saúde. 
O modo  como os homens  vivem,  adoecem  e morrem  depende de  fatores  diversos,  tais 
como a produção de riquezas pela sociedade; as relações sociais que se estabelecem dentro dela 
e o modo como a sociedade faz a regulação e o controle de tais relações. Ao conjunto articulado 
dessas três dimensões denominamos modo de produção.O conhecimento do modo de produção 
ajuda a  compreender as  raízes dos processos de  saúde­doença, o que equivale a dizer que o 
modo  de  viver,  adoecer  e  morrer  dos  homens  constitui,  também,  um  processo  socialmente 
determinado,  embora  possam  existir  influências  de  outras  naturezas,  por  exemplo,  genéticas, 
imunológicas, agressões por parasitas, acidentes, etc. 
Certamente,  a  qualidade  de  vida  à  qual  cada  grupo  sócio­econômico  está  exposto  é 
diferente e, portanto, é igualmente diferente sua exposição a processos de risco que produzem o 
aparecimento de doenças e  formas de morte específicas,  assim como seu acesso a processos 
benéficos ou potencializadores da saúde e da vida.
19 
SAÚDE COLETIVA I 
Exercícios 
1. De qualquer modo, e em última instância, o importante é saber e reconhecer essa abrangência 
e  complexidade  causal,  que  saúde  e  doença  não  são  estados  estanques,  isolados,de 
causação aleatória, não se está com saúde ou doença por um acaso. Há uma determinação 
permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. 
Daí se dizer que há uma produção social da saúde e ou da doença. Em última  instância,  "o 
processo saúde­doença constitui uma expressão particular do processo geral da vida social". 
Ao ler o texto, podemos afirmar que o processo saúde­doença não apresenta relações com a 
formação da sociedade em diferentes  épocas. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
2. A Teoria dos Miasmas  influenciou o pensamento médico até o  início do século XX. Segundo 
essa teoria, seriam os diminutos agentes  infecciosos, transmissíveis e que reproduzem por si 
mesmos  os  causadores  das  doenças.  Essas  “sementes”  da  moléstia  ou  “seminária  prima” 
seriam  específicas  para  cada  doença.  A  doença  instalar­se­ia  quando  as  “sementes”, 
transmitidas  de  um  indivíduo  a  outro  por  contato  direto  ou  por  meio  de  roupas  e  objetos, 
alterassem os humores, os princípios vitais do corpo. 
Pode­se dizer que essa idéia está:
20 
SAÚDE COLETIVA I 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
3.  O  Modelo  da  História  Natural  da  Doença,  desenvolvido  por  Leavel  &  Clarck,    em  1965, 
diferencia­se  dos  seus  antecessores  por  enunciar  que  o  processo  saúde­doença  da 
coletividade como sendo o “modo específico pelo qual ocorre, no grupo, o processo biológico 
de desgaste e reprodução”. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
Respostas dos Exercícios 
1. De qualquer modo, e em última instância, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e complexidade causal, que saúde e 
doença  não  são  estados  estanques,  isolados,  de  causação  aleatória,  não  se  está  com  saúde  ou  doença  por  um  acaso. Há  uma 
determinação permanente, um processo causal, que se  identifica com o modo de  organização da sociedade. Daí se dizer que há 
uma produção social da saúde e ou da doença. Em última instância, "o processo saúde­doença constitui uma expressão particular 
do processo geral da vida social". 
Ao ler o texto, podemos afirmar que o processo saúde­doença não apresenta relações com a formação da sociedade em diferentes 
épocas. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
O processo saúde­doença vem apresentando relações com a formação da sociedade em diferentes  épocas. 
2.  A  Teoria  dos  Miasmas  influenciou  o  pensamento  médico  até  o  início  do  século  XX.  Segundo  essa  teoria,  seriam  os  diminutos 
agentes infecciosos, transmissíveis e que reproduzem por si mesmos os causadores das doenças. Essas “sementes” da moléstia ou 
“seminária prima” seriam específicas para cada doença. A doença instalar­se­ia quando as “sementes”, transmitidas de um indivíduo 
a outro por contato direto ou por meio de roupas e objetos,  alterassem os humores, os princípios vitais do corpo. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
A  teoria  dos  miasmas,  derivada  da  concepção  de  Aristóteles,  atribuía  às  entidades  materiais  alguns  atributos  inerentes  à  sua 
“natureza”.  Os  “vapores”,  emanados  dos  pântanos,  propiciariam  o  aparecimento  de  doenças,  como  a  malária,  as  prisões 
provocavam a “febre das prisões” , e assim por diante. 
