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Perversão 1 A perversão na obra de Freud Tema que passa por significativas alterações, em três momentos: “A neurose é o negativo da perversão” (Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, 1905). Teoria do Complexo de Édipo, núcleo não apenas das neuroses, mas também das perversões. (Uma criança é espancada, 1919; A organização genital infantil, 1923; A dissolução do complexo de Édipo, 1924). A firgura da recusa da castração ganha a cena (Fetichismo, 1927). 2 Primeiro Modelo Impregnado pela sexologia do séc. XIX, de onde o termo perversão é retirado. A formação de uma perversão resultaria de uma fixação infantil num estágio pré-genital da organização libidinal. A perversão decorreria da impossibilidade de a corrente genital da sexualidade impor-se perante as demais, em função de uma fixação, ocorrida na infância, que elevou uma corrente pré-genital à condição de eixo organizador da vida sexual (toda a gama de fantasias e atos sexuais de um indivíduo. 3 As fantasias de tipo pré-genital, que vêm, na prática, a ser as fantasias perversas, coexistem tanto no neurótico como no perverso. Elas desempenham papel central na formação do sintoma neurótico. Se sobrevém o recalcamento, então o cenário da neurose está desenhado. O perverso, não se sujeitando às forças que no neurótico prevalecem, põe em prática as fantasias pré-genitais; não as utiliza apenas como acessório para sua excitação, mas faz delas o centro mesmo de sua vida sexual. 4 O perverso seria tudo aquilo que o neurótico almeja ser mas não encontra permissão para tal. Essa postulação de Freud teve uma importância decisiva para a compreensão da sexualidade em geral, pois demonstrou que o perverso não porta uma aberração ausente nos outros seres humanos, mas que ele simplesmente atua aquilo que se encontra, de forma latente e potencial, em todas as pessoas. A perversão seria a manutenção da sexualidade infantil perverso-polimorfa na vida adulta. 5 Críticas sofridas por Freud Ao concluir que a sexualidade normal significa a primazia da genitalidade, questiona-se se Freud não estaria impregnado pela moral vigente à sua época. Em meio a esta problemática entrevemos um autor ambíguo e dividido, capaz de formular juízos preconceituosos, por um lado, e, por outro, de produzir um discurso antimoralista de uma veemência incomum para o seu tempo: Caso Dora: “não conhecemos os limites da vida sexual normal e não deveríamos nos referir com indignação às perversões sexuais”. 6 Segundo Momento Freud toma o complexo de Édipo como fundamento para a gênese das perversões, tal como para as neuroses. No artigo A dissolução do complexo de Édipo, Freud demonstrou como o menino reluta em aceitar a ameaça de castração. A experiência da visão dos órgãos genitais femininos seria a prova definitiva da realidade da castração, evidenciando, de modo terrorífico, uma realidade que ele insistia em recusar. O complexo de Édipo deverá sucumbir a um recalcamento de tal maneira eficaz que merece mesmo o nome de dissolução. 7 No entanto, uma saída possível para esse impasse é exatamente a consolidação de uma defesa psíquica diferente do recalque, que vem a ser a recusa peculiar à perversão. A saída encontrada na formação da estrutura perversa nada mais é que um meio de contornar a realidade inelutável da castração. A estruturação da personalidade a partir do desfecho do conflito edípico fica, portanto, na dependência da definição do predomínio de um modelo defensivo básico, articulado com toda a experiência pregressa pré-edípica. O predomínio da recusa representa uma obstrução ao trabalho do recalque, com a respectiva perturbação da trama edípica, o que favorece a confusão entre os papéis e contornos sexuais. 8 Terceiro Momento Fetichismo (1927): comporta a tese central de que o fetiche é um substituto para o pênis, mas não para qualquer p6enis: ele substitui o pênis da mulher, isto é, da mãe, em cuja existência o menino acreditou um dia até deparar-se com a realidade da castração. diante de uma percepção chocante que adverte o menino de que sua onipotência corre risco, esse pode empreender uma “ação muito enérgica” que a ela venha contrapor-se: recusa. Portanto, a percepção é mantida, mas a afirmação inconsciente de que o pênis continua a existir faz com que a representação deste se desloque para um outro objeto: o fetiche. 9 O fetiche significa, portanto, o triunfo sobre a ameaça da castração e permanece, na vida sexual do fetichista, cumprindo o papel de protetor contra ela. Torna-se condição imprescindível ao gozo e recebe a carga de valorização antes orientada ao genital. Daí alto grau da idealização de que ele é objeto. Paciente de Karl Abraham: uma mulher manifestava o desejo compulsivo de arrancar o pênis dos homens que acabava de conhecer, bem como tudo o que nele “sobressaísse”. 10 Caso Clínico Referência: FERRAZ, Flávio Carvalho. Perversão. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. Indicação: VALAS, Patrick. Freud e a Perversão. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. 11
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