3. O Modelo  da História Natural  da Doença, desenvolvido  por  Leavel & Clarck,    em 1965, diferencia­se  dos seus antecessores por 
enunciar  que  o  processo  saúde­doença  da  coletividade  como  sendo  o  “modo  específico  pelo  qual  ocorre,  no  grupo,  o  processo 
biológico de desgaste e reprodução”. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
O modelo da História Natural da Doença, desenvolvido por  Leavel & Clarck,  em 1965, diferencia­se dos seus antecessores pelo 
dinamismo  dos  processos  de  saúde­doença,  expressos  na  relação  dos  seus  três  elementos:  o  homem­hospedeiro,  o  agente 
patogênico e o meio.)
21 
SAÚDE COLETIVA I 
A evolução histórica das políticas de saúde no Brasil está relacionada diretamente à 
evolução político­social e econômica da sociedade. A descoberta  e posterior colonização 
brasileira pela Coroa Portuguesa apresentou diferentes formas de exploração humana e de 
recursos naturais. Pode­se afirmar que as primeiras ações de saúde pública surgiram com a vinda 
da Família Real para a Colônia. Com o advento da Proclamação da República, e persistência de 
várias doenças infecciosas, houve a necessidade de estender as minguadas ações de saúde para 
os espaços urbanos. Gradativamente, com o controle das epidemias nas grandes cidades 
brasileiras, o modelo campanhista deslocou sua ação para o combate das endemias rurais. Com o 
governo de Getúlio Vargas vieram as investidas nas questões de saúde e previdência da massa 
assalariada. O golpe militar de 1964 trouxe a institucionalização do INPS e do INAMPS. Na 
década de 1985, o movimento da Reforma Sanitária e das “Diretas Já” clama por um Sistema de 
saúde inclusivo e integral. 
AULA 03 • A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL 
Introdução 
Sabemos  que  a  evolução  histórica  das  políticas  de  saúde  no  país  está  relacionada 
diretamente à evolução político­social  e econômica da  sociedade brasileira.  Em 22 de abril  de 
1500,  chegava,  ao  Brasil,  13  caravelas  portuguesas  lideradas  por  Pedro  Álvares  Cabral.  À 
primeira vista, eles acreditavam tratar­se de um grande monte, e chamaram­no de Monte Pascoal. 
No dia 26 de abril, foi celebrada a primeira missa no Brasil. 
A descoberta do Brasil  ocorreu no período das grandes navegações,  quando Portugal e 
Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras. Poucos anos antes da descoberta do 
Brasil,  em  1492,  Cristóvão  Colombo,  navegando  pela  Espanha,  chegou  a  América,  fato  que 
ampliou as expectativas dos exploradores. Diante do fato de ambos terem as mesmas ambições e 
com objetivo de evitar guerras pela posse das terras, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de 
Tordesilhas, em 1494. 
Portugal  realizava,  no Brasil,  o  extrativismo  do  pau­brasil,  explorando  da Mata Atlântica 
toneladas da valiosa madeira, cuja tinta vermelha era comercializada na Europa. Nesse caso, foi 
utilizado  o  escambo,  ou  seja,  os  indígenas  recebiam  dos  portugueses  algumas  bugigangas
22 
SAÚDE COLETIVA I 
(apitos, espelhos e chocalhos) e davam em troca o trabalho no corte e carregamento das toras de 
madeira até as caravelas. 
Foi somente a partir de 1530, com a expedição organizada por Martin Afonso de Souza, 
que  a  coroa portuguesa  começou a  interessar­se  pela  colonização  da  nova  terra.  Isso  ocorreu 
pois havia um grande receio dos portugueses em perderem as novas terras para  invasores que 
haviam  ficado  de  fora  do  tratado  de  Tordesilhas,  como,  por  exemplo,  franceses,  holandeses  e 
ingleses. Navegadores e piratas desses povos estavam praticando a retirada ilegal de madeira de 
nossas matas. A colonização seria uma das formas de ocupar e proteger o território. Para tanto, 
os portugueses  começaram a  fazer experiências  com o plantio da  cana­de­açúcar,  visando um 
promissor comércio dessa mercadoria na Europa. 
Brasil Colônia e Brasil Império 
Nesse  período,  a  atenção  à  saúde  limitava­se  aos próprios  recursos  da  terra  (plantas e 
ervas)  e  às  pessoas  que  desenvolviam  a  arte  de  curar  através  de  conhecimentos  empíricos, 
denominados de curandeiros. A vinda da família  real para o Brasil criou a necessidade de uma 
estrutura sanitária mínima na cidade do Rio de Janeiro. Até 1850, as atividades de saúde pública 
estavam  limitadas  em:  delegação  das  atribuições  sanitárias  às  juntas  municipais,  controle  de 
navios e saneamento dos portos.A carência dos profissionais médicos e de uma assistência médica estruturada, no Brasil 
Colônia e no Brasil  Império,  fez  com que proliferassem pelo país os Boticários  (farmacêuticos). 
Não dispondo de aprendizado acadêmico, o processo de habilitação consistia em acompanhar um 
serviço de uma botica  já estabelecida durante  certo período de  tempo. Em 1808, Dom João VI 
fundou, na Bahia, o Colégio médico­cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador. No 
mês de novembro do mesmo ano, foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao real 
Hospital Militar. 
Brasil República 
Com  a  Proclamação  da  República,  em  1889,  observa­se  que  a  falta  de  um  modelo 
sanitário deixou as cidades brasileiras a mercê das epidemias. O Rio de Janeiro apresentava um 
quadro sanitário caótico, caracterizado pela presença de várias doenças graves, como a varíola, a 
malária, a febre amarela, e, posteriormente, a peste, o que acabou gerando sérias conseqüências
23 
SAÚDE COLETIVA I 
tanto para a saúde coletiva quanto para outros setores, como o do comércio exterior, visto que os 
navios estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro em função da situação 
sanitária existente na cidade. 
A necessidade de  reordenação dos espaços e de solucionar a situação sanitária  leva as 
autoridades  à  implementação  de  um  programa  de  saneamento  conhecido  com  modelo 
campanhista,  liderado  pelo médico  sanitarista Oswaldo Cruz.  A  Lei  Federal  nº  1261,  de  31  de 
outubro de 1904, instituiu a vacinação anti­varíola obrigatória para todo o território nacional. Esse 
modelo  foi  criado  dentro  de  uma  visão  militar,  na  qual  o  uso  da  força  e  da  autoridade  eram 
considerados os  instrumentos preferenciais de ação, resultando em movimentos repressores em 
torno de mudanças que deflagram conflitos, entre eles a Revolta da Vacina. 
Apesar  dos  excessos  cometidos,  o  modelo  campanhista  obteve  importantes  vitórias  no 
controle das doenças epidêmicas, o que o tornou hegemônico como proposta de intervenção na 
área de saúde coletiva durante décadas. Nesse período Oswaldo Cruz organizou a diretoria geral 
de saúde pública, criando uma seção demográfica, um  laboratório bacteriológico, um serviço de 
engenharia sanitária e de profilaxia da febre­amarela, a inspetoria de isolamento e desinfecção, e 
o instituto soroterápico federal, posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz. 
Em  1920,  Carlos  Chagas,  sucessor  de  Oswaldo  Cruz,  reestruturou  o  Departamento 
Nacional de Saúde, então ligado ao Ministério da Justiça, e introduziu a propaganda e a educação 
sanitária na técnica rotineira de ação,  inovando o modelo campanhista  já existente.  Importam­se 
conhecimentos  dos  maiores  centros  de  saúde  do  mundo,  entre  eles  a  Escola  Jonh  Hopkins; 
segundo seus modelos, é fundado o Instituto de Higiene e Saúde Pública, hoje atual Faculdade de 
Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). 
Gradativamente, com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras, o modelo 
campanhista deslocou a sua ação para o campo e para o combate das denominadas endemias 
rurais, dado ser a agricultura a atividade hegemônica da economia da época. Ainda no início do 
século XX, a economia era basicamente agroexportadora, assentada na manocultura do café. A 
acumulação  capitalista  advinda  do  comércio  exterior  tornou  possível  o  início  do  processo  de 
industrialização no país, que se deu principalmente no eixo Rio­São Paulo. 
A  industrialização  resultou de uma urbanização crescente e da necessidade de mão­de­ 
obra  nas  indústrias. Os  operários  da época  não  tinham quaisquer garantias  trabalhistas,  o  que 
resultou  em  duas  greves  gerais  no  país:  uma  em  1917  e  outra  em  1919.  Através  desses 
movimentos, os operários começaram a conquistar alguns direitos sociais. Em 24 de  janeiro de 
1923,  foi  aprovada,  pelo  Congresso  Nacional,  a  Lei  Eloi  Chaves,  marco  inicial  da  previdência
24 
SAÚDE COLETIVA I 
social  no  Brasil.  Através  dessa  lei,  foram  instituídas  as  Caixas  de  Aposentadoria  e  Pensões 
(CAP’s). 
A Lei Eloi Chaves deveria ser aplicada somente aos operários urbanos, as caixas deveriam 
ser  organizadas  por  empresa  e  não  por  categorias  profissionais,  as  CAP’s  não  eram  criadas 
automaticamente,  dependiam  do  poder  de  mobilização  e  organização  dos  trabalhadores  de 
determinada empresa para reivindicar a sua criação e eram mantidas por empregados, empresas 
e consumidores dos serviços das mesmas. 
A primeira CAP criada foi a dos ferroviários, o que pode ser explicado pela importância que 
esse setor desempenha na economia do país naquela época e pela capacidade de mobilização 
que a categoria dos ferroviários possuía. A extensão progressiva desse sistema, abrangendo cada 
vez maior  número  de  usuários  de  serviços,  com  a  criação  de  novas  Caixas  e  Institutos,  veio, 
afinal,  fazer  o  ônus  recair  sobre  o  público  em  geral  e,  assim,  a  se  constituir  efetivamente  em 
contribuição  da  União.  O  mecanismo  de  contribuição  tríplice  (em  partes  iguais)  refere­se  à 
contribuição  pelos  empregados,  empregadores  e  União  e  foi  obrigatoriamente  instituído  pela 
Constituição Federal de 1934. 
A crise dos anos 30 imobilizou temporariamente o setor agrário­exportador, redefinindo a 
organização do estado que imprimirá novos caminhos à vida nacional. Assim é a crise do café, a 
ação dos setores agrários e urbanos que vão propor um novo padrão de uso do poder no Brasil. 
Ditadura Civil: “ era Vargas”  
Investindo na Presidência da República pela Revolução de 1930, Getúlio Vargas instalou a 
reforma política e administrativa, entre elas, a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública. 
As  dificuldades  encontradas  para  governar  democraticamente  a  nação  levaram  à  instalação,  a 
partir  de  1937,  da  ditadura  do  Estado  Novo,  com  centralização  da  máquina  governamental  e 
também bloqueamento das reivindicações sociais. 
No que se refere à previdência social, a política do estado pretendeu estender a todas as 
categorias  do  operariado  urbano  organizado  os  benefícios  da  previdência.  Como  resultado,  as 
antigas  CAP’s  são  substituídas  pelos  Institutos  de  Aposentadorias  e  Pensões  (IAP”s).  Nesses 
institutos, os trabalhadores eram organizados por categoria profissional (marítimos, comerciários, 
bancários), e não por empresa. 
Em  1953,  foi  criado  o  Ministério  da  Saúde,  o  que,  na  verdade,  limitou­se  a  um  mero 
desmembramento do antigo Ministério da Saúde e Educação sem que isso significasse uma nova
25 
SAÚDE COLETIVA I 
postura  do  governo.  Em  1960,  foi  promulgada  a  lei  3.807,  denominada  Lei  Orgânica  da 
Previdência  Social,  que  veio  estabelecer  a  unificação  do  regime  geral  da  previdência  social, 
destinado  a  abranger  todos  os  trabalhadores  sujeitos  ao  regime  da  Consolidação  das  Leis  do 
Trabalho (CLT), excluídos os trabalhadores rurais, os empregados domésticos e, naturalmente, os 
servidores  públicos  e  de  autarquias,  e  que  tivessem  regimes  próprios  de  previdência.  Os 
trabalhadores  rurais  só  viriam  a  ser  incorporados  ao  sistema  3  anos  mais  tarde,  quando  foi 
promulgada  a  lei  4.214  de  2/3/63/,  que  instituiu  o  Fundo  de  Assistência  ao  Trabalhador  Rural 
(FUNRURAL). 
A Ditadura Militar 
O processo de unificação dos  institutos avança com o golpe militar de 1964, que, nesse 
mesmo  ano,  promove  uma  intervenção  generalizada  em  todos  os  IAP’s,  sendo  os  conselhos 
administrativos substituídos por juntas interventoras nomeadas pelo governorevolucionário. Em 2 
de janeiro de 1967, ocorre  a efetivação do processo de unificação com a implantação do Instituto 
Nacional de Previdência Social (INPS),   proporcionando a unificação dos diversos benefícios ao 
nível  de  IAP’s.  Na  medida  em  que  todo  o  trabalhador  urbano  com  carteira  assinada  era 
automaticamente  contribuinte  e  beneficiário  do  novo  sistema,  foi  grande  o  volume  de  recursos 
financeiros capitalizados, gerando um grande volume de recursos financeiros. 
No  entanto,  ao  aumentar  o  número  de  contribuintes  e,  conseqüentemente,  de 
beneficiários,  era  impossível  ao  sistema médico  previdenciário  atender  a  toda  essa  população, 
levando o governo militar a direcionar os recursos públicos para a iniciativa privada. Dessa forma, 
foram estabelecidos convênios e contratos com a maioria dos médicos e hospitais existentes no 
país, formando um complexo sistema médico­industrial. 
Esse sistema foi se tornado cada vez mais complexo dentro da estrutura do INPS, o que 
acabou  levando  a  criação  de  uma  estrutura  própria  administrativa:  o  Instituto  Nacional  de 
Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), em 1978. Nesse momento, o Ministério da 
Previdência e Assistência Social ditava as políticas de saúde; juntamente com esse ministério foi 
criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social  (FAS), que proporcionou a  remodelação e 
ampliação dos hospitais da rede privada, através de empréstimos com juros subsidiados. 
Incapacitado de atender à extensa massa de usuários com serviços próprios,  recorre às 
instituições privadas no  sentido de  complementar o atendimento à demanda. A medicina  liberal 
também perde espaço,  organiza­se em  redes de  clínicas e hospitais  com caráter  lucrativo,  que
26 
SAÚDE COLETIVA I 
passam a conveniar­se com a previdência e empresas, garantindo assistência a seus funcionários 
(surgem aí os primeiros seguros privados de saúde). 
A Crise do modelo de assistência à saúde 
O  modelo  econômico,  implantado  pela  ditadura  militar,  entra  em  crise  em  1975, 
caracterizada pela  crise econômica  internacional  e diminuição do  fluxo  de  capital  estrangeiro e 
nacional. O país diminui o ritmo de crescimento resultando em desnivelamento social, os pobres 
ficaram  mais  pobres  e  os  ricos  mais  ricos,  sendo  o  país  um  dos  que  apresentavam  um  dos 
maiores índices de concentração de renda em nível mundial. 
A população com baixos salários passou a conviver com o desemprego e as suas graves 
conseqüências  sociais,  como aumento da marginalidade, das  favelas,  da mortalidade  infantil. O 
modelo de saúde previdenciário começa a mostrar as suas deficiências. O setor médico privado, 
que se beneficiou do modelo médico­privatista durante quinze anos, a partir de 64, observando 
que o setor público estava em crise, passou a formular novas alternativas para sua estruturação, 
direcionando o seu modelo de atenção para parcelas da população, classe média e categorias de 
assalariados, procurando através da poupança desses setores sociais organizar uma nova base 
estrutural. 
Desse modo  foi  concebido um  subsistema  de Atenção Médica­Supletiva  composto de 5 
modalidades assistenciais: medicina de grupo, cooperativas médicas, auto­gestão, seguro­saúde 
e  plano  de  administração.  Esse  sistema baseia­se  num  universalismo  excludente,  beneficiando 
somente aquela parcela da população que tem condições financeiras de arcar com o sistema e 
sem  investimento na  saúde preventiva e na mudança de  indicadores de  saúde. Ao subsistema 
público  compete atender a grande maioria  da população brasileira  com os minguados  recursos 
dos governos federal, estadual e municipal. 
Nesse momento, a atuação do Ministério da Saúde resumia­se às atividades de promoção 
de  saúde  e  prevenção  de  doenças,  realizadas  em  caráter  universal,  e  à  assistência  médico­ 
hospitalar  para  poucas  doenças  servia  a  pessoas  que  não  tinham  acesso  ao  atendimento  do 
INAMPS.  Esses  indivíduos  eram  caracterizados  como  indigentes  e  encaminhados  a  serviços 
filantrópicos para atendimento.
27 
SAÚDE COLETIVA I 
Abertura Política e os reflexos no novo modelo de assistência à saúde 
Ao  longo  da  década  de  1980,  o  INAMPS  passaria  por  sucessivas  mudanças,  até  a 
universalização  progressiva  do  atendimento,  prevista  pelo  Sistema Único  e Descentralizado de 
Saúde  (SUDS),  defendida na 8º Conferencia Nacional de Saúde como estratégia  viável para a 
eliminação da assistência à  saúde excludente,  conforme  vinha  sendo  imposta pelo  Sistema de 
Saúde  anterior,  já  numa  transição  para  o  Sistema  Único  de  Saúde  (SUS).  No  entanto,  o  que 
imprimiu a nova lógica de direitos civis e acesso aos serviços de saúde advém com a Assembléia 
Nacional Constituinte de 1986, a qual culminou com a Promulgação da Constituição da República 
Federativa do Brasil, em 5 de outubro de 1988, que garante, no Artigo 196: “ A saúde é direito de 
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à 
redução  do  risco  de  doença  e  de  outros  agravos  e  ao  acesso  universal  e  igualitário  às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” . 
Retomaremos o assunto nas aulas 8 e 9 referente ao Sistema Único de Saúde (SUS). 
Exercícios 
1.  “Com a Proclamação da República, em 1889, observa­se que a falta de um modelo sanitário 
deixou as cidades brasileiras a mercê das epidemias. O Rio de Janeiro apresentava um quadro 
sanitário  caótico  caracterizado  pela  presença  de  várias  doenças  graves,  como  a  varíola,  a 
malária,  a  febre  amarela,  e,  posteriormente,  a  peste,  o  que  acabou  gerando  sérias 
conseqüências  tanto  para a  saúde  coletiva  quanto para  outros  setores,  como  o  do  comércio 
exterior, visto que os navios estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro 
em função da situação sanitária existente na cidade”. 
Ao  ler  o  texto,  podemos  afirmar  que  a  necessidade  de  reordenação  dos  espaços  e  de 
solucionar  a  situação  sanitária  leva  à  implementação  de  um  programa  de  saneamento 
conhecido como modelo campanhista, liderado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
2.  “Os operários começaram a conquistar alguns direitos sociais. Em 24 de  janeiro de 1923,  foi 
aprovada, pelo Congresso Nacional, a Lei Eloi Chaves, marco  inicial da previdência social no 
Brasil. Através dessa lei formam instituídas as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAP’s). As 
CAP’s não eram criadas automaticamente, dependiam do poder de mobilização e organização 
dos trabalhadores de determinada empresa para reivindicar a sua criação e eram mantidas por 
empregados, empresas e consumidores dos serviços das mesmas”. 
Ao  ler  o  texto,  podemos  afirmar  que  as  CAP’s  eram  organizadas  pelo  Estado  e  todos  os 
operários, sem exceção, tinham direito à assistência médica. 
Pode­se afirmar que essa idéia está: 
a) Correta.
28 
SAÚDE COLETIVA I 
b) Incorreta. 
3. O modelo econômico, implantado pela ditadura militar, entra em crise em 1975, caracterizada / 
Ao  ler  o  texto,  podemos afirmar que,  nesse momento,  o  Estado  provia assistência médica a 
toda à população. 
Pode­se afirmar que essa idéia está: 
a) Correta. 
b) Incorreta. 
Respostas dos Exercícios 
1. “Com a Proclamação da República, em 1889, observa­se que a falta de um modelo sanitário deixou as cidades brasileiras a mercê 
das epidemias. O Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico caracterizado pela presença de várias doenças graves, 
como a  varíola,  a malária,  a  febre  amarela,  e, posteriormente,  a  peste,  oque  acabou gerando sérias conseqüências  tanto para  a 
saúde coletiva quanto para outros setores, como o do comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não mais queriam atracar 
no porto do Rio de Janeiro em função da situação sanitária existente na cidade”. 
Ao  ler  o  texto,  podemos  afirmar  que  a  necessidade  de  reordenação  dos  espaços  e  de  solucionar  a  situação  sanitária  leva  à 
implementação  de um programa de saneamento conhecido como modelo campanhista,  liderado  pelo médico sanitarista Oswaldo 
Cruz. 
Pode­se dizer que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: A 
Realmente, reordenação dos espaços e de solucionar a situação sanitária leva à implementação de um programa de saneamento 
conhecido como modelo campanhista, liderado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz. 
2. “Os operários começaram a conquistar alguns direitos sociais. Em 24 de janeiro de 1923, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, a 
Lei Eloi Chaves, marco  inicial da previdência social  no Brasil. Através dessa  lei  formam  instituídas  as Caixas de Aposentadoria  e 
Pensões  (CAP’s).  As  CAP’s  não  eram  criadas  automaticamente,  dependiam  do  poder  de  mobilização  e  organização  dos 
trabalhadores de determinada empresa para reivindicar a sua criação e eram mantidas por empregados, empresas e consumidores 
dos serviços das mesmas”. 
Ao ler o texto, podemos afirmar que as CAP’s eram organizadas pelo Estado e  todos os operários, sem exceção, tinham direito à 
assistência médica. 
Pode­se afirmar que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
As CAP’s não eram criadas automaticamente, dependiam do poder de mobilização e organização dos trabalhadores de determinada 
empresa para reivindicar a sua criação e eram mantidas por empregados, empresas e consumidores dos serviços das mesmas. 
3. O modelo econômico, implantado pela ditadura militar, entra em crise em 1975, caracterizada pela crise econômica internacional e 
diminuição do fluxo de capital estrangeiro e nacional. O país diminui o ritmo de crescimento, resultando em desnivelamento social, 
os  pobres  ficaram  mais  pobres  e  os  ricos  mais  ricos,  sendo  o  país  um  dos  que  apresentavam  um  dos  maiores  índices  de 
concentração de renda a nível mundial. 
Ao ler o texto, podemos afirmar que, nesse momento, o Estado provia assistência médica a toda à população. 
Pode­se afirmar que essa idéia está: 
RESPOSTA CORRETA: B 
No momento da crise de 1975, o modelo de atenção à saúde ainda permanecia excludente, sendo que somente na década de 1980, 
com o advento do SUS, é que o Estado provê assistência médica a toda à população indiscriminadamente.
29 
SAÚDE COLETIVA I 
Há muito se sabe que a saúde e doença são processos históricos e sociais determinados 
pelo modo como vive, está organizada e produz cada sociedade humana. Assim, as profundas 
mudanças históricas e sociais, que a sociedade brasileira vem atravessando ao longo das 
décadas, têm levado a profundas alterações no perfil epidemiológico no que diz respeito à 
produção e a distribuição social dos problemas de saúde.  Quando se discute a desigualdade no 
acesso à saúde, verifica­se que sua complexidade é grande, pois se traduz em diferentes 
expressões de desigualdade, que exigem diferentes aproximações. O estudo da desigualdade em 
saúde busca entender as diferentes expressões e as determinações dessas desigualdades para 
seu melhor enfrentamento. 
AULA 04 • PANORAMA DE SAÚDE NO BRASIL 
Introdução 
Há  muito  sabemos  que  saúde  e  doença,  longe  de  serem  fatalidade  ou  destino,  são 
processos  históricos  e  sociais  determinados  pelo modo  como  vive,  organiza­se  e  produz  cada 
sociedade. Assim,  as  profundas mudanças  históricas  e  sociais que  a  sociedade  brasileira  vem 
atravessando ao  longo das décadas  têm  levado a profundas mudanças no perfil epidemiológico 
no que diz respeito à produção e à distribuição social dos problemas de saúde. 
Tomados aqui os problemas de  saúde na dimensão social e  coletiva;  fica  claro que sua 
superação  não  é  possível  apenas  mediante  decisões  de  âmbito  hospitalar  ou  de  assistência 
médica, mas depende de ações  intersetoriais mais amplas. Por exemplo, a  redução da taxa de 
mortalidade infantil para valores aceitáveis, abaixo de dez óbitos por mil nascidos vivos, só poderá 
Custa o rico a entrar no Céu, 
(Afirma o povo e não erra). 
Porém, muito mais difícil, 
É um pobre ficar na terra. 
(Mário Quintana)
30 
SAÚDE COLETIVA I 
ocorrer com ampla articulação do setor saúde com setores governamentais e da sociedade civil, 
visto que vários determinantes do óbito infantil estão fora das ações de saúde. 
Outro exemplo é o da violência, que é hoje uma importante causa de morte no nosso país, 
o homicídio é a  terceira causa de óbito entre os homens e o acidente de  transporte é a quarta 
causa.  Para  superar  esse  problema,  somente  ações  articuladas  entre  governos  e  sociedade 
podem ter resultado significativo na redução. 
Quando se discute a desigualdade na saúde como importante determinante dos problemas 
de  saúde–doença–atenção observados,  vemos que sua complexidade é grande, pois  se  traduz 
em  diferentes  expressões  de  desigualdade,  que  exigem  diferentes  aproximações. O  estudo  da 
desigualdade  em  saúde  busca  entender  as  diferentes  expressões  e  as  determinações  da 
desigualdade para seu melhor enfrentamento. 
Desigualdade na transição demográfica e de indicadores sociais 
Em 2006, o Brasil apresenta uma população de 186.770.613, com 5.564 municípios. Dos 
municípios brasileiros, 72% tinham até 20 mil habitantes e somente 4,5% tinham mais de 100 mil. 
Em  números  absolutos,  a Região Nordeste  tem  o maior número de municípios  com até  20 mil 
habitantes  que as  demais  regiões,  sendo  seguido pela Região Sudeste e  pela Região Sul. Os 
municípios com mais de 100 mil habitantes estão em maior número situados na Região Sudeste. 
O Nordeste  é a  região  com menor  expectativa de  vida.  Um  nordestino  vive,  em média, 
cinco anos a menos que um residente da Região Sul, quatro anos a menos que um residente na 
Região Sudeste e três anos a menos que uma pessoa vivendo na Região Norte. 
Nenhum estado brasileiro enquadra­se nos níveis  ideais de  instrução  internacionalmente 
aceitáveis, estando mais próximos destes o Distrito Federal e alguns estados das Regiões Sul e 
Sudeste.  A  proporção  da  população  com  15  anos  ou,  mais  ainda,  sem  capacidade  de  ler  ou 
escrever um bilhete simples ainda é muito alta, e mesmo estados como São Paulo, Rio Grande do 
Sul  e  Rio  de  Janeiro  mostravam,  em  2005,  que  5%  da  população  com  15  anos  ou  mais  era 
analfabeta  funcional.  As proporções  são ainda maiores  no Nordeste e  no Norte –  o estado  de 
Alagoas tinha 30% de analfabetos funcionais em 2005. 
Observa­se também que a população com maior taxa de analfabetismo concentra­se nos 
pequenos  municípios  (<  100  mil  habitantes).  Os  municípios  com  mais  de  500  mil  habitantes 
mostraram as menores taxas.  A população rural teve cobertura mais baixa de saneamento básico
31 
SAÚDE COLETIVA I 
que a população urbana. Os municípios com menos de 100 mil habitantes também apresentaram 
pior cobertura. 
Distribuição desigual dos estabelecimentos de saúde em 2006 
O Cadastro  Nacional  de  Estabelecimentos  de  Saúde  (CNES)  teve  aumento  de  49%  de 
estabelecimentos cadastrados no Brasil entre 2004 e 2006. Esse aumento no Cadastro foi mais 
concentrado  na  Região  Sudeste  e  nos  municípios  mais  populosos,  reforçando  a  distribuição 
desigual dos estabelecimentos de saúde entre as regiões e os estados. 
O  Brasil  apresentou  66,1%  do  total  de  estabelecimentos  cadastrados  como  serviço  de 
atenção  básica.

Outros materiais